Este documento descreve uma pesquisa sobre a implementação da transversalidade da língua portuguesa no ensino. Os resultados mostraram que é possível desenvolver competências linguísticas através de projetos que integram diferentes áreas curriculares. No entanto, é necessário dar mais ênfase ao desenvolvimento da consciência fonológica e da escrita composicional.
Gestão de fronteiras entre saberes na operacionalização da transversalidade da língua portuguesa
1. GESTÃO DE FRONTEIRAS ENTRE SABERES NA
OPERACIONALIZAÇÃO DA TRANSVERSALIDADE DA
LÍNGUA PORTUGUESA
Cristina Manuela Sá
cristina@ua.pt
XIII Congresso da SPCE
Viseu – 6 a 8 de outubro de 2016
2. Transversalidade da língua
portuguesa: conceito e implicações
A referência à transversalidade da língua portuguesa – quer no
senso comum, quer na literatura da especialidade – evoca os
benefícios que o bom domínio da língua materna pode trazer,
em termos académicos e sociais.
Em termos mais restritos, refere-se ao contributo do ensino da
LP para o desenvolvimento de competências em comunicação
oral e escrita essenciais para o sucesso académico, como se
pode ver nos textos reguladores.
3. A nossa reflexão sobre esta temática levou-nos a reconhecer
que o inverso também é verdade: o ensino das outras áreas
curriculares também pode contribuir para desenvolver nas
crianças competências em comunicação oral e escrita, que
levarão a um melhor domínio da LP .
4. Promoção da abordagem
transversal do ensino da LM
Feita através da orientação de projetos em seminário de
investigação educacional, implementados na prática
pedagógica supervisionada em contextos de Educação Pré-
Escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico.
Esses projetos:
Relacionam o ensino da LP (focado na interação oralidade-
leitura-escrita) com a abordagem de outras áreas
curriculares.
5. Recorrem a uma metodologia de investigação de índole
qualitativa -> adequação aos contextos de prática
pedagógica supervisionada;
Estudo de caso, com componentes de investigação-ação ->
abordagem de temas que se prendem sempre com
problemas emergentes dos contextos em questão;
Recolha de dados a partir da intervenção didática
(normalmente em trabalhos realizados pelas crianças) e
notas de campo (observação participante);
Análise de conteúdo (por vezes complementada com
estatística descritiva).
6. Um estudo de meta-análise
Reflexão decorrente da meta-análise de 24 projetos.
Metodologia qualitativa:
Análise documental para recolha de dados (incidindo sobre os
relatórios dos projetos);
Análise de conteúdo.
7. Resultados
1ª fase – Interações pressupostas
Há mais interações no caso da Educação Pré-Escolar, com
predominância para o Conhecimento do Mundo e a
Formação Pessoal e Social.
No 1º CEB, predomina a relação com o Estudo do Meio.
Até ao momento, houve apenas um projeto que
contemplou a Matemática -> os estudantes têm muitas
dificuldades em todas as unidades curriculares desta área
científica ou a ela associadas (por exemplo, a didática da
Matemática).
O mesmo acontece com a área das Expressões ->
normalmente associada a atividades destinadas a
preencher os tempos mortos.
8. 2ª fase – Competências desenvolvidas
Nos projetos na Educação Pré-Escolar
A interação entre a LP e outras áreas curriculares permitiu
desenvolver competências relacionadas com o domínio da
língua materna;
A comunicação oral foi privilegiada em relação à
comunicação escrita;
Na comunicação escrita, quase não se abordou a vertente
da expressão/produção;
No âmbito da oralidade, trabalhou-se muito pouco o
desenvolvimento da consciência fonológica.
9. 2ª fase – Competências desenvolvidas
Nos projetos no 1º CEB
A interação entre a LP e outras áreas curriculares também
permitiu desenvolver competências relacionadas com o
domínio da LM neste contexto;
A comunicação escrita foi privilegiada em relação à
comunicação oral;
No âmbito da leitura, apostou-se bastante na compreensão,
sobretudo na identificação das ideias principais dos textos;
No âmbito da escrita, trabalhou-se bastante a escrita
compositiva;
Deu-se quase tanto relevo à escrita compositiva como à
compreensão na leitura.
10. Comparação entre os projetos dos dois contextos
Em ambos os contextos:
No âmbito da comunicação oral, trabalhou-se sobretudo a
interação verbal, valorizando-se pouco a consciência
fonológica, apesar de esta ser considerada como essencial
para o desenvolvimento de competências em leitura e
escrita;
No âmbito da comunicação escrita, privilegiou-se a
compreensão na leitura; no caso da EPE, isso acontece
porque os estudantes consideram que ensinar a decifrar é
incumbência do 1º CEB.
11. Conclusões
É possível levar as crianças a adquirir conhecimentos
noutras áreas curriculares e simultaneamente desenvolver
nelas competências em oralidade-leitura-escrita.
Deste modo, comprova-se que é possível operacionalizar (e
rentabilizar) a transversalidade da língua portuguesa,
inclusive na Educação Pré-Escolar.
.
12. É preciso insistir no trabalho em torno:
Da oralidade formal, inclusive criando instrumentos para
fazer o diagnóstico das competências das crianças neste
domínio e avaliar o seu desempenho (de modo formativo
e/ou sumativo);
Da análise da estrutura característica de tipos/géneros
textuais e na utilização desses conhecimentos em contexto,
para desenvolver competências em compreensão na leitura
e em escrita compositiva e ainda na oralidade
(compreensão e produção);
Da escrita compositiva, com particular destaque para a
revisão dos textos (feita pelo próprio ou por outrem –
professor e/ou pares) e a respetiva reescrita para melhoria.
13. Bibliografia:
Sá, C. M. (2012). Transversalidade da língua portuguesa: representações,
instrumentos, práticas e formação. Exedra, 28, 364-372: Disponível em:
http://www.exedrajournal.com/exedrajournal/wp-
content/uploads/2013/01/28-numero-tematico-2012.pdf
Sá, C. M. (org.) (2013). Transversalidade II: Representações, instrumentos,
práticas e formação. Coleção “Cadernos do LEIP”, Série “Temas”, nº 2.
Aveiro: Universidade de Aveiro/Centro de Investigação Didática e
Tecnologia na Formação de Formadores/Laboratório de Investigação em
Educação em Português.
Sá, C. M. (org.) (2014). Transversalidade III: Das palavras à ação nos
primeiros anos de escolaridade. Aveiro: UA Editora (Coleção “Cadernos do
LEIP”, Série “Propostas”, nº 2) [ISBN: 978-972-789-419-2]. Disponível em:
http://cidtff.web.ua.pt/docs/TRIII.pdf
Valadares, L. (2003). Transversalidade da Língua Portuguesa. Rio Tinto:
Edições ASA.