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[Melaleuca 006]
Óleo Essencial: Melaleuca alternifolia e Rosmarinus officinalis
Composto: Terpinen-4-ol, γ-terpineno, α-terpineno, terpinoleno, α-terpineol, 1,8-cineol,
α-pineno, cânfora, canfeno.
Título: Appraisal on the wound healing potential of Melaleuca alternifolia and Rosmarinus
officinalis L. essential oil-loaded chitosan topical preparations
“Avaliação do potencial de cicatrização de feridas de Melaleuca alternifolia e Rosmarinus
officinalis L. com preparações tópicas de quitosana carregadas com óleo essencial”.
Autor: Rola M. Labib, Iriny M. Ayoub, Haidy E. Michel, Mina Mehanny, Verena Kamil, Meryl
Hany, Mirette Magdy, Aya Moataz, Boula Maged e Ahmed Mohamed
Journal: PLoS ONE
Vol/Issue: 14 (9)
Ano: 2019
DOI: 10.1371/journal.pone.0219561
TAGS: Cicatrização de feridas; Melaleuca alternifolia; Rosmarinus officinalis; preparações
tópicas; quitosana; tecido danificado; reparação tecidual; fase inflamatória; inflamação local;
fase proliferativa; granulação; contração do tecido; epitelização; remodelação tecidual; pele;
biocompatibilidade; infecção; efeito sinérgico; sinergia; penetração na pele; terpinen-4-ol;
γ-terpineno; α-terpineno; terpinoleno; α-terpineol; 1,8-cineol; α-pineno; cânfora; canfeno;
malonaldeído; estresse oxidativo; reepitelização; antioxidante; glutationa; biotransformação e
eliminação de xenobióticos; defesa; in vivo; uso tópico; ação citotóxica; ação genotóxica; tea
tree; alecrim.
Sobre o artigo
Os remédios tradicionais, especialmente as formulações à base de plantas, promovem a
cicatrização de feridas de forma marcante, pois influenciam em uma ou várias etapas durante o
processo de cicatrização. Esta cascata compreende vários eventos fisiológicos sistemáticos
com o objetivo de reparar o tecido danificado de forma completa ou pelo menos parcial.
O processo pode ser categorizado em 3 fases principais; a fase inflamatória (restabelecimento
da homeostase e inflamação local), a fase proliferativa (granulação, contração do tecido e início
da epitelização) e, finalmente, a fase de remodelação, que decide a força e a aparência do
tecido após a cicatrização.
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Os óleos essenciais, isolados de várias fontes vegetais, são comumente utilizados no
tratamento de primeiros socorros de feridas, queimaduras ou abscessos. Estudos recentes
lançam luz sobre suas propriedades antimicrobianas, pesticidas, na promoção da cicatrização
de feridas e antioxidantes – devido aos seus compostos farmacologicamente ativos, como o
borneol, cânfora, terpinen-4-ol, eucaliptol e muitos outros.
O óleo de tea tree é o OE derivado da planta nativa australiana Melaleuca alternifolia
pertencente à família Myrtaceae, que cresce naturalmente no norte da Austrália. As suas
propriedades antibacterianas e antissépticas são lendárias e tem sido usado há séculos. Esse
“óleo de cura mágico” foi fornecido, por exemplo, ao exército australiano durante a Segunda
Guerra Mundial, pois era o melhor tratamento possível contra infecções causadas por cortes,
feridas e picadas.
O óleo essencial de alecrim é obtido da erva aromática Rosmarinus officinalis L. (família:
Lamiaceae), uma erva lenhosa perene, nativa da região mediterrânea. Na medicina popular
tem sido usado para tratar dores de cabeça, melhorar a circulação sanguínea, um analgésico
leve e anti-inflamatório. Estudos anteriores relataram que o OE de alecrim possui fortes
propriedades antioxidantes e antimicrobianas, bem como atividade de cicatrização de feridas.
A quitosana (QS), um remédio natural obtido através de exoesqueletos dos crustáceos, confere
uma infinidade de privilégios devido à sua biocompatibilidade, biodegradabilidade, formação de
filme, aumento da penetração, cicatrização de feridas e características antimicrobianas. Vários
estudos forneceram evidências adequadas para os efeitos sinérgicos de QS com óleos
essenciais para prevenir infecções e melhorar a cicatrização de feridas.
Portanto, o objetivo desta pesquisa foi elucidar a capacidade cicatrizante de filmes de QS
carregados com OEs de alecrim ou tea tree, separadamente ou em combinação.
Na experiência de cicatrização de feridas in vivo o lado dorsal anterior de 36 ratos foram
raspados e uma ferida de espessura total de 2 cm² foi criada removendo um pedaço de pele
sob anestesia. Os animais foram divididos em 6 grupos:
- Grupo I: controle negativo (ferida sem tratamento)
- Grupo II: controle positivo (uso de Nolaver um produto comercializado, conhecido por
sua eficácia na cicatrização de feridas);
- Grupo III: simples (apenas quitosana);
- Grupo IV: óleo de tea tree em quitosana (QST);
- Grupo V: óleo de alecrim em quitosana (QSA);
- Grupo VI: mistura de óleos essenciais de tea tree e alecrim (1:1) em quitosana (QSS).
A área da ferida foi medida no dia 0 e nos dias 7 e 14 após o ferimento. A porcentagem de
contração da ferida foi usada para expressar os resultados das medições da mesma.
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Resultados:
O óleo de tea tree exibiu uma cor amarelo pálido com odor picante característico. Enquanto
isso, o óleo essencial de alecrim exibia uma cor amarelo claro com um odor aromático distinto.
Então, 16 componentes foram identificados para o OE de M. alternifolia, representando 100%
da composição total do óleo. Monoterpenos oxigenados constituíram quase metade da sua
composição, enquanto os hidrocarbonetos monoterpenos constituíram 46%. Os componentes
principais foram terpinen-4-ol (45%), γ-terpineno (23%), α-terpineno (10%), terpinoleno (3,5%),
α-terpineol (3%), 1,8-cineol (3%) e α-pineno (2,5%).
Ainda, 12 componentes foram identificado para o óleo essencial de R. officinalis representando
98% do óleo total. Os componentes principais foram 1,8-cineol (53%), α-pineno (14%), cânfora
(10%) e canfeno (4%). Os monoterpenos oxigenados constituíram 69%, por outro lado,
hidrocarbonetos monoterpenos constituíram 25%.
● Efeito da aplicação tópica de diferentes tratamentos na contração da ferida:
A contração da ferida foi calculada como a redução percentual na área da ferida no 7º e 14º
dias do experimento.
Observou-se que a aplicação tópica de tea tree, alecrim e a mistura dos dois resultaram em um
aumento significativo na porcentagem de contração da ferida em 2.43, 2.41 e 2.82 vezes,
respectivamente, em comparação com o grupo de controle negativo, no 7º dia de experimento.
Além disso, a porcentagem de contração da ferida foi significativamente maior nesses grupos
em comparação com o grupo de controle positivo.
Ainda, a aplicação tópica de tea tree, alecrim e a mistura dos dois resultaram em um aumento
significativo na porcentagem de contração da ferida em 1.87, 1.63 e 2.13 vezes,
respectivamente, em comparação com o grupo de controle negativo, no 14º dia do
experimento.
Digno de nota, a aplicação tópica da mistura resultou em um aumento significativo na
porcentagem de contração da ferida em comparação com os grupos tratados separadamente
com óleo essencial individual.
O controle positivo (Grupo II) demonstrou reepitelização completa com grande área subjacente
da camada dérmica, ocupada por tecido de granulação altamente celular com infiltrações
celulares inflamatórias focais e vasos sanguíneos recém-formados com poucos folículos
capilares ativados.
As amostras simples (Grupo III) mostraram reepitelização incompleta com ulceração e
formação de crosta, com muitos restos de tecido infiltrados com células inflamatórias. No
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entanto, observou-se uma ampla área de formação de tecido de granulação na derme, rica em
vasos sanguíneos, fibroblastos e infiltrações de células inflamatórias.
O grupo tratado com óleo de tea tree (Grupo IV) e o grupo tratado com óleo de alecrim (Grupo
V) demonstraram processo de cicatrização retardado, mostrando reepitelização incompleta
com formação de úlcera e acantose adjacente (aumento da espessura da epiderme). A
formação de crosta foi observada em tecido de granulação dérmica com pluralidade celular,
com aumento contínuo e generalizado de células inflamatórias difusas, e, ricos em capilares
sanguíneos.
Curiosamente, o grupo tratado com preparação tópica de quitosana à base de óleos de tea tree
e alecrim (Grupo VI) estava intimamente relacionado ao grupo de controle positivo. As
amostras demonstraram reepitelização completa com grande área subjacente da camada
dérmica, ocupada por tecido de granulação pluralmente celular, juntamente com muitas
infiltrações de células inflamatórias e vasos sanguíneos recém-formados com poucos folículos
pilosos ativados.
O nível de malonaldeído (conhecido como MDA, possui ação citotóxica e genotóxica,
encontrando-se em níveis elevados em algumas patologias associadas ao estresse oxidativo)
foi significativamente reduzido no tecido de granulação da ferida isolada do grupo de controle
positivo em 56% em comparação com o grupo de controle negativo.
Portanto, a aplicação tópica de tea tree e alecrim resultaram em uma redução significativa no
nível de MDA em 44 e 39%, respectivamente.
O nível de glutationa (GSH, que possui papel central na biotransformação e eliminação de
xenobióticos e na defesa das células contra o estresse oxidativo) nos grupos tratados com tea
tree e alecrim foram significativamente elevados em 20 e 13 vezes, respectivamente, em
comparação com o grupo de controle negativo.
Digno de nota, o nível de GSH no grupo tratado com mistura de tea tree e alecrim foi
significativamente elevado em 27 vezes em comparação com o grupo de controle negativo.
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Imagem: As fotografias representam o fechamento da ferida em ratos com a aplicação tópica de
diferentes tratamentos no dia 7 e no dia 14.
Explicando o gráfico: Efeitos de diferentes tratamentos em relação à porcentagem de fechamento da
ferida em diferentes dias (contração da ferida,%). Podemos observar que a percentagem da contração
das feridas foi aumentada ao longo do tempo, principalmente entre os grupos II, III e VI; no entanto,
todos obtiveram ótimas respostas.
Na prática:
A partir deste estudo, os pesquisadores podem concluir que a incorporação de óleos essenciais
de tea tree e alecrim em preparações à base de quitosana e em combinação adequada podem
promover de forma eficiente diferentes estágios de cicatrização de feridas, além de
comprovadamente diminuir o estresse oxidativo na área afetada.