O documento discute como o espírito se relaciona com o corpo após a encarnação. Explica que o espírito mantém suas faculdades espirituais mesmo unido ao corpo, que serve como um envoltório, e que o desenvolvimento dos órgãos depende do exercício das faculdades do espírito e não o contrário. Também discute como a matéria corporal pode limitar o livre exercício das faculdades espirituais.
3. 367 – O Espírito, unindo-se
ao corpo, se identifica com
a matéria?
A matéria não é senão um
envoltório do Espírito, como
o vestuário é o envoltório do
corpo. Unindo-se ao corpo, o
Espírito conserva os
atributos de sua natureza
espiritual.
4. A forma do corpo é determinada pela fôrma do peripírito construída pelo Espírito.
5. 368 – O Espírito exerce, com toda liberdade, suas faculdades
depois da sua união com o corpo?
O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem
de instrumento; elas são enfraquecidas pela grosseria da
matéria.
368.a) Segundo isso, o envoltório material seria um obstáculo
à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um
vidro opaco se opõe livre emissão da luz?
Sim, e muito opaco.
Allan Kardec:
Pode- se ainda comparar a ação da matéria grosseira do corpo
sobre o Espírito à da água lamacenta, que tira a liberdade dos
movimentos aos corpos nela mergulhados.
6. 369 – O livre exercício das faculdades da alma está
subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?
Os órgãos são os instrumentos de manifestação das
faculdades da alma. Essas manifestações se encontram
subordinadas ao desenvolvimento e ao grau de perfeição
desses mesmos órgãos, como a boa qualidade de um
trabalho, à boa qualidade da ferramenta.
7. 370 – Pode-se deduzir, da influência dos órgãos,
uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos
cerebrais e o desenvolvimento das faculdades
morais e intelectuais?
Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem
sempre as faculdades que lhe são próprias; ora, não
são os órgãos que dão as faculdades, mas as
faculdades que conduzem ao desenvolvimento dos
órgãos.
370.a) Assim sendo, a diversidade das aptidões do
homem provém unicamente do estado do Espírito?
Unicamente não é toda a exatidão do fato; as
qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos
avançado, são o princípio, mas é preciso ter em
conta a influência da matéria que entrava, mais ou
menos, o exercício dessas faculdades.
9. O Espírito, se encarnando, traz certas predisposições,
admitindo-se, para cada uma, um órgão correspondente
no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um
efeito e não uma causa. Se as faculdades se originassem
nesses órgãos, o homem seria máquina sem livre-arbítrio
e sem responsabilidade dos seus atos. Seria preciso
admitir que os maiores gênios, sábios, poetas, artistas,
não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos
especiais, do que se seguiria que, sem esses órgãos, não
poderiam ser gênios e que o último imbecil poderia ser
um Newton, um Virgílio ou um Rafael, se estivesse
provido de certos órgãos; suposição mais absurda ainda
quando se a aplica às qualidades morais.
10. Assim, segundo esse sistema, São Vicente de Paulo,
dotado pela Natureza de tal ou tal órgão, poderia ter sido
um celerado, e não faltaria, ao maior celerado, senão um
órgão para ser São Vicente de Paulo. Admiti, ao
contrário, que os órgãos especiais, se é que existam, são
consequentes e se desenvolvem pelo exercício da
faculdade, como os músculos pelo movimento, e vós não
tereis nada irracional. Façamos uma comparação trivial
por ser verdadeira: por certos sinais fisionômicos,
reconheceis o homem dado à bebida; são esses sinais
que o tornam um ébrio, ou a ebriedade que faz aparecer
esses sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem o
cunho das faculdades.
11. CRÉDITOS:
Formatação: Marta G. P. Miranda
Referências:
KARDEC, Allan. O Livro dos
Espíritos. Tradução de Salvador
Gentile. 182ª Ed. Araras – SP: IDE,
2009. Pág. 133 à 136.