2. IntroduçãoIntrodução
Esforço da psicologia para alcançar
legitimidade entre as ciências
Século XX: destaca-se a psicologia
aplicada nos mais diversos campos da
atividade humana
Problema colocado em questões:
3. Problema colocado pelo autor emProblema colocado pelo autor em
questõesquestões
Psicologia deve se ater ao domínio
mágico da intuição e casuística e
abandonar campo científico?
Erro da psicologia estaria na escolha do
modelo científico: positivista, à maneira
das ciências naturais?
A psicologia é uma ciência natural?
4. Ensaio é um parecer sobre oEnsaio é um parecer sobre o
problemaproblema
Referencial básico para discussão do
autor: psicologia acadêmica e em
contraposição a psicologia clínica
Apesar de sua atitude crítica, afirma que:
— em primeiro lugar, a psicologia é necessária;
— em segundo lugar, por sua reflexão, por sua inventividade, os psicólogos
encontrarão o caminho adequado para a realização de seu programa;
— finalmente, nada do que foi feito, nada do que foi até o momento tentado,
nem mesmo as hipóteses paracientíficas, são inúteis enquanto
aproximações (...)
5. Capítulo I - Da introspecção, comoCapítulo I - Da introspecção, como
método original da psicologiamétodo original da psicologia
6. Princípio: filosofia/especulação a partir
das próprias experiências (dobrar-se
sobre si mesmo – introspecção)
Significado de Introspecção
s.f. Exame do interior.
Estudo da consciência por si mesma. (O
valor científico da introspecção é muito
discutível, dado o seu caráter subjetivo.)
7. SócratesSócrates
O filósofo faz um “profundo convite à
introspecção”, tornando-a um método
Maiêutica (arte de levar o interlocutor, através
de uma série de perguntas, a descobrir
conhecimentos que ele possuía sem que o
soubesse)
Entretanto não se podia considerar
introspecção como método da psicologia
8. Introdução da introspecção naIntrodução da introspecção na
psicologiapsicologia
Se dá pelo estudo que os moralistas fazem do
que denominam “paixões”
Moralistas??
São críticos dos costumes e da (moral),
mentalidade e do espírito de sua
época. Os moralistas franceses são um
grupo heterogêneo de pensadores franceses
dos séculos XVII e XVIII, que foi inaugurado
por Montaigne e que culmina até o iluminismo.
10. DescartesDescartes
Com este pensador é que “a
introspecção assumiu um papel definido
como método da psicologia”
Considerando o dualismo mente/corpo,
do método cartesiano, Descartes analisa
o papel do corpo enquanto mediador,
semelhante a uma máquina e a alma
(possuidora de res cogitans) deveria ser
estudada pela introspecção.
11. Descartes admite a existência deDescartes admite a existência de
três substâncias:três substâncias:
1- Res cogitans (espírito): substância
pensante, imperfeita, finita e dependente.
2- Res divina (Deus): substância eterna,
perfeita, infinita, que pensa e é
independente.
3- Res extensa (matéria): substância que
não pensa, extensa, imperfeita, finita e
dependente.
12. IntrospecçãoIntrospecção
Maine de Biran elevou a
introspecção à condição
de método por
excelência da
psicologia.
• Considerado um dos mestres na arte da
introspecção, com sua “ciência dos fatos
interiores” pretendia decompor as
faculdades relativas ao pensar, de modo
a esclarecer as “faculdades elementares”.
13. WundtWundt
Considerava a psicologia como o
estudo da experiência imediata,
situada entre as ciências sociais e as
ciências morais.
Para este autor, a psicologia deveria
focalizar três questões:
◦ A análise dos processos mentais (sensações,
imagens, sentimentos);
◦ A descrição do modo como estes
processos se conectariam e
◦ A descoberta das leis de sua conexão
14. Para WundtPara Wundt
Toda a problemática da psicologia estaria
preenchida caso fossem encontradas as leis que
regeriam e combinariam um número de
elementos sensoriais finito.
Enquato para Maine de Biran a introspecção se
tratava de um livre exercício de reflexão, para
Wundt a introspecção deveria ser controlada,
conferindo a esta um status de método de
pesquisa científico
15. Titchener
Intérprete do
pensamento de Wundt
nos EUA, acredita que a
experiência imediata de
um indivíduo em dado
momento constitui o
que ele compreende por
consciência
16. Consciência e movimentoConsciência e movimento
Titchener admite que não se pode
observar duas vezes a mesma consciência
Entretanto, “a ciência psicológica
é possível porque podemos observar a
“consciência particular” e os “processos
mentais se agrupam da mesma maneira,
mostram o mesmo tipo de arranjo,
sempre que o organismo é colocado nas
mesmas circunstâncias”
17. Psicologia como ciência puraPsicologia como ciência pura
A psicologia para Titchener é uma ciência
pura, não comportando qualquer tipo de
aplicação, seja clínica, seja psicométrica
ou outra qualquer.
18. BrentanoBrentano
Contrapunha-se ao elementarismo de Wundt,
“propondo um modelo fenomenológico para a
psicologia – a psicologia do ato”
Nega a hipótese da
psicologia como ciência
natural ou como ciência
da alma, considerando-a
antes como “ciência
dos fenômenos
psíquicos”
19. Psicologia sem almaPsicologia sem alma
Brentano defende, junto com Lange, a
construção de uma psicologia sem alma
Considerava que a primeira tarefa do
psicólogo, consiste em “determinar de
maneira certa as características comuns a todos
os fenômenos psíquicos”. E, a partir daí,
reunir os fenômenos psíquicos em classes
fundamentais, conforme as exigências de suas
“afinidades naturais”
20. Para realizar os estudo dos fenômenos
psíquicos,compreendidos como “atos”, o
psicólogo deveria, na concepção de
Brentano, utilizar a
Introspecção.
Esta, porém, não era concebida como
“observação interna”, o que lhe parece
impossível, mas como “percepção
interior”, “fonte primeira e indispensável
da psicologia”.
21. Limitação da psicologiaLimitação da psicologia
Para Brentano a psicologia é a única ciência para
a qual a observação direta seria inaplicável.
Entretanto, essa limitação pode ser compensada
pelo “conhecimento indireto” dos fenômenos
psíquicos de outros indivíduos, pois (...)
“mesmo sem a intervenção da palavra, se
manifestar externamente, de modo menos
perfeito, é verdade, mas não raro com
suficiente clareza”
22. Fenomenologia
Franz Brentano estabeleceu
profundas diferenças entre os eventos
físicos e os fenômenos psíquicos,
afirmando que nestes existe
intencionalidade e um modo de
percepção original.
Suas principais idéias foram
desenvolvidas por Edmund Husserl
Outros representantes foram: Heidegger, Max Scheler, Hartmann,
Biswanger (psiquiatra fenomenólogo), De Waelhens, Merleau-
Ponty, Jaspers, Buber, Sartre
23. Postulado básico da
fenomenologia: Noção de
intencionalidade
Pela intencionalidade busca-
se a superação das
tendências racionalistas e
empiristas surgidas no século
XVII
24. 24
Séc. XVII – Empirismo: Francis Bacon, Hobbes, Lock
Racionalismo: Descartes, Pascal,
Malebranche, Spinoza, Leibniz
Séc. XVIII – Empirismo: Berkeley, Hume
Racionalistas: acreditavam que há uma consciência
pura, separada do mundo – acentuavam caráter
absoluto e universal da razão. Pressupõem a primazia
dinâmica do espírito sobre a experiência.
Empiristas: acreditavam na existência do objeto em si;
Pressupõem que as idéias provêm das sensações e, em
seguida, compõem-se entre si para formar idéias mais
gerais, graças às leis da associação.
Na psicologia o empirismo se manifesta especialmente
na corrente behaviorista.
25. 25
A fenomenologia pretende
realizar a superação da
dicotomia
razão – experiência no
processo de conhecimento,
afirmando que toda
consciência é intencional.
26. 26
Ao contrário dos
racionalistas, a
fenomenologia considera que
não há pura consciência,
separada do mundo, mas
“toda consciência é
consciência de algo”; toda
consciência tende para o
mundo.
27. 27
Ao contrário dos empiristas,
a fenomenologia considera
que não há objeto em si, já
que o objeto só existe para
um sujeito que lhe dá
significado:
“O objeto é sempre objeto
para a consciência”
29. 29
O conceito de intencionalidade
permite a contraposição à
filosofia positivista do século XIX,
restrita à visão objetiva do mundo:
crença na possibilidade de um
conhecimento científico neutro,
despojado de subjetividade, cada
vez mais distante do homem.
Séc. XIX – Positivismo: Augusto Comte, Taine, Stuart
Mill, Spencer
31. 31
Fenômeno em grego
significa: “o que aparece”.
A Fenomenologia aborda os
objetos do conhecimento tais
como aparecem, isto é, como
se apresentam à
consciência.
32. 32
A consciência é compreendida pelos
fenomenólogos como: doadora de
sentido e fonte de significado para o
mundo.
Sendo assim, o conhecimento é um
processo inesgotável de exploração do
mundo.
“O olhar do homem sobre o mundo é o
ato pelo qual o homem experiencia o
mundo, percebendo, imaginando,
julgando, amando, temendo etc.”
33. Herança: metodologia subjetivaHerança: metodologia subjetiva
Os modelos elementarista (Wundt e Titchener)
e fenomenológico (Brentano) embora distintos,
legaram à nova psicologia a herança de uma
metodologia subjetiva
Isso ocorria tanto com as perspectivas
germânicas como com a psicologia norte-
americana dos primeiros tempos, cujo
representante, William James, também
considerava a introspecção como método
primeiro da psicologia, embora fizesse críticas
ao mesmo.
34. Status de ciência incompatível comStatus de ciência incompatível com
modelo positivistamodelo positivista
A metodologia subjetiva era inaceitável
para a concepção positivista de ciência do
séc. XX
“Na realidade, a insuficiência da
introspecção é sentida pela maioria dos
psicólogos que a aplicam.”
Mesmo assim, até o advento do
Behaviorismo é geralmente aceita e
defendida em manuais clássicos
35. Cap. II O legado da PsiquiatriaCap. II O legado da Psiquiatria
tradicionaltradicional
Morton Prince
Em 1927, fundou em
Harvard uma “Clínica
Psicológica”, com a
explícita intenção
de promover a realização
de estudos conjuntos
de psicologia clínica
e de psicologia
acadêmica
36. Clínica já existia,Clínica já existia, formalmenteformalmente,,
desde 1896desde 1896
Lightmer Witmer organizou uma “clínica
psicológica” na Universidade da
Pensilvânia.
O destaque a Morton Prince se faz pelo
fato de, diferentemente de outros
cientistas da época, preocupar-se com
a psicologia clínica.
O estudo de obras “clássicas” revela que
estas quase nada contêm sobre a
psicológica clínica
37. Estudiosos da história da psicologia costumam citar, como
nomes da psicologia clínica:
◦ Freud, Charcot, Jung (psicanálise)
◦ alguns terapeutas egressos do mesmerismo (termo
advindo de Franz Anton Mesmer, médico que plagiou
Maximillian Hell, jesuita e curandeiro que curava pessoas
com um prato metálico magnético)
◦ alguns terapeutas egressos da hipnologia (Elliotson,
Braid, Esdaile),
◦ psicanalistas das primeiras décadas (Ferenczi, Adler);
◦ psicopatologistas de vários quadrantes, desde Pinel e
Esquirol e Janet e Ribot, chegam mesmo a Morton Prince,
passando por Kraepelin, Liébault, Kretschmer.)
38. Poucos dos nomes citadosPoucos dos nomes citados
ocuparam-se da psicologiaocuparam-se da psicologia
Com frequência, o vocabulário
psicológico é usado de forma heterodoxa
(Doxa, em grego, significa opinião, mais próximo a senso-comum. Hetero - diferente.
Heterodoxo: opinião diferente, diferente do senso-comum. Heterodoxo é o
contrário de ortodoxo - que é quem segue a doutrina, quem segue o que é tido
como verdadeiro)
Embora parcial e tardiamente absorvido,
há um significativo legado da psiquiatria.
39. Desmistificação e re-mistificaçãoDesmistificação e re-mistificação
das doenças mentaisdas doenças mentais
Somente a partir do séc. XVI é que os
médicos concentraram seus interesses
sobre a psicopatologia (até então
psiquiatria não se distingue da medicina)
Hipócrates: primeiro médico a buscar
desmistificação, usando combinação
entre:
4 humores
4 órgãos secretores
4 elementos básicos
40. Saúde para HipócratesSaúde para Hipócrates
Consequência de
equiblibrada combinação
entre humores
Desequilíbrio: doenças,
como temperamentos:
sanguíneas, melancólicas,
coléricas e fleumáticas
41. HisteriaHisteria
Relacionada à figura feminina, problemas
uterinos e pela ausência prolongada de
relações sexuais.
Influência de Galeno:
Aplicações de banhos
Massagens
Dietas
Choques de enguias
Música
Choque moral
43. Entre os judeus, Maimônides, médico e
filósofo, descreveu a “evolução da
melancolia em mania”, considera necessário
tratar doenças da alma semelhantemente às
doenças do corpo
Epicuro: empresta à filosofia um caráter
terapêutico
Cícero e Boécio: importantes reflexões
sobre o papel curativo dos “consoladores”
44. Hipócrates, Galeno, Rhazes: estão em
posição de quem traz fatos episódicos na
história da medicina e da prática do que
viria a ser no futuro a psiquiatria.
Asclepíades, Celso, Sorano e Aretaeus
(primeiro a descrever a personalidade
pré-psicótica) também podem ser
destacaddos.
45. Obstáculos e PreconceitosObstáculos e Preconceitos
“Durante alguns séculos, o avanço dos
estudos sobre as doenças mentais seria
obstaculizado por preconceitos, em geral
apontados, mas cuja interpretação
psicológica está por ser feita.” (p. 54)
-Vilanova (1240-1313): medicina de base
hipocrática associada a magia
-Pedro Albano ((1250-1316): observações
sobre doentes mentais
46. Comportamento histérico eComportamento histérico e
feitiçariafeitiçaria
Feiticeiras: vítimas e agentes do demônio
que poderia assumir forma humana para
seduzir e promover pactos carnais por
meio dos íncubos e súcubos.
Íncubos vem do verbo incubare que significa "deitar-se
sobre" . Súcubos vem do verbo succubare que significa
"deitar-se em baixo de". Assim sendo, Íncubos são
demônios machos que visitam mulheres mortais e têm
sexo com elas, enquanto Súcubo é a versão feminina e
atacam homens.
47. Malleus Maleficarum (“MarteloMalleus Maleficarum (“Martelo
das Feiticeiras”).das Feiticeiras”).
Obra de Johann Sprenger e Heinrich
Kremer, inquisidores dominicanos.
Obra escrita em de 3 partes:
1. componentes indispensáveis da feitiçaria
2. modo de agir das bruxasa e a maneira pela qual
a feitiçaria pode ser anulada e dissolvida
3. procedimentos judiciais contra feiticeira e
demais heréticos
48. Outras explicações para doençasOutras explicações para doenças
mentaismentais
A partir do século XIII, segundo Foucault,
a “loucura” é com freqüência
encarada como um vício.
“Por esse tempo era bastante generalizado
entre os médicos incluir-se entre os fatores
determinantes da histeria e, por extensão, das
psicopatias em geral, a ociosidade, a
alimentação inadequada e outras características
das classes economicamente privilegiadas.” (p.
55)
49. Nave dos loucosNave dos loucos
A obra critica os costumes da sociais
da época.
“Em a Nau dos Loucos, as freiras e o
frade negligenciam as obrigações
religiosas
e se entregam as prazeres mundanos.
A critica às freiras e aos frades imorais
eram frequentes na obra do pintor e os
vícios típicos dos conventos – como
luxuria e gula – foram por ele
amplamente denunciados. (...)
tributário de uma visão religiosa e
moralizadora, o pintor propõe, com
seus quadros, a associação entre
loucura, fraquezas
e ilusões humanas.” (Matias, K.D.,
2011)
Hieronymus Bosch. Stultifera navis.
Óleo sobre madeira. 55 X 31,5 cm.
Paris, Louvre.
50. Tratamentos recomendados àTratamentos recomendados à
épocaépoca
banhos (para Boerhaave, mergulho em
água gelada),
equitação,
viagens ao estrangeiro,
sangrias, purgativos, fumigações uterinas,
jogos de salão, como
o xadrez. (p.55)
51. Classes sociais e loucuraClasses sociais e loucura
“No século XVIII , a situação sócio-
econômica – econômica antes de tudo –
das faixas “inferiores” da população,
egressas de um longo período
de medo e de luta por causas não muito
bem definidas, perdida inclusive a frágil
segurança dos antigos núcleos feudais, não
era francamente favorável à manutenção de
modelos sadios de
Comportamento” p.56
52. Saneamento e caridadeSaneamento e caridade
Início do séc. XVII:
internação como
caridade
São Vicente de Paulo –
buscava internar os que
assim o desejassem.
53. Saneamento e repressãoSaneamento e repressão
Milícias para impor internaçãoMilícias para impor internação
Na verdade a Internação objetivava, na
verdade, afastar os indesejáveis do
convívio e se destinava mais a abrigar os
contraventores da ordem pública,
principalmente quando se considera que as
entidades administrativas eram direta ou
indiretamente controladas pelo Estado
54. WorkhousesWorkhouses
“Casas de correção, onde os internados se
obrigavam a uma jornada diária de trabalho.
Embora por caminhos tortos se reduzisse
o erro — os caminhos
não eram honestos; o possível acerto seria
um subproduto acidental de uma ação que
visava um lucro fácil, com investimento a
baixo custo.” (p. 57)
56. Paracelso
Grande contestador,
combateu a caça às
bruxas Ambroise Paré
Sustentou ser
imaginária a
coabitação com
íncubos e súcubos.
Três pensadores importantes queTrês pensadores importantes que
reagiram aos preconceitosreagiram aos preconceitos
Hohann Weyer
Primeiro médico a se
concentrar na
psicopatologia.
Documentou abusos na
perseguição de doentes
57. Persistência de idéias da épocaPersistência de idéias da época
Apesar de seus espíritos críticos, não se
livraram totalmente de influências de
idéias de sua época
“(...) oscilavam todos eles entre certas
evidências que constatavam e as crenças
fantásticas que ingenuamente
assimilavam” (p. 60)
58. Reforma PsiquiátricaReforma Psiquiátrica
“Foi preciso que (...) Philippe Pinel
(1745- 1826), sob o calor da Revolução
Francesa assumisse a (...) decisão de
retirar simbolicamente as correntes que
prendiam os “loucos” do Bicêtre (1793)
e da Salpêtrière (1795), para uma nova
atitude, uma nova mentalidade começar
a se impor.” (p. 59)
59. Philippe Pinel na Salpêtrière (libertando de suas correntes a uma
paciente) . Quadro de Robert Fleury (1795)
60. A “presunção” de Pinel gerouA “presunção” de Pinel gerou
frutos.frutos.
Reforma hospitalar e no tratamento
aos loucos de vários lugares:
◦ Florença
◦ Palermo
◦ Alemanha
◦ Inglaterra
61. Para a construção da psiquiatriaPara a construção da psiquiatria
modernamoderna
Reação aos preconceitos, como já visto,
representou um progresso bastante
irregular
Progresso científico também era
discutível (Pinel defendia que psicóticos
teriam resistência animal)
62. “Portanto, a construção da psiquiatria
moderna teve por bases iniciais alicerces
não muito estáveis. Tampouco seriam mais
seguras as informações de que se nutriria,
ao tentar um apoio na ciência. Sobretudo
quando este apoio foi procurado em um
conjunto de hipóteses que poderiam ser
chamadas paracientíficas.” (p. 61)
63. As Hipóteses ParacientíficasAs Hipóteses Paracientíficas
Três problemas foram objeto de
pesquisas “paracientíficas”:
◦ a aventura do vitalismo,
◦ o magnetismo animal e
◦
◦ a frenologia.
64. A aventura do vitalismoA aventura do vitalismo
Séc. XVII – XIX: investigações de filósofos e
biofilósofos:
◦ Arqueus (Princípio vital que, segundo Paracelso e J. B. van Helmont,
rege e mantém o desenvolvimento e a continuidade dos seres
vivos.)
◦ Iatroquímica (doutrina médica que surgiu durante o século XVI, a
qual atribuía a causas químicas tudo o que se passava no organismo,
são ou enfermo)
◦ Mediador plástico (Cudworth concebeu a idéia de uma substância
intermediária ao corpo e à alma, participante da natureza de um e
de outra)
◦ Flogístico Fluido que os antigos químicos supunham inerente a
todos os corpos e que, segundo acreditavam, produzia a combustão
ao abandonar esses corpos. (A teoria do flogístico, desenvolvida no
séc. XVIII sobretudo por Stahl, foi definitivamente refutada por
Lavoisier.)
65. Iatro...Iatro...
A iatroquímica opuseram-se os
iatromatemáticos.
“A iatromatemática logo evoluiu para o
que se chamou iatrofísica e a
iatromecânica. De inspiração cartesiana,
pelo menos em parte, pretenderam seus
defensores ser o homem uma máquina,
explicando-se a saúde ou as enfermidade
de modo estritamente mecanicista.”
(p.62)
66. Da iatroquímica e da iatromecânica
nasceriam dois “novos” sistemas médicos
e duas hipóteses sobre a vida: o
humorismo e o solidismo.
o funcionamento do corpo
seria semelhante ao de
uma máquina
hidráulica: tratava-se de
uma volta à “teoria dos
humores”, de Hipócrates
Boerhaave não
pensava no corpo
como sendo
exclusivamente sólido,
mas sim
formado de sólidos
“mergulhados em
humores”
67. Do magnetismo à hipnoseDo magnetismo à hipnose
“Os reducionismos mágicos são quase
sempre atraentes.”
Vinha de longe a idéia de se comparar a
“atração” existente entre as pessoas à
constatada entre o ferro e o imã.
Aristóteles já dissera que o ferro se move
para o ímã como o amante para a amada
(cf. Wiener e Noland, 1971, p. 18). (p.62)
68. Magnetismo/MesmerismoMagnetismo/Mesmerismo
Em 1600 William Gilbert (1540-1603).
Enunciaria sua teoria do magnetismo: De
Magnete.”
Este pensador “defendia o valor
medicinal do ferro e o poder de
animação do ímã, que “imita” e às vezes
“supera” a alma do homem.” (p. 62)
69. MesmerMesmer
Ao corpo geral de sua “doutrina” Mesmer deu
o nome de “magnetismo
animal”, por considerar que o “magnetismo
metal” não seria indispensável”.
O magnetismo animal foi proibido na
Universidade de Paris e os bens de Mesmer
foram confiscados pelos jacobinos, mas o
mesmerismo persistiu por muito tempo e “até
o século XIX receberia acréscimos e
modificações resultantes
de contribuições de magnetizadores diversos.”
70. HipnoseHipnose
“Paulatinamente, na medida em que se
avançava no século XIX, o mesmerismo
cedia lugar à hipnose”
A hipnose foi um termo usado pelo
médico Braid para substituir o então
denominado “sono mesmérico”
As idéias de Braid encontrariam eco e
continuidade em diversos trabalhos, onde
se enfatizava o poder da sugestão, como
os de Charcot
e Pierre Janet, na Salpêtrière.
71. FRENOLOGIAFRENOLOGIA
Um terceiro núcleo de interesses, dentro
dos limites das “hipóteses paracientíficas” é
centrado
sobre o estabelecimento de relações de
dependência entre os traços fisionômicos
(fisiognomonia) ou a circunvoluções do
cérebro (craniologia, frenologia), de um
lado, e, de outro, a conduta moral e afetiva
dos indivíduos.
72. Fisiognomonia (de Lavater)Fisiognomonia (de Lavater)
“estudo do homem interior e moral, pela
observação do homem exterior e físico”,
especialmente da observação de: fronte,
olhos, sobrancelhas, nariz, boca, dentes,
queixo, bochechas, pescoço, cabelos. (p.
66)
73. Craniologia/FrenologiaCraniologia/Frenologia
Com Franz Joseph Gall (1758—1828), a
fisiognomonia evoluiu para a organologia ou
craniologia, pela qual acreditava que havia
correlações entre faculdades intelectuais e
qualidade morais e as circunvoluções cerebrais.
O termo frenologia, quase sempre indicativo da
hipótese de Gall, é, na verdade, atribuído a
Spurzheim (1776—1832), entusiasta de suas
idéias e, durante algum tempo, seu colaborador
“
74. Contribuições empíricasContribuições empíricas
Ao lado dessas hipóteses paracientíficas,
desenvolveu-se a partir do século XVII uma
preocupação empírica que informaria
em grande parte a psiquiatria e a psicologia clínica
contemporâneas.
Método contribui com a contraposição a
explicações puramente racionais. Busca-se a
descrição e classificação. “A explicação deve
partir do que se vê, embora seja ainda muitas
vezes ingênua.” (p. 68)
75. Séculos XVII e XVIIISéculos XVII e XVIII
Persistência de explicações errôneas
e ingênuas:
◦ “emanações” ou “vapores”, partindo do
útero,contaminariam outros órgãos.
◦ “paixões do espírito” podem causar
perturbações morais ou mesmo físicas.
76. Consequências do modo empíricoConsequências do modo empírico
de pensarde pensar
Reformulação da crença em torno da
suposta natureza uterina da histeria.
Compreensão de fatores sociais e
culturais nos processos de agravamento e
cura das doenças mentais.
77. Séculos XVIII a XIXSéculos XVIII a XIX
Nestes séculos há uma explosão de autores e
de ensaios abordando a psicopatologia.
“Embora por vezes reflitissem provável
influência filosófica e psicológica — sobretudo no
concernente à investigação do comportamento
emocional —, não há vinculação estreita entre os
autores interessados na psicopatologia e os
psicólogos”. (p.70)
78. Validade discutívelValidade discutível
Apesar do acúmulo de observações e
descrições baseadas em observações
empíricas, ainda não há controle ou
organização técnica das informações
disponíveis, traduzindo-se em falhas
metodológicas e lógicas. (p. 70)
Havia neste período, uma motivação de
classificar as doenças, tal qual ocorria nas
ciências naturais.
79. Autor apresenta esquemas relativosAutor apresenta esquemas relativos
às classificaçõesàs classificações
Verificar quadros 7, 8 e 9 nas páginas
71 a 73
O autor destaca a importância das
classificações, no entanto, alerta para o
fato de que na época o conhecimento
acumulado ainda era fragmentário, bem
como a técnica de observação empregada
era ingênua.
80. Visão de conjunto sobre contribuiçõesVisão de conjunto sobre contribuições
psiquiátricas dos séculos XVIII e XIXpsiquiátricas dos séculos XVIII e XIX
Partindo da obra de Mark D. Altschule
(1976), destaca:
◦ Um grupo de contribuições abrangendo
trabalhos teóricos concernentes a aspectos
gerais da psicopatologia;
◦ Um segundo grupo de contribuições
compreendendo a descrição empírica de
síndromes.
81. Estudos teóricos: 3 temáticasEstudos teóricos: 3 temáticas
centraiscentrais
◦ A lógica do pensamento psicótico
(François Leuret, em 1834)
◦ A possibilidade de a mente enferma se
exprimir a si mesma “por meio de uma
linguagem figurada”. (Ernst von
Feuchtersleben, em 1845)
◦ Inconsciente e às manifestações
inconscientes da sexualidade.
82. InconscienteInconsciente
Vários autores consideravam o inconsciente,
não necessariamente com o mesmo sentido
proposto por Freud, dentre o quais se
destacam:
Fisiólogos e físicos: mencionavam inferência
inconsciente
Filósofos especularam sobre o assunto
Na medicina reconheceram a existência de “forças
fisiológicas” de que o homem não teria consciência.
Heinroth, em particular, escrevia intuitivamente sobre
o “conflito interior” (p.75)
83. SexualidadeSexualidade
A sexualidade estava relacionada a
perturbações mentais desde os séculos XVI
e XVII .
No entanto, esta relação seria
redescoberta no séc. XIX, com vários
documentos fortalecendo a hipótese da
“influência dos sexos sobre o caráter das
idéias e das afecções morais” dos
indivíduos.
84. Ego e “personalidades múltiplas”Ego e “personalidades múltiplas”
A especulação sobre o inconsciente
reforçaria o interesse pelo estudo sobre
a natureza do ego e das personalidades
múltiplas.
No séc. XIX, os especialistas que
analisaram o assunto contrapuseram uma
análise mais racional à antiga associação
entre “dupla” ou “múltipla personalidade”
e a intervenção do demônio
85. Dentro ainda das considerações teóricas
relativas à psicopatologia desenvolvidas
no século XIX, destaca-se o estudo de
mecanismos primários e sintomas:
◦ ansiedade, comportamento
◦ anti-social, regressão
◦ e alucinações (ilusões e delírios).
Também há estudos sobre associações
entre alucinações e efeito de drogas
86. Autor destaca as tentativas deAutor destaca as tentativas de
explicações sobre doenças mentaisexplicações sobre doenças mentais
Modelo da psicossomática (expressão
utilizada pela primeira vez por Johann
Christian Heinroth, em 1818)
Modelo neurológico: reduzia a lesões
cerebrais ou a anormalidades sofridas
pelas células do cérebro, a origem de
todas as enfermidades mentais.
(p.77)
87. SíndromesSíndromes
O reconhecimento de síndromes, favorecido
pela tendência classificatória, ultrapassaria as
noções de “estranheza” ou “excentricidade”,
dos primeiros tempos, e possibilitaria o exame
de problemas bem mais representativos.
Depressão: objeto de reflexão de vários
autores que trouxe contribuição valiosa.
88. Depressão: entendida comoDepressão: entendida como
Hipocondria (ou depressão neurótica, era
diferenciada da depressão psicótica)
Destacou-se o tema da leitura tomada como um dos fatores
determinantes de comportamentos neuróticos ou psicóticos
Crenças quase mágicas sobre a influência do Werther e o “spleen”
originado do romantismo são alguns dos inúmeros exemplos de
suposições similares. (p.77)
Melancolia (modalidade masculina da histeria):
encontrou importantes interpretações em vários
autores.
89. Duas relações relevantesDuas relações relevantes
1. Envolve o conceito de mania e a noção de
psicose maníaco-depressiva (Théophile Bonet
no século XVII)
2. Descoberta dos estados alternantes entre a
depressão e a elação (exaltação), fato
apontado por diversos autores:
R. Mead (1755), Jean-Pierre Falret (1854, “folie
circulaire”), Jules Baillarger (1843, “folie à double
forme”) e Karl Kahlbaum (1874, “ciclotimia”, termo
absorvido pelo vacabulário técnico posterior).
(p. 78)
90. Desordens esquizo-afetivasDesordens esquizo-afetivas
São tratadas por Georget, em 1820
(“obtusidade”), Griesinger, em 1845 e J.
Luys, em 1881. Jules Baillarger, em 1843,
pretendeu que a “obtusidade” descrita
por Georget seria na maioria das vezes
aparente. Em sua opinião seria com
freqüência acompanhada da idéia de
suicídio e corresponderia ao “grau mais
severo de uma modalidade de
melancolia”. (P. 78)
91. Esquizofrenia e demênciaEsquizofrenia e demência
Historiadores da psiquiatria indicam a
demência precoce como o ponto de
partida para o estudo da esquizofrenia.
Literatura sobre demência é volumosa,
destaca-se o clássico texto de Kraepelin,
definindo a demência
e distinguindo suas formas hebefrênica,
catatônica e paranóide.
92. ParanóiaParanóia
De início compreendida de acordo com
padrões diferentes dos atuais. Era a
expressão empregada para designar
genericamente qualquer estado
psicopatológico.
Karl Kahlbaum, em 1863, sugeriu que
tivesse seu emprego limitado aos estados
persecutórios e delírios de grandeza
93. Outros estudosOutros estudos
“Desordens nervosas”: conceito de
“neurastenia” e “psicastenia”
Histeria examinada no século XIX em
textos clássicos de Ryan, Laycook (1812
— 1876), Bricquet, Charcot e Janet —
antecedendo e já quase
alguns contemporâneos de Breuer e
Freud.)
Epilepsia (descarga anormal de energia na
córtex cerebral)