EFEITOS DOS CUSTOS TRANSACIONAIS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE GOVERNO
Mitos tucanos 1
1. Mitos Tucanos 1
Ricardo Carneiro
(Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP)
Os dados relativos ao desempenho da economia brasileira diante das crises
internacionais que constam do documento da ABDIB “DOIS ANOS DEPOIS: O
impacto da crise financeira no PIB, nos investimentos e na produção de
bens de capital” põem por terra uma das mais caras teses tucanas, a de que o
crescimento econômico foi medíocre durante a era FHC por conta dessas crises.
Nunca é demais lembrar que o PIB cresceu em média 2% a.a na era FHC contra 4%
a.a. na era Lula.
Como se pode ver nos dois gráficos abaixo, a crise de maior impacto foi a de
2008, como seria de esperar, pois ela é sabidamente a maior crise do capitalismo
desenvolvido desde a Grande Depressão.. Mas, dada a sua intensidade, chama a
atenção a rapidez com a qual a economia brasileira se recupera: tanto no PIB
quanto no investimento, são apenas dois trimestres de queda seguida de
recuperação com o nível pré crise sendo atingido em pouco mais de um ano no caso
do PIB e em um ano e meio no do investimento. A amplitude e sucesso da política
anticíclica posta em prática pelo Governo Lula são, à luz desses dados,
indiscutíveis. O uso adequado da política econômica, com menor importância da
política cambial, fiscal e monetária mas com apelo maior à política creditícia por
meio dos bancos públicos, jogou um papel decisivo.
Em contraste com a crise de 2008, tanto a crise da Ásia quanto a crise
sucedânea da Rússia têm efeitos bem menos relevantes sobre a economia
brasileira. Assim, a crise da Ásia que se inicia no quarto trimestre de 1997, faz
declinar o PIB em 2% apenas em um trimestre, com impacto quase nulo no
investimento. Na seqüência, a crise da Rússia tem efeito menos pronunciado ainda
sobre o PIB, embora mais intenso duradouro sobre o investimento. De qualquer
modo, a recuperação do Investimento se faz após quatro trimestres do início da
crise e de maneira muito lenta a despeito da melhoria das condições internacionais,
e da mudança do regime cambial. Aliás, cabe recordar que a retomada do
crescimento observada em 2000 (um ano e meio após a crise) é interrompida, em
2. 2001, pelo apagão. Diante desses fatos as conclusões são inescapáveis: fatores
domésticos, dentre eles a política econômica posta em prática na era FHC foram
muito mais importantes para explicar o medíocre desempenho da economia
naquele período do que fatores internacionais.