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HAZRAT INAYAT KHAN
FILOSOFIA,
PSICOLOGIA E
MISTICISMO
Volume XI
A Mensagem Sufi
UNIVERSALISMO
Sumário
Prefácio
FILOSOFIA
Ilusão e Realidade
Capacidade
Vibrações (1)
Vibrações (2)
Atmosfera
Luz
Inteligência
A Lei do Ritmo
Os Aspectos da Natureza: Triplo, Dual e Único
O Espírito, do Lado de Dentro e do Lado de Fora
Espírito e Matéria (1)
Espírito e Matéria (2)
Espírito e Matéria (3)
PSICOLOGIA
Ciência e Psicologia
Sugestão
Sugestão através da Impressão e da Crença
Sugestão através das Várias Formas de Impressão
Sugestão pela Palavra e pela Voz
Sugestão pelo Movimento
Sugestão na Prática
Atitude
Magnetismo
Magnetismo Físico
Magnetismo da Mente
Magnetismo do Coração
Magnetismo da Alma
Magnetismo Espiritual
Psicologia, a Mestria da Mente
Almas Gêmeas
Natureza e Caráter
MISTICISMO
Misticismo na Vida
Sabedoria Divina
A Jornada da Vida
Elevação da Consciência
O Caminho para Deus
O Ideal do Místico
A Natureza
O Ideal
A Moral do Místico
Fraternidade
Amor
Beleza
O Autoconhecimento
A Realização do Verdadeiro Ego
A Sintonização do Espírito
A Visão do Místico
A Natureza do Místico
A Inspiração e o Poder do Místico
Prefácio
No prefácio do Volume I da Mensagem Sufi de Hazrat Inayat Khan, já constava
que agrupar, de forma sistemática, a obra desse místico Sufi seria tarefa muito
difícil. Praticamente, todos os assuntos contidos na sua obra são transcrições de
conferências por ele feitas durante os anos que viveu e ensinou no Ocidente, de
1910 a 1926. A extensão e variedade dos assuntos por ele tratados foram
notáveis e com muita frequência a mesma diversidade de temas foi retomada
após um intervalo de muitos anos e expostas de maneira um tanto diferente
noutro contexto.
Assim, os ensinamentos ontológicos de Hazrat Inayat Khan estão espalhados
em muitos volumes de sua Mensagem, mas nos últimos anos de sua vida ele
deu, em três séries de palestras feitas durante as Escolas de Verão em
Suresnes, França, em 1925 e 1926, uma sinópse de grande interesse dos
assuntos que denominou FILOSOFIA, PSICOLOGIA e MISTICISMO, dando um
sentido todo especial a essas palavras. O livro disso resultante pode ser
considerado o “opus magnum” do Mestre Sufi Inayat Khan.
Depois de terem sido usados durante muitos anos como papéis instrutivos nas
Escolas de Verão do Movimento Sufi, após o falecimento de Inayat Khan, eles
foram publicados pela primeira vez em 1956. Esta nova edição difere
ligeiramente da anterior. O texto que tinha sido mantido tão chegado às palavras
pronunciadas e que não era sempre fácil de ser lido, foi agora adaptado melhor
para compor as páginas deste volume. Naturalmente, grande cuidado foi tomado
para não modificar o significado exato dos ensinamentos de Inayat Khan. Os
capítulos XV, XVI e XVII da primeira parte sobre som e voz foram omitidos,
porque já tinham sido inseridos no livro “Música” e pequenas alterações foram
feitas na sequência dos restantes capítulos.
FILOSOFIA
CAPÍTULO I
Ilusão e Realidade
Quando um espiritualista diz que tudo é ilusão, o materialista replica: “Mostra-
me, então, onde está a realidade”. Muitas vezes as pessoas empregam a palavra
ilusão sem saber propriamente o que ela significa. Quando se diz a alguém que
está sofrendo que tudo é ilusão, o sofredor responde: “para mim é uma realidade.
Se estivesses sofrendo, não dirias que se trata de uma ilusão”. Enquanto não
achamos uma solução para o problema, durante muito tempo tentamos chamar
uma doença de ilusão até que nossa paciência se esgota. Quando nossa
paciência é posta à prova, não podemos mais chamar a doença de ilusão,
começamos a chamá-la de realidade. Quando se começa pelo fim acaba-se pelo
começo. A razão é que, para chamarmos de ilusão alguma coisa que nossos
sentidos percebem, devemos primeiramente compreender a sua natureza e
caráter, para provarmos a nós mesmos e aos outros que se trata de uma ilusão.
Qualquer estudo que fizermos, qualquer que ele seja, o importante é que através
desse estudo possamos descobrir que, à proporção que olhamos as coisas, elas
nos parecem diferentes. Um certo produto químico é chamado por um
determinado nome, mas quando verificamos sua origem, de onde ele vem,
constatamos que sua raiz é algo bem diferente. Ao descobrirmos sua origem
começamos a pensar: “Por que chamá-lo por este nome? Seu nome devia ser
bem diferente”. Quando começamos a estudar o mecanismo e os diferentes
nomes e formas que entram na sua composição e quando chegamos ao âmago
das coisas, descobrimos que o que o faz atuar é algo muito diferente de sua
forma exterior. Tudo isso serve para nos mostrar que a parte externa de todas
as coisas cobre de nossos olhos o segredo de sua origem. Reconhecemos,
porém, todas as coisas por sua forma superficial. A fim de saber o segredo das
coisas devemos cavar fundo e atingir a base. Quando se estuda a biologia
moderna, começa-se a imaginar a origem do homem. Embora o elo perdido entre
o homem e o macaco ainda não tenha sido encontrado, ainda não se checou à
profundeza da origem humana. Se a natureza e o caráter das coisas na
superfície é assim, como podemos dar-lhes nomes que imaginamos se o
conhecimento que temos delas e limitado? Quanto mais nos aprofundamos nas
coisas menos, pensaremos chamá-las por um certo nome. No mundo, tudo está
coberto por camadas e quando estas são removidas há outra camada. Assim,
uma coisa encontra-se dentro da outra. Não se pode ir ao fundo das coisas a
não ser que se conheça o segredo do caminho a percorrer. É por este motivo
que o erudito, aquele que estuda toda sua vida, chega tão longe e não vai além.
Pode-se perguntar ao homem mais erudito do mundo, talvez autor de muitas
teorias: “O que existe no fundo disto tudo?” Ele responderá: “Não sei, mas
gostaria de saber, se pudesse.”
Duas coisas devem ser levadas em consideração se se quiser entender a
natureza da ilusão: a primeira – o que é variável é uma ilusão; a segunda – o
que é instável é uma ilusão, porque o que é instável e variável é e, ao mesmo
tempo, não é. Existem duas leis: a primeira – uma coisa se modifica; a segunda
– uma coisa é dissolvida, destruída, decomposta. A única diferença é que
embora ambas sejam mutáveis só num dos processos é que podemos encontrar
o que é mutável. Se o carvão transformou-se num diamante, podemos obtê-lo
mas quando a cânfora se derrete, neste caso não podemos tê-lo tão facilmente.
Se chamarmos de uma realidade a aparência do que é mutável e o que está
sujeito à destruição, o que é então a ilusão? Por que existe esta palavra? Esta
palavra significa o que não é dependente, que não é constante. Usamos as
palavras “falso” e “verdadeiro” de acordo com a nossa concepção das coisas.
Por exemplo, o metal ouro é chamado de ouro e sua cópia é chamada imitação.
À primeira vista ambos são a mesma coisa. Só quando os observamos mais
detalhadamente é que distinguimos o ouro da imitação. É a estabilidade do ouro
que nos faz chamá-lo de ouro verdadeiro. Chamamos o ouro de verdadeiro
porque é estável. É a mesma coisa quando dizemos que uma amizade é
verdadeira. O que é estável é verdadeiro, o que se desfaz é falso. Assim, quando
olhamos a manifestação, vemos ilusão em todas as coisas. Se há uma realidade
a ser encontrada, ela está no fundo de todas as coisas. A ilusão é a camada
externa, a realidade é o fundo de todas as coisas. É como o corpo e a alma. O
corpo é uma ilusão, a alma é a realidade. O mesmo acontece com a flor e a
fragrância: a flor é uma ilusão, a fragrância é uma realidade que perdura como
um espírito, vive. Quanto mais uma coisa vive mais mostra realidade. Ainda
assim, o que pode ser chamado de realidade é ainda mais profundo. Na nossa
linguagem diária usamos a palavra realidade, mas saber o que significa realidade
é coisa diferente, pois conhecer a realidade é saber tudo o que há para ser
conhecido. Esse conhecimento é adquirido procurando-se a realidade que está
no fundo de todas as coisas. A procura da realidade é que é a verdadeira cultura,
o verdadeiro conhecimento, o aprendizado que realmente vale a pena fazer.
Apreciar essa realidade, admirá-la, amá-la, é caminhar cada vez mais para a
meta, a meta que é a realidade propriamente dita.
Quando começamos a pensar que é ilusão o nosso alvo, o nosso desejo, o objeto
de nosso amor e tudo que perseguimos na vida, dia e noite, é ilusão, isso nos
torna desapontados. Muitas vezes pensamos: o que podemos chamar de
realidade se tudo que conhecemos, vemos e sentimos é ilusão? Nem todos
pensam nisso no seu dia-a-dia, mas este pensamento ocorre naturalmente ao
sábio e ele se empenha em procurar a realidade. Antigamente, era tarefa da
religião despertar o mundo para a realidade mas, infelizmente, na ausência da
religião, o sistema moderno de educar, ao invés de instigar a procura da
realidade, desperta o interesse por tudo que é ilusão. Não obstante, não se pode
fugir à realidade. Ela nos arrasta e nos atrai. Estamos inconscientemente à
procura da realidade, até mesmo quando nos interessamos pela ciência,
literatura, filosofia, arte e psicologia. Entretanto, procurando a realidade na ilusão
é o mesmo que tentar ver a luz olhando para a terra. As pessoas desejam ver a
face da realidade com os olhos da ilusão e querem ouvir a sua voz com os
ouvidos da ilusão. É a realidade em nós mesmos que descobre a realidade.
Existe algum objetivo nesta manifestação que é a ilusão. Se não existisse a
ilusão não se poderia encontrar a realidade, porque tudo é revelado pelo seu
contraste, até mesmo a realidade. Procuramos a realidade quando descobrimos
a ilusão. Se nunca tivéssemos conhecido a ilusão jamais teríamos conhecido a
realidade. A realidade encontra-se a si própria.
Pode-se considerar o pensamento abstrato como um método para se conhecer
a realidade, mas depende do que se entende por pensamento abstrato. Há
pessoas que vivem no abstrato, mas estão muito longe da realidade. Há uma
história muito conhecida na Índia: um peixe se dirigiu à rainha dos peixes e lhe
disse: “Sempre ouvi falar do mar, mas onde está o mar?” A rainha explicou
àquele peixe que desejava aprender: “Você vive, você se move e tem seu ser no
mar. O mar está dentro e fora de você. Você é feito do mar e acabará no mar. O
mar é o que o rodeia, é a sua origem, o seu fim e seu próprio ser”. Assim como
o peixe ignorava o mar, também aqueles que vivem no abstrato podem ignorar
a realidade. Uma pessoa pode ficar perto da água toda a vida e permanecer
sedenta, não sabendo que é água. Um dia alguém fez a Buda a seguinte
pergunta: “O que é a ignorância? Tendes falado tanto nela, o que é? Podeis
descrevê-la?” Buda respondeu: “Posso. Havia um homem, cujos olhos estavam
fechados, e que havia se agarrado ao ramo de uma árvore. Ficou agarrado
àquele ramo toda a noite e pela manhã viu que o chão estava a alguns passos
de seus pés. O medo, a angústia e a tortura que ele havia sofrido durante a noite
toda desapareceram com o raiar do dia”. Tal é a natureza da ignorância e da
realidade. Uma pessoa pode continuar ignorando a verdade por toda a vida e
sofrer todas as condições que advêm dessa ignorância, pois não existe desgraça
maior que a ignorância. É a fonte de toda infelicidade e miséria. Pode-se
continuar sofrendo por toda a vida devido à ignorância, embora o conhecimento
da realidade esteja muito perto, mas não nos interessamos em procurá-lo. Outra
dificuldade é que a natureza humana começa por procurar a complexidade,
porque a natureza da ilusão é complexa. O homem dá valor à complexidade,
começa a pensar que o que é complexo tem valor, é o que vale a pena, e o que
é simples não tem valor. A verdade é simples, mais simples do que todo o
conhecimento da ilusão. Entretanto, o homem não pode lhe dar valor, porque
deu tal valor à ilusão que não pode dar valor à realidade.
E não obstante, para nós seres humanos limitados dizer que este mundo não
tem uma realidade parece blasfêmia. Está bem se nos sentimos assim, mas não
está certo dizê-lo porque, se tivermos que falar nisso, precisamos provar, provar
pela nossa independência dessa ilusão – o que não podemos sempre fazer
porque somos por demais dependentes dela. Uma assertiva que não é baseada
numa evidência prática não é uma boa assertiva. Assim, pois, o verdadeiro
místico sempre se abstêm de dizer coisas como, por exemplo, que tudo é uma
ilusão, mas tenta perceber isso cada vez mais todos os dias. Nos momentos em
que não se sente assim fica triste, pensa que está longe da realidade, mas
quando vislumbra um raio de luz pensa que está face a face com seu Senhor,
porque está na luz da realidade.
CAPÍTULO II
Capacidade
Se tentarmos compreender o que significa capacidade, podemos chegar ao
segredo da criação. Pode-se dizer que capacidade é o óvulo da criação. A
manifestação, pelo que nós e conhecido e pelo que nos é desconhecido, é uma
forma criada numa capacidade. O céu é uma capacidade. Capacidade é aquilo
que forma uma cavidade, onde a ação toda-penetrante da existência pode
produzir uma substância. O que são todas as estrelas e planetas descobertos e
os que ainda não foram descobertos? Capacidades. O que contêm? De acordo
com a capacidade de cada um, contém uma capacidade capaz de se manter
dentro de si mesma e dar a luz. Um planeta, pois, não é igual a outro nem uma
estrela é igual a outra estrela.
Assim como o mar é uma capacidade onde os animais marinhos nascem, vivem
e morrem, o ar também é uma capacidade onde muitas criaturas vivem, movem-
se e têm seu ser. A terra é uma capacidade que contém plantas, árvores, pedras
diversas, metais, minerais e outras substâncias derivadas dela. Tudo é uma
capacidade: a pedra, a árvore, uma fruta ou uma flor. Da flor nasce o perfume e
da fruta, o sabor. Do mesmo modo, o ser vivo é uma capacidade. O homem é
uma capacidade, uma capacidade acabada e perfeita.
A palavra hindu para capacidade é “Akasha”. Em geral, pensa-se que “Akasha”
quer dizer céu, mas na realidade significa tudo. Por sua vez, tudo é um “Akasha”,
como todas as substâncias são capacidades. Conforme a capacidade, ela
produz o que deve ser produzido.
Quando estudamos anatomia, aprendemos que os órgãos dos sentidos são,
todos eles, capacidades e que cada órgão é feito de um certo formato. O órgão
do sentido não funciona adequadamente quando sua capacidade se obstrui,
rompe-se ou é perturbada de qualquer maneira. Os vasos e veias do corpo
humano ou animal são capacidades criadas para que a circulação do sangue
seja feita. Quando essas capacidades estão obstruídas, por mais forte que seja
o corpo, a força vital não pode circular. Sobrevêm a congestão e a doença. Cada
célula do sangue é também uma capacidade. Se a célula se mantém livre, sem
obstrução, a vida circula através da célula. O indivíduo tem saúde. Quando a
célula do sangue perde sua capacidade, a vida não pode mais preencher sua
finalidade e aparecem diversas doenças. O mesmo acontece com os poros da
pele: cada poro é uma capacidade. Se, por qualquer motivo, essa capacidade
do poro é obstruída, a vida não pode mais circular por ele. Há uma interrupção
e as doenças surgem. Os órgãos digestivos, os pulmões, são capacidades. Por
eles circula a vida. Funciona com a força vital, a vida, que é injetada neles por
meio da respiração e conforme as radiações. Se esses órgãos não funcionarem
como devem funcionar, sobrevêm doenças e desordens no organismo.
Existem também centros intuitivos no corpo físico do homem. Cada centro é uma
capacidade. Poucos sabem disso. Esses centros ficam obstruídos porque o
homem leva uma vida tão material que suas faculdades intuitivas ficam
obliteradas. Todas as práticas místicas usadas pelos iniciados são dadas para
que todas as capacidades neles existentes se abram, se ativem e sejam postas
em ordem, para que, por meio de suas capacidades, o homem possa
experimentar tudo aquilo que deve experimentar. A falta de ar, de energia e
magnetismo bloqueiam as capacidades do homem e seus centros, obstruindo as
faculdades intuitivas. Assim sendo, o homem que jamais pensou neste assunto,
perde suas capacidades intuitivas. Isso prova que, se um indivíduo pensar em
alguma coisa, cria uma capacidade, como a ação e o movimento. Quando o
movimento é vagaroso, quando não é ativo, a capacidade não é aproveitada.
É a capacidade que faz da alma uma alma. De outra forma, seria espírito. Por
exemplo, quando o sol entra em nossa casa pela manhã, a luz solar atravessa a
janela e toma a forma quadrada ou redonda, conforme o formato da janela, ou
então toma a forma triangular se a janela tiver esse formato, mas o sol não e
quadrado, redondo ou triangular: a janela é que tem esse formato. Dizemos que
é o sol que entra na casa, mas podemos dar ao sol um outro nome. O sol pode
ser comparado ao espírito. O fato do sol entrar pela janela, que é uma
capacidade, e ela dar uma forma ao sol: triangular, quadrada ou outra forma
qualquer, pode ele ser chamado de alma. A alma se identifica com as qualidades
e méritos da capacidade através da qual se expressa. Se não fosse assim, não
seria alma, seria espírito.
Na vida há duas divisões: uma é aceita, mas a outra ainda não é aceita. A divisão
da vida aceita é a que chamamos substância. A divisão da vida ainda não aceita
é a que chamamos de vácuo. Se falarmos com alguém sobre oxigênio, sabe que
existe oxigênio no espaço, mas se falarmos em vácuo, não compreende. Dirá:
“O que é vácuo? Se ele puder ser registrado num aparelho, posso dizer que ele
existe, mas se não for registrado no meu instrumento, direi que não existe”. Na
realidade o vácuo é tudo, o vácuo é todas as coisas. Em todos os períodos da
história da humanidade, o homem não fez outra coisa, senão tentar descobrir
substâncias mais refinadas. A ciência chegou aos átomos, eléctrons e partículas
ainda mais refinadas. E quanto ao vácuo? Podem dizer que não existe. O fato é
que o homem quer perceber o vácuo usando o mesmo método que usou para
chegar à substância, o que não é possível. Por esse motivo, por mais longe que
avance no descobrimento da vida, o homem apenas alcança a substância mais
requintada. O homem pode investigar milhares de anos e ter sucesso em
descobrir uma substância cada vez mais refinada, talvez substâncias mais úteis,
mas sempre vai descobrir uma substância e não um vácuo.
Capacidade é matéria, não matéria no sentido comum da palavra, porque na
realidade tudo perceptível é matéria, capacidade é substância. A substância
mais refinada ainda é substância. O que está acima da substância é que é
espírito. Espírito é ausência da matéria, mesmo da matéria em seu estado mais
refinado. O espírito está acima da matéria e, assim, a mais refinada capacidade
será ainda uma substância.
Surge agora a seguinte indagação: Se toda manifestação vem de uma única
fonte, de uma só vida, de um só espírito, por que existe uma variedade de coisas
e seres, cada um diferente em natureza e caráter?
Há duas razões principais para isso: uma é a velocidade das vibrações, outra a
direção tomada por uma determinada ação. Para tornar esse ponto
compreensível, dividamos a velocidade em três estágios: vagaroso, moderado e
rápido ou, como são chamadas essas velocidades em Sânscrito, Satva, Rajas e
Tamas. O primeiro estágio Satva ou vagaroso tem um efeito criativo. O segundo
estágio Rajas ou moderado é progressivo. O terceiro estágio Tamas ou rápido,
é destrutivo. Isso nos leva ao motivo que está atrás da morte, da decadência e
da destruição, isto é, todo ser vivo e todo objeto se deteriora ou morre ao entrar
na velocidade destrutiva. Ainda mais, como todo o objeto é diferente visto de
ângulos diferentes, também toda força criativa se manifesta de forma diferente
ao tomar direções diferentes. O que prova o motivo da mão direita ser mais forte
que a mão esquerda, com raras exceções, e o porquê da perna direita sempre
ter a tendência de avançar em primeiro lugar e não a perna esquerda. Sempre
temos mais força do lado direito que do lado esquerdo. O motivo é a lei da
direção. O canhoto é uma exceção, não é comum. O lado direito tem mais força
que o lado esquerdo, é o normal, e se alguém é canhoto, seu lado direito não
tem a energia que devia ter. Não quer dizer que o lado esquerdo tem mais força
que o lado direito, significa apenas que o lado direito é mais fraco que o lado
esquerdo, e não que o lado esquerdo tomou o lugar do lado direito. Também não
quer dizer que o lado positivo da pessoa é o lado esquerdo e que seu lado
negativo seja o direito.
Os três ritmos Satva, Rajas e Tamas podem também ser chamados de móbil,
regular e irregular. A manifestação tem várias formas devido a esses ritmos,
assim como várias qualidades, cores e formatos. O ritmo móbil é em linha reta.
O ritmo regular se processa para a direita e para a esquerda, formando primeiro
a linha vertical e depois a linha horizontal. O terceiro ritmo é em ziguezague,
irregular, e é destrutivo. O mesmo pode ser observado se examinarmos nossa
respiração. A respiração que flui pela narina direita dá poder. A que flui pela
narina esquerda retira esse poder. O fluxo através das duas narinas ao mesmo
tempo causa destruição.
O que existia antes da criação? Havia imobilidade ou movimento? A ciência
descobriu que atrás de tudo há movimento. Isso é verdade, porque, na realidade,
o que chamamos de imobilidade é um movimento imperceptível. É por esse
motivo que as montanhas podem existir, as árvores podem viver, o homem pode
agir e os animais podem se mover, unicamente pela força do movimento, das
vibrações. Sua saúde, alegria, tristeza e destruição são causadas por uma
velocidade mais rápida ou por uma velocidade mais vagarosa, ou por uma
atividade especial dessas vibrações. A doença e a saúde dependem da lei das
vibrações.
Um diamante é brilhante porque vibra. É a vibração do diamante que o torna
cintilante. Do mesmo modo uma pessoa é brilhante quando sua inteligência
vibra. Sua capacidade de compreender está de acordo com o ritmo de sua
vibração. Pode-se sempre notar que uma pessoa brilhante é quem compreende
as coisas com maior rapidez, melhor e mais profundamente. Quem não é muito
brilhante custa mais a compreender.
Concluindo: chegamos à compreensão de que todo fenômeno é um fenômeno
da capacidade e que de acordo com essa capacidade é criado tudo que ela
contém. Como cada coisa e cada ser vibram de acordo com a capacidade, os
resultados também são de acordo com a capacidade. Nós somos também
“Akashas” e recebemos no nosso “Akasha” a ressonância do nosso ritmo. Essa
ressonância é semelhante ao que sentimos quando estamos cansados,
deprimidos, alegres ou fortes. Todas essas maneiras de sentir é nosso “Akasha”
que sente. Isso é motivado pelo nosso próprio ritmo.
Toda palavra proferida, toda ação feita e cada um dos nossos sentimentos ficam
registrados em algum lugar. Não desaparecem e nem se perdem. Não podemos
ver esses registros porque não são feitos no solo. Se uma semente é plantada
no solo fica registrada no chão, cresce e se afirma mostrando que é uma
macieira, uma roseira, etc. Se algo é lançado no espaço, também não se perde.
É recebido e agarrado pelo espaço e é mostrado àqueles que podem construir
uma capacidade ao redor do espaço e captar o reflexo desse algo nessa
capacidade. Existe uma capacidade, a vida total, integral.
Na realidade, tudo é uma capacidade registrada. Assim, há uma capacidade de
ler e que deve ser criada por nós. Devemos ter capacidade para criar uma
capacidade para ler o que está escrito. Consta do Corão: “Suas mãos falarão e
seus pés testemunharão seus feitos”, o que quer dizer que tudo é registrado, de
tudo é tomado nota. Quando um ladrão deixa a casa onde roubou alguma coisa,
se quiser, pode cavar um buraco, enterrar o produto do roubo e mostrar as mãos
vazias, mas algo fica registrado no seu rosto, denunciando o seu ato. Fica
escrito, gravado, e não se apaga para quem aprendeu a ler qualquer registro.
Nada do que falamos, fazemos ou pensamos se perde. Fica registrado em algum
lugar. Se soubermos ler as coisas, tudo pode ser lido.
CAPÍTULO III
Vibrações (1)
Todas as coisas que existem e são vistas, ouvidas e percebidas por nós, vibram.
Se a vibração não existisse, as pedras preciosas não mostrariam a cor e o brilho
que possuem. O que faz as árvores crescerem, as frutas amadurecerem e as
flores vicejarem é a vibração. Nossa existência também está submetida à lei das
vibrações que rege não só a existência do nosso corpo físico, como a existência
de nossos pensamentos e sentimentos. As drogas e ervas não exerceriam
nenhum efeito sobre o ser humano se não fossem as vibrações. Se quisermos
dar uma explicação para a eletricidade, podemos dizer que o mistério da
eletricidade está somente nas vibrações. Em outras palavras, o aspecto das
vibrações que constituem a forma não existiria se primeiramente não houvesse
luz. A Bíblia faz alusão a isso dizendo que primeiro houve a luz e depois foi criado
o mundo. A luz é a primeira forma e depois dela as outras formas são criadas.
As vibrações podem ser compreendidas tanto como causa como efeito. A
vibração causa movimento, rotação, circulação e de outro lado é a rotação dos
planetas e a circulação do sangue que causam a vibração. Assim, tanto a causa
como o efeito de tudo que tem vida é vibração.
Depende da velocidade das vibrações se uma determinada coisa é visível ou
audível, se é perceptível ou imperceptível. Tudo que é visível é, ao mesmo
tempo, audível. Tudo que é audível também é visível. Se não nos parece ser
assim é sinal de que há limitação nos nossos órgãos de percepção. Dizemos
que não é visível o que os nossos olhos físicos não podem ver. Mas é visível, só
que não é visível para nós. O que não podemos ouvir dizemos que é inaudível.
Apenas é inaudível para nossos ouvidos, mas é audível.
Isso é uma prova de que tudo tem som e forma. Mesmo as coisas que para nós
são perceptíveis e não são visíveis, têm forma. Em primeiro lugar, se não tiverem
forma não poderão ser inteligíveis. Há coisas que não têm uma forma física, mas
possuem, do mesmo modo, uma forma e é através dessa forma que podemos
percebê-las. Se nossos olhos físicos não podem ver a forma, os olhos da nossa
mente podem vê-la e reconhecê-la, o que explica porque existem coisas que são
sentidas e coisas que são vistas ou ouvidas. É apenas uma diferença de
vibrações e dos planos em que ocorrem as vibrações. As vibrações fazem com
que a vida tome uma forma. São os diferentes graus de vibração que fazem a
forma visível ou perceptível.
O que sabemos sobre as vibrações é só o que percebemos através dos
instrumentos fabricados pelo homem. O que está em movimento e não é captado
pelos instrumentos não é reconhecido como vibração. Como não existe outra
palavra a não ser vibração, ela é a única que podemos usar e é a mesma força
que põe em movimento todas as coisas no plano físico e continua em todos os
outros planos da existência, colocando tudo em ação. Isso também nos explica
que é a vibração – um certo grau de vibração – que traz para a terra as coisas
do mundo oculto, mundo que é percebido mas não visto; uma mudança de
vibrações leva para o mundo invisível as coisas que são vistas.
O que chamamos de vida e morte é, tanto uma como a outra, uma existência
reconhecida dentro de um certo grau de vibração. Por exemplo, quando alguém
diz: “Esta folha está morta”, foi a mudança de vibração que a tornou morta. A
folha não mais possui as vibrações que possuía enquanto estava na árvore, só
que não perdeu todas as vibrações: possui outras. Assim, de acordo com a lei
das vibrações ela não está morta: apenas está num ritmo diferente de vibrações.
Se estivesse morta, as ervas quando tomadas como remédio pelo homem não
exerceriam nenhum efeito sobre sua saúde.
O mesmo acontece com o corpo morto do homem ou de um animal. Podemos
dizer que a vida fugiu do corpo, mas o que se esvaiu foi a vida que reconhecemos
como vida e isso porque reconhecemos como vida somente um determinado
grau de vibração. Tudo que existe acima ou abaixo disso não reconhecemos
como vida. Entretanto, não está morto, ainda está vibrando. Continua a vibrar,
porque nada pode existir se não vibrar e nada pode vibrar se não estiver vivo, no
verdadeiro sentido da palavra. Pode-se dizer que não existe movimento num
corpo morto, que não há nele calor, mas não usamos peixe e carne de animais
abatidos como alimento? Não seria o homem beneficiado comendo-os se eles
não tivessem vida, porque só a vida ajuda a continuação da vida. Se estivessem
realmente mortos, se neles não mais existissem todas as propriedades que são
chamadas de vida, fariam mal em vez de fazer bem, o que vem mostrar que
embora digamos que estejam mortos, neles existe alguma vida e que a mudança
ocorrida é apenas uma questão de grau de vibração.
Quando uma fruta apodrece, ou quando uma flor murcha, ocorreu uma alteração
de vibrações. É maravilhoso observar uma flor ainda em botão e ver como cresce
dia a dia, como vibra de maneira diferente a cada momento do dia, até que chega
ao esplendor e começa a brilhar refletindo o sol. Além da cor e da forma,
podemos ver alguma coisa viva na flor, algo cintilante, o que pode ser visto
melhor quando a flor está no pé. Quando a flor chega ao auge do seu esplendor
começa a fenecer pouco a pouco, o que está de acordo com a lei das vibrações.
Mas mesmo depois das pétalas da flor caírem, ainda resta uma forma de vida.
Mesmo nas folhas secas da rosa há perfume e dessas folhas pode ser feito um
remédio eficaz. Esse remédio tem uma certa ação sobre o sangue e é também
um alimento para os intestinos. É altamente purificador. Na medicina grega
antiga a rosa era usada de muitas formas, por ser muito refrescante e agir sobre
o sangue, além de ser um bom fortificante.
Há grande diferença em comer vegetais frescos e vegetais em conserva, devido
à diferença de vibrações. Os vegetais frescos estão mais próximos da vida e os
vegetais em conserva têm menor influência sobre nós: estão mais afastados da
nossa vida. O mesmo acontece com todas as coisas. Quando começamos a ver
a vida sob este ponto de vista, percebemos que o nascimento e a morte são
simplesmente concepções nossas de vida, que não existe o que chamamos de
morte e que tudo está vivo. Há apenas alterações de uma forma para outra forma
que estão sujeitas à lei das vibrações. É uma diferença de ritmo.
Os diferentes estágios da vida são também fenômenos da vibração, como
infância, meninice, juventude e velhice e as diversas tendências surgidas
naturalmente desses estágios. A força e a fraqueza, as tendências para a ação
e o repouso vêm das diferentes velocidades das vibrações. Não há exagero em
dizer que atrás de todas as enfermidades existem vibrações incorretas
influenciando. As vibrações são causa e também são efeitos. É interessante
verificar que um cientista de São Francisco da Califórnia, Dr. Abrams, cujas
teorias e experiências na cura de doenças através de vibrações produzidas pela
eletricidade me atraiu, tivesse chegado à mesma conclusão e tentasse por todos
os meios introduzir esse método na medicina. Esse médico não viveu muito
tempo. Se tivesse vivido mais, teria conseguido coisas maravilhosas. Pelo seu
sistema, tentou descobrir a natureza e caráter das doenças e tratá-las de acordo
com a lei das vibrações. O desenvolvimento desse método talvez seja ainda
trabalho para muitos anos, mas o fato de tal método ter sido idealizado já foi um
passo à frente. Quanto maior o objetivo, mais tempo se leva para chegar a ele.
Muitas pessoas já estão sendo beneficiadas por esse sistema, embora ainda
possa levar bastante tempo até chegar à perfeição, o que fará dele “o meio” ideal
de tratamento, superando todos os outros.
CAPÍTULO IV
Vibrações (2)
Quando uma fruta, folha ou flor muda de cor, significa que começou a vibrar
numa velocidade diferente. Quando uma fruta muda de sabor, passando de
ácida para doce, ou de doce para amarga, houve também alteração na
velocidade da vibração. É bem conhecido o fato de que os diversos graus entre
o frio e o quente nada mais são do que alterações de vibrações, o que faz que
sintamos as coisas frias ou quentes. Também é devido à alteração das vibrações
que o perfume das flores e das frutas se modifica. Uma fruta madura tem cheiro
diferente de uma fruta verde. A qualidade da fruta também pode ser distinguida
pelo sentido do olfato através das vibrações, o que prova que tudo que
percebemos através dos cinco sentidos nos é inteligível e que somos capazes
de distinguir as coisas sentindo os diferentes graus de vibração por meio dos
nossos sentidos. A esse fenômeno da vibração damos nomes como: doce, ácido
ou salgado; verde, azul ou vermelho; frio, morno ou quente, porque a finalidade
de cada sentido é sentir o fenômeno das vibrações que se relaciona com ele,
isto é, os olhos vêem, os ouvidos ouvem e o nariz cheira.
Os cinco sentidos são diferentes na qualidade. Podemos ver uma coisa sob um
ponto de vista grosseiro ou sob um ponto de vista delicado. O ponto de vista
grosseiro é a forma, que exteriormente mostra diferença de percepção entre um
sentido e o outro. O ponto de vista delicado ou refinado é quando se torna distinto
o mecanismo da capacidade que existe dentro de cada órgão. A ciência só trata
do que está na parte externa e não entra na parte interna, que é mais etérea,
mais sutil e mais difícil de ser explicada. Quanto mais pensarmos nisso mais
vemos a habilidade do Criador.
Contudo, o sentido mais profundo existente em nós percebe essas vibrações de
uma maneira inteiramente diferente. Não as percebe da mesma maneira que
percebem os sentidos externos. Daí a pergunta: “O sentido interno, por exemplo,
percebe a cor como cor, ou percebe determinada sensação que pode ser medida
numericamente?” A resposta é: o sentido interior percebe uma cor, mas é o
sentido exterior que a distingue. Quanto aos números, quanto mais avançarmos
na vida interior menos nos valemos dos números, porque os números fazem
parte do mundo exterior. O mundo físico é mais preciso e assim podemos
calcular ou fazer uso dos números com mais facilidade, enquanto que os mundos
interiores são menos precisos, tornando os cálculos numéricos, que são úteis no
mundo exterior, mais difíceis de serem usados.
Por exemplo, quando cheiramos uma flor, ouvimos um som ou vemos uma cor,
distinguimos como cheiro o que é percebido pelo nariz, percebemos como som
o que é ouvido pelos ouvidos, ou percebemos como cor o que os olhos vêem,
mas o nosso sentido de percepção é um sentido que está por trás dos cinco
sentidos. Assim, tudo que percebemos exteriormente como sensação,
distinguimos como isso e aquilo, mas imediatamente aparece uma reação e essa
reação faz com que nosso sentido interior reflita o que foi percebido em todos os
órgãos dos sentidos e em todos os nervos do corpo, tocando cada átomo do
nosso ser. Assim sendo, não foram os ouvidos que ouviram, em sua reação o
som ecoou no cérebro, na boca, no peito, em todo o corpo. Se for um perfume,
tocou cada átomo do nosso corpo. Se foi uma cor, não só tocou nossos olhos
como espalhou sua influência em cada átomo de nosso ser.
Embora nossa primeira impressão seja ter ouvido uma música, visto um belo
quadro, ou provado um delicioso sabor, na realidade podemos dizer em termos
comuns que experimentamos cada sensação que nos vem, através de cada
átomo do nosso corpo. Se assim é, então as cores, os sabores, os perfumes e
os sons produzem um efeito preciso e especial na nossa saúde, na nossa
disposição e no nosso estado mental.
O sempre mutável estado do nosso corpo físico causado quer pelas sensações
exteriores quer por sua atividade especial, é que submete nossa vitalidade a
diferentes condições. Cada pessoa tem um ritmo diferente. Quando dizemos
“uma pessoa” referimo-nos a uma pessoa como geralmente compreendemos
que ela seja de acordo com nossa concepção, isto é, compreendemos uma
pessoa com um corpo, com uma mente e tendo uma alma. Contudo, muitos não
reconhecem que uma pessoa tenha uma mente e sim apenas um corpo. Muitos
também não reconhecem que uma pessoa tenha uma alma, só tem mente e
corpo, porque a velocidade das vibrações de sua mente também difere da
velocidade de sua alma. Realmente, cada plano do ser dessa pessoa tem um
ritmo diferente, embora todos os planos do seu ser estejam de certa forma
relacionados com o que está acontecendo com um desses planos. Em outras
palavras, todos os corpos internos da pessoa estão vibrando e estão
relacionados entre si, de acordo com a velocidade de suas vibrações. Quando
dizemos “estou cansado”, “sinto-me melhor” ou “sinto-me forte”, na realidade
significa que estamos vibrando a uma certa velocidade e é isso que nos levou a
dizer o que dissemos.
Assim sendo, surgem frequentemente sentimentos diferentes numa pessoa,
como alegria e depressão, que nela produzem grandes mudanças, causadas
pela velocidade em que vibra o corpo. A doença a que dão o nome de depressão,
que é uma depressão sem causa aparente, sem qualquer motivo, vem da
diminuição ou paralisação das vibrações dos centros internos. Indubitavelmente,
todos os sentimentos como pesar, espanto, paixão, humor, medo, apego, raiva,
alegria e indiferença, vêm das condições criadas pela velocidade das vibrações
ativando o mecanismo do corpo e fazendo o sangue circular nas veias, mas
esses sentimentos causam também mudanças de ritmo das vibrações do corpo.
Desta forma, os sentimentos afetam o corpo e o corpo afeta os sentimentos.
As vibrações podem ser alteradas, se compreendermos as vibrações da nossa
própria vida, ou por outra, do nosso próprio ser. Em primeiro lugar, devemos
estudar as vibrações do nosso corpo físico. A melhor maneira de compreender
essas vibrações e controlá-las é através do estudo e da compreensão da
respiração, pois as pulsações do coração, da cabeça e do corpo – das quais
depende a circulação do sangue – baseiam-se no ritmo da respiração. Em
segundo lugar, o próximo passo a ser dado é compreender o ritmo da mente. Os
que pensam “Vou fazer isto” e logo após decidem fazer outra coisa, ou que
começam a fazer uma coisa e passam para outra, demonstram que sua mente
não está no ritmo adequado.
Quando um homem ri e logo a seguir derrama lágrimas, quando num momento
está feliz e noutro está infeliz, sua mente não está no ritmo certo. Quem tem a
mente num ritmo correto é decidido, sabe o que diz, o que faz e o que pensa.
Mantem-se firme em suas decisões e cumpre a palavra empenhada. As pessoas
antigas davam grande importância à palavra do homem. Quando um homem dá
a sua palavra de honra, ela está dada, ele sabe o que está dizendo. Quando o
homem vacila, dá provas de que ainda não aprendeu a andar. Quando sua
mente vacila e ele pergunta “farei isso ou aquilo?” “Será que isto deve ser feito
ou não?”, ainda não adquiriu o ritmo correto. Tal pessoa sempre terá
dificuldades.
A música, quando tocada apenas tecnicamente correta, não pode produzir um
efeito mágico sobre os ouvidos. Atrai somente a curiosidade das pessoas. Se
elas não entenderem nada de música, é fácil satisfazê-las. Se na música há
qualquer qualidade que não depende da técnica e da forma criada pelo homem,
vamos encontrar essa qualidade no agrupamento harmonioso das ondas
vibratórias, no trabalho harmonioso dessas vibrações. É isso que atinge não só
a alma do ouvinte como também seu corpo físico. Produz um efeito harmonioso
sobre cada átomo do seu ser. Esse efeito penetra nos diferentes planos da vida,
tocando a parte mais profunda da alma.
Portanto, não é um punhado de cores numa tela que torna uma pintura
harmoniosa, embora isso ocorra frequentemente em nossos dias. Alguém pode
ter a idéia de jogar uma porção de cores num quadro e outra pessoa nos
apresentar o quadro dizendo: “Olhe e veja se consegue descobrir alguma coisa
neste quadro”. Quando as pessoas fazem mistério, a mente curiosa começa a
pensar: “Acho que devo dizer que é maravilhoso, embora não saiba do que se
trata”. Talvez depois de exclamar: “Que maravilha!”, tal pessoa volte para casa
com uma tremenda dor de cabeça, mas na presença dos outros disse que a
coisa era maravilhosa. O que realmente impressiona profundamente uma
pessoa é a mistura harmoniosa das cores, que não entre em choque com as
vibrações do corpo e da mente. Às vezes, uma pintura ou uma paisagem
realmente pintada de forma harmoniosa, transmitem uma sensação de paz
através do efeito das cores. Sabendo que a cor tem esse efeito, algumas
pessoas tentam combinações grosseiras e indesejáveis de cores na cura de
doentes, mas em vez de curá-los nada mais fizeram do que piorar o seu estado.
Por exemplo, há um método de refletir a luz num doente através de um vidro
colorido. É a maneira mais grosseira de usar as cores. Não é assim que as cores
produzem efeito nas pessoas. Para produzir um efeito harmonioso através das
cores, as cores devem ser usadas artisticamente. Dessa forma, serão de grande
utilidade na cura.
Pode-se perguntar se a harmonia perfeita das vibrações é obtida por meio da
cor e do som. E o que acontece no caso de uma pessoa cega ou surda?
Respondo que, embora existam pessoas atingidas pela perda de um dos
sentidos, como o sentido de enxergar ou ouvir, possuem elas outros sentidos
para poder experimentar o mundo dos sentidos. Se um surdo não puder ouvir
com os ouvidos, o efeito da conversa se fará sentir da mesma forma nos seus
ouvidos interiores.
CAPÍTULO V
Atmosfera
O pulso do espaço bate no mesmo ritmo daquilo com que está carregado e
chamamos a isso de atmosfera. O espaço em si não tem uma atmosfera. O
espaço é negativo, permitindo que seu pulso bata conforme o ritmo com que é
investido, e ao mesmo tempo é positivo porque, mais cedo ou mais tarde,
absorve e assimila tudo. Quando alguém diz que a atmosfera de um lugar é
calma ou excitante, simplesmente significa que a impressão de alguém que
carregou a atmosfera daquele lugar ainda perdura.
A atmosfera pode ser de duas espécies: a atmosfera da presença e a atmosfera
da ausência. Quando numa pessoa há uma transformação, a atmosfera se
modifica. Quando uma pessoa está sentada em meditação, quando está em
silêncio ou em repouso, a atmosfera é repousante. Quando está inquieta,
preocupada, aborrecida ou agitada, a atmosfera adquire o mesmo ritmo. O
motivo é que a atmosfera é feita de vibrações e sua substância-vida com que a
atmosfera é carregada tem o mesmo índice de vibrações da pessoa que está ali
presente.
A atmosfera criada por uma pessoa e por ela deixada num lugar, permanece
inalterável, embora com o tempo ela vá perdendo sua vitalidade, mas é difícil
acreditar quanto tempo uma atmosfera criada por alguém num determinado lugar
continua a vibrar. A atmosfera permanece muito mais tempo do que se pode
imaginar.
Não é só o homem que cria uma atmosfera: uma atmosfera é também criada no
homem. Um homem pacífico pode se sentir desconfortável num lugar onde haja
uma atmosfera inquietante e uma pessoa altamente irrequieta pode se sentir
calma numa atmosfera de paz. Os que se apercebem disso conseguem que a
atmosfera conte-lhes histórias. Alguém pode perguntar como uma pessoa pode
ler a atmosfera se ela nada mais é que vibração, mas a percepção das vibrações
é em si mesma a compreensão de uma linguagem, como acontece com um
músico para quem cada nota diz alguma coisa. Na mente do músico, a nota é
distinta, ele sabe que nota é, qual o acorde, qual o tema. Conhece seu
sentimento, sua natureza, seu caráter, seu sentido e seu efeito. Para quem não
é músico, a música pode ser reconfortante, curativa e calmante, mas para quem
compreende a música, ela é uma coisa viva, ela lhe fala e sua alma se comunica.
Da mesma maneira, quem percebe plenamente a atmosfera sabe tudo a seu
respeito.
Há uma outra maneira de ver este assunto, não só cada ser tem sua própria
atmosfera mas tudo que uma pessoa sente, pensa, diz e faz cria uma atmosfera.
Uma pessoa má criará uma atmosfera ruim; o piedoso criará uma atmosfera de
piedade; um cantor ao cantar, um artista ao representar, uma dançarina ao
dançar, um pintor ao pintar, criarão uma atmosfera expressiva de sua ação.
Todos os sentimentos como o humor, o pesar, a ira, a paixão, o espanto, o
apego, o medo, a indiferença – mostram seu caráter distinto na atmosfera que
criou. Ninguém será jamais capaz de criar uma falsa atmosfera, ou seja, uma
atmosfera diferente do próprio estado. Embora uma pessoa queira esconder
alguma coisa, sua atmosfera falará de seus sentimentos. Certa vez alguém
perguntou ao meu Mestre qual era o sinal de um santo e ele respondeu: “Nunca
julgue um santo pelo que diz ou faz, sinta sua atmosfera e ela lhe dirá se é um
santo ou não”. As pessoas não diferem muito em tamanho, mas a diferença dos
horizontes que suas atmosferas abrangem é tão grande que muitas vezes não
há possibilidade de comparações. Este é o segredo que está por trás da
personalidade dos sábios, santos e profetas, assim como atrás de seu trabalho
e influência no mundo.
Desde que deve haver alguma coisa que segure tudo que é significante, o que é
que retém ou mantém a atmosfera no espaço? É a capacidade. O espaço
oferece capacidade. Em outras palavras, no espaço uma capacidade é formada
de um elemento invisível aos nossos olhos mas suficientemente sólida para reter
dentro dela as vibrações. Isso se tornará mais claro se estudarmos o mistério do
telégrafo sem fio e da miragem. Por que o ar não dispersa os sons e palavras
faladas muitas milhas distantes? É verdade que as ondas do ar os levam a uma
certa distância, mas o que os retém? É a capacidade, é um delicado elemento
que os rodeia, não permitindo que eles se dissolvam, embora nossos ouvidos
geralmente não os ouçam no espaço. O mesmo acontece com o fenômeno da
miragem. No deserto alguém vê uma miragem, que nada mais é que um reflexo
sobre as ondas da luz de algo realmente existente.
A atmosfera é visível? Tudo que é inteligível é audível e visível no sentido mais
requintado dessas palavras. Nossos ouvidos podem não ouvir, mas podemos
sentir que estamos ouvindo; nossos olhos podem não ver, mas podemos sentir
que estamos vendo. O que é audível é visível e o que é visível também é audível,
ao mesmo tempo só é audível ou visível aos nossos sentidos. Se certa coisa
atrai nosso sentido visual, cria uma impressão nesse sentido e nosso sentido
auditivo não lhe presta a mínima atenção; se uma coisa atrai nosso sentido
auditivo, nosso sentido visual não tem nenhum interesse nisso. Isso porque dois
sentidos não podem experimentar uma coisa plenamente ao mesmo tempo.
Mesmo quando dois sentidos percebem uma coisa simultaneamente, o que
estão experimentando nessa ocasião não será uma experiência completa. Só a
experiência das coisas através de um sentido de cada vez é que pode
proporcionar satisfação. Deixando de lado a experiência completa através de
dois sentidos, não pensem que é exagero dizer que mesmo os dois olhos não
podem ver tão nitidamente como um olho só. Quando fechamos um olho para
ver uma coisa mais claramente, vêmo-la muito melhor, temos uma visão muito
mais completa daquilo que estamos olhando, porque uma experiência mais
completa necessita apenas de um raio de penetração, que revela a natureza, o
segredo e o mistério do objeto que estamos olhando. Um determinado sentido é
capaz de experimentar vibrações de acordo com sua própria capacidade e as
vibrações que atraem um determinado sentido ocupam-se desse sentido que as
experimenta; os outros sentidos experimentam a mesma coisa, mas
indiretamente, através do sentido que realmente a experimenta.
A atmosfera visível é chamada de aura. Os que não sentem suas vibrações às
vezes a vêem na forma de cores ou luz. Há pessoas totalmente sem evolução
que vêem auras pelo mesmo motivo que algumas pessoas muito pouco
evoluídas também se comunicam com os espíritos, o que realmente somente
pessoas evoluídas deveriam se aventurar. Mas foram feitas assim pela natureza.
O mesmo acontece com quem nunca treinou nada da técnica da arte e é capaz
de pintar um lindo quadro. Está na pessoa, é uma dádiva. Sua alma delicada e
seu temperamento nervoso é que são suscetíveis às vibrações mais refinadas.
A aura, portanto, pode ser chamada de atmosfera visível, ou a atmosfera pode
ser chamada de aura invisível. Assim como os diferentes graus de vibrações da
atmosfera têm uma influência especial em quem as percebe, as diferentes cores
da aura também têm um efeito especial nos que vêem a aura. Existem muitos
seres que ainda não despertaram para a percepção de uma atmosfera, para ver
uma aura, embora sintam isso na parte mais profunda de seu ser. Não podem
evitar.
Isso mostra-nos que existe um outro mundo além do mundo que nossos olhos
físicos podem ver e cujo som nossos ouvidos físicos podem ouvir, e que não está
até muito distante. Vivemos nele, sentímo-Io e somos por ele influenciados, quer
saibamos disso ou não. Esse é o mundo da atmosfera, que é mais delicado que
o mundo físico, embora num certo sentido seja também físico. É alguma coisa
que sentimos, algo que tocará nosso corpo; e embora nosso corpo não o
perceba, mesmo assim é por ela influenciado. A mente percebe-o mais
claramente. Se nos perguntarem a que plano pertence a atmosfera, podemos
apenas dizer que é uma ponte entre o plano físico e o plano mental. Está em
ambos os planos.
CAPÍTULO VI
Luz
A luz tem três aspectos principais: a fonte de toda luz, a luz perpétua e a luz no
sentido comum da palavra. O primeiro aspecto é a luz que percebemos como
inteligência, o segundo aspecto é a luz que vemos como o sol e o terceiro
aspecto é a luz que usamos na nossa vida diária, a luz de uma vela, de uma
lâmpada elétrica ou qualquer tipo de luz. A ciência moderna considera a
inteligência resultado da manifestação que se desenvolve gradualmente através
de um processo do qual o homem é a culminância, o homem que, comparado
com os outros seres vivos, mostra inteligência em sua plenitude. Da maneira
como compreendemos a palavra inteligência, ela não significa “a fonte da luz”,
exceto de uma forma muito limitada. A inteligência no seu estado original é algo
inteiramente diferente daquilo que compreendemos como inteligência.
A inteligência ainda pode ser dividida em três aspectos diferentes: inteligência
no seu estado original, inteligência no processo de desenvolvimento e
inteligência no sentido em que mais a usamos, como uma faculdade conhecida
do homem.
No seu primeiro ou principal aspecto, a inteligência é o Ser conhecido, o único
Ser; no segundo aspecto, inteligência não é o conhecido mas o conhecimento,
o conhecimento do ser; e no terceiro aspecto a inteligência se torna limitada
porque se mostra através de uma capacidade e essa capacidade é o coração do
homem. Colocando as coisas com mais propriedade, o primeiro aspecto pode
ser chamado de inteligência não-despertada, o segundo aspecto de inteligência
desperta e o terceiro aspecto de inteligência dividida e limitada.
Em todos os três aspectos, a inteligência é única e a mesma. No primeiro
aspecto é o único Ser, no segundo aspecto é o onisciente e no terceiro aspecto
é a mente, ou o que contém a mente. Um aspecto pode ser chamado de
inteligência de Deus, o outro aspecto de inteligência celestial e o terceiro aspecto
de inteligência humana. A origem da inteligência é a inteligência pura, a
inteligência de Deus, mas essa inteligência não é inteligente, torna-se inteligente,
ou por outra, começa a sentir sua existência. É como um homem que é
inteligente mas que quando está adormecido sua inteligência não é inteligente.
Só quando acorda é que sabe de sua existência. Esse é um outro aspecto da
inteligência.
O segundo aspecto da luz, a luz do sol, é feita da parte densa da inteligência
vibrante que se centralizou num lugar. Sua natureza de estar em perpétuo
movimento torna a luz brilhante. É a luz que se manifesta através de todas as
coisas como calor e luz. À luz do sol todas as coisas são visíveis e na ausência
do sol não vemos as coisas claramente. É também a luz do sol que se vê na lua
e é a mesma luz que as estrelas refletem. Se não houvesse a lua, toda a
manifestação seria reduzida a cinzas devido ao forte calor do sol.
Muitas vezes uma capacidade é criada para algo expressivo, algo que tem uma
ação forte e se essa capacidade não existisse tudo que estivesse ao seu redor
seria destruído até que ele mesmo fosse destruído. A lua, pois, é a capacidade
em que a luz mais forte do sol trabalha. Eis o motivo de ser tão refrescante
sentar-se à luz do luar. A lua recebe a luz do sol, queima-a e isso permite que o
horizonte, as esferas, fiquem iluminadas e ao mesmo tempo haja frescura. O
mesmo acontece com um indivíduo falante, o que gosta muito de falar: ficará
maluco se não tiver ninguém para ouvi-lo.
O terceiro aspecto é a luz de todas as coisas. Todas as coisas, cada objeto, tem
sua própria luz, de cores diferentes. Cada substância, como o ferro ou o ouro,
mostra sua luz através da radiação, mas também compartilha da luz do sol e
brilha de acordo com sua faculdade de participação.
Quando pensamos na luz em nossa vida, podemos novamente dividi-la em três
aspectos: primeiro aspecto, há a luz que nos deixa ver um objeto, a luz do sol ou
alguma outra forma de luz solar, como a luz de uma vela ou de uma lâmpada
elétrica. O segundo aspecto é a capacidade de nosso órgão visual, nossos olhos,
que enxergam o objeto. O terceiro aspecto é a radiação que pertence à
substância que se revela, como o fósforo ou o radium, ou muitos outros
elementos e substâncias químicas, que não precisam de outra luz e se mostram
através de sua própria radiação se estiverem num lugar escuro.
Tanto a luz do sol como outra qualquer forma de luz ajudam-nos a ver um objeto,
porque o objeto reflete a luz que permite vê-lo, mas também é verdade que um
objeto tem uma luz que lhe pertence. Portanto, se um objeto é visível não é
visível porque outra luz o faz aparecer, é por ter sua própria luz.
Podemos olhar este assunto sob um outro ponto de vista: todas as pessoas têm
uma certa dose de inteligência, mas cada um que as vê ou fala com elas adiciona
alguma coisa à inteligência ou tiram delas inteligência. E um terceiro aspecto é
que na luz da inteligência de algumas pessoas pode-se ver a vida mais
claramente. Não se trata de uma luz passageira, ela brilha da mesma forma que
a luz do sol que brilha na terra e nunca é diminuída.
Quem adiciona algo à inteligência de uma pessoa faz isso de duas formas
diferentes: uma forma é no momento que ilumina o coração de outra pessoa com
sua presença e outra forma é quando sua inteligência acende a inteligência de
outra pessoa. Isso não é feito intencionalmente, é um trabalho automático. Uma
pessoa inteligente dá luz a uma outra, é uma coisa lógica, se não fizer isso
sempre, fará muitas vezes. Ao dizer alguma coisa, pelo poder do olhar, ou pelo
grande magnetismo de sua presença, tal pessoa acende a luz de outra até um
certo ponto, se houver essa luz. Certa vez disse-me uma senhora: “Meu marido
mudou completamente desde o dia em que foi vê-lo” e eu respondi: “Estou muito
contente”. Algum tempo depois de eu ter deixado a cidade recebi uma carta
dizendo: “Meu marido voltou a ser o que era”.
Ouvimos, às vezes, certas pessoas dizerem: “Fulano confundiu minha mente”,
“Fulano me fez ficar louco”, “Fulano me fez ficar mais perplexo do que estava”.
O que acontece é que há pessoas que trazem consigo sombras ou nuvens que
impedem a luz de cair diretamente sobre a mente. Eis a razão por que a presença
de uma pessoa tola frequentemente causa estupefação.
CAPÍTULO VII
Inteligência
A inteligência em sua forma mais densa manifesta-se nas coisas e seres como
radiação. Do ponto de vista místico, não seria incorreto dizer que o frescor da
folha, a cor da flor, o brilho da pedra preciosa e a expressão fisionômica do
homem são a luz da inteligência em sua forma densa. Nenhum objeto pode ser
visível se não possuir radiação. Embora a luz do sol seja necessária para que
um objeto se torne mais visível aos nossos olhos, todo objeto é, por si mesmo,
radiante, emite radiação. Se não fosse radiante não poderia existir, não seria
visível. Se fizéssemos uma síntese de todas as coisas do mundo que separamos
pelo processo analítico e a que demos vários nomes, poderíamos dizer, com
toda segurança e certeza, que todas as coisas e seres são feitos de luz, ou que
todas as coisas e seres são manifestações da luz da inteligência.
E quanto ao sol, à lua e às estrelas? Em todos eles há inteligência. Se o planeta
que habitamos não tivesse inteligência, não poderia abrigar seres inteligentes,
pois o que é a natureza? A natureza é o desenvolvimento do planeta. O planeta
desenvolveu-se na natureza orgânica e culminou nos seres humanos, seres
inteligentes e, ainda assim, permanece como planeta.
Não há dúvida de que o que existe como uma capacidade é roubado da
inteligência pelo que está concebido nela. Por exemplo, o corpo é roubado de
sua inteligência pela mente e a mente é roubada de sua inteligência pela alma.
Quanto maior o poder mais ele absorve. Se o corpo é mais musculoso, denso,
ele naturalmente absorve o poder da mente e muito frequentemente uma pessoa
com um cérebro altamente desenvolvido não é muito espiritualizada porque seu
cérebro absorve a luz da alma. Porém, da mesma maneira, é natural que a alma,
que é a própria inteligência, roube a mente de sua inteligência e a mente, por
sua vez, roube o corpo de sua força física extra se ela é poderosa. É natural,
portanto, que a inteligência do planeta como um todo não se manifeste à vista.
Se ela pode ser vista, é na inteligência de um indivíduo, mas o trabalho coletivo
de inúmeras mentes como uma idéia única e a atividade do mundo inteiro numa
determinada direção, são governados pela inteligência do planeta. Falamos da
mentalidade de uma nação ou da mentalidade de uma raça e isso prova que a
inteligência do planeta exerce efeito sobre todos que vivem nele.
Nosso planeta tem uma característica peculiar, porque cada planeta tem um
certo grau de inteligência. Por exemplo, o fato de ainda existir guerras horríveis
nesta época da história da humanidade, no presente estágio da civilização e da
evolução humanas, em que talvez um entre mil indivíduos deseja a guerra, é
devido à influência do planeta que trabalha através das mentes dos que vivem
nele. É o segredo atrás da guerra e da paz. Não eram tolos os que adoravam o
sol e pregavam a adoração ao sol. Não eram ignorantes os que reconheceram
o que existe de sagrado no fogo e na chama, por que conseguiram ver a
inteligência até na densidade da forma. O sol é a fonte da inteligência de todos
os planetas, mas Deus é a verdadeira fonte da inteligência.
A forma mais elevada da inteligência é a que se manifesta no homem. A
inteligência começa a se manifestar no homem de forma similar, se não
quisermos dizer, numa forma exatamente igual à forma que pode ser chamada
de inteligência primitiva, a inteligência que existia antes da manifestação.
Pode-se distinguir três aspectos da inteligência humana: percepção, concepção
e assimilação. Um dos três aspectos, a percepção, é expressivo, o outro, a
concepção, é receptivo e o terceiro, a assimilação, é todo-poderoso. A percepção
pode ainda ser dividida em três aspectos: tudo que o homem percebe através
dos cinco sentidos, tudo que ele percebe independentemente do uso dos
sentidos, e tudo que sente e que não pode interpretar, mesmo para ele próprio,
numa forma inteligível.
A concepção também tem três aspectos: tudo que concebemos como
compreensão, tudo que é concebido e desenvolvido, e tudo que é concebido e
sentido da mesma maneira como foi concebido.
A assimilação é a forma mais elevada da inteligência, mais poderosa e perfeita,
pois é o poder da inteligência que assimila as coisas. Se colocarmos uma tinta,
uma cor qualquer numa garrafa d’água, a cor permanece porque a água dentro
da garrafa não tem o poder de assimilar, mas se pusermos a mesma tinta no
mar, o mar, mais cedo ou mais tarde, assimilará a cor da tinta. Isso prova que a
assimilação é o maior poder da inteligência.
Como podemos apressar a assimilação e torná-la mais completa? Pela
meditação e concentração? Deixando de lado a meditação e a concentração,
podemos conseguir isso se formos refletidos, atenciosos, profundos, receptivos,
sinceros e sérios. Uma das coisas mais difíceis é assimilar. Podemos ter muitos
amigos, mas é difícil encontrar um amigo em quem possamos confiar. Se durante
nossa existência tivermos conseguido encontrar um amigo, devemos ser muito
gratos por termos alguém que é capaz de guardar nosso segredo. Sem falar nas
pessoas comuns, mesmo reis e imperadores, que lidaram com milhares e
milhões de pessoas, tiveram grande dificuldade em achar uma pessoa em quem
pudessem confiar inteiramente, com quem pudessem contar. Consideravam-se
muito felizes quando isto acontecia. É o poder da assimilação que permite
guardar um segredo e ser digno de confiança. Aquele que possui o poder de
assimilar é o guardião do tesouro de todos que nele confiam. Esse é o ser
humano que chega ao estágio de Mestre.
CAPÍTULO VIII
A Lei do Ritmo
A lei do ritmo é uma grande lei oculta na natureza. Todas as formas são feitas
de acordo com a lei do ritmo. Todos os estados se manifestam à nossa visão
pela lei do ritmo. Assim, a criação não é meramente um fenômeno de vibração
sem restrição. Se o ritmo não existisse, se a lei do ritmo não existisse, não
teríamos formas distintas e estados inteligíveis. Não existe nenhum movimento
sem som, como também não existe som sem ritmo. Para mostrar o que é o ritmo,
não precisamos usar uma batuta do maestro e bater com ela marcando o ritmo
“um-dois”. Basta apenas movimentá-la. Se dividirmos o número um, teremos
dois. Se dobrarmos o número um teremos dois, o que prova que no um existe o
dois e que a dualidade vem da unidade.
Assim, pois, se olharmos o assunto sob um outro ponto de vista, verificaremos
que a dualidade, de fato, nada mais é do que unidade. Em outras palavras, dois
é um. O mais interessante é que quando vemos dois, cada um deles toma
imediatamente ante nossa visão uma posição especial e diferente. Isso é claro
no que se refere ao homem e à mulher, e também às nossas mãos, a direita e a
esquerda, cada mão tendo um poder especial e uma função determinada. O
mesmo acontece com o pé direito e o pé esquerdo, com uma função especial na
vida. O pé direito é distintamente diferente do pé esquerdo. A visão dos olhos
não é igual. Um olho é sempre melhor e mais forte que o outro, ou pelo menos
diferente do outro. Se essa diferença não existisse, os olhos não seriam um
instrumento apropriado para enxergar. Se não houvesse diferença entre o poder
e a força do lado esquerdo e do lado direito, o homem não poderia viver.
A causa dessa diferença é a dualidade. A dualidade é que mantém a vida em
tudo. O aspecto mais lindo desse fenômeno pode ser visto no ritmo musical.
Quando dizemos “um dois, um dois” compreendemos o porquê de se dar ênfase
ao um e pronunciar o dois como um eco, um reflexo, algo que responde ao um.
Suponhamos que não dizemos “um-dois” e apenas “um – um – um – um – um”
com a mesma ênfase. Não ficaríamos satisfeitos, não sentiríamos o ritmo até
que “um” fosse acentuado e depois se seguisse o “dois” ou outra coisa qualquer.
Aí sim seria perfeito. O mesmo poderemos notar no ato de andar. Andamos com
as duas pernas e se andássemos com uma perna só, faltaria algo no ritmo.
Tudo isso demonstra que o ritmo é uma lei oculta na natureza. O nascer e o pôr-
do-sol, o crescente e o minguante da lua, as alterações regulares das marés, o
início e término das estações do ano, mostram ritmo. O que faz os pássaros voar
é o ritmo. O que faz as criaturas andar também é o ritmo. Se nos aprofundarmos
mais na ciência do ritmo, verificaremos que o ritmo é que faz com que
determinada coisa seja feita de certa maneira. Se o que é feito é triangular,
quadrado, redondo, tem cinco pontas ou qualquer outra forma geométrica, o
motivo oculto que criou a forma foi o ritmo, o ritmo da força. O ritmo foi a causa
da criação de todas as coisas.
Formas harmoniosas são manifestações do ritmo correto. Formas
desarmoniosas são manifestações de desordem no ritmo. As cores azul, verde,
vermelha e amarela são diferentes e distintas pelo simples fato de que uma cor
vibra de acordo com determinado ritmo. Esse ritmo é que dá às cores a
aparência que nos permite distingui-las.
A lei do ritmo está oculta atrás do tempo bom e do tempo mau. A influência do
bom e do mau tempo agindo sobre os seres vivos cria um efeito análogo em
suas vidas. Bom tempo causa bom ritmo nos seres vivos. Mau tempo causa um
efeito indesejável na sua saúde. Não seria, pois, exagero dizer – como os antigos
Iogues – que o nascimento e a morte e o tempo limitado que separa o nascimento
da morte, são o preenchimento de um certo e determinado ritmo. Se avançarmos
um pouco mais na investigação dessa idéia, constataremos – como os antigos
Iogues – que se controlarmos esse ritmo poderemos prolongar nossas vidas, e
se negligenciarmos esse ritmo poderemos também encurtá-las.
Por que motivo a música, que tanto realça o ritmo, dá vontade de dançar? Até
os cavalos começam a se mover quando ouvem o ritmo da banda tocando diante
da estrebaria. Até os soldados mais deprimidos e desencorajados sentem-se
encorajados quando ouvem o ritmo enfático de uma marcha tocada pela banda
militar. Um bebê acalma-se quando a mãe lhe acaricia as costas com tapinhas.
Sem saber, instintivamente, transmite ritmo ao corpo do bebê. Acenando com a
mão, damos ao amigo que parte um ritmo contra a tristeza e desespero da
partida, desejando que ele se mantenha dentro do ritmo em todos os planos de
sua vida.
O que nos causa repulsa ou nos atrai numa pessoa é quase sempre seu ritmo.
Se um homem é rítmico, sua influência é calmante. Quem está fora do ritmo
abate o ânimo de todo mundo. Já não ouviram falar de uma empregada que
muitas vezes comenta “sempre que vejo a cozinheira sinto-me deprimida?”
Por que razão o ritmo tem tanta influência sobre nós? Porque nós próprios somos
ritmo. O bater do nosso coração, as pulsações do pulso e do cérebro, nossa
circulação sanguínea, o trabalho do mecanismo do nosso corpo, tudo é ritmo.
Quando esse ritmo não mais se processa, surgem o desconforto, o desespero e
o desaponto.
Se olharmos este assunto sob o ponto de vista simbólico, notamos que nossos
lucros e perdas, sucessos e fracassos, têm muito a ver com o ritmo com que
procuramos nossa motivação na vida. É uma verdade incontestável que quando
alguém não toma cuidado com o ritmo, com o que faz correta ou incorretamente,
com o que faz de bom ou de mau, em ambos os casos um ritmo errado resultará
em fracasso, porque o ritmo não é uma lei à qual só a natureza está sujeita. O
homem também está sujeito à lei do ritmo. Ritmo é algo que mantém as coisas
devidamente equilibradas. Ritmo dá às coisas e aos seres a força de continuar
vivendo e progredindo.
Para o conhecimento do ritmo é necessário desenvolver o senso do ritmo.
Quando temos uma dor, como passamos a notar o ritmo! Isso prova que
instintivamente conhecemos o efeito do ritmo. Por exemplo, às vezes uma
congestão causa certa doença, mas o que é congestão e qual é o seu resultado?
Congestão é algo que paralisa o ritmo. O ritmo com que o sangue estava
circulando cessa devido à congestão. Esse o motivo de surgir a doença. Se
levarmos uma vida regular, manteremos o ritmo em tudo que fazemos. Quem
leva vida irregular sempre se sentirá perdido, porque não conseguirá alcançar
coisa alguma por falta de ritmo.
Ritmo é um grande mistério. O senso do ritmo é a coisa que mais devemos
desenvolver na vida. É mais importante que qualquer outra coisa. Se alguém
precisar explicar o que é ritmo correto na ação e no repouso, a vida no Ocidente
não seria um bom exemplo pois, sob o ponto de vista de ritmo e equilíbrio, na
vida Ocidental há demasiada atividade. Nesta parte do mundo há tanta atividade
que é difícil a qualquer ser humano manter uma vida regular. O péssimo efeito
que essa vida acarreta faz-se sentir incessantemente. O povo está muito
absorvido com esse tipo de vida e não compreende até que ponto sofre devido
aos seus efeitos maléficos. Entretanto, chegará um dia em que as pessoas que
pensam começarão a compreender que esse problema vem sendo
negligenciado em demasia. A causa? A vida de competição. Todos fazem as
coisas não para seu próprio prazer ou prazer de Deus e sim para competir com
os outros.
A lei do ritmo governa quatro ações do homem: o ritmo correto ou incorreto no
sentir, o ritmo certo ou errado no pensar, o ritmo correto e incorreto no falar e o
ritmo certo e errado no agir. Quer o ódio, quer o amor, se não forem mantidos
dentro do ritmo, não terão sucesso. Não apenas um pensamento maldoso, mas
até mesmo um bom pensamento, serão um fracasso se não tiverem ritmo. Os
falsos pronunciamentos e os pronunciamentos verdadeiros serão fatais se não
tiverem ritmo. Uma ação errada ou uma ação correta, se não tiverem ritmo, não
se concretizarão.
Quando lidamos com uma pessoa errada, até o que fazemos certo muitas vezes
se transforma em coisa errada. Por exemplo, quando dizemos a alguém que está
irado e numa grande discussão: “Você está agindo mal”, não estamos lhe
transmitindo um bom pensamento e sim dando mais combustível para lutar
também contra nós. Quantas vezes observamos que, quando duas pessoas
discutem e uma terceira se dirige a elas com as melhores intenções, as duas se
voltam contra a terceira. O resultado é que haverá três pessoas discutindo ao
mesmo tempo.
Cada plano do ser humano depende dos outros planos. Por exemplo, se o corpo
perder o ritmo, algo de mal acontecerá com a mente. Se a mente sai do ritmo, o
corpo sofre. Se o coração sair do ritmo, a mente ficará perplexa. Se o ritmo da
alma pára, tudo irá mal. É uma afirmativa extremista dizer que a virtude do
pecador é pecado e o pecado do virtuoso é virtude.
O ritmo da alma é influenciado pela mente e pela ação. A alma não possui um
ritmo próprio. Num sentido mais elevado, a alma é pura de tudo que é distinguível
e divisível. Pode-se perguntar: como pode acontecer o ritmo da alma se perder?
Se vemos nosso amigo numa grande tristeza, também ficamos tristes. Não
estamos possuídos de tristeza e sim nos sentimos entristecidos porque nosso
amigo está triste. Sua tristeza reflete-se sobre nós. A alma não está sujeita a um
ritmo certo ou errado, mas um ritmo certo ou errado pode ser refletido na alma.
Por exemplo, quando alguém diz alguma coisa feia, o feio está na parte externa
da pessoa. E por que se sente ela desconfortável ou sente essa fealdade?
Porque a feiúra está em frente de seus olhos e na sua mente, como acontece
quando ficamos em frente de um espelho. Nossa imagem não está esculpida no
espelho, está apenas refletida no espelho. Ali ficará enquanto estivermos
defronte do espelho. Da mesma forma, a alma pode experimentar miséria ou
infelicidade, um ritmo correto ou errado, mas quando tanto a miséria como a
infelicidade forem removidas, a alma se sentirá livre novamente.
Para que condições perfeitas sejam mantidas na vida, é necessário que cada um
de nós se torne mestre do ritmo.
CAPÍTULO IX
Os Aspectos da Natureza:
Triplo, Dual e Único
Em todas as eras da humanidade os profundos pensadores reconheceram o
aspecto triplo da natureza. Os Mestres deram a esses três aspectos nomes
diferentes, de acordo com a terminologia de suas respectivas religiões. Deram-
lhes também uma interpretação condizente com a época e o lugar. Rastreando
a idéia desses três aspectos, descobrimos que ela já existia entre os hindus nos
tempos da antiguidade. Chamavam os três aspectos de “Trimurti”.
Personificavam os três aspectos dando-lhes três personalidades: Brahma, o
Criador, Vishnu, o Sustentador, e Maheish ou Shiva, o Destruidor ou Assimilador.
Essa idéia não se aplicava só a Deus. Tudo na natureza mostra esses três
aspectos. Por exemplo: há o fogo, o combustível que alimenta o fogo e o ar que
sopra e apaga a chama.
Em todas as coisas e seres, em suas ações e causas, esses três aspectos
podem ser vistos a todos os instantes do dia. Todo objeto apresenta esses três
aspectos, embora talvez numa determinada coisa um aspecto seja mais
significativo que outro. Os três aspectos também estão presentes em cada
indivíduo. Podemos ver esses três aspectos em tudo que fazemos. Pensar é a
ação criativa, recordar é a ação sustentadora e esquecer é a terceira ação, a
ação da assimilação. A assimilação de alguma coisa é, de certa forma, sua
completa destruição. O que é assimilado torna-se outra coisa, tem um nome
diferente, não é mais a mesma coisa.
Há a ação de esquecer. Às vezes uma pessoa esqueceu-se de alguma coisa,
mas armazenou-a na sua mente subconscientemente. Diz: “Esqueci”, mas
quando tenta recordar, o que havia esquecido salta de sua memória, o que prova
que não foi assimilado, embora tenha sido esquecido. Essa é uma forma ligeira
de assimilar, enquanto que a verdadeira assimilação é esquecer completamente
uma determinada coisa. Esquecer não é tão fácil como em geral se imagina. É
fácil dizer aos outros: “Esqueça”, mas na realidade é muito difícil esquecer
alguma coisa, especialmente aquilo que mais queremos esquecer.
Certa vez alguém me fez uma visita e me disse: “Tenho somente uma pergunta
a lhe fazer: Reencontraremos realmente os que amamos e perdemos?”
Respondi-lhe: “É verdade, encontraremos os que amamos e também os que
odiamos”. A pessoa ficou muito admirada. Estava pronta para rever os que tinha
amado, mas não estava disposta a rever os que tinha odiado. É um fato:
lembramo-nos quer dos que gostamos de recordar quer dos que gostaríamos de
esquecer.
Todos são capazes de realizar essas três ações, embora alguns pareçam mais
inclinados a uma dessas ações que às outras. A habilidade do pássaro para
construir seu ninho, o amor da galinha que alimenta seus pintos e a fúria do leão
em destruir vidas, são demonstrações da existência desses três aspectos,
sempre em atividade na natureza.
Alguns indivíduos têm visto esses três aspectos sob uma luz diferente, isto é,
como a fonte de todas as coisas, como o que Deus criou e como o que se tornou
objeto por Ele criado. Em termos religiosos, chamaram esse aspecto triplo de
Trindade, personificando-a como o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esses três
aspectos existem não só em todas as coisas como em todo ser. Em cada ser
existe uma parte que significa a fonte, a meta de todas as coisas. Cada pessoa
representa o que já fez e cada um representa também aquilo que passou a ser.
Pode-se ver essas três coisas em todos. Cada pessoa mostra a fonte mais
pronunciadamente em sua natureza e caráter, ou mostra o que fez para ser o
que é, ou ainda mostra aquilo que passou a ser. Esses três aspectos podem ser
chamados de Deus, homem e o Ser Divino.
Se analisarmos este assunto sob um outro ângulo, notamos que os três aspectos
da luz trabalham no ato de ver, ou a luz que vê, a radiação do objeto que é visto,
e a luz do sol que cai sobre o objeto, tornando-o claro à nossa visão. Se
analisarmos este assunto sob o ponto de vista mental, podemos novamente
distinguir três aspectos: o conhecedor, o conhecimento e a faculdade de
conhecer. São esses três aspectos que resultam na ação de conhecer. Quando
olhamos este assunto sob a luz do amor, vêmo-lo, como disseram os Sufis de
todos os tempos, como o amor, aquele que ama e o bem-amado.
O fato mais interessante e que emerge do estudo desses três aspectos, é que
eles existem em cada coisa, em cada ser e em cada condição, e que sem eles
nada poderia existir. Se ao estudarmos esses três aspectos continuarmos a vê-
los somente como três, não lograremos alcançar seu segredo, mas se
aprendermos a ver os três aspectos como um único e mesmo aspecto,
lucraremos com a observação desses três aspectos distintos.
Quando observamos o aspecto dual da natureza, verificamos que ele é ainda
mais importante. O aspecto dual deve também ser visto em todas as coisas e
em cada ser, por exemplo: nos dois lados, na direita e na esquerda, na cabeça
e nos pés, no topo e na base, nas duas extremidades dos pares opostos. O
aspecto dual se manifesta à nossa visão ao vermos o sol e a lua, quando vemos
os aspectos macho e fêmea da natureza e quando vemos o bom e o que não é
bom, quando sentimos alegria e tristeza, quando compreendemos que há
nascimento e morte. Aí então sabemos o que deve ser conhecido sobre o
aspecto dual da natureza. A terra e a água, o acima e o abaixo, tudo na natureza
mostra distintamente dois aspectos opostos ou contrários.
Além disso, há no ser humano qualidades opostas, quer as chamemos de macho
e fêmea, positivo ou negativo, ou delicadeza e grosseria. Nada pode existir sem
as qualidades opostas. Além disso, quanto maior for o poder de uma pessoa
numa qualidade, maior será a capacidade oposta. Em outras palavras, quanto
mais alto estiver uma pessoa, mais fundo será o espaço onde vai cair.
Há uma qualidade oculta e há uma qualidade que se manifesta. Nós
reconhecemos o que está manifestado e não vemos o que está oculto. Há o
avanço e há o retrocesso, há o sucesso e o fracasso, há a luz e a escuridão, há
a alegria e a tristeza, há o nascimento e a morte. Todas as coisas que
conhecemos, sentimos e percebemos têm seus opostos. A qualidade oposta é
que cria o equilíbrio. O mundo não existiria se não houvesse água e terra. Todas
as coisas e todos os seres necessitam dessas duas qualidades opostas ou
contrárias para existir, agir e preencher seu objetivo na vida, pois cada qualidade
é incompleta sem a outra. Nenhum homem tem personalidade completa se não
tiver um pouco de toque de delicadeza que faz parte da natureza feminina. A
mulher só é completa em seu caráter quando há um pequeno toque da natureza
masculina.
Falemos agora do caráter único da natureza. Através da penetração profunda da
natureza, descobrimos que a criação é a mesma criação do Criador, que a fonte
é a mesma coisa que a meta e que dois apenas significam um. Há duas
extremidades numa linha, mas a linha é uma. Essa unicidade manifesta-se em
todas as coisas, embora raramente o homem dispense um pensamento a esse
assunto. Essa manifestação assombrosa, esse mundo de variedade é tão
surpreendente, é para nós tão confuso e absorvente, que dificilmente arranjamos
tempo para apreciar esse fenômeno maravilhoso; como um único e mesmo Ser
mostra-se como é até no mundo da variedade. Não existem dois rostos iguais,
não há dois frutos inteiramente iguais, não existem duas folhas iguais e nunca
há duas flores idênticas. Se a penetração do homem for muito profunda,
descobrirá que até os objetos por ele feitos são de alguma forma diferentes.
Cada ser tem peculiaridade própria e não pode ser comparado com outro ser,
porque cada ser é um ser único. Se o homem é bom, não há nenhum outro cuja
bondade seja igual à dele. Se é mau, não há outro exatamente igual a ele. O
homem é um único ser, singular, provando aos que estão com os olhos abertos
que só existe um único Ser.
CAPÍTULO X
O Espírito do Lado de Dentro
e do Lado de Fora
O espírito de todas as coisas e de todos os seres está tanto do lado de dentro
como do lado de fora. Um metal, uma pedra, uma fruta ou uma flor, todas as
coisas têm dentro de si seu espírito, embora numa forma oculta. O espírito
continua a existir mesmo depois que a forma em que se achava deixou
aparentemente de viver. A madeira da árvore-sândalo conserva a essência do
sândalo mesmo depois de seca. As cinzas das pérolas conservam a sua
essência tão poderosa. Uma centelha de fogo está oculta na pedra que é fria.
Na fruta há uma semente que contém sua essência. Em alguns frutos há um
espaço, um vácuo, que não é desprovido de espírito.
Poucos são os capazes de encontrar espírito no vácuo, mas no vácuo pode ser
observado um fenômeno. Por exemplo, no vácuo de uma maçã se encontra a
essência da fruta. Não é, pois, fruto da imaginação quando se diz que os povos
antigos acreditavam no espírito das árvores e plantas, no espírito das montanhas
e colinas, pois não existe nada que não tenha espírito, embora essa parte do
objeto – o espírito – esteja velada e não possamos vê-la. Vemos apenas a parte
exterior do objeto, mas há da mesma maneira um espírito oculto. Se quisermos
seguir o rastro do espírito, um dia o encontraremos.
As qualidades das coisas devem ser encontradas no seu espírito e nunca nas
próprias coisas. Por saberem disso, os médicos dos tempos antigos tentavam
extrair a essência de certas coisas por meio de processos como esmagá-las,
queimá-las e muitas vezes lavá-las. Conseguiam tirar o espírito, ou a essência,
das coisas. Esse espírito ou essência se tornava mil vezes mais potente que a
própria coisa da qual era extraído. Os que estão familiarizados com a alquimia
sabem como extrair a parte viva e oculta de dentro de cada substância, de cada
coisa e, de certa forma, até de suas essências. Quando a essência é extraída,
colhe-se todos os benefícios que podem ser tirados da coisa que a continha.
Os alquimistas, em determinada época, usaram um processo para produzir metal
das ervas. Usaram também um outro processo pelo qual extraíram a essência
das flores, de tal maneira que uma gota da essência espalhava seu perfume a
grandes distâncias. Parece que tal arte desapareceu. No entanto, aprendemos
dela que há um espírito em tudo que existe e que esse espírito possui todas as
qualidades que não são mostradas em seu exterior.
Os astrônomos chamam os planetas conhecidos de acomodações, de mundos.
Os cientistas acham que o espaço contém certas substâncias conhecidas. Mas
se há uma fonte de vida, não pode haver um espaço vazio, deve haver vida. E
há vida. O espaço não está apenas cheio de substâncias, está também cheio de
espírito. Em outras palavras, a vida é uma e a vida representa muitas vidas.
Assim, não há só uma vida no espaço, há muitas vidas. Como nossos sentidos
são muito limitados e por isso não podemos ver além de certa distância e como
não podemos ouvir nada além do que nossos ouvidos permitem, nossos sentidos
não podem perceber todas as coisas e todos os seres. Mas não é por isso que
não existem. Os que conseguiram ver ou perceber essas coisas e seres,
descrevem-nos como lendas e os chamam de fadas, espíritos, djins e muitos
outros nomes. Os artistas também ajudaram o homem a ter uma certa idéia
desses seres, mas isso não quer dizer que seja tudo fruto de imaginação e que
nada existe senão aquilo que podemos perceber, por meio de nossos órgãos
sensoriais. As coisas se mostram ao homem com sua própria luz. Nossos olhos
podem perceber certas formas, mas há outras formas que nossos olhos não
podem ver, o que não significa que não existam formas além das que podemos
ver com nossos olhos.
Idéias como existência de um outro mundo e de planos diferentes são ensinadas
pelos filósofos para dar às pessoas uma noção do mundo interior, mas a verdade
é que não existe uma polegada no espaço em que não haja seres, seres com
uma forma, embora numa forma que nossa visão física limitada não possa ver.
A razão é que a luz à qual se mostra um objeto ou uma forma é mais fraca nessas
outras formas, ou por outra, a luz é mais clara à nossa percepção interior e é
mais fraca à nossa visão exterior.
O que vemos diante dos nossos olhos não é tão nítido como as coisas que vemos
em nossos pensamentos simplesmente porque a esfera do pensamento é
diferente. Pertence a uma dimensão diferente. Para nós, os pensamentos são
mais claros que o que vemos com os olhos, porque vemos nossos pensamentos
detalhadamente e cada detalhe é nítido, enquanto que o que vemos com os
olhos em grande parte é apenas um contorno. Esse é o motivo de uma pessoa
poder idealizar mais facilmente uma outra à distância, porque os olhos do
coração podem ver muito mais claramente que os olhos físicos. Naturalmente,
quando estamos pensando e vendo ao mesmo tempo, nem o que vemos nem o
que pensamos é claro.
O que torna o homem limitado e priva-o da visão dos objetos e seres do mundo
invisível? Em primeiro lugar, o mundo invisível é um nome inventado por
conveniência própria. O mundo invisível é o mundo visível e o mundo visível é o
mundo invisível. O chamado outro mundo é o mesmo mundo em que estamos.
Este mundo é o mesmo outro mundo, só que está velado aos nossos olhos e por
isso dizemos que é um próximo passo e o chamamos de mundo invisível. Se o
homem é capaz de ver o mundo visível, é também capaz de observar o mundo
invisível se primeiramente passar a ver e observar seu próprio mundo invisível.
Uma pessoa não observa o mundo invisível porque está tão acostumada a
observar apenas o que vê diante de si, que não vê mais nada. Nunca se volta
para o seu interior para ver o que existe dentro de si.
Os que já despertaram dentro de si a compaixão, os dotados de belos
sentimentos, os que possuem pensamentos profundos, aquelas pessoas cuja
imaginação alcança altas esferas, nunca poderão negar o fato que o pensamento
pode chegar muito além dos limites da terra e da água e que os sentimentos são
refletidos a enormes distâncias. Duas almas podem se comunicar entre si onde
quer que estejam, num piscar de olhos. Se isso é verdade, então o outro mundo
não é muito longe. O mundo invisível não está submerso, está aqui diante de
nós. Vivemos, nos movemos e temos nossa vida nele.
Então não saímos daqui depois da morte? Pensar que existe um outro mundo é
um pensamento poético, é uma bonita fantasia, mas não somos nós mesmos um
mundo? Cada experiência nova é um outro mundo. Além disso, cada dia é um
novo mundo. Não é preciso morrer para ver o outro mundo: cada nova
experiência cria um novo mundo em nossas vidas. A primeira coisa a fazer para
ter uma visão profunda do mundo invisível, é abrir a visão para ver o ser invisível
que está dentro de nós. Em outras palavras, abrir o terceiro olho, como é
chamado na terminologia esotérica. Por que o nome terceiro olho? Porque o
terceiro olho não é formado de dois olhos, é um olho só, é a própria visão.
Precisamos dos dois olhos para ver externamente, mas para ver internamente
precisamos apenas de um olho, o terceiro olho, a visão verdadeira.
No mundo invisível nós, os seres humanos, somos tão delicados como os seres
invisíveis. No mundo exterior somos tão densos como os seres visíveis. Quando
estamos conscientes da parte física do nosso ser, quando nos identificamos com
ela, naturalmente a outra parte do nosso ser que é invisível e semelhante a todos
os seres invisíveis, não existe para nós, mas isso não significa que não somos
seres invisíveis. Somos de qualquer maneira seres invisíveis. A sutileza da
natureza humana, a percepção refinada, o sentimento profundo, a imaginação
elevada, tudo isso não é invisível e no entanto não é o nosso próprio ser? Nosso
ser se eleva mais alto que a altitude a que chegam os pássaros. Nosso ser é
mais delicado que uma mariposa e mais brilhante que a própria chama. Qualquer
coisa para ser visível aos olhos humanos precisa estar sob a seguinte condição:
que sua forma tenha um certo grau de radiação, de fulgor. Se não for
suficientemente brilhante ou se sua radiação for de um caráter diferente, não
será vista pelo olho humano. Mas isso não significa que aquilo que os olhos não
podem ver um ser humano não possa ver, porque o olho verdadeiro é o ser. É
por isso que quando o homem fala de si diz “Eu”, “Eu Sou”.
Não é preciso desenvolver a introspecção na natureza para experimentar o
fenômeno de um mundo mais refinado. Devemos usar nossos próprios olhos
para ver e perceber por meio da introspecção, para viver uma vida mais plena,
uma vida de maior perfeição.
CAPÍTULO XI
Espírito e Matéria (1)
Quando conversamos, usamos muitas vezes as palavras espírito e matéria. O
significado dessas palavras, entretanto, não é o mesmo para todos. Alguns
acham que “espírito é uma coisa, matéria é outra, nem a matéria é espírito nem
o espírito é matéria”. São pessoas que se inclinam para a religião. Outra pessoa,
um materialista, diz que “não existe tal coisa chamada espírito, tudo que existe
é matéria” e ainda há uma terceira que diz: “não mencione a palavra matéria
porque não existe. É pura ilusão, o que existe é o espírito.”
Somos livres para acreditar no que quisermos, mas quando raciocinamos e
estudamos profundamente a vida vemos as coisas de uma forma completamente
diferente. O gelo e a água são duas coisas e, no entanto, em sua verdadeira
natureza são uma só coisa. O mesmo acontece com o espírito e a matéria. A
água transforma-se em gelo por um determinado período, mas quando o gelo se
derrete transforma-se em água. Portanto, a matéria é uma fase passageira do
espírito que não se derrete logo, como o gelo em água. Assim, pois, o homem
duvida que a matéria, que tem milhares de formas, realmente se transforme em
espírito. Na realidade, a matéria vem do espírito. A matéria, em sua verdadeira
natureza, é espírito. A matéria é um processo do espírito, que se materializou e
se tornou inteligível à nossa percepção, escondendo-se o espírito na matéria.
Assim, aos olhos daqueles que olham a vida superficialmente, a existência do
espírito não é visível.
Está escrito no Corão: “Tudo vem de Deus e a Ele retorna”. Se usarmos palavras
filosóficas, podemos simplesmente dizer que tudo vem do espírito e para ele
volta. Nenhuma substância pode existir sem o espírito. Embora exista luta entre
o espírito e a substância, embora haja oposição entre eles, nenhuma substância
jamais poderá existir sem o espírito. Através dessa luta entre a substância e o
espírito, a substância resistirá ao espírito e o expulsará, resistindo, cedendo ou
sendo diminuída pelo poder do espírito. Chegará, porém, um dia em que
diminuirá. Em outras palavras, não há montanha que um dia não seja
esmigalhada.
O que significa a morte para o espírito? O espírito nada é para a matéria e para
o espírito a matéria também nada significa, não lhe faz falta porque é auto-
suficiente. O espírito sente falta da matéria somente em sua condição ativa
limitada. Quando o espírito está atuando num processo de manifestação
necessita então de um invólucro e através dele experimenta a vida de maneira
limitada, mas em sua verdadeira natureza o espírito é auto-suficiente, não
precisa de nenhuma experiência, tem em si toda a experiência, todo o
conhecimento, nada deseja. Podemos chamar a matéria de positiva e o espírito
de negativo. Há um motivo para cada caso. Ao chamarmos a matéria de positiva
estamos certos, ela é como um retrato – o espírito está atrás dele. Estamos
sempre inclinados a chamar o retrato de parte positiva e não o que está por
detrás dele, mas se chamarmos o espírito de positivo também estamos certos,
porque a matéria veio do espírito e o espírito algum dia a consumirá.
É através da vibração, do movimento, que o espírito se transforma em matéria.
Os hindus chamam o espírito de “Nada” e juntamente com essa palavra sempre
usam a palavra “Brahma”, que significa vibração de Deus. Nunca chamam de
vibração e sim de vibração divina – “Nada Brahma”. Pela vibração o espírito
chega a duas experiências: primeiro – torna-se audível e a seguir visível. Na
Bíblia lê-se uma alusão a isso: “Primeiro havia o Verbo e o Verbo era Deus”, e
depois veio a luz, a vida visível. Isto significa que a primeira experiência do
espírito é a vida que lhe é audível e a outra experiência é a vida que lhe é visível.
Falemos agora do espírito. O que é e como o definimos? A resposta é: se
definirmos o espírito ele não pode ser espírito, ou por outra, o espírito que pode
ser definido não pode ser espírito. A melhor definição de espírito é “o que não é
matéria”. Sem dúvida, os químicos vêm usando a palavra espírito para designar
a essência extraída de alguma coisa. Simbolicamente a significação é a mesma,
mas traz ao mesmo tempo o espírito à matéria. Os químicos apanham um vidro
de essência e dizem “Eis aqui o espírito”. Simbolicamente estão certos, mas, na
realidade, o espírito significa alguma coisa que nossos sentidos não podem
perceber, no sentido de que o que é essência é espírito mas o que é percebido
não pode ser espírito.
Os espiritualistas dão nomes às almas que desaparecem. Simbolicamente
falando, é verdade que o corpo, que representava a parte material do homem,
desapareceu e a personalidade desapareceu com o espírito. Enquanto é
perceptível, tem a personalidade suas qualidades particulares e ainda retém sua
individualidade e não pode ser espírito.
O espírito pode ser melhor definido como inteligência pura. Ocupados com este
mundo de ilusão, retemos em nossas mentes impressões e conhecimentos do
mundo material e nem sempre somos capazes de experimentar esta parte do
nosso ser que é a inteligência pura. A palavra inteligência é por nós usada num
sentido inteiramente diferente. Chamamos uma pessoa inteligente quando ela é
hábil, esperta. A pura inteligência nada tem a ver com habilidade e tão pouco
podemos chamar a inteligência pura de faculdade de saber. Está acima disso
tudo. Conhecemo-la como uma faculdade, mas é, na realidade, o espírito
propriamente dito. A ciência moderna, entretanto, não aceita este argumento,
porque a idéia do cientista atual é que o que chamamos de inteligência é apenas
uma consequência, um resultado do espírito, do espírito que evoluiu milhares de
anos através da forma de inteligência. Ele traça a origem da inteligência na
matéria. O místico, a exemplo do que já sabiam os antigos profetas, santos,
sábios e místicos, reconhece que se trata do espírito, o qual, por meio de uma
ação gradativa, se tornou mais denso e se materializou no que chamamos de
matéria ou substância e, através dessa substância, revela-se gradativamente,
pois não pode parar. O espírito é aprisionado numa densidade e gradativamente
se escapa por um processo que leva milhares de anos. No homem desenvolve-
se como inteligência.
Muitos biologistas têm dito que os animais não possuem mente. É uma diferença
de palavras apenas. A mente é somente um veículo da inteligência. É a
inteligência que se manifestou como matéria e é a mesma inteligência que
gradativamente se desenvolveu, através de aspectos diferentes, numa
inteligência mais clara e mais pura. Assim, as criaturas inferiores podem, talvez,
não ter a espécie de mente que o cientista vê no homem, mas sim um veículo
de inteligência. Podemos encontrar inteligência não somente em animais e
pássaros mas também na substância.
Não é apenas uma ação química o fato de uma flor murchar na mão de uma
pessoa e conservar-se viva na mão de outra. Não é uma ação automática da
planta crescer sob os cuidados de uma determinada pessoa e a mesma planta
deixar de crescer com outra pessoa. Se estudarmos o assunto ainda mais
profundamente, verificaremos que a cor e o brilho das pedras preciosas variam
na mão das pessoas. Também as pérolas modificam a sua luz quando passam
de uma mão para outra. Quanto mais nos aprofundamos no estudo da matéria,
maiores provas encontramos da inteligência agindo através de todo o processo
de desdobramento contínuo. Qual o motivo das flores murcharem quando
tocadas por certas pessoas? O mesmo acontece conosco. A presença de certas
pessoas nos aborrece, não podemos tolerá-las, e há outras pessoas cuja
presença nos faz bem. O mesmo acontece com as flores, mas o fenômeno atrás
desses fatos é o amor. A pessoa que não possui o elemento amor mata tudo que
toca, seja uma flor, um negócio ou uma criança. Tudo que toca se destrói, porque
o amor em si é uma essência, a essência, o sinal do espírito. Com amor tudo
que é tocado por essa pessoa terá luz, vida, e a ausência do amor causa a morte
e a decadência. Quando uma pessoa sem amor toca em copos e pratos, os
primeiros se quebram e os segundos se racham. Talvez ainda não tenhamos
tido tal experiência, mas um dia poderemos ver que quando uma pessoa
desarmoniosa entra numa casa, coisas quebram-se, há acidentes e os pequenos
animais domésticos, como cães e gatos, ficam irrequietos.
Entretanto, o que mais nos interessa no estudo do espírito e da matéria é a
natureza do vácuo e da substância. A substância tem uma tendência de fazer
com que a substância se lhe adira e transformar tudo que atrai na mesma
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Hazrat Inayat Khan Filosofia, Psicologia e Misticismo

  • 1. HAZRAT INAYAT KHAN FILOSOFIA, PSICOLOGIA E MISTICISMO Volume XI A Mensagem Sufi UNIVERSALISMO
  • 2.
  • 3. Sumário Prefácio FILOSOFIA Ilusão e Realidade Capacidade Vibrações (1) Vibrações (2) Atmosfera Luz Inteligência A Lei do Ritmo Os Aspectos da Natureza: Triplo, Dual e Único O Espírito, do Lado de Dentro e do Lado de Fora Espírito e Matéria (1) Espírito e Matéria (2) Espírito e Matéria (3) PSICOLOGIA Ciência e Psicologia Sugestão Sugestão através da Impressão e da Crença Sugestão através das Várias Formas de Impressão Sugestão pela Palavra e pela Voz Sugestão pelo Movimento
  • 4. Sugestão na Prática Atitude Magnetismo Magnetismo Físico Magnetismo da Mente Magnetismo do Coração Magnetismo da Alma Magnetismo Espiritual Psicologia, a Mestria da Mente Almas Gêmeas Natureza e Caráter MISTICISMO Misticismo na Vida Sabedoria Divina A Jornada da Vida Elevação da Consciência O Caminho para Deus O Ideal do Místico A Natureza O Ideal A Moral do Místico Fraternidade Amor Beleza O Autoconhecimento A Realização do Verdadeiro Ego A Sintonização do Espírito
  • 5. A Visão do Místico A Natureza do Místico A Inspiração e o Poder do Místico
  • 6. Prefácio No prefácio do Volume I da Mensagem Sufi de Hazrat Inayat Khan, já constava que agrupar, de forma sistemática, a obra desse místico Sufi seria tarefa muito difícil. Praticamente, todos os assuntos contidos na sua obra são transcrições de conferências por ele feitas durante os anos que viveu e ensinou no Ocidente, de 1910 a 1926. A extensão e variedade dos assuntos por ele tratados foram notáveis e com muita frequência a mesma diversidade de temas foi retomada após um intervalo de muitos anos e expostas de maneira um tanto diferente noutro contexto. Assim, os ensinamentos ontológicos de Hazrat Inayat Khan estão espalhados em muitos volumes de sua Mensagem, mas nos últimos anos de sua vida ele deu, em três séries de palestras feitas durante as Escolas de Verão em Suresnes, França, em 1925 e 1926, uma sinópse de grande interesse dos assuntos que denominou FILOSOFIA, PSICOLOGIA e MISTICISMO, dando um sentido todo especial a essas palavras. O livro disso resultante pode ser considerado o “opus magnum” do Mestre Sufi Inayat Khan. Depois de terem sido usados durante muitos anos como papéis instrutivos nas Escolas de Verão do Movimento Sufi, após o falecimento de Inayat Khan, eles foram publicados pela primeira vez em 1956. Esta nova edição difere ligeiramente da anterior. O texto que tinha sido mantido tão chegado às palavras pronunciadas e que não era sempre fácil de ser lido, foi agora adaptado melhor para compor as páginas deste volume. Naturalmente, grande cuidado foi tomado para não modificar o significado exato dos ensinamentos de Inayat Khan. Os capítulos XV, XVI e XVII da primeira parte sobre som e voz foram omitidos, porque já tinham sido inseridos no livro “Música” e pequenas alterações foram feitas na sequência dos restantes capítulos.
  • 8. CAPÍTULO I Ilusão e Realidade Quando um espiritualista diz que tudo é ilusão, o materialista replica: “Mostra- me, então, onde está a realidade”. Muitas vezes as pessoas empregam a palavra ilusão sem saber propriamente o que ela significa. Quando se diz a alguém que está sofrendo que tudo é ilusão, o sofredor responde: “para mim é uma realidade. Se estivesses sofrendo, não dirias que se trata de uma ilusão”. Enquanto não achamos uma solução para o problema, durante muito tempo tentamos chamar uma doença de ilusão até que nossa paciência se esgota. Quando nossa paciência é posta à prova, não podemos mais chamar a doença de ilusão, começamos a chamá-la de realidade. Quando se começa pelo fim acaba-se pelo começo. A razão é que, para chamarmos de ilusão alguma coisa que nossos sentidos percebem, devemos primeiramente compreender a sua natureza e caráter, para provarmos a nós mesmos e aos outros que se trata de uma ilusão. Qualquer estudo que fizermos, qualquer que ele seja, o importante é que através desse estudo possamos descobrir que, à proporção que olhamos as coisas, elas nos parecem diferentes. Um certo produto químico é chamado por um determinado nome, mas quando verificamos sua origem, de onde ele vem, constatamos que sua raiz é algo bem diferente. Ao descobrirmos sua origem começamos a pensar: “Por que chamá-lo por este nome? Seu nome devia ser bem diferente”. Quando começamos a estudar o mecanismo e os diferentes nomes e formas que entram na sua composição e quando chegamos ao âmago das coisas, descobrimos que o que o faz atuar é algo muito diferente de sua forma exterior. Tudo isso serve para nos mostrar que a parte externa de todas as coisas cobre de nossos olhos o segredo de sua origem. Reconhecemos, porém, todas as coisas por sua forma superficial. A fim de saber o segredo das coisas devemos cavar fundo e atingir a base. Quando se estuda a biologia moderna, começa-se a imaginar a origem do homem. Embora o elo perdido entre o homem e o macaco ainda não tenha sido encontrado, ainda não se checou à profundeza da origem humana. Se a natureza e o caráter das coisas na superfície é assim, como podemos dar-lhes nomes que imaginamos se o conhecimento que temos delas e limitado? Quanto mais nos aprofundamos nas coisas menos, pensaremos chamá-las por um certo nome. No mundo, tudo está coberto por camadas e quando estas são removidas há outra camada. Assim, uma coisa encontra-se dentro da outra. Não se pode ir ao fundo das coisas a não ser que se conheça o segredo do caminho a percorrer. É por este motivo
  • 9. que o erudito, aquele que estuda toda sua vida, chega tão longe e não vai além. Pode-se perguntar ao homem mais erudito do mundo, talvez autor de muitas teorias: “O que existe no fundo disto tudo?” Ele responderá: “Não sei, mas gostaria de saber, se pudesse.” Duas coisas devem ser levadas em consideração se se quiser entender a natureza da ilusão: a primeira – o que é variável é uma ilusão; a segunda – o que é instável é uma ilusão, porque o que é instável e variável é e, ao mesmo tempo, não é. Existem duas leis: a primeira – uma coisa se modifica; a segunda – uma coisa é dissolvida, destruída, decomposta. A única diferença é que embora ambas sejam mutáveis só num dos processos é que podemos encontrar o que é mutável. Se o carvão transformou-se num diamante, podemos obtê-lo mas quando a cânfora se derrete, neste caso não podemos tê-lo tão facilmente. Se chamarmos de uma realidade a aparência do que é mutável e o que está sujeito à destruição, o que é então a ilusão? Por que existe esta palavra? Esta palavra significa o que não é dependente, que não é constante. Usamos as palavras “falso” e “verdadeiro” de acordo com a nossa concepção das coisas. Por exemplo, o metal ouro é chamado de ouro e sua cópia é chamada imitação. À primeira vista ambos são a mesma coisa. Só quando os observamos mais detalhadamente é que distinguimos o ouro da imitação. É a estabilidade do ouro que nos faz chamá-lo de ouro verdadeiro. Chamamos o ouro de verdadeiro porque é estável. É a mesma coisa quando dizemos que uma amizade é verdadeira. O que é estável é verdadeiro, o que se desfaz é falso. Assim, quando olhamos a manifestação, vemos ilusão em todas as coisas. Se há uma realidade a ser encontrada, ela está no fundo de todas as coisas. A ilusão é a camada externa, a realidade é o fundo de todas as coisas. É como o corpo e a alma. O corpo é uma ilusão, a alma é a realidade. O mesmo acontece com a flor e a fragrância: a flor é uma ilusão, a fragrância é uma realidade que perdura como um espírito, vive. Quanto mais uma coisa vive mais mostra realidade. Ainda assim, o que pode ser chamado de realidade é ainda mais profundo. Na nossa linguagem diária usamos a palavra realidade, mas saber o que significa realidade é coisa diferente, pois conhecer a realidade é saber tudo o que há para ser conhecido. Esse conhecimento é adquirido procurando-se a realidade que está no fundo de todas as coisas. A procura da realidade é que é a verdadeira cultura, o verdadeiro conhecimento, o aprendizado que realmente vale a pena fazer. Apreciar essa realidade, admirá-la, amá-la, é caminhar cada vez mais para a meta, a meta que é a realidade propriamente dita. Quando começamos a pensar que é ilusão o nosso alvo, o nosso desejo, o objeto de nosso amor e tudo que perseguimos na vida, dia e noite, é ilusão, isso nos torna desapontados. Muitas vezes pensamos: o que podemos chamar de realidade se tudo que conhecemos, vemos e sentimos é ilusão? Nem todos pensam nisso no seu dia-a-dia, mas este pensamento ocorre naturalmente ao sábio e ele se empenha em procurar a realidade. Antigamente, era tarefa da
  • 10. religião despertar o mundo para a realidade mas, infelizmente, na ausência da religião, o sistema moderno de educar, ao invés de instigar a procura da realidade, desperta o interesse por tudo que é ilusão. Não obstante, não se pode fugir à realidade. Ela nos arrasta e nos atrai. Estamos inconscientemente à procura da realidade, até mesmo quando nos interessamos pela ciência, literatura, filosofia, arte e psicologia. Entretanto, procurando a realidade na ilusão é o mesmo que tentar ver a luz olhando para a terra. As pessoas desejam ver a face da realidade com os olhos da ilusão e querem ouvir a sua voz com os ouvidos da ilusão. É a realidade em nós mesmos que descobre a realidade. Existe algum objetivo nesta manifestação que é a ilusão. Se não existisse a ilusão não se poderia encontrar a realidade, porque tudo é revelado pelo seu contraste, até mesmo a realidade. Procuramos a realidade quando descobrimos a ilusão. Se nunca tivéssemos conhecido a ilusão jamais teríamos conhecido a realidade. A realidade encontra-se a si própria. Pode-se considerar o pensamento abstrato como um método para se conhecer a realidade, mas depende do que se entende por pensamento abstrato. Há pessoas que vivem no abstrato, mas estão muito longe da realidade. Há uma história muito conhecida na Índia: um peixe se dirigiu à rainha dos peixes e lhe disse: “Sempre ouvi falar do mar, mas onde está o mar?” A rainha explicou àquele peixe que desejava aprender: “Você vive, você se move e tem seu ser no mar. O mar está dentro e fora de você. Você é feito do mar e acabará no mar. O mar é o que o rodeia, é a sua origem, o seu fim e seu próprio ser”. Assim como o peixe ignorava o mar, também aqueles que vivem no abstrato podem ignorar a realidade. Uma pessoa pode ficar perto da água toda a vida e permanecer sedenta, não sabendo que é água. Um dia alguém fez a Buda a seguinte pergunta: “O que é a ignorância? Tendes falado tanto nela, o que é? Podeis descrevê-la?” Buda respondeu: “Posso. Havia um homem, cujos olhos estavam fechados, e que havia se agarrado ao ramo de uma árvore. Ficou agarrado àquele ramo toda a noite e pela manhã viu que o chão estava a alguns passos de seus pés. O medo, a angústia e a tortura que ele havia sofrido durante a noite toda desapareceram com o raiar do dia”. Tal é a natureza da ignorância e da realidade. Uma pessoa pode continuar ignorando a verdade por toda a vida e sofrer todas as condições que advêm dessa ignorância, pois não existe desgraça maior que a ignorância. É a fonte de toda infelicidade e miséria. Pode-se continuar sofrendo por toda a vida devido à ignorância, embora o conhecimento da realidade esteja muito perto, mas não nos interessamos em procurá-lo. Outra dificuldade é que a natureza humana começa por procurar a complexidade, porque a natureza da ilusão é complexa. O homem dá valor à complexidade, começa a pensar que o que é complexo tem valor, é o que vale a pena, e o que é simples não tem valor. A verdade é simples, mais simples do que todo o conhecimento da ilusão. Entretanto, o homem não pode lhe dar valor, porque deu tal valor à ilusão que não pode dar valor à realidade.
  • 11. E não obstante, para nós seres humanos limitados dizer que este mundo não tem uma realidade parece blasfêmia. Está bem se nos sentimos assim, mas não está certo dizê-lo porque, se tivermos que falar nisso, precisamos provar, provar pela nossa independência dessa ilusão – o que não podemos sempre fazer porque somos por demais dependentes dela. Uma assertiva que não é baseada numa evidência prática não é uma boa assertiva. Assim, pois, o verdadeiro místico sempre se abstêm de dizer coisas como, por exemplo, que tudo é uma ilusão, mas tenta perceber isso cada vez mais todos os dias. Nos momentos em que não se sente assim fica triste, pensa que está longe da realidade, mas quando vislumbra um raio de luz pensa que está face a face com seu Senhor, porque está na luz da realidade.
  • 12. CAPÍTULO II Capacidade Se tentarmos compreender o que significa capacidade, podemos chegar ao segredo da criação. Pode-se dizer que capacidade é o óvulo da criação. A manifestação, pelo que nós e conhecido e pelo que nos é desconhecido, é uma forma criada numa capacidade. O céu é uma capacidade. Capacidade é aquilo que forma uma cavidade, onde a ação toda-penetrante da existência pode produzir uma substância. O que são todas as estrelas e planetas descobertos e os que ainda não foram descobertos? Capacidades. O que contêm? De acordo com a capacidade de cada um, contém uma capacidade capaz de se manter dentro de si mesma e dar a luz. Um planeta, pois, não é igual a outro nem uma estrela é igual a outra estrela. Assim como o mar é uma capacidade onde os animais marinhos nascem, vivem e morrem, o ar também é uma capacidade onde muitas criaturas vivem, movem- se e têm seu ser. A terra é uma capacidade que contém plantas, árvores, pedras diversas, metais, minerais e outras substâncias derivadas dela. Tudo é uma capacidade: a pedra, a árvore, uma fruta ou uma flor. Da flor nasce o perfume e da fruta, o sabor. Do mesmo modo, o ser vivo é uma capacidade. O homem é uma capacidade, uma capacidade acabada e perfeita. A palavra hindu para capacidade é “Akasha”. Em geral, pensa-se que “Akasha” quer dizer céu, mas na realidade significa tudo. Por sua vez, tudo é um “Akasha”, como todas as substâncias são capacidades. Conforme a capacidade, ela produz o que deve ser produzido. Quando estudamos anatomia, aprendemos que os órgãos dos sentidos são, todos eles, capacidades e que cada órgão é feito de um certo formato. O órgão do sentido não funciona adequadamente quando sua capacidade se obstrui, rompe-se ou é perturbada de qualquer maneira. Os vasos e veias do corpo humano ou animal são capacidades criadas para que a circulação do sangue seja feita. Quando essas capacidades estão obstruídas, por mais forte que seja o corpo, a força vital não pode circular. Sobrevêm a congestão e a doença. Cada célula do sangue é também uma capacidade. Se a célula se mantém livre, sem obstrução, a vida circula através da célula. O indivíduo tem saúde. Quando a célula do sangue perde sua capacidade, a vida não pode mais preencher sua finalidade e aparecem diversas doenças. O mesmo acontece com os poros da pele: cada poro é uma capacidade. Se, por qualquer motivo, essa capacidade
  • 13. do poro é obstruída, a vida não pode mais circular por ele. Há uma interrupção e as doenças surgem. Os órgãos digestivos, os pulmões, são capacidades. Por eles circula a vida. Funciona com a força vital, a vida, que é injetada neles por meio da respiração e conforme as radiações. Se esses órgãos não funcionarem como devem funcionar, sobrevêm doenças e desordens no organismo. Existem também centros intuitivos no corpo físico do homem. Cada centro é uma capacidade. Poucos sabem disso. Esses centros ficam obstruídos porque o homem leva uma vida tão material que suas faculdades intuitivas ficam obliteradas. Todas as práticas místicas usadas pelos iniciados são dadas para que todas as capacidades neles existentes se abram, se ativem e sejam postas em ordem, para que, por meio de suas capacidades, o homem possa experimentar tudo aquilo que deve experimentar. A falta de ar, de energia e magnetismo bloqueiam as capacidades do homem e seus centros, obstruindo as faculdades intuitivas. Assim sendo, o homem que jamais pensou neste assunto, perde suas capacidades intuitivas. Isso prova que, se um indivíduo pensar em alguma coisa, cria uma capacidade, como a ação e o movimento. Quando o movimento é vagaroso, quando não é ativo, a capacidade não é aproveitada. É a capacidade que faz da alma uma alma. De outra forma, seria espírito. Por exemplo, quando o sol entra em nossa casa pela manhã, a luz solar atravessa a janela e toma a forma quadrada ou redonda, conforme o formato da janela, ou então toma a forma triangular se a janela tiver esse formato, mas o sol não e quadrado, redondo ou triangular: a janela é que tem esse formato. Dizemos que é o sol que entra na casa, mas podemos dar ao sol um outro nome. O sol pode ser comparado ao espírito. O fato do sol entrar pela janela, que é uma capacidade, e ela dar uma forma ao sol: triangular, quadrada ou outra forma qualquer, pode ele ser chamado de alma. A alma se identifica com as qualidades e méritos da capacidade através da qual se expressa. Se não fosse assim, não seria alma, seria espírito. Na vida há duas divisões: uma é aceita, mas a outra ainda não é aceita. A divisão da vida aceita é a que chamamos substância. A divisão da vida ainda não aceita é a que chamamos de vácuo. Se falarmos com alguém sobre oxigênio, sabe que existe oxigênio no espaço, mas se falarmos em vácuo, não compreende. Dirá: “O que é vácuo? Se ele puder ser registrado num aparelho, posso dizer que ele existe, mas se não for registrado no meu instrumento, direi que não existe”. Na realidade o vácuo é tudo, o vácuo é todas as coisas. Em todos os períodos da história da humanidade, o homem não fez outra coisa, senão tentar descobrir substâncias mais refinadas. A ciência chegou aos átomos, eléctrons e partículas ainda mais refinadas. E quanto ao vácuo? Podem dizer que não existe. O fato é que o homem quer perceber o vácuo usando o mesmo método que usou para chegar à substância, o que não é possível. Por esse motivo, por mais longe que avance no descobrimento da vida, o homem apenas alcança a substância mais requintada. O homem pode investigar milhares de anos e ter sucesso em
  • 14. descobrir uma substância cada vez mais refinada, talvez substâncias mais úteis, mas sempre vai descobrir uma substância e não um vácuo. Capacidade é matéria, não matéria no sentido comum da palavra, porque na realidade tudo perceptível é matéria, capacidade é substância. A substância mais refinada ainda é substância. O que está acima da substância é que é espírito. Espírito é ausência da matéria, mesmo da matéria em seu estado mais refinado. O espírito está acima da matéria e, assim, a mais refinada capacidade será ainda uma substância. Surge agora a seguinte indagação: Se toda manifestação vem de uma única fonte, de uma só vida, de um só espírito, por que existe uma variedade de coisas e seres, cada um diferente em natureza e caráter? Há duas razões principais para isso: uma é a velocidade das vibrações, outra a direção tomada por uma determinada ação. Para tornar esse ponto compreensível, dividamos a velocidade em três estágios: vagaroso, moderado e rápido ou, como são chamadas essas velocidades em Sânscrito, Satva, Rajas e Tamas. O primeiro estágio Satva ou vagaroso tem um efeito criativo. O segundo estágio Rajas ou moderado é progressivo. O terceiro estágio Tamas ou rápido, é destrutivo. Isso nos leva ao motivo que está atrás da morte, da decadência e da destruição, isto é, todo ser vivo e todo objeto se deteriora ou morre ao entrar na velocidade destrutiva. Ainda mais, como todo o objeto é diferente visto de ângulos diferentes, também toda força criativa se manifesta de forma diferente ao tomar direções diferentes. O que prova o motivo da mão direita ser mais forte que a mão esquerda, com raras exceções, e o porquê da perna direita sempre ter a tendência de avançar em primeiro lugar e não a perna esquerda. Sempre temos mais força do lado direito que do lado esquerdo. O motivo é a lei da direção. O canhoto é uma exceção, não é comum. O lado direito tem mais força que o lado esquerdo, é o normal, e se alguém é canhoto, seu lado direito não tem a energia que devia ter. Não quer dizer que o lado esquerdo tem mais força que o lado direito, significa apenas que o lado direito é mais fraco que o lado esquerdo, e não que o lado esquerdo tomou o lugar do lado direito. Também não quer dizer que o lado positivo da pessoa é o lado esquerdo e que seu lado negativo seja o direito. Os três ritmos Satva, Rajas e Tamas podem também ser chamados de móbil, regular e irregular. A manifestação tem várias formas devido a esses ritmos, assim como várias qualidades, cores e formatos. O ritmo móbil é em linha reta. O ritmo regular se processa para a direita e para a esquerda, formando primeiro a linha vertical e depois a linha horizontal. O terceiro ritmo é em ziguezague, irregular, e é destrutivo. O mesmo pode ser observado se examinarmos nossa respiração. A respiração que flui pela narina direita dá poder. A que flui pela narina esquerda retira esse poder. O fluxo através das duas narinas ao mesmo tempo causa destruição.
  • 15. O que existia antes da criação? Havia imobilidade ou movimento? A ciência descobriu que atrás de tudo há movimento. Isso é verdade, porque, na realidade, o que chamamos de imobilidade é um movimento imperceptível. É por esse motivo que as montanhas podem existir, as árvores podem viver, o homem pode agir e os animais podem se mover, unicamente pela força do movimento, das vibrações. Sua saúde, alegria, tristeza e destruição são causadas por uma velocidade mais rápida ou por uma velocidade mais vagarosa, ou por uma atividade especial dessas vibrações. A doença e a saúde dependem da lei das vibrações. Um diamante é brilhante porque vibra. É a vibração do diamante que o torna cintilante. Do mesmo modo uma pessoa é brilhante quando sua inteligência vibra. Sua capacidade de compreender está de acordo com o ritmo de sua vibração. Pode-se sempre notar que uma pessoa brilhante é quem compreende as coisas com maior rapidez, melhor e mais profundamente. Quem não é muito brilhante custa mais a compreender. Concluindo: chegamos à compreensão de que todo fenômeno é um fenômeno da capacidade e que de acordo com essa capacidade é criado tudo que ela contém. Como cada coisa e cada ser vibram de acordo com a capacidade, os resultados também são de acordo com a capacidade. Nós somos também “Akashas” e recebemos no nosso “Akasha” a ressonância do nosso ritmo. Essa ressonância é semelhante ao que sentimos quando estamos cansados, deprimidos, alegres ou fortes. Todas essas maneiras de sentir é nosso “Akasha” que sente. Isso é motivado pelo nosso próprio ritmo. Toda palavra proferida, toda ação feita e cada um dos nossos sentimentos ficam registrados em algum lugar. Não desaparecem e nem se perdem. Não podemos ver esses registros porque não são feitos no solo. Se uma semente é plantada no solo fica registrada no chão, cresce e se afirma mostrando que é uma macieira, uma roseira, etc. Se algo é lançado no espaço, também não se perde. É recebido e agarrado pelo espaço e é mostrado àqueles que podem construir uma capacidade ao redor do espaço e captar o reflexo desse algo nessa capacidade. Existe uma capacidade, a vida total, integral. Na realidade, tudo é uma capacidade registrada. Assim, há uma capacidade de ler e que deve ser criada por nós. Devemos ter capacidade para criar uma capacidade para ler o que está escrito. Consta do Corão: “Suas mãos falarão e seus pés testemunharão seus feitos”, o que quer dizer que tudo é registrado, de tudo é tomado nota. Quando um ladrão deixa a casa onde roubou alguma coisa, se quiser, pode cavar um buraco, enterrar o produto do roubo e mostrar as mãos vazias, mas algo fica registrado no seu rosto, denunciando o seu ato. Fica escrito, gravado, e não se apaga para quem aprendeu a ler qualquer registro. Nada do que falamos, fazemos ou pensamos se perde. Fica registrado em algum lugar. Se soubermos ler as coisas, tudo pode ser lido.
  • 16. CAPÍTULO III Vibrações (1) Todas as coisas que existem e são vistas, ouvidas e percebidas por nós, vibram. Se a vibração não existisse, as pedras preciosas não mostrariam a cor e o brilho que possuem. O que faz as árvores crescerem, as frutas amadurecerem e as flores vicejarem é a vibração. Nossa existência também está submetida à lei das vibrações que rege não só a existência do nosso corpo físico, como a existência de nossos pensamentos e sentimentos. As drogas e ervas não exerceriam nenhum efeito sobre o ser humano se não fossem as vibrações. Se quisermos dar uma explicação para a eletricidade, podemos dizer que o mistério da eletricidade está somente nas vibrações. Em outras palavras, o aspecto das vibrações que constituem a forma não existiria se primeiramente não houvesse luz. A Bíblia faz alusão a isso dizendo que primeiro houve a luz e depois foi criado o mundo. A luz é a primeira forma e depois dela as outras formas são criadas. As vibrações podem ser compreendidas tanto como causa como efeito. A vibração causa movimento, rotação, circulação e de outro lado é a rotação dos planetas e a circulação do sangue que causam a vibração. Assim, tanto a causa como o efeito de tudo que tem vida é vibração. Depende da velocidade das vibrações se uma determinada coisa é visível ou audível, se é perceptível ou imperceptível. Tudo que é visível é, ao mesmo tempo, audível. Tudo que é audível também é visível. Se não nos parece ser assim é sinal de que há limitação nos nossos órgãos de percepção. Dizemos que não é visível o que os nossos olhos físicos não podem ver. Mas é visível, só que não é visível para nós. O que não podemos ouvir dizemos que é inaudível. Apenas é inaudível para nossos ouvidos, mas é audível. Isso é uma prova de que tudo tem som e forma. Mesmo as coisas que para nós são perceptíveis e não são visíveis, têm forma. Em primeiro lugar, se não tiverem forma não poderão ser inteligíveis. Há coisas que não têm uma forma física, mas possuem, do mesmo modo, uma forma e é através dessa forma que podemos percebê-las. Se nossos olhos físicos não podem ver a forma, os olhos da nossa mente podem vê-la e reconhecê-la, o que explica porque existem coisas que são sentidas e coisas que são vistas ou ouvidas. É apenas uma diferença de vibrações e dos planos em que ocorrem as vibrações. As vibrações fazem com que a vida tome uma forma. São os diferentes graus de vibração que fazem a forma visível ou perceptível.
  • 17. O que sabemos sobre as vibrações é só o que percebemos através dos instrumentos fabricados pelo homem. O que está em movimento e não é captado pelos instrumentos não é reconhecido como vibração. Como não existe outra palavra a não ser vibração, ela é a única que podemos usar e é a mesma força que põe em movimento todas as coisas no plano físico e continua em todos os outros planos da existência, colocando tudo em ação. Isso também nos explica que é a vibração – um certo grau de vibração – que traz para a terra as coisas do mundo oculto, mundo que é percebido mas não visto; uma mudança de vibrações leva para o mundo invisível as coisas que são vistas. O que chamamos de vida e morte é, tanto uma como a outra, uma existência reconhecida dentro de um certo grau de vibração. Por exemplo, quando alguém diz: “Esta folha está morta”, foi a mudança de vibração que a tornou morta. A folha não mais possui as vibrações que possuía enquanto estava na árvore, só que não perdeu todas as vibrações: possui outras. Assim, de acordo com a lei das vibrações ela não está morta: apenas está num ritmo diferente de vibrações. Se estivesse morta, as ervas quando tomadas como remédio pelo homem não exerceriam nenhum efeito sobre sua saúde. O mesmo acontece com o corpo morto do homem ou de um animal. Podemos dizer que a vida fugiu do corpo, mas o que se esvaiu foi a vida que reconhecemos como vida e isso porque reconhecemos como vida somente um determinado grau de vibração. Tudo que existe acima ou abaixo disso não reconhecemos como vida. Entretanto, não está morto, ainda está vibrando. Continua a vibrar, porque nada pode existir se não vibrar e nada pode vibrar se não estiver vivo, no verdadeiro sentido da palavra. Pode-se dizer que não existe movimento num corpo morto, que não há nele calor, mas não usamos peixe e carne de animais abatidos como alimento? Não seria o homem beneficiado comendo-os se eles não tivessem vida, porque só a vida ajuda a continuação da vida. Se estivessem realmente mortos, se neles não mais existissem todas as propriedades que são chamadas de vida, fariam mal em vez de fazer bem, o que vem mostrar que embora digamos que estejam mortos, neles existe alguma vida e que a mudança ocorrida é apenas uma questão de grau de vibração. Quando uma fruta apodrece, ou quando uma flor murcha, ocorreu uma alteração de vibrações. É maravilhoso observar uma flor ainda em botão e ver como cresce dia a dia, como vibra de maneira diferente a cada momento do dia, até que chega ao esplendor e começa a brilhar refletindo o sol. Além da cor e da forma, podemos ver alguma coisa viva na flor, algo cintilante, o que pode ser visto melhor quando a flor está no pé. Quando a flor chega ao auge do seu esplendor começa a fenecer pouco a pouco, o que está de acordo com a lei das vibrações. Mas mesmo depois das pétalas da flor caírem, ainda resta uma forma de vida. Mesmo nas folhas secas da rosa há perfume e dessas folhas pode ser feito um remédio eficaz. Esse remédio tem uma certa ação sobre o sangue e é também um alimento para os intestinos. É altamente purificador. Na medicina grega
  • 18. antiga a rosa era usada de muitas formas, por ser muito refrescante e agir sobre o sangue, além de ser um bom fortificante. Há grande diferença em comer vegetais frescos e vegetais em conserva, devido à diferença de vibrações. Os vegetais frescos estão mais próximos da vida e os vegetais em conserva têm menor influência sobre nós: estão mais afastados da nossa vida. O mesmo acontece com todas as coisas. Quando começamos a ver a vida sob este ponto de vista, percebemos que o nascimento e a morte são simplesmente concepções nossas de vida, que não existe o que chamamos de morte e que tudo está vivo. Há apenas alterações de uma forma para outra forma que estão sujeitas à lei das vibrações. É uma diferença de ritmo. Os diferentes estágios da vida são também fenômenos da vibração, como infância, meninice, juventude e velhice e as diversas tendências surgidas naturalmente desses estágios. A força e a fraqueza, as tendências para a ação e o repouso vêm das diferentes velocidades das vibrações. Não há exagero em dizer que atrás de todas as enfermidades existem vibrações incorretas influenciando. As vibrações são causa e também são efeitos. É interessante verificar que um cientista de São Francisco da Califórnia, Dr. Abrams, cujas teorias e experiências na cura de doenças através de vibrações produzidas pela eletricidade me atraiu, tivesse chegado à mesma conclusão e tentasse por todos os meios introduzir esse método na medicina. Esse médico não viveu muito tempo. Se tivesse vivido mais, teria conseguido coisas maravilhosas. Pelo seu sistema, tentou descobrir a natureza e caráter das doenças e tratá-las de acordo com a lei das vibrações. O desenvolvimento desse método talvez seja ainda trabalho para muitos anos, mas o fato de tal método ter sido idealizado já foi um passo à frente. Quanto maior o objetivo, mais tempo se leva para chegar a ele. Muitas pessoas já estão sendo beneficiadas por esse sistema, embora ainda possa levar bastante tempo até chegar à perfeição, o que fará dele “o meio” ideal de tratamento, superando todos os outros.
  • 19. CAPÍTULO IV Vibrações (2) Quando uma fruta, folha ou flor muda de cor, significa que começou a vibrar numa velocidade diferente. Quando uma fruta muda de sabor, passando de ácida para doce, ou de doce para amarga, houve também alteração na velocidade da vibração. É bem conhecido o fato de que os diversos graus entre o frio e o quente nada mais são do que alterações de vibrações, o que faz que sintamos as coisas frias ou quentes. Também é devido à alteração das vibrações que o perfume das flores e das frutas se modifica. Uma fruta madura tem cheiro diferente de uma fruta verde. A qualidade da fruta também pode ser distinguida pelo sentido do olfato através das vibrações, o que prova que tudo que percebemos através dos cinco sentidos nos é inteligível e que somos capazes de distinguir as coisas sentindo os diferentes graus de vibração por meio dos nossos sentidos. A esse fenômeno da vibração damos nomes como: doce, ácido ou salgado; verde, azul ou vermelho; frio, morno ou quente, porque a finalidade de cada sentido é sentir o fenômeno das vibrações que se relaciona com ele, isto é, os olhos vêem, os ouvidos ouvem e o nariz cheira. Os cinco sentidos são diferentes na qualidade. Podemos ver uma coisa sob um ponto de vista grosseiro ou sob um ponto de vista delicado. O ponto de vista grosseiro é a forma, que exteriormente mostra diferença de percepção entre um sentido e o outro. O ponto de vista delicado ou refinado é quando se torna distinto o mecanismo da capacidade que existe dentro de cada órgão. A ciência só trata do que está na parte externa e não entra na parte interna, que é mais etérea, mais sutil e mais difícil de ser explicada. Quanto mais pensarmos nisso mais vemos a habilidade do Criador. Contudo, o sentido mais profundo existente em nós percebe essas vibrações de uma maneira inteiramente diferente. Não as percebe da mesma maneira que percebem os sentidos externos. Daí a pergunta: “O sentido interno, por exemplo, percebe a cor como cor, ou percebe determinada sensação que pode ser medida numericamente?” A resposta é: o sentido interior percebe uma cor, mas é o sentido exterior que a distingue. Quanto aos números, quanto mais avançarmos na vida interior menos nos valemos dos números, porque os números fazem parte do mundo exterior. O mundo físico é mais preciso e assim podemos calcular ou fazer uso dos números com mais facilidade, enquanto que os mundos
  • 20. interiores são menos precisos, tornando os cálculos numéricos, que são úteis no mundo exterior, mais difíceis de serem usados. Por exemplo, quando cheiramos uma flor, ouvimos um som ou vemos uma cor, distinguimos como cheiro o que é percebido pelo nariz, percebemos como som o que é ouvido pelos ouvidos, ou percebemos como cor o que os olhos vêem, mas o nosso sentido de percepção é um sentido que está por trás dos cinco sentidos. Assim, tudo que percebemos exteriormente como sensação, distinguimos como isso e aquilo, mas imediatamente aparece uma reação e essa reação faz com que nosso sentido interior reflita o que foi percebido em todos os órgãos dos sentidos e em todos os nervos do corpo, tocando cada átomo do nosso ser. Assim sendo, não foram os ouvidos que ouviram, em sua reação o som ecoou no cérebro, na boca, no peito, em todo o corpo. Se for um perfume, tocou cada átomo do nosso corpo. Se foi uma cor, não só tocou nossos olhos como espalhou sua influência em cada átomo de nosso ser. Embora nossa primeira impressão seja ter ouvido uma música, visto um belo quadro, ou provado um delicioso sabor, na realidade podemos dizer em termos comuns que experimentamos cada sensação que nos vem, através de cada átomo do nosso corpo. Se assim é, então as cores, os sabores, os perfumes e os sons produzem um efeito preciso e especial na nossa saúde, na nossa disposição e no nosso estado mental. O sempre mutável estado do nosso corpo físico causado quer pelas sensações exteriores quer por sua atividade especial, é que submete nossa vitalidade a diferentes condições. Cada pessoa tem um ritmo diferente. Quando dizemos “uma pessoa” referimo-nos a uma pessoa como geralmente compreendemos que ela seja de acordo com nossa concepção, isto é, compreendemos uma pessoa com um corpo, com uma mente e tendo uma alma. Contudo, muitos não reconhecem que uma pessoa tenha uma mente e sim apenas um corpo. Muitos também não reconhecem que uma pessoa tenha uma alma, só tem mente e corpo, porque a velocidade das vibrações de sua mente também difere da velocidade de sua alma. Realmente, cada plano do ser dessa pessoa tem um ritmo diferente, embora todos os planos do seu ser estejam de certa forma relacionados com o que está acontecendo com um desses planos. Em outras palavras, todos os corpos internos da pessoa estão vibrando e estão relacionados entre si, de acordo com a velocidade de suas vibrações. Quando dizemos “estou cansado”, “sinto-me melhor” ou “sinto-me forte”, na realidade significa que estamos vibrando a uma certa velocidade e é isso que nos levou a dizer o que dissemos. Assim sendo, surgem frequentemente sentimentos diferentes numa pessoa, como alegria e depressão, que nela produzem grandes mudanças, causadas pela velocidade em que vibra o corpo. A doença a que dão o nome de depressão, que é uma depressão sem causa aparente, sem qualquer motivo, vem da
  • 21. diminuição ou paralisação das vibrações dos centros internos. Indubitavelmente, todos os sentimentos como pesar, espanto, paixão, humor, medo, apego, raiva, alegria e indiferença, vêm das condições criadas pela velocidade das vibrações ativando o mecanismo do corpo e fazendo o sangue circular nas veias, mas esses sentimentos causam também mudanças de ritmo das vibrações do corpo. Desta forma, os sentimentos afetam o corpo e o corpo afeta os sentimentos. As vibrações podem ser alteradas, se compreendermos as vibrações da nossa própria vida, ou por outra, do nosso próprio ser. Em primeiro lugar, devemos estudar as vibrações do nosso corpo físico. A melhor maneira de compreender essas vibrações e controlá-las é através do estudo e da compreensão da respiração, pois as pulsações do coração, da cabeça e do corpo – das quais depende a circulação do sangue – baseiam-se no ritmo da respiração. Em segundo lugar, o próximo passo a ser dado é compreender o ritmo da mente. Os que pensam “Vou fazer isto” e logo após decidem fazer outra coisa, ou que começam a fazer uma coisa e passam para outra, demonstram que sua mente não está no ritmo adequado. Quando um homem ri e logo a seguir derrama lágrimas, quando num momento está feliz e noutro está infeliz, sua mente não está no ritmo certo. Quem tem a mente num ritmo correto é decidido, sabe o que diz, o que faz e o que pensa. Mantem-se firme em suas decisões e cumpre a palavra empenhada. As pessoas antigas davam grande importância à palavra do homem. Quando um homem dá a sua palavra de honra, ela está dada, ele sabe o que está dizendo. Quando o homem vacila, dá provas de que ainda não aprendeu a andar. Quando sua mente vacila e ele pergunta “farei isso ou aquilo?” “Será que isto deve ser feito ou não?”, ainda não adquiriu o ritmo correto. Tal pessoa sempre terá dificuldades. A música, quando tocada apenas tecnicamente correta, não pode produzir um efeito mágico sobre os ouvidos. Atrai somente a curiosidade das pessoas. Se elas não entenderem nada de música, é fácil satisfazê-las. Se na música há qualquer qualidade que não depende da técnica e da forma criada pelo homem, vamos encontrar essa qualidade no agrupamento harmonioso das ondas vibratórias, no trabalho harmonioso dessas vibrações. É isso que atinge não só a alma do ouvinte como também seu corpo físico. Produz um efeito harmonioso sobre cada átomo do seu ser. Esse efeito penetra nos diferentes planos da vida, tocando a parte mais profunda da alma. Portanto, não é um punhado de cores numa tela que torna uma pintura harmoniosa, embora isso ocorra frequentemente em nossos dias. Alguém pode ter a idéia de jogar uma porção de cores num quadro e outra pessoa nos apresentar o quadro dizendo: “Olhe e veja se consegue descobrir alguma coisa neste quadro”. Quando as pessoas fazem mistério, a mente curiosa começa a pensar: “Acho que devo dizer que é maravilhoso, embora não saiba do que se
  • 22. trata”. Talvez depois de exclamar: “Que maravilha!”, tal pessoa volte para casa com uma tremenda dor de cabeça, mas na presença dos outros disse que a coisa era maravilhosa. O que realmente impressiona profundamente uma pessoa é a mistura harmoniosa das cores, que não entre em choque com as vibrações do corpo e da mente. Às vezes, uma pintura ou uma paisagem realmente pintada de forma harmoniosa, transmitem uma sensação de paz através do efeito das cores. Sabendo que a cor tem esse efeito, algumas pessoas tentam combinações grosseiras e indesejáveis de cores na cura de doentes, mas em vez de curá-los nada mais fizeram do que piorar o seu estado. Por exemplo, há um método de refletir a luz num doente através de um vidro colorido. É a maneira mais grosseira de usar as cores. Não é assim que as cores produzem efeito nas pessoas. Para produzir um efeito harmonioso através das cores, as cores devem ser usadas artisticamente. Dessa forma, serão de grande utilidade na cura. Pode-se perguntar se a harmonia perfeita das vibrações é obtida por meio da cor e do som. E o que acontece no caso de uma pessoa cega ou surda? Respondo que, embora existam pessoas atingidas pela perda de um dos sentidos, como o sentido de enxergar ou ouvir, possuem elas outros sentidos para poder experimentar o mundo dos sentidos. Se um surdo não puder ouvir com os ouvidos, o efeito da conversa se fará sentir da mesma forma nos seus ouvidos interiores.
  • 23. CAPÍTULO V Atmosfera O pulso do espaço bate no mesmo ritmo daquilo com que está carregado e chamamos a isso de atmosfera. O espaço em si não tem uma atmosfera. O espaço é negativo, permitindo que seu pulso bata conforme o ritmo com que é investido, e ao mesmo tempo é positivo porque, mais cedo ou mais tarde, absorve e assimila tudo. Quando alguém diz que a atmosfera de um lugar é calma ou excitante, simplesmente significa que a impressão de alguém que carregou a atmosfera daquele lugar ainda perdura. A atmosfera pode ser de duas espécies: a atmosfera da presença e a atmosfera da ausência. Quando numa pessoa há uma transformação, a atmosfera se modifica. Quando uma pessoa está sentada em meditação, quando está em silêncio ou em repouso, a atmosfera é repousante. Quando está inquieta, preocupada, aborrecida ou agitada, a atmosfera adquire o mesmo ritmo. O motivo é que a atmosfera é feita de vibrações e sua substância-vida com que a atmosfera é carregada tem o mesmo índice de vibrações da pessoa que está ali presente. A atmosfera criada por uma pessoa e por ela deixada num lugar, permanece inalterável, embora com o tempo ela vá perdendo sua vitalidade, mas é difícil acreditar quanto tempo uma atmosfera criada por alguém num determinado lugar continua a vibrar. A atmosfera permanece muito mais tempo do que se pode imaginar. Não é só o homem que cria uma atmosfera: uma atmosfera é também criada no homem. Um homem pacífico pode se sentir desconfortável num lugar onde haja uma atmosfera inquietante e uma pessoa altamente irrequieta pode se sentir calma numa atmosfera de paz. Os que se apercebem disso conseguem que a atmosfera conte-lhes histórias. Alguém pode perguntar como uma pessoa pode ler a atmosfera se ela nada mais é que vibração, mas a percepção das vibrações é em si mesma a compreensão de uma linguagem, como acontece com um músico para quem cada nota diz alguma coisa. Na mente do músico, a nota é distinta, ele sabe que nota é, qual o acorde, qual o tema. Conhece seu sentimento, sua natureza, seu caráter, seu sentido e seu efeito. Para quem não é músico, a música pode ser reconfortante, curativa e calmante, mas para quem compreende a música, ela é uma coisa viva, ela lhe fala e sua alma se comunica.
  • 24. Da mesma maneira, quem percebe plenamente a atmosfera sabe tudo a seu respeito. Há uma outra maneira de ver este assunto, não só cada ser tem sua própria atmosfera mas tudo que uma pessoa sente, pensa, diz e faz cria uma atmosfera. Uma pessoa má criará uma atmosfera ruim; o piedoso criará uma atmosfera de piedade; um cantor ao cantar, um artista ao representar, uma dançarina ao dançar, um pintor ao pintar, criarão uma atmosfera expressiva de sua ação. Todos os sentimentos como o humor, o pesar, a ira, a paixão, o espanto, o apego, o medo, a indiferença – mostram seu caráter distinto na atmosfera que criou. Ninguém será jamais capaz de criar uma falsa atmosfera, ou seja, uma atmosfera diferente do próprio estado. Embora uma pessoa queira esconder alguma coisa, sua atmosfera falará de seus sentimentos. Certa vez alguém perguntou ao meu Mestre qual era o sinal de um santo e ele respondeu: “Nunca julgue um santo pelo que diz ou faz, sinta sua atmosfera e ela lhe dirá se é um santo ou não”. As pessoas não diferem muito em tamanho, mas a diferença dos horizontes que suas atmosferas abrangem é tão grande que muitas vezes não há possibilidade de comparações. Este é o segredo que está por trás da personalidade dos sábios, santos e profetas, assim como atrás de seu trabalho e influência no mundo. Desde que deve haver alguma coisa que segure tudo que é significante, o que é que retém ou mantém a atmosfera no espaço? É a capacidade. O espaço oferece capacidade. Em outras palavras, no espaço uma capacidade é formada de um elemento invisível aos nossos olhos mas suficientemente sólida para reter dentro dela as vibrações. Isso se tornará mais claro se estudarmos o mistério do telégrafo sem fio e da miragem. Por que o ar não dispersa os sons e palavras faladas muitas milhas distantes? É verdade que as ondas do ar os levam a uma certa distância, mas o que os retém? É a capacidade, é um delicado elemento que os rodeia, não permitindo que eles se dissolvam, embora nossos ouvidos geralmente não os ouçam no espaço. O mesmo acontece com o fenômeno da miragem. No deserto alguém vê uma miragem, que nada mais é que um reflexo sobre as ondas da luz de algo realmente existente. A atmosfera é visível? Tudo que é inteligível é audível e visível no sentido mais requintado dessas palavras. Nossos ouvidos podem não ouvir, mas podemos sentir que estamos ouvindo; nossos olhos podem não ver, mas podemos sentir que estamos vendo. O que é audível é visível e o que é visível também é audível, ao mesmo tempo só é audível ou visível aos nossos sentidos. Se certa coisa atrai nosso sentido visual, cria uma impressão nesse sentido e nosso sentido auditivo não lhe presta a mínima atenção; se uma coisa atrai nosso sentido auditivo, nosso sentido visual não tem nenhum interesse nisso. Isso porque dois sentidos não podem experimentar uma coisa plenamente ao mesmo tempo. Mesmo quando dois sentidos percebem uma coisa simultaneamente, o que estão experimentando nessa ocasião não será uma experiência completa. Só a
  • 25. experiência das coisas através de um sentido de cada vez é que pode proporcionar satisfação. Deixando de lado a experiência completa através de dois sentidos, não pensem que é exagero dizer que mesmo os dois olhos não podem ver tão nitidamente como um olho só. Quando fechamos um olho para ver uma coisa mais claramente, vêmo-la muito melhor, temos uma visão muito mais completa daquilo que estamos olhando, porque uma experiência mais completa necessita apenas de um raio de penetração, que revela a natureza, o segredo e o mistério do objeto que estamos olhando. Um determinado sentido é capaz de experimentar vibrações de acordo com sua própria capacidade e as vibrações que atraem um determinado sentido ocupam-se desse sentido que as experimenta; os outros sentidos experimentam a mesma coisa, mas indiretamente, através do sentido que realmente a experimenta. A atmosfera visível é chamada de aura. Os que não sentem suas vibrações às vezes a vêem na forma de cores ou luz. Há pessoas totalmente sem evolução que vêem auras pelo mesmo motivo que algumas pessoas muito pouco evoluídas também se comunicam com os espíritos, o que realmente somente pessoas evoluídas deveriam se aventurar. Mas foram feitas assim pela natureza. O mesmo acontece com quem nunca treinou nada da técnica da arte e é capaz de pintar um lindo quadro. Está na pessoa, é uma dádiva. Sua alma delicada e seu temperamento nervoso é que são suscetíveis às vibrações mais refinadas. A aura, portanto, pode ser chamada de atmosfera visível, ou a atmosfera pode ser chamada de aura invisível. Assim como os diferentes graus de vibrações da atmosfera têm uma influência especial em quem as percebe, as diferentes cores da aura também têm um efeito especial nos que vêem a aura. Existem muitos seres que ainda não despertaram para a percepção de uma atmosfera, para ver uma aura, embora sintam isso na parte mais profunda de seu ser. Não podem evitar. Isso mostra-nos que existe um outro mundo além do mundo que nossos olhos físicos podem ver e cujo som nossos ouvidos físicos podem ouvir, e que não está até muito distante. Vivemos nele, sentímo-Io e somos por ele influenciados, quer saibamos disso ou não. Esse é o mundo da atmosfera, que é mais delicado que o mundo físico, embora num certo sentido seja também físico. É alguma coisa que sentimos, algo que tocará nosso corpo; e embora nosso corpo não o perceba, mesmo assim é por ela influenciado. A mente percebe-o mais claramente. Se nos perguntarem a que plano pertence a atmosfera, podemos apenas dizer que é uma ponte entre o plano físico e o plano mental. Está em ambos os planos.
  • 26. CAPÍTULO VI Luz A luz tem três aspectos principais: a fonte de toda luz, a luz perpétua e a luz no sentido comum da palavra. O primeiro aspecto é a luz que percebemos como inteligência, o segundo aspecto é a luz que vemos como o sol e o terceiro aspecto é a luz que usamos na nossa vida diária, a luz de uma vela, de uma lâmpada elétrica ou qualquer tipo de luz. A ciência moderna considera a inteligência resultado da manifestação que se desenvolve gradualmente através de um processo do qual o homem é a culminância, o homem que, comparado com os outros seres vivos, mostra inteligência em sua plenitude. Da maneira como compreendemos a palavra inteligência, ela não significa “a fonte da luz”, exceto de uma forma muito limitada. A inteligência no seu estado original é algo inteiramente diferente daquilo que compreendemos como inteligência. A inteligência ainda pode ser dividida em três aspectos diferentes: inteligência no seu estado original, inteligência no processo de desenvolvimento e inteligência no sentido em que mais a usamos, como uma faculdade conhecida do homem. No seu primeiro ou principal aspecto, a inteligência é o Ser conhecido, o único Ser; no segundo aspecto, inteligência não é o conhecido mas o conhecimento, o conhecimento do ser; e no terceiro aspecto a inteligência se torna limitada porque se mostra através de uma capacidade e essa capacidade é o coração do homem. Colocando as coisas com mais propriedade, o primeiro aspecto pode ser chamado de inteligência não-despertada, o segundo aspecto de inteligência desperta e o terceiro aspecto de inteligência dividida e limitada. Em todos os três aspectos, a inteligência é única e a mesma. No primeiro aspecto é o único Ser, no segundo aspecto é o onisciente e no terceiro aspecto é a mente, ou o que contém a mente. Um aspecto pode ser chamado de inteligência de Deus, o outro aspecto de inteligência celestial e o terceiro aspecto de inteligência humana. A origem da inteligência é a inteligência pura, a inteligência de Deus, mas essa inteligência não é inteligente, torna-se inteligente, ou por outra, começa a sentir sua existência. É como um homem que é inteligente mas que quando está adormecido sua inteligência não é inteligente. Só quando acorda é que sabe de sua existência. Esse é um outro aspecto da inteligência.
  • 27. O segundo aspecto da luz, a luz do sol, é feita da parte densa da inteligência vibrante que se centralizou num lugar. Sua natureza de estar em perpétuo movimento torna a luz brilhante. É a luz que se manifesta através de todas as coisas como calor e luz. À luz do sol todas as coisas são visíveis e na ausência do sol não vemos as coisas claramente. É também a luz do sol que se vê na lua e é a mesma luz que as estrelas refletem. Se não houvesse a lua, toda a manifestação seria reduzida a cinzas devido ao forte calor do sol. Muitas vezes uma capacidade é criada para algo expressivo, algo que tem uma ação forte e se essa capacidade não existisse tudo que estivesse ao seu redor seria destruído até que ele mesmo fosse destruído. A lua, pois, é a capacidade em que a luz mais forte do sol trabalha. Eis o motivo de ser tão refrescante sentar-se à luz do luar. A lua recebe a luz do sol, queima-a e isso permite que o horizonte, as esferas, fiquem iluminadas e ao mesmo tempo haja frescura. O mesmo acontece com um indivíduo falante, o que gosta muito de falar: ficará maluco se não tiver ninguém para ouvi-lo. O terceiro aspecto é a luz de todas as coisas. Todas as coisas, cada objeto, tem sua própria luz, de cores diferentes. Cada substância, como o ferro ou o ouro, mostra sua luz através da radiação, mas também compartilha da luz do sol e brilha de acordo com sua faculdade de participação. Quando pensamos na luz em nossa vida, podemos novamente dividi-la em três aspectos: primeiro aspecto, há a luz que nos deixa ver um objeto, a luz do sol ou alguma outra forma de luz solar, como a luz de uma vela ou de uma lâmpada elétrica. O segundo aspecto é a capacidade de nosso órgão visual, nossos olhos, que enxergam o objeto. O terceiro aspecto é a radiação que pertence à substância que se revela, como o fósforo ou o radium, ou muitos outros elementos e substâncias químicas, que não precisam de outra luz e se mostram através de sua própria radiação se estiverem num lugar escuro. Tanto a luz do sol como outra qualquer forma de luz ajudam-nos a ver um objeto, porque o objeto reflete a luz que permite vê-lo, mas também é verdade que um objeto tem uma luz que lhe pertence. Portanto, se um objeto é visível não é visível porque outra luz o faz aparecer, é por ter sua própria luz. Podemos olhar este assunto sob um outro ponto de vista: todas as pessoas têm uma certa dose de inteligência, mas cada um que as vê ou fala com elas adiciona alguma coisa à inteligência ou tiram delas inteligência. E um terceiro aspecto é que na luz da inteligência de algumas pessoas pode-se ver a vida mais claramente. Não se trata de uma luz passageira, ela brilha da mesma forma que a luz do sol que brilha na terra e nunca é diminuída. Quem adiciona algo à inteligência de uma pessoa faz isso de duas formas diferentes: uma forma é no momento que ilumina o coração de outra pessoa com sua presença e outra forma é quando sua inteligência acende a inteligência de
  • 28. outra pessoa. Isso não é feito intencionalmente, é um trabalho automático. Uma pessoa inteligente dá luz a uma outra, é uma coisa lógica, se não fizer isso sempre, fará muitas vezes. Ao dizer alguma coisa, pelo poder do olhar, ou pelo grande magnetismo de sua presença, tal pessoa acende a luz de outra até um certo ponto, se houver essa luz. Certa vez disse-me uma senhora: “Meu marido mudou completamente desde o dia em que foi vê-lo” e eu respondi: “Estou muito contente”. Algum tempo depois de eu ter deixado a cidade recebi uma carta dizendo: “Meu marido voltou a ser o que era”. Ouvimos, às vezes, certas pessoas dizerem: “Fulano confundiu minha mente”, “Fulano me fez ficar louco”, “Fulano me fez ficar mais perplexo do que estava”. O que acontece é que há pessoas que trazem consigo sombras ou nuvens que impedem a luz de cair diretamente sobre a mente. Eis a razão por que a presença de uma pessoa tola frequentemente causa estupefação.
  • 29. CAPÍTULO VII Inteligência A inteligência em sua forma mais densa manifesta-se nas coisas e seres como radiação. Do ponto de vista místico, não seria incorreto dizer que o frescor da folha, a cor da flor, o brilho da pedra preciosa e a expressão fisionômica do homem são a luz da inteligência em sua forma densa. Nenhum objeto pode ser visível se não possuir radiação. Embora a luz do sol seja necessária para que um objeto se torne mais visível aos nossos olhos, todo objeto é, por si mesmo, radiante, emite radiação. Se não fosse radiante não poderia existir, não seria visível. Se fizéssemos uma síntese de todas as coisas do mundo que separamos pelo processo analítico e a que demos vários nomes, poderíamos dizer, com toda segurança e certeza, que todas as coisas e seres são feitos de luz, ou que todas as coisas e seres são manifestações da luz da inteligência. E quanto ao sol, à lua e às estrelas? Em todos eles há inteligência. Se o planeta que habitamos não tivesse inteligência, não poderia abrigar seres inteligentes, pois o que é a natureza? A natureza é o desenvolvimento do planeta. O planeta desenvolveu-se na natureza orgânica e culminou nos seres humanos, seres inteligentes e, ainda assim, permanece como planeta. Não há dúvida de que o que existe como uma capacidade é roubado da inteligência pelo que está concebido nela. Por exemplo, o corpo é roubado de sua inteligência pela mente e a mente é roubada de sua inteligência pela alma. Quanto maior o poder mais ele absorve. Se o corpo é mais musculoso, denso, ele naturalmente absorve o poder da mente e muito frequentemente uma pessoa com um cérebro altamente desenvolvido não é muito espiritualizada porque seu cérebro absorve a luz da alma. Porém, da mesma maneira, é natural que a alma, que é a própria inteligência, roube a mente de sua inteligência e a mente, por sua vez, roube o corpo de sua força física extra se ela é poderosa. É natural, portanto, que a inteligência do planeta como um todo não se manifeste à vista. Se ela pode ser vista, é na inteligência de um indivíduo, mas o trabalho coletivo de inúmeras mentes como uma idéia única e a atividade do mundo inteiro numa determinada direção, são governados pela inteligência do planeta. Falamos da mentalidade de uma nação ou da mentalidade de uma raça e isso prova que a inteligência do planeta exerce efeito sobre todos que vivem nele. Nosso planeta tem uma característica peculiar, porque cada planeta tem um certo grau de inteligência. Por exemplo, o fato de ainda existir guerras horríveis
  • 30. nesta época da história da humanidade, no presente estágio da civilização e da evolução humanas, em que talvez um entre mil indivíduos deseja a guerra, é devido à influência do planeta que trabalha através das mentes dos que vivem nele. É o segredo atrás da guerra e da paz. Não eram tolos os que adoravam o sol e pregavam a adoração ao sol. Não eram ignorantes os que reconheceram o que existe de sagrado no fogo e na chama, por que conseguiram ver a inteligência até na densidade da forma. O sol é a fonte da inteligência de todos os planetas, mas Deus é a verdadeira fonte da inteligência. A forma mais elevada da inteligência é a que se manifesta no homem. A inteligência começa a se manifestar no homem de forma similar, se não quisermos dizer, numa forma exatamente igual à forma que pode ser chamada de inteligência primitiva, a inteligência que existia antes da manifestação. Pode-se distinguir três aspectos da inteligência humana: percepção, concepção e assimilação. Um dos três aspectos, a percepção, é expressivo, o outro, a concepção, é receptivo e o terceiro, a assimilação, é todo-poderoso. A percepção pode ainda ser dividida em três aspectos: tudo que o homem percebe através dos cinco sentidos, tudo que ele percebe independentemente do uso dos sentidos, e tudo que sente e que não pode interpretar, mesmo para ele próprio, numa forma inteligível. A concepção também tem três aspectos: tudo que concebemos como compreensão, tudo que é concebido e desenvolvido, e tudo que é concebido e sentido da mesma maneira como foi concebido. A assimilação é a forma mais elevada da inteligência, mais poderosa e perfeita, pois é o poder da inteligência que assimila as coisas. Se colocarmos uma tinta, uma cor qualquer numa garrafa d’água, a cor permanece porque a água dentro da garrafa não tem o poder de assimilar, mas se pusermos a mesma tinta no mar, o mar, mais cedo ou mais tarde, assimilará a cor da tinta. Isso prova que a assimilação é o maior poder da inteligência. Como podemos apressar a assimilação e torná-la mais completa? Pela meditação e concentração? Deixando de lado a meditação e a concentração, podemos conseguir isso se formos refletidos, atenciosos, profundos, receptivos, sinceros e sérios. Uma das coisas mais difíceis é assimilar. Podemos ter muitos amigos, mas é difícil encontrar um amigo em quem possamos confiar. Se durante nossa existência tivermos conseguido encontrar um amigo, devemos ser muito gratos por termos alguém que é capaz de guardar nosso segredo. Sem falar nas pessoas comuns, mesmo reis e imperadores, que lidaram com milhares e milhões de pessoas, tiveram grande dificuldade em achar uma pessoa em quem pudessem confiar inteiramente, com quem pudessem contar. Consideravam-se muito felizes quando isto acontecia. É o poder da assimilação que permite guardar um segredo e ser digno de confiança. Aquele que possui o poder de
  • 31. assimilar é o guardião do tesouro de todos que nele confiam. Esse é o ser humano que chega ao estágio de Mestre.
  • 32. CAPÍTULO VIII A Lei do Ritmo A lei do ritmo é uma grande lei oculta na natureza. Todas as formas são feitas de acordo com a lei do ritmo. Todos os estados se manifestam à nossa visão pela lei do ritmo. Assim, a criação não é meramente um fenômeno de vibração sem restrição. Se o ritmo não existisse, se a lei do ritmo não existisse, não teríamos formas distintas e estados inteligíveis. Não existe nenhum movimento sem som, como também não existe som sem ritmo. Para mostrar o que é o ritmo, não precisamos usar uma batuta do maestro e bater com ela marcando o ritmo “um-dois”. Basta apenas movimentá-la. Se dividirmos o número um, teremos dois. Se dobrarmos o número um teremos dois, o que prova que no um existe o dois e que a dualidade vem da unidade. Assim, pois, se olharmos o assunto sob um outro ponto de vista, verificaremos que a dualidade, de fato, nada mais é do que unidade. Em outras palavras, dois é um. O mais interessante é que quando vemos dois, cada um deles toma imediatamente ante nossa visão uma posição especial e diferente. Isso é claro no que se refere ao homem e à mulher, e também às nossas mãos, a direita e a esquerda, cada mão tendo um poder especial e uma função determinada. O mesmo acontece com o pé direito e o pé esquerdo, com uma função especial na vida. O pé direito é distintamente diferente do pé esquerdo. A visão dos olhos não é igual. Um olho é sempre melhor e mais forte que o outro, ou pelo menos diferente do outro. Se essa diferença não existisse, os olhos não seriam um instrumento apropriado para enxergar. Se não houvesse diferença entre o poder e a força do lado esquerdo e do lado direito, o homem não poderia viver. A causa dessa diferença é a dualidade. A dualidade é que mantém a vida em tudo. O aspecto mais lindo desse fenômeno pode ser visto no ritmo musical. Quando dizemos “um dois, um dois” compreendemos o porquê de se dar ênfase ao um e pronunciar o dois como um eco, um reflexo, algo que responde ao um. Suponhamos que não dizemos “um-dois” e apenas “um – um – um – um – um” com a mesma ênfase. Não ficaríamos satisfeitos, não sentiríamos o ritmo até que “um” fosse acentuado e depois se seguisse o “dois” ou outra coisa qualquer. Aí sim seria perfeito. O mesmo poderemos notar no ato de andar. Andamos com as duas pernas e se andássemos com uma perna só, faltaria algo no ritmo. Tudo isso demonstra que o ritmo é uma lei oculta na natureza. O nascer e o pôr- do-sol, o crescente e o minguante da lua, as alterações regulares das marés, o
  • 33. início e término das estações do ano, mostram ritmo. O que faz os pássaros voar é o ritmo. O que faz as criaturas andar também é o ritmo. Se nos aprofundarmos mais na ciência do ritmo, verificaremos que o ritmo é que faz com que determinada coisa seja feita de certa maneira. Se o que é feito é triangular, quadrado, redondo, tem cinco pontas ou qualquer outra forma geométrica, o motivo oculto que criou a forma foi o ritmo, o ritmo da força. O ritmo foi a causa da criação de todas as coisas. Formas harmoniosas são manifestações do ritmo correto. Formas desarmoniosas são manifestações de desordem no ritmo. As cores azul, verde, vermelha e amarela são diferentes e distintas pelo simples fato de que uma cor vibra de acordo com determinado ritmo. Esse ritmo é que dá às cores a aparência que nos permite distingui-las. A lei do ritmo está oculta atrás do tempo bom e do tempo mau. A influência do bom e do mau tempo agindo sobre os seres vivos cria um efeito análogo em suas vidas. Bom tempo causa bom ritmo nos seres vivos. Mau tempo causa um efeito indesejável na sua saúde. Não seria, pois, exagero dizer – como os antigos Iogues – que o nascimento e a morte e o tempo limitado que separa o nascimento da morte, são o preenchimento de um certo e determinado ritmo. Se avançarmos um pouco mais na investigação dessa idéia, constataremos – como os antigos Iogues – que se controlarmos esse ritmo poderemos prolongar nossas vidas, e se negligenciarmos esse ritmo poderemos também encurtá-las. Por que motivo a música, que tanto realça o ritmo, dá vontade de dançar? Até os cavalos começam a se mover quando ouvem o ritmo da banda tocando diante da estrebaria. Até os soldados mais deprimidos e desencorajados sentem-se encorajados quando ouvem o ritmo enfático de uma marcha tocada pela banda militar. Um bebê acalma-se quando a mãe lhe acaricia as costas com tapinhas. Sem saber, instintivamente, transmite ritmo ao corpo do bebê. Acenando com a mão, damos ao amigo que parte um ritmo contra a tristeza e desespero da partida, desejando que ele se mantenha dentro do ritmo em todos os planos de sua vida. O que nos causa repulsa ou nos atrai numa pessoa é quase sempre seu ritmo. Se um homem é rítmico, sua influência é calmante. Quem está fora do ritmo abate o ânimo de todo mundo. Já não ouviram falar de uma empregada que muitas vezes comenta “sempre que vejo a cozinheira sinto-me deprimida?” Por que razão o ritmo tem tanta influência sobre nós? Porque nós próprios somos ritmo. O bater do nosso coração, as pulsações do pulso e do cérebro, nossa circulação sanguínea, o trabalho do mecanismo do nosso corpo, tudo é ritmo. Quando esse ritmo não mais se processa, surgem o desconforto, o desespero e o desaponto.
  • 34. Se olharmos este assunto sob o ponto de vista simbólico, notamos que nossos lucros e perdas, sucessos e fracassos, têm muito a ver com o ritmo com que procuramos nossa motivação na vida. É uma verdade incontestável que quando alguém não toma cuidado com o ritmo, com o que faz correta ou incorretamente, com o que faz de bom ou de mau, em ambos os casos um ritmo errado resultará em fracasso, porque o ritmo não é uma lei à qual só a natureza está sujeita. O homem também está sujeito à lei do ritmo. Ritmo é algo que mantém as coisas devidamente equilibradas. Ritmo dá às coisas e aos seres a força de continuar vivendo e progredindo. Para o conhecimento do ritmo é necessário desenvolver o senso do ritmo. Quando temos uma dor, como passamos a notar o ritmo! Isso prova que instintivamente conhecemos o efeito do ritmo. Por exemplo, às vezes uma congestão causa certa doença, mas o que é congestão e qual é o seu resultado? Congestão é algo que paralisa o ritmo. O ritmo com que o sangue estava circulando cessa devido à congestão. Esse o motivo de surgir a doença. Se levarmos uma vida regular, manteremos o ritmo em tudo que fazemos. Quem leva vida irregular sempre se sentirá perdido, porque não conseguirá alcançar coisa alguma por falta de ritmo. Ritmo é um grande mistério. O senso do ritmo é a coisa que mais devemos desenvolver na vida. É mais importante que qualquer outra coisa. Se alguém precisar explicar o que é ritmo correto na ação e no repouso, a vida no Ocidente não seria um bom exemplo pois, sob o ponto de vista de ritmo e equilíbrio, na vida Ocidental há demasiada atividade. Nesta parte do mundo há tanta atividade que é difícil a qualquer ser humano manter uma vida regular. O péssimo efeito que essa vida acarreta faz-se sentir incessantemente. O povo está muito absorvido com esse tipo de vida e não compreende até que ponto sofre devido aos seus efeitos maléficos. Entretanto, chegará um dia em que as pessoas que pensam começarão a compreender que esse problema vem sendo negligenciado em demasia. A causa? A vida de competição. Todos fazem as coisas não para seu próprio prazer ou prazer de Deus e sim para competir com os outros. A lei do ritmo governa quatro ações do homem: o ritmo correto ou incorreto no sentir, o ritmo certo ou errado no pensar, o ritmo correto e incorreto no falar e o ritmo certo e errado no agir. Quer o ódio, quer o amor, se não forem mantidos dentro do ritmo, não terão sucesso. Não apenas um pensamento maldoso, mas até mesmo um bom pensamento, serão um fracasso se não tiverem ritmo. Os falsos pronunciamentos e os pronunciamentos verdadeiros serão fatais se não tiverem ritmo. Uma ação errada ou uma ação correta, se não tiverem ritmo, não se concretizarão. Quando lidamos com uma pessoa errada, até o que fazemos certo muitas vezes se transforma em coisa errada. Por exemplo, quando dizemos a alguém que está
  • 35. irado e numa grande discussão: “Você está agindo mal”, não estamos lhe transmitindo um bom pensamento e sim dando mais combustível para lutar também contra nós. Quantas vezes observamos que, quando duas pessoas discutem e uma terceira se dirige a elas com as melhores intenções, as duas se voltam contra a terceira. O resultado é que haverá três pessoas discutindo ao mesmo tempo. Cada plano do ser humano depende dos outros planos. Por exemplo, se o corpo perder o ritmo, algo de mal acontecerá com a mente. Se a mente sai do ritmo, o corpo sofre. Se o coração sair do ritmo, a mente ficará perplexa. Se o ritmo da alma pára, tudo irá mal. É uma afirmativa extremista dizer que a virtude do pecador é pecado e o pecado do virtuoso é virtude. O ritmo da alma é influenciado pela mente e pela ação. A alma não possui um ritmo próprio. Num sentido mais elevado, a alma é pura de tudo que é distinguível e divisível. Pode-se perguntar: como pode acontecer o ritmo da alma se perder? Se vemos nosso amigo numa grande tristeza, também ficamos tristes. Não estamos possuídos de tristeza e sim nos sentimos entristecidos porque nosso amigo está triste. Sua tristeza reflete-se sobre nós. A alma não está sujeita a um ritmo certo ou errado, mas um ritmo certo ou errado pode ser refletido na alma. Por exemplo, quando alguém diz alguma coisa feia, o feio está na parte externa da pessoa. E por que se sente ela desconfortável ou sente essa fealdade? Porque a feiúra está em frente de seus olhos e na sua mente, como acontece quando ficamos em frente de um espelho. Nossa imagem não está esculpida no espelho, está apenas refletida no espelho. Ali ficará enquanto estivermos defronte do espelho. Da mesma forma, a alma pode experimentar miséria ou infelicidade, um ritmo correto ou errado, mas quando tanto a miséria como a infelicidade forem removidas, a alma se sentirá livre novamente. Para que condições perfeitas sejam mantidas na vida, é necessário que cada um de nós se torne mestre do ritmo.
  • 36. CAPÍTULO IX Os Aspectos da Natureza: Triplo, Dual e Único Em todas as eras da humanidade os profundos pensadores reconheceram o aspecto triplo da natureza. Os Mestres deram a esses três aspectos nomes diferentes, de acordo com a terminologia de suas respectivas religiões. Deram- lhes também uma interpretação condizente com a época e o lugar. Rastreando a idéia desses três aspectos, descobrimos que ela já existia entre os hindus nos tempos da antiguidade. Chamavam os três aspectos de “Trimurti”. Personificavam os três aspectos dando-lhes três personalidades: Brahma, o Criador, Vishnu, o Sustentador, e Maheish ou Shiva, o Destruidor ou Assimilador. Essa idéia não se aplicava só a Deus. Tudo na natureza mostra esses três aspectos. Por exemplo: há o fogo, o combustível que alimenta o fogo e o ar que sopra e apaga a chama. Em todas as coisas e seres, em suas ações e causas, esses três aspectos podem ser vistos a todos os instantes do dia. Todo objeto apresenta esses três aspectos, embora talvez numa determinada coisa um aspecto seja mais significativo que outro. Os três aspectos também estão presentes em cada indivíduo. Podemos ver esses três aspectos em tudo que fazemos. Pensar é a ação criativa, recordar é a ação sustentadora e esquecer é a terceira ação, a ação da assimilação. A assimilação de alguma coisa é, de certa forma, sua completa destruição. O que é assimilado torna-se outra coisa, tem um nome diferente, não é mais a mesma coisa. Há a ação de esquecer. Às vezes uma pessoa esqueceu-se de alguma coisa, mas armazenou-a na sua mente subconscientemente. Diz: “Esqueci”, mas quando tenta recordar, o que havia esquecido salta de sua memória, o que prova que não foi assimilado, embora tenha sido esquecido. Essa é uma forma ligeira de assimilar, enquanto que a verdadeira assimilação é esquecer completamente uma determinada coisa. Esquecer não é tão fácil como em geral se imagina. É fácil dizer aos outros: “Esqueça”, mas na realidade é muito difícil esquecer alguma coisa, especialmente aquilo que mais queremos esquecer. Certa vez alguém me fez uma visita e me disse: “Tenho somente uma pergunta a lhe fazer: Reencontraremos realmente os que amamos e perdemos?”
  • 37. Respondi-lhe: “É verdade, encontraremos os que amamos e também os que odiamos”. A pessoa ficou muito admirada. Estava pronta para rever os que tinha amado, mas não estava disposta a rever os que tinha odiado. É um fato: lembramo-nos quer dos que gostamos de recordar quer dos que gostaríamos de esquecer. Todos são capazes de realizar essas três ações, embora alguns pareçam mais inclinados a uma dessas ações que às outras. A habilidade do pássaro para construir seu ninho, o amor da galinha que alimenta seus pintos e a fúria do leão em destruir vidas, são demonstrações da existência desses três aspectos, sempre em atividade na natureza. Alguns indivíduos têm visto esses três aspectos sob uma luz diferente, isto é, como a fonte de todas as coisas, como o que Deus criou e como o que se tornou objeto por Ele criado. Em termos religiosos, chamaram esse aspecto triplo de Trindade, personificando-a como o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esses três aspectos existem não só em todas as coisas como em todo ser. Em cada ser existe uma parte que significa a fonte, a meta de todas as coisas. Cada pessoa representa o que já fez e cada um representa também aquilo que passou a ser. Pode-se ver essas três coisas em todos. Cada pessoa mostra a fonte mais pronunciadamente em sua natureza e caráter, ou mostra o que fez para ser o que é, ou ainda mostra aquilo que passou a ser. Esses três aspectos podem ser chamados de Deus, homem e o Ser Divino. Se analisarmos este assunto sob um outro ângulo, notamos que os três aspectos da luz trabalham no ato de ver, ou a luz que vê, a radiação do objeto que é visto, e a luz do sol que cai sobre o objeto, tornando-o claro à nossa visão. Se analisarmos este assunto sob o ponto de vista mental, podemos novamente distinguir três aspectos: o conhecedor, o conhecimento e a faculdade de conhecer. São esses três aspectos que resultam na ação de conhecer. Quando olhamos este assunto sob a luz do amor, vêmo-lo, como disseram os Sufis de todos os tempos, como o amor, aquele que ama e o bem-amado. O fato mais interessante e que emerge do estudo desses três aspectos, é que eles existem em cada coisa, em cada ser e em cada condição, e que sem eles nada poderia existir. Se ao estudarmos esses três aspectos continuarmos a vê- los somente como três, não lograremos alcançar seu segredo, mas se aprendermos a ver os três aspectos como um único e mesmo aspecto, lucraremos com a observação desses três aspectos distintos. Quando observamos o aspecto dual da natureza, verificamos que ele é ainda mais importante. O aspecto dual deve também ser visto em todas as coisas e em cada ser, por exemplo: nos dois lados, na direita e na esquerda, na cabeça e nos pés, no topo e na base, nas duas extremidades dos pares opostos. O aspecto dual se manifesta à nossa visão ao vermos o sol e a lua, quando vemos os aspectos macho e fêmea da natureza e quando vemos o bom e o que não é
  • 38. bom, quando sentimos alegria e tristeza, quando compreendemos que há nascimento e morte. Aí então sabemos o que deve ser conhecido sobre o aspecto dual da natureza. A terra e a água, o acima e o abaixo, tudo na natureza mostra distintamente dois aspectos opostos ou contrários. Além disso, há no ser humano qualidades opostas, quer as chamemos de macho e fêmea, positivo ou negativo, ou delicadeza e grosseria. Nada pode existir sem as qualidades opostas. Além disso, quanto maior for o poder de uma pessoa numa qualidade, maior será a capacidade oposta. Em outras palavras, quanto mais alto estiver uma pessoa, mais fundo será o espaço onde vai cair. Há uma qualidade oculta e há uma qualidade que se manifesta. Nós reconhecemos o que está manifestado e não vemos o que está oculto. Há o avanço e há o retrocesso, há o sucesso e o fracasso, há a luz e a escuridão, há a alegria e a tristeza, há o nascimento e a morte. Todas as coisas que conhecemos, sentimos e percebemos têm seus opostos. A qualidade oposta é que cria o equilíbrio. O mundo não existiria se não houvesse água e terra. Todas as coisas e todos os seres necessitam dessas duas qualidades opostas ou contrárias para existir, agir e preencher seu objetivo na vida, pois cada qualidade é incompleta sem a outra. Nenhum homem tem personalidade completa se não tiver um pouco de toque de delicadeza que faz parte da natureza feminina. A mulher só é completa em seu caráter quando há um pequeno toque da natureza masculina. Falemos agora do caráter único da natureza. Através da penetração profunda da natureza, descobrimos que a criação é a mesma criação do Criador, que a fonte é a mesma coisa que a meta e que dois apenas significam um. Há duas extremidades numa linha, mas a linha é uma. Essa unicidade manifesta-se em todas as coisas, embora raramente o homem dispense um pensamento a esse assunto. Essa manifestação assombrosa, esse mundo de variedade é tão surpreendente, é para nós tão confuso e absorvente, que dificilmente arranjamos tempo para apreciar esse fenômeno maravilhoso; como um único e mesmo Ser mostra-se como é até no mundo da variedade. Não existem dois rostos iguais, não há dois frutos inteiramente iguais, não existem duas folhas iguais e nunca há duas flores idênticas. Se a penetração do homem for muito profunda, descobrirá que até os objetos por ele feitos são de alguma forma diferentes. Cada ser tem peculiaridade própria e não pode ser comparado com outro ser, porque cada ser é um ser único. Se o homem é bom, não há nenhum outro cuja bondade seja igual à dele. Se é mau, não há outro exatamente igual a ele. O homem é um único ser, singular, provando aos que estão com os olhos abertos que só existe um único Ser.
  • 39. CAPÍTULO X O Espírito do Lado de Dentro e do Lado de Fora O espírito de todas as coisas e de todos os seres está tanto do lado de dentro como do lado de fora. Um metal, uma pedra, uma fruta ou uma flor, todas as coisas têm dentro de si seu espírito, embora numa forma oculta. O espírito continua a existir mesmo depois que a forma em que se achava deixou aparentemente de viver. A madeira da árvore-sândalo conserva a essência do sândalo mesmo depois de seca. As cinzas das pérolas conservam a sua essência tão poderosa. Uma centelha de fogo está oculta na pedra que é fria. Na fruta há uma semente que contém sua essência. Em alguns frutos há um espaço, um vácuo, que não é desprovido de espírito. Poucos são os capazes de encontrar espírito no vácuo, mas no vácuo pode ser observado um fenômeno. Por exemplo, no vácuo de uma maçã se encontra a essência da fruta. Não é, pois, fruto da imaginação quando se diz que os povos antigos acreditavam no espírito das árvores e plantas, no espírito das montanhas e colinas, pois não existe nada que não tenha espírito, embora essa parte do objeto – o espírito – esteja velada e não possamos vê-la. Vemos apenas a parte exterior do objeto, mas há da mesma maneira um espírito oculto. Se quisermos seguir o rastro do espírito, um dia o encontraremos. As qualidades das coisas devem ser encontradas no seu espírito e nunca nas próprias coisas. Por saberem disso, os médicos dos tempos antigos tentavam extrair a essência de certas coisas por meio de processos como esmagá-las, queimá-las e muitas vezes lavá-las. Conseguiam tirar o espírito, ou a essência, das coisas. Esse espírito ou essência se tornava mil vezes mais potente que a própria coisa da qual era extraído. Os que estão familiarizados com a alquimia sabem como extrair a parte viva e oculta de dentro de cada substância, de cada coisa e, de certa forma, até de suas essências. Quando a essência é extraída, colhe-se todos os benefícios que podem ser tirados da coisa que a continha. Os alquimistas, em determinada época, usaram um processo para produzir metal das ervas. Usaram também um outro processo pelo qual extraíram a essência das flores, de tal maneira que uma gota da essência espalhava seu perfume a grandes distâncias. Parece que tal arte desapareceu. No entanto, aprendemos
  • 40. dela que há um espírito em tudo que existe e que esse espírito possui todas as qualidades que não são mostradas em seu exterior. Os astrônomos chamam os planetas conhecidos de acomodações, de mundos. Os cientistas acham que o espaço contém certas substâncias conhecidas. Mas se há uma fonte de vida, não pode haver um espaço vazio, deve haver vida. E há vida. O espaço não está apenas cheio de substâncias, está também cheio de espírito. Em outras palavras, a vida é uma e a vida representa muitas vidas. Assim, não há só uma vida no espaço, há muitas vidas. Como nossos sentidos são muito limitados e por isso não podemos ver além de certa distância e como não podemos ouvir nada além do que nossos ouvidos permitem, nossos sentidos não podem perceber todas as coisas e todos os seres. Mas não é por isso que não existem. Os que conseguiram ver ou perceber essas coisas e seres, descrevem-nos como lendas e os chamam de fadas, espíritos, djins e muitos outros nomes. Os artistas também ajudaram o homem a ter uma certa idéia desses seres, mas isso não quer dizer que seja tudo fruto de imaginação e que nada existe senão aquilo que podemos perceber, por meio de nossos órgãos sensoriais. As coisas se mostram ao homem com sua própria luz. Nossos olhos podem perceber certas formas, mas há outras formas que nossos olhos não podem ver, o que não significa que não existam formas além das que podemos ver com nossos olhos. Idéias como existência de um outro mundo e de planos diferentes são ensinadas pelos filósofos para dar às pessoas uma noção do mundo interior, mas a verdade é que não existe uma polegada no espaço em que não haja seres, seres com uma forma, embora numa forma que nossa visão física limitada não possa ver. A razão é que a luz à qual se mostra um objeto ou uma forma é mais fraca nessas outras formas, ou por outra, a luz é mais clara à nossa percepção interior e é mais fraca à nossa visão exterior. O que vemos diante dos nossos olhos não é tão nítido como as coisas que vemos em nossos pensamentos simplesmente porque a esfera do pensamento é diferente. Pertence a uma dimensão diferente. Para nós, os pensamentos são mais claros que o que vemos com os olhos, porque vemos nossos pensamentos detalhadamente e cada detalhe é nítido, enquanto que o que vemos com os olhos em grande parte é apenas um contorno. Esse é o motivo de uma pessoa poder idealizar mais facilmente uma outra à distância, porque os olhos do coração podem ver muito mais claramente que os olhos físicos. Naturalmente, quando estamos pensando e vendo ao mesmo tempo, nem o que vemos nem o que pensamos é claro. O que torna o homem limitado e priva-o da visão dos objetos e seres do mundo invisível? Em primeiro lugar, o mundo invisível é um nome inventado por conveniência própria. O mundo invisível é o mundo visível e o mundo visível é o mundo invisível. O chamado outro mundo é o mesmo mundo em que estamos.
  • 41. Este mundo é o mesmo outro mundo, só que está velado aos nossos olhos e por isso dizemos que é um próximo passo e o chamamos de mundo invisível. Se o homem é capaz de ver o mundo visível, é também capaz de observar o mundo invisível se primeiramente passar a ver e observar seu próprio mundo invisível. Uma pessoa não observa o mundo invisível porque está tão acostumada a observar apenas o que vê diante de si, que não vê mais nada. Nunca se volta para o seu interior para ver o que existe dentro de si. Os que já despertaram dentro de si a compaixão, os dotados de belos sentimentos, os que possuem pensamentos profundos, aquelas pessoas cuja imaginação alcança altas esferas, nunca poderão negar o fato que o pensamento pode chegar muito além dos limites da terra e da água e que os sentimentos são refletidos a enormes distâncias. Duas almas podem se comunicar entre si onde quer que estejam, num piscar de olhos. Se isso é verdade, então o outro mundo não é muito longe. O mundo invisível não está submerso, está aqui diante de nós. Vivemos, nos movemos e temos nossa vida nele. Então não saímos daqui depois da morte? Pensar que existe um outro mundo é um pensamento poético, é uma bonita fantasia, mas não somos nós mesmos um mundo? Cada experiência nova é um outro mundo. Além disso, cada dia é um novo mundo. Não é preciso morrer para ver o outro mundo: cada nova experiência cria um novo mundo em nossas vidas. A primeira coisa a fazer para ter uma visão profunda do mundo invisível, é abrir a visão para ver o ser invisível que está dentro de nós. Em outras palavras, abrir o terceiro olho, como é chamado na terminologia esotérica. Por que o nome terceiro olho? Porque o terceiro olho não é formado de dois olhos, é um olho só, é a própria visão. Precisamos dos dois olhos para ver externamente, mas para ver internamente precisamos apenas de um olho, o terceiro olho, a visão verdadeira. No mundo invisível nós, os seres humanos, somos tão delicados como os seres invisíveis. No mundo exterior somos tão densos como os seres visíveis. Quando estamos conscientes da parte física do nosso ser, quando nos identificamos com ela, naturalmente a outra parte do nosso ser que é invisível e semelhante a todos os seres invisíveis, não existe para nós, mas isso não significa que não somos seres invisíveis. Somos de qualquer maneira seres invisíveis. A sutileza da natureza humana, a percepção refinada, o sentimento profundo, a imaginação elevada, tudo isso não é invisível e no entanto não é o nosso próprio ser? Nosso ser se eleva mais alto que a altitude a que chegam os pássaros. Nosso ser é mais delicado que uma mariposa e mais brilhante que a própria chama. Qualquer coisa para ser visível aos olhos humanos precisa estar sob a seguinte condição: que sua forma tenha um certo grau de radiação, de fulgor. Se não for suficientemente brilhante ou se sua radiação for de um caráter diferente, não será vista pelo olho humano. Mas isso não significa que aquilo que os olhos não podem ver um ser humano não possa ver, porque o olho verdadeiro é o ser. É por isso que quando o homem fala de si diz “Eu”, “Eu Sou”.
  • 42. Não é preciso desenvolver a introspecção na natureza para experimentar o fenômeno de um mundo mais refinado. Devemos usar nossos próprios olhos para ver e perceber por meio da introspecção, para viver uma vida mais plena, uma vida de maior perfeição.
  • 43. CAPÍTULO XI Espírito e Matéria (1) Quando conversamos, usamos muitas vezes as palavras espírito e matéria. O significado dessas palavras, entretanto, não é o mesmo para todos. Alguns acham que “espírito é uma coisa, matéria é outra, nem a matéria é espírito nem o espírito é matéria”. São pessoas que se inclinam para a religião. Outra pessoa, um materialista, diz que “não existe tal coisa chamada espírito, tudo que existe é matéria” e ainda há uma terceira que diz: “não mencione a palavra matéria porque não existe. É pura ilusão, o que existe é o espírito.” Somos livres para acreditar no que quisermos, mas quando raciocinamos e estudamos profundamente a vida vemos as coisas de uma forma completamente diferente. O gelo e a água são duas coisas e, no entanto, em sua verdadeira natureza são uma só coisa. O mesmo acontece com o espírito e a matéria. A água transforma-se em gelo por um determinado período, mas quando o gelo se derrete transforma-se em água. Portanto, a matéria é uma fase passageira do espírito que não se derrete logo, como o gelo em água. Assim, pois, o homem duvida que a matéria, que tem milhares de formas, realmente se transforme em espírito. Na realidade, a matéria vem do espírito. A matéria, em sua verdadeira natureza, é espírito. A matéria é um processo do espírito, que se materializou e se tornou inteligível à nossa percepção, escondendo-se o espírito na matéria. Assim, aos olhos daqueles que olham a vida superficialmente, a existência do espírito não é visível. Está escrito no Corão: “Tudo vem de Deus e a Ele retorna”. Se usarmos palavras filosóficas, podemos simplesmente dizer que tudo vem do espírito e para ele volta. Nenhuma substância pode existir sem o espírito. Embora exista luta entre o espírito e a substância, embora haja oposição entre eles, nenhuma substância jamais poderá existir sem o espírito. Através dessa luta entre a substância e o espírito, a substância resistirá ao espírito e o expulsará, resistindo, cedendo ou sendo diminuída pelo poder do espírito. Chegará, porém, um dia em que diminuirá. Em outras palavras, não há montanha que um dia não seja esmigalhada. O que significa a morte para o espírito? O espírito nada é para a matéria e para o espírito a matéria também nada significa, não lhe faz falta porque é auto- suficiente. O espírito sente falta da matéria somente em sua condição ativa limitada. Quando o espírito está atuando num processo de manifestação
  • 44. necessita então de um invólucro e através dele experimenta a vida de maneira limitada, mas em sua verdadeira natureza o espírito é auto-suficiente, não precisa de nenhuma experiência, tem em si toda a experiência, todo o conhecimento, nada deseja. Podemos chamar a matéria de positiva e o espírito de negativo. Há um motivo para cada caso. Ao chamarmos a matéria de positiva estamos certos, ela é como um retrato – o espírito está atrás dele. Estamos sempre inclinados a chamar o retrato de parte positiva e não o que está por detrás dele, mas se chamarmos o espírito de positivo também estamos certos, porque a matéria veio do espírito e o espírito algum dia a consumirá. É através da vibração, do movimento, que o espírito se transforma em matéria. Os hindus chamam o espírito de “Nada” e juntamente com essa palavra sempre usam a palavra “Brahma”, que significa vibração de Deus. Nunca chamam de vibração e sim de vibração divina – “Nada Brahma”. Pela vibração o espírito chega a duas experiências: primeiro – torna-se audível e a seguir visível. Na Bíblia lê-se uma alusão a isso: “Primeiro havia o Verbo e o Verbo era Deus”, e depois veio a luz, a vida visível. Isto significa que a primeira experiência do espírito é a vida que lhe é audível e a outra experiência é a vida que lhe é visível. Falemos agora do espírito. O que é e como o definimos? A resposta é: se definirmos o espírito ele não pode ser espírito, ou por outra, o espírito que pode ser definido não pode ser espírito. A melhor definição de espírito é “o que não é matéria”. Sem dúvida, os químicos vêm usando a palavra espírito para designar a essência extraída de alguma coisa. Simbolicamente a significação é a mesma, mas traz ao mesmo tempo o espírito à matéria. Os químicos apanham um vidro de essência e dizem “Eis aqui o espírito”. Simbolicamente estão certos, mas, na realidade, o espírito significa alguma coisa que nossos sentidos não podem perceber, no sentido de que o que é essência é espírito mas o que é percebido não pode ser espírito. Os espiritualistas dão nomes às almas que desaparecem. Simbolicamente falando, é verdade que o corpo, que representava a parte material do homem, desapareceu e a personalidade desapareceu com o espírito. Enquanto é perceptível, tem a personalidade suas qualidades particulares e ainda retém sua individualidade e não pode ser espírito. O espírito pode ser melhor definido como inteligência pura. Ocupados com este mundo de ilusão, retemos em nossas mentes impressões e conhecimentos do mundo material e nem sempre somos capazes de experimentar esta parte do nosso ser que é a inteligência pura. A palavra inteligência é por nós usada num sentido inteiramente diferente. Chamamos uma pessoa inteligente quando ela é hábil, esperta. A pura inteligência nada tem a ver com habilidade e tão pouco podemos chamar a inteligência pura de faculdade de saber. Está acima disso tudo. Conhecemo-la como uma faculdade, mas é, na realidade, o espírito propriamente dito. A ciência moderna, entretanto, não aceita este argumento,
  • 45. porque a idéia do cientista atual é que o que chamamos de inteligência é apenas uma consequência, um resultado do espírito, do espírito que evoluiu milhares de anos através da forma de inteligência. Ele traça a origem da inteligência na matéria. O místico, a exemplo do que já sabiam os antigos profetas, santos, sábios e místicos, reconhece que se trata do espírito, o qual, por meio de uma ação gradativa, se tornou mais denso e se materializou no que chamamos de matéria ou substância e, através dessa substância, revela-se gradativamente, pois não pode parar. O espírito é aprisionado numa densidade e gradativamente se escapa por um processo que leva milhares de anos. No homem desenvolve- se como inteligência. Muitos biologistas têm dito que os animais não possuem mente. É uma diferença de palavras apenas. A mente é somente um veículo da inteligência. É a inteligência que se manifestou como matéria e é a mesma inteligência que gradativamente se desenvolveu, através de aspectos diferentes, numa inteligência mais clara e mais pura. Assim, as criaturas inferiores podem, talvez, não ter a espécie de mente que o cientista vê no homem, mas sim um veículo de inteligência. Podemos encontrar inteligência não somente em animais e pássaros mas também na substância. Não é apenas uma ação química o fato de uma flor murchar na mão de uma pessoa e conservar-se viva na mão de outra. Não é uma ação automática da planta crescer sob os cuidados de uma determinada pessoa e a mesma planta deixar de crescer com outra pessoa. Se estudarmos o assunto ainda mais profundamente, verificaremos que a cor e o brilho das pedras preciosas variam na mão das pessoas. Também as pérolas modificam a sua luz quando passam de uma mão para outra. Quanto mais nos aprofundamos no estudo da matéria, maiores provas encontramos da inteligência agindo através de todo o processo de desdobramento contínuo. Qual o motivo das flores murcharem quando tocadas por certas pessoas? O mesmo acontece conosco. A presença de certas pessoas nos aborrece, não podemos tolerá-las, e há outras pessoas cuja presença nos faz bem. O mesmo acontece com as flores, mas o fenômeno atrás desses fatos é o amor. A pessoa que não possui o elemento amor mata tudo que toca, seja uma flor, um negócio ou uma criança. Tudo que toca se destrói, porque o amor em si é uma essência, a essência, o sinal do espírito. Com amor tudo que é tocado por essa pessoa terá luz, vida, e a ausência do amor causa a morte e a decadência. Quando uma pessoa sem amor toca em copos e pratos, os primeiros se quebram e os segundos se racham. Talvez ainda não tenhamos tido tal experiência, mas um dia poderemos ver que quando uma pessoa desarmoniosa entra numa casa, coisas quebram-se, há acidentes e os pequenos animais domésticos, como cães e gatos, ficam irrequietos. Entretanto, o que mais nos interessa no estudo do espírito e da matéria é a natureza do vácuo e da substância. A substância tem uma tendência de fazer com que a substância se lhe adira e transformar tudo que atrai na mesma