O documento discute os princípios e métodos da antropologia social, incluindo a observação participante e o trabalho de campo para entender outros sistemas sociais de dentro. O trabalho de campo permite que os antropólogos vejam as diferenças culturais como sistemas coerentes em si mesmos, em vez de julgá-los com base em nossos próprios valores. A antropologia busca transformar o exótico em familiar e vice-versa através da empatia e da relativização de nossas próprias perspectivas.
7. Trabalho de campo na antropologia social –
experimentação profunda – vivência longa e
profunda com outros modos de vida, com outros
valores, com outros sistemas de relações sociais;
Observação participante.
8. Tentar perceber no grupo estudado conjunto de
ações sociais como um sistema coerente
consigo mesmo.
9. Descoberta da coerência interna torna a vida
suportável e digna para todos, dando sentido
ao trabalho de campo.
10. O trabalho de campo consiste em uma
vivência longa com outros modos de
vida, outros valores e outros sistemas de
relações sociais.
11. A Antropologia social toma como ponto de
partida a posição e o ponto de vista do outro.
12. Segundo Malinovisk, este tipo de pesquisa transformou-se
no modelo mais profundo e dignificante
justamente por levar o estudioso a tomar contato direto com seus
pesquisados, obrigando-o a entrar num processo profundamente
relativizador de todo o conjunto de crenças e valores que lhe é
familiar.
13. O trabalho do pesquisador não pode ser uma
mera reprodução dos fatos que acontecem com
o povo estudado.
Isso “fazia com que nós antropólogos parecêssemos
idiotas e os selvagens, ridículos
14. O trabalho de campo de verdade, não permite que
façamos esta mera reprodução dos
acontecimentos, pois ele nos leva a perceber o
conjunto de ações sociais daquele povo como um
sistema, isto é, um conjunto coerente consigo
mesmo.
15. “Ou seja, o papel da antropologia é produzir
interpretações das diferenças enquanto elas
formam sistemas integrados.”
16. Segundo Malinóvisk, devemos mais do que
observar os nativos, transformar estas
observações em sabedoria. Isto é, mudar nossa
própria visão de mundo ao conhecer um
sistema diferente do nosso.
17. “Nosso objetivo final ainda é enriquecer e aprofundar
nossa própria visão de mundo, compreender nossa
própria natureza e refiná-la intelectual e artisticamente.
Ao captar a visão essencial dos outros com reverência e
verdadeira compreensão que se deve mesmo aos
selvagens, estamos contribuindo para alargar nossa
própria visão.”
18. “É a descoberta desta coerência interna que torna a
vida suportável e digna para todos, dando-lhe um
sentido pleno, que a experiência de trabalho de
campo sobretudo em outra sociedade permite
localizar, discernir e, com sorte, teorizar.”
19. “Todo antropólogo realiza (ou tenta
realizar), portanto, o seu próprio “repensar a
antropologia”, postura que – como nos revelou
explicitamente Edmund Leach – é uma tarefa
absolutamente fundamental para o bom
desenvolvimento da disciplina.”
20. A antropologia social é uma disciplina que vem
se modificando bastante ao longo do tempo e,
uma das causas desta mudança constante é o
fato de o trabalho de campo colocar sempre a
prova conceitos criados anteriormente.
21. “Forçados pela orientação mais geral da disciplina –
a de se renovar – os antropólogos têm duvidado de
vários conceitos considerados básicos ao longo de
muitas gerações.”
22. Todas estas transformações na antropologia
acabaram por permitir “uma nova via de
conhecimento do homem, caminho que pode
abandonar o questionamento historizante para
utilizar a noção de sistemas, de sincronia, de
funcionalidade, de estrutura, de inconsciente e
revelar as diferenças entre sistemas sociais como
formas específicas de combinações e de relações
que são mais ou menos explícitas em sociedades e
culturas segregadas pelo tempo e espaço.”.
23. É mais evidente as diferenças entre as culturas quando
estas viveram em espaços e tempos diferentes . A
análise delas muitas vezes fazia com que atribuíssemos
as grandes diferenças entre elas ao tempo diferente, à
história.
Por exemplo, podemos dizer que uma é mais atrasada
que a outra por não ter criado alguma tecnologia que
esta, num tempo mais recente, já criou.
24. A Antropologia propõe que analisemos estas
sociedades não pelo viés do tempo, mas sim
como sistemas próprios, como estruturas
próprias, como organismos exclusivos e
incomparáveis a outros no sentido de que cada
uma tem sua própria lógica.
25. A intenção não é resolver estas questões, mas mostrar
como a antropologia é plural.
Plural devido à sua contradição mais fundamental. O
fato de ser uma e múltipla. Isto é, é UNA ao conceber
como seu princípio maior o respeito absoluto por todas
as formas de cultura. E MULTIPLA por permitir que
cada qual recrie e crie métodos, conceitos e concepções
novas para repensar a antropologia
26. Este sentido múltiplo também se percebe na
forma como a Antropologia consegue unir o
pensamento dos selvagens, por exemplo, com o
pensamento moderno e democrático.
27. Etnólogo - dupla tarefa: Transformar o exótico
em familiar e vice-versa, sendo que, de fato,
“o exótico nunca pode passar a ser familiar; e o
familiar nunca deixa de ser exótico.”
28. Segundo Velho:
Nem sempre o que é familiar é conhecido; o
que não vemos e encontramos pode ser exótico
mas, até certo ponto, conhecido.
29. Familiaridade: existem graus; não implica
automático conhecimento ou intimidade.
Quando se estica o sentido social de
familiaridade e suponho que conheço
tudo, pratico o senso comum.
30. Apesar da Sociedade ser um sistema com um
mínimo de coerência, isso não significa que
exista ausência de conflitos/contradições.
Visões diferenciadas: Uma “guerra” entre
grupos de uma sociedade- um sociólogo pode
achar que foi causada por fatores
econômicos/demográficos, enquanto os
membros daquela sociedade enxergam como
um ritual de vingança/limpeza da honra.
31. Devemos ouvir as motivações e ideologias
daqueles que praticam o costume, a crença ou
ação para que possamos compreender o
sistema ideológico em estudo.
Descoberta do lugar da divergência e do
conflito como uma categoria sociológica.
32. Sociedade é um sistema que tem uma
“autorreferência”, um todo que só pode ser
adequadamente estudado em relação a si
mesmo – em todas as sociedades existem níveis
de acordo mais básicos que zonas de
divergência e zonas de exotismo menos
importantes do que suas áreas de familiaridade
33. Estudo do etnólogo: Ponto de chegada (via
intelectual) – transformação do exótico em
familiar; ponto de partida (no caso de um ritual
brasileiro)- desligamento emocional, pois a
familiaridade foi obtida via coerção socializadora,
“do estômago para a cabeça” – mediação deve ser
feita pelas teorias antropológicas
34. „‟Só existe antropólogo quando há um nativo
transformado em informante. E só há dados
quando há um processo de empatia correndo
de lado a lado”
35. É necessário admitir que o homem não se
enxerga sozinho, ele precisa do outro como seu
espelho e seu guia.
36. “É, portanto, para chegar a esta postura (ou para
chegar próximo a ela) que o etnólogo empreende sua
viagem e realiza sua pesquisa de campo. Pois é ali
que ele pode vivenciar sem intermediários a
diversidade humana na sua essência e nos seus
dilemas, problemas e paradoxos. Em tudo, enfim,
que permitirá RELATIVIZAR-SE e assim ter a
esperança de transformar-se num homem
verdadeiramente humano.”