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Curso Ciência e Fé
Módulo IIIA – Filosofia Medieval
© Bernardo Motta
bmotta@observit.pt
http://espectadores.blogspot.com
Curso Ciência e Fé
I – Introdução
II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega
III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval
IV – Inquisição e Ciência
V e VI – O Caso Galileu
VII – A Revolução Científica
VIII – Darwin e a Igreja Católica
IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico
X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial
XI – Milagres e Ciência
XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
3
1. Introdução
2. O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
3. Santo Agostinho
4. Ciência Medieval
5. São Tomás de Aquino
6. Conclusão
Índice
O Império Romano e a “revolução” cristã
Introdução
4
Liberdade
O cristianismo não conseguiu erradicar a escravatura, mas ensinava que senhor e escravo
eram iguais aos olhos de Deus: o senhor deveria ser justo e correcto para com os escravos.
Muitos eram libertados pelos seus senhores quando este se convertia ao cristianismo.
Compaixão
O cristianismo mudou o conceito de hospital (no Império Romano, existiam para curar
soldados): tratavam de inválidos, doentes, crianças órfãs, idosos, viúvas, etc.. Surgiram no
séc. IV: São Efraím (Edessa), São Basílio (Capadócia), Santa Fabiola (Roma), etc.
Direitos
Humanos
O cristianismo sempre combateu práticas romanas hoje vistas como aberrantes: a violência
circense, a auto-mutilação de certos sacerdotes pagãos, o abandono à morte de recém-
nascidos indesejados, a morte de inocentes como retaliação por um crime…
A opinião que os pagãos tinham dos cristãos (p. ex., Celso)
Subversivos: não faziam o culto aos deuses locais, não veneravam o Imperador como deus
Ateus: ao negarem toda a hierarquia de deuses e poderes do paganismo
Incivilizados: o galileu que eles seguiam, Jesus, fora crucificado como criminoso, convivia com
pescadores, doentes, prostitutas, em suma, o cristianismo era uma religião de mulheres e escravos
«(…) eles [os cristãos] mostram manifestamente que desejam e conseguem controlar apenas os
tontos, os maus, e os estúpidos, com mulheres e crianças.»
4
5
1. Introdução
2. O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
3. Santo Agostinho
4. Ciência Medieval
5. São Tomás de Aquino
6. Conclusão
Índice
5
Primeiros contactos…
«A religião cristã tomou contacto com a filosofia, no século II da nossa era, desde que existiram
convertidos de cultura grega» - Etienne Gilson, La philosophie au Moyen Âge, p. 11
A influência da filosofia grega na doutrina cristã começa logo no prólogo do Evangelho de São João
O conceito de “logos” vem do estoicismo, e foi usado pelo judeu Fílon de Alexandria (c.20 a.C-50 d.C.)
São João pretende dizer aos filósofos que o que eles chamam de “Logos” é na verdade Cristo
A Boa Nova é anunciada a todos, incluindo aos pagãos, mas não se deixa absorver pela filosofia pagã
O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
6
«Os apologetas do séc. II empreenderam a
tarefa imensa, cuja amplitude só surgiria no
decorrer dos séculos seguintes, de exprimir o
universo mental dos Cristãos numa língua
expressamente concebida para exprimir o
universo mental dos Gregos.» - Etienne
Gilson, op. cit., p. 35.
6
Primeiros contactos…
Justino Mártir (103-165 d.C.) percorreu todos os ramos da filosofia grega
Justino converte-se, por volta de 132 (talvez em Éfeso?), a partir de uma conversa com um cristão idoso,
que lhe diz que a alma humana é imortal porque Deus assim o quer, e enquanto Deus o quiser
Justino equipara o Logos cristão a tudo o que há de verdadeiro: «Tudo o que alguma vez foi dito de
verdadeiro é nosso [dos cristãos]»
Atenágoras (c.133-190 d.C.), vendo sempre a Fé como prioritária, faz a primeira demonstração racional
da unicidade de Deus, contra o politeísmo, na sua obra Súplica pelos Cristãos (c. 177 d.C.)
Em meados do séc. II, surge o gnosticismo, que considerava a Revelação como um prelúdio à Gnose
O mundo era essencialmente mau e enganador, e a realização plena era pelo conhecimento (“gnosis”)
O gnosticismo era uma mescla de platonismo (com um demiurgo maligno), estoicismo, e crenças
orientais multiformes, e os seus cultos eram elitistas, pois o conhecimento era só para alguns “eleitos”
Santo Ireneu de Lião († 202 d.C.), discípulo de Policarpo, escreve Adversus Haereses (c. 180 d.C.)
Para Ireneu, o saber dos gnósticos é um pseudo-saber, e o saber real é o da tradição apostólica
Ireneu foca-se na defesa da ortodoxia da doutrina cristã e não na validade da filosofia grega
Para Ireneu, não é para nos tornarmos sábios que nos tornamos cristãos, mas para nos salvarmos
Ireneu defende que só há um Deus (e a Sua existência é demonstrável), e não Deus mais um demiurgo
O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
77
A filosofia, auxiliar da Fé em Cristo?
Alguns apologetas cristãos não confiavam, ou não viam utilidade, na filosofia grega
Na mesma linha, alguns apologetas cristãos rejeitavam o cosmos grego e aceitavam o cosmos bíblico
Tertuliano (160-220 d.C) e Lactâncio (240-320 d.C.) eram dessa opinião
No entanto, a opinião da escola de Alexandria (c. 190 d.C.) era mais conciliatória e era a maioritária
Uma tradição antiga (S. Jerónimo) faz remontar a escola de Alexandria à vontade de São Marcos
No entanto, o primeiro mestre conhecido é São Panteno († 200 d.C.)
Panteno, filósofo estóico, terá mantido o interesse pela filosofia mesmo após a sua conversão
Tito Flávio Clemente (150-215 d.C.) de Alexandria, foi aluno de Panteno
Forte crítico dos gnósticos, Clemente defendia uma “gnose” ortodoxa
Segundo Clemente, todos os cristãos têm a “gnose” por conhecerem Cristo
Todos os cristãos são todos iguais aos olhos de Deus graças ao baptismo
Os cristãos mais sábios não são mais cristãos que os menos sábios e não
estão mais perto da salvação do que estes
Admoestado por quem via a filosofia como nociva (os gnósticos eram vistos
como o exemplo disso mesmo), Clemente escreve os Stromata
Nessa obra, Clemente demonstra a importância da filosofia para a Fé cristã
O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
88
O Cosmos judaico era muito diferente do Cosmos grego
A Terra era vista como um disco plano a flutuar nas “águas inferiores”
O Firmamento era visto como uma cúpula sólida que sustinha as “águas superiores”
O Inferno (“sheol”) estava literalmente sob a Terra
O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
99
10
1. Introdução
2. O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
3. Santo Agostinho
4. Ciência Medieval
5. São Tomás de Aquino
6. Conclusão
Índice
10
Agostinho de Hipona (354-430 d.C.)
Aurélio Agostinho era filho de pai pagão e de mãe cristã (Sta. Mónica); recebeu sólida formação latina
Aos 17 anos vai estudar Retórica para Cartago: abandona o cristianismo e adere ao maniqueísmo
Torna-se amante de uma cartaginesa, com quem viveria mais 13 anos, e de quem teve um filho,
Deodato
Em 384, desiludido com o maniqueísmo após conhecer Fausto, muda-se para Roma onde está um ano
Posteriormente, muda-se para Milão para ensinar Retórica na corte imperial (de Valentiniano II)
É muito influenciado por Ambrósio (c. 339-397 d.C.), Bispo de Milão
No Verão de 386, após ler a vida de Santo Antão, sofre uma crise de fé
Converte-se ao cristianismo e é baptizado por Ambrósio em 387
Muito crítico das incertezas e erros da filosofia grega
No entanto, tem uma opinião positiva acerca da cosmologia grega
Mas para ele, a Revelação visa a salvação, e não o saber mundano:
Santo Agostinho
11
«Não se lê no Evangelho que o Senhor tenha dito: envio-vos o
Paráclito para que [Ele] vos ensine o curso do Sol e da Lua.
Queria fazer deles cristãos, e não matemáticos.»
11
Fé e Razão
Agostinho distingue “ratio” (demonstração racional) de “intelligentia” (contemplação das verdades eternas)
Hierarquia do conhecimento (De Trinitate, XII-XIV):
Scientia (obtida através da ratio inferior), e subordinada à Sapientia
Sapientia (obtida através da ratio superior)
A teoria agostiniana do conhecimento é neoplatónica (baseia-se nos graus do ser)
Fé e Razão: “Crede ut intelligas, intellige ut credas”, “Crê para compreenderes, compreende para creres”
Prioridade da Fé: “nisi credideritis, non intelligetis” (Isaías 7:9), “se não acreditardes, não compreendereis”
Experiência humana: primeiro confiamos em alguém, e depois compreendemos
Limites da razão face à Revelação: sem a fé, a razão não alcançaria certas verdades teológicas
Humildade perante Deus: após a Queda, e por causa do Pecado, a humildade purifica o coração
Prioridade da Razão (porque a razão precede a Fé, e não porque a Razão seja superior à Fé):
O objectivo último da mente humana é a compreensão; é bom o desejo humano de compreender
A “visão” das verdades eternas é a recompensa da fé; “intellectum valde ama!”
A compreensão dos dados da fé não é essencial à salvação, mas imperativa a quem dela é capaz
O acto de crer requer a razão para avaliar a credibilidade da autoridade a quem damos fé
Santo Agostinho
1212
Fé e Razão
A compreensão da realidade natural não é fundamental para a salvação
No entanto, a criação visível (a realidade natural) é defendida como “via de acesso” a Deus
Nenhuma verdade de Fé pode ser refutada ou contrariada por uma verdade científica
A verdadeira ciência deve estar ao serviço da Fé (De Trinitate XIV, 1,3)
O projecto de Agostinho de integrar as “ciências” num programa de ensino cristão (cfr. De Ordine)
As “artes liberais”, quer as da “palavra” quer as do “número”, subordinam-se à “sabedoria contemplativa”
A importância das “ciências” na hermenêutica, i.e., na interpretação da Bíblia (cfr. De doctrina christiana)
A filosofia dos pagãos que tenha conteúdo verdadeiro vem de Deus e é “espólio” legítimo dos cristãos
Agostinho era um forte adversário da astrologia e dos astrólogos e adivinhos:
Santo Agostinho
13
«E no entanto, sem escrúpulos, consultei aqueles outros impostores, a quem chamam “astrólogos” [mathematicos], porque eles
não faziam sacrifícios e não invocavam a ajuda de espírito algum nas suas adivinhações. Mesmo assim, a verdadeira piedade
cristã deve necessariamente rejeitar e condenar a sua arte. É bom confessarmos-nos a vós, Senhor, e dizer: “Tem piedade de
mim; cura a minha alma, porque pequei contra vós” – não para abusar da vossa bondade como se fosse uma licença para pecar,
mas para lembrar as palavras do Senhor, “Vê lá: ficaste curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa ainda pior.” [João
5, 14] Todo este são conselho [os astrólogos] trabalham para destruir quando eles dizem, “A causa do vosso pecado está
inevitavelmente fixada nos céus”, e “Esta é a acção de Vénus , ou de Saturno, ou de Marte” – tudo isto de forma a que um homem,
que é apenas carne e sangue e orgulhosa corrupção, se possa considerar a si mesmo como sem culpa (…)»
13
Hermenêutica
De Genesi ad litteram (doze livros): comentário aos três primeiros capítulos do Génesis
Santo Agostinho
14
«Em assuntos tão obscuros e para lá da nossa visão, encontramos nas Sagradas Escrituras
passagens que podem ser interpretadas de várias formas diferentes sem prejuízo para a fé que
recebemos, e nesses casos não nos devemos precipitar e tomar uma posição que, se o progresso da
procura da verdade vier a minar, nos faça cair com ela….»
«Mesmo um não Cristão conhece algo sobre a Terra, os Céus e os outros elementos deste mundo, sobre o movimento e a órbita das estrelas e mesmo o seu
tamanho e posições relativas, acerca da previsibilidade de eclipses do sol e da lua, dos ciclos dos anos e das estações, acerca dos tipos de animais, arbustos,
pedras, e assim por diante, e esse conhecimento é por ele tido como certo a partir da razão e da experiência. Seria uma coisa desgraçada e perigosa para um
infiel ouvir um Cristão, presumidamente falando sobre o significado da Sagrada Escritura, a falar disparates sobre esses tópicos; e devemos usar de todos os
meios para evitar tal situação embaraçosa, na qual pessoas demonstram uma vasta ignorância num Cristão e dele se riem com escárnio. A vergonha não é
tanto que um individuo ignorante seja ridicularizado, mas que pessoas fora do lar da fé pensem que os nossos escritores sagrados sustentavam tais opiniões, e,
para grande perda daqueles por cuja salvação nos esforçamos, os escritores da nossa Escritura são criticados e rejeitados como homens incultos. Se eles
encontram um Cristão enganado num campo que eles mesmos conhecem bem e o ouvem a sustentar as suas ideias tontas acerca dos nossos livros, como é
que eles vão acreditar nesses livros em matérias que dizem respeito à ressurreição dos mortos, a esperança da vida eterna, e o reino dos céus, quando eles
pensam que as suas páginas estão cheias de falsidades acerca de factos que eles aprenderam pela experiência e pela luz da razão? Irresponsáveis e
incompetentes expositores da Sagrada Escritura trazem incontáveis problemas e tristezas aos seus irmãos mais sábios quando estes são apanhados numa das
suas opiniões falsas e são admoestados por aqueles que não estão sujeitos à autoridade dos nossos livros sagrados. Porque então, para defender a suas
loucas e obviamente falsas afirmações, irão tentar recorrer à Sagrada Escritura como prova e mesmo recitar de memória várias passagens que eles pensam
que dão suporte à sua posição, apesar de eles não entenderem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem asserções.»
14
Santa Mónica (331-387), mãe de Santo Agostinho
O pensamento de Santo Agostinho “reinou sem rival” durante mil anos de cristianismo
Ainda hoje, Santo Agostinho interpela o cristão moderno, e mesmo leitores modernos não cristãos
Sem Santa Mónica, não teria havido Santo Agostinho
Ela rezou toda a vida pelo seu marido e filho, ambos pagãos
Santa Mónica atesta a força e a eficácia da oração cristã
Santa Mónica mostra que a oração pode transformar a História
Santo Agostinho
1515

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Módulo IIIA - Filosofia Medieval

  • 1. Curso Ciência e Fé Módulo IIIA – Filosofia Medieval © Bernardo Motta bmotta@observit.pt http://espectadores.blogspot.com
  • 2. Curso Ciência e Fé I – Introdução II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval IV – Inquisição e Ciência V e VI – O Caso Galileu VII – A Revolução Científica VIII – Darwin e a Igreja Católica IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial XI – Milagres e Ciência XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
  • 3. 3 1. Introdução 2. O cristianismo primitivo e o conhecimento grego 3. Santo Agostinho 4. Ciência Medieval 5. São Tomás de Aquino 6. Conclusão Índice
  • 4. O Império Romano e a “revolução” cristã Introdução 4 Liberdade O cristianismo não conseguiu erradicar a escravatura, mas ensinava que senhor e escravo eram iguais aos olhos de Deus: o senhor deveria ser justo e correcto para com os escravos. Muitos eram libertados pelos seus senhores quando este se convertia ao cristianismo. Compaixão O cristianismo mudou o conceito de hospital (no Império Romano, existiam para curar soldados): tratavam de inválidos, doentes, crianças órfãs, idosos, viúvas, etc.. Surgiram no séc. IV: São Efraím (Edessa), São Basílio (Capadócia), Santa Fabiola (Roma), etc. Direitos Humanos O cristianismo sempre combateu práticas romanas hoje vistas como aberrantes: a violência circense, a auto-mutilação de certos sacerdotes pagãos, o abandono à morte de recém- nascidos indesejados, a morte de inocentes como retaliação por um crime… A opinião que os pagãos tinham dos cristãos (p. ex., Celso) Subversivos: não faziam o culto aos deuses locais, não veneravam o Imperador como deus Ateus: ao negarem toda a hierarquia de deuses e poderes do paganismo Incivilizados: o galileu que eles seguiam, Jesus, fora crucificado como criminoso, convivia com pescadores, doentes, prostitutas, em suma, o cristianismo era uma religião de mulheres e escravos «(…) eles [os cristãos] mostram manifestamente que desejam e conseguem controlar apenas os tontos, os maus, e os estúpidos, com mulheres e crianças.» 4
  • 5. 5 1. Introdução 2. O cristianismo primitivo e o conhecimento grego 3. Santo Agostinho 4. Ciência Medieval 5. São Tomás de Aquino 6. Conclusão Índice 5
  • 6. Primeiros contactos… «A religião cristã tomou contacto com a filosofia, no século II da nossa era, desde que existiram convertidos de cultura grega» - Etienne Gilson, La philosophie au Moyen Âge, p. 11 A influência da filosofia grega na doutrina cristã começa logo no prólogo do Evangelho de São João O conceito de “logos” vem do estoicismo, e foi usado pelo judeu Fílon de Alexandria (c.20 a.C-50 d.C.) São João pretende dizer aos filósofos que o que eles chamam de “Logos” é na verdade Cristo A Boa Nova é anunciada a todos, incluindo aos pagãos, mas não se deixa absorver pela filosofia pagã O cristianismo primitivo e o conhecimento grego 6 «Os apologetas do séc. II empreenderam a tarefa imensa, cuja amplitude só surgiria no decorrer dos séculos seguintes, de exprimir o universo mental dos Cristãos numa língua expressamente concebida para exprimir o universo mental dos Gregos.» - Etienne Gilson, op. cit., p. 35. 6
  • 7. Primeiros contactos… Justino Mártir (103-165 d.C.) percorreu todos os ramos da filosofia grega Justino converte-se, por volta de 132 (talvez em Éfeso?), a partir de uma conversa com um cristão idoso, que lhe diz que a alma humana é imortal porque Deus assim o quer, e enquanto Deus o quiser Justino equipara o Logos cristão a tudo o que há de verdadeiro: «Tudo o que alguma vez foi dito de verdadeiro é nosso [dos cristãos]» Atenágoras (c.133-190 d.C.), vendo sempre a Fé como prioritária, faz a primeira demonstração racional da unicidade de Deus, contra o politeísmo, na sua obra Súplica pelos Cristãos (c. 177 d.C.) Em meados do séc. II, surge o gnosticismo, que considerava a Revelação como um prelúdio à Gnose O mundo era essencialmente mau e enganador, e a realização plena era pelo conhecimento (“gnosis”) O gnosticismo era uma mescla de platonismo (com um demiurgo maligno), estoicismo, e crenças orientais multiformes, e os seus cultos eram elitistas, pois o conhecimento era só para alguns “eleitos” Santo Ireneu de Lião († 202 d.C.), discípulo de Policarpo, escreve Adversus Haereses (c. 180 d.C.) Para Ireneu, o saber dos gnósticos é um pseudo-saber, e o saber real é o da tradição apostólica Ireneu foca-se na defesa da ortodoxia da doutrina cristã e não na validade da filosofia grega Para Ireneu, não é para nos tornarmos sábios que nos tornamos cristãos, mas para nos salvarmos Ireneu defende que só há um Deus (e a Sua existência é demonstrável), e não Deus mais um demiurgo O cristianismo primitivo e o conhecimento grego 77
  • 8. A filosofia, auxiliar da Fé em Cristo? Alguns apologetas cristãos não confiavam, ou não viam utilidade, na filosofia grega Na mesma linha, alguns apologetas cristãos rejeitavam o cosmos grego e aceitavam o cosmos bíblico Tertuliano (160-220 d.C) e Lactâncio (240-320 d.C.) eram dessa opinião No entanto, a opinião da escola de Alexandria (c. 190 d.C.) era mais conciliatória e era a maioritária Uma tradição antiga (S. Jerónimo) faz remontar a escola de Alexandria à vontade de São Marcos No entanto, o primeiro mestre conhecido é São Panteno († 200 d.C.) Panteno, filósofo estóico, terá mantido o interesse pela filosofia mesmo após a sua conversão Tito Flávio Clemente (150-215 d.C.) de Alexandria, foi aluno de Panteno Forte crítico dos gnósticos, Clemente defendia uma “gnose” ortodoxa Segundo Clemente, todos os cristãos têm a “gnose” por conhecerem Cristo Todos os cristãos são todos iguais aos olhos de Deus graças ao baptismo Os cristãos mais sábios não são mais cristãos que os menos sábios e não estão mais perto da salvação do que estes Admoestado por quem via a filosofia como nociva (os gnósticos eram vistos como o exemplo disso mesmo), Clemente escreve os Stromata Nessa obra, Clemente demonstra a importância da filosofia para a Fé cristã O cristianismo primitivo e o conhecimento grego 88
  • 9. O Cosmos judaico era muito diferente do Cosmos grego A Terra era vista como um disco plano a flutuar nas “águas inferiores” O Firmamento era visto como uma cúpula sólida que sustinha as “águas superiores” O Inferno (“sheol”) estava literalmente sob a Terra O cristianismo primitivo e o conhecimento grego 99
  • 10. 10 1. Introdução 2. O cristianismo primitivo e o conhecimento grego 3. Santo Agostinho 4. Ciência Medieval 5. São Tomás de Aquino 6. Conclusão Índice 10
  • 11. Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) Aurélio Agostinho era filho de pai pagão e de mãe cristã (Sta. Mónica); recebeu sólida formação latina Aos 17 anos vai estudar Retórica para Cartago: abandona o cristianismo e adere ao maniqueísmo Torna-se amante de uma cartaginesa, com quem viveria mais 13 anos, e de quem teve um filho, Deodato Em 384, desiludido com o maniqueísmo após conhecer Fausto, muda-se para Roma onde está um ano Posteriormente, muda-se para Milão para ensinar Retórica na corte imperial (de Valentiniano II) É muito influenciado por Ambrósio (c. 339-397 d.C.), Bispo de Milão No Verão de 386, após ler a vida de Santo Antão, sofre uma crise de fé Converte-se ao cristianismo e é baptizado por Ambrósio em 387 Muito crítico das incertezas e erros da filosofia grega No entanto, tem uma opinião positiva acerca da cosmologia grega Mas para ele, a Revelação visa a salvação, e não o saber mundano: Santo Agostinho 11 «Não se lê no Evangelho que o Senhor tenha dito: envio-vos o Paráclito para que [Ele] vos ensine o curso do Sol e da Lua. Queria fazer deles cristãos, e não matemáticos.» 11
  • 12. Fé e Razão Agostinho distingue “ratio” (demonstração racional) de “intelligentia” (contemplação das verdades eternas) Hierarquia do conhecimento (De Trinitate, XII-XIV): Scientia (obtida através da ratio inferior), e subordinada à Sapientia Sapientia (obtida através da ratio superior) A teoria agostiniana do conhecimento é neoplatónica (baseia-se nos graus do ser) Fé e Razão: “Crede ut intelligas, intellige ut credas”, “Crê para compreenderes, compreende para creres” Prioridade da Fé: “nisi credideritis, non intelligetis” (Isaías 7:9), “se não acreditardes, não compreendereis” Experiência humana: primeiro confiamos em alguém, e depois compreendemos Limites da razão face à Revelação: sem a fé, a razão não alcançaria certas verdades teológicas Humildade perante Deus: após a Queda, e por causa do Pecado, a humildade purifica o coração Prioridade da Razão (porque a razão precede a Fé, e não porque a Razão seja superior à Fé): O objectivo último da mente humana é a compreensão; é bom o desejo humano de compreender A “visão” das verdades eternas é a recompensa da fé; “intellectum valde ama!” A compreensão dos dados da fé não é essencial à salvação, mas imperativa a quem dela é capaz O acto de crer requer a razão para avaliar a credibilidade da autoridade a quem damos fé Santo Agostinho 1212
  • 13. Fé e Razão A compreensão da realidade natural não é fundamental para a salvação No entanto, a criação visível (a realidade natural) é defendida como “via de acesso” a Deus Nenhuma verdade de Fé pode ser refutada ou contrariada por uma verdade científica A verdadeira ciência deve estar ao serviço da Fé (De Trinitate XIV, 1,3) O projecto de Agostinho de integrar as “ciências” num programa de ensino cristão (cfr. De Ordine) As “artes liberais”, quer as da “palavra” quer as do “número”, subordinam-se à “sabedoria contemplativa” A importância das “ciências” na hermenêutica, i.e., na interpretação da Bíblia (cfr. De doctrina christiana) A filosofia dos pagãos que tenha conteúdo verdadeiro vem de Deus e é “espólio” legítimo dos cristãos Agostinho era um forte adversário da astrologia e dos astrólogos e adivinhos: Santo Agostinho 13 «E no entanto, sem escrúpulos, consultei aqueles outros impostores, a quem chamam “astrólogos” [mathematicos], porque eles não faziam sacrifícios e não invocavam a ajuda de espírito algum nas suas adivinhações. Mesmo assim, a verdadeira piedade cristã deve necessariamente rejeitar e condenar a sua arte. É bom confessarmos-nos a vós, Senhor, e dizer: “Tem piedade de mim; cura a minha alma, porque pequei contra vós” – não para abusar da vossa bondade como se fosse uma licença para pecar, mas para lembrar as palavras do Senhor, “Vê lá: ficaste curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa ainda pior.” [João 5, 14] Todo este são conselho [os astrólogos] trabalham para destruir quando eles dizem, “A causa do vosso pecado está inevitavelmente fixada nos céus”, e “Esta é a acção de Vénus , ou de Saturno, ou de Marte” – tudo isto de forma a que um homem, que é apenas carne e sangue e orgulhosa corrupção, se possa considerar a si mesmo como sem culpa (…)» 13
  • 14. Hermenêutica De Genesi ad litteram (doze livros): comentário aos três primeiros capítulos do Génesis Santo Agostinho 14 «Em assuntos tão obscuros e para lá da nossa visão, encontramos nas Sagradas Escrituras passagens que podem ser interpretadas de várias formas diferentes sem prejuízo para a fé que recebemos, e nesses casos não nos devemos precipitar e tomar uma posição que, se o progresso da procura da verdade vier a minar, nos faça cair com ela….» «Mesmo um não Cristão conhece algo sobre a Terra, os Céus e os outros elementos deste mundo, sobre o movimento e a órbita das estrelas e mesmo o seu tamanho e posições relativas, acerca da previsibilidade de eclipses do sol e da lua, dos ciclos dos anos e das estações, acerca dos tipos de animais, arbustos, pedras, e assim por diante, e esse conhecimento é por ele tido como certo a partir da razão e da experiência. Seria uma coisa desgraçada e perigosa para um infiel ouvir um Cristão, presumidamente falando sobre o significado da Sagrada Escritura, a falar disparates sobre esses tópicos; e devemos usar de todos os meios para evitar tal situação embaraçosa, na qual pessoas demonstram uma vasta ignorância num Cristão e dele se riem com escárnio. A vergonha não é tanto que um individuo ignorante seja ridicularizado, mas que pessoas fora do lar da fé pensem que os nossos escritores sagrados sustentavam tais opiniões, e, para grande perda daqueles por cuja salvação nos esforçamos, os escritores da nossa Escritura são criticados e rejeitados como homens incultos. Se eles encontram um Cristão enganado num campo que eles mesmos conhecem bem e o ouvem a sustentar as suas ideias tontas acerca dos nossos livros, como é que eles vão acreditar nesses livros em matérias que dizem respeito à ressurreição dos mortos, a esperança da vida eterna, e o reino dos céus, quando eles pensam que as suas páginas estão cheias de falsidades acerca de factos que eles aprenderam pela experiência e pela luz da razão? Irresponsáveis e incompetentes expositores da Sagrada Escritura trazem incontáveis problemas e tristezas aos seus irmãos mais sábios quando estes são apanhados numa das suas opiniões falsas e são admoestados por aqueles que não estão sujeitos à autoridade dos nossos livros sagrados. Porque então, para defender a suas loucas e obviamente falsas afirmações, irão tentar recorrer à Sagrada Escritura como prova e mesmo recitar de memória várias passagens que eles pensam que dão suporte à sua posição, apesar de eles não entenderem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem asserções.» 14
  • 15. Santa Mónica (331-387), mãe de Santo Agostinho O pensamento de Santo Agostinho “reinou sem rival” durante mil anos de cristianismo Ainda hoje, Santo Agostinho interpela o cristão moderno, e mesmo leitores modernos não cristãos Sem Santa Mónica, não teria havido Santo Agostinho Ela rezou toda a vida pelo seu marido e filho, ambos pagãos Santa Mónica atesta a força e a eficácia da oração cristã Santa Mónica mostra que a oração pode transformar a História Santo Agostinho 1515