1. Instituto Politécnico de Setúbal
Escola Superior de Educação
Unidade Curricular: Introdução à didáctica do Português
Docente: Fernanda Botelho
Resumo do Módulo I
Ano lectivo: 2009/2010
Curso: Licenciatura em Educação Básica
Ano: 3º
Turma: A
Discentes:
Ana Filipa da Quinta Baptista, 070142057
Inês Isabel de Oliveira Graça, 070142065
2. A linguística é uma ciência recente e, por isso, é pouco conhecida enquanto
ciência, assim como, é igualmente, pouco conhecido o trabalho dos que nela
investem.
A definição de linguística é dada como “o estudo científico da linguagem
humana e das línguas naturais”. Para entender esta definição, é necessário
descodificá-la; assim, é inevitável definir linguagem humana, línguas naturais e
estudo científico. As línguas naturais apresentam-se como línguas que podem,
ou não, ser aprendidas como línguas maternas e que surgem
espontaneamente com o Homem a partir da sua capacidade inata de
linguagem. Em oposição às línguas naturais, encontram-se as línguas artificiais
que, por sua vez, foram desenvolvidas pelo Homem em resposta às suas
necessidades, num curto espaço de tempo.
É também importante definir o conceito de língua, sendo a mesma, um o
sistema de signos que podem surgir na forma oral ou escrita, comuns a um
povo/comunidade e cuja função é comunicar. Os falantes de uma língua
apresentam um conhecimento implícito acerca das características do seu
sistema linguístico que lhes permite generalizar dentro de um padrão, a fim de
produzir novos enunciados linguísticos.
As línguas estão em permanente evolução, pois é fundamental que
acompanhem as exigências do seu uso na comunicação, todavia, contêm
aspectos comuns entre si – universais linguísticos.
É importante nesta temática acerca da língua abordar e distinguir dois
conceitos, que podem, por vezes, suscitar dúvidas: plurilinguismo e
multilinguismo. Entende-se por multilinguismo o número de línguas existentes
ou em concomitância numa sociedade. Por sua vez, plurilinguismo ancora o
conhecimento, que um indivíduo detém, de um conjunto de línguas e do seu
repertório linguístico, e os quais põe em prática numa situação de
comunicação, rentabilizando-os aquando da presença de mais do que uma
língua. Assim, um falante plurilingue é capaz de mobilizar conhecimentos de
várias línguas, permitindo-lhe comunicar com um falante de outra língua.
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3. Dados estes conceitos, é possível afirmar que a sociedade actual é
multilingue. No entanto, para que a mesma seja plurilingue, é necessária a
oferta de línguas diversas pelo currículo, incentivando, desta forma, os alunos
na aprendizagem de outras línguas além da sua.
A explicação da linguística, enquanto estudo científico, está correlacionada
com a abordagem utilizada, uma vez que a sua demonstração, enquanto
ciência, é deveras exigente e complexa.
A espécie humana encerra uma disposição natural para a aquisição da
linguagem, através de um mecanismo cognitivo universal e genético,
adquirindo, de um modo natural e espontâneo, um sistema linguístico inserido
numa dada comunidade linguística (língua materna). Não obstante, para
realizar esta aquisição, o ser humano necessita estar inserido num contexto
social que lhe forneça estímulos linguísticos, para que consiga adquirir a
linguagem – sistema de signos que permite comunicar, revelando-se também
como suporte ao pensamento.
Esta aquisição da linguagem compreende um conjunto de regras específicas
desse sistema, nomeadamente, de carácter fonético, morfológico, sintáctico,
semântico e pragmático. Do input linguístico que recebe do meio, a criança
realiza um processo de generalização, que lhe permite concretizar trocas
comunicativas que assentem nas regras estabelecida no grupo social em que
se insere.
O acto de trocas de informação entre dois ou mais interlocutores
(comunicação) é passível de ser realizado, devido à capacidade, que o homem
detém, de compreender inúmeras expressões linguísticas (faculdade da
linguagem), tornando-o idóneo no exercício de receber, transformar e transmitir
informação através da linguagem. No entanto, para que tal aconteça, é
necessária a sua compreensão, decifrando a cadeia fónica e a sua capacidade
de produção de mensagens linguísticas, assim como, um código/sistema
linguístico comum aos interlocutores e a utilização de um canal de
comunicação adequado.
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4. Numa comunidade, o indivíduo necessita mobilizar competências que lhe
permitam uma interacção correcta em sociedade. Essas competências
implicam um conhecimento das regras gramaticais e das regras do uso do
código linguístico, respeitando o contexto social em que se insere –
competência comunicativa.
Ao considerar que um indivíduo usufrui da competência comunicativa
subentende-se que o mesmo domine códigos e variantes sociolinguísticas
assim como um saber pragmático em relação aos enunciados convencionados
pela comunidade em que se insere.
A comunicação surge a partir de actos de fala. Para que estes actos
obtenham êxito é necessário o conhecimento das relações sociais entre os
interlocutores, a aptidão para cumprir e respeitar normas convencionadas e
institucionalizadas e avaliar correctamente os propósitos e as expectações dos
interlocutores.
Para que o acto de comunicar seja realizado de modo eficaz e sem
perturbações, é inevitável que um falante de uma língua domine um conjunto
de saberes de dimensão sociocultural.
A competência comunicativa abarca diferentes componentes: a componente
linguística, a componente sociolinguística e a componente pragmática.
A componente linguística ancora um conjunto de capacidades inerentes ao
conhecimento da língua enquanto sistema: competência lexical; competência
gramatical; competência semântica; competência fonológica; competência
ortográfica e competência ortoépica.
A competência lexical é a capacidade que o indivíduo tem de empregar o
vocabulário de uma língua, assimilando os seus elementos lexicais e
gramaticais. A competência gramatical refere-se ao conhecimento e à
capacidade de utilização dos recursos gramaticais da língua. A competência
semântica abarca a consciência e o controlo que o indivíduo tem acerca da
organização do significado. A competência fonológica traduz-se pelo
conhecimento e habilidade para compreender e produzir elementos fonéticos e
fonológicos. A competência ortográfica trata a capacidade de compreender e
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5. produzir símbolos linguísticos, permitindo a criação de textos na forma escrita.
Por fim, a competência ortoépica envolve a leitura, para um público, de um
texto preparado, sendo capaz de pronunciar palavras novas que possam surgir.
A segunda componente, acima referida, relativa à competência
comunicativa, refere o conhecimento e as capacidades necessárias para
interagir com o contexto social no acto de utilização da língua, ou seja, ter em
atenção os marcadores linguísticos de relações sociais (influência da língua e
da cultura), as regras de delicadeza (diferentes de cultura para cultura), as
expressões de sabedoria popular (exprimem e reforçam atitudes, contribuindo
significativamente para a cultura popular), as diferenças de registo (diferenças
em relação às variedades linguísticas utilizadas em situações diversas), os
dialectos e os sotaques (capacidade de reconhecer marcadores linguísticos,
correspondentes à classe social, à origem regional e/ou nacional e ao grupo
étnico e/ou profissional).
Por último, a componente pragmática ancora o conhecimento que o
indivíduo tem acerca dos princípios relativos às competências discursiva e
funcional. A primeira envolve a capacidade do indivíduo em estruturar frases
numa sequência lógica, para que seja capaz de produzir discursos coerentes.
A competência funcional refere a utilização do discurso em ambas as formas,
oral e escrita, para determinados fins.
Os processos de aquisição e aprendizagem, apesar de diferentes,
relacionam-se entre si em diversas situações, nomeadamente no
desenvolvimento do indivíduo; por isso, é essencial o conhecimento, por parte
dos docentes, de processos inerentes à aquisição da linguagem,
principalmente para os educadores que na sua prática contactam com crianças
de faixas etárias em que o desenvolvimento da linguagem está a decorrer.
Como consequência da importância do papel do professor/educador, é
essencial que o mesmo seja um utilizador proficiente na sua língua. Assim, é
possível afirmar que um utilizador proficiente em Língua Portuguesa deverá
dominar o português europeu padrão, incluindo o léxico, a morfologia, a sintaxe
e a utilização de formas de tratamento consoante as situações vivenciadas, e
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6. ainda, utilizar a língua em situações institucionais; ouvir discursos em diversas
variedades do português, compreendendo a informação contida na mensagem
e reformulá-la, utilizando a informação subentendida; ser fluente na expressão
oral, mobilizando vários estilos; ter hábitos de leitura que lhe possibilitem ser
fluente e crítico ao nível da leitura e da escrita, respeitando as regras e tendo
em atenção as características dos diversos géneros textuais.
O professor da área da Língua Portuguesa deverá compreender um conjunto
de competências inerentes à sua orientação e intervenção educativa. O ensino
da leitura e da escrita tem elevado nível de sucesso aquando da planificação,
orientação e organização de profissionais competentes. Estes profissionais
devem: dominar a estrutura da Língua Portuguesa, nos modos oral e escrito;
dominar conhecimentos acerca do desenvolvimento linguístico; perceber que a
aprendizagem é sequenciada; ter conhecimento da herança linguística das
crianças quando entram na escola; ser capazes de ultrapassar as dificuldades
sentidas em relação às características específicas da língua; dominar as regras
do sistema ortográfico e do sistema de pontuação; ter consciência que a
aprendizagem da leitura e da escrita está intimamente ligada com a diversidade
de léxico; perceber a relação existente entre domínio progressivo da
complexidade sintáctica e o êxito da aprendizagem da leitura e da escrita; e,
por fim, manter-se em constante aprendizagem, investigando, reflectindo e,
posteriormente, integrá-la na sua prática, apelando ao uso da didáctica,
intervindo sempre pedagogicamente em conformidade.
A didáctica pode ser definida como o motivo e aplicação de um conjunto de
princípios, normas e técnicas próprias, cuja função é dirigir a aprendizagem.
Neste sentido, surge a partir do diálogo em situações de sala de aula e dos
sujeitos que as vivem, e da investigação, enquanto observação e interpretação
de actos educativos.
A didáctica apresenta-se como sendo uma disciplina com características
transversais e transdisciplinares, pois contém aspectos globais que integram
outras didácticas. Posto isto, cada disciplina tem a sua didáctica específica,
como por exemplo a didáctica do Português que se ramifica em outras
vertentes (Didáctica da Língua Não Materna; Didáctica do Português Língua
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7. Segunda, entre outras) e apresenta características da didáctica geral,
originando, assim, uma complementaridade entre ambas.
No que respeito à didáctica das línguas, o seu percurso epistemológico é
constituído por três etapas, sendo a primeira a Didáctica Instrumental, que se
funda na produção de materiais e estratégias que permitam a formação do
professor. De seguida, a Didáctica Especifica surge na sequência das
tentativas de autonomizar a didáctica tendo em conta as características
próprias de cada língua. O professor, nesta fase, toma um papel de agente
reflexivo, investigador e crente na interacção entre professor e aluno. Por fim, a
última etapa constitui-se pela Didáctica do plurilinguismo, que se torna uma
disciplina exterior à sala de aula e mobilizadora dos recursos do meio e da
actualidade. Note-se que esta didáctica surge inerente às características
sociais e multiculturais que se vincam na sociedade de hoje.
Face à diversidade cultural presente nas escolas da actualidade, é
fundamental que se modifiquem estratégias no âmbito da Didáctica do
Português no sentido em que esta língua já não é aprendida exclusivamente
como língua materna, mas também como língua segunda. Assim, a didáctica
do plurilinguismo torna-se fundamental na aprendizagem do português visto
que abrange perspectivas comuns no processo ensino-aprendizagem das
línguas, tornando-as próximas, o que possibilita uma melhor aprendizagem.
Em suma, as didácticas pressupõem metodologias que visam um melhor
aproveitamento das capacidades do aluno e dos conhecimentos do mesmo, a
fim de concretizar melhores aprendizagens, valorizando o que o aluno já traz
para a escola.
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8. Referências Bibliográficas:
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formando com utilizador e como futuro docente da língua materna”. in Inês Sim-Sim
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SIM-SIM, Inês (1998). Desenvolvimento da Linguagem. Universidade Aberta.
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