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VALTER T. MOTTA
Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Aspectos
Bioquímicosda
Hematologia
Volume
13
203
ASPECTOS BIOQUÍMICOS DA HEMATOLOGIA
s células sangüíneas diferem em suas funções
biológicas e em suas características metabó-
licas. Os leucócitos contém núcleo, mitocôndria,
ribosomos e lisossomos. Consequentemente, eles
podem sintetizar proteínas e lipídios e suas neces-
sidades energéticas são supridas pelo ciclo do
ácido cítrico (Ciclo de Krebs).
Os eritrócitos não possuem núcleo, mitocôn-
dria ou ribossomos, sendo assim, incapazes de
realizar biossínteses. A produção de energia nes-
tas células dependem da glicólise anaeróbica. O
ciclo de Rapoport -Luebering (específico dos ma-
míferos) regula a afinidade do oxigênio pela h e-
moglobina. As conseqüências clínicas de anorma-
lidades da estrutura, função e metabolismo dos
eritrócitos são bastante variadas.
Anormalidades geneticamente determinadas,
resultam em enfermidades importantes, entre as
quais, aquelas que afetam as proteínas estruturais
da membrana eritrocitária; as que afetam a estru-
tura, a função ou estabilidade da hemoglobina; e
aquelas que afetam importantes enzimas dos eri-
trócitos. Deficiências de vitamina B 1 2 , ácido fólico
ou ferro impedem a medula óssea de formar eri-
trócitos e, assim, causam anemias.
ANEMIAS
Anemia é a diminuição do teor de hemoglobina
total (Hb) funcionante no sangue abaixo das n e-
cessidades fisiológicas determinadas pela de-
manda de oxigênio tecidual. É também definida
como o estado clínico no qual a hemoglobina e/ou
eritrócitos estão reduzidos. Considera -se um paci-
ente anêmico quando a hemoglobina for menor
que 11 g/dL em mulheres adultas e crianças e
abaixo de 12 g/dL, em homens adultos.
A avaliação laboratorial inicial baseia -se nos
seguintes exames:
§ Determinação da hemoglobina e hematócrito.
§ Contagem de reticulócitos.
§ Volume corpuscular médio (VCM).
§ Contagem de plaquetas.
§ Exame do esfregaço de sangue periférico.
Muitas classificações foram propostas para a
anemia. Algumas classificam as anemias com base
na patologia e na etiologia, enquanto outras, nos
tipos laboratoriais. Emprega-se aqui uma classifi-
cação simples e objetiva que permite o estudo da
maioria das anemias.
Anemias associadas com produção defici-
ente de hemácias:
§ Anemia ferropênica, a deficiência de ferro é
acompanhada por redução da hemoglobina o
que leva à sintomatologia anêmica em virtude
da falta de oxigenação nos tecidos.
§ Anemia aplástica é uma alteração adquirida
das células -tronco medulares, mostrando-se as-
sociada com anemia, leucopenia e trombocit o-
penia.
§ Síndromes talassêmicas são um grupo hetero-
gêneo de distúrbios hereditários, caracterizados
pela diminuição da produção das cadeias α ou
β da molécula de hemoglobina.
§ Síndromes mielodisplásticas e enemia sidero-
blástica (refratária).
A
204 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
§ Anemia megalobástica constitui um grupo de
distúrbios que apresentam glóbulos vermelhos
de tamanho aumentado (anemias macrocíticas),
que têm como causa anomalias na síntese de
DNA da célula; quase todos os casos devem-se:
− Deficiência de ácido fólico pela diminuição
da ingesta como no alcoolismo, má absor-
ção, alimentação parenteral e aumento do
consumo como em anemias hemolíticas,
gestação (anemia macrocítica da gravidez).
− Deficiência de vitamina B 1 :anemia pernici-
osa (doença auto-imune, com destruição
imune das células parietais da mucosa gás-
trica que resulta na baixa produção de ácido
clorídrico e fator intrínseco necessário para
a absorção da vitamina B1 2 ), gastrectomia,
insuficiência pancreática, proliferação bac-
teriana no sistema digestivo, ressecção
ileal, doença celíaca, parasitoses intestinais,
síndrome de Zollinger-Ellison, síndrome de
Imerslund-Grasbeck; Os valores de VCM
são > 100 fL.
§ Anemia da insuficiência renal crônica é atri-
buída primariamente à diminuição na produção
endógena de eritropoetina.
§ Anemia das doenças crônicas (é a anemia mais
comum depois da ferropênica) se desenvolve
no curso das doenças inflamatórias do sistema
digestivo de longa evolução, neoplasias, cola-
genoses e doenças reumáticas ou infecções
(endocardites, meningites, abcessos abdomi-
nais, empiemas, pneumonias de lenta resolu-
ção, doença cavitária pulmonar, abcessos pul-
monares, bronquiectasias infectadas, pielone-
frite crônica, osteomielite, febre tifóide, bru-
celose, lepra lepromatosa, granulomas disse-
minados, AIDS, infecções oportunistas em es -
tados de imunodeficiência).
§ Anemia induzida por drogas antineoplásicas.
Interferem na síntese de DNA: citarabine, flu o-
racil, mercaptopurina, tioguanina e azatioprina
que levam a alterações do tipo megaloblástico,
por induzir uma diseritropoiese medular. Ou-
tras drogas, como os agentes alquila ntes (ciclo-
fosfamida, melfalan) e a hidroxiuréia, que
atuam na replicação do DNA, também podem
alterar morfologicamente o eritrócito.
Anemias associadas por perda ou aumento
da destruição das hemácias:
§ Anemia aguda pós-hemorrágica, por perda de
sangue pelo sistema digestório (principalmente
em homens) ou em um espaço tecidual ou
numa cavidade do corpo, cujas principais ma-
nifestações são as devidas à hipovolemia.
§ Anemia crônica pós-hemorrágica, por perdas
pequenas e continuadas de sangue por longos
períodos, em geral, sem manifestações clínicas
ou hematológicas que caracterizam a anemia
pós-hemorrágica.
§ Anemias hemolíticas hereditárias:
− Hemoglobinopatias incluem anemia falc i-
forme (HbSS) e outras síndromes falcêmi-
cas.
− Alterações hereditárias das proteínas das
membranas das hemácias resultam em
alterações das membranas que podem
precipitar uma hemólise extravascular como
no caso da esferocitose hereditária.
− Enzimopatias, cuja forma mais comum é a
deficiência de glicose 6 -fosfato desidroge-
nase. Outras enzimas também podem estar
deficientes: piruvato quinase, pirimidino 5 -
nucleotidase e glicose fosfato isomerase.
§ Anemias hemolíticas adquiridas:
− Anemia hemolítica auto-imune causada por
anticorpos contra as hemácias.
− Anemia hemolítica induzida por drogas.
− Anemia hemolítica microangiopática. Sí n-
drome de hemólise por traumatismos intra-
vasculares, causada pela deposição de mo-
Aspectos bioquímicos da hematologia 205
nômeros de fibrina na luz dos vasos de p e-
queno calibre.
− Anemia hemolítica traumática refere -se à
hemólise intravascular, geralmente
associada à disfunção de prótese da válvula
aórtica.
− Anemia paroxística noturna é um raro d e-
feito adquirido da membrana do eritrócito.
Origina-se nas células -tronco da medula ó s-
sea, caracterizada por episódios de hemólise
intravascular; a hemólise acentua-se n asho-
ras de sono. O paciente apresenta hemoglo-
binúria ao despertar.
ERITROCITOSES
As eritrocitoses decorrem do aumento real da
massa eritrocitária circulante, da diminuição do
volume plasmático (pseudo-eritrocitose), ou da
combinação dos dois mecanismos. As cifras do
eritrograma estão aumentadas.
POLICITEMIA VERA
É uma síndrome mieloproliferativa crônica. Cons-
titui uma doença neoplásica de uma célula -tronco
da medula óssea que afeta primariamente a série
eritróide. O aumento na produção de eritrócitos é
autônomo, isto é, não há nenhum estímulo secun-
dário, com hipóxia ou níveis elevados de eritropo-
etina para estimular a formação de hemácias. A
apresentação clínica típica é a de um paciente com
hematócrito elevado acima de 54% em homens ou
de mais de 50% para as mulheres.
As manifestações clínicas da policitemia vera
são:
Hiperviscosidade e/ou hipovolemia. Po-
dendo resultar em diminuição do fluxo sangüíneo
cerebral com zumbidos, tonteiras, acidente vas-
cular cerebral (raramente), insuficiência cardíaca
congestiva e trombose.
Disfunção plaquetária. Que pode promover
trombose devida a trombocitose, alteração intrí n-
sica das plaquetas (tempo de sangramento prolo n-
gado, ausência de agregação à adrenalina, meta-
bolismo anormal das prostaglandinas) e hemorra-
gias.
Aumento na renovação celular. Que implica
em gota (devido à hiperuricemia), prurido (pela
maior produção de histamina pelos basófilos).
Bibliografia consultada
CHARACHE, S. Treatment of sickle cell anemia. Annu.
Ver. Med., 32:195-206, 1981.
DACIE, J. V., LEWIS, S. M. Practical haematology.
London : Churchill Livingstone, 1995. 608 p.
FAILACE, Renato. Hemograma: manual de interpretação.
3 ed., Porto Alegre : Artes Médicas, 1995, 198 p.
HAM, E. V., CASTLE, W. B. Relation of increased
hypotonic fragility and of erythrostasis to the mechanims
of hemolysis in certain anemias. Trans. Assoc. Am.
Physicians, 55:127-35, 1940.
LORENZI, T. F. Manual de hematologia: propedêutica e
clinica. Rio de janeiro : MEDSI, 1999. 641 p.
MASON, V. R. Sicckle cell anemia. JAMA, 1318-20, 1922.
VERRASTRO, Therezinha Hematologia e hemoterapia:
fundamentos de morfologia, fisiologia, patologia e
clínica. São Paulo, Atheneu, 1996. 303 p.
206 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
FERRO SÉRICO
ferro é um componente essencial presente
principalmente no complexo porfirínico e nas
proteínas de armazenamento de ferro, ferritina e
hemossiderina. Faz parte da hemoglobina, da mi o-
globina e de algumas enzimas, e participa em
vários processos vitais que vão desde os mecanis-
mos oxidativos celulares até o transporte de oxi -
gênio no organismo. O heme presente na hemo -
globina, mioglobina e citocromos, é formado pela
inserção do ferro na protoporfirina.
INGESTÃO E ABSORÇÃO DO FERRO
O adulto possui aproximadamente 4 g de ferro no
organismo. O balanço do ferro é regulado por alterações
na absorção intestinal.
Normalmente, 5-10% do ferro da dieta é absorvido
no duodeno por processo de transporte ativo. A
velocidade de absorção é controlada por vários fatores
fisiológicos:
Estoques de ferro no corpo. A absorção aumenta
na deficiência de ferro e diminui quando existe excesso.
Velocidade da eritropoiese. Com o aumento na
eritropoiese, a absorção eleva, mesmo quando os
estoques de ferro estão adequados ou sobrecarregados.
Outros fatores. A velocidade de absorção é também
influenciada pelo conteúdo da dieta e pela natureza das
secreções gastrointestinais:
§ Conteúdo da dieta. Substâncias que formam
complexos solúveis com o ferro (ex.: ácido as-
córbico) facilitam a absorção. As que formam
complexos insolúveis (ex.: fitato) inibem a absorção.
§ Estado químico do ferro. O ferro para ser absorvido
necessita ser liberado durante a digestão. Isto
depende, em parte, da produção ácida do estômago;
o Fe2+
é mais rapidamente absorvido que o Fe3+
e a
presença de H+
ajuda a manter a forma ferrosa. O
ferro no heme (na carne e derivados) pode ser
absorvido na molécula intacta.
Pouco ferro é perdido no corpo (células do
sistema digestório, pele e urina). O ferro excre-
tado pelas mulheres (1,3 mg/d) é em média maior
que nos homens (0,9 mg/d) devido a perda mens-
trual. Durante a gravidez e a lactação, as dema n-
das adicionais de até 4 mg/d são retiradas do ar-
mazenamento do ferro materno. A ingestão reco-
mendada para homens é 10 mg/d e para mulheres
18 mg/d. A fonte dietética mais rica em ferro são
as visceras de animais (ex.: fígado, rins, coração e
baço). A homeostase do ferro é mantida pelo con-
trole da absorção conduzida pelas células epiteli-
ais do duodeno e jejuno.
Adultos normais contêm 3 a 5 g de ferro que
estão distribuidos conforme a tabela 13.1 onde a
ferritina e a hemossiderina são proteínas armaze-
nadoras de ferro, no fígado, medula óssea e mú s-
culos. O ferro é prontamente mobilizado quando
necessário, principalmente aquele ligado à ferri-
tina, enquanto a transferrina está relacionada com
o seu transporte. A concentração plasmática de
ferro corresponde a 0,1% do ferro total.
Tabela 13.1. Distribuição aproximada de ferro no homem
adulto normal
Composto Conteúdo de ferro (mg) Percentagem
Hemoglobina 2.800 68,3
Mioglobina 135 3,30
Ferritina 520 12,7
Hemossiderina 480 11,7
Transferrina 7 0,17
Ferro enzimático 8 0,19
Orgânico remanes-
cente
150 3,65
Total 4.100 100
O ferro no organismo se apresenta sob duas
formas: ferrosa (Fe2 +
) e férrica (Fe3 +
). A forma
ferrosa é encontrada na hemoglobina, enquanto a
férrica está armazenada na ferritina e hemosside-
rina, além de estar combinada com a transferrina,
a principal proteína transportadora de ferro no
plasma. O ferro é absorvido no duodeno na forma
O
Aspectos bioquímicos da hematologia 207
divalente. Após absorção, o ferro é oxidado e
pode ser armazenado pela ferritina nas células da
mucosa intestinal ou captado pela transferrina e
distribuído para outras células.
A transferrina entrega o Fe3 +
a vários tecidos
para a formação de citocromos, hemo -globina e
mioglobina. O ferro não utilizado é armazenado
na ferritina e hemossiderina no sistema retículo-
endotelial. O excesso é excretado na urina, fezes e
suor.
Normalmente, a transferrina circulante está
saturada em cerca de 30% com Fe3 +
. A trans-
ferrina é avaliada indiretamente pela determinação
da capacidade total de ligação de ferro (TIBC).
As determinações do ferro sérico (o Fe3 +
ligado
à transferrina sérica), da capacidade plasmática
total de ligação do ferro (TIBC) e da ferritina são
necessárias no estabelecimento do diagnóstico de
distúrbios no metabolismo do ferro. O RDW (Red
Cell Distribution Width) é um coeficiente de vari-
ação do volume eritrocitário médio de grande
utilidade no diagnóstico diferencial de algumas
anemias, como, por exemplo, anemia ferropênica e
β-talassemia.
As reservas de ferro no organismo devem per-
manecer dentro de limites estreitos, pois se por
um lado sua queda provoca diminuição da imuni-
dade celular-humoral com o conseqüente aumento
da incidência da gravidade das infecções, por
outro, o seu aumento produz os mesmos efeitos,
por outros mecanismos.
DIMINUIÇÃO DO FERRO SÉRICO
A deficiência de ferro é uma das mais prevalentes
desordens no home m. É encontrada particula r-
mente em crianças, mulheres jovens e pessoas
idosas, apesar de poder ocorrer em indivíduos de
todas as idades e condições sociais. O ferro sérico
reflete principalmente a quantidade de ferro li-
gado à tranferrina.
A redução dos n íveis de ferro são provocadas
pela deficiência de ferro total no organismo, pela
perda aumentada de ferro ou ainda, pela elevação
na demanda de ferro dos estoques do corpo (por
exemplo, gravidez). Os processos mais comuns de
diminuição do ferro são:
Anemia por deficiência de ferro (ferropêni-
cas). Encontram-se: ferritina sérica (<12 µg/L),
ferro sérico (<60 µg/dL), capacidade plasmática
total de ligação do ferro (>360 µg/dL) e RDW
(>14,5%); quando bem desenvolvida, a deficiência
de ferro é caracterizada por uma anemia microcí-
tica e hipocrômica. São causadas por:
§ Falta de ingestão: dietas pobres em ferro.
§ Falta de absorção: gastrectomias, má -absor-
ção intestinal, trânsito acelerado, distúrbios
digestivos (vômitos da gravidez, neoplasias
etc), acloridrias e pica.
§ Perdas sangüíneas: digestivas (úlcera gástrica
e/ou duodenal, tumores malignos  principal-
mente do estômago e cólon  varizes esofagi-
anas, hérnia hiatal, polipose intestinal, retoco-
lite ulcerativa, anomalia vascular, parasitose
intestinal, diverticulose; uterina –fibroma, t u-
mores malignos de útero ou do colo, menorra-
gias, metrorragias, retenção placentária e uso
de anovulatórios; outras: sangramentos nasais
crônicos, hematúria crônica, hemodiálise, doa-
ção de sangue, perdas sangüíneas repetidas.
Inflamação aguda. Infecção respiratória e
abcessos.
Inflamações crônicas ou doenças malig-
nas.
Infarto do miocárdio.
Tratamento de anemia perniciosa. No início
da resposta ao tratamento com vitamina B1 2 .
Hemorragia aguda ou recente doação de
sangue.
Ciclo menstrual. No período pré -menstrual o
ferro eleva de 10-30%. Na menstruação o ferro
diminui 10-30% dos valores de referência.
208 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
AUMENTO DO FERRO SÉRI CO
Hemocromatose primária. É um distúrbio
metabólico hereditário na regulação da absorção de
ferro, resultando em absorção contínua de ferro do trato
gastrointestinal. A hemocromatose hereditária é o tipo
mais comum de doença por sobrecarga primária de
ferro, podendo apresentar-se sob a forma de coloração
bronzeada da pele, diabetes, cardiomiopatia e cirrose,
sendo diagnosticada na meia-idade. Na hemocromatose
há um depósito contínuo e progressivo de ferro nas
células do fígado, pâncreas, coração e outros órgãos, o
que leva, em última instância, a insuficiência destes
órgãos. Se não tratado, o acúmulo de ferro nesses órgãos
leva a cirrose, diabetes e insuficiência cardíaca,
diminuindo a expectativa de vida destes pacientes.
Hemossiderose.
Envenenamento agudo pelo ferro. Princi-
palmente em crianças.
Ingestão de ferro como medicação ou ad-
ministração parenteral.
Hepatite aguda. Redução dos estoques de ferro
no fígado.
Anemia hemolíti ca. Destruição anormal de
hemácias:
§ Hemólise intravascular pode apresentar-se com
febre, calafrios, taquicardia e dor lombar.
§ Hemólise extravascular caracteriza-se pela
destruição de hemácias no sistema reticuloen-
dotelial, particularmente no baço.
Envenenamento pelo chumbo. Redução na
utilização de ferro.
DETERMINAÇÃO DO FERRO SÉRICO
Paciente. Não é exigido cuidados especiais.
Amostra. Soro ou plasma heparinizado isentos
de hemólise e turvação. A colheita de sangue deve
s er realizada com o mínimo de estase para permi-
tir o livre fluxo de sangue. É aconselhável obter a
amostra no início da manhã e em jejum, pois o
teor de ferro pode diminuir em até 30% no decor-
rer do dia. Separar o soro ou o plasma no máximo
até uma hora após a coleta. O ferro sérico é está-
vel no soro ou plasma, por uma semana em
refrigerador ou até um mês, quando congelado.
Interferências. Resultados falsamente elevados:
ingestão de vitamina B1 2 nas 48 h anteriores ao
teste.
Métodos. Muitos métodos propostos envolvem a
separação do ferro das proteínas transportadoras
(principalmente a transferrina).
Colorimetria. Após separação o Fe3 +
é reduzido
a Fe2 +
por adição de hidrazina, ácido ascórbico,
ácido tioglicólico ou hidroxilamina. A quantific a-
ção do ferro é completada pela adição de um
agente complexante, com formação de um cromo-
gênio passível de análise espectrofotométrica. Os
agentes complexantes mais comumente usados são
a batofenantrolina, a ferrozine, ferene e a tripti-
diltriazina (TPTZ).
Coulometria. Os métodos coulométricos para
determinação do ferro estão baseados no desen-
volvimento de um potencial eletroquímico na in-
terface de uma solução salina (soro) e um ele-
trodo. Em geral, estes métodos se correlacionam
bem com os métodos cromogênicos e necessitam
de pequenas amostras para a análise.
Absorção atômica. O ferro é concentrado por
quelação com batofenantrolina e é extraído pelo
metilisobutil cetona (MIBK). O extrato é exami-
nado por absorção atômica em 248,3 nm.
Valores de referência para o ferro sérico (µµ g/dL)
Homens 70 a 180
Mulheres 60 a 180
Recém-nascidos 95 a 225
CAPACIDADE PLASMÁTICA TOTAL DE
LIGAÇÃO DO FERRO (TIBC)
Como normalmente só um terço dos sítios ligado-
res de ferro da transferrin a estão ocupados pelo
Aspectos bioquímicos da hematologia 209
Fe2 +
, a transferrina sérica tem considerável reserva
de capacidade de ligação de ferro. Isto é denomi-
nado, capacidade de ligação de ferro insaturada
(UIBC).
A TIBC é uma medida da concentração má -
xima de ferro que as proteínas séric as, principal-
mente a transferrina, podem ligar quando seus
sítios ligadores de ferro estão completamente
saturados. A TIBC sérica varia nas desordens do
metabolismo do ferro. Está muitas vezes
aumentada na deficiência de ferro e reduzida nas
desordens in flamatórias crônicas ou doenças
malignas e, também, na hemocromatose.
A UIBC e TIBC são determinadas pela adição
de Fe3 +
para saturar os sítios de ligação na trans-
ferrina. Outro parâmetro que se relaciona com as
reservas de ferro é a porcentagem de saturação da
transferrina:
TIBC
Ferro100
=(%)inatransferrdaSaturação
×
Este coeficiente é o melhor índice de armaze-
namento do ferro sérico sozinho e é útil na
diferenciação das causas comuns de anemia, já
que o TIBC normalmente aumenta em resposta ao
decréscimo de ferro sérico, enquanto que ele é
usualmente normal nos distúrbios infla matórios
crônicos. Quanto maior a saturação da transferrina
e menor a TIBC, maiores serão as reservas do
ferro.
Os achados laboratoriais clássicos na anemia
por deficiência de ferro são ferritina reduzida,
ferro sérico diminuído, baixa saturação da trans-
ferrina, com aumento na TIBC.
§ Valores de referência: 300 a 360 µg/dL.
FERRITINA SÉRICA
O teor de ferritina está diretamente relacionado
com as reservas de ferro no sistema retículo-histo-
citário, de tal modo que sua determinação serve
para diagnosticar e controlar as deficiências e
sobrecargas de ferro.
Tabela 13.1. Ferro sérico e TIBC em várias condições
Ferro sérico- TIBC
Deficiência de ferro ↓
Infecções crônicas ↓ ↓
Malignidades ↓ ↓
Menstruações ↓ ↓
Envenenamento por Fe ↑ ↓
Anemia hemolítica Variável Variável
Hemocromatose ↑ N, ↓
Infarto do miocárdio ↓ N
Gravidez tardia ↓ ↑
Anticoncepcionais orais N, ↑ ↑
Hepatite por vírus ↑ ↑
Nefrose ↓ ↓
Kwashiorkor ↓ ↓
T alassemia ↑ ↓
↓ = diminuição ;↑ = aumento; N = normal;
A ferritina plasmática normalmente contém 1%
do ferro sérico e está em equilíbrio com os depó-
sitos do corpo, refletindo as variações na quanti-
dade de ferro total armazenado. A concentração da
ferritina plasmática declina bem antes de altera-
ções observáveis da hemoglobina sangüínea, na
alteração morfológica dos eritrócitos, na diminui-
ção da concentração de ferro sérico ou dos sinais
clínicos da anemia. Assim, a medida da ferritina
sérica é um indicador muito sensível da deficiê n-
cia de ferro quando não acompanhada de outra
doença concomitante. Encontram-se elevações da
ferritina sérica quando ocorre aumento das reser-
vas de ferro e também em várias doenças como:
infecções crônicas; desordens inflamatórias crôni-
cas, como artrite reumatóide ou enfermidade re-
nal; em várias doenças malignas, especialmente
linfomas, leucemias, carcinoma de seios e de ová-
rios e neuroblastoma.
Aumentos nos níveis de ferritina sérica ocor-
rem também na hepatite viral ou lesão hepática
tóxica, como resultado da liberação de ferritina
dos hepatócitos lesados. Também existem
aumentos em pacientes com sobrecarga de ferro,
como na hemosiderose, hemocromatose após
transfusão e reposição aguda de ferro.
A ferritina aumenta com o passar dos anos e
este aumento está relacionado com a maior inci-
210 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
dência de infarto do miocárdio e da própria mo r-
talidade.
Valores de referência para a ferritina (ng/mL)
Homens 70 a 435
Mulheres cíclicas 10 a 160
Mulheres menopáusicas 25 a 280
Recém-nascidos 25 a 200
6 meses a 15 anos 7 a 160
ERITROPOIETINA
A eritropoietina é um hormônio glicoprotéico
secretado principalmente pelos rins, que regula a
proliferação e a diferenciação das células proge-
nitoras dos eritrócitos na medula óssea e de uma
α-globulina de 38 kd.
Quando os rins percebem a redução na entrega
de O2 para os tecidos pelo sangue, liberam eritro-
poietina que, por sua vez, estimula a medula óssea
a fabricar mais eritrócitos. Na tabela 13.2 estão
resumidas as condições com alterações na con-
centração de eritropoietina sérica.
A avaliação da eritropoetina é útil na investi-
gação de anemias, no diagnóstico diferencial das
policitemias, na monitoração dos níveis terapêuti-
cos de eritropoietina recombinante e como marca-
dor tumoral.
Valores de referência para a eritropoietina
(mU/mL)
Homens 11,7 a 22,7
Mulheres 12,6 a 25,0
Tabela 13.2. Eritropoietina sérica nas anemias e
policitemias
Eritropoietina
Anemias
Anemias nutricionais (deficiência de
ferro, B1 2 , ou folato)
↑
Perda sangüínea aguda ↑
Doença crônica (inflamação, neoplasma) ↑ ou normal
Anemia hipoplástica/aplástica ↑
Baixa afinidade do oxigênio pela hemo-
globina
↓ ou normal
Enfermidade renal crônica ↓
Policitemia
Policitemia vera ↓
Doença pulmonar crônica ↑
Shunt venoso -arterial ↑
Doença cardíaca congênita ↑
Hepatoma ↑
Adenocarcinoma renal ↑
Cisto renal ou hidronefrose ↑
Câncer de pulmão célula pequena ↑
Hemangioma cerebelar ↑
Alta afinidade do oxigênio pela hemoglo-
bina
↑
Cisto renal ↑
Cisto dermóide de ovário ↑
Bibliografia consultada
CANDLISH, J. K., CROOK, M. J. Notes on clinical
c hemistry. New York : World Scientific, 1993. 272 p.
CAVILL, I., JACOBS, A. WORWOOD, M. Diagnostic
methods for iron status. Ann. Clin. Biochem., 23:168-
71, 1986.
DACIE, J. V. The haemolytic anaemias. 3 ed., London :
Churchill Livingstone, 1995. 350 p.
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3 ed., Porto Alegre : Artes Médicas, 1995, 198 p.
JACOBS, A. Disorders of iron metabolism. Clin. Haematol.,
1 1 :241-8, 1982.
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overtreated? Hosp. Pract., 30:47-54, 1995.
TIETZ, N. W., RINKER, A. D. MORRISON, S. R. When is a serum
iron really a serum iron? A follow-up study on the status of iron
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VERRASTRO, Therezinha Hematologia e hemoterapia:
fundamentos de morfologia, fisiologia, patologia e
clínica. São Paulo, Atheneu, 1996. 303 p.
Aspectos bioquímicos da hematologia 211
HEMOGLOBINA E DERIVADOS DA HEMOGLOBINA
hemoglobina é uma proteína esférica for-
mada de quatro cadeias polipeptídicas bas -
tante semelhantes entre si e quatro grupos prosté-
ticos heme, nos quais os átomos de ferro estão no
estado ferroso (Fe2 +
). A porção protéica – cha-
mada globina – consiste de duas cadeias α (cada
uma com 141 resíduos de aminoácidos) e duas
cadeias β (cada uma com 146 resíduos de aminoá-
cidos). As anormalidades estruturais da hemoglo -
bina resultam de mutações de um dos genes que
codificam as cadeias de globina e são denomina-
das hemoglobinopatias. Mais de 600 variantes
estruturais da hemoglobina são conhecidas no
homem. A maioria delas não apresenta mani-
festações clínicas e foi descoberta acidentalmente.
A medida da concentração da hemoglobina no
sangue capilar ou venoso é um dos tes tes mais
realizados em laboratório clínico.
A concentração apropriada de hemoglobina no
sangue é essencial para o transporte adequado de
O2 e dióxido de carbono entre os pulmões e outros
tecidos. A determinação da hemoglobina é um
passo inicial importante na detectação da anemia
(redução da hemoglobina) ou eritrocitose (a u-
mento tanto dos eritrócitos como da hemoglo -
bina).
Cada grama de hemoglobina funcional (HbA)
totalmente oxigenada é capaz de transportar 1,39
mL de O2 , o que é muito mais que a quantidade
transportada por grama de plasma totalmente oxi-
genado (0,025 mL de O2 ). A medida da pO2 no
sangue arterial é na realidade o oxigênio dissol-
vido no plasma. Ainda que importante, a pO2 não
descreve realmente o transporte de oxigênio. Por
exemplo, um paciente com pO2 normal pode estar
gravemente hipóxico, se houver anemia presente.
A quantidade de hemoglobina é controlada
pelo hormônio eritropoeitina, produzido em res-
posta a demanda de oxigênio total do organismo.
ELETROFORESE DE HEMOGLOBINAS
A eletroforese é utilizada no estudo das hemoglo-
binas anormais e no diagnóstico diferencial das
hemoglobinopatias (hemoglobinas variantes e
talassemias).
Estes estudos incluem a realização da eletrofo-
rese em tampão de pH alcalino para a identific a-
ção de hemoglobinas variantes (as mais encontra-
das são: S, C, D), das talassemias do tipo β hete-
rozigótica (onde a HBA 2 está aumentada) e a do
tipo α (presença de HbH que corre rapidamente).
Valores de referência (%)
Hemoglobina A 1 95,0 a 97,0
Hemoglobina A 2 2,5 a 3,5
Hemoglobina fetal 0,1 a 2,0
HEMOGLOBINA FETAL (HBF)
É a hemoglobina predominante durante a vida
fetal. A HbF se origina em uma variação das ca-
deias de aminoácidos. Ao nascer, a criança tem
aproximadamente 85% de HbF e esta diminui
rapidamente e, ao redor do sexto mês de vida,
representa menos de 2% da hemoglobina total. A
HbF tem a afinidade pelo oxigênio aumentada
significativamente o que ajuda “atrair” oxigênio
através da placenta
Valores aumentados. Anemias aplásticas, per-
niciosas e estados mieloproliferativos. Sua esti-
mativa deve ser realizada sempre que estiver au-
mentada na eletroforese de hemoglobina e como
complemento de diagnóstico na talassemia, per-
sistência hereditária de hemoglobina fetal, anemia
falciforme e interação talassemia/hemoglobina
normal.
A
212 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
HEMOGLOBINA A2
A HbA2 composta por cadeias α (alfa) e δ (delta)
está presente no sangue normal do adulto em torno
de 3,0% da Hb total. A sua avaliação é indicada
na investigação diagnóstica de anemias microcíti-
cas com ferro sérico normal.
Valores de referência: eluição: 2,5 a 3,7%;
cromatografia: 1,5 a 3,0%.
Valores aumentados. Congênita: β-talassemia,
hemoglobina instável, traço falcêmico, SS com α-
talassemia. Adquirida: anemia megaloblástica e
hipertireidismo.
Valores reduzidos. Congênita: α-talassemia,
β-talassemia, δβ-talassemia. Adquirida: deficiên-
cia de ferro, anemia sideroblástica.
OXIHEMOGLOBINA (O2HB)
A oxihemoglobina é a espécie de hemoglobina que
está ligada reversivelmente ao oxigênio. A capta-
ção de O 2 pelo sangue nos pulmões depende prin-
cipalmente da pO2 do ar alveolar e da capacidade
do O2 difundir livremente através da membrana
alveolar para o sangue, também como, pela afin i-
dade da deoxihemoglobina eritrocitária pelo O2 .
Com pO2 normal no ar alveolar, membrana normal
e hemoglobina normalmente funcionante, mais de
95% da hemoglobina está ligada ao O2 .
A entrega do O2 do sangue para os tecidos é
administrada pela grande dife rença de gradiente
entre pO2 do sangue e aquela dos tecidos, por obra
da troca isoídrica e de cloretos e pela dissociação
da O2 Hb nos eritrócitos em pO2 baixa na interface,
sangue-tecido. A pO2 arterial deve ser suficiente-
mente alta para evitar hipóxia. Em baixas concen-
trações de hemoglobina pode ocorrer hipóxia
anêmica.
A relação entre a pO2 , e o índice entre a
oxihemoglobina e a hemoglobina reduzida é des-
crita pela curva de dissociação da hemoglobina. A
relação entre pO2 e a oxihemoglobina é afetada
pelo pH, pCO2 , temperatura e fosfato. Em qual-
quer circunstância, o O 2 total do sangue é a soma
das concentrações do O2 ligado à hemoglobina
mais o O2 fisicamente dissolvido.
A magnitude do transporte de oxigênio implica
também na capacidade do coração em bombear
sangue para todo o organismo.
CARBOXIHEMOGLOBINA (COHB)
A carboxihemoglobina é um complexo hemoglo-
bina-monóxido de carbono. A carboxihemoglobina
é incapaz de transportar oxigênio. O organismo
forma continuamente uma pequena quantidade de
CO (destruição de hemoglobina na decomposição
das hemácias) que mantém a concentração de 1%
de COHb no sangue. A afinidade da hemoglobina
pelo monóxido de carbono é 200 a 250 vezes
maior do que pelo oxigênio. São necessários ní-
veis elevados de pO2 para deslocar o CO da hemo -
globina.
A COHb interfere com o transporte do oxig ê-
nio de duas maneiras:
§ Produz uma anemia química ao reduzir a quan-
tidade de hemoglobina disponível para o trans-
porte – cada grama de COHb se forma às ex-
pensas de uma grama de O2 Hb;
§ A presença de COHb interfere com a liberação
de oxigênio da hemoglobina.
A intoxicação pelo monóxido de carbono é
causada pela fumaça de automóveis ou de cigarros
e de calefação doméstica. Indivíduos com valores
>20% sofrem cefaléia e exis te uma sensação pro-
gressiva de fadiga, confusão e desorientação a
medida que a COHb aumenta até 60%, cifra esta
que pode ser mortal. A elevação da carboxihemo-
globina indica:
§ Que os pulmões não estão liberando o CO pro-
duzido normalmente;
§ Que o paciente foi exposto ao CO e os níveis
podem estar em valores tóxicos e requerem um
tratamento de emergência.
Aspectos bioquímicos da hematologia 213
METEHEMOGLOBINA (METHB)
A metehemoglobina é produzida quando o ferro na
forma ferrosa (Fe2 +
) de hemoglobina se oxida para
formar ferro na forma férrica (Fe3 +
). O oxigênio
não é transportado pela metehemoglobina.
Continuamente se formam pequenas
quantidades de metehemoglobina, mas o organis -
mo tem uma enzima (metehemoglobina redutase)
que a “fixa” e a mantém em uma percentagem
<1%. Existem enfermidades e toxinas que alteram
a enzima e podem causar metehemoglobinemia.
Outra causa é a presença de metais na água
ingerida. Estes pacientes podem desenvolver uma
quantidade sufic iente de metehemoglobina que
altera o aporte de oxigênio.
DESOXIHEMOGLOBINA (HHB)
A desoxihemoglobina (hemoglobina reduzida) é
desprovida de oxigênio. Devido ao curto-circuito
pulmonar e a outros fatores, nem toda a hemoglo-
bina se reoxigena nos pulmões. Em geral, a quan-
tidade de desoxihemoglo bina está elevada no san-
gue venoso.
Não existe interesse clínico em determinar a
desoxihemoglobina. Ela só é medida pois não é
possível determinar as outras formas sem conhe-
cer o seu teor.
SULFEHEMOGLOBINA (SULLHB)
A sulfehemoglobina é uma modificação rara da
molécula de hemoglobina causada pela união do
enxofre a porção heme da molécula. O enxofre
não se une no mesmo lugar que o oxigênio, mas
impede o transporte do oxigênio. É encontrada no
uso de alguns fármacos.
A sulfehemoglobina é produzida em situações
tão raras que a necessidade de sua medida ocorre
principalmente para detectar algum erro em outros
parâmetros.
Bibliografia consultada
ALTER, B. P. Prenatal diagnosis of hemoglobinopathies: A
status report. Lancet, 2:1152-4, 1981.
BIRK, R. L., BENNETT, J. M., BRYNES, R. K. Hematology:
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1993.
KAN, Y. W., DOZY, A. M. Evolution of the hemoglobin S
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KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA,
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LUBIN, B. H., WITKOWSKA, H. E., KLEMAN, K. Laboratory
diagnosis of hemoglobinopathies. Clin. Biochem.,
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MARSHALL, William J. Clinical chemistry: metabolic and
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PERUTZ, M. F., ROSSMAN, M. G., CULLIS, A. F. et al.
Struture of haemoglobin. A three-dimensional Fourier
synthesis at 5.5 resolution, obtained by x -ray analysis.
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ZIJLSTRA, W. G., BUURSMA, A., van der ROEST, W.
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deoxyhemoglobin, carboxyhemoglobin, and methemoglobin.Clin.
Chem., 37:1633-41, 1991.

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  • 1. VALTER T. MOTTA Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Aspectos Bioquímicosda Hematologia Volume 13
  • 2. 203 ASPECTOS BIOQUÍMICOS DA HEMATOLOGIA s células sangüíneas diferem em suas funções biológicas e em suas características metabó- licas. Os leucócitos contém núcleo, mitocôndria, ribosomos e lisossomos. Consequentemente, eles podem sintetizar proteínas e lipídios e suas neces- sidades energéticas são supridas pelo ciclo do ácido cítrico (Ciclo de Krebs). Os eritrócitos não possuem núcleo, mitocôn- dria ou ribossomos, sendo assim, incapazes de realizar biossínteses. A produção de energia nes- tas células dependem da glicólise anaeróbica. O ciclo de Rapoport -Luebering (específico dos ma- míferos) regula a afinidade do oxigênio pela h e- moglobina. As conseqüências clínicas de anorma- lidades da estrutura, função e metabolismo dos eritrócitos são bastante variadas. Anormalidades geneticamente determinadas, resultam em enfermidades importantes, entre as quais, aquelas que afetam as proteínas estruturais da membrana eritrocitária; as que afetam a estru- tura, a função ou estabilidade da hemoglobina; e aquelas que afetam importantes enzimas dos eri- trócitos. Deficiências de vitamina B 1 2 , ácido fólico ou ferro impedem a medula óssea de formar eri- trócitos e, assim, causam anemias. ANEMIAS Anemia é a diminuição do teor de hemoglobina total (Hb) funcionante no sangue abaixo das n e- cessidades fisiológicas determinadas pela de- manda de oxigênio tecidual. É também definida como o estado clínico no qual a hemoglobina e/ou eritrócitos estão reduzidos. Considera -se um paci- ente anêmico quando a hemoglobina for menor que 11 g/dL em mulheres adultas e crianças e abaixo de 12 g/dL, em homens adultos. A avaliação laboratorial inicial baseia -se nos seguintes exames: § Determinação da hemoglobina e hematócrito. § Contagem de reticulócitos. § Volume corpuscular médio (VCM). § Contagem de plaquetas. § Exame do esfregaço de sangue periférico. Muitas classificações foram propostas para a anemia. Algumas classificam as anemias com base na patologia e na etiologia, enquanto outras, nos tipos laboratoriais. Emprega-se aqui uma classifi- cação simples e objetiva que permite o estudo da maioria das anemias. Anemias associadas com produção defici- ente de hemácias: § Anemia ferropênica, a deficiência de ferro é acompanhada por redução da hemoglobina o que leva à sintomatologia anêmica em virtude da falta de oxigenação nos tecidos. § Anemia aplástica é uma alteração adquirida das células -tronco medulares, mostrando-se as- sociada com anemia, leucopenia e trombocit o- penia. § Síndromes talassêmicas são um grupo hetero- gêneo de distúrbios hereditários, caracterizados pela diminuição da produção das cadeias α ou β da molécula de hemoglobina. § Síndromes mielodisplásticas e enemia sidero- blástica (refratária). A
  • 3. 204 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações § Anemia megalobástica constitui um grupo de distúrbios que apresentam glóbulos vermelhos de tamanho aumentado (anemias macrocíticas), que têm como causa anomalias na síntese de DNA da célula; quase todos os casos devem-se: − Deficiência de ácido fólico pela diminuição da ingesta como no alcoolismo, má absor- ção, alimentação parenteral e aumento do consumo como em anemias hemolíticas, gestação (anemia macrocítica da gravidez). − Deficiência de vitamina B 1 :anemia pernici- osa (doença auto-imune, com destruição imune das células parietais da mucosa gás- trica que resulta na baixa produção de ácido clorídrico e fator intrínseco necessário para a absorção da vitamina B1 2 ), gastrectomia, insuficiência pancreática, proliferação bac- teriana no sistema digestivo, ressecção ileal, doença celíaca, parasitoses intestinais, síndrome de Zollinger-Ellison, síndrome de Imerslund-Grasbeck; Os valores de VCM são > 100 fL. § Anemia da insuficiência renal crônica é atri- buída primariamente à diminuição na produção endógena de eritropoetina. § Anemia das doenças crônicas (é a anemia mais comum depois da ferropênica) se desenvolve no curso das doenças inflamatórias do sistema digestivo de longa evolução, neoplasias, cola- genoses e doenças reumáticas ou infecções (endocardites, meningites, abcessos abdomi- nais, empiemas, pneumonias de lenta resolu- ção, doença cavitária pulmonar, abcessos pul- monares, bronquiectasias infectadas, pielone- frite crônica, osteomielite, febre tifóide, bru- celose, lepra lepromatosa, granulomas disse- minados, AIDS, infecções oportunistas em es - tados de imunodeficiência). § Anemia induzida por drogas antineoplásicas. Interferem na síntese de DNA: citarabine, flu o- racil, mercaptopurina, tioguanina e azatioprina que levam a alterações do tipo megaloblástico, por induzir uma diseritropoiese medular. Ou- tras drogas, como os agentes alquila ntes (ciclo- fosfamida, melfalan) e a hidroxiuréia, que atuam na replicação do DNA, também podem alterar morfologicamente o eritrócito. Anemias associadas por perda ou aumento da destruição das hemácias: § Anemia aguda pós-hemorrágica, por perda de sangue pelo sistema digestório (principalmente em homens) ou em um espaço tecidual ou numa cavidade do corpo, cujas principais ma- nifestações são as devidas à hipovolemia. § Anemia crônica pós-hemorrágica, por perdas pequenas e continuadas de sangue por longos períodos, em geral, sem manifestações clínicas ou hematológicas que caracterizam a anemia pós-hemorrágica. § Anemias hemolíticas hereditárias: − Hemoglobinopatias incluem anemia falc i- forme (HbSS) e outras síndromes falcêmi- cas. − Alterações hereditárias das proteínas das membranas das hemácias resultam em alterações das membranas que podem precipitar uma hemólise extravascular como no caso da esferocitose hereditária. − Enzimopatias, cuja forma mais comum é a deficiência de glicose 6 -fosfato desidroge- nase. Outras enzimas também podem estar deficientes: piruvato quinase, pirimidino 5 - nucleotidase e glicose fosfato isomerase. § Anemias hemolíticas adquiridas: − Anemia hemolítica auto-imune causada por anticorpos contra as hemácias. − Anemia hemolítica induzida por drogas. − Anemia hemolítica microangiopática. Sí n- drome de hemólise por traumatismos intra- vasculares, causada pela deposição de mo-
  • 4. Aspectos bioquímicos da hematologia 205 nômeros de fibrina na luz dos vasos de p e- queno calibre. − Anemia hemolítica traumática refere -se à hemólise intravascular, geralmente associada à disfunção de prótese da válvula aórtica. − Anemia paroxística noturna é um raro d e- feito adquirido da membrana do eritrócito. Origina-se nas células -tronco da medula ó s- sea, caracterizada por episódios de hemólise intravascular; a hemólise acentua-se n asho- ras de sono. O paciente apresenta hemoglo- binúria ao despertar. ERITROCITOSES As eritrocitoses decorrem do aumento real da massa eritrocitária circulante, da diminuição do volume plasmático (pseudo-eritrocitose), ou da combinação dos dois mecanismos. As cifras do eritrograma estão aumentadas. POLICITEMIA VERA É uma síndrome mieloproliferativa crônica. Cons- titui uma doença neoplásica de uma célula -tronco da medula óssea que afeta primariamente a série eritróide. O aumento na produção de eritrócitos é autônomo, isto é, não há nenhum estímulo secun- dário, com hipóxia ou níveis elevados de eritropo- etina para estimular a formação de hemácias. A apresentação clínica típica é a de um paciente com hematócrito elevado acima de 54% em homens ou de mais de 50% para as mulheres. As manifestações clínicas da policitemia vera são: Hiperviscosidade e/ou hipovolemia. Po- dendo resultar em diminuição do fluxo sangüíneo cerebral com zumbidos, tonteiras, acidente vas- cular cerebral (raramente), insuficiência cardíaca congestiva e trombose. Disfunção plaquetária. Que pode promover trombose devida a trombocitose, alteração intrí n- sica das plaquetas (tempo de sangramento prolo n- gado, ausência de agregação à adrenalina, meta- bolismo anormal das prostaglandinas) e hemorra- gias. Aumento na renovação celular. Que implica em gota (devido à hiperuricemia), prurido (pela maior produção de histamina pelos basófilos). Bibliografia consultada CHARACHE, S. Treatment of sickle cell anemia. Annu. Ver. Med., 32:195-206, 1981. DACIE, J. V., LEWIS, S. M. Practical haematology. London : Churchill Livingstone, 1995. 608 p. FAILACE, Renato. Hemograma: manual de interpretação. 3 ed., Porto Alegre : Artes Médicas, 1995, 198 p. HAM, E. V., CASTLE, W. B. Relation of increased hypotonic fragility and of erythrostasis to the mechanims of hemolysis in certain anemias. Trans. Assoc. Am. Physicians, 55:127-35, 1940. LORENZI, T. F. Manual de hematologia: propedêutica e clinica. Rio de janeiro : MEDSI, 1999. 641 p. MASON, V. R. Sicckle cell anemia. JAMA, 1318-20, 1922. VERRASTRO, Therezinha Hematologia e hemoterapia: fundamentos de morfologia, fisiologia, patologia e clínica. São Paulo, Atheneu, 1996. 303 p.
  • 5. 206 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações FERRO SÉRICO ferro é um componente essencial presente principalmente no complexo porfirínico e nas proteínas de armazenamento de ferro, ferritina e hemossiderina. Faz parte da hemoglobina, da mi o- globina e de algumas enzimas, e participa em vários processos vitais que vão desde os mecanis- mos oxidativos celulares até o transporte de oxi - gênio no organismo. O heme presente na hemo - globina, mioglobina e citocromos, é formado pela inserção do ferro na protoporfirina. INGESTÃO E ABSORÇÃO DO FERRO O adulto possui aproximadamente 4 g de ferro no organismo. O balanço do ferro é regulado por alterações na absorção intestinal. Normalmente, 5-10% do ferro da dieta é absorvido no duodeno por processo de transporte ativo. A velocidade de absorção é controlada por vários fatores fisiológicos: Estoques de ferro no corpo. A absorção aumenta na deficiência de ferro e diminui quando existe excesso. Velocidade da eritropoiese. Com o aumento na eritropoiese, a absorção eleva, mesmo quando os estoques de ferro estão adequados ou sobrecarregados. Outros fatores. A velocidade de absorção é também influenciada pelo conteúdo da dieta e pela natureza das secreções gastrointestinais: § Conteúdo da dieta. Substâncias que formam complexos solúveis com o ferro (ex.: ácido as- córbico) facilitam a absorção. As que formam complexos insolúveis (ex.: fitato) inibem a absorção. § Estado químico do ferro. O ferro para ser absorvido necessita ser liberado durante a digestão. Isto depende, em parte, da produção ácida do estômago; o Fe2+ é mais rapidamente absorvido que o Fe3+ e a presença de H+ ajuda a manter a forma ferrosa. O ferro no heme (na carne e derivados) pode ser absorvido na molécula intacta. Pouco ferro é perdido no corpo (células do sistema digestório, pele e urina). O ferro excre- tado pelas mulheres (1,3 mg/d) é em média maior que nos homens (0,9 mg/d) devido a perda mens- trual. Durante a gravidez e a lactação, as dema n- das adicionais de até 4 mg/d são retiradas do ar- mazenamento do ferro materno. A ingestão reco- mendada para homens é 10 mg/d e para mulheres 18 mg/d. A fonte dietética mais rica em ferro são as visceras de animais (ex.: fígado, rins, coração e baço). A homeostase do ferro é mantida pelo con- trole da absorção conduzida pelas células epiteli- ais do duodeno e jejuno. Adultos normais contêm 3 a 5 g de ferro que estão distribuidos conforme a tabela 13.1 onde a ferritina e a hemossiderina são proteínas armaze- nadoras de ferro, no fígado, medula óssea e mú s- culos. O ferro é prontamente mobilizado quando necessário, principalmente aquele ligado à ferri- tina, enquanto a transferrina está relacionada com o seu transporte. A concentração plasmática de ferro corresponde a 0,1% do ferro total. Tabela 13.1. Distribuição aproximada de ferro no homem adulto normal Composto Conteúdo de ferro (mg) Percentagem Hemoglobina 2.800 68,3 Mioglobina 135 3,30 Ferritina 520 12,7 Hemossiderina 480 11,7 Transferrina 7 0,17 Ferro enzimático 8 0,19 Orgânico remanes- cente 150 3,65 Total 4.100 100 O ferro no organismo se apresenta sob duas formas: ferrosa (Fe2 + ) e férrica (Fe3 + ). A forma ferrosa é encontrada na hemoglobina, enquanto a férrica está armazenada na ferritina e hemosside- rina, além de estar combinada com a transferrina, a principal proteína transportadora de ferro no plasma. O ferro é absorvido no duodeno na forma O
  • 6. Aspectos bioquímicos da hematologia 207 divalente. Após absorção, o ferro é oxidado e pode ser armazenado pela ferritina nas células da mucosa intestinal ou captado pela transferrina e distribuído para outras células. A transferrina entrega o Fe3 + a vários tecidos para a formação de citocromos, hemo -globina e mioglobina. O ferro não utilizado é armazenado na ferritina e hemossiderina no sistema retículo- endotelial. O excesso é excretado na urina, fezes e suor. Normalmente, a transferrina circulante está saturada em cerca de 30% com Fe3 + . A trans- ferrina é avaliada indiretamente pela determinação da capacidade total de ligação de ferro (TIBC). As determinações do ferro sérico (o Fe3 + ligado à transferrina sérica), da capacidade plasmática total de ligação do ferro (TIBC) e da ferritina são necessárias no estabelecimento do diagnóstico de distúrbios no metabolismo do ferro. O RDW (Red Cell Distribution Width) é um coeficiente de vari- ação do volume eritrocitário médio de grande utilidade no diagnóstico diferencial de algumas anemias, como, por exemplo, anemia ferropênica e β-talassemia. As reservas de ferro no organismo devem per- manecer dentro de limites estreitos, pois se por um lado sua queda provoca diminuição da imuni- dade celular-humoral com o conseqüente aumento da incidência da gravidade das infecções, por outro, o seu aumento produz os mesmos efeitos, por outros mecanismos. DIMINUIÇÃO DO FERRO SÉRICO A deficiência de ferro é uma das mais prevalentes desordens no home m. É encontrada particula r- mente em crianças, mulheres jovens e pessoas idosas, apesar de poder ocorrer em indivíduos de todas as idades e condições sociais. O ferro sérico reflete principalmente a quantidade de ferro li- gado à tranferrina. A redução dos n íveis de ferro são provocadas pela deficiência de ferro total no organismo, pela perda aumentada de ferro ou ainda, pela elevação na demanda de ferro dos estoques do corpo (por exemplo, gravidez). Os processos mais comuns de diminuição do ferro são: Anemia por deficiência de ferro (ferropêni- cas). Encontram-se: ferritina sérica (<12 µg/L), ferro sérico (<60 µg/dL), capacidade plasmática total de ligação do ferro (>360 µg/dL) e RDW (>14,5%); quando bem desenvolvida, a deficiência de ferro é caracterizada por uma anemia microcí- tica e hipocrômica. São causadas por: § Falta de ingestão: dietas pobres em ferro. § Falta de absorção: gastrectomias, má -absor- ção intestinal, trânsito acelerado, distúrbios digestivos (vômitos da gravidez, neoplasias etc), acloridrias e pica. § Perdas sangüíneas: digestivas (úlcera gástrica e/ou duodenal, tumores malignos  principal- mente do estômago e cólon  varizes esofagi- anas, hérnia hiatal, polipose intestinal, retoco- lite ulcerativa, anomalia vascular, parasitose intestinal, diverticulose; uterina –fibroma, t u- mores malignos de útero ou do colo, menorra- gias, metrorragias, retenção placentária e uso de anovulatórios; outras: sangramentos nasais crônicos, hematúria crônica, hemodiálise, doa- ção de sangue, perdas sangüíneas repetidas. Inflamação aguda. Infecção respiratória e abcessos. Inflamações crônicas ou doenças malig- nas. Infarto do miocárdio. Tratamento de anemia perniciosa. No início da resposta ao tratamento com vitamina B1 2 . Hemorragia aguda ou recente doação de sangue. Ciclo menstrual. No período pré -menstrual o ferro eleva de 10-30%. Na menstruação o ferro diminui 10-30% dos valores de referência.
  • 7. 208 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações AUMENTO DO FERRO SÉRI CO Hemocromatose primária. É um distúrbio metabólico hereditário na regulação da absorção de ferro, resultando em absorção contínua de ferro do trato gastrointestinal. A hemocromatose hereditária é o tipo mais comum de doença por sobrecarga primária de ferro, podendo apresentar-se sob a forma de coloração bronzeada da pele, diabetes, cardiomiopatia e cirrose, sendo diagnosticada na meia-idade. Na hemocromatose há um depósito contínuo e progressivo de ferro nas células do fígado, pâncreas, coração e outros órgãos, o que leva, em última instância, a insuficiência destes órgãos. Se não tratado, o acúmulo de ferro nesses órgãos leva a cirrose, diabetes e insuficiência cardíaca, diminuindo a expectativa de vida destes pacientes. Hemossiderose. Envenenamento agudo pelo ferro. Princi- palmente em crianças. Ingestão de ferro como medicação ou ad- ministração parenteral. Hepatite aguda. Redução dos estoques de ferro no fígado. Anemia hemolíti ca. Destruição anormal de hemácias: § Hemólise intravascular pode apresentar-se com febre, calafrios, taquicardia e dor lombar. § Hemólise extravascular caracteriza-se pela destruição de hemácias no sistema reticuloen- dotelial, particularmente no baço. Envenenamento pelo chumbo. Redução na utilização de ferro. DETERMINAÇÃO DO FERRO SÉRICO Paciente. Não é exigido cuidados especiais. Amostra. Soro ou plasma heparinizado isentos de hemólise e turvação. A colheita de sangue deve s er realizada com o mínimo de estase para permi- tir o livre fluxo de sangue. É aconselhável obter a amostra no início da manhã e em jejum, pois o teor de ferro pode diminuir em até 30% no decor- rer do dia. Separar o soro ou o plasma no máximo até uma hora após a coleta. O ferro sérico é está- vel no soro ou plasma, por uma semana em refrigerador ou até um mês, quando congelado. Interferências. Resultados falsamente elevados: ingestão de vitamina B1 2 nas 48 h anteriores ao teste. Métodos. Muitos métodos propostos envolvem a separação do ferro das proteínas transportadoras (principalmente a transferrina). Colorimetria. Após separação o Fe3 + é reduzido a Fe2 + por adição de hidrazina, ácido ascórbico, ácido tioglicólico ou hidroxilamina. A quantific a- ção do ferro é completada pela adição de um agente complexante, com formação de um cromo- gênio passível de análise espectrofotométrica. Os agentes complexantes mais comumente usados são a batofenantrolina, a ferrozine, ferene e a tripti- diltriazina (TPTZ). Coulometria. Os métodos coulométricos para determinação do ferro estão baseados no desen- volvimento de um potencial eletroquímico na in- terface de uma solução salina (soro) e um ele- trodo. Em geral, estes métodos se correlacionam bem com os métodos cromogênicos e necessitam de pequenas amostras para a análise. Absorção atômica. O ferro é concentrado por quelação com batofenantrolina e é extraído pelo metilisobutil cetona (MIBK). O extrato é exami- nado por absorção atômica em 248,3 nm. Valores de referência para o ferro sérico (µµ g/dL) Homens 70 a 180 Mulheres 60 a 180 Recém-nascidos 95 a 225 CAPACIDADE PLASMÁTICA TOTAL DE LIGAÇÃO DO FERRO (TIBC) Como normalmente só um terço dos sítios ligado- res de ferro da transferrin a estão ocupados pelo
  • 8. Aspectos bioquímicos da hematologia 209 Fe2 + , a transferrina sérica tem considerável reserva de capacidade de ligação de ferro. Isto é denomi- nado, capacidade de ligação de ferro insaturada (UIBC). A TIBC é uma medida da concentração má - xima de ferro que as proteínas séric as, principal- mente a transferrina, podem ligar quando seus sítios ligadores de ferro estão completamente saturados. A TIBC sérica varia nas desordens do metabolismo do ferro. Está muitas vezes aumentada na deficiência de ferro e reduzida nas desordens in flamatórias crônicas ou doenças malignas e, também, na hemocromatose. A UIBC e TIBC são determinadas pela adição de Fe3 + para saturar os sítios de ligação na trans- ferrina. Outro parâmetro que se relaciona com as reservas de ferro é a porcentagem de saturação da transferrina: TIBC Ferro100 =(%)inatransferrdaSaturação × Este coeficiente é o melhor índice de armaze- namento do ferro sérico sozinho e é útil na diferenciação das causas comuns de anemia, já que o TIBC normalmente aumenta em resposta ao decréscimo de ferro sérico, enquanto que ele é usualmente normal nos distúrbios infla matórios crônicos. Quanto maior a saturação da transferrina e menor a TIBC, maiores serão as reservas do ferro. Os achados laboratoriais clássicos na anemia por deficiência de ferro são ferritina reduzida, ferro sérico diminuído, baixa saturação da trans- ferrina, com aumento na TIBC. § Valores de referência: 300 a 360 µg/dL. FERRITINA SÉRICA O teor de ferritina está diretamente relacionado com as reservas de ferro no sistema retículo-histo- citário, de tal modo que sua determinação serve para diagnosticar e controlar as deficiências e sobrecargas de ferro. Tabela 13.1. Ferro sérico e TIBC em várias condições Ferro sérico- TIBC Deficiência de ferro ↓ Infecções crônicas ↓ ↓ Malignidades ↓ ↓ Menstruações ↓ ↓ Envenenamento por Fe ↑ ↓ Anemia hemolítica Variável Variável Hemocromatose ↑ N, ↓ Infarto do miocárdio ↓ N Gravidez tardia ↓ ↑ Anticoncepcionais orais N, ↑ ↑ Hepatite por vírus ↑ ↑ Nefrose ↓ ↓ Kwashiorkor ↓ ↓ T alassemia ↑ ↓ ↓ = diminuição ;↑ = aumento; N = normal; A ferritina plasmática normalmente contém 1% do ferro sérico e está em equilíbrio com os depó- sitos do corpo, refletindo as variações na quanti- dade de ferro total armazenado. A concentração da ferritina plasmática declina bem antes de altera- ções observáveis da hemoglobina sangüínea, na alteração morfológica dos eritrócitos, na diminui- ção da concentração de ferro sérico ou dos sinais clínicos da anemia. Assim, a medida da ferritina sérica é um indicador muito sensível da deficiê n- cia de ferro quando não acompanhada de outra doença concomitante. Encontram-se elevações da ferritina sérica quando ocorre aumento das reser- vas de ferro e também em várias doenças como: infecções crônicas; desordens inflamatórias crôni- cas, como artrite reumatóide ou enfermidade re- nal; em várias doenças malignas, especialmente linfomas, leucemias, carcinoma de seios e de ová- rios e neuroblastoma. Aumentos nos níveis de ferritina sérica ocor- rem também na hepatite viral ou lesão hepática tóxica, como resultado da liberação de ferritina dos hepatócitos lesados. Também existem aumentos em pacientes com sobrecarga de ferro, como na hemosiderose, hemocromatose após transfusão e reposição aguda de ferro. A ferritina aumenta com o passar dos anos e este aumento está relacionado com a maior inci-
  • 9. 210 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações dência de infarto do miocárdio e da própria mo r- talidade. Valores de referência para a ferritina (ng/mL) Homens 70 a 435 Mulheres cíclicas 10 a 160 Mulheres menopáusicas 25 a 280 Recém-nascidos 25 a 200 6 meses a 15 anos 7 a 160 ERITROPOIETINA A eritropoietina é um hormônio glicoprotéico secretado principalmente pelos rins, que regula a proliferação e a diferenciação das células proge- nitoras dos eritrócitos na medula óssea e de uma α-globulina de 38 kd. Quando os rins percebem a redução na entrega de O2 para os tecidos pelo sangue, liberam eritro- poietina que, por sua vez, estimula a medula óssea a fabricar mais eritrócitos. Na tabela 13.2 estão resumidas as condições com alterações na con- centração de eritropoietina sérica. A avaliação da eritropoetina é útil na investi- gação de anemias, no diagnóstico diferencial das policitemias, na monitoração dos níveis terapêuti- cos de eritropoietina recombinante e como marca- dor tumoral. Valores de referência para a eritropoietina (mU/mL) Homens 11,7 a 22,7 Mulheres 12,6 a 25,0 Tabela 13.2. Eritropoietina sérica nas anemias e policitemias Eritropoietina Anemias Anemias nutricionais (deficiência de ferro, B1 2 , ou folato) ↑ Perda sangüínea aguda ↑ Doença crônica (inflamação, neoplasma) ↑ ou normal Anemia hipoplástica/aplástica ↑ Baixa afinidade do oxigênio pela hemo- globina ↓ ou normal Enfermidade renal crônica ↓ Policitemia Policitemia vera ↓ Doença pulmonar crônica ↑ Shunt venoso -arterial ↑ Doença cardíaca congênita ↑ Hepatoma ↑ Adenocarcinoma renal ↑ Cisto renal ou hidronefrose ↑ Câncer de pulmão célula pequena ↑ Hemangioma cerebelar ↑ Alta afinidade do oxigênio pela hemoglo- bina ↑ Cisto renal ↑ Cisto dermóide de ovário ↑ Bibliografia consultada CANDLISH, J. K., CROOK, M. J. Notes on clinical c hemistry. New York : World Scientific, 1993. 272 p. CAVILL, I., JACOBS, A. WORWOOD, M. Diagnostic methods for iron status. Ann. Clin. Biochem., 23:168- 71, 1986. DACIE, J. V. The haemolytic anaemias. 3 ed., London : Churchill Livingstone, 1995. 350 p. FAILACE, Renato. Hemograma: manual de interpretação. 3 ed., Porto Alegre : Artes Médicas, 1995, 198 p. JACOBS, A. Disorders of iron metabolism. Clin. Haematol., 1 1 :241-8, 1982. SCHILLING, R. F. Vitamin B 1 2 deficience: underdiagnosed, overtreated? Hosp. Pract., 30:47-54, 1995. TIETZ, N. W., RINKER, A. D. MORRISON, S. R. When is a serum iron really a serum iron? A follow-up study on the status of iron measurements in serum. Clin. Chem 42:109-11, 1996. VERRASTRO, Therezinha Hematologia e hemoterapia: fundamentos de morfologia, fisiologia, patologia e clínica. São Paulo, Atheneu, 1996. 303 p.
  • 10. Aspectos bioquímicos da hematologia 211 HEMOGLOBINA E DERIVADOS DA HEMOGLOBINA hemoglobina é uma proteína esférica for- mada de quatro cadeias polipeptídicas bas - tante semelhantes entre si e quatro grupos prosté- ticos heme, nos quais os átomos de ferro estão no estado ferroso (Fe2 + ). A porção protéica – cha- mada globina – consiste de duas cadeias α (cada uma com 141 resíduos de aminoácidos) e duas cadeias β (cada uma com 146 resíduos de aminoá- cidos). As anormalidades estruturais da hemoglo - bina resultam de mutações de um dos genes que codificam as cadeias de globina e são denomina- das hemoglobinopatias. Mais de 600 variantes estruturais da hemoglobina são conhecidas no homem. A maioria delas não apresenta mani- festações clínicas e foi descoberta acidentalmente. A medida da concentração da hemoglobina no sangue capilar ou venoso é um dos tes tes mais realizados em laboratório clínico. A concentração apropriada de hemoglobina no sangue é essencial para o transporte adequado de O2 e dióxido de carbono entre os pulmões e outros tecidos. A determinação da hemoglobina é um passo inicial importante na detectação da anemia (redução da hemoglobina) ou eritrocitose (a u- mento tanto dos eritrócitos como da hemoglo - bina). Cada grama de hemoglobina funcional (HbA) totalmente oxigenada é capaz de transportar 1,39 mL de O2 , o que é muito mais que a quantidade transportada por grama de plasma totalmente oxi- genado (0,025 mL de O2 ). A medida da pO2 no sangue arterial é na realidade o oxigênio dissol- vido no plasma. Ainda que importante, a pO2 não descreve realmente o transporte de oxigênio. Por exemplo, um paciente com pO2 normal pode estar gravemente hipóxico, se houver anemia presente. A quantidade de hemoglobina é controlada pelo hormônio eritropoeitina, produzido em res- posta a demanda de oxigênio total do organismo. ELETROFORESE DE HEMOGLOBINAS A eletroforese é utilizada no estudo das hemoglo- binas anormais e no diagnóstico diferencial das hemoglobinopatias (hemoglobinas variantes e talassemias). Estes estudos incluem a realização da eletrofo- rese em tampão de pH alcalino para a identific a- ção de hemoglobinas variantes (as mais encontra- das são: S, C, D), das talassemias do tipo β hete- rozigótica (onde a HBA 2 está aumentada) e a do tipo α (presença de HbH que corre rapidamente). Valores de referência (%) Hemoglobina A 1 95,0 a 97,0 Hemoglobina A 2 2,5 a 3,5 Hemoglobina fetal 0,1 a 2,0 HEMOGLOBINA FETAL (HBF) É a hemoglobina predominante durante a vida fetal. A HbF se origina em uma variação das ca- deias de aminoácidos. Ao nascer, a criança tem aproximadamente 85% de HbF e esta diminui rapidamente e, ao redor do sexto mês de vida, representa menos de 2% da hemoglobina total. A HbF tem a afinidade pelo oxigênio aumentada significativamente o que ajuda “atrair” oxigênio através da placenta Valores aumentados. Anemias aplásticas, per- niciosas e estados mieloproliferativos. Sua esti- mativa deve ser realizada sempre que estiver au- mentada na eletroforese de hemoglobina e como complemento de diagnóstico na talassemia, per- sistência hereditária de hemoglobina fetal, anemia falciforme e interação talassemia/hemoglobina normal. A
  • 11. 212 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações HEMOGLOBINA A2 A HbA2 composta por cadeias α (alfa) e δ (delta) está presente no sangue normal do adulto em torno de 3,0% da Hb total. A sua avaliação é indicada na investigação diagnóstica de anemias microcíti- cas com ferro sérico normal. Valores de referência: eluição: 2,5 a 3,7%; cromatografia: 1,5 a 3,0%. Valores aumentados. Congênita: β-talassemia, hemoglobina instável, traço falcêmico, SS com α- talassemia. Adquirida: anemia megaloblástica e hipertireidismo. Valores reduzidos. Congênita: α-talassemia, β-talassemia, δβ-talassemia. Adquirida: deficiên- cia de ferro, anemia sideroblástica. OXIHEMOGLOBINA (O2HB) A oxihemoglobina é a espécie de hemoglobina que está ligada reversivelmente ao oxigênio. A capta- ção de O 2 pelo sangue nos pulmões depende prin- cipalmente da pO2 do ar alveolar e da capacidade do O2 difundir livremente através da membrana alveolar para o sangue, também como, pela afin i- dade da deoxihemoglobina eritrocitária pelo O2 . Com pO2 normal no ar alveolar, membrana normal e hemoglobina normalmente funcionante, mais de 95% da hemoglobina está ligada ao O2 . A entrega do O2 do sangue para os tecidos é administrada pela grande dife rença de gradiente entre pO2 do sangue e aquela dos tecidos, por obra da troca isoídrica e de cloretos e pela dissociação da O2 Hb nos eritrócitos em pO2 baixa na interface, sangue-tecido. A pO2 arterial deve ser suficiente- mente alta para evitar hipóxia. Em baixas concen- trações de hemoglobina pode ocorrer hipóxia anêmica. A relação entre a pO2 , e o índice entre a oxihemoglobina e a hemoglobina reduzida é des- crita pela curva de dissociação da hemoglobina. A relação entre pO2 e a oxihemoglobina é afetada pelo pH, pCO2 , temperatura e fosfato. Em qual- quer circunstância, o O 2 total do sangue é a soma das concentrações do O2 ligado à hemoglobina mais o O2 fisicamente dissolvido. A magnitude do transporte de oxigênio implica também na capacidade do coração em bombear sangue para todo o organismo. CARBOXIHEMOGLOBINA (COHB) A carboxihemoglobina é um complexo hemoglo- bina-monóxido de carbono. A carboxihemoglobina é incapaz de transportar oxigênio. O organismo forma continuamente uma pequena quantidade de CO (destruição de hemoglobina na decomposição das hemácias) que mantém a concentração de 1% de COHb no sangue. A afinidade da hemoglobina pelo monóxido de carbono é 200 a 250 vezes maior do que pelo oxigênio. São necessários ní- veis elevados de pO2 para deslocar o CO da hemo - globina. A COHb interfere com o transporte do oxig ê- nio de duas maneiras: § Produz uma anemia química ao reduzir a quan- tidade de hemoglobina disponível para o trans- porte – cada grama de COHb se forma às ex- pensas de uma grama de O2 Hb; § A presença de COHb interfere com a liberação de oxigênio da hemoglobina. A intoxicação pelo monóxido de carbono é causada pela fumaça de automóveis ou de cigarros e de calefação doméstica. Indivíduos com valores >20% sofrem cefaléia e exis te uma sensação pro- gressiva de fadiga, confusão e desorientação a medida que a COHb aumenta até 60%, cifra esta que pode ser mortal. A elevação da carboxihemo- globina indica: § Que os pulmões não estão liberando o CO pro- duzido normalmente; § Que o paciente foi exposto ao CO e os níveis podem estar em valores tóxicos e requerem um tratamento de emergência.
  • 12. Aspectos bioquímicos da hematologia 213 METEHEMOGLOBINA (METHB) A metehemoglobina é produzida quando o ferro na forma ferrosa (Fe2 + ) de hemoglobina se oxida para formar ferro na forma férrica (Fe3 + ). O oxigênio não é transportado pela metehemoglobina. Continuamente se formam pequenas quantidades de metehemoglobina, mas o organis - mo tem uma enzima (metehemoglobina redutase) que a “fixa” e a mantém em uma percentagem <1%. Existem enfermidades e toxinas que alteram a enzima e podem causar metehemoglobinemia. Outra causa é a presença de metais na água ingerida. Estes pacientes podem desenvolver uma quantidade sufic iente de metehemoglobina que altera o aporte de oxigênio. DESOXIHEMOGLOBINA (HHB) A desoxihemoglobina (hemoglobina reduzida) é desprovida de oxigênio. Devido ao curto-circuito pulmonar e a outros fatores, nem toda a hemoglo- bina se reoxigena nos pulmões. Em geral, a quan- tidade de desoxihemoglo bina está elevada no san- gue venoso. Não existe interesse clínico em determinar a desoxihemoglobina. Ela só é medida pois não é possível determinar as outras formas sem conhe- cer o seu teor. SULFEHEMOGLOBINA (SULLHB) A sulfehemoglobina é uma modificação rara da molécula de hemoglobina causada pela união do enxofre a porção heme da molécula. O enxofre não se une no mesmo lugar que o oxigênio, mas impede o transporte do oxigênio. É encontrada no uso de alguns fármacos. A sulfehemoglobina é produzida em situações tão raras que a necessidade de sua medida ocorre principalmente para detectar algum erro em outros parâmetros. Bibliografia consultada ALTER, B. P. Prenatal diagnosis of hemoglobinopathies: A status report. Lancet, 2:1152-4, 1981. BIRK, R. L., BENNETT, J. M., BRYNES, R. K. Hematology: clinical and laboratory practice. St. Louis : Mosby, 1993. KAN, Y. W., DOZY, A. M. Evolution of the hemoglobin S and C genes in world populations. Science, 209:388-90, 1980. KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA, Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry: interpretation and technoques. Baltimore : Williams & Wilkins, 1995. 514 p. LUBIN, B. H., WITKOWSKA, H. E., KLEMAN, K. Laboratory diagnosis of hemoglobinopathies. Clin. Biochem., 24:363-74, 1991. MARSHALL, William J. Clinical chemistry: metabolic and clinical aspects. London : Churchill Livingstone, 1995. 854 p. PERUTZ, M. F., ROSSMAN, M. G., CULLIS, A. F. et al. Struture of haemoglobin. A three-dimensional Fourier synthesis at 5.5 resolution, obtained by x -ray analysis. Nature, 185:416-22, 1960. ZIJLSTRA, W. G., BUURSMA, A., van der ROEST, W. P. Absorption of human fetal and adult oxyhemoglobin, deoxyhemoglobin, carboxyhemoglobin, and methemoglobin.Clin. Chem., 37:1633-41, 1991.