Não nos alongaremos em teorias impraticáveis e discussões inúteis, foram elas que levaram os estudantes brasileiros à presente situação, constrangedora no tocante a escrever e criar, seja uma simples carta ou uma redação mais complexa. Estes exercícios práticos para emprego imediato constituem uma opção mais realista.
3. INTRODUÇÃO
Não nos alongaremos em teorias impraticáveis e discussões inúteis, foram elas que
levaram os estudantes brasileiros à presente situação, constrangedora no tocante a escrever
e criar, seja uma simples carta ou uma redação mais complexa. Estes exercícios práticos
para emprego imediato constituem uma opção mais realista, vamos a eles:
FASE PRELIMINAR-COLETA E EXPANSÃO(CE I e II)
Para conhecimento dos pontos fracos e o potencial de cada um propõe-se uma fase
preliminar mais simples e rápida, a coleta e expansão, sem um tema determinado.
CE I
Em um dicionário ir consultando as páginas aleatoriamente e coletando o primeiro verbete
que visualizar em cada uma delas, entre 15 a 20 palavras no total, sejam elas simples ou
complexas, sem escolher. De posse dessas raízes deverá criar um texto curto,
empregando-as em qualquer ordem.
Repetir até construir textos razoáveis, com rapidez. Os exemplos abaixo são elucidativos.
Exemplo de CE I:
Fonte: Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Editora Melhoramentos,1998
Palavras coletadas aleatoriamente e empregadas em qualquer ordem:
1-acauã,pag.33
2-andantino, pag.145
3-azulego, pag.277
4-cigano, pag.497
5-conformar, pag.559
6-elapídeo, pag.767
7-falaz, pag.933
8-gurungumba, pag.1065
9-limpo, pag.1257
10-mosca, pag.1415
11-piletromboflebite, pag.1617
12-reato, pag.1779
13-rostolho, pag.1861
14-testemunho, pag.2055
15-viagem, pag.2197
Podendo usar as palavras em qualquer ordem, vamos escolher uma que nos facilite a
construção do texto ao seu redor, uma que permita uma variação maior de assuntos;
optarei aqui pelo verbete viagem(15):
A viagem(15).Após um diagnóstico assustador de piletromboflebite(11),que afinal se
revelou falso, decidi soltar a gurungumba(8)no lombo da montaria de minha imaginação
e, colocando um andantino(2)no primeiro dia do resto de meus dias, acelerei minha vida,
4. sem me conformar(5) em viver imobilizado, aguardando acontecimentos, qual um
reato(12)no planeta terra…
Ah, vida de cigano(4)então, livre, uma mosca(10)sem rumo, revoando de lá para
cá,chegando sem me fazer anunciar pelo acauã(1),levando aos amigos o
testemunho(14)de um coração limpo(9),sem ser falaz(7)mas consciente que mesmo um
pequeno rostolho(13)como eu é parte integrante e importante na robusta fechadura da
vida, sem temer enfrentar as surpresas do destino que, qual venenoso elapídeo(6)à
espreita, pode sempre estar disfarçado no lusco-fusco de um azulego(3) céu no entardecer
de nossa existência...
Uma vez confortável com o exercício, passar para a etapa seguinte, um novo texto mas
usando os verbetes na ordem em que foram coletados, aumentando assim o grau de
dificuldade.(CE II)
Exemplo de CE II:
Fonte: Dicionário Básico da Língua Portuguesa Folha/Aurélio,1994-1995 Editora Nova
Fronteira S/A
Palavras coletadas aleatoriamente mas empregadas em ordem de coleta:
1-amerceamento, pag. 37
2-arrancar, pag.61
3-caiporismo, pag.115
4-celícola, pag.139
5-crisálida, pag.187
6-déspota, pag.215
7-enfestar, pag.247
8-girino, pag.323
9-jazz, pag.375
10-mexido, pag.431
11-pasquinar, pag.485
12-pró-homem, pag.531
13-sobreosso, pag.605
14-treliça, pag.647
15-valverde, pag.663
16-zwingliano, pag.687
Sem poder mudar a ordem, estamos condicionados à primeira palavra, amerceamento
(conceder mercê,comutar a pena, condoer-se)e ela dá o rumo a seguir, quando observamos
o significado comutar a pena. Tomemos pois esse caminho:
O contínuo amerceamento(1) dos criminosos em nosso país, visando não sua
recuperação, mas simplesmente arrancar(2),retirar, expulsar um inquilino de nosso
sobrecarregado sistema carcerário, faz com que o cidadão comum, o homem trabalhador,
sofrido, sinta-se debaixo de um constante caiporismo(3),de uma urucubaca atroz ao se ver
pilhado em cada esquina por uma crescente multidão de marginais escudados na
5. impunidade, enquanto privilegiados políticos vivem tal qual um celícola(4) em seu paraíso
particular, ignorando o estado latente, de verdadeira crisálida(5) humana de seus eleitores,
impedidos de amealharem algum bem, esperando, encapsulados em sua insegurança, a
transformação...
Um déspota(6) após outro sem qualquer vergonha de seu constante enfestar(7),promete
casa, comida e saúde enquanto abaixo de si, qual um girino(8),o povo vive na lama.
Enquanto os poucos privilegiados escutam Jazz(9) o pobre trabalhador convive com o
nada sofisticado e ensurdecedor clamor das buzinas de um trânsito infernal que só piora,
nada muda, nada é mexido(10), apesar das notícias de grandes obras, em verdade um
pasquinar(11) contínuo que ofende nossa inteligência. Onde encontrar a figura de um
verdadeiro pró-homem(12) que surja para nos defender, que golpeie estas cavalgaduras
que nos pisoteiam deixando-as marcadas perenemente com o sobreosso(13) da ignomínia,
que os lance atrás da treliça(14) de ferro de uma prisão!
Nossa esperança persiste, sonhando com a inversão da pirâmide social, qual um luminoso
valverde(15),numa reforma liberal, racionalista, transformando cada cidadão num
verdadeiro guerreiro zwingliano(16)...
Verão que a repetição dos exercícios os habilitará construir um texto, uma redação, a partir
de um tema que pode até ser desconhecido, mas que se prestará a ser desenvolvido,
brincando com as palavras. A seguir, outro exercício mais fácil e divertido que fornecerá
uma boa experiência para sair do repetitivo e ser mais original, variando a opinião e o
texto resultante.
Dissertativo-argumentativo(NNP)
Procure nos jornais uma notícia, geralmente de difícil ataque ou defesa e a partir dela criar
3 textos, fleugmático no neutro, mas veemente, apaixonado no negativo e positivo. Os
exemplos falam por si:
1.Policial espanca idosa de 102 anos em via pública.
Neutro
Um policial, usando seu cassetete, atingiu ontem, por volta das 13:00H, uma senhora de
102 anos, que atravessava fora da faixa de pedestres na Avenida Paulista, tendo o fato
provocado um boletim de ocorrência por parte de alguns transeuntes que testemunharam a
cena.
Negativo
Deplorável. Numa cena dantesca, impressionante pela sua brutalidade, uma anciã de 102
anos (pasmem!) foi espancada por um policial, ontem, em plena Avenida Paulista! Sim,
meus senhores,é exatamente isso que leram. Inacreditável? Creio que, infelizmente não,
pois o autor dessa selvageria não é outro senão o Cabo Roque, já por demais conhecido e
citado nas reportagens policiais e que continua impune apesar de repetidas denúncias e
protestos. Um marginal fardado que mancha toda uma Corporação! A inditosa velhinha,
6. com escoriações generalizadas foi atendida no PSM e liberada, enquanto um grupo de
cidadãos que presenciaram a cena selvagem lavraram um Boletim de Ocorrência. Estamos
aguardando e cobrando o andamento deste, para que se coíbam esses inomináveis abusos!
Positivo
Mais uma vez nossa garbosa Polícia Militar deu mostras de sua capacidade de intervenção
rápida e precisa, ao impedir que o já complicado trânsito da Avenida Paulista parasse de
vez em plena hora de pico, quando uma cidadã,abusando de sua avançada idade, insistia
em atravessar fora da faixa de pedestres e em meio aos veículos! O policial, sem se
intimidar com a pressão que alguns inconsequentes transeuntes quiseram exercer sobre sua
incontestável autoridade, rapidamente resolveu o impasse, quando, refutado pela
cidadã,usou de seu equipamento regulamentar e com uso de força cuidadosamente dosada,
arrastou a infratora para fora da pista, liberando o fluxo de veículos. Bem hajam pois, os
profissionais como esse, que cumpre seu dever sem nada temer. Parabéns ao policial!
2.Sacerdote vende seu carro e distribui cestas básicas com o dinheiro arrecadado.
Neutro
Padre Pedro,36,da Paróquia do santo homônimo,Vila Maria,realizou uma distribuição de
cestas básicas aos pobres da Comunidade do Pai Niquinho,situada nas imediações de sua
igreja. No ato,cerca de 100 famílias de baixa renda foram beneficiadas.
Negativo
Ontem,na favela do Pai Niquinho assistiu-se mais uma cena de demagogia,tão fartas em
nossos tempos. Como se realizasse uma penosa renúncia,o Padre Pedro,pároco na Vila
Maria, vendeu seu carro e comprou cestas básicas, que distribuiu posteriormente aos
favelados do Pai Niquinho. Com publicidade. Ficar sem carro é renúncia para um
sacerdote? E o voto de pobreza? Nunca deveria é tê-lo comprado! E os moradores da
favela? Só agora sentiram fome? A Paróquia é nova? O Padre Pedro é recém-chegado?
Não. Há anos que o reverendo assiste a miséria campear ao seu lado e se restringe a rezar
missas… É esperar para ver,este ato não foi em vão. Ou vai ser candidato a vereador ou
lançará algum CD...
Positivo
Ainda há esperanças...Num gesto de caridade cristã e renúncia,o carismático Padre
Pedro,da paróquia do santo que leva seu nome,como sempre dedicado aos humildes nos 36
anos de vida plena de santo vigor,após vender seu carro,ontem,transformou o dinheiro em
cestas básicas num verdadeiro milagre da multiplicação dos tempos modernos,agraciando
as famílias moradoras da Comunidade do Pai Niquinho,seus vizinhos e rebanho. Atos
como deste apóstolo dos nossos dias nos enchem de alegria e nos estimulam a contribuir
para um mundo melhor!
Verão que o progresso após os exercícios de CE I, CE II e NNP é imediato,quer em
termos de redação como do uso de novas palavras que,pela maneira lúdica como foram
coletadas e trabalhadas, passam a fazer parte perene do vocabulário de cada um. Estarão
aptos para desenvolver com mais facilidade uma redação mas se desejarem uma maior
7. sofisticação para empregar em outras áreas,sugiro a prática de um instigante CPE,que já
requer mais habilidade:
Criação,Pesquisa e Expansão (CPE)
O método Criação,Pesquisa e Expansão visa o desenvolvimento do aluno ao transferir
para ele a antiga metodologia do mestre sábio discorrendo livremente debaixo de uma
frondosa árvore. A mente deve ser estimulada a correr solta,desviando do tema central
sempre que um atalho se apresentar. A meta é o conhecimento e o estímulo ao cérebro para
que ele trabalhe e se desenvolva liberto das peias que a educação moderna tem imposto
aos estudantes de hoje,simples máquinas de escutar e memorizar.
Por isso,CPE não é uma disciplina e sim um método aplicável a qualquer delas,embora
com resultados mais marcantes em Português(redação e vocabulário), Direito,Filosofia,
Psicologia,Jornalismo e afins. É uma rede de caminhos que levam a todas outras matérias
mas de forma prazerosa,sem compromisso que não seja o da veracidade dos componentes
das pesquisas,não da estrutura final,que será sempre a mais paradoxal
possível,estimulando a criação,a ficção,mas ao mesmo tempo intrigante,pois se baseará em
dados reais. Apenas o tema da criação deve ser dado – facilitando a comparação e
indicando quais os alunos a serem mais trabalhados- e o rumo da pesquisa sugerido. A
expansão,jamais,ela constitui o verdadeiro valor do CPE,o resgatar da consistência
perdida da educação,com o rebaixamento acentuado do nível dos professores de ensino
primário e secundário e do engajamento político e/ou religioso de uma parcela importante
dos professores universitários. O mestre deve ser neutro em seu ofício,dando ao instruendo
todas as chances de escolha possíveis – ou não será educar e sim aliciar. Com a expansão
acontece o mesmo. Se orientado a finalidade se perderá;após o empurrão inicial deve o
aluno,sem alternativa,buscar em seu cérebro os caminhos a seguir,como na futura vida
profissional. Treinar o pensar,o criar. Manejar, gerenciar pensamentos,informações várias e
inesperadas,de qualquer fonte,tendo em mente um objetivo a ser cumprido.
As bibliotecas,os livros, revistas, enciclopédias, internet, dicionários,
manuais,permanecem estáticos, esperando a consulta. Procurar,mas principalmente saber
usar as informações conseguidas. Ter a leveza de deter-se em algo interessante que não era
o objetivo da busca e acabar por empregá-lo. Assim é o dia a dia...
O futuro comportará super mestres primários,ecléticas bibliotecas secundárias e
magníficos orientadores universitários. Os alunos,treinados para pensar e pesquisar desde
o primário,chegarão às Universidades necessitando apenas de orientação que só a
maturidade dos mestres – com boa formação – poderá fornecer.
Uma radical mudança,não somente técnica mas comportamental como esta levará
décadas,se conseguir sobreviver à pressão dos maus profissionais do ensino,já que só os
competentes poderão produzir. Mas o caos na educação que já dá seus sinais com
clareza,pesará a favor de mudanças em qualidade. Para não cair nos demagógicos
discursos assemelhados tipo educação e saúde para todos,apresento aqui o CPE com uma
proposta concisa e prática,para emprego imediato, procurando apenas reforçar o alicerce
fraco dos que já construíram,no primário e secundário, uma parede de sua futura casa,para
que ela não desmorone devido aos parcos materiais, ajudando assim a formar um grupo
diferenciado de profissionais que posteriormente se empenhem em mudar a atual situação.
CPE é apenas um despertar das mentes,o estímulo dos neurônios. A simples criação de
8. teses absurdas mas com feição de verdade,pois se basearão sempre em dados reais,fruto
das pesquisas. Estimular a criação,destacar futuros líderes é o segredo. Pois eles terão que
inovar sempre e isto é função de uma cabeça criativa,treinada,estimulada – e partir do real
para criar um absurdo crível acaba por ser um pesado mas benéfico exercício para o
cérebro!
“Existe a tendência de tentar realizar planejamento salientando tendências do
passado...deve-se partir do reconhecimento que o futuro será diferente... A única proteção
contra o risco da exposição em relação à inovação é inovar.”(Peter F. Drucker,Fronteiras
do amanhã)
O método CPE torna-se mais claro a partir do exemplo prático em anexo,”Terezinha
de Jesus – um questionamento ontológico”. O resultado foi divertido e a expansão
conseguida alcançou até a literatura turca,através de uma enciclopédia em mãos e uma
simples cantiga do folclore brasileiro! Exemplos,não regras. Não se cria verdadeiramente
debaixo de regras. CPE se restringe a este impresso,um simples empurrão,não devemos
repetir os erros de ensinamento cometidos e acumulados até agora,cujo resultado é bem
visível...
Digamos que em um grupo de 100 alunos sejam selecionados 10 bons trabalhos de
CPE;serão então constituídas 10 equipes de 10 componentes,onde o líder será o autor do
trabalho a se discutir. Ele se destacou,vamos aumentar sua confiança,será um auxiliar
precioso para os demais. Competitividade sim,o mundo profissional é assim,os melhores
se destacam,a Universidade não deve ser um lugar onde os menos capazes se sintam iguais
aos demais,eles devem se sentir confrontados e se estimularem para progredir,só assim
terão chance lá fora e é melhor que isso aconteça dentro da escola,com orientadores,outros
conceitos não passam de danosa hipocrisia. Estes que não produziram bem ou não
assimilaram ainda o espírito CPE, ao trabalhar com a tese escolhida ganharão subsídios
para se aperfeiçoarem. A função destes alunos será a de procurar falhas,brechas que
conduzam à impugnação do trabalho do colega. Uma CPE bem elaborada não pode deixar
estas brechas. A função do líder será defender-se,tentar convencer os demais da veracidade
de sua pesquisa,baseando-se em argumentos fortes que não admitam contestações
sólidas,mesmo que sejam muitas vezes irreais,porém construídos com dados verdadeiros.
Não é este fascinante jogo mental os componentes da atuação da defesa e acusação em um
julgamento,onde,partindo dos mesmos dados reais,as versões são conflitantes e
antagônicas,duas verdades para o mesmo fato? No sentido inverso,desconstruir uma tese
fantasiosa em busca dos fatos que a formam,não seria o trabalho de um psicólogo em
relação ao seu paciente? É o CPE o construir de uma estrutura mental,qual o esqueleto de
um prédio,onde,no futuro,de acordo com as situações apresentadas,bastará deslocarem-se
as divisões internas e refazer a distribuição dos móveis. Muito distante dos inócuos
simulados de julgamento,onde alunos repetem frases copiadas e decoradas dos Códigos
Penal e Civil...
As equipes posteriormente trocarão de trabalhos e os alunos mais fracos assimilarão as
manobras de seu líder tentando impugnar o trabalho de outro líder,traduzindo-se num
aumento de performance para todos os envolvidos.
Criar,pesquisar e expandir por caminhos inesperados que surpreendam o inimigo,que pode
ser o próprio futuro de um profissional mal preparado...
O exemplo e os passos iniciais,aleatórios, de sua criação.
9. Procurou-se algo bem simples para que fosse transformado em uma tese complexa,irreal
mas usando-se dados e personagens verdadeiros. O tema escolhido foi a cantiga folclórica
“Terezinha de Jesus”. Sem qualquer ideia pré concebida,partiu-se do nome;em uma
enciclopédia -que foi a fonte para todo o trabalho- procurou-se uma personagem com o
mesmo nome ou sobrenome. Encontrou-se um parecido,Jaze,de Gaston Jaze,economista
francês,nascido em Tolouse,França. Criou-se então a personagem Therèse de Jaze, já com
uma
época,um
país,uma
cidade
e
um
rumo,economia,finanças.
A
pesquisa,aleatória,começou a criar vida própria,no folhear das páginas,buscando
personagens contemporâneos,um assunto pedindo outro para complementá-lo e muitas
vezes tropeçando em algo interessante que poderia ser usado,observando-se a letra da
cantiga.
Ficção empregada:(caso o trabalho seja publicado,citação obrigatória,pois envolve
personagens reais em fatos fictícios).
-Therèse
-A autoria da cantiga Terezinha de Jesus
Obviamente,sendo Therèse uma personagem fictícia,todos os relacionamentos que a
envolvem também o são.
Os demais personagens são reais,assim como os dados apresentados,promovendo a
aquisição de conhecimento através do desenvolvimento da prática da criação e
pesquisa,útil para todas as disciplinas,além do resultado primordial: o treinar do cérebro
para administrar novos subsídios e acontecimentos inesperados.
Expansão:literatura brasileira,francesa e turca, economia mundial,filosofia,geologia,
teatro,política,história,etc,etc.
Brechas para impugnação do trabalho:
-a autoria da cantiga,buscando alguma publicação ou menção da mesma anterior à
época em que a tese se desenvolve;
Quanto à existência de Therèse ou das cartas que serão citadas,são caminhos difíceis,pois
embora irreais,provar a não existência de algo é uma tarefa mais árdua que sua
comprovação.
TEREZINHA DE JESUS-UM QUESTIONAMENTO ONTOLÓGICO
Esta tese se propõe a um novo,profundo e sem dúvida polêmico questionamento sobre a
cantiga folclórica Terezinha de Jesus. Apenas uma cantiga popular? Versos de rima rica?
Não. Ela existiu,ser enquanto mulher,ser enquanto ser,ontológico,metafísico,numa
dicotomia assombrosa que transcende qualquer aspecto regional e justamente por isto
começou a atrair a atenção de pesquisadores de literatura – principalmente estrangeiros –
ocupando uma lacuna irresponsável deixada por todos nós brasileiros,distorção esta que
procuro reparar com a presente tese.
Terezinha de Jesus nasceu Therèse de Jaze em 1889,na cidade de Tolouse,França,filha
primogênita de Gaston Jaze,famoso jurista,presidente do Instituto Internacional de Direito
e pai da Ciência das Finanças como disciplina autônoma. Autor entre outras de Os
10. princípios gerais do direito administrativo,O orçamento, e A estabilização da moeda. Esta
última escrita em 1932,quando Therèse contava com 43 anos incompletos e que viria a ter
primordial importância no decorrer da trágica vida tão profundamente exposta nos
magníficos versos atribuídos,embora sem confirmação,ao escritor brasileiro José
Godofredo de Moura Rangel,mineiro de Três Pontas(1884-1951)autor de A filha
(novela,1929),onde já se denota a forte presença de Therèse,com quem trocava vasta
correspondência em francês.
Comparando-se estas cartas(cerca de trezentas),o livro A filha,e os versos de
Terezinha de Jesus,posso afirmar agora a paternidade intelectual de Godofredo Rangel,que
se torna gritante com a confrontação da enxurrada de informação técnica econômica que
se entremeia nas frases quase de adolescente apaixonada de uma mulher madura,mas que
vive num mundo paterno exclusivamente financeiro que a influencia. Numa época de
economia conturbada,com meios de comunicação parciais,pagos para defender interesses
de nações e empresas poderosas,Godofredo Rangel nunca poderia ter conseguido
subsídios tão completos e verdadeiros através de fontes formais como os jornais,na
confecção de sua obra aparentemente poética,mas que é um libelo angustiado contra a
crescente globalização da economia mundial e a consequente penalização dos países
pobres,nos quais se incluía o seu...
Vem então o questionamento ontológico de Terezinha de Jesus,sua essência que se
diferencia da existência sob a ótica dos filósofos pré-socráticos,partilhada pela maioria dos
filósofos clássicos e pelos quais me orientei,mas deixando de lado o eleatismo grego com
sua dimensão mais geral e abstrata. Esta tese busca fatos concretos,foge da voláteis
hipóteses.
A interpretação é clara,gritante,mas ao mesmo tempo surpreendente,principalmente
entre os estudiosos que há décadas se debruçam sobre o poema Terezinha de Jesus:além de
uma mulher real-Therèse de Jèze-Terezinha de Jesus é a Economia Mundial do início
do século XX!
Num dicroísmo fascinante,o que parece ser uma simples cantiga torna-se então um
cristal birrefringente,uniaxial,cuja característica é a diversa coloração que apresenta
conforme a direção da luz que lhe é dirigida pela mente de um pesquisador. Numa
dicotomia quase irreal pois se bifurca em assuntos que não formam par – a luta de uma
mulher num mundo exclusivamente masculino,pela sua emancipação, versus a guerra
feroz da economia mundial para se manter viva – a obra de Godofredo Rangel seduz ao
dar tripla vida a cada singular palavra,numa trilogia em que as tragédias são excludentes
porque incompatíveis! Trilogia porque a cantiga,de mero veículo,conquistou vida própria
ao ser descoberta justamente como veículo cujo conteúdo transcendia em muito sua
função.
Passaremos ao estudo minucioso de cada uma destas palavras chaves,isoladas em seu
significado tripartido e concomitantemente,ao visualizá-las nas frases completas,o dissecar
de suas mensagens,deixando de lado uma das facetas,a do veículo em si,por demais
estudado por folcloristas brasileiros,concentrando-se na vida de Therèse e na Economia
Mundial,facetas desconhecidas pelos literatos nacionais.
Este trabalho é o resultado de pesquisas no Museu dos Agostinianos em
Tolouse,arquivos do escritor Monteiro Lobato,com quem Godofredo Rangel manteve
correspondência por 40 anos,arquivos particulares em Três Pontas,onde ainda estão as
quase trezentas cartas anteriormente citadas,jornais de época,tanto franceses como
brasileiros e contatos com a família de Pierre Laudenbach Fresnay,ator contemporâneo e
11. amigo de Therèse,falecido em Neuilly em 1975,deixando um extenso e revelador diário.
Segue-se:
1.Terezinha de Jesus,de uma queda foi ao chão...
Palavra chave:queda.
Para Therèse,mais particularmente uma queda,um hoje considerado normal envolvimento
com um homem comprometido,apenas um envolvimento mas que foi considerado queda
incontestável pelo seu pai e irmãos,narrada de maneira dolente e dramática numa carta a
Godofredo Rangel,onde cita também sua confissão entre lágrimas,anteriormente,a Pierre
Fresnay,seu amigo,que confirma em seu diário,num esplêndido laudo de honestidade e
sinceridade de nossa heroína.
A princípio,o que nos parecia uma redundância do autor,pois todas as quedas levam ao
chão,não é nem mais nem menos que uma feroz crítica à família de Therèse e o apoio –
magnífico se considerarmos a época em que se transcorre o drama – de Godofredo Rangel
à causa de sua correspondente,a luta para simplesmente ser livre,emancipar-se da tutela
paterna,castradora,e num sentido mais amplo,da própria Sociedade. Therèse
ousava,tentava enfrentar suas vicissitudes,mas necessitava também o apoio mais forte que
vinha do longínquo Brasil,daí as trezentas cartas. Apoio que,visto a influência de
Gaston,poderia custar caro,gerando a forma velada,através de uma aparente cantiga
popular,que previamente avisada,aqueceu o coração sofrido de uma mulher lutadora que
não perdera a feminilidade. A ousadia quase masculina de Therèse se alimentava do
romantismo quase feminino de Godofredo Rangel...
Sobrepondo-se ao machismo reinante,havia outrossim o laivo preconceituoso no
envolvimento de Therèse,na época um escândalo para os sempre arrogantes franceses:
além de 13 anos mais velho,seu suposto amante era o poeta turco Mehemed Ziya
Gokalp,que acendeu celeuma quando em 1924 lhe dedicou o poema Qizil Elma,que foi
proibido em França por pressão de Gaston Jaze. Mais tarde,analisando de maneira parcial
e superficial,Sartre diria que a necessidade de Therèse de Jaze em se vingar dos homens
franceses a levou ao envolvimento emocional com indivíduos de países exóticos como
Turquia e Brasil! Ao contrário da Turquia,nenhum intelectual do nosso país se
manifestou,curvando-se como sempre aos nomes e não aos conteúdos...
Vamos agora retroceder em nosso caminho,até a bifurcação: deixando a estrada de
espinhos e flores de Therèse,entraremos pela seca e árida avenida da Economia
Mundial,estudando a mesma frase,a mesma palavra!
Queda. Quebra...29 de Outubro de 1929. A bolsa de New York e o desastre financeiro que
arrastou o mundo. Terezinha de Jesus,de uma queda foi ao chão -a economia
mundial,entrelaçada que estava,foi ao chão junto com a Bolsa de New York. Já temia
Godofredo Rangel,alertado pelas informações privilegiadas que lhe eram transmitidas
desde França...Terezinha/Therèse/ Economia Mundial. Fascinante e incompatível trilogia!
Isto encantava a desencantada francesa,que considerava o brasileiro seu pupilo em
economia. Com o decréscimo da produção industrial americana,países como o nosso,cujo
comércio internacional se apoiava em poucos produtos primários sofreram de imediato.
Sentia-se o peso da economia global.
2.Acudiram três cavalheiros,todos três chapéu na mão...
Não há palava chave,a própria frase é uma magistral construção,que
se ajusta perfeitamente aos dois assuntos.
A ironia que fez Therèse sorrir: os cavalheiros são respectivamente -embora pela clareza
12. se esperasse que não – justamente seu pai,seu irmão e Godofredo Rangel. Neste ramo da
dicotomia,existe apenas a descrição,a constatação de um evento,embora o verbo acudir
tenha sentido diverso quando aplicado aos dois primeiros cavalheiros. Aí,o acudir é o
cercear,tolher,esconder, aprisionar. Ao terceiro,o acudir é a mão estendida,o coração aberto
como só o pode fazer um poeta platônico ou um cavalheiro desinteressado – porque
fisicamente afastado – é bom que se lhe diga. Não pretendo romantizar,esta tese procura
separar,peneirando o escolho e os boatos,da verdade,para que ela apareça límpida,sem a
pátina que a encobriu até nossos dias.
Giramos então nosso cristal e deparamos agora com a fria luz da situação financeira...
Terezinha/Economia Mundial está caída,está no chão. Depressão,as marchas da fome,as
filas de sopa. Alguém terá de acudir. Os três cavalheiros são as alternativas que se
apresentam: o capitalismo liberal ocidental,estagnado com seus fracos planos,o
comunismo,que parecendo imune – por falta de informações confiáveis – alardeia seus
planos quinquenais mas ainda assusta e o fascismo em ascensão,que atrai os países pobres
que se julgam prejudicados pelos Estados Unidos. No Brasil estamos no início da Era
Vargas,adepto de governos fortes. E a preocupação transparece nas palavras de
Therèse,vizinha da Alemanha e Godofredo Rangel,sob as botas de Getúlio. Quão cruel
deveriam aparecer as sombrias perspectivas aos olhos de almas tão sensíveis como os dois
missivistas...
3. O primeiro foi seu pai,o segundo seu irmão;o terceiro foi aquele que Tereza deu a
mão.
No universo de Therèse,a mensagem é clara. Ela recusa os grilhões amorais de um secular
preconceito,de uma hipócrita postura da Sociedade e Godofredo Rangel se arvora em seu
defensor;o compromisso entre ambos,o elo emotivo aqui finalmente transparece. É
Therèse, a emancipada que dá sua mão,ela não é cedida pela família. E não é um simples
pedido de ajuda,que já existe mas sim um casamento de almas. O lugar de um poeta
pranteado – Ziya Gokalp falecera do parto de seu poema Qizil Elma – foi ocupado por
outra alma irmã...
Retornemos à paradoxal bifurcação.
Onde ocorreu a mais gritante recuperação,qual nação ressurgiu das cinzas onde se
encontrava,esmagada por nações que agora se achavam de chapéu na mão? A Alemanha
de Hitler desponta e indica a mão que Terezinha/Economia Mundial deve aceitar. A mão é
o novo rumo e desesperado,Godofredo Rangel vê a ditadura Vargas se solidificar.
Acredita então que tudo se encaminha para o fascismo,o terceiro-a Alemanha – foi aquele
que a economia deu a mão,o prêmio. Termina a trilogia pois conseguiu a mão de Therèse e
na dicotomia folclore-economia encerra com amargor e ironia sua memorável obra:
4. Da laranja quero um gomo,do limão quero um pedaço...
O sarcasmo em relação à política protecionista americana é patente. A sobretaxa aos
produtos agrícolas sul-americanos para preservar e estimular o trabalho no campo nos
Estados Unidos traduz-se no ônus que tira um gomo de cada laranja estrangeira,um pedaço
de cada limão...No afã de proteger seus empregos e a agricultura,as medidas tomadas
pelos Estados Unidos e potências coloniais esmagaram os países e colônias que com eles
trocavam produtos. Política que provocou ódios e estimulou a subida de governos
13. radicais...
5. Da menina mais bonita eu quero um beijo e um abraço.
Em 1930/1931 cerca de dez golpes militares de sucesso mudaram para a direita os
governos na América Latina;na Europa,os ventos da revolta não se limitaram à Alemanha
e Itália...No oriente,desponta o Japão... A menina mais bonita era a Alemanha,a grande
potência que após 1933 surgia sem desemprego,grande importadora para sua indústria que
se desenvolvia a passos largos. Admirada por todos os países no visualizar de Godofredo
Rangel,o beijo significava o alimento,a ajuda,os germânicos substituíam os norteamericanos e impotente o poeta vislumbrava um futuro próximo mais fascista
ainda,contemplando os camisas verdes que brotavam de um solo fértil adubado pelas
próprias democracias egoístas.
O abraço,que Godofredo Rangel propositadamente colocou depois do beijo,da ajuda,é a
anexação,a subordinação à Alemanha nazista,que ele temia ser a meta de Getúlio e de
muitos outros países,alguns à força pela proximidade,como a terra de sua – creio que
podemos dizer – amada...
Notam os folcloristas que a cantiga que ia num rumo,subitamente muda de
tema,abandona-se Terezinha – em verdade a preserva – e termina com a expressão de
desejos – quero – o lado inverso na dicotomia em que demanda o direito a coisas simples –
o viver deveria ser simples -com a mesma frase que foi usada para traduzir um espoliar das
nações.
Fecha-se então a página de uma cantiga popular,que traz no seu cerne o testemunho de
uma profunda crise mundial e em sua alma,o doce sabor de um puro amor separado pelo
oceano.
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