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QUEM AMA INVENTA




                          CHI AMA INVENTA 
                           la poesia di Mario Quintana
       incontro con il traduttore Pierino Bonifazio che ha pubblicato il libro
“Quem ama inventa” Liberodiscrivere® edizioni edizione bilingue Portoghese e Italiano
                   letture a cura degli allievi del Laboratorio teatrale
                          dell'Accademia Culturale di Rapallo
                                diretto da Patrizia Ercole
N o S i l ê n c i o T e r r í v e l / Nel Silenzio Terribile



No silêncio terrível do Cosmos
Há de ficar uma última lâmpada acesa.
Mas tão baça
Tão pobre
Que eu procurarei, às cegas, por entre os papéis revoltos,
Pelo fundo dos armários,
Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas ratazanas,
O pequeno crucifixo de prata
– O pequenino, o milagroso crucifixo de prata que tu
                                  [ me deste um dia
Preso a uma fita preta.
E por ele os meus lábios convulsos chorarão
Viciosos do divino contato da prata fria…
Da prata clara, silenciosa, divinamente fria – morta!
E então a derradeira luz se apagará de todo…
V i r a ç ã o / Svolta




Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma
vontade de rasgar        velhas cartas, velhos poemas, velhas
contas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por
dentro… Vontade... para       que   esse   pudor   de   certas
palavras?… vontade de amar,
simplesmente.
E n v e l h e c e r / Invecchiare



Antes, todos os caminhos iam.

Agora, todos os caminhos vêm.

A casa é acolhedora, os livros poucos.

E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
D o T e m p o / Il Tempo




Nunca se deve consultar o relógio perto de um defunto. É uma
falta de tato, meu caro senhor… uma crueldade… uma
imperdoável indelicadeza…
O A n j o d a E s c a d a / L’Angelo della Scala




Na volta da escada,
Na volta escura da escada.
O Anjo disse o meu nome.
E o meu nome varou de lado a lado o meu peito.
E vinha um rumor distante de vozes clamando clamando…
Deixa–me!
Que tenho a ver com as tuas naus perdidas?
Deixa–me sozinho com os meus pássaros…
com os meus caminhos…
com as minhas nuvens…
A B o r b o l e t a / La Farfalla




Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama: “Olha uma
borboleta!”.
O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida,
murmura:
– Ah! sim, um lepidóptero...
D o A m o r o s o E s q u e c i m e n t o / Sul Dimenticare un Amore




Eu, agora – que desfecho! –,
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
D a I n d i f e r e n ç a / L’indifferenza


A indiferença é a mais refinada forma da polidez.
N a d a S o b r o u / Non resta niente


As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais
imprevistas aventuras,   podem ter visitado as terras mais
estranhas… Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não
basta apenas ser
vivida: também precisa ser sonhada.
O V e l h o d o E s p e l h o / Il Vecchio nello Specchio


Por acaso, surpreendo–me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto… é cada vez menos estranho…
Meu Deus, meu Deus… Parece
Meu velho pai – que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar – duro – interroga:
“O que fizeste de mim?!”
Eu, Pai ?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga…
Que importa?! Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra ! –
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste…
O A d o l e s c e n t e / L’ Adolescente

A vida é tão bela que chega a dar medo.

Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas

esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
o jovem felino seguir para a frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.

Medo que ofusca: luz!

Cumplicemente,
as folhas contam–te um segredo
velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova...
 A vida é nova e anda nua
– vestida apenas com o teu desejo!
O A u t o – R e t r a t o / L’Autoritratto


No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
T r e c h o d e D i á r i o / Frammento di diario


Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá.
Numa determinada pedra em certa rua de Calcutá.
Solta. Sozinha. Quem repara nela?
Só eu, que nunca fui lá,
Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento…
Minha pedra de Calcutá!
P o e m a s p a r a J u l i a n o o A p ó s t a t a / Poesia per Giuliano l’Apostata


No tempo dos deuses tudo
era simples como eles
e natural e humano
e eles reinavam no mundo.

Mas veio um deus usurpador e único e
tornou o mundo incompreensível porque
o seu reino não era deste mundo.

E até hoje ninguém soube porque então ele expulsou os outros deuses
e ficou reinando sozinho
e fez todos os homens pecarem
– coisa que eles jamais haviam feito antes –
porque pecar com inocência não é pecar…

E os homens conheceram o terror maravilhoso do pecado
– e assim o novo deus lhes trouxe uma volúpia nova.
P o e m a d a G a r e d e A s t a p o v o / Poesia della Stazione di Astapovo

O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou–se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,
Contra uma parede nua...
Sentou–se... e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê–lo tão sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A Morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!
B i l h e t e / Biglietto


Se tu me amas, ama–me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
R e f l e x o s , R e f l e x õ e s… / Riflessi, Reflessioni…

I

Quando a idade dos reflexos, rápidos, inconscientes, cede lugar à idade das
reflexões – terá sido a sabedoria que chegou? Não! Foi apenas a velhice.

II

Velhice é quando um dia as moças começam a nos tratar com respeito e os rapazes
sem respeito nenhum.

III
Ora, ora! não se preocupe com os anos que já faturou: a idade é o menor sintoma
de velhice.
O s P o e m a s / Le Poesie


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto
alimentam–se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
A s C i d a d e s P e q u e n a s / Le Città Piccole


As moças das cidades pequenas
com o seu sorriso e o estampado claro de seus vestidos
são a própria vida. Elas
é que alvorotam a praça. Por elas
é que os sinos festivamente batem, aos domingos.
Por elas, e não para a missa!… Mas Deus não se importa...


Afinal,
só nessas cidadezinhas humildes
é que ainda o chamam de Deus Nosso Senhor…
D e i x a – m e S e g u i r p a r a o M a r / Lasciami Continuare verso il Mare


Tenta esquecer–me... Ser lembrado é como
evocar–se um fantasma... Deixa–me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...

Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
me recamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim as crianças banhar–se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
as imagens perdendo no caminho...
Deixa–me fluir, passar, cantar...

toda a tristeza dos rios
é não poderem parar!
E u E s c r e v i u m P o e m a T r i s t e / Ho Scritto una Poesia Triste


Eu escrevi um poema triste
E belo apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
O s D e g r a u s / I Gradini


Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
A L e t r a e a M ú s i c a / Parole e Musica


Quando nos encontramos
Dizemo–nos sempre as mesmas palavras que todos os amantes dizem…
Mas que nos importa que as nossas palavras sejam as mesmas de sempre?


A música é outra!
THE ESSENTIAL JOYCE - 1970-1996
Joyce




Poeminha do Contra
Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!
(Foto: Liane Neves)
" Antes ser poeta era uma agravante, depois passou a ser uma atenuante, mas diante disto, vejo que ser poeta é agora uma credencial. " (Em 1967,
quando recebeu o título de "Cidadão Honorário de Porto Alegre")

(Foto: Liane Neves)
Viagem / Viaggio


O sono é uma viagem noturna:
o corpo – horizontal – no escuro
e no silêncio do trem, avança,
imperceptivelmente avança... Apenas
o relógio picota a passagem do tempo.
Sonha a alma deitada no seu ataúde:
lá longe
lá fora
no fundo do túnel,
há uma estação de chegada
(anunciam-na os galos agora)
há uma estação de chegada com a sua tabuleta ainda
toda orvalhada...
Há uma estação chamada...
AURORA!
Alma errada / Anima Sbagliata

Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há… e quem é que hoje faz questão de virgindades…
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até
que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…
A árvore dos poemas / L’albero delle poesie


Quando a árvore dos poemas não dá poemas,
Seus galhos se contorcem todos como mãos de enterrados vivos,
Os galhos desnudos, ressecos, sem o perdão de Deus!
E, depois, meu Deus, essa lenta procissão de almas retirantes…
De vez em quando uma tomba, exausta à beira do caminho,
Porque ninguém lhe chega ao lábio o frescor de cântaro,
a doçura de fruto que poderia haver num poema.
Maldita a geração sem poetas que deixa as almas seguirem
seguirem como animais em estupida migração!
Quando a árvore dos poemas não dá poemas,
Qual será o destino das almas?
Louca / Pazza


Súbito
Em meio àquele escuro quarteirão fabril
Das minhas mãos se escapou um pássaro maravilhoso
E eu te amei como quem solta um grito,
Ó Lua enorme
Incompreensível…
Por que sempre me espantas e me assustas, Louca,
Como se eu te visse sempre pela primeira vez?!
A Voz Subterrânea / La voce sotterranea


Às vezes ouvia-se um canto surdo,
que parecia vir debaixo da terra.
Até que os homens da superfície,
para desvendar o mistério,
puseram-se a fazer escavações.
Sim! eram os homens das minas
que um desabamento ali havia aprisionado.
E ninguém suspeitava da sua existência,
porque já haviam passado três ou quatro gerações!
Mas a luz forte das lanternas não os ofuscou:
eles estavam cegos
– todos, homens, mulheres, crianças.
         Eles estavam cegos… e cantavam!
INCORRIGÍVEL
O fantasma é um exibicionista póstumo.

INCORREGGIBILE
Il fantasma è un esibizionista postumo.


CARTAZ PARA UMA FEIRA DO LIVRO
Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.

MANIFESTO PER UNA FIERA DEL LIBRO
I veri analfabeti sono coloro che hanno imparato a leggere e non leggono.


A DIFERENÇA
O que eles chamam de nossos defeitos é o que nós temos de
diferente deles. Cultivemo-los, pois, com o maior carinho - esses nossos
defeitos.

LA DIFFERENZA
Quel che loro chiamano i nostri difetti è quello che noi abbiamo di diverso da
loro. Coltiviamoli, allora, col maggior affetto – questi nostri difetti.
Espantos / Sorprese


Neste mundo de tantos espantos,
cheio das mágicas de Deus,
o que existe de mais sobrenatural
        São os ateus…
 
Momento


O homem parou, cheio de dedos, para procurar os fósforos nos bolsos. A
insidiosa frescura do mar lhe mandou um pensamento suicida. E veio um
riso límpido, e irresistível – em i, em a, em o – do fundo de um pátio da
infância. Um riso... Senão quando o homem achou os fósforos e a vida
recomeçou. Apressada, implacável, urgente. A vida é cheia de pacotes...
EVOLUÇÃO / EVOLUZIONE
O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha
sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser o
nosso futuro.


O IMORTAL AMOR / L’AMORE IMMORTALE
Dante exagerou: Paolo e Francesca não poderiam sofrer tanto assim,
pois mesmo no Inferno continuavam juntos. Ou quem sabe se não
seria exatamente este o castigo? Eternamente juntos!
Fosse o mundo um paraíso...

- paraíso de verdade! -

morrerias sem saber

o que é felicidade...
O pintor Waldeny Elias atende à campainha de seu ateliê na Rua General Vitorino
e lá está Mario Quintana.
Viera agradecer pelo presente, “uma pintura de bolso”, de 6cm x 4cm. Levava-a,
contou com um sorriso português, “na algibeira do fato domingueiro”. Retribuiu
presenteando o velho amigo, a quem chamava de Pinta-Mundos, com o recém-
lançado livro Do Caderno H.
Na dedicatória, justificou por que não havia aceito um quadro grande que o pintor
lhe oferecera.
- Elias, me desculpe e acredite. Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes.
Confessional - A Vaca e o Hipogrifo



                         ...Eu fui um menino por tráz de uma vidraça - um menino de aquário.

Via o mundo passar como numa tela cinematográfica, mas que repetia sempre as mesmas cenas,

                                                                        as mesmas personagens.

Tudo tão chato que o desenrolar da rua acabava me parecendo apenas em preto-e-branco, como

                                                                      nos filmes daquele tempo.

  O colorido todo se refugiava, então, nas ilustrações dos meus livros de histórias, com seus reis

                                                  hieráticos e belos como os das cartas de jogar.

                                         E suas filhas nas torres altas — inacessíveis princesas.

          Com seus cavalos — uns verdadeiros príncipes na elegância e na riqueza dos jaezes.

                                                   Seus bravos pajens (eu queria ser um deles...)

                                                                              Porém, sobrevivi...

   E aqui, do lado de fora, neste mundo em que vivo, como tudo é diferente! Tudo, ó menino do

                                                       aquário, é muito diferente do teu sonho...

                                                   (Só os cavalos conservam a natural nobreza).
A Poesia é necessária. A Vaca e o Hipogrifo

Título de uma antiga seção do velho Braga na Manchete. Pois eu vou mais longe ainda

do que ele. Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que saiam maus. É

preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum. O exercício da

arte poética é sempre um esforço de auto-superação e, assim, o refinamento do estilo

acaba trazendo a melhoria da alma.

E, mesmo para os simples leitores de poemas, que são todos eles uns poetas inéditos, a

poesia é a única novidade possível. Pois tudo já está nas enciclopédias, que só repetem

estupidamente, como robôs, o que lhes foi incutido. Ou embutido.

Ah, mas um poema, um poema é outra coisa…
Viração

Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar

velhas cartas, velhos poemas, velhas contas recebidas. Vontade de mudar

de camisa, por fora e por dentro… Vontade . . . para que esse pudor de

certas palavras?… vontade de amar, simplesmente.
O Poema


Um poema como um gole dágua bebido no escuro.
Como um pobre animal palpitando ferido.
Como pequenina moeda de prata perdida para sempre
                                      [ na floresta noturna.
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa
                                      [ condição de poema.
Triste.
Solitário.
Único.
Ferido de mortal beleza.
XII Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
 A mágica presença das estrelas !
Eu Queria Trazer-te uns Versos Muito Lindos

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim…
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que teria que fechar teus olhos para as ouvir…
Sim ! uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel.
Trago-te palavras, apenas… e que estão escritas
do lado de fora do papel… Não sei, eu nunca soube
o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia…
como
uma pobre lanterna que incendiou!
Bilhete com Endereço

Mas onde já se ouviu falar
Num amor à distância,
Num tele-amor?!
Num amor de longe…
Eu sonho é um amor pertinho
Um amor juntinho…
E, depois,
Esse calor humano é uma coisa
Que todos – até os executivos – têm.
É algo que acaba se perdendo no ar,
No vento
No frio que agora faz…
Escuta!
O que eu quero,
O que eu amo,
O que desejo em ti

È teu calor animal!…
Elegia

Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas…
Uma velhinha sozinha numa gare.
Um sapato preto perdido do seu par: símbolo
Da mais absoluta viuvez.
As recordações das solteironas.
Essas gravatas
De um mau gosto tocante
Que nos dão as velhas tias.
As velhas tias.
Um novo parente que se descobre.
A palavra “quincúncio”.
Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões
                                           [ mais impróprias.
Um cachorro anônimo que resolve ir seguindo a gente
                  [ pela madrugada na cidade deserta.
Este poema, este pobre poema
Sem fim…
Viver

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
   e voar...
        cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!
Quem Ama Inventa
Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressureições...
Um ritmo divino? Oh! simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! Meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes tu o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!
O Estranho Caso
de Mister WONG
Além do controlado Dr. Jekyll e do desrecalcado Mister Hyde, há também um chinês
dentro de nós: Mister Wong. Nem bom, nem mau: gratuito. Entremos, por exemplo,
neste teatro. Tomemos este camarote. Pois bem, enquanto o Dr. Jekyll, muito
compenetrado, é todo ouvidos, e Mister Hyde arrisca um olho e a alma no decote da
senhora vizinha, o nosso Mister Wong, descansadamente, põe-se a contar carecas na
platéia… Outros exemplos? Procure-os o senhor em si mesmo, agora mesmo. Não
perca tempo. Cultive o seu Mister Wong!
XIX Dos Milagres

O milagre não é dar vida ao corpo extinto,

Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...

 Nem mudar água pura em vinho tinto...

    Milagre é acreditarem nisso tudo!
A Grande Surpresa Caderno H

Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo...
Invitation au Voyage


Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
– vós que viajais inertes
como defuntos num caixão –
Se cada um de vós abrisse um livro de poemas…
Faria uma verdadeira viagem…
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo mesmo!
– inclusive o amor e outras novidades.
Cocktail Party

                              Para Elena Quintana
Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza criminosa dos que, em vez de se matarem,
                                               [ fazem poemas:
Estou triste porque vocês são burros e feios
E não morrem nunca…
Minha alma assenta-se no cordão da calçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a vermelhão.
E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!
Mas como são belos os filmes coloridos!
(Ainda mais os de assuntos bíblicos…)
Desce o crepúscolo
E, quando a primeira estrelinha ia refletir-se em todas as
                                           [ poças d’água,
Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!
Amizade
                        Quando o silêncio a dois não se torna incômodo.




                                             Amor
                          Quando o silêncio a dois se torna cômodo.
                                            Imagem
  Haverá ainda, no mundo, coisas tão simples e tão puras como a água bebida na concha das mãos?
                                      Que Será de Mim?
Com essa leitura dinâmica, decerto nem chegarão a me enxergar... Que sobrará de mim – eu que
 só escrevo para os que gostam de ler nas entrelinhas? Que escrevo, como bem sabem os meus
                  fregueses, apenas para os gulosos, e jamais para os glutões.
Porto Alegre
O Mapa

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(É nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...
O Que o Vento Não Levou

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Con una frase Quintana riesce a riassumere il male di vivere dell’uomo contemporaneo:
                   tutta la tristezza dei fiumi sta nel non potersi fermare.
     La poesia di Quintana è invece fatta di immagini in volo e pensieri illuminanti, che
spingono a fermarsi per riflettere, per contemplare i microcosmi della natura, per prendere
il tempo di ascoltare e rivolgersi all’Altro: Volevo portarti dei versi molto belli… Ti porto
           invece queste mani vuote che stan prendendo la forma del tuo seno.
                                        Claudio Pozzani
QUEM AMA INVENTA




      CHI AMA INVENTA
   la poesia di Mario Quintana
QUEM AMA INVENTA




      CHI AMA INVENTA
   la poesia di Mario Quintana
Nada Sobrou
As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas
aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas… Nada lhes
ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida:
também precisa ser sonhada.
Este Quarto / Questa stanza

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa esse quarto, em que
desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.

Pois o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...

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Quintana 08 03_2013_rapallo

  • 1. QUEM AMA INVENTA CHI AMA INVENTA  la poesia di Mario Quintana incontro con il traduttore Pierino Bonifazio che ha pubblicato il libro “Quem ama inventa” Liberodiscrivere® edizioni edizione bilingue Portoghese e Italiano letture a cura degli allievi del Laboratorio teatrale dell'Accademia Culturale di Rapallo diretto da Patrizia Ercole
  • 2.
  • 3. N o S i l ê n c i o T e r r í v e l / Nel Silenzio Terribile No silêncio terrível do Cosmos Há de ficar uma última lâmpada acesa. Mas tão baça Tão pobre Que eu procurarei, às cegas, por entre os papéis revoltos, Pelo fundo dos armários, Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas ratazanas, O pequeno crucifixo de prata – O pequenino, o milagroso crucifixo de prata que tu [ me deste um dia Preso a uma fita preta. E por ele os meus lábios convulsos chorarão Viciosos do divino contato da prata fria… Da prata clara, silenciosa, divinamente fria – morta! E então a derradeira luz se apagará de todo…
  • 4. V i r a ç ã o / Svolta Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas contas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro… Vontade... para que esse pudor de certas palavras?… vontade de amar, simplesmente.
  • 5. E n v e l h e c e r / Invecchiare Antes, todos os caminhos iam. Agora, todos os caminhos vêm. A casa é acolhedora, os livros poucos. E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
  • 6. D o T e m p o / Il Tempo Nunca se deve consultar o relógio perto de um defunto. É uma falta de tato, meu caro senhor… uma crueldade… uma imperdoável indelicadeza…
  • 7. O A n j o d a E s c a d a / L’Angelo della Scala Na volta da escada, Na volta escura da escada. O Anjo disse o meu nome. E o meu nome varou de lado a lado o meu peito. E vinha um rumor distante de vozes clamando clamando… Deixa–me! Que tenho a ver com as tuas naus perdidas? Deixa–me sozinho com os meus pássaros… com os meus caminhos… com as minhas nuvens…
  • 8. A B o r b o l e t a / La Farfalla Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama: “Olha uma borboleta!”. O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: – Ah! sim, um lepidóptero...
  • 9. D o A m o r o s o E s q u e c i m e n t o / Sul Dimenticare un Amore Eu, agora – que desfecho! –, Já nem penso mais em ti... Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci?
  • 10. D a I n d i f e r e n ç a / L’indifferenza A indiferença é a mais refinada forma da polidez.
  • 11. N a d a S o b r o u / Non resta niente As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas… Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.
  • 12. O V e l h o d o E s p e l h o / Il Vecchio nello Specchio Por acaso, surpreendo–me no espelho: quem é esse Que me olha e é tão mais velho do que eu? Porém, seu rosto… é cada vez menos estranho… Meu Deus, meu Deus… Parece Meu velho pai – que já morreu! Como pude ficarmos assim? Nosso olhar – duro – interroga: “O que fizeste de mim?!” Eu, Pai ?! Tu é que me invadiste, Lentamente, ruga a ruga… Que importa?! Eu sou, ainda, Aquele mesmo menino teimoso de sempre E os teus planos enfim lá se foram por terra. Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra ! – Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste…
  • 13. O A d o l e s c e n t e / L’ Adolescente A vida é tão bela que chega a dar medo. Não o medo que paralisa e gela, estátua súbita, mas esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz o jovem felino seguir para a frente farejando o vento ao sair, a primeira vez, da gruta. Medo que ofusca: luz! Cumplicemente, as folhas contam–te um segredo velho como o mundo: Adolescente, olha! A vida é nova... A vida é nova e anda nua – vestida apenas com o teu desejo!
  • 14. O A u t o – R e t r a t o / L’Autoritratto No retrato que me faço – traço a traço – às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco – pouco a pouco – minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco!
  • 15. T r e c h o d e D i á r i o / Frammento di diario Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra em certa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá, Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento… Minha pedra de Calcutá!
  • 16. P o e m a s p a r a J u l i a n o o A p ó s t a t a / Poesia per Giuliano l’Apostata No tempo dos deuses tudo era simples como eles e natural e humano e eles reinavam no mundo. Mas veio um deus usurpador e único e tornou o mundo incompreensível porque o seu reino não era deste mundo. E até hoje ninguém soube porque então ele expulsou os outros deuses e ficou reinando sozinho e fez todos os homens pecarem – coisa que eles jamais haviam feito antes – porque pecar com inocência não é pecar… E os homens conheceram o terror maravilhoso do pecado – e assim o novo deus lhes trouxe uma volúpia nova.
  • 17. P o e m a d a G a r e d e A s t a p o v o / Poesia della Stazione di Astapovo O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos E foi morrer na gare de Astapovo! Com certeza sentou–se a um velho banco, Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo, Contra uma parede nua... Sentou–se... e sorriu amargamente Pensando que Em toda a sua vida Apenas restava de seu a Glória, Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas Coloridas Nas mãos esclerosadas de um caduco! E então a Morte, Ao vê–lo tão sozinho àquela hora Na estação deserta, Julgou que ele estivesse ali à sua espera, Quando apenas sentara para descansar um pouco! A Morte chegou na sua antiga locomotiva (Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...) Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho, E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu... Ele fugiu de casa... Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade... Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!
  • 18. B i l h e t e / Biglietto Se tu me amas, ama–me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
  • 19. R e f l e x o s , R e f l e x õ e s… / Riflessi, Reflessioni… I Quando a idade dos reflexos, rápidos, inconscientes, cede lugar à idade das reflexões – terá sido a sabedoria que chegou? Não! Foi apenas a velhice. II Velhice é quando um dia as moças começam a nos tratar com respeito e os rapazes sem respeito nenhum. III Ora, ora! não se preocupe com os anos que já faturou: a idade é o menor sintoma de velhice.
  • 20. O s P o e m a s / Le Poesie Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam–se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...
  • 21. A s C i d a d e s P e q u e n a s / Le Città Piccole As moças das cidades pequenas com o seu sorriso e o estampado claro de seus vestidos são a própria vida. Elas é que alvorotam a praça. Por elas é que os sinos festivamente batem, aos domingos. Por elas, e não para a missa!… Mas Deus não se importa... Afinal, só nessas cidadezinhas humildes é que ainda o chamam de Deus Nosso Senhor…
  • 22. D e i x a – m e S e g u i r p a r a o M a r / Lasciami Continuare verso il Mare Tenta esquecer–me... Ser lembrado é como evocar–se um fantasma... Deixa–me ser o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo... Em vão, em minhas margens cantarão as horas, me recamarei de estrelas como um manto real, me bordarei de nuvens e de asas, às vezes virão em mim as crianças banhar–se... Um espelho não guarda as coisas refletidas! E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, as imagens perdendo no caminho... Deixa–me fluir, passar, cantar... toda a tristeza dos rios é não poderem parar!
  • 23. E u E s c r e v i u m P o e m a T r i s t e / Ho Scritto una Poesia Triste Eu escrevi um poema triste E belo apenas da sua tristeza. Não vem de ti essa tristeza Mas das mudanças do tempo, Que ora nos traz esperanças Ora nos dá incerteza… Nem importa, ao velho tempo, Que sejas fiel ou infiel… Eu fico, junto à correnteza, Olhando as horas tão breves… E das cartas que me escreves Faço barcos de papel!
  • 24. O s D e g r a u s / I Gradini Não desças os degraus do sonho Para não despertar os monstros. Não subas aos sótãos – onde Os deuses, por trás das suas máscaras, Ocultam o próprio enigma. Não desças, não subas, fica. O mistério está é na tua vida! E é um sonho louco este nosso mundo...
  • 25. A L e t r a e a M ú s i c a / Parole e Musica Quando nos encontramos Dizemo–nos sempre as mesmas palavras que todos os amantes dizem… Mas que nos importa que as nossas palavras sejam as mesmas de sempre? A música é outra!
  • 26. THE ESSENTIAL JOYCE - 1970-1996 Joyce Poeminha do Contra Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão... eu passarinho!
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  • 38. " Antes ser poeta era uma agravante, depois passou a ser uma atenuante, mas diante disto, vejo que ser poeta é agora uma credencial. " (Em 1967, quando recebeu o título de "Cidadão Honorário de Porto Alegre") (Foto: Liane Neves)
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  • 41. Viagem / Viaggio O sono é uma viagem noturna: o corpo – horizontal – no escuro e no silêncio do trem, avança, imperceptivelmente avança... Apenas o relógio picota a passagem do tempo. Sonha a alma deitada no seu ataúde: lá longe lá fora no fundo do túnel, há uma estação de chegada (anunciam-na os galos agora) há uma estação de chegada com a sua tabuleta ainda toda orvalhada... Há uma estação chamada... AURORA!
  • 42. Alma errada / Anima Sbagliata Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite: assistir novelas de TV ouvir música Pop um filme apenas de corridas de automóvel uma corrida de automóvel num filme um livro de páginas ligadas porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo: espátulas não há… e quem é que hoje faz questão de virgindades… E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones fugir desesperada me deixará aqui, ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem, comendo o que todos comem. A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo). E ligarei o rádio a todo o volume, gritarei como um possesso nas partidas de futebol, seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército. E apenas sentirei, uma vez que outra, a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…
  • 43. A árvore dos poemas / L’albero delle poesie Quando a árvore dos poemas não dá poemas, Seus galhos se contorcem todos como mãos de enterrados vivos, Os galhos desnudos, ressecos, sem o perdão de Deus! E, depois, meu Deus, essa lenta procissão de almas retirantes… De vez em quando uma tomba, exausta à beira do caminho, Porque ninguém lhe chega ao lábio o frescor de cântaro, a doçura de fruto que poderia haver num poema. Maldita a geração sem poetas que deixa as almas seguirem seguirem como animais em estupida migração! Quando a árvore dos poemas não dá poemas, Qual será o destino das almas?
  • 44. Louca / Pazza Súbito Em meio àquele escuro quarteirão fabril Das minhas mãos se escapou um pássaro maravilhoso E eu te amei como quem solta um grito, Ó Lua enorme Incompreensível… Por que sempre me espantas e me assustas, Louca, Como se eu te visse sempre pela primeira vez?!
  • 45. A Voz Subterrânea / La voce sotterranea Às vezes ouvia-se um canto surdo, que parecia vir debaixo da terra. Até que os homens da superfície, para desvendar o mistério, puseram-se a fazer escavações. Sim! eram os homens das minas que um desabamento ali havia aprisionado. E ninguém suspeitava da sua existência, porque já haviam passado três ou quatro gerações! Mas a luz forte das lanternas não os ofuscou: eles estavam cegos – todos, homens, mulheres, crianças. Eles estavam cegos… e cantavam!
  • 46. INCORRIGÍVEL O fantasma é um exibicionista póstumo. INCORREGGIBILE Il fantasma è un esibizionista postumo. CARTAZ PARA UMA FEIRA DO LIVRO Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem. MANIFESTO PER UNA FIERA DEL LIBRO I veri analfabeti sono coloro che hanno imparato a leggere e non leggono. A DIFERENÇA O que eles chamam de nossos defeitos é o que nós temos de diferente deles. Cultivemo-los, pois, com o maior carinho - esses nossos defeitos. LA DIFFERENZA Quel che loro chiamano i nostri difetti è quello che noi abbiamo di diverso da loro. Coltiviamoli, allora, col maggior affetto – questi nostri difetti.
  • 47. Espantos / Sorprese Neste mundo de tantos espantos, cheio das mágicas de Deus, o que existe de mais sobrenatural São os ateus…  
  • 48. Momento O homem parou, cheio de dedos, para procurar os fósforos nos bolsos. A insidiosa frescura do mar lhe mandou um pensamento suicida. E veio um riso límpido, e irresistível – em i, em a, em o – do fundo de um pátio da infância. Um riso... Senão quando o homem achou os fósforos e a vida recomeçou. Apressada, implacável, urgente. A vida é cheia de pacotes...
  • 49. EVOLUÇÃO / EVOLUZIONE O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser o nosso futuro. O IMORTAL AMOR / L’AMORE IMMORTALE Dante exagerou: Paolo e Francesca não poderiam sofrer tanto assim, pois mesmo no Inferno continuavam juntos. Ou quem sabe se não seria exatamente este o castigo? Eternamente juntos!
  • 50. Fosse o mundo um paraíso... - paraíso de verdade! - morrerias sem saber o que é felicidade...
  • 51. O pintor Waldeny Elias atende à campainha de seu ateliê na Rua General Vitorino e lá está Mario Quintana. Viera agradecer pelo presente, “uma pintura de bolso”, de 6cm x 4cm. Levava-a, contou com um sorriso português, “na algibeira do fato domingueiro”. Retribuiu presenteando o velho amigo, a quem chamava de Pinta-Mundos, com o recém- lançado livro Do Caderno H. Na dedicatória, justificou por que não havia aceito um quadro grande que o pintor lhe oferecera. - Elias, me desculpe e acredite. Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes.
  • 52. Confessional - A Vaca e o Hipogrifo ...Eu fui um menino por tráz de uma vidraça - um menino de aquário. Via o mundo passar como numa tela cinematográfica, mas que repetia sempre as mesmas cenas, as mesmas personagens. Tudo tão chato que o desenrolar da rua acabava me parecendo apenas em preto-e-branco, como nos filmes daquele tempo. O colorido todo se refugiava, então, nas ilustrações dos meus livros de histórias, com seus reis hieráticos e belos como os das cartas de jogar. E suas filhas nas torres altas — inacessíveis princesas. Com seus cavalos — uns verdadeiros príncipes na elegância e na riqueza dos jaezes. Seus bravos pajens (eu queria ser um deles...) Porém, sobrevivi... E aqui, do lado de fora, neste mundo em que vivo, como tudo é diferente! Tudo, ó menino do aquário, é muito diferente do teu sonho... (Só os cavalos conservam a natural nobreza).
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  • 54. A Poesia é necessária. A Vaca e o Hipogrifo Título de uma antiga seção do velho Braga na Manchete. Pois eu vou mais longe ainda do que ele. Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que saiam maus. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum. O exercício da arte poética é sempre um esforço de auto-superação e, assim, o refinamento do estilo acaba trazendo a melhoria da alma. E, mesmo para os simples leitores de poemas, que são todos eles uns poetas inéditos, a poesia é a única novidade possível. Pois tudo já está nas enciclopédias, que só repetem estupidamente, como robôs, o que lhes foi incutido. Ou embutido. Ah, mas um poema, um poema é outra coisa…
  • 55. Viração Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas contas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro… Vontade . . . para que esse pudor de certas palavras?… vontade de amar, simplesmente.
  • 56. O Poema Um poema como um gole dágua bebido no escuro. Como um pobre animal palpitando ferido. Como pequenina moeda de prata perdida para sempre [ na floresta noturna. Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa [ condição de poema. Triste. Solitário. Único. Ferido de mortal beleza.
  • 57. XII Das Utopias Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora A mágica presença das estrelas !
  • 58. Eu Queria Trazer-te uns Versos Muito Lindos Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim… Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que teria que fechar teus olhos para as ouvir… Sim ! uma luz que viria de dentro delas, como essa que acende inesperadas cores nas lanternas chinesas de papel. Trago-te palavras, apenas… e que estão escritas do lado de fora do papel… Não sei, eu nunca soube o que dizer-te e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento da Poesia… como uma pobre lanterna que incendiou!
  • 59. Bilhete com Endereço Mas onde já se ouviu falar Num amor à distância, Num tele-amor?! Num amor de longe… Eu sonho é um amor pertinho Um amor juntinho… E, depois, Esse calor humano é uma coisa Que todos – até os executivos – têm. É algo que acaba se perdendo no ar, No vento No frio que agora faz… Escuta! O que eu quero, O que eu amo, O que desejo em ti È teu calor animal!…
  • 60. Elegia Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas… Uma velhinha sozinha numa gare. Um sapato preto perdido do seu par: símbolo Da mais absoluta viuvez. As recordações das solteironas. Essas gravatas De um mau gosto tocante Que nos dão as velhas tias. As velhas tias. Um novo parente que se descobre. A palavra “quincúncio”. Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões [ mais impróprias. Um cachorro anônimo que resolve ir seguindo a gente [ pela madrugada na cidade deserta. Este poema, este pobre poema Sem fim…
  • 61. Viver Quem nunca quis morrer Não sabe o que é viver Não sabe que viver é abrir uma janela E pássaros pássaros sairão por ela E hipocampos fosforescentes Medusas translúcidas Radiadas Estrelas-do-mar... Ah, Viver é sair de repente Do fundo do mar E voar... e voar... cada vez para mais alto Como depois de se morrer!
  • 62. Quem Ama Inventa Quem ama inventa as coisas a que ama... Talvez chegaste quando eu te sonhava. Então de súbito acendeu-se a chama! Era a brasa dormida que acordava... E era um revôo sobre a ruinaria, No ar atônito bimbalhavam sinos, Tangidos por uns anjos peregrinos Cujo dom é fazer ressureições... Um ritmo divino? Oh! simplesmente O palpitar de nossos corações Batendo juntos e festivamente, Ou sozinhos, num ritmo tristonho... Ó! Meu pobre, meu grande amor distante, Nem sabes tu o bem que faz à gente Haver sonhado... e ter vivido o sonho!
  • 63.
  • 64. O Estranho Caso de Mister WONG Além do controlado Dr. Jekyll e do desrecalcado Mister Hyde, há também um chinês dentro de nós: Mister Wong. Nem bom, nem mau: gratuito. Entremos, por exemplo, neste teatro. Tomemos este camarote. Pois bem, enquanto o Dr. Jekyll, muito compenetrado, é todo ouvidos, e Mister Hyde arrisca um olho e a alma no decote da senhora vizinha, o nosso Mister Wong, descansadamente, põe-se a contar carecas na platéia… Outros exemplos? Procure-os o senhor em si mesmo, agora mesmo. Não perca tempo. Cultive o seu Mister Wong!
  • 65. XIX Dos Milagres O milagre não é dar vida ao corpo extinto, Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo... Nem mudar água pura em vinho tinto... Milagre é acreditarem nisso tudo!
  • 66. A Grande Surpresa Caderno H Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo...
  • 67. Invitation au Voyage Se cada um de vós, ó vós outros da televisão – vós que viajais inertes como defuntos num caixão – Se cada um de vós abrisse um livro de poemas… Faria uma verdadeira viagem… Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo mesmo! – inclusive o amor e outras novidades.
  • 68. Cocktail Party Para Elena Quintana Não tenho vergonha de dizer que estou triste, Não dessa tristeza criminosa dos que, em vez de se matarem, [ fazem poemas: Estou triste porque vocês são burros e feios E não morrem nunca… Minha alma assenta-se no cordão da calçada E chora, Olhando as poças barrentas que a chuva deixou. Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores. Na minha cara há um vasto sorriso pintado a vermelhão. E trocamos brindes, Acreditamos em tudo o que vem nos jornais. Somos democratas e escravocratas. Nossas almas? Sei lá! Mas como são belos os filmes coloridos! (Ainda mais os de assuntos bíblicos…) Desce o crepúscolo E, quando a primeira estrelinha ia refletir-se em todas as [ poças d’água, Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!
  • 69. Amizade Quando o silêncio a dois não se torna incômodo. Amor Quando o silêncio a dois se torna cômodo. Imagem Haverá ainda, no mundo, coisas tão simples e tão puras como a água bebida na concha das mãos? Que Será de Mim? Com essa leitura dinâmica, decerto nem chegarão a me enxergar... Que sobrará de mim – eu que só escrevo para os que gostam de ler nas entrelinhas? Que escrevo, como bem sabem os meus fregueses, apenas para os gulosos, e jamais para os glutões.
  • 71.
  • 72.
  • 73.
  • 74. O Mapa Olho o mapa da cidade Como quem examinasse A anatomia de um corpo... (É nem que fosse o meu corpo!) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei... Há tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei (E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...) Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) E talvez de meu repouso...
  • 75. O Que o Vento Não Levou No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo um carinho no momento preciso o folhear de um livro de poemas o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
  • 76. Con una frase Quintana riesce a riassumere il male di vivere dell’uomo contemporaneo: tutta la tristezza dei fiumi sta nel non potersi fermare. La poesia di Quintana è invece fatta di immagini in volo e pensieri illuminanti, che spingono a fermarsi per riflettere, per contemplare i microcosmi della natura, per prendere il tempo di ascoltare e rivolgersi all’Altro: Volevo portarti dei versi molto belli… Ti porto invece queste mani vuote che stan prendendo la forma del tuo seno. Claudio Pozzani
  • 77.
  • 78.
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  • 80. QUEM AMA INVENTA CHI AMA INVENTA la poesia di Mario Quintana
  • 81.
  • 82. QUEM AMA INVENTA CHI AMA INVENTA la poesia di Mario Quintana
  • 83.
  • 84.
  • 85. Nada Sobrou As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas… Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.
  • 86. Este Quarto / Questa stanza Este quarto de enfermo, tão deserto de tudo, pois nem livros eu já leio e a própria vida eu a deixei no meio como um romance que ficasse aberto... que me importa esse quarto, em que desperto como se despertasse em quarto alheio? Eu olho é o céu! imensamente perto, o céu que me descansa como um seio. Pois o céu é que está perto, sim, tão perto e tão amigo que parece um grande olhar azul pousado em mim. A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim...