O documento discute a evolução do turismo ao longo do século XX, identificando dois modelos principais: o turismo quantitativo (3S) e o turismo qualitativo (3L). Também aborda a importância do planeamento estratégico no turismo e do diagnóstico prévio, realizando uma análise SWOT do setor turístico português.
Análise da Avaliação Qualitativa dos Mercados Turísticos
1. Turismo – Informação e AnimaçãoTurística
2009/2010
Avaliação Qualitativa dos Mercados
Turísticos
2. A expansão do turismo e o progressivo desenvolvimento de que
o sector beneficiou nas últimas décadas, foi um fenómeno mais
ou menos comum em todo o mundo. A globalização e a
sociedade da informação contribuíram, sem dúvida, para a sua
expansão que tem como principal motor a mobilidade de pessoas
e recursos, a sua versatilidade e flexibilidade para adaptar-se às
condições próprias de cada território e de cada população. É
precisamente por esse motivo que se fala do turismo
como oportunidade estratégica para o
desenvolvimento local.
3. Importa, porém, relembrar que esta realidade nem sempre foi
assim.
A evolução do turismo tem a ver com o papel de alguns agentes
económicos que, ao longo dos tempos, contribuiu para a
expansão da posição do sector do turismo. A crise dos sectores
primários como a agricultura, o aparecimento de conceitos como
a sociedade do bem-estar, o aumento do tempo livre, as
reformas trabalhistas com tendência a reduzir as jornadas de
trabalho, a descoberta do potencial dos recursos meio -
ambientais, culturais, patrimoniais... são elementos que foram
perfilando o comportamento do sector e do mercado turístico.
Ao longo da história, as tendências e preferências estiveram
caracterizadas pelas circunstâncias económicas e sociais das
diferentes épocas.
4. Sistematizando, é possível falar de duas modalidades de
desenvolvimento turístico que representam o comportamento
dos mercados ao longo do século passado:
- Modelo Turismo Quantitativo: Também conhecido por
Modelo 3S (Sun, Sand and Sea – Sol, Areia e Mar);
- Modelo Turismo Qualitativo: Também conhecido por
Modelo 3L (Landscape, Leisure and Learning – Paisagem, Ócio e
Aprendizagem).
5. O primeiro deles nasceu após a Segunda Guerra Mundial e,
sociologicamente, houve duas circunstâncias que originaram o seu
desenvolvimento e consolidação.
Por um lado, os países do sul da Europa sofreram de modo muito
peculiar os efeitos devastadores da guerra, que deixaram as suas
economias em estado alarmante. Iniciado o processo de
reconstrução, estimulou-se uma passagem de divisas do norte para o
sul, e um dos métodos usados para isso foi o “turismo”.
Por outro lado, os países do sul contavam com recursos muito
valiosos e escassos nos países do norte, o sol e o mar, sendo que
estes são a forte demanda turística que se mantém até hoje.
6. As características principais desta modalidade turística são as
mesmas de uma actividade de massas, e mede-se em função da
obtenção de maiores ingressos efectuados pelos turistas. É um
modelo que não levou em conta factores culturais, patrimoniais,
ambientais ou sociais para o seu desenvolvimento e, portanto,
não se pode falar desta modalidade em termos de
sustentabilidade a longo prazo.
7. O segundo modelo começou a evidenciar-se nas últimas duas
décadas do século passado, definindo-se essencialmente como
um turismo com respeito pelos valores patrimoniais e meio -
ambientais locais e pela potenciação dos valores intrínsecos de
cada sociedade, procurando a singularidade do lugar turístico,
etc.
É um modelo incipiente, actualmente praticado por um grupo de
minorias que, fundamentalmente, buscam o “diferente”, a
“peculiaridade”.
8. Apesar da coexistência actual destes dois modelos, cada vez mais se
exige a substituição do Modelo 3S pelo turismo 3L.
Devido à nossa localização geográfica, Portugal regista uma forte
procura no mercado turístico do produto “sol e mar” que, a par de
alguns benefícios, também implica alguns desequilíbrios estruturais,
como por exemplo, a concentração de turistas e infra-estruturas no
litoral e reforço da sazonalidade. Se o objectivo principal se
concentra no aumento dos benefícios do turismo nos planos
económico, social, territorial e patrimonial, a par da valorização e
melhor enquadramento do produto “sol e mar”, ganha importância a
complementaridade, diversidade e promoção de destinos alternativos
– O turismo de motivação cultural!
9. A medição quantitativa e qualitativa do
impacto turístico
A utilização de indicadores para a medição do impacto do
turismo no desenvolvimento socioeconómico de um território é
um dos temas sobre os quais os especialistas mostram maior
unanimidade. Eles coincidem que a medição dos indicadores
quantitativos é um trabalho que, por mais que implique certas
dificuldades, não é insolúvel, dado os inúmeros esforços que
várias organizações e instituições têm realizado, a nível nacional e
internacional, para estabelecer modelos de medição que
ofereçam resultados ajustados à realidade.
10. A Organização Mundial do Turismo, Agência Especializada
das Nações Unidas, criou um potente instrumento denominado
Conta Satélite de Turismo. Com ela, pretende-se responder
às necessidades e características (para o total de um país e
referidas ao período de um ano), num quadro articulado de
informação de carácter económico tanto para os que tomam
decisões políticas como para os que decidem a nível empresarial.
Trata-se de um novo instrumento estatístico cujo desenho,
baseado num conjunto de conceitos, definições, classificações e
tábuas, permite orientar os países sobre a elaboração do seu
próprio Sistema de Estatísticas Turísticas (SET).
11. Existem outros observatórios, nos níveis locais, municipais e
regionais, que preferem modelos de medição distintos,
detalhando os critérios que, a seu ver, devem ser incluídos nesta
missão. Entretanto, pode-se afirmar que a existência de
numerosos critérios, e a utilização não unânime dos mesmos,
aumenta a dificuldade para realizar uma análise padronizada e
para poder aceder a um sistema de interpretação único.
12. O problema aparece quando o que se pretende é medir dois
aspectos bem diferenciados:
- O impacto socioeconómico do turismo no desenvolvimento local
de um território.
- Os aspectos qualitativos do turismo.
Muitos países, na hora de avaliar o impacto qualitativo da
actividade turística, no âmbito do desenvolvimento local do
seu território, enfrentam o problema de carecer de base
econométrica para o poder realizar.
13. Geralmente, não se medem aspectos tão significativos como o
grau de satisfação do cliente, com uma avaliação de todas as
actividades que, directa ou indirectamente, estão relacionadas à
actividade turística. Não obstante, elas são de extraordinária
importância para detectar e corrigir os possíveis desvios que
estejam ocorrendo na aplicação das políticas turísticas.
De acordo com os especialistas, uma infra-estrutura
científica de medição, a nível territorial ou local do sector,
deve poder medir os factores tangíveis e os intangíveis, e
identificar as variáveis que incidam directamente no êxito das
políticas turísticas, bem como os efeitos induzidos da actividade.
Em outras palavras, deve-se tender a construir modelos de
medição quantitativos para medir o qualitativo.
14. Esta é uma premissa essencial que deve estar presente desde a
concepção até à implementação de um projecto turístico.
É, portanto, relevante, realçar a importância do planeamento
estratégico em turismo.
15. Planeamento Estratégico em Turismo
Do ponto de vista do território, tanto naqueles lugares onde há um tecido
empresarial turístico consolidado, como em outros onde este ainda não
existe, o planeamento estratégico é imprescindível, porque através dele será
possível observar os aspectos territoriais, socioeconómicos, culturais e
populacionais necessários, para desenhar, prever e executar os objectivos que
se pretendem alcançar, bem como ter em mente os factores de risco que são
inerentes à actividade.
Através de um plano estratégico pretende-se conseguir, em última instância,
um contexto territorial definido que saiba aproveitar as suas oportunidades,
neutralize as ameaças que se apresentem no ambiente externo, utilizando os
seus pontos fortes e eliminando e/ou superando as debilidades internas.
16. Do ponto de vista dos actores, é necessário estabelecer
novas dinâmicas de planeamento e coordenação entre os
sectores público e privado. O diálogo deverá ser fluido entre os
diversos agentes envolvidos na actividade turística e deve ser
estabelecido desde o início, como base para alcançar acordos
sobre o planeamento.
Os canais de cooperação entre os poderes locais e suas diversas
áreas facilitarão a criação de um processo participativo na
tomada de decisões sobre as questões que possam afectar,
directa ou indirectamente, o turismo, o que equivale a criar
uma coordenação interinstitucional.
17. É importante considerar o que significa o planeamento
estratégico em turismo.
Planeamento estratégico em turismo é sinónimo de visão
integral, é ir além da simples promoção. Maximizar os recursos
disponíveis, arbitrando mecanismos para que cada actor que faça
parte da cadeia de valor assuma as directrizes do enfoque integral
para a criação, a promoção e comercialização do produto.
18. O diagnóstico prévio
O diagnóstico é o primeiro passo para estabelecer uma boa política de
planeamento.
Para conhecer a realidade socioeconómica de um território é essencial
realizar um bom diagnóstico prévio. O diagnóstico requer a
recompilação e análise de uma série de dados que ajudarão a conhecer
mais e melhor a situação real, o estado das coisas e, consequentemente,
contribuirá para prever e dar soluções aos problemas discutidos.
Um diagnóstico prévio na área de turismo significa analisar a situação
socioeconómica do território, antes de começar a desenhar políticas
estratégicas da actividade turística.
19. Existem diversos métodos para realizar o diagnóstico. Talvez o
mais amplamente conhecido por sua eficácia é a análise DAFO
- DEFICIÊNCIAS, AMEAÇAS, VANTAGENS E
OPORTUNIDADES ou em inglês SWOT - Strenghts,
Weaknesses, Opportunities and Threats, que pode ser um bom
ponto de partida para analisar o território num primeiro
momento e, posteriormente, analisar o destino turístico. Ou
seja, observando as Fraquezas, Ameaças, Forças e
Oportunidades, no passado, presente e no futuro, e nos níveis
externo e interno.
20. SWOT
Strengths, weaknesses, opportunities and threats.
Pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças.
- Obriga a focar nas questões-chave.
-Uma vez identificadas, integram-se em objectivos comerciais, de
gestão (por exemplo: de gestão turística).
21. Turismo e lazer em Portugal
Procura vs. Oferta : a procura aumentou significativamente
mais do que a oferta na última década,
Em relação à procura regional, a procura é mais forte em
algumas regiões chave (Algarve, Lisboa e Ilha da Madeira);
Existe sazonalidade da procura, que é significativamente maior
no Verão. A região de Lisboa é a que demonstra menor
sazonalidade, mantendo uma média menos díspar de visitas ao
longo do ano.
22. Análise Swot do sector do Turismo
Português
Pontos Fortes
Bom clima;
Boa relação preço/qualidade;
Paisagens atractivas;
Praias bonitas e limpas (um número elevado de bandeiras azuis da União
Europeia);
Património histórico e cultural;
Reconhecido como destino internacional seguro;
Reconhecido como um dos mais importantes destinos de golfe do mundo
(sobretudo a região do Algarve);
Regulamentação do turismo de natureza e actividades de empresas de
animação turísticas (legislação pioneira na Europa).
23. Análise Swot do sector do Turismo
Português
Pontos Fracos
Infra-estruturas insuficientes em várias regiões-chave do país;
Grande dependência de quatro grandes mercados emissores(Espanha,
Inglaterra, Alemanha e França);
Poucos esforços de manutenção e melhoria da oferta nacional;
Pequena utilização de novas tecnologias;
Alojamento fortemente dependente de um pequeno número de operadores
turísticos europeus;
Inexistência de um evento, monumento, especificidade cultural ou
MARCA – âncora, para a imagem do País.
24. Pontos Fracos(cont.)
Insuficientes voos regulares para o Porto e o Algarve;
Sistema de classificação da oferta turística não baseada na qualidade;
Iniciativas de promoção limitadas;
Falta de recursos humanos qualificados – sobretudo na época alta – e
reduzido profissionalismo;
Forte sazonalidade;
Maior nível de desenvolvimento nos grandes centros;
Falta de actividades de entretenimento cultural, sobretudo na época
baixa;
Vários operadores independentes, de reduzida dimensão e não
organizados;
25. Análise Swot do sector do Turismo
Português
Ameaças
Contínua percepção do País enquanto mero destino de sol e praia;
A sobrepromoção do Algarve reduz a atenção sobre outras regiões que
oferecem uma boa relação preço/qualidade;
Poucos projectos novos adaptados às tendências mundiais da procura;
Crescente concorrência ao nível global e regional;
Insuficiente acompanhamento daquilo que se passa a nível mundial em
termos de gestão e qualidade hoteleira, sobretudo no que respeita a
competências financeiras e tecnológicas;
Forte pressão ambiental em algumas áreas do nosso país.
26. Análise Swot do sector do Turismo
Português
Oportunidades
Desenvolvimento de uma nova oferta de produtos turísticos de vanguarda;
Atracção de operadores internacionais que possam contribuir para melhorar a qualidade
da oferta;
Introdução de políticas/iniciativas com vista a aumentar a repetição de visitas;
Diversificação de produtos turísticos ( ex: turismo rural, de saúde, “escapadas”internas;
Introdução de tecnologias de ponta.
Aproveitamento das potencialidades oferecidas por recursos turísticos ainda não
devidamente promovidos e dotados das devidas infra-estruturas, tais como as aldeias
preservadas, as casas senhoriais, as estâncias termais;
Promoção dos segmentos de turismo religioso, de saúde, rural, de natureza, e uma
forte aposta no turismo sénior, de negócios e de golfe;
Maior cooperação entre entidades públicas e privadas;
Uso de novos instrumentos financeiros para apoiar o investimento.
27. Plano de Desenvolvimento
Turístico do Vale do Douro
Principais recursos e produtos turísticos
Paisagem
Rio
Segurança,
Tranquilidade e
Bem-Estar
Vinho
Património da
Humanidade
História &
Património
Arquitectónico Natureza
28. Um rio navegável, com fortes atractivos paisagísticos; Rios afluentes
com paisagens e atractivos consideráveis;
Paisagens naturais e talhadas pelo homem;
Segurança, silêncio, ambiente despoluído, clima ameno, gastronomia
rica;
Região preservada pela vocação rural e oferecendo redutos em estado
selvagem;
Elevado e diversificado Património histórico-cultural de reconhecida
importância;
Alto Douro Vinhateiro e Arte Rupestre do Vale do Côa e proximidade
a outros locais com mesma classificação – Centro Histórico do Porto;
Região do Vinho do Porto, dos Vinhos do Douro, dos Espumantes
naturais e das tradições associadas.
29. Decorrente dos recursos turísticos existentes na Região, poder-se-
ão identificar os seguintes produtos turísticos prioritários:
- Turismo histórico-cultural – Touring
- Turismo de Natureza
- Gastronomia & Vinhos – Enoturismo
Os produtos turísticos anteriormente identificados correspondem
ao estabelecido na Agenda Regional de Turismo e no Plano
Estratégico Nacional de Turismo (PENT).
30. ANÁLISE SWOT
Pontos fortes
Paisagem única – Património Mundial;
1ª Região vitícola demarcada e regulamentada do mundo (que produz
vinhos de reconhecimento internacional – por ex. Vinho do Porto);
Vasto e rico Património Histórico-cultural e arqueológico, conferido no
estatuto de Património Mundial do Alto Douro Vinhateiro e das Gravuras
de Foz-Côa, em cidades e vilas patrimoniais e na forte densidade que se
verifica por toda a região de património classificado - monumentos
religiosos e museus, que vêm confirmar uma forte identidade regional;
Património Natural e Paisagístico, expresso na sua qualidade e diversidade
de recursos naturais, designadamente nos Planaltos Montanhosos e no
Douro (Exemplos: Parque Natural do Douro Internacional e Parque do
Alvão);
Rio navegável (Rio Douro)
Oferta turística diversificada (Turismo rural, Vinhos e Gastronomia,
Cruzeiros, Cultura, Comboios históricos, etc.)
31. Pontos fracos
População envelhecida e desertificação;
Baixos níveis de escolaridade;
Acessibilidades inter e intra-regionais ainda em estado pouco
satisfatório;
Má, quando não ausência, de sinalização turística específica;
Incapacidade de fixação de visitantes (reflectida nas baixas taxas de
ocupação e permanência média);
Insuficiente capacidade de alojamento de qualidade;
Déficit de imagem e de notoriedade nos mercados internacionais;
Dificuldades de articulação e coordenação entre os vários agentes;
Falta de recursos humanos qualificados no sector, tendo implicações a
vários níveis, designadamente, na engenharia e concepção do
produto turístico, prestação de serviços de informação turística,
hotelaria e restauração;
32. Oportunidades
Mercado turístico revela novos padrões de consumo e motivações,
privilegiando destinos que ofereçam experiências diversificadas e
com elevado grau de autenticidade e qualidade ambiental (Cultura,
Património, Natureza, Gastronomia, Desporto...);
Compromisso político e mobilização institucional para o
desenvolvimento da Região (Estrutura de Missão para a Região
Demarcada do Douro)
Investimentos turísticos privados em curso
QREN 2007-2013
PDTVD 2007-2103
Aeroporto Francisco Sá Carneiro ampliado e modernizado (novas rotas,
novos mercados e novos segmentos)
Processo de reorganização dos actores institucionais, designadamente,
no que respeita à revisão da Lei Quadro das Regiões de Turismo,
aumentando as possibilidades de intervenção em rede;
33. Ameaças
Perda de competitividade relativamente a destinos/ regiões
concorrenciais, com a mesma tipologia de oferta, podendo resultar
num decréscimo na quota de mercado da Região
Envelhecimento populacional e contínuo processo de desertificação
Persistência dos principais problemas de condicionamento,
nomeadamente, ao nível de infra-estruturas (acessibilidades), de
ordenamento paisagístico e de qualidade ambiental, traduzidas em
algumas disfunções ambientais ao longo do Vale do Douro
Perda de oportunidades na atracção de promotores e de investimento
a favor de outras regiões (resultante de um “lento” e complexo
processo de aprovação de projectos)
A necessidade da actuação em rede e de escala, não é compatível com
fraqueza da concertação estratégica regional e com a pulverização
de actuações.