SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
1

Mestre Finezas

Agora entro, sento-me de perna cruzada, puxo um cigarro, e à pergunta de sempre
respondo soprando o fumo:
– Só a barba.
Ora é de há pouco este meu à-vontade diante de mestre Ilídio Finezas.
Lembro-me muito bem de como tudo se passava. Minha mãe tinha que fingir-se zangada.
Eu saía de casa, rente à parede, sentindo que aquilo era pior que ir para a escola.
Mestre Finezas puxava um banquinho para o meio da loja e enrolava-me numa enorme
toalha. Só me ficava a cabeça de fora.
Como o tempo corria devagar!
A tesoura tinia e cortava junto das minhas orelhas. Eu não podia mexer-me, não podia
bocejar sequer. –Está quieto, menino – repetia mestre Finezas segurando-me a cabeça entre as
pontas duras dos dedos: –Assim, quieto! – Os pedacitos de cabelo, espalhados pelo pescoço,
pela cara, faziam comichão e não me era permitido coçar. Por entre as madeixas caídas para os
olhos via-lhe, no espelho, as pernas esguias, o carão severo de magro, o corpo alto curvado.
Via-lhe os braços compridos, arqueados como duas garras sobre a minha cabeça. Lembrava
uma aranha.
E eu – sumido na toalha, tolhido numa posição tão incómoda que todo o corpo me doía –
era para ali uma pobre criatura indefesa nas mãos de mestre Ilídio Finezas.
Nesse tempo tinha-lhe medo. Medo e admiração. O medo resultava do que acabo de
contar. A admiração vinha das récitas dos amadores dramáticos da vila.
Era pelo inverno. Jantávamos à pressa e nessas noites minha mãe penteava-me com
cuidado. Calçava uns sapatos rebrilhantes e umas peúgas de seda que me enregelavam os pés.
Saíamos. E, no negrume da noite que afogava as ruas da vila, eu conhecia pela voz famílias que
caminhavam na nossa frente e outras que vinham para trás. Depois, ao entrar no teatro, sentia-me perplexo no meio de tanta luz e gente silenciosa. Mas todos pareciam corados de
satisfação.
Daí a pouco, entrava num mundo diferente. Que coisas estranhas aconteciam! Ninguém
ali falava como eu ouvia cá fora. E mesmo quando calados tinham outro aspeto, constantemente
a mexerem os braços. Mestre Finezas era o que mais se destacava. E nunca, que me recorde, o
pano desceu, no último ato, com mestre Finezas ainda vivo. Quase sempre morria quando a
cortina principiava a descer e, na plateia, as senhoras soluçavam alto.
Aquelas desgraças aconteciam-lhe porque era justo e tomava, de gosto, o partido dos
fracos. E, para que os fracos vencessem, mestre Finezas não tinha medo de nada nem de
ninguém. Heroicamente, de peito aberto e com grandes falas, ia ao encontro da morte.
Eu arrepiava-me todo. Uma noite mestre Finezas morreu logo no primeiro ato. Foi um
desapontamento. Todos criticaram pelo corredor, no intervalo. – O melhor artista morrer mal
2

entra em cena... ! Não está certo! Agora vamos gramar quatro atos só com canastrões! – dizia o
doutor delegado a meu pai.
Mas a cena tinha sido tão viva e a sua morte tão notada durante o resto do espetáculo
que, no outro dia, me surpreendi ao vê-lo caminhando em direção à loja.
Ora havia também um outro motivo para a minha admiração. Era o violino. Mestre
Finezas, quando não tinha fregueses, o que era frequente durante a maior parte do dia, tocava
violino. E muita vez aconteceu eu abandonar os companheiros e os jogos e quedar-me,
suspenso, a ouvi-lo, de longe.
Era bem bonito. Uma melodia suave saía da loja e enchia a vila de tristeza.
Passaram anos. Um dia, parti para os estudos. Voltei homem. Mestre Finezas é ainda a
mesma figura alta e seca. Somente, tem os cabelos todos brancos.
– Olha bem para mim – pede-me às vezes – olha bem e diz lá se este é o mesmo homem
que tu conheceste? ...
Finjo-me admirado de uma tal pergunta. Procuro convencê-lo de que sim, de que ainda é.
Compreende as minhas mentiras e abana docemente a cabeça:
–Estou um velho, Carlinhos...
Vou lá de vez em quando. A loja está sempre deserta. As mãos muito trémulas de mestre
Finezas mal seguram agora a navalha. E também abriram, na vila, outras barbearias cheias de
espelhos e vidrinhos, e letreiros sobre as portas, a substituírem aquela bola com um penacho
que mestre Finezas ainda hoje tem à entrada da loja.
Mestre Finezas passa necessidades. Vive abandonado da família, com a mulher
entrevada, num casebre próximo do castelo. Eu sou o seu único confidente e um dos raros
fregueses.
Algo de comum nos aproximou. Ilídio Finezas sonhou ser um grande artista, ir para a
capital, e quem sabe se pelo mundo fora. Eu falhei um curso e arrasto, por aqui, uma vida de
marasmo e ociosidade. Há entre mim e esta gente da vila uma indiferença que não consigo
vencer. O meu desejo é partir breve. Mas não vejo como. E, quando o presente é feio e o futuro
incerto, o passado vem-nos sempre à ideia como o tempo em que fomos felizes. Daí eu ser o
confidente de mestre Finezas.
Ele ajuda as minhas recordações, contando-me dos dias a que chama da sua glória.
Estamos sozinhos na loja. De navalha em punho, mestre Finezas declama cenas inteiras dos
«melhores dramas que ainda se escreveram». E há nele uma saudade tão grande das noites em
que fazia soluçar de amor e mágoa as senhoras da vila que, amiúde, esquece tudo o que o
cerca e fica, longo tempo, parado. Os seus olhos ganham um brilho metálico. Fixos, olham-me
mas não me veem. Estão a ver para lá de mim, através do tempo.
Lentamente, aflora-lhe aos lábios, premidos e brancos, um sorriso doloroso.
– Eu fui o maior artista destas redondezas... – murmura.
Na cadeira, com a cara ensaboada, eu revivo a infância e sonho o futuro. Mestre Finezas
já nem sonha; recorda só.
E, de novo, a sua mão treme junto da minha cara. No espelho, vejo-lhe o busto mirrado, os
cabelos escorridos e brancos. Oiço-lhe a voz desencantada:
– A navalha magoa-te?
Uma onda de ternura por aquele velho amolece-me. Dá-me vontade de lhe dizer que não,
que a navalha não magoa e nem sequer a sinto. O que magoa é ver a presença da morte
alastrando pelas paredes escuras da loja, escorrendo dos papéis caídos do teto, envolvendo-o
cada vez mais, dobrando-lhe o corpo para o chão…
3

Mas mestre Finezas parece nada disto sentir. Salta de um assunto para outro com
facilidade. Preciso de tomar atenção para lhe seguir o fio do pensamento. Agora faz-me queixas
da vila. E termina como sempre:
– Esta gente não pensa noutra coisa que não seja o negócio, a lavoura. Para eles, é a
única razão da vida…
Volto a cabeça e olho-o. Sei o que vai dizer-me. Vai falar-me do abandono a que o
votaram. Vai falar-me do teatro, da música, da poesia. Vai repetir-me que a arte é a mais bela
coisa da vida. Mas não. Já nos entendemos só pelo olhar. Mestre Finezas salta por cima de tudo
isto e ergue a navalha num lance teatral:
– Que sabem eles da arte? Tu que estudaste, tu sabes o que é a arte. Eles hão de morrer
sem nunca terem gozado os mais belos momentos que a vida pode dar.
Atravessou a loja, abriu um armário cavado na parede, e tirou o violino.
– Eu não te disse nada, Carlinhos… mas, olha, tenho vendido tudo para não morrer de
fome... Tudo. Mas isto!...
Estendeu o violino na minha direção e continuou reprimindo um soluço:
– Isto nem que eu morra!... É a minha última recordação...
Calou-se por muito tempo com os olhos no chão. Depois, de boca muito descerrada,
disse-me como quem pede uma esmola:
– Tu queres ouvir uma música que eu tocava muito, Carlinhos?...
– Quero... – respondi, forçando um sorriso de agrado.
Nem me ouviu. Estava, ao meio da loja, entre mim e a porta, e prendia o violino no queixo.
O arco roçou pelas cordas e um murmúrio lento começou, no silêncio que vinha das ruas
da vila e enchia a casa. Lentamente, o fio de música ia engrossando. Era agora mais forte –
agudo, desamparado como um choro aflito. E demorava, ondeava por longe, vinha e penetrava-me de uma sensação dolorosa.
Levantei-me, de toalha caída no peito, cara ensaboada, preso não sei de que vagos
desgostosos pensamentos. Talvez pensasse em fugir, pedir-lhe que não tocasse mais aquela
música desafinada e triste.
Mas, na minha frente, mestre Finezas, alheio a tudo, fazia gemer
o seu violino, as suas recordações. O sol da meia tarde entrava pela
porta e aureolava-o de uma luz trémula. E erguia o corpo como levado
na toada que os seus dedos desfiavam; ficava nos bicos dos pés, todo
jogado para o teto.
De súbito, uma revoada de notas soltaram-se, desencontradas,
raivosas. Encheram a loja, e ficaram vibrando…
Os braços caíram-lhe para os lados do corpo. Numa das mãos
segurava o arco, na outra o violino. E, muito esguio, macilento, mestre
Finezas curvou a cabeça branca, devagar, como a agradecer os aplausos de um público
invisível.

in Aldeia Nova, de Manuel da Fonseca

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Tabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de CamposTabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de CamposAMLDRP
 
Ficha informativa memorial do convento
Ficha informativa memorial do conventoFicha informativa memorial do convento
Ficha informativa memorial do conventoquintaldasletras
 
«Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca
«Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca «Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca
«Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca Ana Silva
 
Teste papagaio verde
Teste papagaio verdeTeste papagaio verde
Teste papagaio verdeXana Azevedo
 
Análise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaAnálise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaMargarida Rodrigues
 
Teste saga
Teste sagaTeste saga
Teste sagaaersp
 
O fantasma de canterville
O fantasma de cantervilleO fantasma de canterville
O fantasma de cantervilleEddye Oliveira
 
12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimir
12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimir12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimir
12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimirAldira Paula Cibrão Ribeiro
 
A mulher em Cesario Verde
A mulher em Cesario VerdeA mulher em Cesario Verde
A mulher em Cesario VerdeMariaVerde1995
 
Deíticos - correção
Deíticos - correçãoDeíticos - correção
Deíticos - correçãoBiblioAlba
 
Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...
Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...
Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...Cristina Leitão
 
Ficha de-trabalho-saga
Ficha de-trabalho-sagaFicha de-trabalho-saga
Ficha de-trabalho-sagasandramarques8
 
Guiao de-leitura-arroz-do-ceu
Guiao de-leitura-arroz-do-ceuGuiao de-leitura-arroz-do-ceu
Guiao de-leitura-arroz-do-ceuGraça Viais
 
Ficha formativa_ Chez le docteur
Ficha formativa_ Chez le docteurFicha formativa_ Chez le docteur
Ficha formativa_ Chez le docteurRaquel Antunes
 
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando PessoaPoema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando PessoaDina Baptista
 

Mais procurados (20)

Tabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de CamposTabacaria - Álvaro de Campos
Tabacaria - Álvaro de Campos
 
Ficha informativa memorial do convento
Ficha informativa memorial do conventoFicha informativa memorial do convento
Ficha informativa memorial do convento
 
«Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca
«Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca «Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca
«Mestre Finezas» de Manuel da Fonseca
 
Teste papagaio verde
Teste papagaio verdeTeste papagaio verde
Teste papagaio verde
 
Análise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando PessoaAnálise de poemas de Fernando Pessoa
Análise de poemas de Fernando Pessoa
 
Não, não é cansaço...
Não, não é cansaço...Não, não é cansaço...
Não, não é cansaço...
 
Teste saga
Teste sagaTeste saga
Teste saga
 
O fantasma de canterville
O fantasma de cantervilleO fantasma de canterville
O fantasma de canterville
 
Amor de perdição
Amor de perdiçãoAmor de perdição
Amor de perdição
 
Teste saga
Teste saga Teste saga
Teste saga
 
Alberto Caeiro
Alberto CaeiroAlberto Caeiro
Alberto Caeiro
 
12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimir
12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimir12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimir
12702292 mestre-finezas-de-manuel-da-fonseca imprimir
 
A mulher em Cesario Verde
A mulher em Cesario VerdeA mulher em Cesario Verde
A mulher em Cesario Verde
 
Deíticos - correção
Deíticos - correçãoDeíticos - correção
Deíticos - correção
 
Cesário verde
Cesário verdeCesário verde
Cesário verde
 
Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...
Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...
Ficha de verificaço de leitura - História da Gaivora e do Gato que a ensinou ...
 
Ficha de-trabalho-saga
Ficha de-trabalho-sagaFicha de-trabalho-saga
Ficha de-trabalho-saga
 
Guiao de-leitura-arroz-do-ceu
Guiao de-leitura-arroz-do-ceuGuiao de-leitura-arroz-do-ceu
Guiao de-leitura-arroz-do-ceu
 
Ficha formativa_ Chez le docteur
Ficha formativa_ Chez le docteurFicha formativa_ Chez le docteur
Ficha formativa_ Chez le docteur
 
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando PessoaPoema Liberdade, de Fernando Pessoa
Poema Liberdade, de Fernando Pessoa
 

Destaque

Banda Desenhada
Banda DesenhadaBanda Desenhada
Banda Desenhadamaryefe
 
Opinião do conto "Mestre Finezas"
Opinião do conto "Mestre Finezas"Opinião do conto "Mestre Finezas"
Opinião do conto "Mestre Finezas"franciscaf
 
Mestre finezas autor
Mestre finezas autorMestre finezas autor
Mestre finezas autorTatiana Cruz
 
Como escrever artigos de opinião
Como escrever artigos de opiniãoComo escrever artigos de opinião
Como escrever artigos de opiniãoCícero Nogueira
 
Textos de opinião dos alunos 9.ºano
Textos de opinião dos alunos 9.ºanoTextos de opinião dos alunos 9.ºano
Textos de opinião dos alunos 9.ºanobecastanheiradepera
 
História de uma gaivota e do gato
História de  uma  gaivota  e do gatoHistória de  uma  gaivota  e do gato
História de uma gaivota e do gatoBiblioteca Escolar
 
Introdução texto poético
Introdução texto poéticoIntrodução texto poético
Introdução texto poéticoarmindaalmeida
 
O velho, o rapaz e o burro expresso
O velho, o rapaz e o burro expressoO velho, o rapaz e o burro expresso
O velho, o rapaz e o burro expressoSílvia Bastos
 

Destaque (11)

Categorias Narrativa
Categorias NarrativaCategorias Narrativa
Categorias Narrativa
 
Banda Desenhada
Banda DesenhadaBanda Desenhada
Banda Desenhada
 
Comics
ComicsComics
Comics
 
Opinião do conto "Mestre Finezas"
Opinião do conto "Mestre Finezas"Opinião do conto "Mestre Finezas"
Opinião do conto "Mestre Finezas"
 
Mestre finezas autor
Mestre finezas autorMestre finezas autor
Mestre finezas autor
 
Como escrever artigos de opinião
Como escrever artigos de opiniãoComo escrever artigos de opinião
Como escrever artigos de opinião
 
Textos de opinião dos alunos 9.ºano
Textos de opinião dos alunos 9.ºanoTextos de opinião dos alunos 9.ºano
Textos de opinião dos alunos 9.ºano
 
História de uma gaivota e do gato
História de  uma  gaivota  e do gatoHistória de  uma  gaivota  e do gato
História de uma gaivota e do gato
 
Introdução texto poético
Introdução texto poéticoIntrodução texto poético
Introdução texto poético
 
O velho, o rapaz e o burro expresso
O velho, o rapaz e o burro expressoO velho, o rapaz e o burro expresso
O velho, o rapaz e o burro expresso
 
Texto de opinião
Texto de opiniãoTexto de opinião
Texto de opinião
 

Semelhante a Texto "Mestre Finezas" de Manuel da Fonseca

Poemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de SousaPoemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de SousaJosiane Amaral
 
Identificar livros e autores
Identificar livros e autoresIdentificar livros e autores
Identificar livros e autoresSandra Alves
 
Quintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloQuintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloPatrizia Ercole
 
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptMODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptRildeniceSantos
 
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitciAs preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitciSá Editora
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoAELPB
 
Um rouxinol cantou... (a nightingale sang) barbara cartland-www.livros grat...
Um rouxinol cantou... (a nightingale sang)   barbara cartland-www.livros grat...Um rouxinol cantou... (a nightingale sang)   barbara cartland-www.livros grat...
Um rouxinol cantou... (a nightingale sang) barbara cartland-www.livros grat...blackink55
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3crepalmela
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anogracatremoco45
 

Semelhante a Texto "Mestre Finezas" de Manuel da Fonseca (20)

Mestre-Finezas.pdf
Mestre-Finezas.pdfMestre-Finezas.pdf
Mestre-Finezas.pdf
 
Quase um retrato
Quase um retratoQuase um retrato
Quase um retrato
 
Daniel
DanielDaniel
Daniel
 
Poemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de SousaPoemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de Sousa
 
Retalhos vivos
Retalhos vivosRetalhos vivos
Retalhos vivos
 
Noites brancas
Noites brancasNoites brancas
Noites brancas
 
Identificar livros e autores
Identificar livros e autoresIdentificar livros e autores
Identificar livros e autores
 
Quintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloQuintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapallo
 
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptMODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
 
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitciAs preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
 
Noite profunda
Noite profundaNoite profunda
Noite profunda
 
Noite profunda
Noite profundaNoite profunda
Noite profunda
 
Nas sombras
Nas sombrasNas sombras
Nas sombras
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
Forro
ForroForro
Forro
 
Um rouxinol cantou... (a nightingale sang) barbara cartland-www.livros grat...
Um rouxinol cantou... (a nightingale sang)   barbara cartland-www.livros grat...Um rouxinol cantou... (a nightingale sang)   barbara cartland-www.livros grat...
Um rouxinol cantou... (a nightingale sang) barbara cartland-www.livros grat...
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3
 
Caderno poemas português
Caderno poemas portuguêsCaderno poemas português
Caderno poemas português
 
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anosIEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 

Mais de franciscaf

Tabela periódica
Tabela periódicaTabela periódica
Tabela periódicafranciscaf
 
4º desafio-problema
4º desafio-problema4º desafio-problema
4º desafio-problemafranciscaf
 
Texto de apoio
Texto de apoioTexto de apoio
Texto de apoiofranciscaf
 
Revolução do 25 de abril
Revolução do 25 de abrilRevolução do 25 de abril
Revolução do 25 de abrilfranciscaf
 
Résumé de la mer
Résumé de la merRésumé de la mer
Résumé de la merfranciscaf
 
Passei o dia ouvindo o que o mar dizia
Passei o dia ouvindo o que o mar diziaPassei o dia ouvindo o que o mar dizia
Passei o dia ouvindo o que o mar diziafranciscaf
 
Roteiro de reflexão
Roteiro de reflexãoRoteiro de reflexão
Roteiro de reflexãofranciscaf
 
Ginástica acrobática
Ginástica acrobáticaGinástica acrobática
Ginástica acrobáticafranciscaf
 
Evolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicosEvolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicosfranciscaf
 
Texto sobre a morte de inês de castro
Texto sobre a morte de inês de castroTexto sobre a morte de inês de castro
Texto sobre a morte de inês de castrofranciscaf
 
Inova - grupo 4
Inova - grupo 4Inova - grupo 4
Inova - grupo 4franciscaf
 
Natação e mini voleibol
Natação e mini voleibolNatação e mini voleibol
Natação e mini voleibolfranciscaf
 
Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"
Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"
Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"franciscaf
 
Perguntas sobre a biodiversidade
Perguntas sobre a biodiversidadePerguntas sobre a biodiversidade
Perguntas sobre a biodiversidadefranciscaf
 
Perda da biodiversidade
Perda da biodiversidadePerda da biodiversidade
Perda da biodiversidadefranciscaf
 
Informações sobre a perda da biodiversidade
Informações sobre a perda da biodiversidadeInformações sobre a perda da biodiversidade
Informações sobre a perda da biodiversidadefranciscaf
 

Mais de franciscaf (20)

"La Mer"
"La Mer""La Mer"
"La Mer"
 
Tabela periódica
Tabela periódicaTabela periódica
Tabela periódica
 
4º desafio-problema
4º desafio-problema4º desafio-problema
4º desafio-problema
 
Texto de apoio
Texto de apoioTexto de apoio
Texto de apoio
 
Revolução do 25 de abril
Revolução do 25 de abrilRevolução do 25 de abril
Revolução do 25 de abril
 
Résumé de la mer
Résumé de la merRésumé de la mer
Résumé de la mer
 
Passei o dia ouvindo o que o mar dizia
Passei o dia ouvindo o que o mar diziaPassei o dia ouvindo o que o mar dizia
Passei o dia ouvindo o que o mar dizia
 
Roteiro de reflexão
Roteiro de reflexãoRoteiro de reflexão
Roteiro de reflexão
 
Ginástica acrobática
Ginástica acrobáticaGinástica acrobática
Ginástica acrobática
 
Evolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicosEvolução dos modelos atómicos
Evolução dos modelos atómicos
 
Guião
GuiãoGuião
Guião
 
Texto sobre a morte de inês de castro
Texto sobre a morte de inês de castroTexto sobre a morte de inês de castro
Texto sobre a morte de inês de castro
 
Inova - grupo 4
Inova - grupo 4Inova - grupo 4
Inova - grupo 4
 
Inova
InovaInova
Inova
 
Natação e mini voleibol
Natação e mini voleibolNatação e mini voleibol
Natação e mini voleibol
 
Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"
Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"
Reflexão "Depois do 9º ano que opções?"
 
Estado novo
Estado novoEstado novo
Estado novo
 
Perguntas sobre a biodiversidade
Perguntas sobre a biodiversidadePerguntas sobre a biodiversidade
Perguntas sobre a biodiversidade
 
Perda da biodiversidade
Perda da biodiversidadePerda da biodiversidade
Perda da biodiversidade
 
Informações sobre a perda da biodiversidade
Informações sobre a perda da biodiversidadeInformações sobre a perda da biodiversidade
Informações sobre a perda da biodiversidade
 

Último

migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosLucianoPrado15
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxLeonardoGabriel65
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxMarcosLemes28
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecniCleidianeCarvalhoPer
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*Viviane Moreiras
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptssuser2b53fe
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptTexto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptjricardo76
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...HELENO FAVACHO
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUAO PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUAJulianeMelo17
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfHELENO FAVACHO
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioDomingasMariaRomao
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasSocorro Machado
 

Último (20)

migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecni
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptTexto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUAO PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
 

Texto "Mestre Finezas" de Manuel da Fonseca

  • 1. 1 Mestre Finezas Agora entro, sento-me de perna cruzada, puxo um cigarro, e à pergunta de sempre respondo soprando o fumo: – Só a barba. Ora é de há pouco este meu à-vontade diante de mestre Ilídio Finezas. Lembro-me muito bem de como tudo se passava. Minha mãe tinha que fingir-se zangada. Eu saía de casa, rente à parede, sentindo que aquilo era pior que ir para a escola. Mestre Finezas puxava um banquinho para o meio da loja e enrolava-me numa enorme toalha. Só me ficava a cabeça de fora. Como o tempo corria devagar! A tesoura tinia e cortava junto das minhas orelhas. Eu não podia mexer-me, não podia bocejar sequer. –Está quieto, menino – repetia mestre Finezas segurando-me a cabeça entre as pontas duras dos dedos: –Assim, quieto! – Os pedacitos de cabelo, espalhados pelo pescoço, pela cara, faziam comichão e não me era permitido coçar. Por entre as madeixas caídas para os olhos via-lhe, no espelho, as pernas esguias, o carão severo de magro, o corpo alto curvado. Via-lhe os braços compridos, arqueados como duas garras sobre a minha cabeça. Lembrava uma aranha. E eu – sumido na toalha, tolhido numa posição tão incómoda que todo o corpo me doía – era para ali uma pobre criatura indefesa nas mãos de mestre Ilídio Finezas. Nesse tempo tinha-lhe medo. Medo e admiração. O medo resultava do que acabo de contar. A admiração vinha das récitas dos amadores dramáticos da vila. Era pelo inverno. Jantávamos à pressa e nessas noites minha mãe penteava-me com cuidado. Calçava uns sapatos rebrilhantes e umas peúgas de seda que me enregelavam os pés. Saíamos. E, no negrume da noite que afogava as ruas da vila, eu conhecia pela voz famílias que caminhavam na nossa frente e outras que vinham para trás. Depois, ao entrar no teatro, sentia-me perplexo no meio de tanta luz e gente silenciosa. Mas todos pareciam corados de satisfação. Daí a pouco, entrava num mundo diferente. Que coisas estranhas aconteciam! Ninguém ali falava como eu ouvia cá fora. E mesmo quando calados tinham outro aspeto, constantemente a mexerem os braços. Mestre Finezas era o que mais se destacava. E nunca, que me recorde, o pano desceu, no último ato, com mestre Finezas ainda vivo. Quase sempre morria quando a cortina principiava a descer e, na plateia, as senhoras soluçavam alto. Aquelas desgraças aconteciam-lhe porque era justo e tomava, de gosto, o partido dos fracos. E, para que os fracos vencessem, mestre Finezas não tinha medo de nada nem de ninguém. Heroicamente, de peito aberto e com grandes falas, ia ao encontro da morte. Eu arrepiava-me todo. Uma noite mestre Finezas morreu logo no primeiro ato. Foi um desapontamento. Todos criticaram pelo corredor, no intervalo. – O melhor artista morrer mal
  • 2. 2 entra em cena... ! Não está certo! Agora vamos gramar quatro atos só com canastrões! – dizia o doutor delegado a meu pai. Mas a cena tinha sido tão viva e a sua morte tão notada durante o resto do espetáculo que, no outro dia, me surpreendi ao vê-lo caminhando em direção à loja. Ora havia também um outro motivo para a minha admiração. Era o violino. Mestre Finezas, quando não tinha fregueses, o que era frequente durante a maior parte do dia, tocava violino. E muita vez aconteceu eu abandonar os companheiros e os jogos e quedar-me, suspenso, a ouvi-lo, de longe. Era bem bonito. Uma melodia suave saía da loja e enchia a vila de tristeza. Passaram anos. Um dia, parti para os estudos. Voltei homem. Mestre Finezas é ainda a mesma figura alta e seca. Somente, tem os cabelos todos brancos. – Olha bem para mim – pede-me às vezes – olha bem e diz lá se este é o mesmo homem que tu conheceste? ... Finjo-me admirado de uma tal pergunta. Procuro convencê-lo de que sim, de que ainda é. Compreende as minhas mentiras e abana docemente a cabeça: –Estou um velho, Carlinhos... Vou lá de vez em quando. A loja está sempre deserta. As mãos muito trémulas de mestre Finezas mal seguram agora a navalha. E também abriram, na vila, outras barbearias cheias de espelhos e vidrinhos, e letreiros sobre as portas, a substituírem aquela bola com um penacho que mestre Finezas ainda hoje tem à entrada da loja. Mestre Finezas passa necessidades. Vive abandonado da família, com a mulher entrevada, num casebre próximo do castelo. Eu sou o seu único confidente e um dos raros fregueses. Algo de comum nos aproximou. Ilídio Finezas sonhou ser um grande artista, ir para a capital, e quem sabe se pelo mundo fora. Eu falhei um curso e arrasto, por aqui, uma vida de marasmo e ociosidade. Há entre mim e esta gente da vila uma indiferença que não consigo vencer. O meu desejo é partir breve. Mas não vejo como. E, quando o presente é feio e o futuro incerto, o passado vem-nos sempre à ideia como o tempo em que fomos felizes. Daí eu ser o confidente de mestre Finezas. Ele ajuda as minhas recordações, contando-me dos dias a que chama da sua glória. Estamos sozinhos na loja. De navalha em punho, mestre Finezas declama cenas inteiras dos «melhores dramas que ainda se escreveram». E há nele uma saudade tão grande das noites em que fazia soluçar de amor e mágoa as senhoras da vila que, amiúde, esquece tudo o que o cerca e fica, longo tempo, parado. Os seus olhos ganham um brilho metálico. Fixos, olham-me mas não me veem. Estão a ver para lá de mim, através do tempo. Lentamente, aflora-lhe aos lábios, premidos e brancos, um sorriso doloroso. – Eu fui o maior artista destas redondezas... – murmura. Na cadeira, com a cara ensaboada, eu revivo a infância e sonho o futuro. Mestre Finezas já nem sonha; recorda só. E, de novo, a sua mão treme junto da minha cara. No espelho, vejo-lhe o busto mirrado, os cabelos escorridos e brancos. Oiço-lhe a voz desencantada: – A navalha magoa-te? Uma onda de ternura por aquele velho amolece-me. Dá-me vontade de lhe dizer que não, que a navalha não magoa e nem sequer a sinto. O que magoa é ver a presença da morte alastrando pelas paredes escuras da loja, escorrendo dos papéis caídos do teto, envolvendo-o cada vez mais, dobrando-lhe o corpo para o chão…
  • 3. 3 Mas mestre Finezas parece nada disto sentir. Salta de um assunto para outro com facilidade. Preciso de tomar atenção para lhe seguir o fio do pensamento. Agora faz-me queixas da vila. E termina como sempre: – Esta gente não pensa noutra coisa que não seja o negócio, a lavoura. Para eles, é a única razão da vida… Volto a cabeça e olho-o. Sei o que vai dizer-me. Vai falar-me do abandono a que o votaram. Vai falar-me do teatro, da música, da poesia. Vai repetir-me que a arte é a mais bela coisa da vida. Mas não. Já nos entendemos só pelo olhar. Mestre Finezas salta por cima de tudo isto e ergue a navalha num lance teatral: – Que sabem eles da arte? Tu que estudaste, tu sabes o que é a arte. Eles hão de morrer sem nunca terem gozado os mais belos momentos que a vida pode dar. Atravessou a loja, abriu um armário cavado na parede, e tirou o violino. – Eu não te disse nada, Carlinhos… mas, olha, tenho vendido tudo para não morrer de fome... Tudo. Mas isto!... Estendeu o violino na minha direção e continuou reprimindo um soluço: – Isto nem que eu morra!... É a minha última recordação... Calou-se por muito tempo com os olhos no chão. Depois, de boca muito descerrada, disse-me como quem pede uma esmola: – Tu queres ouvir uma música que eu tocava muito, Carlinhos?... – Quero... – respondi, forçando um sorriso de agrado. Nem me ouviu. Estava, ao meio da loja, entre mim e a porta, e prendia o violino no queixo. O arco roçou pelas cordas e um murmúrio lento começou, no silêncio que vinha das ruas da vila e enchia a casa. Lentamente, o fio de música ia engrossando. Era agora mais forte – agudo, desamparado como um choro aflito. E demorava, ondeava por longe, vinha e penetrava-me de uma sensação dolorosa. Levantei-me, de toalha caída no peito, cara ensaboada, preso não sei de que vagos desgostosos pensamentos. Talvez pensasse em fugir, pedir-lhe que não tocasse mais aquela música desafinada e triste. Mas, na minha frente, mestre Finezas, alheio a tudo, fazia gemer o seu violino, as suas recordações. O sol da meia tarde entrava pela porta e aureolava-o de uma luz trémula. E erguia o corpo como levado na toada que os seus dedos desfiavam; ficava nos bicos dos pés, todo jogado para o teto. De súbito, uma revoada de notas soltaram-se, desencontradas, raivosas. Encheram a loja, e ficaram vibrando… Os braços caíram-lhe para os lados do corpo. Numa das mãos segurava o arco, na outra o violino. E, muito esguio, macilento, mestre Finezas curvou a cabeça branca, devagar, como a agradecer os aplausos de um público invisível. in Aldeia Nova, de Manuel da Fonseca