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1 - Contextualização histórico-Literária?
A vida de Padre António Vieira estendeu-se por quase todo o séc. XVII, um período de
transformação a nível económico, político, social e cultural em Portugal e também na Europa.
 Contexto histórico
Qual é o contexto histórico e político do séc. XVII?
Em 1578 – O desaparecimento do rei D. Sebastião, sem deixar descendência, na batalha de
Alcácer Quibir, originou uma crise dinástica que culminou com a perda da Independência de
Portugal.
Entre 1580-1640 – Um período de domínio espanhol, causador do descontentamento social.
Em 1640 – A Restauração da Independência Nacional no 1.º de dezembro de 1640, conduziu D.
João IV ao trono mas o clima de crise e instabilidade, manteve-se devido a diferente fatores:
- as investidas constantes de Castela para reconquistar Portugal
- a ameaça Holandesa, francesa e inglesa ás possessões ultramarinas
- o agravamento das dificuldades económicas em Portugal
- a perseguição da Inquisição aos cristãos-novos
 Contexto literário
O período entre o final do séc. XVI e os primeiros anos do séc. XVIII, foi marcado nas artes, pelo
Barroco.
Como se carateriza o Barroco?
O Barroco é um estilo artístico, nascido em Itália, que se espalha por toda a Europa e América
Latina. É um tipo de arte que tenta encantar e impressionar as pessoas.
Ele usa muitos exageros:
- nas formas, cores, sons e palavras para passar a ideia de ser extravagante, magnifico e
grandioso.
Isso acontece em várias formas de arte como:
- na pintura, a escultura, a arquitetura, a música e literatura.
Nestas diferentes artes, podemos detetar objetivos comuns:
- o apelo multissensorial
- a ilusão, a sedução e a transfiguração da realidade
- o exagero
Em resumo, a estética Barroca pode ser comparada a um “teatro do mundo”, onde a arte é vista
como um espetáculo, cujo objetivo é fascinar e surpreender o ouvinte.
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Em que contexto politico-cultural surge o Barroco?
O Barroco aparece num contexto político e cultural ligado:
- ao Absolutismo
- movimento conhecido como Contrarreforma.
A Contrarreforma aconteceu como resposta à Reforma Protestante, que desafiou a igreja católica
e levou à criação de outras correntes religiosas, como o luteranismo, o anglicanismo e o
calvinismo.
A Contrarreforma tinha como objetivo manter o poder absoluto da igreja católica e combater as
ideias protestantes. Para conseguir esse objetivo a igreja católica tomou algumas medidas, como:
- Reforçou o poder da Inquisição, promovendo a disciplina e devoção religiosa
- Decorou as igrejas de maneira extravagante e ostentosa para impressionar os fiéis e
despertar a devoção.
Assim a arte Barroca surgiu como uma expressão artística a serviço da igreja católica.
As igrejas tornaram-se espaços cativantes devido à abundância de elementos decorativos e à
grandiosidade. Através do Barroco, a Contrarreforma buscava usar a arte para esconder os
medos, tensões e angústias da sociedade naquela época, apresentando uma imagem magnifica
e deslumbrante que inspirasse devoção e fé.
Como se carateriza o Barroco na literatura portuguesa?
O estilo Barroco teve uma larga presença na poesia lírica, graças a diversos poetas, como
Francisco Manuel de Melo ou D. Tomás de Noronha e, também se manifestou em diversas obras
literárias. Mas foi o Padre António Vieira a pessoa mais reconhecida e importante na literatura
Barroca em Portugal.
Quais as características do Barroco presentes na oratória (eloquência) de Padre António Vieira?
O sermão barroco foi um género literário predominante do séc. XVII. O Padre António Vieira era
conhecido por sua habilidade em utilizar a pregação, para atingir todas as camadas sociais,
transformando as suas pregações num verdadeiro espetáculo para espalhar as ideias morais e
políticas.
Assim, a oratória religiosa de Padre António Vieira envolve aspetos e caraterísticas próprias do
estilo Barroco, como:
 Cenários exuberantes: com foco na iluminação e na ornamentação
 A sua pregação é realizada de maneira teatral e grandiosa, como se estivesse em um
palco, cativando o público
 Padre António Vieira atua como um verdadeiro artista, usando movimentos, gestos e
entoação para comunicar as suas mensagens de forma envolvente
 A sua pregação é divertida, utilizando uma variedade de recursos expressivos para
entreter e envolver o público
 Ele apresenta ideias profundas e complexas comunicando-as de forma convincente e
com um discurso sofisticado
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2 - Objetivos da Eloquência (sermão):
O que é a eloquência?
A eloquência é a capacidade de fazer discursos eficazes. A eloquência é sinonimo de oratória e
retórica. Ela envolve a arte de bem falar em publico, com o objetivo de transmitir uma mensagem
de forma cativante e impactante para o publico. Para ser eloquente, o orador deve seguir as três
regras da eloquência, sintetizadas em docere (ensinar) – delectare (entreter) - movere. (mover)
De que modo se associam o Sermão e a oratória (eloquência)?
O sermão, discurso de natureza religiosa, é o género literário que está na base da pregação, com
um caráter argumentativo e com intenção de convencer os ouvintes a terem determinados
comportamentos. Como tal, nos seus sermões, o Padre António Vieira recorre a um discurso
capaz de: deleitar e encantar («delectare»), uma vez que pretende convencer o público, levando-
o a alterar o seu comportamento («movere»), através da transmissão de ensinamentos
(«docere»).
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3 - Intenção de persuasiva e exemplaridade:
A – PERSUASÃO
O Sermão de Santo António (aos peixes) é um texto com intenção persuasiva?
O Sermão de Santos António (aos peixes) é um texto com intenção persuasiva. O orador que é o
Padre António Vieira, tem o objetivo de alertar os destinatários, que neste caso são os peixes,
para a importância de mudar comportamentos incorretos. Ele usa a persuasão para convencer os
peixes a terem atitudes mais apropriadas, usando argumentos para influenciar os
comportamentos dos “ouvintes” e alcançar a mudança desejada.
Como se concretiza a intenção persuasiva num sermão?
Em um sermão, que é um tipo de discurso religioso, a intenção persuasiva significa que o
pregador deseja convencer as pessoas a acreditar e agir de acordo com os ensinamentos da fé
cristã.
No sermão, o Padre António Vieira usa várias estratégias para parecer confiável e interessante
para o publico.
Algumas das estratégias que o Padre António Vieira usou no seu sermão:
 Citar textos da Bíblia, muitas vezes em latim, para mostrar que as sua ideias estão de
acordo com a religião.
 Contar histórias sobre pessoas santas, especialmente de Santo Antonio e, figuras
importantes da igreja para dar exemplos de como as pessoas se devem comportar
 Usar a descrição dos peixes como uma maneira de falar sobre como as pessoas se
comportam mal e por que precisam mudar
 Usar provérbios e ditados populares para tornar as suas ideias mais fáceis de entender
 Fazer referência a histórias e personagens da mitologia antiga para enriquecer o discurso
 Contar sobre a sua própria vida para criar uma relação pessoal com o público
 Utilização de recursos expressivos como a Alegoria, apostrofe, interrogação, retorica,
enumeração
De que modo as estratégias de persuasão de Padre António Vieira se articulam com as
características da oratória?
As estratégias de persuasão de Padre António Vieira estão ligadas às características da oratória
que é a habilidade de falar de maneira convincente e cativante. A oratória procura influenciar,
convencer e envolver o público e as estratégias de persuasão utilizadas por Padre António Vieira
são projetadas para alcançar esses objetivos. Essas estratégias têm como objetivo atrair a atenção
do auditório – detectare - , transmitir ensinamentos morais e religiosos – docere – motivar a
mudança de comportamentos das pessoas – movere.
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B - EXEMPLARIDADE
Que exemplo existe entre os exemplos dos peixes, a intenção persuasiva e a exemplaridade?
No sermão há um exemplo que mostra como os peixes, a intenção persuasiva e a exemplaridade
se relacionam. Esse exemplo envolve a comparação entre os peixes e o Santo António em relação
ao comportamento.
Exemplaridade: os peixes que são elogiados e comparados com o Santo António são usados como
modelos de comportamento. Eles nos mostram como devemos agir corretamente.
Intenção persuasiva: os peixes que se comportam mal são criticados e comparados com o Santo
António para nos mostrar o que as pessoas não devem fazer. Ele nos lembra de evitar
comportamento errados
Como se manifesta a exemplaridade no sermão de Santo António (os peixes)?
O orador deve ser uma figura exemplar, alguém que segue os princípios cristãos, e Padre António
Vieira reúne essas condições, procurando exercer a sua função de “sal” e cativar o auditório de
forma inspiradora.
Mas tanto Santo António em Arimino como Padre António Vieira no Maranhão enfrentam
desafios na sua missão evangelizadora, devido à resistência daqueles que tentam influenciar
simbolizada pela expressão “a terra não se deixa salgar”
Que exemplo Padre António Vieira vai seguir para combater a corrupção na terra?
Padre António Vieira decide combater a corrupção na terra seguindo o exemplo de Santo
António, Isto acontece logo no início do sermão - Exórdio - , quando diz que tem intenção de
mudar de público e pregar aos peixes
Qual é a importância de Santo António, neste contexto?
Santo António desempenha um papel crucial, pois ele serve como um exemplo de
comportamento humano. Ao longo do Sermão, Padre António Vieira identifica-se com ele pela
sua virtude e em ações. Santo António é um modelo a seguir pelos homens do seu tempo.
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4 – Resumos da obra por capítulos:
Estrutura do Sermão:
-Estrutura Externa: 6 capítulos.
-Estrutura Interna -» partes do sermão:
1. Exórdio
Capitulo I (Introdução) – Apresentação do tema e louvor a Santo António
Neste capítulo conhecido por Exórdio, Padre António Vieira apresenta o tema do
sermão iniciando-se com o conceito predicável: “Vós sois o sal da Terra” (Vós sois o
sal da terra). Ele faz uma semelhança com Santo António, a partir disso, criticar a
corrupção na terra. Padre António Vieira aponta várias razões para essa corrupção e
conclui que as pessoas não estão interessadas na verdadeira doutrina. Uma vez que a sua
pregação não está a ter o efeito desejado, ele decide deixar de pregar aos homens e
imitar Santo António: pregar aos peixes.
2. Exposição e Confirmação
Capítulo II (Desenvolvimento) – Louvor das virtudes dos peixes em geral
No segundo capítulo, conhecido como Exposição, Padre António Vieira destaca as
virtudes dos peixes como uma Alegoria, onde os peixes são frequentemente usados como
metáfora dos índios e colonos.
O seu objetivo é elogiar as virtudes dos peixes como forma de repreender os vícios dos
homens.
Inicialmente Padre António Vieira destaca as virtudes dos peixes, depois aponta-lhes os
defeitos, de modo a tentar corrigi-los.
Padre António Vieira elogia as virtudes dos peixes, como a obediência, o respeito, a
ordem com que os peixes ouvem a pregação. Padre António Vieira faz referência a essas
características positivas dos peixes, para mostrar a diferença entre o comportamento dos
peixes e dos homens.
Capítulo III (Desenvolvimento) – Louvor das virtudes dos peixes em particular
Padre António Vieira continua a elogiar aos peixes, mas de forma individualizada,
particular. Ele menciona quatro tipos de peixes para comprovar a relação entre o homem
e o divino:
O santo Peixe de Tobias: este peixe é destacado por ter em suas entranhas em fel que cura
da cegueira e um coração que expulsa os demónios. Ele simboliza as virtudes interiores,
a bondade e o poder purificador da palavra de Deus.
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A rémora: apesar do seu tamanho pequeno, a remóra é elogiada por sua força e poder.
Ela é usada como símbolo da força e do poder da palavra dos pregadores.
Padre António Vieira compara a língua de Santo António era uma rémora na terra,
destacando a sua força para dominar as paixões humanas, como a soberba, a vingança,
a cobiça e a sensualidade, que são referidas como as “quatro naus” no sermão.
O torpedo: este peixe é conhecido por gerar descargas elétricas que podem fazer oscilar
o barco do pescador. O Torpedo expressa o poder da palavra de Deus, em provocar
arrependimento nas pessoas.
O quatro-olhos: este peixe tem dois pares de olhos, um par voltado para cima e outro
para baixo. Essas características simboliza a visão espiritual e a iluminação: Padre António
Vieira destaca o dever do cristão de tirar os olhos da vaidade terrena, olhando para o céu,
sem esquecer o inferno, o castigo divino.
Capítulo IV (Desenvolvimento) – repreensão dos vícios dos peixes em geral
Neste capítulo, Padre Antonio Vieira repreende os peixes em geral, usando a antropofagia
social como metáfora para criticar o comportamento humano. Ele condena a ideia de que
os homens se prejudiquem, onde os poderosos exploram e se alimentam dos mais fracos.
em benefício próprio. Para alem disso, Padre Antonio Vieira denuncia a vaidade e a
cegueira como causa da corrupção social e da falta de interesse humano pela palavra de
Deus.
Capítulo V (Desenvolvimento) – repreensão dos vícios dos peixes em particular
Neste capítulo, o Padre Antonio Vieira repreende quatro-peixes, que simbolizam os
pecados ou vícios humanos.
O rancor:
Um peixe pequeno emite um som grave é facilmente pescado.
Representa a arrogância e o orgulho, semelhante às figuras S. Pedro, Golias, Califas e
Pilatos.
Ao contrário, temos Santo Antonio que tinha conhecimento e poder, mas não era
arrogante.
O pegador:
Este peixe fixa-se em peixes grandes ou ao leme dos navios.
Representa o oportunismo, a bajulação, vive na dependência dos grandes e morre com
eles, como são exemplo os seguidos de Herodes.
Ao contrário, Santo António pegou-se apenas a Cristo e seguiu a sua doutrina.
O voador:
Um peixe de grandes barbatanas que salta para fora de água como se voasse.
Representa a vaidade e a ambição, pois não está satisfeito com o seu ambiente natural,
o voador, à semelhança de Simão Mago e Ícaro entre os homens, encontra o seu castigo.
Ao contrário, Santo António tinha sabedoria e poder, mas não se vangloriou.
O polvo:
Apesar do seu aspeto inofensivo, o polvo pode camuflar-se e é considerado um hipócrita
e traidor, já que utiliza a sua capacidade de se transfigurar para atacar os peixes
desprevenidos, assim como fez Judas a Cristo.
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Ao contrário, Santo António foi sincero e verdadeiro, nunca enganou.
3. Peroração ou Epílogo
Capítulo VI (Conclusão) – Exortação final e louvor a Deus
Na Peroração ou Epílogo, o Padre Antonio Vieira usa um tom forte para impressionar o
seu público e incentivá-lo a colocar em prática os conselhos que deu ao longo do sermão.
Por fim, o Padre Antonio Vieira revela uma sensação de inveja em relação aos peixes, pois
ele considera que ofendeu a Deus e não alcançou o propósito para o qual foi criado,
enquanto os peixes merecem louvor por não ofenderem a Deus e por cumprir o
propósito da sua criação.
5 – Análise da Obra, capítulo por capítulo:
 EXÓRDIO
Capítulo I - Análise
Padre António Vieira, inicia o Sermão com a expressão Bíblica “Vos estis sal terrae”, o conceito
predicável
O que é o conceito predicável?
O conceito predicável é uma frase de um texto sagrado que serve de tema para o sermão. O
pregador desenvolve esse tema usando alegorias e metáforas para passar verdades morais e
inspirar a fé a quem ouve.
O que representa no Sermão, o conceito predicável “Vos estis sal terrae”?
A frase foi dita por Cristo
Vos -» Vós (os pregadores)
Estis -» sois
sal -» o sal
terrae-» da terra (dos ouvintes)
O que simboliza o Sal?
O “Sal” é uma metáfora que representa os ensinamentos religiosos e morais que os pregadores
devem partilhar para manter as pessoas honestas, prevenir a corrupção e os maus
comportamentos. Os pregadores têm a importância tarefa de ajudar a salvar as pessoas, guiando-
as no caminho da virtude: é ele o responsável pela salvação das pessoas, mantendo-as virtuosas.
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Mas, Padre António Vieira diz que apesar de haver muitos pregadores com a função de “Sal”, a
terra está corrupta.
De quem é a culpa da corrupção? Do pregador? Do Sal? Da terra?
A corrupção não é atribuída diretamente ao “sal” (que representa os ensinamentos religiosos e
morais), nem à terra.
A responsabilidade é compartilhada entre os pregadores e os ouvintes, porque: Os pregadores
não cumprem a função de “sal” (manter as pessoas honestas e prevenir a corrupção e os maus
comportamentos) e os ouvintes falta-lhes a devoção.
Esquema ilustrativo da causa da corrupção
Qual é o objetivo da narrativa que o orador introduz?
O objetivo do orador é chamar a atenção do ouvinte e fazê-lo nas suas palavras verdadeiras. Para
isso, relata um acontecimento da vida de Santo António, homenageando-o no dia em que se
festeja o dia do seu nascimento, 13 de junho de 1654. Por esse motivo, este texto se chama
Sermão de Santo António.
Que acontecimentos da vida de Santo António é destacado por Padre António Vieira?
Padre Antonio Vieira conta que um dia, Santo António, pregava aos habitantes de Arimino, em
Itália, mas eles perseguiam-no e quase o mataram, porque não o queriam ouvir.
Que resolução tomou Santo António quando foi perseguido?
“Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?”
Nenhum das opções foi tomada por Santo António. Segundo a lenda, deixou os homens e foi
pregar aos peixes, para junto do mar.
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Porque é que Padre António Vieira segue o exemplo de Santo António?
A terra está corrupta e o pregador tem dificuldade em divulgar a verdadeira doutrina
(ensinamentos de Cristo), que considera “Muito clara, muito sólida, muito verdadeira.”, e embora
o faça com vontade, “de manhã e de tarde, de dia e de noite”, continua sem colher “frutos”.
Assim, o efeito do seu esforço de promover e transmitir as crenças religiosas é igual à de Santo
António.
Qual é a intenção de Padre António Vieira a recorrer a Santo António?
Padre António Vieira prepara um sermão para os colonos do Maranhão, homens corruptos que
não o querem ouvir, que exploram os escravos e os índios.
Por isso, à semelhança de Santo António, pretende-se voltar-se “da terra ao mar” já que os
homens não o querem escutar, decide pregar aos peixes. Depois pede a Maria, a “senhora do
Mar” para uma oração “Ave Maria”.
Qual é o objetivo de Padre António Vieira para invocar Maria?
Padre António Vieira invoca Maria para obter a graça divina e a bênção para apresentar o seu
Sermão e ser ouvido pelos homens.
 EXPOSIÇÃO E CONFIRMAÇÃO
Capítulo II – Análise | Louvores em geral
Padre António Vieira inicia a Exposição, com uma pergunta “Enfim, que havemos de pregar hoje
aos peixes?”. É visível o desconsolo do pregador.
Qual é a causa do desapontamento do pregador?
Padre António Vieira lamenta o facto de que os ouvintes do seu sermão “serem gente os peixes
que se não há de converter”, ou seja, os peixes. Ele expressa o seu desgosto porque ao contrário
dos humanos, os peixes não podem converter à fé.
Isto cria uma situação irónica, já que o pregador está acostumado a falar para seres humanos que
têm a capacidade de escolher entre o certo e o errado, enquanto os peixes não têm essa
capacidade.
Para desenvolver as suas ideias, o orador, retomando o tema apresentado no Exórdio, indica as
duas propriedade do “sal”:
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Se o sal tem estas duas propriedades, o Sermão irá prová-las e para que haja clareza, Padre
António Vieira divide o discurso argumentativo em duas partes:
Como se classifica o discurso em que o orador dirige aos peixes, mas pretende atingir os homens?
O discurso em que o orador se dirige aos peixes, mas que quer atingir os homens é classificado
como discurso alegórico. Neste caso o Padre António Vieira compara as características dos peixes
aos colonos do Maranhão.
Padre António Vieira descreve as virtudes dos peixes, como uma maneira de elogiar
comportamentos dignos de admiração dos homens, reveladores de humildade e simplicidade.
Por outro lado quando critica aos peixes de forma negativa está fazendo uma referência aos
colonos que praticavam atos imorais, e demonstravam vícios.
Em conclusão, com o discurso aos peixes, Padre António Vieira pretende alcançar os homens.
Padre António Vieira, prossegue o seu discurso, dando início aos louvores em geral, para tal
enumera algumas virtudes dos peixes.
As qualidades e virtudes dos peixes:
 Foram os primeiros seres que Deus criou - “as primeiras criaturas que deus criou”,
“primeiro que as aves do ar (…) que aos animais da terra, e a vós primeiro que ao
homem”;
 São sensatos e prudentes - “Não condeno, antes louvo muito aos peixes este seu retiro,
e me parece que, se não fora natureza, era grande prudência.
 São os mais numerosos e os maiores - “entre todos os animais do mundo, os peixes são
os mais e os peixes os maiores”
 São bons ouvintes e obedientes - “é aquela obediência, com que chamados acudistes
todos pela honra de vosso Criador e Senhor”
 São livres e não se deixam dominar -” só eles entre todos os animais, se não domam nem
domesticam”
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Como é que Padre António Vieira torna o seu discurso mais credível?
Padre António Vieira torna o seu discurso mais credível através de argumentos:
1.º argumento – Relata a passagem da vida de Santo António em que os peixes, com obediência,
se aproximaram para ouvir a palavra de Deus pela boca de Santo António “boca de seu servo
António”.
2.º argumento – Usa o exemplo de Jonas, um pregador que quando enfrentou uma tempestade
num barco, foi jogado ao mar para ser comido pelos peixes “os homens lançaram-no ao mar a
ser comido aos peixes”. No entanto, uma baleia engoliu-o, manteve-o vivo e o levou-o à praia
salvando-o.
3.º argumento – Recorre a um argumento de autoridade: Aristóteles. Segundo ele entre todos os
animais, apenas os peixes não podem ser domesticados ou controlados pelos humanos “se não
domam nem domesticam”. Padre António Vieira comprova que os peixes vivem em liberdade
porque vivem afastados dos homens.
4.º argumento – Faz referencia ao dilúvio bíblico que cobriu o mundo “o que cobriu e alagou o
mundo”, afirmando que os peixes não apenas sobreviveram, mas também cresceram, uma vez
que a terra e o mar se tornam num só “não só escaparam todos, mas ficaram muito mais largos
que dantes, porque a terra e o mar tudo era mar”.
O que pretende Padre António Vieira com os louvores aos peixes?
Padre António Vieira elogia as virtudes dos peixes por que condena o comportamento dos
homens a quem faltam valores morais.
Que defeitos aponta Padre António Vieira aos homens?
A vaidade - “mas isto é lá para os homens, que se deixam levar destas vaidades”
A desumanidade – “os homens lançam ao mar os ministros da salvação”
A obstinação – “os homens tão furiosos e obstinados”
A insolência – “ os homens perseguindo a António, querendo-o lançar da terra e ainda do mundo,
se pudessem”
O que entende por peixes e homens neste contexto?
Peixes -» homens bons, virtuosos
Homens -» homens maus, viciosos
Que motivo levou o orador a terminar o capítulo II com nova referência a Santo António?
O motivo que levou o orador a terminar o capítulo II com uma nova referencia a Santo António é
evidenciar que os peixes devem afastar-se dos homens, viver em paz e evitar os vícios humanos.
Ele usa Santo António como exemplo de alguém que estava mais próximo de Deus quando se
afastava das imperfeições humanas, incentivando os peixes a seguirem o mesmo caminho
espiritual “tanto mais unido com Deus, quanto mais apartado dos homens”
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O que torna a referência a Santo António tão convincente?
A referência a Santo António é convincente porque Padre António Vieira descreve as várias etapas
da vida do Santo: Santo António deixou a casa de seu pais, entra num mosteiro e mais tarde
tornou-se franciscano, tudo com o objetivo de “fugir e se esconder dos homens”, evitando a
maldade humana em busca de uma vida mais próxima a Deus.
Capítulo III – Análise | Louvores em particular
Padre António Vieira prossegue o seu discurso, realçando as virtudes dos peixes, de modo
particular, ou seja, menciona apenas quatro peixes: O SANTO PEIXE DE TOBIAS, A RÉMORA, O
TORPEDO e O QUATRO-OLHOS.
1 - O SANTO PEIXE DE TOBIAS: simboliza a bondade e o poder purificador da palavra de
Deus. O seu fel curar a cegueira e o seu coração, expulsa os demónios.
Que importância adquire a alusão ao episodio bíblico?
A alusão ao episodio bíblico destaca a capacidade de O SANTO PEIXE DE TOBIAS de curar a
cegueira e expulsar os demónios, sendo um poderoso símbolo da palavra de Deus. Padre António
Vieira usa a história de O SANTO PEIXE DE TOBIAS para destacar como os ensinamentos de Santo
António tem o poder de libertar as pessoas do mal, da ignorância e dos vícios, transformando
positivamente as suas vidas.
Nesse sentido pode fazer-se uma analogia:
Mar: O santo Peixe de Tobias -» As entranhas -» O poder curativo
Terra: Santo António -» A palavra -» O poder purificador
Que conclusão retira Padre António Vieira da analogia ou do paralelismo entre o mar e a terra?
Padre António Vieira conclui que existe uma grande diferença: enquanto o “peixe” abria a boca
(pregava) para aqueles que tentavam purificar-se, Santo António abria a sua boa (pregava) contra
aqueles que não se queriam purificar,
Que valor adquire o verbo lavar, neste contexto?
Lavar:
Sentido denotativo – limpar, assear, tirar a sujidade
Sentido conotativo – purificar, corrigir, reabilitar
Neste sermão, Padre António Vieira utiliza a palavra “lavar” de duas maneiras. A primeira se
refere à limpeza física, como lavar e a segunda é quando fala de purificar a alma e corrigir os
erros.
O que simboliza as entranhas do santo Peixe de Tobias?
 A solução para a cegueira, para os pecados e para a ignorância
 O poder purificardor da palavra, que liberta o homem da sua vaidade e da sua maldade
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2 - A RÉMORA: é um peixe de pequeno tamanho, mas de grande força e poder. Por isso
quando se prende a um navio, tem a capacidade para o segurar ou fazê-lo mudar de
rumo:
Como se prova o poder da Rémora?
“não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma nau da Índia, apesar das velas e dos
ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas ancoras, sem
se poder mover, nem ir por diante”.
Que valor simbólico adquire a Rémora?
A rémola simboliza a força da palavra dos pregadores e a sua determinação.
Que pessoa tem na terra o mesmo poder da Rémora?
Na terra aquele que tem o poder da rémola é o Santo António. Embora fosse pequeno, humilde
e simples, ele tinha o poder de controlar as fortes paixões humanas “como a soberba, a vingança,
a cobiça e a luxuria (sensualidade). Ele era capaz de influenciar as pessoas, assim como a rémora
tinha a força de deter um navio ou mudar o seu rumo, apesar do seu tamanho.
3- O TORPEDO: Padre António Vieira apresenta um peixinho que vive em retiro,
afastado do homem. Este peixe tem uma habilidade de produzir choques elétricos,
causando tremores no barco do pescador. Essa característica é usada como uma
metáfora para o poder da palavra de Deus. Assim como o Torpedo surpreende o
pescador com os seus choques, a palavra de Deus pode surpreender as pessoas,
fazendo-as refletir sobre as suas ações e se arrependerem dos seus pecados.
Como se confirma esta característica de Torpedo?
Padre António Vieira confirma a qualidade tremente usando uma alegoria. Ele descreve a situação
em que o pescador está segurando a cana na mão, o anzol na água, esperando pacientemente.
Quando o Torpedo pica a isca, o sente o seu braço tremer. Essa alegoria simboliza como a palavra
de Deus tem o poder de impactar as pessoas, fazendo com que eles reflitam.
O pregador estabelece novamente uma comparação entre o mar e a terra. Que conclusão devemos
retirar?
Na comparação entre o mar e a terra, Padre António Vieira conclui que na terra apesar de haver
muitos meios para pregar, os resultados são poucos. Ele mostra a sua desilusão pelo facto de os
homens não serem tocados pela palavra divina da mesma forma que os peixes são para Torpedo.
Padre António Vieira lamenta porque muitas pessoas não estão respondendo à sua mensagem.
Ele sente que apesar dos seus esforços as pessoas não estão convertendo-se à fé como ele
gostaria.
De que modo Padre António Vieira confirma que Santo António conseguiu fazer tremer os homens?
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Padre António Vieira confirma que Santo António conseguiu fazer os homens tremerem através
de um episodio da sua vida. Vinte e dois pescadores ouviram a pregação de Santo António e
ficaram tão impactados com as sua palavras que todos eles começaram a tremer, devolveram o
que haviam roubado e mudaram sua vidas. Esta história mostra como Santo António teve sucesso
em fazer os homens tremerem, assim como Torpedo que simboliza a palavra de Deus e tem a
qualidade de fazer as pessoas pensarem.
Qual é o significado do verbo tremer, neste contexto?
Tremer significa que as palavras de Santo António causaram uma forte emoção nos ouvintes,
levando-os a mudar suas vidas e se converterem
4 - O QUATRO-OLHOS: é um peixe que Padre António Vieira usa para representar a
prudência que os cristãos devem ter. Este peixe tem quatro olhos, dois olhos que
olham para cima - vigiam os predadores do ar) e os outros dois para baixo - vigiam
os predadores do mar, defendendo-se assim de diversos tipos de males. Os
homens esquecem-se que há Céu (em cima) e Inferno (em baixo).
Que características físicas apresenta quatro-olhos?
O peixe tem quatro olhos, “em tudo cabais e perfeitos”, sendo que “os da parte superior olham
diretamente para cima, e os da parte inferior diretamente para baixo”
Como se justifica a admiração do pregador por este peixe?
A admiração do pregador pelo quatro-olhos é devido às características única deste peixe, que
possui quatro olho, dois para cima e dois para baixo, tendo assim uma visão ampla.
Esta caraterística destaca a prudência e vigilância, quando comparada a outros animais com
apenas dois olhos, como as águias e os linces.
A admiração também destaca a importância da atenção espiritual devido à cegueira de muitas
pessoas na terra “em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos”.
Porque motivo estes peixes têm quatro olhos?
O peixe quatro-olhos, têm quatro olhos porque vivem na superfície da água e enfrentam riscos
duplos. Dois dos olhos permitem-lhes vigiar as aves que voam acima, enquanto os outros dois
olhos permitem que vigiem os peixes que nadam abaixo. O orador usa essa observação para
argumentar que da mesma forma que o quatro-olhos ao vigia o céu e o mar, os homens deveriam
ter mais atenção nos valores humanos, em vez de especto materiais
Quais são as estratégias usadas por Padre António Vieira para convencer os ouvintes a serem
vigilantes como este peixe?
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Padre António Vieira convence os ouvintes a serem vigilantes usando o peixe com quatro olhos
como símbolo dos deveres cristãos, e ensina que com fé e razão e para baixo lembrando do
inferno.
O capítulo termina com mais louvores aos peixes:
 São eles que alimentam as Cartuxas e os Buçacos (ordens religiosas), e “todas as santas
famílias, que que professam mais rigorosa austeridade”
 São eles que ajudam os cristãos “ a levar a penitencia das Quaresma”
 Foram os animais escolhidos por Cristo para festejar “a sua Páscoa, as duas vezes que
comeu com Seus discípulos depois de ressuscitado”
 São o alimento e os “companheiros de jejum e da abstinência dos justos”
 São o alimento que pode ser comido todos os dias da semana
 Tem um caracter sagrado, por viverem na água “cuja fecundidade entre todos é própria
do Espirito Santo”
Na exortação final, Padre António Vieira, tem como base a atitude de Deus, que convocou os
peixes a se multiplicarem e servirem de sustento aos pobres com a frase “cresci, peixes e
multiplicai, e Deus vos confirme a sua bênção”.
Esta referência bíblica também é uma critica aos desníveis sociais, pois onde há pobres há ricos,
mas só os justos e verdadeiros obtêm a graça divina.
Capítulo IV – Análise | Repreensões em geral
Neste capítulo a repreensão aos peixes, não tem como objetivo corrigi-los, têm o intuito de
perturbar o espírito humano, e influenciar o pensamento e o comportamento humano.
Qual é a primeira repreensão feita pelo orador?
Os peixes comem-se uns aos outros e os grandes comem os pequenos. Parece que o vicio é
terrível, pois para satisfazer a gula de um peixe grande “não basta 100 pequenos ou mil”
A que estratégia retorica recorre o orador para comparar atitude que critica nos peixes com o
comportamento humano?
Padre António Vieira utiliza a estratégia retórica da comparação para associar o comportamento
dos peixes, como o canibalismo e a ingenuidade, com as ações dos homens. Ele recorre às
palavras de Santo Agostinho para evidenciar a “fealdade deste escândalo”, e compara as más
cobiças humanas à tendência de os peixes que se comem uns aos outros “os homens com as suas
más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros”
Qual a importância de Santo Agostinho neste passo do Sermão?
Santo Agostinho tem um papel importante neste trecho do sermão, pois Padre António Vieira,
cria uma semelhança entre a sua atitude e a do Santo Agostinho. As palavras e os exemplos de
Santo Agostinho servem como um argumento de autoridade, comparando-o a Padre António
Vieira.
Enquanto Santo Agostinho, pregava aos homens e exemplificava nos peixes, Padre António Vieira
inverte a situação pregando aos peixes para exemplificar “nos homens”.
17
Padre António Vieira incentiva os peixes a observarem o que se passa na terra, mas eles olham
para o Sertão, onde vive uma tribo que pratica o canibalismo.
Padre António Vieira quer que os peixes observem a “cidade”, que ele considera um “açougue”,
onde “muitos mais se comem os brancos”, denunciando assim a antropofagia social: os homens
aproveitam-se e vivem à custa uns dos outros.
Para tomar o discurso mais convincente Padre António Vieira mostra o que acontece quando
alguém morrer e seus familiares querem logo se apropriar da sua herança, usando o verbo
“comer” para representar a ideia de aproveitar, enganar, e roubar, ”despedaça-lo e comê-lo”;
“comem- no os herdeiros”, comem-no os testamentos”, comem-no os credores”.
Padre António Vieira ilustra na sua tese com mais um exemplo, com relação entre os corvos e os
homens, destacando a crueldade dos homens ao compará-los aos corvos, que os corvos só
comem o enforcado depois de executado.
Que sentimentos de evidencia o pregador, face à antropofagia social que denuncia?
O pregador, Padre António Vieira evidencia sentimentos de indignação pela maldade dos homens
quando refere que os grandes comem os pequenos, como parte da sua dieta diária “comer de
todos os dias”.
Padre António Vieira acredita que estas ações não ficarão sem serem castigados, e por isso avisa
os peixes para considerarem as palavras de Santo Ambrósio que alerta que o peixe que caça os
mais fracos para se alimentar pode acabar sendo devorado pelos mais fortes “guarde-se o peixe
que persegue o mais fraco para comer, não se ache na boca do mais forte, que o engula a ele”.
Alem disso ele refere Santo Agostinho para encorajar os ouvintes a controlar os seus desejos e
pecados relacionados com a “gula”, dizendo que voracidade dos grandes resulta em castigo
divino.
Que ultimo conselho é ainda dirigido aos peixes e em que se fundamenta?
O último conselho dirigido aos peixes é que sejam mais preocupados com o bem comum do que
com os seus desejos individuais. Isto significa que eles devem ser menos egoístas e mais
desinteressados. O objetivo é reduzir os perigos que enfrentam, pois, têm muitos inimigos de dia
e de noite, sugerindo que vivam tranquilos, pacíficos e com amigos “muito quietos, muito
pacíficos e muito amigos”.
Padre António Vieira, utiliza como exemplo relembrando o dilúvio e a Arca de Noé: os animais
evitavam comer-se uns aos outros por uma questão de sobrevivência.
Qual é a segunda repreensão feita pelo orador, aos peixes?
O capitulo termina com mais um reprensão aos peixes: ignorância e cegueira, que os faz serem
pescados e perderem a vida
Se os peixes caem tão facilmente no engodo, o que acontecerá aos homens?
Os homens enganam e deixam-se enganar-se facilmente.
Padre António Vieira comprova a sua teoria com uma critica às ordens religiosas de Malta, Avis,
de Cristo e Santiago, que recrutam pessoas para lutar pela fé cristã, levando-as à morte. Isto não
faz parte da essência de uma ordem religiosa, que tem o dever de ensinar e transmitir os valores
de Deus
Como descreve Padre António Vieira o comportamento dos que se deixam iludir pela aparência?
18
Padre António Vieira leva os ouvintes a visualizarem uma situação real: vem um mercador a
Portugal para o Maranhão, com uns “retalhos de pano” fora de moda, dá uns retoques na
mercadoria e coloca-a à venda por um preço mito superior ao seu valor “os bonitos, ou os que o
querem parecer, todos enfaimados”, compram o que querem, gastam o dinheiro que têm e
endividam-se, por vaidade.
A prática de consumismo e da exploração é motivo de indignação, pois o dinheiro que dela resulta
não se destina a quem investiu a sua vida de trabalho.
Padre António Vieira refere que os peixes não necessitam de se perder, como os homens, pelos
panos, pois Deus os vestiu com escamas brilhantes e vistosas “Quem Deus vestiu do pé até à
cabeça”, melhor será seguir o exemplo de Santo António que nunca se deixou iludir pelas
vaidades do mundo, que trocou a riqueza pela simplicidade. Assim, Santo António conseguiu-
converter muitos homens que ouviram as suas palavras.
Capítulo V – Análise | Repreensões em particular
Neste momento da obra Padre António Vieira, concentra-se nas repreensões aos peixes em
particular, mostrando o que tem contra alguns deles.
Espécies a serem criticadas: OS RONCADORES, OS PEGADORES, OS VOADORES E O POLVO:
OS RONCADORES: Simbolizam a arrogância, a soberba, a vaidade “peixinhos pequeninos”, mas
emitem um som forte que os fez ser as “ as roncas do mar”
Qual é a expressividade, neste contexto “as roncas do mar”, do verbo roncar?
No contexto, o verbo “roncar”, é usado por Padre António Vieira para criticar aqueles que se
orgulham das suas ações, agindo de maneira espalhafatosa, ostentando e se gabando. E diz que
agir assim pode resultar num grande castigo, por desagradar a Deus, que tem particular cuidado
de humilhar aqueles que muito “roncam”. Vieira usa um proverbio “Quem tem muita escapa tem
pouca língua” para criticar que se ostentam demasiado.
Que exemplo apresenta Padre António Vieira para ilustrar o sentido do proverbio “Quem tem muita
escapa tem pouca língua”?
O orador defende dois exemplos:
Primeiro exemplo: Pedro, discípulo de Cristo, gabava-se da sua bravura e da firmeza da sua fé
cristã, que nunca havia de enfraquecer, mas bastou uma mulher falar para o fazer tremer e negar
a Cristo ou Pedro estava de vigia a Cristo no horto mas adormeceu. Conclusão “o muito rancor
antes da ocasião é sinal de dormir nela
segundo exemplo: O gigante Golias que era a vaidade dos Flisteus, esteve quarenta dias no
campo, a desafiar todos os exércitos de Israel. Ninguém se atrevia a desafiá-lo, mas bastou um
pastorzinho David para o derrotar, para dar “com ele em terra”. Conclusão: “ os arrogantes e
soberbos tornam-se com Deus, e quem se toma com Deus, sempre fica debaixo”
OS PEGADORES: são peixes pequenos que vivem à custa dos maiores, são oportunistas.
19
Que tipo humano representa o peixe pegador?
O peixe pegador representa o parasita que vive na dependência dos grandes e com eles morre.
Para provar a verdade desta tese Padre António Vieira recorre a dois exemplos:
1 exemplo – Estes peixes são tão ignorantes e ambiciosos que chegam ao ponto de se deixar
morrer se os maiores são abatidos. Por exemplo, se o tubarão é pescado, os pregadores que o
seguem também morrem com ele.
2 exemplo – Vieira menciona o desejo de Herodes e sua corte em tirar a vida de Cristo Menino,
procurando a destruição de todos que dependiam da sua fortuna. Isto mostra coma a atitude de
um grande pode causar a queda de todos os dependentes dele.
Como convencer o orador os “peixinhos ignorantes e miseráveis” a refletir sobre “este modo de
vida”?
Vieira incentiva os “peixinhos ignorantes e miseráveis” a refletirem sobre “este modo de vida” ao
apontar o exemplo de Santo António. Ele diz que Santo António está intimamente ligado a Cristo,
sugerindo que Cristo se tona “pequenino” para se unir a Santo António.
Qual é a relevância de comparação de Cristo e Santo António”?
Assumido que o pegador se pega sempre ao maior, então Santo António pegou-se a Cristo. Mas
se Cristo se pega a Santo António, o maior passa a ser o Santo António, já que “António também
se fez menor, para se pegar mais a Deus”
Que valor metafórico adquire a “famosa árvore” que é referida na “Escritura”?
A “árvore” era o abrigo para todas as aves e animais terrestres e representa o que é “grande”.
Mais uma vez com referência à “árvore” Padre António Vieira incentiva os peixes a viverem junto
dos grandes, mas não tão apegados que morrem por eles e com eles.
Que exemplo final é mencionado para mais um apelo aos pegadores?
O pegador faz referência ao episodio bíblico de Adão e Eva. Ele compara os homens, que nascem
condenados pelos pecados de outros, mas ainda podem ser salvos com o batismo,
contrariamente aos peixes pegadores. Porquê? Os pegadores são condenados devido à
ignorância que demonstram em sua vida de parasita “nem com toda a água do mar que os banha
podem ser salvos”
Vieira termina referindo que viver à custa de outros, nunca se poderá salvar “Eis aqui, peixinhos
ignorantes e miseráveis, quão errado é enganoso é este modo de vida que escolhestes”
20
OS VOADORES: são ambiciosos
Estes peixes criados por Deus para serem peixes, como têm barbatanas maiores, querem imitar
as aves. Esta ambição de se quererem transformar naquilo que não são, só lhes traz sofrimento.
No mar morrem por serem enganados pelo isco, e no ar morrem quando as velas, cordas e laços
dos barcos se transformam em redes e os apanham “no mar morrem enganados pelo isco, e no
ar morrem porque as velas, as cordas e os laços dos barcos se transformam em redes, apanhando-
os. “
Padre António Vieira aconselha os homens a se contentar com aquilo que são, porque “Quem
quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem”.
Ele usa Santo António como exemplo de alguém que sempre fugiu da ambição, reconhecendo
que as mesmas asas que o faziam subir também o poderiam fazer descer, levando-o à destruição.
Santo António preferiu a humildade “Não estendeu nas asas para subir, encolheu-as para descer”.
Tal como Santo António, também os voadores deverão humildemente recolher-se às covas do
mar, onde não estarão expostos à insegurança e à morte.
O POLVO: O triador
Quais são as características e aparência do polvo?
O polvo parece um monge com capuz na cabeça e raios estendidos, dando-lhe a aparência de
uma estrela “com aquele seu capelo na cabeça(…) com aqueles eus raios estendidos”, é notado
pela sua falta de ossos e espinhas, “não ter ossos nem espinhos” o que sugere uma mistura de
bravura
Em que consiste a traição do polvo?
O polvo muda de cor, muda conforme as circunstâncias para facilmente caçar a sua presa
Com quem se pode comparar o polvo, na terra?
O polvo é comparado com Judas na terra, mas com uma diferença, enquanto Judas teve a
cumplicidade de outros para trair Cristo, o polvo age sozinho, para colocar em prática os seus
planos traiçoeiros.
Vieira expressa a sua repugnância pelo polvo, pois este peixe é traiçoeiro, hipócrita e cheio de
maldade
Como se entende a critica social através do polvo?
Padre António Vieira, refere que tal como o mar, na terra também há falsidades, enganos,
fingimentos, ciladas e traições. Deste modo o objetivo de Vieira é condenar os colonos do
Maranhão que enganaram e traem os índios de diferentes maneiras
Quem se afira à antítese do polvo?
A antítese do polvo é representada por Santo António, que é descrito como “o mais o puro
exemplar”, sem fingimento ou engano. Padre António Vieira diz que as virtudes de Santo António,
no passado, eram facilmente encontradas em qualquer homem português e não era necessário
21
ser Santo para possuir essas virtudes “não era necessário ser santo”. Santo António é apresentado
como um exemplo de virtude e honestidade em comparação com a traiçoeira natureza do polvo.
Em que consiste a advertência final neste capítulo?
A advertência final deste capítulo consiste na condenação daqueles que se aproveitam dos bens
dos naufragantes, considerando-os excomungados e malditos “ todos os que se aproveitam dos
bens dos naufragantes, fiam excomungados e malditos”. Vieira diz que estas pessoas merecem
castigo e vão definhar (secar) até encontrar uma morte miserável “definhar, até que acabam
miseravelmente”.
Porém ele diz que ainda existe uma possibilidade para a absolvição dos pecados, que será
conseguida através da restituição dos direitos das vítimas.
É clara a ilusão à realidade social em que os indígenas vivem, pois são eles quem sofrem com a
tirania, a vaidade e a sede de poder dos colonos.
No final do capítulo, Padre António Vieira sente a desilusão com a humanidade, pois afirma com
ironia que as sua palavras sábias e verdadeiras não fossem dirigidas aos peixes, os homens
poderiam ter colhido benefícios delas. No entanto, Vieira reconhece que a sua missão de profeta
não é conseguida, pois os homens não se querem emendar e por isso vivem em pecado mortal.
 PERORAÇÃO
Capítulo VI – Análise
Neste momento do sermão Padre António Vieira destaca que os peixes não são sacrificados a
Deus porque não podem viver fora de água e chegariam mortos ao altar. Ele compara essa
situação com a dos homens, que devido aos seus pecados também podem ser considerados
mortos quando chegam ao altar. Vieira sugere que, neste contexto, os peixes estão em melhor
situação que os homens, pois é preferível não chegar ao altar do que chegar a um estado de
morte, devido aos pecados
De que forma a constatação de Vieira denota uma critica aos homens?
Através da analogia, - o orador afirma, assim como os peixes chegariam mortos ao altar se fossem
sacrificados a Deus, também as almas de muitos homens se apresentam nas igrejas, porque estão
em pecado
Como se carateriza o orador Padre António Vieira, neste momento da obra?
Vieira declarasse indigno de servir Deus e espalhar a sua palavra, uma vez que ao contrário dos
peixes ele pode ofender a Deus com a razão, com as sua palavras com a sua memoria, com a sua
inteligência e com a sua vontade.
Já que os peixes são superiores aos homens, o orador propõe-lhes que agradeçam o que são a
Deus , fonte de toda a perfeição. Evidencia-se um fecho forte e emotivo de modo a sensibilizar o
auditório e levá-lo a pôr em prática os conselhos recebidos.
Que estratégias discursivas são utilizadas no apelo final?
A antítese – “Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos”
A construção anafórica e enumeração – “Louvai a Deus, que (…) Louvai a Deus que”
O modo imperativo – Louvai (…), louvai”
22
6 – Critica social e alegoria:
Padre António Vieira não ficou indiferente à triste e dura realidade dos indígenas em S. Luís do
Maranhão, em 1654. Como jesuíta e missionário, a sua tarefa evangelizadora levou-o até ao
Brasil, até Sertão, onde comprovou a escravatura a que os indígenas estavam sujeitos.
É em S. Luís do Maranhão que Vieira prega o sermão de Santo António (aos peixes), no dia 13 de
junho, dia do nascimento de Santo António, imagem que é exemplo a seguir e a contrapor aos
vícios peixes/homens.
O talento de Vieira, a sua habilidade retorica e os seus dotes da oratória, contribuíram fazer uma
critica aos colonos, aos “brancos” evidenciando-se a sua luta pela liberdade dos indígenas. Vieira
apresenta no Exórdio, o tema central do Sermão, a corrupção, para depois o ampliar, demonstrar,
comprovar, exemplificar na Exposição e Confirmação, provocando um tal efeito visual nos
ouvintes capaz de os convencer a veracidade do seu discurso
Os colonos são objeto da denuncia de Vieira. De que são acusados?
Vieira acusa-os de explorarem os índios indefesos, que era mão de obra barata, para os colonos
enriquecerem de forma rápida e fácil
A crítica aos colonos é feita diretamente?
Ao longo do Sermão, Vieira
- condena indiretamente os vícios dos colonos através dos louvores aos peixes
e
-critica diretamente os defeitos dos homens nas repreensões aos peixes
Como se confirma a estratégia de Vieira?
Através da alegoria peixes/homens. Depois de se verificar que os homens não se deixam salgar
ou converter, adota o exemplo de Santo António e decide pregar aos peixes.
Assim,
 os peixes são metáforas dos homens e dos seus comportamentos.
 As virtudes dos peixes correspondem às virtudes dos homens e os
 vícios dos peixes são os vícios dos homens.
Em que momento são mais visíveis as críticas aos defeitos humanos?
As criticas aos defeitos dos homens estão visíveis nos capítulos IV e V.
Capitulo IV, Vieira faz advertências aos peixes em geral, e através dessas advertências ele
representa a vida colonial e à sociedade da época, onde os grandes exploram os pequenos. Ele
denuncia a crueldade e a desumanidade da vida em sociedade, encorajando os peixes a serem
mais republicanos e zelosos pelo bem comum. Ele também faz referencia à vaidade e cegueira
dos colonos no Maranhão.
No capítulo V, repreende diferentes tipos de colonos, usando quatro peixes mencionados no
sermão:
 Os arrogantes e prepotentes (os roncadores)
23
 Os parasitas ou oportunistas (os pegadores)
 Os ambiciosos e vaidosos (os voadores)
 Os traidores e hipócritas (o polvo)
Neste capitulo, Vieira denuncia o oportunismo e a busca de benefícios económicos e sociais por
parte dos homens da sua época. Incluindo aqueles que acompanham os chefes militares, em
busca de vantagens.
Como se confirma a realidade social no Maranhão?
A realidade social no Maranhão é confirmada nas críticas do Padre António Vieira ao
comportamento dos colonos portugueses. Ele destaca a exploração dos mais vulneráveis,
representados pelos “peixes pegadores” que aprenderam esse modo de vida com os portugueses
que exploravam as conquistas. Isso revela a exploração e opressão dos colonos sobre os nativos.
Além disso, Vieira menciona a presença de falsidade e traições na terra, apontando para injustiças
sociais e um comportamento impróprio dos colonos. Vieira também avisa contra o oportunismo
e o benefício à custa dos outros, destacando que aqueles que se aproveitam dos bens dos
naufragantes estão sujeitos à maldição.
7 - RECURSOS EXPRESSIVOS
Para Vieira manter o auditório atento por muito tempo, recorre a 3 recursos expressivos:
Alegoria –Vieira ao apresentar o comportamento dos homens, ao comparar com os peixes, dá a
conhecer defeitos e vícios condenáveis.
 “Quantos, correndo fortuna na nau Soberba (…) Quantos, embarcados na nau Vingança”
(Cap. III)
 “Quantos, navegando na nau Cobiça (…) Quantos, na nau Sensualidade” (Cap. III)
 “Não contentes por ser peixe, quiseste ser ave”
Metáfora – Vieira utiliza a metáfora como uma ferramenta para criticar os homens e os seus
comportamentos
 “Vos estis sal terrae”
 “No mar pescam-se as canas, na terra pescam as varas (…) pescam as bengalas, pescam
os bastões e até os cetros pescam”
Comparação - Vieira, utiliza comparações para estabelecer relações de semelhança entre duas
coisas diferentes. Ao fazer isto, ele procura tornar as suas ideias e julgamentos mais fáceis para
o público entender.
 “Certo que se a este peixe o vestiram de Burel e o atacaram com uma corda, pareceria
um retrato marítimo de Santo António” (Cap. III)
 “O que é a baleia entre os peixes, era o Gigante Golias entre os homens”
 “O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge, com aqueles seus raios
estendidos, parece uma estrela” (Cap. V)
24
Outros recursos
Antítese
Pequeno/grande
Entrar/sair
Subir/descer
Enumeração
Falsidades, enganos fingimentos, embustes, ciladas

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Contexto histórico e literário do séc. XVII

  • 1. 1 1 - Contextualização histórico-Literária? A vida de Padre António Vieira estendeu-se por quase todo o séc. XVII, um período de transformação a nível económico, político, social e cultural em Portugal e também na Europa.  Contexto histórico Qual é o contexto histórico e político do séc. XVII? Em 1578 – O desaparecimento do rei D. Sebastião, sem deixar descendência, na batalha de Alcácer Quibir, originou uma crise dinástica que culminou com a perda da Independência de Portugal. Entre 1580-1640 – Um período de domínio espanhol, causador do descontentamento social. Em 1640 – A Restauração da Independência Nacional no 1.º de dezembro de 1640, conduziu D. João IV ao trono mas o clima de crise e instabilidade, manteve-se devido a diferente fatores: - as investidas constantes de Castela para reconquistar Portugal - a ameaça Holandesa, francesa e inglesa ás possessões ultramarinas - o agravamento das dificuldades económicas em Portugal - a perseguição da Inquisição aos cristãos-novos  Contexto literário O período entre o final do séc. XVI e os primeiros anos do séc. XVIII, foi marcado nas artes, pelo Barroco. Como se carateriza o Barroco? O Barroco é um estilo artístico, nascido em Itália, que se espalha por toda a Europa e América Latina. É um tipo de arte que tenta encantar e impressionar as pessoas. Ele usa muitos exageros: - nas formas, cores, sons e palavras para passar a ideia de ser extravagante, magnifico e grandioso. Isso acontece em várias formas de arte como: - na pintura, a escultura, a arquitetura, a música e literatura. Nestas diferentes artes, podemos detetar objetivos comuns: - o apelo multissensorial - a ilusão, a sedução e a transfiguração da realidade - o exagero Em resumo, a estética Barroca pode ser comparada a um “teatro do mundo”, onde a arte é vista como um espetáculo, cujo objetivo é fascinar e surpreender o ouvinte.
  • 2. 2 Em que contexto politico-cultural surge o Barroco? O Barroco aparece num contexto político e cultural ligado: - ao Absolutismo - movimento conhecido como Contrarreforma. A Contrarreforma aconteceu como resposta à Reforma Protestante, que desafiou a igreja católica e levou à criação de outras correntes religiosas, como o luteranismo, o anglicanismo e o calvinismo. A Contrarreforma tinha como objetivo manter o poder absoluto da igreja católica e combater as ideias protestantes. Para conseguir esse objetivo a igreja católica tomou algumas medidas, como: - Reforçou o poder da Inquisição, promovendo a disciplina e devoção religiosa - Decorou as igrejas de maneira extravagante e ostentosa para impressionar os fiéis e despertar a devoção. Assim a arte Barroca surgiu como uma expressão artística a serviço da igreja católica. As igrejas tornaram-se espaços cativantes devido à abundância de elementos decorativos e à grandiosidade. Através do Barroco, a Contrarreforma buscava usar a arte para esconder os medos, tensões e angústias da sociedade naquela época, apresentando uma imagem magnifica e deslumbrante que inspirasse devoção e fé. Como se carateriza o Barroco na literatura portuguesa? O estilo Barroco teve uma larga presença na poesia lírica, graças a diversos poetas, como Francisco Manuel de Melo ou D. Tomás de Noronha e, também se manifestou em diversas obras literárias. Mas foi o Padre António Vieira a pessoa mais reconhecida e importante na literatura Barroca em Portugal. Quais as características do Barroco presentes na oratória (eloquência) de Padre António Vieira? O sermão barroco foi um género literário predominante do séc. XVII. O Padre António Vieira era conhecido por sua habilidade em utilizar a pregação, para atingir todas as camadas sociais, transformando as suas pregações num verdadeiro espetáculo para espalhar as ideias morais e políticas. Assim, a oratória religiosa de Padre António Vieira envolve aspetos e caraterísticas próprias do estilo Barroco, como:  Cenários exuberantes: com foco na iluminação e na ornamentação  A sua pregação é realizada de maneira teatral e grandiosa, como se estivesse em um palco, cativando o público  Padre António Vieira atua como um verdadeiro artista, usando movimentos, gestos e entoação para comunicar as suas mensagens de forma envolvente  A sua pregação é divertida, utilizando uma variedade de recursos expressivos para entreter e envolver o público  Ele apresenta ideias profundas e complexas comunicando-as de forma convincente e com um discurso sofisticado
  • 3. 3 2 - Objetivos da Eloquência (sermão): O que é a eloquência? A eloquência é a capacidade de fazer discursos eficazes. A eloquência é sinonimo de oratória e retórica. Ela envolve a arte de bem falar em publico, com o objetivo de transmitir uma mensagem de forma cativante e impactante para o publico. Para ser eloquente, o orador deve seguir as três regras da eloquência, sintetizadas em docere (ensinar) – delectare (entreter) - movere. (mover) De que modo se associam o Sermão e a oratória (eloquência)? O sermão, discurso de natureza religiosa, é o género literário que está na base da pregação, com um caráter argumentativo e com intenção de convencer os ouvintes a terem determinados comportamentos. Como tal, nos seus sermões, o Padre António Vieira recorre a um discurso capaz de: deleitar e encantar («delectare»), uma vez que pretende convencer o público, levando- o a alterar o seu comportamento («movere»), através da transmissão de ensinamentos («docere»).
  • 4. 4 3 - Intenção de persuasiva e exemplaridade: A – PERSUASÃO O Sermão de Santo António (aos peixes) é um texto com intenção persuasiva? O Sermão de Santos António (aos peixes) é um texto com intenção persuasiva. O orador que é o Padre António Vieira, tem o objetivo de alertar os destinatários, que neste caso são os peixes, para a importância de mudar comportamentos incorretos. Ele usa a persuasão para convencer os peixes a terem atitudes mais apropriadas, usando argumentos para influenciar os comportamentos dos “ouvintes” e alcançar a mudança desejada. Como se concretiza a intenção persuasiva num sermão? Em um sermão, que é um tipo de discurso religioso, a intenção persuasiva significa que o pregador deseja convencer as pessoas a acreditar e agir de acordo com os ensinamentos da fé cristã. No sermão, o Padre António Vieira usa várias estratégias para parecer confiável e interessante para o publico. Algumas das estratégias que o Padre António Vieira usou no seu sermão:  Citar textos da Bíblia, muitas vezes em latim, para mostrar que as sua ideias estão de acordo com a religião.  Contar histórias sobre pessoas santas, especialmente de Santo Antonio e, figuras importantes da igreja para dar exemplos de como as pessoas se devem comportar  Usar a descrição dos peixes como uma maneira de falar sobre como as pessoas se comportam mal e por que precisam mudar  Usar provérbios e ditados populares para tornar as suas ideias mais fáceis de entender  Fazer referência a histórias e personagens da mitologia antiga para enriquecer o discurso  Contar sobre a sua própria vida para criar uma relação pessoal com o público  Utilização de recursos expressivos como a Alegoria, apostrofe, interrogação, retorica, enumeração De que modo as estratégias de persuasão de Padre António Vieira se articulam com as características da oratória? As estratégias de persuasão de Padre António Vieira estão ligadas às características da oratória que é a habilidade de falar de maneira convincente e cativante. A oratória procura influenciar, convencer e envolver o público e as estratégias de persuasão utilizadas por Padre António Vieira são projetadas para alcançar esses objetivos. Essas estratégias têm como objetivo atrair a atenção do auditório – detectare - , transmitir ensinamentos morais e religiosos – docere – motivar a mudança de comportamentos das pessoas – movere.
  • 5. 5 B - EXEMPLARIDADE Que exemplo existe entre os exemplos dos peixes, a intenção persuasiva e a exemplaridade? No sermão há um exemplo que mostra como os peixes, a intenção persuasiva e a exemplaridade se relacionam. Esse exemplo envolve a comparação entre os peixes e o Santo António em relação ao comportamento. Exemplaridade: os peixes que são elogiados e comparados com o Santo António são usados como modelos de comportamento. Eles nos mostram como devemos agir corretamente. Intenção persuasiva: os peixes que se comportam mal são criticados e comparados com o Santo António para nos mostrar o que as pessoas não devem fazer. Ele nos lembra de evitar comportamento errados Como se manifesta a exemplaridade no sermão de Santo António (os peixes)? O orador deve ser uma figura exemplar, alguém que segue os princípios cristãos, e Padre António Vieira reúne essas condições, procurando exercer a sua função de “sal” e cativar o auditório de forma inspiradora. Mas tanto Santo António em Arimino como Padre António Vieira no Maranhão enfrentam desafios na sua missão evangelizadora, devido à resistência daqueles que tentam influenciar simbolizada pela expressão “a terra não se deixa salgar” Que exemplo Padre António Vieira vai seguir para combater a corrupção na terra? Padre António Vieira decide combater a corrupção na terra seguindo o exemplo de Santo António, Isto acontece logo no início do sermão - Exórdio - , quando diz que tem intenção de mudar de público e pregar aos peixes Qual é a importância de Santo António, neste contexto? Santo António desempenha um papel crucial, pois ele serve como um exemplo de comportamento humano. Ao longo do Sermão, Padre António Vieira identifica-se com ele pela sua virtude e em ações. Santo António é um modelo a seguir pelos homens do seu tempo.
  • 6. 6 4 – Resumos da obra por capítulos: Estrutura do Sermão: -Estrutura Externa: 6 capítulos. -Estrutura Interna -» partes do sermão: 1. Exórdio Capitulo I (Introdução) – Apresentação do tema e louvor a Santo António Neste capítulo conhecido por Exórdio, Padre António Vieira apresenta o tema do sermão iniciando-se com o conceito predicável: “Vós sois o sal da Terra” (Vós sois o sal da terra). Ele faz uma semelhança com Santo António, a partir disso, criticar a corrupção na terra. Padre António Vieira aponta várias razões para essa corrupção e conclui que as pessoas não estão interessadas na verdadeira doutrina. Uma vez que a sua pregação não está a ter o efeito desejado, ele decide deixar de pregar aos homens e imitar Santo António: pregar aos peixes. 2. Exposição e Confirmação Capítulo II (Desenvolvimento) – Louvor das virtudes dos peixes em geral No segundo capítulo, conhecido como Exposição, Padre António Vieira destaca as virtudes dos peixes como uma Alegoria, onde os peixes são frequentemente usados como metáfora dos índios e colonos. O seu objetivo é elogiar as virtudes dos peixes como forma de repreender os vícios dos homens. Inicialmente Padre António Vieira destaca as virtudes dos peixes, depois aponta-lhes os defeitos, de modo a tentar corrigi-los. Padre António Vieira elogia as virtudes dos peixes, como a obediência, o respeito, a ordem com que os peixes ouvem a pregação. Padre António Vieira faz referência a essas características positivas dos peixes, para mostrar a diferença entre o comportamento dos peixes e dos homens. Capítulo III (Desenvolvimento) – Louvor das virtudes dos peixes em particular Padre António Vieira continua a elogiar aos peixes, mas de forma individualizada, particular. Ele menciona quatro tipos de peixes para comprovar a relação entre o homem e o divino: O santo Peixe de Tobias: este peixe é destacado por ter em suas entranhas em fel que cura da cegueira e um coração que expulsa os demónios. Ele simboliza as virtudes interiores, a bondade e o poder purificador da palavra de Deus.
  • 7. 7 A rémora: apesar do seu tamanho pequeno, a remóra é elogiada por sua força e poder. Ela é usada como símbolo da força e do poder da palavra dos pregadores. Padre António Vieira compara a língua de Santo António era uma rémora na terra, destacando a sua força para dominar as paixões humanas, como a soberba, a vingança, a cobiça e a sensualidade, que são referidas como as “quatro naus” no sermão. O torpedo: este peixe é conhecido por gerar descargas elétricas que podem fazer oscilar o barco do pescador. O Torpedo expressa o poder da palavra de Deus, em provocar arrependimento nas pessoas. O quatro-olhos: este peixe tem dois pares de olhos, um par voltado para cima e outro para baixo. Essas características simboliza a visão espiritual e a iluminação: Padre António Vieira destaca o dever do cristão de tirar os olhos da vaidade terrena, olhando para o céu, sem esquecer o inferno, o castigo divino. Capítulo IV (Desenvolvimento) – repreensão dos vícios dos peixes em geral Neste capítulo, Padre Antonio Vieira repreende os peixes em geral, usando a antropofagia social como metáfora para criticar o comportamento humano. Ele condena a ideia de que os homens se prejudiquem, onde os poderosos exploram e se alimentam dos mais fracos. em benefício próprio. Para alem disso, Padre Antonio Vieira denuncia a vaidade e a cegueira como causa da corrupção social e da falta de interesse humano pela palavra de Deus. Capítulo V (Desenvolvimento) – repreensão dos vícios dos peixes em particular Neste capítulo, o Padre Antonio Vieira repreende quatro-peixes, que simbolizam os pecados ou vícios humanos. O rancor: Um peixe pequeno emite um som grave é facilmente pescado. Representa a arrogância e o orgulho, semelhante às figuras S. Pedro, Golias, Califas e Pilatos. Ao contrário, temos Santo Antonio que tinha conhecimento e poder, mas não era arrogante. O pegador: Este peixe fixa-se em peixes grandes ou ao leme dos navios. Representa o oportunismo, a bajulação, vive na dependência dos grandes e morre com eles, como são exemplo os seguidos de Herodes. Ao contrário, Santo António pegou-se apenas a Cristo e seguiu a sua doutrina. O voador: Um peixe de grandes barbatanas que salta para fora de água como se voasse. Representa a vaidade e a ambição, pois não está satisfeito com o seu ambiente natural, o voador, à semelhança de Simão Mago e Ícaro entre os homens, encontra o seu castigo. Ao contrário, Santo António tinha sabedoria e poder, mas não se vangloriou. O polvo: Apesar do seu aspeto inofensivo, o polvo pode camuflar-se e é considerado um hipócrita e traidor, já que utiliza a sua capacidade de se transfigurar para atacar os peixes desprevenidos, assim como fez Judas a Cristo.
  • 8. 8 Ao contrário, Santo António foi sincero e verdadeiro, nunca enganou. 3. Peroração ou Epílogo Capítulo VI (Conclusão) – Exortação final e louvor a Deus Na Peroração ou Epílogo, o Padre Antonio Vieira usa um tom forte para impressionar o seu público e incentivá-lo a colocar em prática os conselhos que deu ao longo do sermão. Por fim, o Padre Antonio Vieira revela uma sensação de inveja em relação aos peixes, pois ele considera que ofendeu a Deus e não alcançou o propósito para o qual foi criado, enquanto os peixes merecem louvor por não ofenderem a Deus e por cumprir o propósito da sua criação. 5 – Análise da Obra, capítulo por capítulo:  EXÓRDIO Capítulo I - Análise Padre António Vieira, inicia o Sermão com a expressão Bíblica “Vos estis sal terrae”, o conceito predicável O que é o conceito predicável? O conceito predicável é uma frase de um texto sagrado que serve de tema para o sermão. O pregador desenvolve esse tema usando alegorias e metáforas para passar verdades morais e inspirar a fé a quem ouve. O que representa no Sermão, o conceito predicável “Vos estis sal terrae”? A frase foi dita por Cristo Vos -» Vós (os pregadores) Estis -» sois sal -» o sal terrae-» da terra (dos ouvintes) O que simboliza o Sal? O “Sal” é uma metáfora que representa os ensinamentos religiosos e morais que os pregadores devem partilhar para manter as pessoas honestas, prevenir a corrupção e os maus comportamentos. Os pregadores têm a importância tarefa de ajudar a salvar as pessoas, guiando- as no caminho da virtude: é ele o responsável pela salvação das pessoas, mantendo-as virtuosas.
  • 9. 9 Mas, Padre António Vieira diz que apesar de haver muitos pregadores com a função de “Sal”, a terra está corrupta. De quem é a culpa da corrupção? Do pregador? Do Sal? Da terra? A corrupção não é atribuída diretamente ao “sal” (que representa os ensinamentos religiosos e morais), nem à terra. A responsabilidade é compartilhada entre os pregadores e os ouvintes, porque: Os pregadores não cumprem a função de “sal” (manter as pessoas honestas e prevenir a corrupção e os maus comportamentos) e os ouvintes falta-lhes a devoção. Esquema ilustrativo da causa da corrupção Qual é o objetivo da narrativa que o orador introduz? O objetivo do orador é chamar a atenção do ouvinte e fazê-lo nas suas palavras verdadeiras. Para isso, relata um acontecimento da vida de Santo António, homenageando-o no dia em que se festeja o dia do seu nascimento, 13 de junho de 1654. Por esse motivo, este texto se chama Sermão de Santo António. Que acontecimentos da vida de Santo António é destacado por Padre António Vieira? Padre Antonio Vieira conta que um dia, Santo António, pregava aos habitantes de Arimino, em Itália, mas eles perseguiam-no e quase o mataram, porque não o queriam ouvir. Que resolução tomou Santo António quando foi perseguido? “Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?” Nenhum das opções foi tomada por Santo António. Segundo a lenda, deixou os homens e foi pregar aos peixes, para junto do mar.
  • 10. 10 Porque é que Padre António Vieira segue o exemplo de Santo António? A terra está corrupta e o pregador tem dificuldade em divulgar a verdadeira doutrina (ensinamentos de Cristo), que considera “Muito clara, muito sólida, muito verdadeira.”, e embora o faça com vontade, “de manhã e de tarde, de dia e de noite”, continua sem colher “frutos”. Assim, o efeito do seu esforço de promover e transmitir as crenças religiosas é igual à de Santo António. Qual é a intenção de Padre António Vieira a recorrer a Santo António? Padre António Vieira prepara um sermão para os colonos do Maranhão, homens corruptos que não o querem ouvir, que exploram os escravos e os índios. Por isso, à semelhança de Santo António, pretende-se voltar-se “da terra ao mar” já que os homens não o querem escutar, decide pregar aos peixes. Depois pede a Maria, a “senhora do Mar” para uma oração “Ave Maria”. Qual é o objetivo de Padre António Vieira para invocar Maria? Padre António Vieira invoca Maria para obter a graça divina e a bênção para apresentar o seu Sermão e ser ouvido pelos homens.  EXPOSIÇÃO E CONFIRMAÇÃO Capítulo II – Análise | Louvores em geral Padre António Vieira inicia a Exposição, com uma pergunta “Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?”. É visível o desconsolo do pregador. Qual é a causa do desapontamento do pregador? Padre António Vieira lamenta o facto de que os ouvintes do seu sermão “serem gente os peixes que se não há de converter”, ou seja, os peixes. Ele expressa o seu desgosto porque ao contrário dos humanos, os peixes não podem converter à fé. Isto cria uma situação irónica, já que o pregador está acostumado a falar para seres humanos que têm a capacidade de escolher entre o certo e o errado, enquanto os peixes não têm essa capacidade. Para desenvolver as suas ideias, o orador, retomando o tema apresentado no Exórdio, indica as duas propriedade do “sal”:
  • 11. 11 Se o sal tem estas duas propriedades, o Sermão irá prová-las e para que haja clareza, Padre António Vieira divide o discurso argumentativo em duas partes: Como se classifica o discurso em que o orador dirige aos peixes, mas pretende atingir os homens? O discurso em que o orador se dirige aos peixes, mas que quer atingir os homens é classificado como discurso alegórico. Neste caso o Padre António Vieira compara as características dos peixes aos colonos do Maranhão. Padre António Vieira descreve as virtudes dos peixes, como uma maneira de elogiar comportamentos dignos de admiração dos homens, reveladores de humildade e simplicidade. Por outro lado quando critica aos peixes de forma negativa está fazendo uma referência aos colonos que praticavam atos imorais, e demonstravam vícios. Em conclusão, com o discurso aos peixes, Padre António Vieira pretende alcançar os homens. Padre António Vieira, prossegue o seu discurso, dando início aos louvores em geral, para tal enumera algumas virtudes dos peixes. As qualidades e virtudes dos peixes:  Foram os primeiros seres que Deus criou - “as primeiras criaturas que deus criou”, “primeiro que as aves do ar (…) que aos animais da terra, e a vós primeiro que ao homem”;  São sensatos e prudentes - “Não condeno, antes louvo muito aos peixes este seu retiro, e me parece que, se não fora natureza, era grande prudência.  São os mais numerosos e os maiores - “entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os peixes os maiores”  São bons ouvintes e obedientes - “é aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor”  São livres e não se deixam dominar -” só eles entre todos os animais, se não domam nem domesticam”
  • 12. 12 Como é que Padre António Vieira torna o seu discurso mais credível? Padre António Vieira torna o seu discurso mais credível através de argumentos: 1.º argumento – Relata a passagem da vida de Santo António em que os peixes, com obediência, se aproximaram para ouvir a palavra de Deus pela boca de Santo António “boca de seu servo António”. 2.º argumento – Usa o exemplo de Jonas, um pregador que quando enfrentou uma tempestade num barco, foi jogado ao mar para ser comido pelos peixes “os homens lançaram-no ao mar a ser comido aos peixes”. No entanto, uma baleia engoliu-o, manteve-o vivo e o levou-o à praia salvando-o. 3.º argumento – Recorre a um argumento de autoridade: Aristóteles. Segundo ele entre todos os animais, apenas os peixes não podem ser domesticados ou controlados pelos humanos “se não domam nem domesticam”. Padre António Vieira comprova que os peixes vivem em liberdade porque vivem afastados dos homens. 4.º argumento – Faz referencia ao dilúvio bíblico que cobriu o mundo “o que cobriu e alagou o mundo”, afirmando que os peixes não apenas sobreviveram, mas também cresceram, uma vez que a terra e o mar se tornam num só “não só escaparam todos, mas ficaram muito mais largos que dantes, porque a terra e o mar tudo era mar”. O que pretende Padre António Vieira com os louvores aos peixes? Padre António Vieira elogia as virtudes dos peixes por que condena o comportamento dos homens a quem faltam valores morais. Que defeitos aponta Padre António Vieira aos homens? A vaidade - “mas isto é lá para os homens, que se deixam levar destas vaidades” A desumanidade – “os homens lançam ao mar os ministros da salvação” A obstinação – “os homens tão furiosos e obstinados” A insolência – “ os homens perseguindo a António, querendo-o lançar da terra e ainda do mundo, se pudessem” O que entende por peixes e homens neste contexto? Peixes -» homens bons, virtuosos Homens -» homens maus, viciosos Que motivo levou o orador a terminar o capítulo II com nova referência a Santo António? O motivo que levou o orador a terminar o capítulo II com uma nova referencia a Santo António é evidenciar que os peixes devem afastar-se dos homens, viver em paz e evitar os vícios humanos. Ele usa Santo António como exemplo de alguém que estava mais próximo de Deus quando se afastava das imperfeições humanas, incentivando os peixes a seguirem o mesmo caminho espiritual “tanto mais unido com Deus, quanto mais apartado dos homens”
  • 13. 13 O que torna a referência a Santo António tão convincente? A referência a Santo António é convincente porque Padre António Vieira descreve as várias etapas da vida do Santo: Santo António deixou a casa de seu pais, entra num mosteiro e mais tarde tornou-se franciscano, tudo com o objetivo de “fugir e se esconder dos homens”, evitando a maldade humana em busca de uma vida mais próxima a Deus. Capítulo III – Análise | Louvores em particular Padre António Vieira prossegue o seu discurso, realçando as virtudes dos peixes, de modo particular, ou seja, menciona apenas quatro peixes: O SANTO PEIXE DE TOBIAS, A RÉMORA, O TORPEDO e O QUATRO-OLHOS. 1 - O SANTO PEIXE DE TOBIAS: simboliza a bondade e o poder purificador da palavra de Deus. O seu fel curar a cegueira e o seu coração, expulsa os demónios. Que importância adquire a alusão ao episodio bíblico? A alusão ao episodio bíblico destaca a capacidade de O SANTO PEIXE DE TOBIAS de curar a cegueira e expulsar os demónios, sendo um poderoso símbolo da palavra de Deus. Padre António Vieira usa a história de O SANTO PEIXE DE TOBIAS para destacar como os ensinamentos de Santo António tem o poder de libertar as pessoas do mal, da ignorância e dos vícios, transformando positivamente as suas vidas. Nesse sentido pode fazer-se uma analogia: Mar: O santo Peixe de Tobias -» As entranhas -» O poder curativo Terra: Santo António -» A palavra -» O poder purificador Que conclusão retira Padre António Vieira da analogia ou do paralelismo entre o mar e a terra? Padre António Vieira conclui que existe uma grande diferença: enquanto o “peixe” abria a boca (pregava) para aqueles que tentavam purificar-se, Santo António abria a sua boa (pregava) contra aqueles que não se queriam purificar, Que valor adquire o verbo lavar, neste contexto? Lavar: Sentido denotativo – limpar, assear, tirar a sujidade Sentido conotativo – purificar, corrigir, reabilitar Neste sermão, Padre António Vieira utiliza a palavra “lavar” de duas maneiras. A primeira se refere à limpeza física, como lavar e a segunda é quando fala de purificar a alma e corrigir os erros. O que simboliza as entranhas do santo Peixe de Tobias?  A solução para a cegueira, para os pecados e para a ignorância  O poder purificardor da palavra, que liberta o homem da sua vaidade e da sua maldade
  • 14. 14 2 - A RÉMORA: é um peixe de pequeno tamanho, mas de grande força e poder. Por isso quando se prende a um navio, tem a capacidade para o segurar ou fazê-lo mudar de rumo: Como se prova o poder da Rémora? “não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma nau da Índia, apesar das velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas ancoras, sem se poder mover, nem ir por diante”. Que valor simbólico adquire a Rémora? A rémola simboliza a força da palavra dos pregadores e a sua determinação. Que pessoa tem na terra o mesmo poder da Rémora? Na terra aquele que tem o poder da rémola é o Santo António. Embora fosse pequeno, humilde e simples, ele tinha o poder de controlar as fortes paixões humanas “como a soberba, a vingança, a cobiça e a luxuria (sensualidade). Ele era capaz de influenciar as pessoas, assim como a rémora tinha a força de deter um navio ou mudar o seu rumo, apesar do seu tamanho. 3- O TORPEDO: Padre António Vieira apresenta um peixinho que vive em retiro, afastado do homem. Este peixe tem uma habilidade de produzir choques elétricos, causando tremores no barco do pescador. Essa característica é usada como uma metáfora para o poder da palavra de Deus. Assim como o Torpedo surpreende o pescador com os seus choques, a palavra de Deus pode surpreender as pessoas, fazendo-as refletir sobre as suas ações e se arrependerem dos seus pecados. Como se confirma esta característica de Torpedo? Padre António Vieira confirma a qualidade tremente usando uma alegoria. Ele descreve a situação em que o pescador está segurando a cana na mão, o anzol na água, esperando pacientemente. Quando o Torpedo pica a isca, o sente o seu braço tremer. Essa alegoria simboliza como a palavra de Deus tem o poder de impactar as pessoas, fazendo com que eles reflitam. O pregador estabelece novamente uma comparação entre o mar e a terra. Que conclusão devemos retirar? Na comparação entre o mar e a terra, Padre António Vieira conclui que na terra apesar de haver muitos meios para pregar, os resultados são poucos. Ele mostra a sua desilusão pelo facto de os homens não serem tocados pela palavra divina da mesma forma que os peixes são para Torpedo. Padre António Vieira lamenta porque muitas pessoas não estão respondendo à sua mensagem. Ele sente que apesar dos seus esforços as pessoas não estão convertendo-se à fé como ele gostaria. De que modo Padre António Vieira confirma que Santo António conseguiu fazer tremer os homens?
  • 15. 15 Padre António Vieira confirma que Santo António conseguiu fazer os homens tremerem através de um episodio da sua vida. Vinte e dois pescadores ouviram a pregação de Santo António e ficaram tão impactados com as sua palavras que todos eles começaram a tremer, devolveram o que haviam roubado e mudaram sua vidas. Esta história mostra como Santo António teve sucesso em fazer os homens tremerem, assim como Torpedo que simboliza a palavra de Deus e tem a qualidade de fazer as pessoas pensarem. Qual é o significado do verbo tremer, neste contexto? Tremer significa que as palavras de Santo António causaram uma forte emoção nos ouvintes, levando-os a mudar suas vidas e se converterem 4 - O QUATRO-OLHOS: é um peixe que Padre António Vieira usa para representar a prudência que os cristãos devem ter. Este peixe tem quatro olhos, dois olhos que olham para cima - vigiam os predadores do ar) e os outros dois para baixo - vigiam os predadores do mar, defendendo-se assim de diversos tipos de males. Os homens esquecem-se que há Céu (em cima) e Inferno (em baixo). Que características físicas apresenta quatro-olhos? O peixe tem quatro olhos, “em tudo cabais e perfeitos”, sendo que “os da parte superior olham diretamente para cima, e os da parte inferior diretamente para baixo” Como se justifica a admiração do pregador por este peixe? A admiração do pregador pelo quatro-olhos é devido às características única deste peixe, que possui quatro olho, dois para cima e dois para baixo, tendo assim uma visão ampla. Esta caraterística destaca a prudência e vigilância, quando comparada a outros animais com apenas dois olhos, como as águias e os linces. A admiração também destaca a importância da atenção espiritual devido à cegueira de muitas pessoas na terra “em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos”. Porque motivo estes peixes têm quatro olhos? O peixe quatro-olhos, têm quatro olhos porque vivem na superfície da água e enfrentam riscos duplos. Dois dos olhos permitem-lhes vigiar as aves que voam acima, enquanto os outros dois olhos permitem que vigiem os peixes que nadam abaixo. O orador usa essa observação para argumentar que da mesma forma que o quatro-olhos ao vigia o céu e o mar, os homens deveriam ter mais atenção nos valores humanos, em vez de especto materiais Quais são as estratégias usadas por Padre António Vieira para convencer os ouvintes a serem vigilantes como este peixe?
  • 16. 16 Padre António Vieira convence os ouvintes a serem vigilantes usando o peixe com quatro olhos como símbolo dos deveres cristãos, e ensina que com fé e razão e para baixo lembrando do inferno. O capítulo termina com mais louvores aos peixes:  São eles que alimentam as Cartuxas e os Buçacos (ordens religiosas), e “todas as santas famílias, que que professam mais rigorosa austeridade”  São eles que ajudam os cristãos “ a levar a penitencia das Quaresma”  Foram os animais escolhidos por Cristo para festejar “a sua Páscoa, as duas vezes que comeu com Seus discípulos depois de ressuscitado”  São o alimento e os “companheiros de jejum e da abstinência dos justos”  São o alimento que pode ser comido todos os dias da semana  Tem um caracter sagrado, por viverem na água “cuja fecundidade entre todos é própria do Espirito Santo” Na exortação final, Padre António Vieira, tem como base a atitude de Deus, que convocou os peixes a se multiplicarem e servirem de sustento aos pobres com a frase “cresci, peixes e multiplicai, e Deus vos confirme a sua bênção”. Esta referência bíblica também é uma critica aos desníveis sociais, pois onde há pobres há ricos, mas só os justos e verdadeiros obtêm a graça divina. Capítulo IV – Análise | Repreensões em geral Neste capítulo a repreensão aos peixes, não tem como objetivo corrigi-los, têm o intuito de perturbar o espírito humano, e influenciar o pensamento e o comportamento humano. Qual é a primeira repreensão feita pelo orador? Os peixes comem-se uns aos outros e os grandes comem os pequenos. Parece que o vicio é terrível, pois para satisfazer a gula de um peixe grande “não basta 100 pequenos ou mil” A que estratégia retorica recorre o orador para comparar atitude que critica nos peixes com o comportamento humano? Padre António Vieira utiliza a estratégia retórica da comparação para associar o comportamento dos peixes, como o canibalismo e a ingenuidade, com as ações dos homens. Ele recorre às palavras de Santo Agostinho para evidenciar a “fealdade deste escândalo”, e compara as más cobiças humanas à tendência de os peixes que se comem uns aos outros “os homens com as suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros” Qual a importância de Santo Agostinho neste passo do Sermão? Santo Agostinho tem um papel importante neste trecho do sermão, pois Padre António Vieira, cria uma semelhança entre a sua atitude e a do Santo Agostinho. As palavras e os exemplos de Santo Agostinho servem como um argumento de autoridade, comparando-o a Padre António Vieira. Enquanto Santo Agostinho, pregava aos homens e exemplificava nos peixes, Padre António Vieira inverte a situação pregando aos peixes para exemplificar “nos homens”.
  • 17. 17 Padre António Vieira incentiva os peixes a observarem o que se passa na terra, mas eles olham para o Sertão, onde vive uma tribo que pratica o canibalismo. Padre António Vieira quer que os peixes observem a “cidade”, que ele considera um “açougue”, onde “muitos mais se comem os brancos”, denunciando assim a antropofagia social: os homens aproveitam-se e vivem à custa uns dos outros. Para tomar o discurso mais convincente Padre António Vieira mostra o que acontece quando alguém morrer e seus familiares querem logo se apropriar da sua herança, usando o verbo “comer” para representar a ideia de aproveitar, enganar, e roubar, ”despedaça-lo e comê-lo”; “comem- no os herdeiros”, comem-no os testamentos”, comem-no os credores”. Padre António Vieira ilustra na sua tese com mais um exemplo, com relação entre os corvos e os homens, destacando a crueldade dos homens ao compará-los aos corvos, que os corvos só comem o enforcado depois de executado. Que sentimentos de evidencia o pregador, face à antropofagia social que denuncia? O pregador, Padre António Vieira evidencia sentimentos de indignação pela maldade dos homens quando refere que os grandes comem os pequenos, como parte da sua dieta diária “comer de todos os dias”. Padre António Vieira acredita que estas ações não ficarão sem serem castigados, e por isso avisa os peixes para considerarem as palavras de Santo Ambrósio que alerta que o peixe que caça os mais fracos para se alimentar pode acabar sendo devorado pelos mais fortes “guarde-se o peixe que persegue o mais fraco para comer, não se ache na boca do mais forte, que o engula a ele”. Alem disso ele refere Santo Agostinho para encorajar os ouvintes a controlar os seus desejos e pecados relacionados com a “gula”, dizendo que voracidade dos grandes resulta em castigo divino. Que ultimo conselho é ainda dirigido aos peixes e em que se fundamenta? O último conselho dirigido aos peixes é que sejam mais preocupados com o bem comum do que com os seus desejos individuais. Isto significa que eles devem ser menos egoístas e mais desinteressados. O objetivo é reduzir os perigos que enfrentam, pois, têm muitos inimigos de dia e de noite, sugerindo que vivam tranquilos, pacíficos e com amigos “muito quietos, muito pacíficos e muito amigos”. Padre António Vieira, utiliza como exemplo relembrando o dilúvio e a Arca de Noé: os animais evitavam comer-se uns aos outros por uma questão de sobrevivência. Qual é a segunda repreensão feita pelo orador, aos peixes? O capitulo termina com mais um reprensão aos peixes: ignorância e cegueira, que os faz serem pescados e perderem a vida Se os peixes caem tão facilmente no engodo, o que acontecerá aos homens? Os homens enganam e deixam-se enganar-se facilmente. Padre António Vieira comprova a sua teoria com uma critica às ordens religiosas de Malta, Avis, de Cristo e Santiago, que recrutam pessoas para lutar pela fé cristã, levando-as à morte. Isto não faz parte da essência de uma ordem religiosa, que tem o dever de ensinar e transmitir os valores de Deus Como descreve Padre António Vieira o comportamento dos que se deixam iludir pela aparência?
  • 18. 18 Padre António Vieira leva os ouvintes a visualizarem uma situação real: vem um mercador a Portugal para o Maranhão, com uns “retalhos de pano” fora de moda, dá uns retoques na mercadoria e coloca-a à venda por um preço mito superior ao seu valor “os bonitos, ou os que o querem parecer, todos enfaimados”, compram o que querem, gastam o dinheiro que têm e endividam-se, por vaidade. A prática de consumismo e da exploração é motivo de indignação, pois o dinheiro que dela resulta não se destina a quem investiu a sua vida de trabalho. Padre António Vieira refere que os peixes não necessitam de se perder, como os homens, pelos panos, pois Deus os vestiu com escamas brilhantes e vistosas “Quem Deus vestiu do pé até à cabeça”, melhor será seguir o exemplo de Santo António que nunca se deixou iludir pelas vaidades do mundo, que trocou a riqueza pela simplicidade. Assim, Santo António conseguiu- converter muitos homens que ouviram as suas palavras. Capítulo V – Análise | Repreensões em particular Neste momento da obra Padre António Vieira, concentra-se nas repreensões aos peixes em particular, mostrando o que tem contra alguns deles. Espécies a serem criticadas: OS RONCADORES, OS PEGADORES, OS VOADORES E O POLVO: OS RONCADORES: Simbolizam a arrogância, a soberba, a vaidade “peixinhos pequeninos”, mas emitem um som forte que os fez ser as “ as roncas do mar” Qual é a expressividade, neste contexto “as roncas do mar”, do verbo roncar? No contexto, o verbo “roncar”, é usado por Padre António Vieira para criticar aqueles que se orgulham das suas ações, agindo de maneira espalhafatosa, ostentando e se gabando. E diz que agir assim pode resultar num grande castigo, por desagradar a Deus, que tem particular cuidado de humilhar aqueles que muito “roncam”. Vieira usa um proverbio “Quem tem muita escapa tem pouca língua” para criticar que se ostentam demasiado. Que exemplo apresenta Padre António Vieira para ilustrar o sentido do proverbio “Quem tem muita escapa tem pouca língua”? O orador defende dois exemplos: Primeiro exemplo: Pedro, discípulo de Cristo, gabava-se da sua bravura e da firmeza da sua fé cristã, que nunca havia de enfraquecer, mas bastou uma mulher falar para o fazer tremer e negar a Cristo ou Pedro estava de vigia a Cristo no horto mas adormeceu. Conclusão “o muito rancor antes da ocasião é sinal de dormir nela segundo exemplo: O gigante Golias que era a vaidade dos Flisteus, esteve quarenta dias no campo, a desafiar todos os exércitos de Israel. Ninguém se atrevia a desafiá-lo, mas bastou um pastorzinho David para o derrotar, para dar “com ele em terra”. Conclusão: “ os arrogantes e soberbos tornam-se com Deus, e quem se toma com Deus, sempre fica debaixo” OS PEGADORES: são peixes pequenos que vivem à custa dos maiores, são oportunistas.
  • 19. 19 Que tipo humano representa o peixe pegador? O peixe pegador representa o parasita que vive na dependência dos grandes e com eles morre. Para provar a verdade desta tese Padre António Vieira recorre a dois exemplos: 1 exemplo – Estes peixes são tão ignorantes e ambiciosos que chegam ao ponto de se deixar morrer se os maiores são abatidos. Por exemplo, se o tubarão é pescado, os pregadores que o seguem também morrem com ele. 2 exemplo – Vieira menciona o desejo de Herodes e sua corte em tirar a vida de Cristo Menino, procurando a destruição de todos que dependiam da sua fortuna. Isto mostra coma a atitude de um grande pode causar a queda de todos os dependentes dele. Como convencer o orador os “peixinhos ignorantes e miseráveis” a refletir sobre “este modo de vida”? Vieira incentiva os “peixinhos ignorantes e miseráveis” a refletirem sobre “este modo de vida” ao apontar o exemplo de Santo António. Ele diz que Santo António está intimamente ligado a Cristo, sugerindo que Cristo se tona “pequenino” para se unir a Santo António. Qual é a relevância de comparação de Cristo e Santo António”? Assumido que o pegador se pega sempre ao maior, então Santo António pegou-se a Cristo. Mas se Cristo se pega a Santo António, o maior passa a ser o Santo António, já que “António também se fez menor, para se pegar mais a Deus” Que valor metafórico adquire a “famosa árvore” que é referida na “Escritura”? A “árvore” era o abrigo para todas as aves e animais terrestres e representa o que é “grande”. Mais uma vez com referência à “árvore” Padre António Vieira incentiva os peixes a viverem junto dos grandes, mas não tão apegados que morrem por eles e com eles. Que exemplo final é mencionado para mais um apelo aos pegadores? O pegador faz referência ao episodio bíblico de Adão e Eva. Ele compara os homens, que nascem condenados pelos pecados de outros, mas ainda podem ser salvos com o batismo, contrariamente aos peixes pegadores. Porquê? Os pegadores são condenados devido à ignorância que demonstram em sua vida de parasita “nem com toda a água do mar que os banha podem ser salvos” Vieira termina referindo que viver à custa de outros, nunca se poderá salvar “Eis aqui, peixinhos ignorantes e miseráveis, quão errado é enganoso é este modo de vida que escolhestes”
  • 20. 20 OS VOADORES: são ambiciosos Estes peixes criados por Deus para serem peixes, como têm barbatanas maiores, querem imitar as aves. Esta ambição de se quererem transformar naquilo que não são, só lhes traz sofrimento. No mar morrem por serem enganados pelo isco, e no ar morrem quando as velas, cordas e laços dos barcos se transformam em redes e os apanham “no mar morrem enganados pelo isco, e no ar morrem porque as velas, as cordas e os laços dos barcos se transformam em redes, apanhando- os. “ Padre António Vieira aconselha os homens a se contentar com aquilo que são, porque “Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem”. Ele usa Santo António como exemplo de alguém que sempre fugiu da ambição, reconhecendo que as mesmas asas que o faziam subir também o poderiam fazer descer, levando-o à destruição. Santo António preferiu a humildade “Não estendeu nas asas para subir, encolheu-as para descer”. Tal como Santo António, também os voadores deverão humildemente recolher-se às covas do mar, onde não estarão expostos à insegurança e à morte. O POLVO: O triador Quais são as características e aparência do polvo? O polvo parece um monge com capuz na cabeça e raios estendidos, dando-lhe a aparência de uma estrela “com aquele seu capelo na cabeça(…) com aqueles eus raios estendidos”, é notado pela sua falta de ossos e espinhas, “não ter ossos nem espinhos” o que sugere uma mistura de bravura Em que consiste a traição do polvo? O polvo muda de cor, muda conforme as circunstâncias para facilmente caçar a sua presa Com quem se pode comparar o polvo, na terra? O polvo é comparado com Judas na terra, mas com uma diferença, enquanto Judas teve a cumplicidade de outros para trair Cristo, o polvo age sozinho, para colocar em prática os seus planos traiçoeiros. Vieira expressa a sua repugnância pelo polvo, pois este peixe é traiçoeiro, hipócrita e cheio de maldade Como se entende a critica social através do polvo? Padre António Vieira, refere que tal como o mar, na terra também há falsidades, enganos, fingimentos, ciladas e traições. Deste modo o objetivo de Vieira é condenar os colonos do Maranhão que enganaram e traem os índios de diferentes maneiras Quem se afira à antítese do polvo? A antítese do polvo é representada por Santo António, que é descrito como “o mais o puro exemplar”, sem fingimento ou engano. Padre António Vieira diz que as virtudes de Santo António, no passado, eram facilmente encontradas em qualquer homem português e não era necessário
  • 21. 21 ser Santo para possuir essas virtudes “não era necessário ser santo”. Santo António é apresentado como um exemplo de virtude e honestidade em comparação com a traiçoeira natureza do polvo. Em que consiste a advertência final neste capítulo? A advertência final deste capítulo consiste na condenação daqueles que se aproveitam dos bens dos naufragantes, considerando-os excomungados e malditos “ todos os que se aproveitam dos bens dos naufragantes, fiam excomungados e malditos”. Vieira diz que estas pessoas merecem castigo e vão definhar (secar) até encontrar uma morte miserável “definhar, até que acabam miseravelmente”. Porém ele diz que ainda existe uma possibilidade para a absolvição dos pecados, que será conseguida através da restituição dos direitos das vítimas. É clara a ilusão à realidade social em que os indígenas vivem, pois são eles quem sofrem com a tirania, a vaidade e a sede de poder dos colonos. No final do capítulo, Padre António Vieira sente a desilusão com a humanidade, pois afirma com ironia que as sua palavras sábias e verdadeiras não fossem dirigidas aos peixes, os homens poderiam ter colhido benefícios delas. No entanto, Vieira reconhece que a sua missão de profeta não é conseguida, pois os homens não se querem emendar e por isso vivem em pecado mortal.  PERORAÇÃO Capítulo VI – Análise Neste momento do sermão Padre António Vieira destaca que os peixes não são sacrificados a Deus porque não podem viver fora de água e chegariam mortos ao altar. Ele compara essa situação com a dos homens, que devido aos seus pecados também podem ser considerados mortos quando chegam ao altar. Vieira sugere que, neste contexto, os peixes estão em melhor situação que os homens, pois é preferível não chegar ao altar do que chegar a um estado de morte, devido aos pecados De que forma a constatação de Vieira denota uma critica aos homens? Através da analogia, - o orador afirma, assim como os peixes chegariam mortos ao altar se fossem sacrificados a Deus, também as almas de muitos homens se apresentam nas igrejas, porque estão em pecado Como se carateriza o orador Padre António Vieira, neste momento da obra? Vieira declarasse indigno de servir Deus e espalhar a sua palavra, uma vez que ao contrário dos peixes ele pode ofender a Deus com a razão, com as sua palavras com a sua memoria, com a sua inteligência e com a sua vontade. Já que os peixes são superiores aos homens, o orador propõe-lhes que agradeçam o que são a Deus , fonte de toda a perfeição. Evidencia-se um fecho forte e emotivo de modo a sensibilizar o auditório e levá-lo a pôr em prática os conselhos recebidos. Que estratégias discursivas são utilizadas no apelo final? A antítese – “Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos” A construção anafórica e enumeração – “Louvai a Deus, que (…) Louvai a Deus que” O modo imperativo – Louvai (…), louvai”
  • 22. 22 6 – Critica social e alegoria: Padre António Vieira não ficou indiferente à triste e dura realidade dos indígenas em S. Luís do Maranhão, em 1654. Como jesuíta e missionário, a sua tarefa evangelizadora levou-o até ao Brasil, até Sertão, onde comprovou a escravatura a que os indígenas estavam sujeitos. É em S. Luís do Maranhão que Vieira prega o sermão de Santo António (aos peixes), no dia 13 de junho, dia do nascimento de Santo António, imagem que é exemplo a seguir e a contrapor aos vícios peixes/homens. O talento de Vieira, a sua habilidade retorica e os seus dotes da oratória, contribuíram fazer uma critica aos colonos, aos “brancos” evidenciando-se a sua luta pela liberdade dos indígenas. Vieira apresenta no Exórdio, o tema central do Sermão, a corrupção, para depois o ampliar, demonstrar, comprovar, exemplificar na Exposição e Confirmação, provocando um tal efeito visual nos ouvintes capaz de os convencer a veracidade do seu discurso Os colonos são objeto da denuncia de Vieira. De que são acusados? Vieira acusa-os de explorarem os índios indefesos, que era mão de obra barata, para os colonos enriquecerem de forma rápida e fácil A crítica aos colonos é feita diretamente? Ao longo do Sermão, Vieira - condena indiretamente os vícios dos colonos através dos louvores aos peixes e -critica diretamente os defeitos dos homens nas repreensões aos peixes Como se confirma a estratégia de Vieira? Através da alegoria peixes/homens. Depois de se verificar que os homens não se deixam salgar ou converter, adota o exemplo de Santo António e decide pregar aos peixes. Assim,  os peixes são metáforas dos homens e dos seus comportamentos.  As virtudes dos peixes correspondem às virtudes dos homens e os  vícios dos peixes são os vícios dos homens. Em que momento são mais visíveis as críticas aos defeitos humanos? As criticas aos defeitos dos homens estão visíveis nos capítulos IV e V. Capitulo IV, Vieira faz advertências aos peixes em geral, e através dessas advertências ele representa a vida colonial e à sociedade da época, onde os grandes exploram os pequenos. Ele denuncia a crueldade e a desumanidade da vida em sociedade, encorajando os peixes a serem mais republicanos e zelosos pelo bem comum. Ele também faz referencia à vaidade e cegueira dos colonos no Maranhão. No capítulo V, repreende diferentes tipos de colonos, usando quatro peixes mencionados no sermão:  Os arrogantes e prepotentes (os roncadores)
  • 23. 23  Os parasitas ou oportunistas (os pegadores)  Os ambiciosos e vaidosos (os voadores)  Os traidores e hipócritas (o polvo) Neste capitulo, Vieira denuncia o oportunismo e a busca de benefícios económicos e sociais por parte dos homens da sua época. Incluindo aqueles que acompanham os chefes militares, em busca de vantagens. Como se confirma a realidade social no Maranhão? A realidade social no Maranhão é confirmada nas críticas do Padre António Vieira ao comportamento dos colonos portugueses. Ele destaca a exploração dos mais vulneráveis, representados pelos “peixes pegadores” que aprenderam esse modo de vida com os portugueses que exploravam as conquistas. Isso revela a exploração e opressão dos colonos sobre os nativos. Além disso, Vieira menciona a presença de falsidade e traições na terra, apontando para injustiças sociais e um comportamento impróprio dos colonos. Vieira também avisa contra o oportunismo e o benefício à custa dos outros, destacando que aqueles que se aproveitam dos bens dos naufragantes estão sujeitos à maldição. 7 - RECURSOS EXPRESSIVOS Para Vieira manter o auditório atento por muito tempo, recorre a 3 recursos expressivos: Alegoria –Vieira ao apresentar o comportamento dos homens, ao comparar com os peixes, dá a conhecer defeitos e vícios condenáveis.  “Quantos, correndo fortuna na nau Soberba (…) Quantos, embarcados na nau Vingança” (Cap. III)  “Quantos, navegando na nau Cobiça (…) Quantos, na nau Sensualidade” (Cap. III)  “Não contentes por ser peixe, quiseste ser ave” Metáfora – Vieira utiliza a metáfora como uma ferramenta para criticar os homens e os seus comportamentos  “Vos estis sal terrae”  “No mar pescam-se as canas, na terra pescam as varas (…) pescam as bengalas, pescam os bastões e até os cetros pescam” Comparação - Vieira, utiliza comparações para estabelecer relações de semelhança entre duas coisas diferentes. Ao fazer isto, ele procura tornar as suas ideias e julgamentos mais fáceis para o público entender.  “Certo que se a este peixe o vestiram de Burel e o atacaram com uma corda, pareceria um retrato marítimo de Santo António” (Cap. III)  “O que é a baleia entre os peixes, era o Gigante Golias entre os homens”  “O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge, com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela” (Cap. V)