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• Depois de implantar iniciativas de saúde mental (com a exceção de políticas
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• Correlações positivas entre taxas de suicidio e indicadores de oferta de
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• “Reduzir a saúde pública a uma perspectiva biomédica é um erro comum em muitos
países de baixa e média renda. As tentativas de reduzir as taxas nacionais de suicídio
são feitas através do fornecimento de antidepressivos aos centros de saúde
periféricos, deixando misérias diárias, como pobreza, falta de segurança social, falta
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suicídio” eles dizem, “subestima a importância de fatores socioeconômicos
associados. A medicalização de todo sofrimento humano tenta promover soluções
médicas simplistas para o problema do suicídio.”
Tendências estadunidenses
• Declínio entre 1987 e 2000
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• Queda no desemprego de 6,2% para 4%
• Subida entre 2000 e 2016
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não houve piora sustentada
• Não mudaram taxas de armas de fogo em domicílios
• Aumento de suicídio abaixo dos 16 anos em todas faixas
etárias, etnias e condições econômicas
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suicídio fosse subitamente jogado na água de beber.”
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com a indústria farmacêutica em lugares de liderança na
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• “No jantar de gala Lifesavers da Fundação, em 1999, os patrocinadores
corporativos incluíram a Eli Lilly, a Janssen Pharmaceutica, a Solvay, os
Laboratórios Abbott, a Bristol Myers Squibb, a Pfizer, a SmithKline
Beecham e a Wyeth Ayerst Laboratories. Executivos de várias empresas
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• No campo do suicídio, reconhecemos saberes prevalentes e tensão
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• Transformaram o “pecado” em “doença mental” e realocaram a questão nas ciências
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sociedade”; o suicídio na contemporaneidade está emaranhado em um mundo de
indicadores; (Broz e Munster, 2010)
Provocações da Antropologia
• Suicidio coloca em tensão a noção de agência:
• a noção de agência atribui ao ator individual a capacidade de processar a
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passividade”
• Esta tensão acaba por dificultar a leitura dos significados políticos e culturais dos atos
autodestrutivos
•“Como podemos apreciar esta capacidade
potencial que os casos de suicídio nos oferecem
– sua natureza acusatória e sua detecção sísmica
de disfuncionalidades sociais e violências
estruturais – sem entretanto recorrer ao
positivismo universalizante que ignora as
compreensões contextuais e a denúncia
expressa por meio do suicídio?” (Broz e Munster,
2010)
Abrindo questões
Podemos falar de uma cultura adolescente em torno das
práticas para morrer? Aqui borraríamos as bordas entre
“tentativa” e “suicídio” porem não tomando-as linearmente,
num contínuo, onde seríamos impelidos a “intervir sobre o
risco”
Temos reconhecido os efeitos de transmissão, de produção de
processos identificatórios e de jogos de poder e solidariedade:
não falamos de imediatismos, mas de formas muito
particulares de mediação destas “práticas para morrer”
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Do macro para o micro...
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• O desafio de romper automatismos:
• Automutilação = ideação suicida = depressão = antidepressivos
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• “construção do agir torturador nas práticas de saúde”: (Merhy, 2012)
• vinculo como dominação, escutas e falas entre uns mais legítimos falantes
que outros...
• “...torturador tentando produzir no encontro a fala do torturado: não uma
fala qualquer, mas que o torturado fale aquilo que ele quer escutar. (...) o
torturador está supondo que o torturado vai poder revelar, com sua
informação, algo que será substancial para a sua ação vigilante e
policialesca.”
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(Lobosque, 2018)
• Dois perigos:
• Recusa: duros demais, achamos que se trata de simulação, de mentira, de falsos
problemas indignos da atenção de serviços de urgência que têm muito mais
coisas para fazer.
• Alarme: sensibilizados demais, somos capturados pelo apelo, tememos em
demasia o risco de suicídio, e, assustados, medicamos e acionamos todos os
pesados dispositivos da medicalização e da institucionalização.
• “Daí, o atendimento sai da estereotipia e do tédio; começa a ficar
interessante, divertido. A menina ri. A gente também. A menina chora.
A gente não. A menina pede remédio. A gente não dá. A menina pede
palavras. A gente oferece. A menina ameaça. A gente se cala. A
menina diz que não nos quer mais. A gente diz que continua querendo
ela.”
Para além da “prevenção do suicídio”
• Reinventando as práticas
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visibilidade às sutilezas e instabilidades na relação com as
medicações
• “Os remédios do hospital”: apropriando-se e reconhecendo as
sutilezas
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redução, finais de semana etc
• Esvaziando o assunto: rompendo com a lógica de escola e
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  • 2. “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio Albert Camus, 1955
  • 3. Controversias epidemiologicas •Declínio de suicídio nas mulheres jovens indianas e chinesas (na escala dos milhões): • Urbanização e empoderamento feminino, com menos pressões familiares, menos acesso a pesticidas • Para aquelas que insistem/persistem, ainda há uma série de dilemas sociais e econômicos • Cultura do algodão na India e do fumo no sul do Brasil
  • 4. Controvérsias epidemiológicas • Rajkumar et cols, 2013; Ajit Shah e colaboradores (2008, 2009); com estudos de larga escala pesquisando em bases de dados globais (OMS, ONU, CIA) • Depois de implantar iniciativas de saúde mental (com a exceção de políticas para uso de substâncias), as taxas de suicídio de muitos países aumentou • Correlações positivas entre taxas de suicidio e indicadores de oferta de serviços de saude mental (orçamento nacional, numero de leitos psiquiatricos, numero de profissionais, oferta de capacitação em saúde mental etc) • “Reduzir a saúde pública a uma perspectiva biomédica é um erro comum em muitos países de baixa e média renda. As tentativas de reduzir as taxas nacionais de suicídio são feitas através do fornecimento de antidepressivos aos centros de saúde periféricos, deixando misérias diárias, como pobreza, falta de segurança social, falta de saneamento, fome e escassez de água, sem tratamento.” Essa “medicalização do suicídio” eles dizem, “subestima a importância de fatores socioeconômicos associados. A medicalização de todo sofrimento humano tenta promover soluções médicas simplistas para o problema do suicídio.”
  • 5. Tendências estadunidenses • Declínio entre 1987 e 2000 • Redução de armas de fogo domésticas de 46% para 32% • Queda no desemprego de 6,2% para 4% • Subida entre 2000 e 2016 • Houve um pico de desemprego em 2009 e 2010 mas não houve piora sustentada • Não mudaram taxas de armas de fogo em domicílios • Aumento de suicídio abaixo dos 16 anos em todas faixas etárias, etnias e condições econômicas • “É quase como se um ‘fator de risco’ invisível para o suicídio fosse subitamente jogado na água de beber.” (Kirsch, 2018) • So what?
  • 6. Programas de Prevenção ao Suicídio (2000-2016) • Relação próxima com a indústria farmacêutica: • Pesquisadores dos programas com sérios conflitos de interesse com a indústria farmacêutica em lugares de liderança na Fundação Americana para Prevenção do Suicídio • “No jantar de gala Lifesavers da Fundação, em 1999, os patrocinadores corporativos incluíram a Eli Lilly, a Janssen Pharmaceutica, a Solvay, os Laboratórios Abbott, a Bristol Myers Squibb, a Pfizer, a SmithKline Beecham e a Wyeth Ayerst Laboratories. Executivos de várias empresas farmacêuticas que fabricavam antidepressivos logo começaram a aparecer no conselho diretor da fundação e como presidentes do jantar anual de arrecadação de fundos promovido pela organização”
  • 8.
  • 9. Provocações da Antropologia • No campo do suicídio, reconhecemos saberes prevalentes e tensão inevitável entre: • Discursos e tecnologias psi: these psiquiatrique • Transformaram o “pecado” em “doença mental” e realocaram a questão nas ciências médicas • Acabam por negligenciar as relações de poder, geopoliticas do saber, as diferentes ontologias do corbo, identidade (personhood, saúde/bem estar e a morte • Abordagens quantitativas mapeando grupos populacionais: these sociologique • Tiraram o suicídio de uma consideração moral individual para trata-lo no plano coletivo como indicadores de restrições socioeconômicas • “Linguiça”: como as pesquisas são feitas? Em que premissas se apoiam? Como lidam com a questão do estigma, das implicações legais etc? • Os dados estatísticos sobre suicídio são mais que “indicadores sísmicos da vida da sociedade”; o suicídio na contemporaneidade está emaranhado em um mundo de indicadores; (Broz e Munster, 2010)
  • 10. Provocações da Antropologia • Suicidio coloca em tensão a noção de agência: • a noção de agência atribui ao ator individual a capacidade de processar a experiência social e de delinear formas de enfrentar a vida, mesmo sob as mais extremas formas de coerção (Long e van der Ploeg, sd) • Não há suicídio sem agência • Ligada a valores morais como “morte ruim”, “horror” • Por um lado, o suicídio no mundo ocidental é ligado a uma “ação agente” e intencional • Ao mesmo tempo, nega-se parcialmente isso ao atribui-lo a causas “externas” (níveis de serotonina, crise econômica, gênero, preconceito): “suicídio enquanto passividade” • Esta tensão acaba por dificultar a leitura dos significados políticos e culturais dos atos autodestrutivos
  • 11. •“Como podemos apreciar esta capacidade potencial que os casos de suicídio nos oferecem – sua natureza acusatória e sua detecção sísmica de disfuncionalidades sociais e violências estruturais – sem entretanto recorrer ao positivismo universalizante que ignora as compreensões contextuais e a denúncia expressa por meio do suicídio?” (Broz e Munster, 2010)
  • 12. Abrindo questões Podemos falar de uma cultura adolescente em torno das práticas para morrer? Aqui borraríamos as bordas entre “tentativa” e “suicídio” porem não tomando-as linearmente, num contínuo, onde seríamos impelidos a “intervir sobre o risco” Temos reconhecido os efeitos de transmissão, de produção de processos identificatórios e de jogos de poder e solidariedade: não falamos de imediatismos, mas de formas muito particulares de mediação destas “práticas para morrer” Um discurso repetitivo: “me cortei para aliviar a dor”...
  • 13. Do macro para o micro... Medicamentalização dos desesperos • O desafio de romper automatismos: • Automutilação = ideação suicida = depressão = antidepressivos • Tentativa de suicídio = depressão grave = lítio + risperidona + antidepressivos • “construção do agir torturador nas práticas de saúde”: (Merhy, 2012) • vinculo como dominação, escutas e falas entre uns mais legítimos falantes que outros... • “...torturador tentando produzir no encontro a fala do torturado: não uma fala qualquer, mas que o torturado fale aquilo que ele quer escutar. (...) o torturador está supondo que o torturado vai poder revelar, com sua informação, algo que será substancial para a sua ação vigilante e policialesca.”
  • 14. ‘Meninas-que-se-cortam’ (Lobosque, 2018) • Dois perigos: • Recusa: duros demais, achamos que se trata de simulação, de mentira, de falsos problemas indignos da atenção de serviços de urgência que têm muito mais coisas para fazer. • Alarme: sensibilizados demais, somos capturados pelo apelo, tememos em demasia o risco de suicídio, e, assustados, medicamos e acionamos todos os pesados dispositivos da medicalização e da institucionalização. • “Daí, o atendimento sai da estereotipia e do tédio; começa a ficar interessante, divertido. A menina ri. A gente também. A menina chora. A gente não. A menina pede remédio. A gente não dá. A menina pede palavras. A gente oferece. A menina ameaça. A gente se cala. A menina diz que não nos quer mais. A gente diz que continua querendo ela.”
  • 15. Para além da “prevenção do suicídio” • Reinventando as práticas • Afirmando a condição do adolescente de agente e dando visibilidade às sutilezas e instabilidades na relação com as medicações • “Os remédios do hospital”: apropriando-se e reconhecendo as sutilezas • Decisões e planos compartilhados: prazos, velocidades de redução, finais de semana etc • Esvaziando o assunto: rompendo com a lógica de escola e familiares como “monitores de sintomas” • Negociando impasses, enfrentando pressões • “desantipsicotizando” os adolescentes ouvidores de vozes