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Baixar para ler offline
O uso da expressão pandemia trata de explicitar
uma enfermidade epidêmica amplamente dissemi-
nada. Talvez algo antes inimaginável para nós, pas-
sou a constituir a nossa vida - em 11 de março de
2020, a COVID-19 foi caracterizada pela Organiza-
ção Mundial da Saúde como uma pandemia e tem
se apresentado como um dos maiores desafios sani-
tários e humanitários em escala global deste século.
Desde então nossa vida foi capturada de nós; en-
curralados em nós mesmos.
Ao redor, assistimos tragicamente a morte em di-
ferentes lugares do mundo e, também perto de nós.
No momento em que escrevo o Brasil ultrapassa a
marca de 107.000 óbitos registrados e 3.300.000 de
diagnósticos de Covid-19.
O presidente anuncia de formas distintas o exercí-
cio de um genocídio e de uma necropolítica.
Decide-se sobre a vida e a morte: deixar viver, dei-
xar morrer...
Estabelece-se a constituição da “vida nua” a par-
tir de uma zona de indiferenciação, onde a vida se
tornou descartável e eliminável. Como conceitua
Agamben uma vida desqualificada e indigna de ser
vivida. Inserida na perspectiva de uma biopolítica
que é, para Foucault, exatamente o conjunto de
mecanismos e procedimentos tecnológicos que tem
como intuito manter e ampliar uma relação de domi-
nação da população.
E sabemos quais os objetivos? Crescimento eco-
nômico; trata de alcançar o máximo de lucro com o
mínimo de esforço, o máximo de governo com o mí-
nimo de Estado. Escancarada à desigualdade social,
podemos observar que os mais ricos se refugiam
em seus carros importados, fazendas, jatinhos par-
ticulares e iates, num discurso negacionista que se
adapta e contraria a ciência... Mesmo cientes que se
infectados: todas, todos e todes poderemos morrer.
Mas é claro que não estamos no mesmo barco e
não morreremos da mesma forma.
O que estamos vivendo é, acima de tudo, a bana-
lidade do mal.
Krenak em O amanhã não está à venda nos diz
que os governos burros acham que a economia não
pode parar. E ao dizer que a economia é mais im-
portante diz-se equivocadamente que o navio impor-
ta mais que a tripulação. Hannah Arendt investiga
o que é o mal e, percebe que o mal pode ser algo
comum e pode estar na mais medíocre criatura. Não
é um problema de burrice ou de ignorância, mas
alguém que internalizou que o que está fazendo é
correto; sem questionar o certo e o errado. O mal
é um fenômeno superficial, e em vez de radical, é
meramente extremo.
Desta forma, vivenciamos uma política que tor-
na invisível; distinguindo-nos a partir de um recorte
entre classe, raça, gênero e idade. Produzindo uma
exacerbação material e simbólica; uma diferencia-
ção social, uma multiplicação das linhas divisórias
entre “nós” e “os outros”.
Refletindo sobre isso, nós, do Cineclube Entre Sa-
beres decidimos retomar nossas atividades; ainda
que de forma mais pontual. Criando entre nós espa-
ços de reflexão e diálogo.
Isso significa, para nós, uma nova edição do Cine-
clube Entre Saberes. Dessa vez, on-line, registrado
via Diretoria de Ensino do IF Sudeste MG, campus
Juiz de Fora. Atuaremos nesta edição de agosto a
dezembro de 2020. Importa ressaltar que o Cineclu-
be completa, neste ano, 10 anos de existência, en-
tão, a atual edição busca
celebrar essa história de
uma década.
Nós somos hoje um
coletivo, funcionando
e operando a partir da
construção coletiva do
conhecimento compar-
tilhado de um grupo.
Além de mim, professora
Amanda Chaves Pinhei-
ro, parte da turma do
atual 3º Informática
integra brilhantemen-
te o Cineclube,
EDITORIAL: O CineClube Entre Saberes
na Pandemia
por Amanda Chaves Pinheiro
somos: Ary Dias Dutra, Emanuelly Bruna de Oliveira
Santos, Henrique Silveira Marques, Laura Silva Vieira,
Leonardo Viana da Silva, Maria Luísa Riolino Guima-
rães, Náthaly D’Almada do Espírito Santo, Nicolas So-
ares Martins e Sebastião da Silva Marcelino.
Nossa primeira ação é justamente a produção do
nosso jornal, aqui apresentado, em uma edição espe-
cial, que conta com participações notáveis da nossa
comunidade acadêmica: trazemos uma imprescindível
reflexão do reitor do IF Sudeste MG, Charles Okama
de Souza, que gentilmente nos concedeu seu olhar so-
bre os desafios colocados à nossa instituição por con-
ta da pandemia, bem como as ações produzidas pelo
Instituto neste período. Também uma fundamental re-
flexão da atual Diretoria da Apes, sindicato das pro-
fessoras e professores da UFJF e IF Sudeste MG, ana-
lisando quais as perspectivas políticas e de resistência
ao enfrentamento da desigualdade social no sistema
capitalista, mais especificamente, para nós, na edu-
cação, como instituições federais de ensino. Também
nesta perspectiva política e de representação trazemos
o importante posicionamento do Gets, representando
estudantes da nossa instituição. E ainda a necessária
contribuição do Sinasefe, representando docentes
e técnicos administrativos da educação do IF Sudes-
te MG, com um texto que magistralmente aprofunda a
reflexão e chama para a ampliação do debate e diálogo
coletivo, de toda a nossa comunidade acadêmica.
Contamos ainda com uma reflexão incrível do pro-
fessor Natalino da Silva de Oliveira, trazendo o extraor-
dinário texto “Brechtiano crônico”. Temos a brilhante
reflexão provocativa da Laura Silva Vieira sobre “sujei-
to de sorte”, em diálogo com Belchior e nos fazendo
pensar sobre a esperança. E a poesia pulsante, que
emociona, do Henrique Correia Maciel e Costa.
Há ainda uma magnífica análise feita pelo Ary Dias
Dutra sobre o curta “Recife Frio” nosso primeiro fil-
me a ser exibido nesta edição. Ary, de forma admirável,
é também quem faz nossas indicações perigosas, vale
muito a pena conferir!
Ressaltamos que recentemente fomos convidadas e
convidados para dialogar em uma live com a pré-can-
didata a vereadora de Juiz de Fora, Dandara Felícia,
sobre a construção de uma educação antirracista, e ela
nos considerou também como um projeto antirracista
de educação. Impecavelmente, Náthaly D’Almada do
Espírito Santo e Ary Dias Dutra trouxeram para nós
uma reportagem sobre a live.
Por fim, temos dois colaboradores, Gabriela Rocha
Pessôa Nery e Felipe Stain, que são responsáveis pe-
los extraordinários desenhos que aparecem nesta edi-
ção especial do jornal.
A ideia do nosso jornal é reunir vozes diversas da
nossa comunidade acadêmica para que possam, co-
nosco, problematizar a realidade desigual e avassa-
ladora da nossa sociedade capitalista. Agradecemos
imensamente todas e todos que colaboraram com a
produção dos textos, poesia, reflexões e desenhos, é
uma honra apresentá-los aqui. Gostaria também de
agradecer a Maria Luísa Riolino Guimarães por sua
dedicação e pela extraordinária diagramação de todo
esse belíssimo jornal. Bem como agradecer pela fan-
tástica revisão dos textos feita pelo Henrique Silveira
Marques, Emanuelly Bruna de Oliveira Santos e Ná-
thaly D’Almada do Espírito Santo.
Nós realmente esperamos que todas, todos e todes
apreciem muito a leitura! O jornal é fruto de muito esfor-
ço e enorme dedicação, e tem a intenção de colaborar
com a compreensão social da nossa atual realidade.
Na sequência, no dia 28 de agosto, às 15h no Goo-
gle Meet exibiremos “Recife Frio”. Com duração de 24
minutos, o curta foi escrito e dirigido por Kleber Men-
donça Filho e teve sua estreia no ano de 2009. O curta
tem como fio condutor a narrativa de um programa da
televisão argentina e mostra o que acontece com a ci-
dade de Recife após um suposto evento climático que
fez com que as temperaturas caíssem muito. A partir
disso, uma série de alterações socioculturais se inicia
como consequência dessa nova condição.
Por fim, faremos um bate-papo para que possamos
nos ver, conversar e construirmos entre nós possibilida-
des e reflexões.
Participem conosco, nos acompanhem no nosso Ins-
tagram: @cineclubeifjf e no nosso site: www.cineclu-
beentresaberes.com.br
Abaixo o link do nosso encontro, dia 28 de agosto,
às 15h, para assistirmos e dialogarmos sobre “Recife
Frio”:
LINK PARA A LIVE
NO INSTAGRAM E NO TWITTER
Recife Frio é um curta-metragem que
desmonta a “utopia” da capital pernambu-
cana conhecida como Veneza Brasileira,
transformada, como o próprio título do
curta diz, numa cidade fria, tempestuosa
e até mesmo claustrofóbica.
A mudança climática repentina pode
ser ou não associada com o primeiro
acontecimento do curta, a queda de um
meteorito na praia da Maria Farinha. En-
tão, o curta passa a ser narrado através
de um jornalista argentino, pois Recife se
tornou notícia mundial, por ser a única
cidade diante todo o território nacional,
embaixo de uma massa climática persis-
tente jamais vista, o que torna comum,
por exemplo, na fauna da capital a pre-
sença de pinguins. Sobre esse olhar so-
brenatural e absurdo que Recife Frio se
desenvolve, numa perspectiva de histeria
e farsa. O que nos faz lembrar de quando
o ministro interino da Saúde, general Edu-
ardo Pazuello, interligou as regiões Norte
e Nordeste do Brasil as comparando com
o inverno do hemisfério norte. E veja bem,
isso em 2020, 11 anos após o lançamen-
to de Recife Frio. Quem diria que Kleber
Mendonça Filho, o diretor, seria um ho-
mem de genialidades atemporais.
Recife perde toda a sua magia e co-
lorido, se torna uma cidade nublada de
dia e enfumaçada à noite, pois os mora-
dores de rua, para sobreviver, passam a
acender fogueiras. Se não, passam a se
aglomerar ou a procurar abrigos para se
aquecerem, se tornam cadáveres conge-
lados e viram estatísticas no IML. Com
esse contexto as ruas vazias da cidade,
se veem num aspecto semelhante à Ida-
de Média. Mas diferente dos europeus,
nós, os brasileiros, que sempre elogiamos
a elegância de suéteres e casacos de frio,
percebemos que definitivamente não es-
tamos preparados para ele.
Portanto, chegamos num ponto a per-
ceber a claustrofobia capitalista, que nos
condena a casas mais fechadas, nos
tranca num mundo individual e com me-
nos contato ao externo: distância do vi-
zinho, distância do mundo, distância da
empatia. Pois o único lugar de possível
encontro são os shoppings, um compacto
e concentrado espaço, onde o capitalismo
te induz, te corrompe e te segrega. Nos
shoppings as pessoas perdem a noção de
tempo e se concentram nas coisas boni-
tas de um ambiente bem iluminado, um
“ecossistema” próprio, são como gaiolas
com ratoeiras dentro, uma armadilha bem
“marketizada” que contribui para o assen-
tamento da desigualdade social, quase
que como os palácios reduto da alta corte
na Idade Média.
Aproveitando esse engate, contamos
também numa parte do curta, com a ro-
tina de uma família burguesa, que dian-
te da especulação imobiliária pretende
vender o seu apartamento de frente para
praia. O imóvel antes supervalorizado por
se localizar no metro quadrado mais caro
de Recife, agora se torna só mais um na
lista de vendas, pois com sua arquitetura
inicial, no intuito de receber uma brisa ma-
rítima, agora tende lidar com um “frio do
cão”. E nesse dilema, percebemos uma
inversão de lugares, até mesmo cômica,
com a mudança do filho do senhorio de
sua suíte à beira-mar para o quartinho da
empregada, aquele cubículo sem ventila-
ção, localizado na parte traseira do apar-
tamento, a moderna senzala do século
XXI. A empregada, coitada, só lhe resta
acatar a decisão, pois seja com frio ou ca-
lor, a realidade que ainda permeia é de
que pobre nunca tem vez nesse país. En-
fim, a corda, essa, sempre arrebenta pro
lado mais fraco.
Até mesmo o turismo e a cultura da ca-
pital, só lhe resta a mudança e adaptação
ao novo clima. Um francês que veio morar
em Recife, vê sua pousada chamada de
“Le Soiel”, o Sol em francês, ficar à mín-
gua em meio a uma neblina solitária. Aos
olhos estrangeiros, Recife perde seu axé,
seu exotismo do qual só há nos lugares
abaixo da linha do Equador. Nos merca-
dões da cidade, as vitrines que traziam
cangas e biquínis, agora expõem conjun-
tos de moletom; os artesanatos rústicos
em vez de se moldarem como banhistas,
se veem praticamente como esquimós;
os atores sociais que traziam na fala as
cantigas folclóricas através do repente e
do embolado, que antes possivelmente
se trajavam de gibões e chapéus de cou-
ro e falavam sobre os pernambucanos
Gonzagão, Lula, Lampião e Paulo Freire,
agora rimam o frio sem heróis com seus
gorros e cachecóis. O único sobrevivente,
perante o frio, é um homem que trabalha
se vestindo de Papai Noel, ele faz o papel
do bom velhinho amado pelas crianças,
agente do capitalismo e que em contra-
partida divide o aniversário com o tal co-
munista, menino Jesus.
O curta de 24 minutos aborda o que
chamamos de uma “porrada” de coisas,
e essa porrada quem leva somos nós, ao
percebemos que os seres humanos não
são deuses diante da força da natureza
e que precisamos crescer ainda mais
como civilização, rever os conceitos de
valores básicos e ao mesmo tempo tão
primordiais, como a empatia, gentileza e
solidariedade. Comece mudando o mun-
do pela sua casa. E como diz minha mãe,
Dona Adenise: “Ninguém é uma ilha para
viver isolado de um arquipélago chamado
mundo”.
Por fim, Recife Frio ainda nos deixa es-
perançosos ao terminar com uma cena lin-
da, provavelmente à orla de alguma praia
da simpática Ilha de Itamaracá próxima a
região metropolitana de Recife. A Ilha de
Itamaracá me lembra de duas personali-
dades, Gretchen, a rainha do rebolada - a
qual também protagoniza um documentá-
rio no mesmo lugar, mas isso é história
para quem sabe um próximo cineclube - e
da saudosa preta cirandeira, Lia, a qual
carrega no sobrenome o mesmo nome da
ilha. Lia de Itamaracá encerra o curta can-
tarolando algumas de suas cirandas com
um grupo de locais, os quais correm para
um resquício de raio de sol, como uma luz
no fim do túnel, o pote no fim do arco-íris,
a esperança que é a última que morre.
NÃO EXISTE “FRIO” AO SUL DO EQUADOR
por Ary Dias Dutra
INDICAÇÕESP E R I G O S A S
por Ary Dias Dutra e
Náthaly D’Almada do Espírito Santo
MÚSICAS
A Terceira Lâmina - Zé Ramalho
Senhor Cidadão - Tom Zé
Querelas do Brasil - Elis Regina
Fora da Ordem - Caetano Veloso
Tudo Vira Bosta - Rita Lee
O Dia em que a Terra Parou - Raul Seixas
Pois É, Seu Zé - Gonzaguinha
O Que Será - Chico Buarque
Pedras que Cantam - Fagner
Partido Alto de Clementina - Clara Nunes
FILMES
Nelson Pereira dos Santos, 1963 - Vidas Secas
Paulo Bastos Martins, 1970 - O Anunciador: O Homem das Tormentas
Rogério Sganzerla, 1970 - Sem Essa, Aranha
Vladimir Carvalho, 1971 - O País de São Saruê
Ruy Guerra, 1974 - Os Fuzis
Jorge Furtado, 1989 - Ilha das Flores
Fernando Meirelles e Nando Olival, 2001 - Domésticas
Flávia Moraes, 2003 - Acquaria
Andrucha Waddington, 2005 - Casa de Areia
Eder Santos, 2013 - Deserto Azul
LIVROS
O Amanhã Não Está À Venda - 2020, Ailton Krenak
Enterre Seus Mortos - 2018, Ana Paula Maia
Cordel: Patativa Do Assaré - 2016, Sylvie Debs
O Peso do Medo: 30 poemas em fúria - 2016, Wellington de Melo
Cidades Mortas - 2014, Dêner B. Lopes
Olhos D’Água - 2014, Conceição Evaristo
Relendo o Recife de Nassau - 2003, Gilda Maria Whitaker e Jomard 	
M. De Britto
Ensaio Sobre a Cegueira - 1995, José Saramago
Não Verás País Nenhum - 1981, Ignácio de Loyola Brandão
Emissários do Diabo - 1974, Gilvan Lemos
E é com imensa gratidão e satisfação, que eu, Ná-
thaly e ele, Ary, em nome de toda a equipe do proje-
to Cineclube Entre Saberes, iniciamos este feedback
sobre a live a qual fomos convidados pela pulsante,
Dandara Felícia. A nossa felicidade é tamanha, que
talvez até mesmo não fique clara nestas humildes
linhas. Saímos extasiados deste encontro inexplica-
velmente importante e, com certeza, um grande mar-
co em nossas trajetórias individuais e, sem dúvida
alguma, na do Cineclube.
Dandara, assim como nossa eterna rainha-guer-
reira Dandara de Palmares, exala resistência. O que
seria do Quilombo dos Palmares sem a mulher que
era a mente por trás de grandes feitos, e o que seria
de nós sem nossa extasiante amizade com Dandara,
a quem só nos abrilhantou com a luz de seu conheci-
mento. Sua atenção para conosco, acompanhada de
sua graça e sutileza, nos traz para mais uma troca de
extrema necessidade: abordar educação antirracista
em meio a um mundo pandêmico. Mas aqui, falamos
longe do covid-19, mas sim de um vírus milenar, o
racismo, o qual em 2020, por exacerbar ainda mais a
barbárie inescrupulosa que não olha idade e classe
social; quebra mais uma vez o famoso discurso da
democracia racial e provoca a união, justo em tem-
pos de afastamento, de um povo cansado de perder
os seus a cada minuto e de ter sua história diminuída
a cada segundo. Causando um urro de milhões, que
inundaram ruas e redes sociais de comoção e busca
por justiça.
Como enfatizado na live, uma educação antirra-
cista é, além de necessária, urgente. Debater an-
tirracismo enquanto inseridos em uma sociedade
estruturalmente racista, também trouxe à tona, o
quanto vozes negras, inclusive jovens, precisam
ser ouvidas e o quanto espaços como o Cineclube
se tornam um formato de educação antirracista, a
partir do momento em que impulsiona essas vozes,
não fomentando o perigo de histórias únicas.
Enquanto cineclubistas, tivemos a oportunida-
de de contar nossa história e de como nos
tornamos esse espaço de realização,
afeto, cultura e propulsor de vozes. A
partir de dois filmes bem marcantes de
nossa trajetória, “Estrelas Além do Tempo” e “Cor-
ra”, reforçamos como a produção de conhecimento
sobre outra narrativa é necessária; transpassamos
pelas interseccionalidades de gênero, raça e clas-
se e da nossa necessidade, enquanto sociedade,
de enfrentarmos o assunto. Ansiamos para que o
urro ouvido não seja mais uma vez silenciado, que
referências negras se tornem presentes em nossa
educação e que todos tenham direito a um ensino
inclusivo que visa, principalmente, reconhecimento.
Anseio este, de um dos caminhos para reprodução
do antirracismo.
Parafraseando Dandara: é necessário que fale-
mos sobre gente preta e sua cultura por no mínimo
500 anos para ter equidade. Uma resposta histórica,
um rompimento contra um processo estrutural forte-
mente suscitado. É sobre humanidade, valorização,
reflexão, um espelho em sua própria ancestralidade
em que o reflexo seja de orgulho.
E assim, como canta Martinho da Vila numa ode
à cultura preta, em 1988, acompanhado de ilustres
personalidades, entre elas Ruth de Souza, Gil, Gran-
de Otelo e Elza Soares: “Axé para abolição de todos
os preconceitos. Axé para os heróis da liberdade.
Axé para negritude. Axé contra todas as formas de
opressão. Axé para um país melhor. Axé pela memó-
ria negra. Axé para mãe África. Axé pra toda essa
nação, Euro, Afro e Ameríndia”.
VALEU DANDARA! Essa Kizomba é a nossa constituição.
por Náthay D’Almada do Espírito Santo e Ary Dias Dutra
“Tenho sangrado demais, tenho
chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse
ano eu não morro”
Esse é um dos refrões mais bo-
nitos e enigmáticos que Belchior
já criou, num momento onde a
esperança não era quista, mas
necessária. No dia 08/09 de 2020
o Brasil atinge os 100 mil mortos
pela pandemia do novo coronaví-
rus, com a maior parte dos Esta-
dos em níveis avançados da fle-
xibilização do isolamento social,
com um “governo” que desde o
início da pandemia minimiza a
gravidade da doença com discur-
sos irresponsáveis e eugenistas e,
sobretudo, sem Ministro da Saú-
de. Exatamente assim, na maior
crise sanitária que um país inteiro
já enfrentou, não temos ministro,
não temos governo, não temos
vacina, alguns não
têm sequer noção da
gravidade. E eu, ao
contrário do que can-
ta Belchior, não acho
que Deus seja brasi-
leiro e não acho que
Este esteja do nosso
lado.
A pergunta que eu
faria a Belchior se
pudesse é: como?
Como manter as es-
peranças, como se
considerar um sujei-
to de sorte em meio
à caoticidade do
mundo, sobretudo do
país? Tivemos pouco
mais de um mês an-
tes que a COVID-19
se tornasse de fato
uma pandemia no
Brasil, tivemos os
exemplos externos de outros pa-
íses, sabíamos o que tinha de ser
feito: isolamento social, máscara,
higienização. Mas de alguma for-
ma, falhamos. E não digo só que
falhamos individualmente, por
vezes não aproveitando o direito
e privilégio que muitos dos que
lerão esse jornal têm de ficar em
casa, mas sim que falhamos en-
quanto sociedade, elegemos um
genocida, e agora mais de 100 mil
pessoas estão mortas e sim, mor-
tas pela pandemia, porém muitas,
arrisco a maioria, mortas pela falta
de acesso, mortas pela irrespon-
sabilidade do governo, mortas en-
quanto o presidente de um país
julga que o tratamento está a uma
farmácia de distância como em to-
das as outras “gripezinhas”.
Acredito que de todas as refle-
xões insinuadas pela pandemia, a
que recai sobre os privilégios seja
a maior delas. Nós que temos os
acessos, a saúde e a família so-
mos de fato sujeitos de sorte, pois
essa realidade num momento
como esse não é muito mais que
isso: sorte. Não estamos todos
num mesmo barco, alguns sequer
barco têm, então fazer o máxi-
mo do que puder ser feito para
não piorar a situação de muitos e
aproveitar a condição de exercer
o direito ao isolamento ficando em
casa não é fazer muito, não é fa-
zer demais, é o mínimo.
Então, assumindo a sabedoria
das palavras do cantor supraci-
tado, por mais difícil, doloroso e
impossível que possa parecer, te-
mos de encontrar forças para não
“nos deixar morrer no ano passa-
do”, forças para lutar por mais um
dia, se não por nós mesmos, por
todas as mais de 100 mil pessoas
que não poderão mais o fazer.
SUJEITOS DE SORTE?
por Laura Silva Vieira
Primeiro, ele levou os negros, como sempre.
Eu, como sempre, não me importei. Sou bran-
co, sou limpinho. Não vivo nestes aglomerados
urbanos.
Talvez seja questão de higiene...
Depois, ele levou os trabalhadores. Estes po-
bres...!
Só lamentei, pois fiquei sem empregada.
A minha, que já era velha e preta, muito preta,
foi levada na semana passada.
Infelizmente, nem todos vingam. Uma gripezi-
nha de nada...
Vai morrer gente? Vai morrer gente.
Gente? Dessa gente, quem se importa?!
Os desempregados... Ah, estes devem ser le-
vados mesmo!
Nada produzem e, ainda, querem receber auxí-
lio. Por isso que este país não vai pra frente...
Aliás, era tão bonito cantar “todos juntos va-
mos, pra frente Brasil, Brasil...”. Não era?
Agora, está tudo mudado. Tudo pelo avesso. É
bem capaz que um dia tenhamos que trabalhar.
Deus me livre!!!
Ai de mim! Ai de mim!
É tudo culpa da China! Aquele povinho comu-
nista... Criaram tudo isso para tomar nossas
posses. Mas, o Brasil não vai ser a República
da cobra. Jamais!
“Todos juntos vamos, pra frente Brasil...”
Pior que levou o entregador e não sei mais o
que fazer. Como pedir meu Buffet?!
Ai de mim! Ai-me!
Aí vindes de outra vez, inquietas sombras!
Agora, ele...
Ele se cansou de levar gente sem importância.
Que absurdo! Acabou levando minha mãe.
E chorei como pobre na chuva. Logo eu? Sem-
pre fui tão ordeiro e cumpridor de minhas
obrigações. Que culpa tenho se tanto dinheiro
possuo?!
Agora, agora... Ai de mim! Ele está me levando.
E já ninguém se importa.
Não há quem chore por mim.
Ingratos!
BRECHTIANO CRÔNICO
por Natalino da Silva de Oliveira
Nós do Grêmio Estudantil Técnico Secundarista (GETS), primeira-
mente gostaríamos de agradecer ao Cineclube pelo convite, e pelo
espaço reservado no jornal para apresentarmos a nossa posição so-
bre o momento em que vivemos, sobre e a possibilidade de implan-
tação do ensino remoto, além de tornar transparente as ações que o
Grêmio tem feito nesse período conturbado.
Como é de conhecimento geral, devido a pandemia causada pela
Covid-19, todas as atividades presenciais do instituto foram interrom-
pidas por período indeterminado, e as reuniões frequentes do Grê-
mio Estudantil também tiveram que ser pausadas, ao menos presen-
cialmente, bem como nossos demais fóruns de deliberação. Nós do
GETS continuamos a nos reunir virtualmente em constante debate
sobre a conjuntura, os caminhos e o planejamento correto para a
sobrevivência do ensino mesmo em meio a esta grave pandemia,
com os agravantes criados pelo governo do fascista Jair Bolsonaro,
responsável direto por grande parte das já 90 mil mortes, com sua
política genocida para o povo pobre.
Além claro, de estarmos acompanhando e construindo as mani-
festações nacionais pela educação, como os "Tuitassos"
pelo adiamento do Enem em 2020 e pelo aprovamento do FUNDEB
permanente, nos quais obtivemos vitórias parciais.
Em relação ao ensino remoto, gostaríamos de alertar que até o mo-
mento não temos uma proposta concreta pronta, algumas comissões
com representações discentes vem debatendo diversos aspectos de
uma possível implementação. E estamos em contato para sempre
nos mantermos atualizados sobre esta questão, inclusive teremos,
nos próximos dias, uma uma reunião com a diretoria de nosso para
debatermos alguns pontos e, conforme o andamento, traremos o nos-
so posicionamento e um novo esclarecimento aos estudantes. Temos
construído iniciativas unificadas com os demais grêmios da rede do IF
Sudeste e da FENET para fortalecermos nossa voz.
Reforçamos o pedido para ficar casa, contrariando o governo fe-
deral, e ainda o incentivo às organizações solidárias de nosso povo.
Para qualquer dúvida ou sugestões entrem em contato conosco, atra-
vés do nosso Instagram (gets.ifjf), ou através de algum membro de
nossa gestão.
Com carinho, Grêmio Estudantil Técnico Secundarista - Gestão
Voz Ativa.
“De modo geral:
Minha vida passada decimal por decimal
Ações fajutas que desmerecem o ancestral
Espadas cruzadas a norte e sul equatorial
Guerras e guerras do rural ao capital
Nossos capitães de guelras
Adão, o escamado animal
Eva, a subserviçal
O índio e o negro,
espírito imortal
E o sangue segue sendo herança principal”
Henrique Correia Maciel e Costa
Todo começo de ano re-
presenta para todos nós um
novo ciclo de vida, em que, de for-
ma natural e espontânea, traçamos nossos
planos, renovamos as nossas expectativas e restaura-
mos a nossa esperança.
No início do ano 2020, a comunidade acadêmica do
Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste
MG) também iniciou o seu novo ciclo com um planeja-
mento consolidado e com grande entusiasmo para rea-
lizar as atividades previstas em um ano projetado com
muito otimismo.
Esse planejamento institucional se caracteriza pela
programação de uma série de ações gerenciais e aca-
dêmicas, que envolve a participação de servidores, co-
laboradores, estudantes e também do público externo.
Embora seja uma proposta técnica, nela estão inseridos
os sentimentos e os anseios da nossa comunidade, que
convergem para a concretização de todos os objetivos
propostos, de forma a contribuir com a realização de so-
nhos e a transformação de vidas.
Ao retornarmos ao ambiente acadêmico em cada cam-
pi, ao vivenciarmos o convívio físico, revitalizamos os am-
bientes, revigoramos as nossas metas e nos sentimos fe-
lizes ao observar cada canto e todos os seus encantos. É
a presença de cada um que torna vivo e encantador o am-
biente acadêmico. A presença calorosa dos estudantes,
ansiosos e entusiasmados pelo início das aulas, aciona
na instituição uma energia motora que contagia a todos,
que ativa um mecanismo constante de troca de conheci-
mento, de aspiração por fazer o melhor para o bem cole-
tivo. Intensificamos o desejo pelo estabelecimento real da
liberdade de expressão, da democracia e do respeito ao
outro.
A cada regresso, matamos a saudade dos colegas, te-
mos a possibilidade de conhecer novas pessoas e encon-
trar novos amigos e até amores, de aproveitar inúmeras
oportunidades. Isso tudo revigora a cada um de nós no
contexto acadêmico, porque é esse contato, essa inte-
gração, essa aglomeração que permite experiências im-
prescindíveis para fazermos descobertas sobre o mundo
e sobre nós mesmos.
Infelizmente, não pudemos vivenciar isso nesse ano de
2020, que entra para a história mundial com um surpreen-
dente acontecimento inimaginável na nossa realidade: a
pandemia do novo coronavírus. Vimos as notícias pelos
canais de comunicação, de forma instantânea e diária, que
retratavam uma situação calamitosa na cidade de Wuhan,
na China. No entanto, as imagens e as informações inédi-
tas se mostravam para nós de forma impactante, como se
visualizarmos um filme de ficção científica onde em uma
cidade fantasma, com a maioria das pessoas reclusas em
suas casas, profissionais correndo contra o tempo para
entender e solucionar o problema causado por um vírus
perigoso, capaz de causar tantas mortes. Parecia algo
tão distante de nós...
Mas no mundo globalizado, a velocidade de propaga-
ção que acostumamos a ver de forma tão instantânea nas
redes sociais, é também muito rápida nos deslocamentos
físicos das pessoas. E por isso, logo nos deparamos com
a pandemia aqui no Brasil. E a recebemos na primeira
quinzena de março despreparados, sem que os gover-
nos das três esferas federativas apresentassem nenhuma
ação integrada que pudesse ser implementada para en-
frentar algo tão letal para nossa sociedade. Os brasileiros
começaram a visualizar uma grave crise sanitária, com
aumento crescente não somente do número de casos e
de mortes, mas também com a ampliação das dúvidas,
incertezas e do medo, tanto em relação a doença, mas
também sobre a sua forma de sobreviver ao impacto que
viria também como grave crise econômica.
O IF Sudeste MG considera essencial a preservação da
vida e da saúde de servidores, colaboradores, estudan-
tes e todas as pessoas do seu convívio. Baseando-se em
PERSPECTIVAS:
COVID-19
por Charles Okama de Souza
Reitor do IF Sudeste MG
O Antes, o agora e o depois: a pandemia e os impac-
tos na comunidade do IF Sudeste MG
Expectativas, incertezas e esperança.
recomendações dos órgãos internacionais e nacionais de
saúde quanto à adoção do distanciamento social como a
principal ação efetiva para frear a disseminação do novo
coronavírus e também várias leis, a nossa instituição teve
as suas atividades administrativas e acadêmicas presen-
ciais suspensas a partir do dia 17 de março de 2020. Des-
de então, muitas reuniões foram realizadas com o intuito
de compreender e acompanhar as mudanças do contexto
inédito e reprogramar, replanejar e normatizar as ações e
atividades administrativas e acadêmicas, para a continui-
dade do funcionamento institucional no âmbito da Reitoria
e dos nossos 10 Campi.
A nossa instituição conta com mais de 1.300 servido-
res e aproximadamente 450 colaboradores, que sempre
se mantiveram atuantes em suas atividades, seja remo-
tamente ou na manutenção dos serviços essenciais pre-
senciais para atendimento a sociedade. Além disso, o IF
Sudeste MG se engajou e proporcionou condições para
viabilizar projetos de extensão de combate a COVID-19.
Mais de 450 pessoas, incluindo servidores e estudantes,
estão engajadas na execução de mais de 50 projetos,
com inúmeras parcerias, e já beneficiaram, aproximada-
mente, mais de 500 mil pessoas inseridas na região de
atuação de nosso instituto. Têm sido promovidas orienta-
ções de diversas naturezas, especialmente com foco nos
cuidados com a saúde e com a alimentação. Máscaras
de diversos materiais e formatos, protetores faciais com
impressão 3D, álcool em gel, de álcool glicerinado, sa-
bão ecológico, sabonete líquido, têm sido elaborados para
atender profissionais de saúde e o público em geral. Fo-
ram implementados projetos de atendimento psicológico
e emocional e também a concessão de auxílios financei-
ros de emergências para estudantes de baixa condição
socioeconômica. Além disso, campanhas solidárias para
arrecadação de fundos e aquisição de vários produtos ali-
mentícios e de higiene destinados aos mais vulneráveis
foram realizadas. O IF Sudeste MG tem colaborado com
o conserto de diversos equipamentos hospitalares e com
orientações sobre gerenciamento de resíduos sólidos
domésticos e hospitalares. Iniciativa com foco na imple-
mentação de sistema informatizado de aproximação en-
tre vendedores e consumidores em mercados de vários
municípios da nossa região também foi implantado como
parte das nossas ações. Tais iniciativas demonstram nos-
so compromisso social, o que condiz com os preceitos da
lei de criação dos Institutos Federais. Para além da forma-
ção acadêmica de qualidade, nossa atribuição se coadu-
na enquanto instituição de ensino, pesquisa e extensão
a disposição da sociedade para promover a execução de
projetos inovadores que resultam em resolução de proble-
mas, dentro do contexto do arranjo produtivo local.
Embora estejamos ativos e atuantes durante todo este
período com diversas atividades, a suspensão do calen-
dário acadêmico gera preocupações, dúvidas e angústias
em toda a nossa comunidade acadêmica, especialmente
em estudantes, pais e responsáveis. Para melhor orga-
nizar o planejamento das propostas que têm sido discu-
tidas e elencadas desde o início da pandemia, de forma
a elaborar diretrizes de forma coletiva, contando com a
participação de todos os segmentos da comunidade aca-
dêmica, o IF Sudeste MG lançou o “Projeto Reencontro”.
Este projeto é composto por 10 comissões temáticas, o
que envolve a participação de mais de 200 pessoas, ser-
vidores e estudantes.
Seguindo a premissa que “Apenas com segurança e
qualidade voltaremos, antes disso a certeza é que plane-
jaremos”, o projeto busca responder três grandes ques-
tões, a saber:
1. Quais serão as condições necessárias de seguran-
ça para garantir as diversas atividades acadêmicas e ad-
ministrativas presenciais durante esse momento de crise
sanitária?
2. Que instrumentos pedagógicos, tecnológicos e estru-
turais deverão ser implantados para possibilitar as ativida-
des não presenciais, on line e Ensino a Distância (EaD),
de forma a garantir a qualidade do ensino, da pesquisa,
da extensão e da inclusão social preconizada por nossa
instituição?
3. Que estratégias de comunicação deverão ser apri-
moradas de maneira a proporcionar informações contínu-
as junto a nossa comunidade interna e externa sobre a
atuação institucional?
Várias propostas já estão sendo apresentadas à nos-
sa comunidade, que é convidada a participar e contribuir,
tendo em vista a perspectiva do retorno dos calendários
acadêmicos por meio da implantação do Ensino Remoto
Emergencial.
Destaca-se que tudo está sendo realizado com muita
cautela, avaliação dos cenários, das condições da institui-
ção, dos estudantes, dos servidores e dos colaboradores.
Além disso, cabe mais uma vez ressaltar, que as propos-
tas serão tramitadas em todas os órgãos colegiados do
IF Sudeste MG, de maneira a possibilitar o melhor para
nossa comunidade acadêmica diante da pandemia.
Depois de cinco meses de distanciamento social e ago-
ra conhecendo um pouco das ações da instituição peran-
te contexto de tanta dificuldade e incertezas, é possível
termos esperança? Quando, como e de maneira as aulas
presenciais vão começar? O que será que nos espera no
período pós pandemia? Novos paradigmas para o siste-
ma de ensino surgirão? Os professores se adaptarão às
novas metodologias de ensino e as tecnologias de comu-
nicação e informação? O teletrabalho é algo que veio para
ficar? Que dificuldades os estudantes terão com o novo
sistema de ensino aprendizagem? Será um novo normal
ou pode se considerar como outro normal? As pessoas
serão mais solidárias e mais compreensivas? As desigual-
dades sociais aumentarão? Será possível superar essa
crise sanitária, política e econômica? Acesso à internet
será direito de todo cidadão? Que políticas de estado se-
rão implementadas em prol dos mais vulneráveis?
Neste momento, a certeza é de que a pandemia frustrou
expectativas para 2020, ainda nos proporciona muitas in-
certezas no presente, mas não exclui a nossa esperança
no futuro. Um futuro onde não deixamos de vislumbrar a
realização de sonhos e a transformação de vidas, onde
buscamos novos horizontes, em um novo tempo, tempo
de reencontro.
Estamos atravessando um momento singular na história do capitalismo, um
momento de crise profunda que gerou desemprego, reduziu o poder de compra
da classe trabalhadora, aumentou a concentração de renda, fortaleceu o capi-
tal fictício e acabou por desencadear uma das maiores pandemias da história
moderna. As respostas nas diferentes parte do mundo à COVID-19 explicitaram
ainda mais os limites do sistema, relevando a verdadeira barbárie em que vive-
mos, como demonstraram a acelerada proliferação da pandemia pelo mundo e
as milhares de mortes. Nesse momento, o Brasil encontra-se no epicentro da
pandemia da COVID-19, contabilizando quase cem mil mortes, cinco meses após
o primeiro óbito causado pela COVID-19 no país. O recorte de classe, raça e
gênero se fazem marcantes, com destaque especial para o Brasil, aonde 57%
dos que morrem são pretos e pardos e para liderança do ranking de mortes de
mulheres grávidas.
Em meio ao fracasso das políticas de combate à COVID-19, ao desconheci-
mento sobre o novo corona vírus e aos milhares de mortes em todo mundo, o
capital pressiona para a volta ao “normal” porque o PIB afunda. É nesse contexto
que se inserem as pressões para adoção de ensino a distância na educação su-
perior e no ensino médio e tecnológico e as recentes pressões de volta presencial
no ensino básico. Não há nenhuma preocupação com qualidade, acessibilidade,
inclusão, viabilidade e fundamentalmente com a vida nesse processo. O que se
pretende é atender ao capital e ao seu projeto para educação que é excludente.
É importante destacar que não se permitiu um debate sério sobre o cancela-
mento do período letivo ou até mesmo do ano letivo, uma vez que não há condi-
ções mínimas para o desenvolvimento da educação em todos os níveis no país.
Nesse período, as instituições públicas de ensino poderiam ampliar o seu papel
social e transformador, como muitas têm feito mesmo com todas as pressões,
precarização e sobre trabalho advindos das atividades remotas conciliadas aos
afazeres domésticos.
Porque não valorizar as ações sociais, de pesquisa e solidárias das institui-
ções públicas de ensino e apenas criticar a suspensão das atividades de ensino?
Porque não se discutiu o cancelamento do semestre ou ano letivo? Porque es-
tamos banalizando a morte de milhares de pessoas? Porque os pretos e pardos
morrem mais da COVID-19 no Brasil? Porque o Brasil é campeão em mortes de
gestantes devido à COVID-19? Estas perguntas estão relacionadas e compar-
tilham da mesma reposta de fundo, é a natureza do estado capitalista que se
fundamenta no lucro e na expropriação do trabalho.
Ademais, a participação nos órgãos colegiados das instituições tem sido ques-
tionada pelos interlocutores, não seria o momento de ampliar os espaços de
debate e participação da comunidade? De reconhecer a necessidade de dar a
todos as vozes para viabilizar saídas para este momento de crise e de risco
de reprodução das desigualdades de raça, econômica e gênero? Desde a mo-
dernidade afirma-se o princípio da participação dos sujeitos nos processos de
deliberação, frente aos desafios presentes e futuros. Os ideários democráticos
da modernidade assentam-se neste princípio e as condições de diversidade e
desigualdades reforçam a sustentação de protagonismo dos sujeitos. Decisões
que não respeitem a participação de todos, que estejam legitimadas por todos os
autores envolvidos, seriam válidas? A pressão por soluções controversas e o seu
açodamento não corroborariam para o agravamento do quadro de racismo estru-
tural em que vivemos? Desse modo, as instituições, para além de reforçarem a
sua presença nos vários espaços educacionais, deveriam ampliar os horizontes
de decisões, buscando a participação efetiva de todos os seus integrantes, sob
pena de serem apenas mais um passo na direção da produção de desigual-
dades. Neste momento, o maior desafio é dar voz e vez a todos em nome do
presente outro, de um futuro em que não se permita mais o “não estou respiran-
do”, ecoando nas milhares de vozes que não são convidadas a participação dos
destinos do seu cotidiano.
Estamos diante de acontecimentos que
marcarão a humanidade nos próximos sécu-
los: uma pandemia que, dia após dia, infecta e
mata milhares de pessoas em todo o mundo.
O novo coronavírus encontrou o mundo numa
profunda crise econômica e países com a saú-
de e pesquisa públicas fragilizadas, para di-
zer o mínimo, depois dos sucessivos ataques
sofridos nas últimas décadas. Embora a crise
da Covid-19 seja inédita, em proporção e im-
pacto, os desafios por ela lançados são todos
velhos conhecidos da comunidade escolar e
especialistas engajados na luta por uma Edu-
cação de qualidade e com igualdade de opor-
tunidades. O cenário que se tem é de medo
generalizado e muita insegurança sobre o que
serão não apenas os próximos meses, mas
também anos ou mesmo décadas. O Sinasefe
é um sindicato que buscar representar sindi-
calmente e dirigir, numa perspectiva classista,
autônoma, democrática e participativa, a luta
dos servidores federais da Educação Básica,
Profissional e Tecnológica por melhores con-
dições de vida e de trabalho, a partir de seus
interesses imediatos e históricos.
Assim, desde o início da pandemia, o Sina-
sefe tem pautado a luta em defesa acima de
tudo da vida. Nesse sentido, vem debatendo
e promovendo ações que visam ampliar a dis-
cussão do momento, mostrando as dificulda-
des, os impasses e os limites que a pandemia
nos impõe. Desde o início tem promovido “li-
ves” de vários assuntos sobre o tema a fim de
trazer as bases informações, debates e acima
de tudo mostrar que o momento marcará a hu-
manidade, mas que a luta pela classe deve ser
mantida. Adicionalmente tem promovido ações
solidárias, como doação em dinheiro para os
comitês de enfrentamento da Covid-19 nos
Campus para compra de cestas básicas e kits
de higiene, distribuição de panfletos informati-
vos e máscaras de proteção.
Na linha dos desafios de enfrentamento do
vírus, além dos desafios do isolamento social,
temos o “home office”, o ensino remoto, a vol-
ta do ensino presencial ou não. Soluções para
estes desafios, não devem vir sem ampla dis-
cussão e enlace com a base. O atual contexto
requer a ampliação do debate e ações, pen-
sadas e efetivadas coletivamente em prol de
uma educação popular democrática e de qua-
lidade nas condições de distanciamento social
prolongado e para que juntos possamos cons-
truir as nossas próprias perspectivas de solu-
ção, comuns às categorias que representamos
e às comunidades escolares e universitárias.
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A Pandemia e a Banalidade do Mal

  • 1. O uso da expressão pandemia trata de explicitar uma enfermidade epidêmica amplamente dissemi- nada. Talvez algo antes inimaginável para nós, pas- sou a constituir a nossa vida - em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela Organiza- ção Mundial da Saúde como uma pandemia e tem se apresentado como um dos maiores desafios sani- tários e humanitários em escala global deste século. Desde então nossa vida foi capturada de nós; en- curralados em nós mesmos. Ao redor, assistimos tragicamente a morte em di- ferentes lugares do mundo e, também perto de nós. No momento em que escrevo o Brasil ultrapassa a marca de 107.000 óbitos registrados e 3.300.000 de diagnósticos de Covid-19. O presidente anuncia de formas distintas o exercí- cio de um genocídio e de uma necropolítica. Decide-se sobre a vida e a morte: deixar viver, dei- xar morrer... Estabelece-se a constituição da “vida nua” a par- tir de uma zona de indiferenciação, onde a vida se tornou descartável e eliminável. Como conceitua Agamben uma vida desqualificada e indigna de ser vivida. Inserida na perspectiva de uma biopolítica que é, para Foucault, exatamente o conjunto de mecanismos e procedimentos tecnológicos que tem como intuito manter e ampliar uma relação de domi- nação da população. E sabemos quais os objetivos? Crescimento eco- nômico; trata de alcançar o máximo de lucro com o mínimo de esforço, o máximo de governo com o mí- nimo de Estado. Escancarada à desigualdade social, podemos observar que os mais ricos se refugiam em seus carros importados, fazendas, jatinhos par- ticulares e iates, num discurso negacionista que se adapta e contraria a ciência... Mesmo cientes que se infectados: todas, todos e todes poderemos morrer. Mas é claro que não estamos no mesmo barco e não morreremos da mesma forma. O que estamos vivendo é, acima de tudo, a bana- lidade do mal. Krenak em O amanhã não está à venda nos diz que os governos burros acham que a economia não pode parar. E ao dizer que a economia é mais im- portante diz-se equivocadamente que o navio impor- ta mais que a tripulação. Hannah Arendt investiga o que é o mal e, percebe que o mal pode ser algo comum e pode estar na mais medíocre criatura. Não é um problema de burrice ou de ignorância, mas alguém que internalizou que o que está fazendo é correto; sem questionar o certo e o errado. O mal é um fenômeno superficial, e em vez de radical, é meramente extremo. Desta forma, vivenciamos uma política que tor- na invisível; distinguindo-nos a partir de um recorte entre classe, raça, gênero e idade. Produzindo uma exacerbação material e simbólica; uma diferencia- ção social, uma multiplicação das linhas divisórias entre “nós” e “os outros”. Refletindo sobre isso, nós, do Cineclube Entre Sa- beres decidimos retomar nossas atividades; ainda que de forma mais pontual. Criando entre nós espa- ços de reflexão e diálogo. Isso significa, para nós, uma nova edição do Cine- clube Entre Saberes. Dessa vez, on-line, registrado via Diretoria de Ensino do IF Sudeste MG, campus Juiz de Fora. Atuaremos nesta edição de agosto a dezembro de 2020. Importa ressaltar que o Cineclu- be completa, neste ano, 10 anos de existência, en- tão, a atual edição busca celebrar essa história de uma década. Nós somos hoje um coletivo, funcionando e operando a partir da construção coletiva do conhecimento compar- tilhado de um grupo. Além de mim, professora Amanda Chaves Pinhei- ro, parte da turma do atual 3º Informática integra brilhantemen- te o Cineclube, EDITORIAL: O CineClube Entre Saberes na Pandemia por Amanda Chaves Pinheiro
  • 2. somos: Ary Dias Dutra, Emanuelly Bruna de Oliveira Santos, Henrique Silveira Marques, Laura Silva Vieira, Leonardo Viana da Silva, Maria Luísa Riolino Guima- rães, Náthaly D’Almada do Espírito Santo, Nicolas So- ares Martins e Sebastião da Silva Marcelino. Nossa primeira ação é justamente a produção do nosso jornal, aqui apresentado, em uma edição espe- cial, que conta com participações notáveis da nossa comunidade acadêmica: trazemos uma imprescindível reflexão do reitor do IF Sudeste MG, Charles Okama de Souza, que gentilmente nos concedeu seu olhar so- bre os desafios colocados à nossa instituição por con- ta da pandemia, bem como as ações produzidas pelo Instituto neste período. Também uma fundamental re- flexão da atual Diretoria da Apes, sindicato das pro- fessoras e professores da UFJF e IF Sudeste MG, ana- lisando quais as perspectivas políticas e de resistência ao enfrentamento da desigualdade social no sistema capitalista, mais especificamente, para nós, na edu- cação, como instituições federais de ensino. Também nesta perspectiva política e de representação trazemos o importante posicionamento do Gets, representando estudantes da nossa instituição. E ainda a necessária contribuição do Sinasefe, representando docentes e técnicos administrativos da educação do IF Sudes- te MG, com um texto que magistralmente aprofunda a reflexão e chama para a ampliação do debate e diálogo coletivo, de toda a nossa comunidade acadêmica. Contamos ainda com uma reflexão incrível do pro- fessor Natalino da Silva de Oliveira, trazendo o extraor- dinário texto “Brechtiano crônico”. Temos a brilhante reflexão provocativa da Laura Silva Vieira sobre “sujei- to de sorte”, em diálogo com Belchior e nos fazendo pensar sobre a esperança. E a poesia pulsante, que emociona, do Henrique Correia Maciel e Costa. Há ainda uma magnífica análise feita pelo Ary Dias Dutra sobre o curta “Recife Frio” nosso primeiro fil- me a ser exibido nesta edição. Ary, de forma admirável, é também quem faz nossas indicações perigosas, vale muito a pena conferir! Ressaltamos que recentemente fomos convidadas e convidados para dialogar em uma live com a pré-can- didata a vereadora de Juiz de Fora, Dandara Felícia, sobre a construção de uma educação antirracista, e ela nos considerou também como um projeto antirracista de educação. Impecavelmente, Náthaly D’Almada do Espírito Santo e Ary Dias Dutra trouxeram para nós uma reportagem sobre a live. Por fim, temos dois colaboradores, Gabriela Rocha Pessôa Nery e Felipe Stain, que são responsáveis pe- los extraordinários desenhos que aparecem nesta edi- ção especial do jornal. A ideia do nosso jornal é reunir vozes diversas da nossa comunidade acadêmica para que possam, co- nosco, problematizar a realidade desigual e avassa- ladora da nossa sociedade capitalista. Agradecemos imensamente todas e todos que colaboraram com a produção dos textos, poesia, reflexões e desenhos, é uma honra apresentá-los aqui. Gostaria também de agradecer a Maria Luísa Riolino Guimarães por sua dedicação e pela extraordinária diagramação de todo esse belíssimo jornal. Bem como agradecer pela fan- tástica revisão dos textos feita pelo Henrique Silveira Marques, Emanuelly Bruna de Oliveira Santos e Ná- thaly D’Almada do Espírito Santo. Nós realmente esperamos que todas, todos e todes apreciem muito a leitura! O jornal é fruto de muito esfor- ço e enorme dedicação, e tem a intenção de colaborar com a compreensão social da nossa atual realidade. Na sequência, no dia 28 de agosto, às 15h no Goo- gle Meet exibiremos “Recife Frio”. Com duração de 24 minutos, o curta foi escrito e dirigido por Kleber Men- donça Filho e teve sua estreia no ano de 2009. O curta tem como fio condutor a narrativa de um programa da televisão argentina e mostra o que acontece com a ci- dade de Recife após um suposto evento climático que fez com que as temperaturas caíssem muito. A partir disso, uma série de alterações socioculturais se inicia como consequência dessa nova condição. Por fim, faremos um bate-papo para que possamos nos ver, conversar e construirmos entre nós possibilida- des e reflexões. Participem conosco, nos acompanhem no nosso Ins- tagram: @cineclubeifjf e no nosso site: www.cineclu- beentresaberes.com.br Abaixo o link do nosso encontro, dia 28 de agosto, às 15h, para assistirmos e dialogarmos sobre “Recife Frio”: LINK PARA A LIVE NO INSTAGRAM E NO TWITTER
  • 3. Recife Frio é um curta-metragem que desmonta a “utopia” da capital pernambu- cana conhecida como Veneza Brasileira, transformada, como o próprio título do curta diz, numa cidade fria, tempestuosa e até mesmo claustrofóbica. A mudança climática repentina pode ser ou não associada com o primeiro acontecimento do curta, a queda de um meteorito na praia da Maria Farinha. En- tão, o curta passa a ser narrado através de um jornalista argentino, pois Recife se tornou notícia mundial, por ser a única cidade diante todo o território nacional, embaixo de uma massa climática persis- tente jamais vista, o que torna comum, por exemplo, na fauna da capital a pre- sença de pinguins. Sobre esse olhar so- brenatural e absurdo que Recife Frio se desenvolve, numa perspectiva de histeria e farsa. O que nos faz lembrar de quando o ministro interino da Saúde, general Edu- ardo Pazuello, interligou as regiões Norte e Nordeste do Brasil as comparando com o inverno do hemisfério norte. E veja bem, isso em 2020, 11 anos após o lançamen- to de Recife Frio. Quem diria que Kleber Mendonça Filho, o diretor, seria um ho- mem de genialidades atemporais. Recife perde toda a sua magia e co- lorido, se torna uma cidade nublada de dia e enfumaçada à noite, pois os mora- dores de rua, para sobreviver, passam a acender fogueiras. Se não, passam a se aglomerar ou a procurar abrigos para se aquecerem, se tornam cadáveres conge- lados e viram estatísticas no IML. Com esse contexto as ruas vazias da cidade, se veem num aspecto semelhante à Ida- de Média. Mas diferente dos europeus, nós, os brasileiros, que sempre elogiamos a elegância de suéteres e casacos de frio, percebemos que definitivamente não es- tamos preparados para ele. Portanto, chegamos num ponto a per- ceber a claustrofobia capitalista, que nos condena a casas mais fechadas, nos tranca num mundo individual e com me- nos contato ao externo: distância do vi- zinho, distância do mundo, distância da empatia. Pois o único lugar de possível encontro são os shoppings, um compacto e concentrado espaço, onde o capitalismo te induz, te corrompe e te segrega. Nos shoppings as pessoas perdem a noção de tempo e se concentram nas coisas boni- tas de um ambiente bem iluminado, um “ecossistema” próprio, são como gaiolas com ratoeiras dentro, uma armadilha bem “marketizada” que contribui para o assen- tamento da desigualdade social, quase que como os palácios reduto da alta corte na Idade Média. Aproveitando esse engate, contamos também numa parte do curta, com a ro- tina de uma família burguesa, que dian- te da especulação imobiliária pretende vender o seu apartamento de frente para praia. O imóvel antes supervalorizado por se localizar no metro quadrado mais caro de Recife, agora se torna só mais um na lista de vendas, pois com sua arquitetura inicial, no intuito de receber uma brisa ma- rítima, agora tende lidar com um “frio do cão”. E nesse dilema, percebemos uma inversão de lugares, até mesmo cômica, com a mudança do filho do senhorio de sua suíte à beira-mar para o quartinho da empregada, aquele cubículo sem ventila- ção, localizado na parte traseira do apar- tamento, a moderna senzala do século XXI. A empregada, coitada, só lhe resta acatar a decisão, pois seja com frio ou ca- lor, a realidade que ainda permeia é de que pobre nunca tem vez nesse país. En- fim, a corda, essa, sempre arrebenta pro lado mais fraco. Até mesmo o turismo e a cultura da ca- pital, só lhe resta a mudança e adaptação ao novo clima. Um francês que veio morar em Recife, vê sua pousada chamada de “Le Soiel”, o Sol em francês, ficar à mín- gua em meio a uma neblina solitária. Aos olhos estrangeiros, Recife perde seu axé, seu exotismo do qual só há nos lugares abaixo da linha do Equador. Nos merca- dões da cidade, as vitrines que traziam cangas e biquínis, agora expõem conjun- tos de moletom; os artesanatos rústicos em vez de se moldarem como banhistas, se veem praticamente como esquimós; os atores sociais que traziam na fala as cantigas folclóricas através do repente e do embolado, que antes possivelmente se trajavam de gibões e chapéus de cou- ro e falavam sobre os pernambucanos Gonzagão, Lula, Lampião e Paulo Freire, agora rimam o frio sem heróis com seus gorros e cachecóis. O único sobrevivente, perante o frio, é um homem que trabalha se vestindo de Papai Noel, ele faz o papel do bom velhinho amado pelas crianças, agente do capitalismo e que em contra- partida divide o aniversário com o tal co- munista, menino Jesus. O curta de 24 minutos aborda o que chamamos de uma “porrada” de coisas, e essa porrada quem leva somos nós, ao percebemos que os seres humanos não são deuses diante da força da natureza e que precisamos crescer ainda mais como civilização, rever os conceitos de valores básicos e ao mesmo tempo tão primordiais, como a empatia, gentileza e solidariedade. Comece mudando o mun- do pela sua casa. E como diz minha mãe, Dona Adenise: “Ninguém é uma ilha para viver isolado de um arquipélago chamado mundo”. Por fim, Recife Frio ainda nos deixa es- perançosos ao terminar com uma cena lin- da, provavelmente à orla de alguma praia da simpática Ilha de Itamaracá próxima a região metropolitana de Recife. A Ilha de Itamaracá me lembra de duas personali- dades, Gretchen, a rainha do rebolada - a qual também protagoniza um documentá- rio no mesmo lugar, mas isso é história para quem sabe um próximo cineclube - e da saudosa preta cirandeira, Lia, a qual carrega no sobrenome o mesmo nome da ilha. Lia de Itamaracá encerra o curta can- tarolando algumas de suas cirandas com um grupo de locais, os quais correm para um resquício de raio de sol, como uma luz no fim do túnel, o pote no fim do arco-íris, a esperança que é a última que morre. NÃO EXISTE “FRIO” AO SUL DO EQUADOR por Ary Dias Dutra
  • 4. INDICAÇÕESP E R I G O S A S por Ary Dias Dutra e Náthaly D’Almada do Espírito Santo MÚSICAS A Terceira Lâmina - Zé Ramalho Senhor Cidadão - Tom Zé Querelas do Brasil - Elis Regina Fora da Ordem - Caetano Veloso Tudo Vira Bosta - Rita Lee O Dia em que a Terra Parou - Raul Seixas Pois É, Seu Zé - Gonzaguinha O Que Será - Chico Buarque Pedras que Cantam - Fagner Partido Alto de Clementina - Clara Nunes FILMES Nelson Pereira dos Santos, 1963 - Vidas Secas Paulo Bastos Martins, 1970 - O Anunciador: O Homem das Tormentas Rogério Sganzerla, 1970 - Sem Essa, Aranha Vladimir Carvalho, 1971 - O País de São Saruê Ruy Guerra, 1974 - Os Fuzis Jorge Furtado, 1989 - Ilha das Flores Fernando Meirelles e Nando Olival, 2001 - Domésticas Flávia Moraes, 2003 - Acquaria Andrucha Waddington, 2005 - Casa de Areia Eder Santos, 2013 - Deserto Azul LIVROS O Amanhã Não Está À Venda - 2020, Ailton Krenak Enterre Seus Mortos - 2018, Ana Paula Maia Cordel: Patativa Do Assaré - 2016, Sylvie Debs O Peso do Medo: 30 poemas em fúria - 2016, Wellington de Melo Cidades Mortas - 2014, Dêner B. Lopes Olhos D’Água - 2014, Conceição Evaristo Relendo o Recife de Nassau - 2003, Gilda Maria Whitaker e Jomard M. De Britto Ensaio Sobre a Cegueira - 1995, José Saramago Não Verás País Nenhum - 1981, Ignácio de Loyola Brandão Emissários do Diabo - 1974, Gilvan Lemos
  • 5. E é com imensa gratidão e satisfação, que eu, Ná- thaly e ele, Ary, em nome de toda a equipe do proje- to Cineclube Entre Saberes, iniciamos este feedback sobre a live a qual fomos convidados pela pulsante, Dandara Felícia. A nossa felicidade é tamanha, que talvez até mesmo não fique clara nestas humildes linhas. Saímos extasiados deste encontro inexplica- velmente importante e, com certeza, um grande mar- co em nossas trajetórias individuais e, sem dúvida alguma, na do Cineclube. Dandara, assim como nossa eterna rainha-guer- reira Dandara de Palmares, exala resistência. O que seria do Quilombo dos Palmares sem a mulher que era a mente por trás de grandes feitos, e o que seria de nós sem nossa extasiante amizade com Dandara, a quem só nos abrilhantou com a luz de seu conheci- mento. Sua atenção para conosco, acompanhada de sua graça e sutileza, nos traz para mais uma troca de extrema necessidade: abordar educação antirracista em meio a um mundo pandêmico. Mas aqui, falamos longe do covid-19, mas sim de um vírus milenar, o racismo, o qual em 2020, por exacerbar ainda mais a barbárie inescrupulosa que não olha idade e classe social; quebra mais uma vez o famoso discurso da democracia racial e provoca a união, justo em tem- pos de afastamento, de um povo cansado de perder os seus a cada minuto e de ter sua história diminuída a cada segundo. Causando um urro de milhões, que inundaram ruas e redes sociais de comoção e busca por justiça. Como enfatizado na live, uma educação antirra- cista é, além de necessária, urgente. Debater an- tirracismo enquanto inseridos em uma sociedade estruturalmente racista, também trouxe à tona, o quanto vozes negras, inclusive jovens, precisam ser ouvidas e o quanto espaços como o Cineclube se tornam um formato de educação antirracista, a partir do momento em que impulsiona essas vozes, não fomentando o perigo de histórias únicas. Enquanto cineclubistas, tivemos a oportunida- de de contar nossa história e de como nos tornamos esse espaço de realização, afeto, cultura e propulsor de vozes. A partir de dois filmes bem marcantes de nossa trajetória, “Estrelas Além do Tempo” e “Cor- ra”, reforçamos como a produção de conhecimento sobre outra narrativa é necessária; transpassamos pelas interseccionalidades de gênero, raça e clas- se e da nossa necessidade, enquanto sociedade, de enfrentarmos o assunto. Ansiamos para que o urro ouvido não seja mais uma vez silenciado, que referências negras se tornem presentes em nossa educação e que todos tenham direito a um ensino inclusivo que visa, principalmente, reconhecimento. Anseio este, de um dos caminhos para reprodução do antirracismo. Parafraseando Dandara: é necessário que fale- mos sobre gente preta e sua cultura por no mínimo 500 anos para ter equidade. Uma resposta histórica, um rompimento contra um processo estrutural forte- mente suscitado. É sobre humanidade, valorização, reflexão, um espelho em sua própria ancestralidade em que o reflexo seja de orgulho. E assim, como canta Martinho da Vila numa ode à cultura preta, em 1988, acompanhado de ilustres personalidades, entre elas Ruth de Souza, Gil, Gran- de Otelo e Elza Soares: “Axé para abolição de todos os preconceitos. Axé para os heróis da liberdade. Axé para negritude. Axé contra todas as formas de opressão. Axé para um país melhor. Axé pela memó- ria negra. Axé para mãe África. Axé pra toda essa nação, Euro, Afro e Ameríndia”. VALEU DANDARA! Essa Kizomba é a nossa constituição. por Náthay D’Almada do Espírito Santo e Ary Dias Dutra
  • 6. “Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro” Esse é um dos refrões mais bo- nitos e enigmáticos que Belchior já criou, num momento onde a esperança não era quista, mas necessária. No dia 08/09 de 2020 o Brasil atinge os 100 mil mortos pela pandemia do novo coronaví- rus, com a maior parte dos Esta- dos em níveis avançados da fle- xibilização do isolamento social, com um “governo” que desde o início da pandemia minimiza a gravidade da doença com discur- sos irresponsáveis e eugenistas e, sobretudo, sem Ministro da Saú- de. Exatamente assim, na maior crise sanitária que um país inteiro já enfrentou, não temos ministro, não temos governo, não temos vacina, alguns não têm sequer noção da gravidade. E eu, ao contrário do que can- ta Belchior, não acho que Deus seja brasi- leiro e não acho que Este esteja do nosso lado. A pergunta que eu faria a Belchior se pudesse é: como? Como manter as es- peranças, como se considerar um sujei- to de sorte em meio à caoticidade do mundo, sobretudo do país? Tivemos pouco mais de um mês an- tes que a COVID-19 se tornasse de fato uma pandemia no Brasil, tivemos os exemplos externos de outros pa- íses, sabíamos o que tinha de ser feito: isolamento social, máscara, higienização. Mas de alguma for- ma, falhamos. E não digo só que falhamos individualmente, por vezes não aproveitando o direito e privilégio que muitos dos que lerão esse jornal têm de ficar em casa, mas sim que falhamos en- quanto sociedade, elegemos um genocida, e agora mais de 100 mil pessoas estão mortas e sim, mor- tas pela pandemia, porém muitas, arrisco a maioria, mortas pela falta de acesso, mortas pela irrespon- sabilidade do governo, mortas en- quanto o presidente de um país julga que o tratamento está a uma farmácia de distância como em to- das as outras “gripezinhas”. Acredito que de todas as refle- xões insinuadas pela pandemia, a que recai sobre os privilégios seja a maior delas. Nós que temos os acessos, a saúde e a família so- mos de fato sujeitos de sorte, pois essa realidade num momento como esse não é muito mais que isso: sorte. Não estamos todos num mesmo barco, alguns sequer barco têm, então fazer o máxi- mo do que puder ser feito para não piorar a situação de muitos e aproveitar a condição de exercer o direito ao isolamento ficando em casa não é fazer muito, não é fa- zer demais, é o mínimo. Então, assumindo a sabedoria das palavras do cantor supraci- tado, por mais difícil, doloroso e impossível que possa parecer, te- mos de encontrar forças para não “nos deixar morrer no ano passa- do”, forças para lutar por mais um dia, se não por nós mesmos, por todas as mais de 100 mil pessoas que não poderão mais o fazer. SUJEITOS DE SORTE? por Laura Silva Vieira
  • 7. Primeiro, ele levou os negros, como sempre. Eu, como sempre, não me importei. Sou bran- co, sou limpinho. Não vivo nestes aglomerados urbanos. Talvez seja questão de higiene... Depois, ele levou os trabalhadores. Estes po- bres...! Só lamentei, pois fiquei sem empregada. A minha, que já era velha e preta, muito preta, foi levada na semana passada. Infelizmente, nem todos vingam. Uma gripezi- nha de nada... Vai morrer gente? Vai morrer gente. Gente? Dessa gente, quem se importa?! Os desempregados... Ah, estes devem ser le- vados mesmo! Nada produzem e, ainda, querem receber auxí- lio. Por isso que este país não vai pra frente... Aliás, era tão bonito cantar “todos juntos va- mos, pra frente Brasil, Brasil...”. Não era? Agora, está tudo mudado. Tudo pelo avesso. É bem capaz que um dia tenhamos que trabalhar. Deus me livre!!! Ai de mim! Ai de mim! É tudo culpa da China! Aquele povinho comu- nista... Criaram tudo isso para tomar nossas posses. Mas, o Brasil não vai ser a República da cobra. Jamais! “Todos juntos vamos, pra frente Brasil...” Pior que levou o entregador e não sei mais o que fazer. Como pedir meu Buffet?! Ai de mim! Ai-me! Aí vindes de outra vez, inquietas sombras! Agora, ele... Ele se cansou de levar gente sem importância. Que absurdo! Acabou levando minha mãe. E chorei como pobre na chuva. Logo eu? Sem- pre fui tão ordeiro e cumpridor de minhas obrigações. Que culpa tenho se tanto dinheiro possuo?! Agora, agora... Ai de mim! Ele está me levando. E já ninguém se importa. Não há quem chore por mim. Ingratos! BRECHTIANO CRÔNICO por Natalino da Silva de Oliveira Nós do Grêmio Estudantil Técnico Secundarista (GETS), primeira- mente gostaríamos de agradecer ao Cineclube pelo convite, e pelo espaço reservado no jornal para apresentarmos a nossa posição so- bre o momento em que vivemos, sobre e a possibilidade de implan- tação do ensino remoto, além de tornar transparente as ações que o Grêmio tem feito nesse período conturbado. Como é de conhecimento geral, devido a pandemia causada pela Covid-19, todas as atividades presenciais do instituto foram interrom- pidas por período indeterminado, e as reuniões frequentes do Grê- mio Estudantil também tiveram que ser pausadas, ao menos presen- cialmente, bem como nossos demais fóruns de deliberação. Nós do GETS continuamos a nos reunir virtualmente em constante debate sobre a conjuntura, os caminhos e o planejamento correto para a sobrevivência do ensino mesmo em meio a esta grave pandemia, com os agravantes criados pelo governo do fascista Jair Bolsonaro, responsável direto por grande parte das já 90 mil mortes, com sua política genocida para o povo pobre. Além claro, de estarmos acompanhando e construindo as mani- festações nacionais pela educação, como os "Tuitassos" pelo adiamento do Enem em 2020 e pelo aprovamento do FUNDEB permanente, nos quais obtivemos vitórias parciais. Em relação ao ensino remoto, gostaríamos de alertar que até o mo- mento não temos uma proposta concreta pronta, algumas comissões com representações discentes vem debatendo diversos aspectos de uma possível implementação. E estamos em contato para sempre nos mantermos atualizados sobre esta questão, inclusive teremos, nos próximos dias, uma uma reunião com a diretoria de nosso para debatermos alguns pontos e, conforme o andamento, traremos o nos- so posicionamento e um novo esclarecimento aos estudantes. Temos construído iniciativas unificadas com os demais grêmios da rede do IF Sudeste e da FENET para fortalecermos nossa voz. Reforçamos o pedido para ficar casa, contrariando o governo fe- deral, e ainda o incentivo às organizações solidárias de nosso povo. Para qualquer dúvida ou sugestões entrem em contato conosco, atra- vés do nosso Instagram (gets.ifjf), ou através de algum membro de nossa gestão. Com carinho, Grêmio Estudantil Técnico Secundarista - Gestão Voz Ativa. “De modo geral: Minha vida passada decimal por decimal Ações fajutas que desmerecem o ancestral Espadas cruzadas a norte e sul equatorial Guerras e guerras do rural ao capital Nossos capitães de guelras Adão, o escamado animal Eva, a subserviçal O índio e o negro, espírito imortal E o sangue segue sendo herança principal” Henrique Correia Maciel e Costa
  • 8. Todo começo de ano re- presenta para todos nós um novo ciclo de vida, em que, de for- ma natural e espontânea, traçamos nossos planos, renovamos as nossas expectativas e restaura- mos a nossa esperança. No início do ano 2020, a comunidade acadêmica do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG) também iniciou o seu novo ciclo com um planeja- mento consolidado e com grande entusiasmo para rea- lizar as atividades previstas em um ano projetado com muito otimismo. Esse planejamento institucional se caracteriza pela programação de uma série de ações gerenciais e aca- dêmicas, que envolve a participação de servidores, co- laboradores, estudantes e também do público externo. Embora seja uma proposta técnica, nela estão inseridos os sentimentos e os anseios da nossa comunidade, que convergem para a concretização de todos os objetivos propostos, de forma a contribuir com a realização de so- nhos e a transformação de vidas. Ao retornarmos ao ambiente acadêmico em cada cam- pi, ao vivenciarmos o convívio físico, revitalizamos os am- bientes, revigoramos as nossas metas e nos sentimos fe- lizes ao observar cada canto e todos os seus encantos. É a presença de cada um que torna vivo e encantador o am- biente acadêmico. A presença calorosa dos estudantes, ansiosos e entusiasmados pelo início das aulas, aciona na instituição uma energia motora que contagia a todos, que ativa um mecanismo constante de troca de conheci- mento, de aspiração por fazer o melhor para o bem cole- tivo. Intensificamos o desejo pelo estabelecimento real da liberdade de expressão, da democracia e do respeito ao outro. A cada regresso, matamos a saudade dos colegas, te- mos a possibilidade de conhecer novas pessoas e encon- trar novos amigos e até amores, de aproveitar inúmeras oportunidades. Isso tudo revigora a cada um de nós no contexto acadêmico, porque é esse contato, essa inte- gração, essa aglomeração que permite experiências im- prescindíveis para fazermos descobertas sobre o mundo e sobre nós mesmos. Infelizmente, não pudemos vivenciar isso nesse ano de 2020, que entra para a história mundial com um surpreen- dente acontecimento inimaginável na nossa realidade: a pandemia do novo coronavírus. Vimos as notícias pelos canais de comunicação, de forma instantânea e diária, que retratavam uma situação calamitosa na cidade de Wuhan, na China. No entanto, as imagens e as informações inédi- tas se mostravam para nós de forma impactante, como se visualizarmos um filme de ficção científica onde em uma cidade fantasma, com a maioria das pessoas reclusas em suas casas, profissionais correndo contra o tempo para entender e solucionar o problema causado por um vírus perigoso, capaz de causar tantas mortes. Parecia algo tão distante de nós... Mas no mundo globalizado, a velocidade de propaga- ção que acostumamos a ver de forma tão instantânea nas redes sociais, é também muito rápida nos deslocamentos físicos das pessoas. E por isso, logo nos deparamos com a pandemia aqui no Brasil. E a recebemos na primeira quinzena de março despreparados, sem que os gover- nos das três esferas federativas apresentassem nenhuma ação integrada que pudesse ser implementada para en- frentar algo tão letal para nossa sociedade. Os brasileiros começaram a visualizar uma grave crise sanitária, com aumento crescente não somente do número de casos e de mortes, mas também com a ampliação das dúvidas, incertezas e do medo, tanto em relação a doença, mas também sobre a sua forma de sobreviver ao impacto que viria também como grave crise econômica. O IF Sudeste MG considera essencial a preservação da vida e da saúde de servidores, colaboradores, estudan- tes e todas as pessoas do seu convívio. Baseando-se em PERSPECTIVAS: COVID-19 por Charles Okama de Souza Reitor do IF Sudeste MG O Antes, o agora e o depois: a pandemia e os impac- tos na comunidade do IF Sudeste MG Expectativas, incertezas e esperança.
  • 9. recomendações dos órgãos internacionais e nacionais de saúde quanto à adoção do distanciamento social como a principal ação efetiva para frear a disseminação do novo coronavírus e também várias leis, a nossa instituição teve as suas atividades administrativas e acadêmicas presen- ciais suspensas a partir do dia 17 de março de 2020. Des- de então, muitas reuniões foram realizadas com o intuito de compreender e acompanhar as mudanças do contexto inédito e reprogramar, replanejar e normatizar as ações e atividades administrativas e acadêmicas, para a continui- dade do funcionamento institucional no âmbito da Reitoria e dos nossos 10 Campi. A nossa instituição conta com mais de 1.300 servido- res e aproximadamente 450 colaboradores, que sempre se mantiveram atuantes em suas atividades, seja remo- tamente ou na manutenção dos serviços essenciais pre- senciais para atendimento a sociedade. Além disso, o IF Sudeste MG se engajou e proporcionou condições para viabilizar projetos de extensão de combate a COVID-19. Mais de 450 pessoas, incluindo servidores e estudantes, estão engajadas na execução de mais de 50 projetos, com inúmeras parcerias, e já beneficiaram, aproximada- mente, mais de 500 mil pessoas inseridas na região de atuação de nosso instituto. Têm sido promovidas orienta- ções de diversas naturezas, especialmente com foco nos cuidados com a saúde e com a alimentação. Máscaras de diversos materiais e formatos, protetores faciais com impressão 3D, álcool em gel, de álcool glicerinado, sa- bão ecológico, sabonete líquido, têm sido elaborados para atender profissionais de saúde e o público em geral. Fo- ram implementados projetos de atendimento psicológico e emocional e também a concessão de auxílios financei- ros de emergências para estudantes de baixa condição socioeconômica. Além disso, campanhas solidárias para arrecadação de fundos e aquisição de vários produtos ali- mentícios e de higiene destinados aos mais vulneráveis foram realizadas. O IF Sudeste MG tem colaborado com o conserto de diversos equipamentos hospitalares e com orientações sobre gerenciamento de resíduos sólidos domésticos e hospitalares. Iniciativa com foco na imple- mentação de sistema informatizado de aproximação en- tre vendedores e consumidores em mercados de vários municípios da nossa região também foi implantado como parte das nossas ações. Tais iniciativas demonstram nos- so compromisso social, o que condiz com os preceitos da lei de criação dos Institutos Federais. Para além da forma- ção acadêmica de qualidade, nossa atribuição se coadu- na enquanto instituição de ensino, pesquisa e extensão a disposição da sociedade para promover a execução de projetos inovadores que resultam em resolução de proble- mas, dentro do contexto do arranjo produtivo local. Embora estejamos ativos e atuantes durante todo este período com diversas atividades, a suspensão do calen- dário acadêmico gera preocupações, dúvidas e angústias em toda a nossa comunidade acadêmica, especialmente em estudantes, pais e responsáveis. Para melhor orga- nizar o planejamento das propostas que têm sido discu- tidas e elencadas desde o início da pandemia, de forma a elaborar diretrizes de forma coletiva, contando com a participação de todos os segmentos da comunidade aca- dêmica, o IF Sudeste MG lançou o “Projeto Reencontro”. Este projeto é composto por 10 comissões temáticas, o que envolve a participação de mais de 200 pessoas, ser- vidores e estudantes. Seguindo a premissa que “Apenas com segurança e qualidade voltaremos, antes disso a certeza é que plane- jaremos”, o projeto busca responder três grandes ques- tões, a saber: 1. Quais serão as condições necessárias de seguran- ça para garantir as diversas atividades acadêmicas e ad- ministrativas presenciais durante esse momento de crise sanitária? 2. Que instrumentos pedagógicos, tecnológicos e estru- turais deverão ser implantados para possibilitar as ativida- des não presenciais, on line e Ensino a Distância (EaD), de forma a garantir a qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão e da inclusão social preconizada por nossa instituição? 3. Que estratégias de comunicação deverão ser apri- moradas de maneira a proporcionar informações contínu- as junto a nossa comunidade interna e externa sobre a atuação institucional? Várias propostas já estão sendo apresentadas à nos- sa comunidade, que é convidada a participar e contribuir, tendo em vista a perspectiva do retorno dos calendários acadêmicos por meio da implantação do Ensino Remoto Emergencial. Destaca-se que tudo está sendo realizado com muita cautela, avaliação dos cenários, das condições da institui- ção, dos estudantes, dos servidores e dos colaboradores. Além disso, cabe mais uma vez ressaltar, que as propos- tas serão tramitadas em todas os órgãos colegiados do IF Sudeste MG, de maneira a possibilitar o melhor para nossa comunidade acadêmica diante da pandemia. Depois de cinco meses de distanciamento social e ago- ra conhecendo um pouco das ações da instituição peran- te contexto de tanta dificuldade e incertezas, é possível termos esperança? Quando, como e de maneira as aulas presenciais vão começar? O que será que nos espera no período pós pandemia? Novos paradigmas para o siste- ma de ensino surgirão? Os professores se adaptarão às novas metodologias de ensino e as tecnologias de comu- nicação e informação? O teletrabalho é algo que veio para ficar? Que dificuldades os estudantes terão com o novo sistema de ensino aprendizagem? Será um novo normal ou pode se considerar como outro normal? As pessoas serão mais solidárias e mais compreensivas? As desigual- dades sociais aumentarão? Será possível superar essa crise sanitária, política e econômica? Acesso à internet será direito de todo cidadão? Que políticas de estado se- rão implementadas em prol dos mais vulneráveis? Neste momento, a certeza é de que a pandemia frustrou expectativas para 2020, ainda nos proporciona muitas in- certezas no presente, mas não exclui a nossa esperança no futuro. Um futuro onde não deixamos de vislumbrar a realização de sonhos e a transformação de vidas, onde buscamos novos horizontes, em um novo tempo, tempo de reencontro.
  • 10. Estamos atravessando um momento singular na história do capitalismo, um momento de crise profunda que gerou desemprego, reduziu o poder de compra da classe trabalhadora, aumentou a concentração de renda, fortaleceu o capi- tal fictício e acabou por desencadear uma das maiores pandemias da história moderna. As respostas nas diferentes parte do mundo à COVID-19 explicitaram ainda mais os limites do sistema, relevando a verdadeira barbárie em que vive- mos, como demonstraram a acelerada proliferação da pandemia pelo mundo e as milhares de mortes. Nesse momento, o Brasil encontra-se no epicentro da pandemia da COVID-19, contabilizando quase cem mil mortes, cinco meses após o primeiro óbito causado pela COVID-19 no país. O recorte de classe, raça e gênero se fazem marcantes, com destaque especial para o Brasil, aonde 57% dos que morrem são pretos e pardos e para liderança do ranking de mortes de mulheres grávidas. Em meio ao fracasso das políticas de combate à COVID-19, ao desconheci- mento sobre o novo corona vírus e aos milhares de mortes em todo mundo, o capital pressiona para a volta ao “normal” porque o PIB afunda. É nesse contexto que se inserem as pressões para adoção de ensino a distância na educação su- perior e no ensino médio e tecnológico e as recentes pressões de volta presencial no ensino básico. Não há nenhuma preocupação com qualidade, acessibilidade, inclusão, viabilidade e fundamentalmente com a vida nesse processo. O que se pretende é atender ao capital e ao seu projeto para educação que é excludente. É importante destacar que não se permitiu um debate sério sobre o cancela- mento do período letivo ou até mesmo do ano letivo, uma vez que não há condi- ções mínimas para o desenvolvimento da educação em todos os níveis no país. Nesse período, as instituições públicas de ensino poderiam ampliar o seu papel social e transformador, como muitas têm feito mesmo com todas as pressões, precarização e sobre trabalho advindos das atividades remotas conciliadas aos afazeres domésticos. Porque não valorizar as ações sociais, de pesquisa e solidárias das institui- ções públicas de ensino e apenas criticar a suspensão das atividades de ensino? Porque não se discutiu o cancelamento do semestre ou ano letivo? Porque es- tamos banalizando a morte de milhares de pessoas? Porque os pretos e pardos morrem mais da COVID-19 no Brasil? Porque o Brasil é campeão em mortes de gestantes devido à COVID-19? Estas perguntas estão relacionadas e compar- tilham da mesma reposta de fundo, é a natureza do estado capitalista que se fundamenta no lucro e na expropriação do trabalho. Ademais, a participação nos órgãos colegiados das instituições tem sido ques- tionada pelos interlocutores, não seria o momento de ampliar os espaços de debate e participação da comunidade? De reconhecer a necessidade de dar a todos as vozes para viabilizar saídas para este momento de crise e de risco de reprodução das desigualdades de raça, econômica e gênero? Desde a mo- dernidade afirma-se o princípio da participação dos sujeitos nos processos de deliberação, frente aos desafios presentes e futuros. Os ideários democráticos da modernidade assentam-se neste princípio e as condições de diversidade e desigualdades reforçam a sustentação de protagonismo dos sujeitos. Decisões que não respeitem a participação de todos, que estejam legitimadas por todos os autores envolvidos, seriam válidas? A pressão por soluções controversas e o seu açodamento não corroborariam para o agravamento do quadro de racismo estru- tural em que vivemos? Desse modo, as instituições, para além de reforçarem a sua presença nos vários espaços educacionais, deveriam ampliar os horizontes de decisões, buscando a participação efetiva de todos os seus integrantes, sob pena de serem apenas mais um passo na direção da produção de desigual- dades. Neste momento, o maior desafio é dar voz e vez a todos em nome do presente outro, de um futuro em que não se permita mais o “não estou respiran- do”, ecoando nas milhares de vozes que não são convidadas a participação dos destinos do seu cotidiano. Estamos diante de acontecimentos que marcarão a humanidade nos próximos sécu- los: uma pandemia que, dia após dia, infecta e mata milhares de pessoas em todo o mundo. O novo coronavírus encontrou o mundo numa profunda crise econômica e países com a saú- de e pesquisa públicas fragilizadas, para di- zer o mínimo, depois dos sucessivos ataques sofridos nas últimas décadas. Embora a crise da Covid-19 seja inédita, em proporção e im- pacto, os desafios por ela lançados são todos velhos conhecidos da comunidade escolar e especialistas engajados na luta por uma Edu- cação de qualidade e com igualdade de opor- tunidades. O cenário que se tem é de medo generalizado e muita insegurança sobre o que serão não apenas os próximos meses, mas também anos ou mesmo décadas. O Sinasefe é um sindicato que buscar representar sindi- calmente e dirigir, numa perspectiva classista, autônoma, democrática e participativa, a luta dos servidores federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica por melhores con- dições de vida e de trabalho, a partir de seus interesses imediatos e históricos. Assim, desde o início da pandemia, o Sina- sefe tem pautado a luta em defesa acima de tudo da vida. Nesse sentido, vem debatendo e promovendo ações que visam ampliar a dis- cussão do momento, mostrando as dificulda- des, os impasses e os limites que a pandemia nos impõe. Desde o início tem promovido “li- ves” de vários assuntos sobre o tema a fim de trazer as bases informações, debates e acima de tudo mostrar que o momento marcará a hu- manidade, mas que a luta pela classe deve ser mantida. Adicionalmente tem promovido ações solidárias, como doação em dinheiro para os comitês de enfrentamento da Covid-19 nos Campus para compra de cestas básicas e kits de higiene, distribuição de panfletos informati- vos e máscaras de proteção. Na linha dos desafios de enfrentamento do vírus, além dos desafios do isolamento social, temos o “home office”, o ensino remoto, a vol- ta do ensino presencial ou não. Soluções para estes desafios, não devem vir sem ampla dis- cussão e enlace com a base. O atual contexto requer a ampliação do debate e ações, pen- sadas e efetivadas coletivamente em prol de uma educação popular democrática e de qua- lidade nas condições de distanciamento social prolongado e para que juntos possamos cons- truir as nossas próprias perspectivas de solu- ção, comuns às categorias que representamos e às comunidades escolares e universitárias. por Sinasefe - Rio Pomba O papel do Sinasefe em tempos de pandemia por Apes - Juiz Representação Docente: APES