O documento discute a felicidade de três perspectivas: 1) a felicidade não é um objeto que se pode ter, mas sim um processo de autoconhecimento; 2) a busca da felicidade envolve os outros através da ética e relacionamentos como amizade e amor; 3) ao longo da história, concepções da felicidade mudaram, especialmente com as transformações culturais recentes.
2. A felicidade
O desejo de felicidade é comum a todos os seres
humanos. Mas, o que é a felicidade?
A felicidade não é uma dádiva. Ela se encontra naquilo que
o ser humano faz de si mesmo, que podemos chamar de
“experiência de ser”. É um certo caminho, um processo,
e não simplesmente um
objeto que se possa ter
ou comprar.
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Família celebra cantando
e tocando juntos.
Capítulo 6 – A felicidade
3. A felicidade
Algumas características da felicidade: o sentimento de
satisfação deriva do prazer e da alegria, o que não exclui
a vivência de frustrações; a autonomia da decisão, como
a capacidade de agir de acordo com nossos próprios
projetos de vida; e a reflexão, porque o uso da liberdade
pressupõe a reflexão sobre os projetos que dão sentido à
própria vida.
A busca da felicidade tem em vista o bem viver e o saber
viver. Como isso envolve os nossos semelhantes, que
podem ser afetados por nossas escolhas de felicidade,
entramos no campo da ética e das escolhas morais. Por
dizer respeito ao outro, a felicidade vem acompanhada das
ideias de amizade, amor e erotismo.
Capítulo 6 – A felicidade
4. Tipos de amor
A definição de amor é bastante complexa, assim como
a pluralidade de formas com que esse sentimento pode
ser expressado. Destacamos três tipos de amor:
• Filia: termo grego para “amizade”; essa forma de amor
é generosidade, desprendimento e reciprocidade.
• Ágape: amor fraterno, a benevolência universal; esse tipo
de amor não envolve a reciprocidade ou a retribuição.
• Eros: amor desejante, a paixão amorosa, que envolve
exclusividade e reciprocidade.
Capítulo 6 – A felicidade
5. Em O banquete, Platão
apresenta dois mitos
sobre a origem do amor:
Aristófanes explora a
ideia de amor como
fusão, completude
(representado pelo
encontro de nossa “cara-
-metade”); Sócrates
expressa a ideia de amor
como carência, desejo
do que não temos.
Tipos de amor
Eros representado como cupido,
o anjo armado de arco e flechas
para acertar os corações.
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Capítulo 6 – A felicidade
6. Corpo e alma
A tradição filosófica, durante séculos, explicou o ser humano
como composto de duas partes diferentes: o corpo (material)
e a alma (espiritual e consciente).
• Para Platão, o corpo seria a prisão da alma.
• Na filosofia cristã medieval o corpo traz o risco das paixões
descontroladas e do pecado.
• Na filosofia moderna continua a separação entre alma e corpo:
o dualismo cartesiano.
• Apenas com Freud e Nietzsche, no século XIX, inicia-se um
novo processo pelo qual é recusada a noção de superioridade
da consciência sobre o corpo.
• A concepção fenomenológica passou a não mais identificar
o corpo simplesmente como um objeto da fisiologia: “eu sou
o meu corpo e não apenas tenho um corpo”. Nesse
sentido, a sexualidade humana não é apenas biológica, mas diz
respeito às dimensões eróticas e psicológicas de um ser inteiro.
Capítulo 6 – A felicidade
7. Mutações de comportamento
O modo como as pessoas se relacionam entre si e a própria
ideia de felicidade mudaram ao longo da história, mas nunca
com a intensidade das últimas décadas do século XX, em
função da intensificação da vida urbana e da entrada na era
da informática e da comunicação.
Transformações culturais liberais x movimentos
tradicionalistas:
• Repercussão nos padrões de comportamento em nível mundial e
alteração da configuração das relações amorosas e das
expectativas em torno do que é ser feliz.
Características do mundo atual que podem constituir obstáculos
à felicidade: individualismo, hedonismo, narcisismo,
corpolatria, consumismo.
Capítulo 6 – A felicidade
8. Mutações de comportamento
Muitos veem as mudanças com pessimismo, enquanto outros
com bons olhos, por considerá-las inevitáveis. Cabe a nós
identificar quando existem riscos de massificação em prejuízo
de nossa autonomia ou de individualismo exacerbado que
impeça a individualidade responsável.
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Crianças jogam
videogames em
Gironde, na França,
em 2012.
Capítulo 6 – A felicidade