Este documento discute a relação entre fé e moralidade na teologia cristã. Ele define teologia moral como uma reflexão sobre a moralidade dos atos humanos à luz da revelação divina e das exigências da razão. Também argumenta que a fé cristã envolve um compromisso moral de viver de acordo com os mandamentos de Deus e o exemplo de Cristo através de boas obras e testemunho.
2. TEOLOGIA MORAL
Delimitação conceitual:
“CIC 1749. A liberdade faz do homem
um sujeito moral. Quando age de
maneira deliberada, o homem é, por
assim dizer, o pai dos seus atos. Os
atos humanos, quer dizer,
livremente escolhidos em
conseqüência dum juízo de
consciência, são moralmente
qualificáveis. São bons ou maus.”
3. “Veritatis Splendor 29. A reflexão moral da
Igreja, sempre realizada à luz de Cristo, o «bom
Mestre», desenvolveu-se também na forma
específica de ciência teológica,
chamada «teologia moral», uma ciência que
acolhe e interroga a Revelação divina e, ao
mesmo tempo, responde às exigências da razão
humana. A teologia moral é uma reflexão que se
refere à «moralidade», ou seja, ao bem e ao mal
dos actos humanos e da pessoa que os realiza, e
neste sentido está aberta a todos os homens; mas
é também «teologia», enquanto reconhece o
princípio e o fim do agir moral n'Aquele que «só
é bom» e que, doando-Se ao homem em Cristo,
lhe oferece a bem-aventurança da vida divina.”
4. “VS - 88 A contraposição, mais, a radical separação entre
liberdade e verdade é consequência, manifestação e
realização de outra dicotomia, mais grave e perniciosa,
que separa a fé da moral.
Esta separação constitui uma das mais sérias
preocupações pastorais da Igreja no actual processo de
secularismo, onde demasiados homens pensam e vivem
«como se Deus não existisse». Encontramo-nos diante
de uma mentalidade que atinge, frequentemente de
modo profundo, vasto e minucioso, as atitudes e os
comportamentos dos cristãos, cuja fé se debilita e perde
a própria originalidade de novo critério interpretativo e
operativo para a existência pessoal, familiar e social. Na
verdade, os critérios de juízo e de escolha assumidos
pelos mesmos crentes apresentam-se frequentemente,
no contexto de uma cultura amplamente
descristianizada, como alheios ou até mesmo
contrapostos aos do Evangelho.”
5. “... Urge, então, que os cristãos redescubram a novidade
da sua fé e a sua força de discernimentoface à cultura
predominante e insinuativa: «Se outrora éreis trevas —
admoesta o apóstolo Paulo —, agora sois luz no
Senhor. Comportai-vos como filhos da luz, porque o
fruto da luz consiste na bondade, na justiça e na
verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não
participeis das obras infrutuosas das trevas; pelo
contrário, condenai-as abertamente (...) Cuidai pois,
irmãos, em andar com prudência, não como
insensatos, mas com circunspecção, aproveitando o
tempo, pois os dias são maus» (Ef 5, 8-11.15-16; cf. 1 Ts 5,
4-8).”
6. “...Urge recuperar e repropor o verdadeiro rosto da fé
cristã, que não é simplesmente um conjunto de
proposições a serem acolhidas e ratificadas com a
mente. Trata-se, antes, de um conhecimento existencial
de Cristo, uma memória viva dos seus mandamentos,
umaverdade a ser vivida. Aliás, uma palavra só é
verdadeiramente acolhida quando se traduz em actos,
quando é posta em prática. A fé é uma decisão que
compromete toda a existência. É encontro, diálogo,
comunhão de amor e de vida do crente com Jesus
Cristo, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6).
Comporta um acto de intimidade e abandono a Cristo,
fazendo-nos viver como Ele viveu (cf. Gál 2, 20), ou seja,
no amor pleno a Deus e aos irmãos. “
7. “ VS - 89. A fé possui também um conteúdo
moral: dá origem e exige um compromisso
coerente de vida, comporta e aperfeiçoa o
acolhimento e a observância dos mandamentos
divinos. Como escreve o evangelista João, «Deus
é luz e n'Ele não há trevas. Se dissermos que
temos comunhão com Ele e andarmos nas
trevas, mentimos e não praticamos a verdade
(...) E sabemos que O conhecemos por isto: se
guardarmos os Seus mandamentos. Aquele que
diz conhecê-Lo, e não guarda os Seus
mandamentos é mentiroso, e a verdade não está
nele. Mas quem guarda a Sua palavra, nesse, o
amor de Deus é verdadeiramente perfeito; e, por
isso, conhecemos que estamos n'Ele. Aquele que
diz que está n'Ele, deve também andar como Ele
andou» (1 Jo 1, 5-6; 2, 3-6).
8. Através da vida moral, a fé torna-se «confissão» não só perante Deus,
mas também diante dos homens: faz-se testemunho. «Vós sois a luz do
mundo — disse Jesus. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um
monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas
sim em cima do velador, e assim alumia a todos os que estão em casa.
Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas
obras, glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus» (Mt 5, 14-16). Estas
obras são, sobretudo, as da caridade (cf. Mt 25, 31-46) e da autêntica
liberdade que se manifesta e vive no dom de si. Até ao dom total de
si, como fez Jesus que, sobre a cruz, «amou a Igreja e por ela Se
entregou» (Ef 5, 25).
O testemunho de Cristo é fonte, paradigma e força para o testemunho do
discípulo, chamado a seguir pela mesma estrada: «Se alguém quer vir após
Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc 9,
23).
A caridade, segundo as exigências do radicalismo evangélico, pode levar o
crente ao supremo testemunho domartírio. Sempre, segundo o
exemplo de Jesus que morre na cruz: «Sede, pois, imitadores de Deus,
como filhos muito amados, — escreve Paulo aos cristãos de Éfeso — e
progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por
nós Se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor»
(Ef 5, 1-2).