1. [Odonto 031]
Óleo essencial: Eremanthus erythropappus
Composto: α-bisabolol, cis-α-bisaboleno, β-bisaboleno
Título: In vitro evaluation of anticaries, antimycobacterial, antileishmanial and cytotoxic
activities of essential oils from Eremanthus erythropappus and of α-bisabolol, their major
sesquiterpene
"Avaliação in vitro das atividades anticárie, antimicobacteriana, antileishmania e citotóxica dos
óleos essenciais de Eremanthus erythropappus e do α-bisabolol, seu principal sesquiterpeno".
Autor: Cassia Cristina Fernandes, Priscila Mileide de Andrade, Tainá Caroline Lucena dos
Santos, Mariana Brentini Santiago, Mariana Cintra Pagotti, Antônio Eduardo Miller Crotti, Carlos
Henrique Gomes Martins, Lizandra Guidi Magalhães, Mayker Lazaro Dantas Miranda
Jornal: Australian Journal of Crop Science
Vol (issue): 14 (2)
Ano: 2020
DOI: 10.21475/ajcs.20.14.02.p1876
TAGs: Odontologia; odonto; anticárie; cárie dentária; antimicobacteriano; antileishmania;
citotoxicidade; Eremanthus erythropappus; α-bisabolol; sesquiterpeno; cis-α-bisaboleno;
β-bisaboleno; Streptococcus mutans; S. mitis; S. sanguinis; S. sobrinus; S. salivarius;
Mycobacterium tuberculosis; M. avium; M. kansasii; concentrações inibitórias mínimas;
concentração citotóxica; atividade antimicobacteriana; leishmaniose; antiparasitário; saúde
bucal; dentista; toxicidade; doença bucal; sinergia; in vitro; cavidade oral; candeia; biofilme.
Sobre o artigo:
A família Asteraceae, que possui cerca de 1.300 gêneros e 23.000 espécies, compreende
principalmente ervas, arbustos e pequenas árvores com folhas e caules cujas estruturas
secretoras, como os tricomas, que secretam óleos essenciais.
Esses OEs, principalmente os de candeia (Eremanthus erythropappus), são ricos em
α-bisabolol, fato que lhes confere grande importância econômica, pois este sesquiterpeno é
utilizado para a formulação de diversos produtos cosméticos.
Extratos e OEs de E. erythropappus são conhecidos por suas importantes atividades
biológicas, como os antimicrobianos contra diversos patógenos - Alternaria carthami,
Rhizoctonia solani, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Streptococcus pyogenes,
Pseudomonas aeruginosa, Saccharomyces cerevisiae e Cryptococcus spp.; além dos
antinociceptivos, anti-inflamatórios, esquistossomicidas, antiedema e antiulceras.
2. No entanto, as atividades anticárie, antimicobacteriana e antileishmaniose dos OE de E.
erythropappus ainda não foram investigadas.
A cárie dentária tem sido um grande problema de saúde pública em todo o mundo e esta
patologia está associada a uma série de bactérias, incluindo Streptococcus mutans, S. mitis, S.
sanguinis, S. sobrinus e Lactobacillus casei, que aderem à superfície dentária.
A cárie está localizada nos tecidos duros dos dentes como resultado do acúmulo de bactérias,
que leva ao desenvolvimento do biofilme, e de seu metabolismo na superfície dentária. Pode
ser explicada sistematicamente pela desmineralização da parte inorgânica dos dentes
(esmalte) e pela degradação de substâncias orgânicas (dentina).
Os agentes antibacterianos atuais usados no tratamento de problemas de saúde bucal têm
levado a diversos efeitos colaterais, como diarreia e vômito, e o aumento da resistência
bacteriana aos medicamentos e o alto custo dos procedimentos terapêuticos padrão também
têm sido motivos de preocupação.
Assim, novos agentes terapêuticos devem ser explorados e a busca por produtos naturais
bioativos de fontes vegetais distintas deve ser ampliada. Portanto, o potencial antibacteriano
dos OEs extraídos de diferentes espécies de plantas foi recentemente destacado e levou ao
aumento do interesse dos pesquisadores em estudos de OEs em todo o mundo.
A tuberculose, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, tem sido a principal doença
infecciosa e contagiosa de origem bacteriana no mundo, pois é responsável pela morte de dois
milhões de pessoas por ano. Além de M. tuberculosis, outras micobactérias não tuberculosas,
como M. avium e M. kansasii, também são importantes porque afetam os pulmões, a linfa, a
pele e as articulações e levam a sequelas graves se não tratadas adequadamente.
A leishmaniose é uma doença infecciosa não contagiosa causada por protozoários do gênero
Leishmania e o tratamento é baseado em antimoniais pentavalentes e pentamidinas, que além
de tóxicos, caros e difíceis de administrar, podem gerar parasitas resistentes. Dessa forma, os
resultados alcançados por essas drogas têm sido considerados insatisfatórios.
Considerando que os produtos naturais desempenham um papel terapêutico significativo e são
alvos importantes para o desenvolvimento de novos fármacos, este trabalho relata as
atividades anticárie, antimicobacteriana, antileishmaniose e citotóxica in vitro de OEs de folhas
de E. erythropappus (OE-EF) e caules (OE-EC), além de α-bisabolol, seu principal
sesquiterpeno.
OE-EF e OE-EC foram extraídos por hidrodestilação e analisados quimicamente por GC-FID e
GC-MS. A atividade antibacteriana de OE foi avaliada contra oito cepas padrão de patógenos
da American Type Culture Collection (ATCC), determinando as concentrações inibitórias
mínimas (CIMs) com o uso do método de microdiluição.
A atividade antibacteriana foi avaliada contra Streptococcus mutans, S. mitis, S. sanguinis, S.
sobrinus, S. salivarius, Mycobacterium tuberculosis, M. avium e M. kansasii.
3. Resultados:
As análises químicas identificaram onze compostos em OE de folhas de E. erythropappus e
dezesseis compostos no OE dos seus caules, 97% e 97% dos compostos totais,
respectivamente.
Os sesquiterpenos oxigenados foram os principais constituintes do OE-EF (69%) e OE-EC
(73%). Os principais constituintes químicos identificados no OE-EF foram α-bisabolol (65%),
cis-α-bisaboleno (8%) e β-bisaboleno (8%), enquanto no OE-EC, foram α-bisabolol (67%) e
cis-a-bisaboleno (8%).
Este estudo investigou a atividade anticárie in vitro de OE-EF, OE-EC e α-bisabolol contra as
principais bactérias cariogênicas em termos de suas concentrações inibitórias mínimas (CIMs),
em comparação com o dicloridrato de clorexidina (CHD, controle positivo).
OE-EF, OE-EC e α-bisabolol forneceram CIMs que variaram de 50 a 250 µg/mL contra os
principais agentes causadores da cárie dentária. Os CIMs mais baixos de OE-EF, OE-EC e
α-bisabolol foram encontrados contra Streptococcus mutans, 62,5 µg/mL, 62,5 µg/mL e 50
µg/mL, respectivamente.
Contra S. mitis, S. sanguinis, S. sobrinus e S. salivarius, OE-EF, OE-EC e α-bisabolol foram
considerados moderadamente ativos, pois apresentaram CIMs entre 100 e 250 μg/mL.
Segundo alguns autores, os OEs cujas CIMs estão acima de 1 mg/mL são considerados pouco
ativos; CIMs menores que 100 µg/mL significa boa atividade; CIMs entre 100 a 500 µg/mL
representa atividade moderada; CIMs entre 500 a 1000 µg/mL mostra atividade fraca; e CIM
maior do que 1000 µg/mL é inativa.
4. Levando em consideração todas as bactérias cariogênicas em investigação, OE-EF, OE-EC e
α-bisabolol exibiram os menores valores de CIMs contra S. mutans. Este é um resultado digno
de nota, pois poucos compostos naturais são conhecidos por inibir esse microrganismo, que é
um dos principais agentes causadores da cárie dentária.
Ainda, a atividade antimicobacteriana in vitro de OE-EF, OE-EC e α-bisabolol contra
Mycobacterium tuberculosis, M. kansasii e M. avium foi também investigada pela determinação
das concentrações inibitórias mínimas (CIMs).
OE-EF, OE-EC e α-bisabolol mostraram CIMs entre 20 µg/mL e 1000 µg/mL. Sendo que os
OE-EF e OE-EC foram ativos contra M. kansasii (CIM = 250 μg/mL), moderadamente ativos
contra M. tuberculosis (CIM = 500 μg/mL) e inativos contra M. avium (CIM = 1000 μg/mL).
O constituinte α-bisabolol foi altamente ativo contra M. tuberculosis (CIM = 20 μg/mL) e ativo
contra M. kansasii e M. avium (CIM = 150 μg/mL).
As atividades anticáries e antimicobacterianas promissoras de OE-EF e OE-EC encontradas
neste estudo podem ser explicadas por sua alta concentração de α-bisabolol, que é bem
conhecida e relatada na ciência.
OE-EF, OE-EC e α-bisabolol exibiram alta atividade leishmanicida quando testados contra
formas de L. amazonensis. O aumento da lise do parasita (dissolução de células causada pela
rotura da membrana plasmática) foi observado com o aumento da concentração de OE nos
valores de concentração inibitória de 50% da sua população (IC50). Sendo, os valores de IC50:
9,22 µg/mL (OE-EF), 6,00 µg/mL (OE-EC), 3,12 µg/mL (α-bisabolol) e 1,88 µg/mL (anfotericina
B) – controle positivo.
A atividade leishmanicida exibida pelos OEs pode ser explicada pela alta concentração de
α-bisabolol, que também havia sido previamente identificado em OEs de Vanillosmopsis
arborea. Outros autores também testaram α-bisabolol puro e relataram sua atividade contra
Leishmania amazonensis, corroborando os achados deste estudo.
Os níveis de toxicidade (CC50) foram relatados na literatura como altamente tóxicos (CC50 <
10 μg/mL), tóxicos (10 < CC50 < 100 μg/mL), moderadamente tóxicos (100 < CC50 < 1000
μg/mL) e não tóxicos (CC50 > 1000 μg/mL).
A atividade citotóxica ou concentração citotóxica (CC) in vitro foi avaliada com os OEs,
α-bisabolol e anfotericina B contra macrófagos peritoneais, células responsáveis pela
fagocitose – processo do qual as células danificadas e envelhecidas, restos celulares, agentes
estranhos e partículas inertes são literalmente engolidas e digeridas.
5. O OE-EF (CC50 = 24,65 μg/mL) e OE-EC (CC50 = 8,87 μg/mL) mostraram alta toxicidade
contra macrófagos peritoneais de camundongos, enquanto a anfotericina B foi menos tóxica
(CC50 = 51,86 μg/mL) e o α-bisabolol não era tóxico (CC50 = 1021,00 μg/mL).
Na prática:
Os pesquisadores observaram que os OE-EF e OE-EC apesar de apresentarem citotoxicidade
relativamente alta, exibem atividade antibacteriana promissora contra algumas bactérias
formadoras de cárie como Streptococcus mutans. Além disso, também foram ativos e
moderadamente ativos contra as micobactérias Mycobacterium kansasii e M. tuberculosis,
respectivamente; como também exibiram alta atividade contra o parasita Leishmania
amazonensis.
Em suma, sugere-se que a constituição química desses compostos e o efeito sinérgico
encontrado nos OE podem contribuir para aumentar seus efeitos antibacterianos e
antiparasitários.