DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
Educação estética e interiorização de conceitos
1. INTERIORIZANDO NOVOS CONCEITOS
Cabral, Luciene Gomes Pimenta
Resumo
Este trabalho é fruto da reflexão da leitura do texto Educação Estética e Pedagogia da Escolha
de Rogério de Almeida e Alberto Filipe Araújo, proposto na disciplina de "Sensibilidade na
ação pedagógica". O artigo propõe a discussão e reflexão da educação estética a partir das
experiências vividas e, para tanto, conceitua termos muitofalados, mas nem sempre tão claros.
A partir da leitura do texto, que transita por diversos autores, clássicos e contemporâneos, e na
atividade em sala de aula que oportunizou à turma uma vivência prática sobre a educação
estética, procuro descrever como foi vivenciar esta experiência.
Palavras chave: Experiência, Experiência estética, Sensibilidade
INTRODUÇÃO
Muito se fala sobre educação, mas quando se pensa sobre o tema, muitas das vezes
seguimos para um pensamento prático, palpável, da sala de aula, dos alunos, dos professores,
do currículo, do material didático, enfim aquilo que encontramos na nossa prática diária. Não
é de imediato que o nosso pensamento se direciona para o sensível, para o que não pode ser
tocado, mas nem por isso é menos real.
DESENVOLVIMENTO
A leitura do texto me levou a algumas inquietações e a clara percepção que meus
conhecimentos sobre o tema são muito rasos e que é necessário aprofundá-los para buscar
compreender, com alguma propriedade, os conceitos nele trazidos. Fui então em busca de
algum aprofundamento conceitual que trouxesse mais compreensão sobre as ideias discutidas
pelos autores.
Com relação a filosofia da educação, encontrei em Severino (2006) que
[...] “esta tem como preocupação e estudo as condições reais da educação, tais como
se desenham a cada momento histórico, e o recurso às referências históricas só se
justifica quando se precisa estabelecer algumas balizas contextuais ou quando se
trata de evidenciar a historicidade das manifestações lógico-conceituais do
pensamento humano”.
Na busca desses aprofundamentos, sobre a filosofia trágica, encontrei em Almeida
(2015) que
“O trágico pode então ser entendido como uma manifestação, uma postura, uma
atitude, uma visão do mundo, um sentimento, uma situação que, a despeito das
2. múltiplas possibilidades de expressão, como se constata ao longo do tempo, tem
como exigência a afirmação da vida, a despeito de toda negatividade que a
existência possa contrapor. Assim, diante do pior da existência, uma alegria de viver
gratuita, sem sentido e sem objetivos”.
E finalmente sobre educação estética encontrei um pensamento muito rico e profundo
de Kietzer (2008), que destaco aqui
“A educação é uma ação planetária desenvolvida pelos humanos para os humanos,
com a finalidade de perpetuar as experiências que proporcionam bem estar,
felicidade e prazer. Nesse contexto, o belo, o bom e o prazeroso se caracterizam
como metas a serem alcançadas e se mostram como focos que são compartilhados
entre os membros do grupo. A transformação da sociedade só pode ser feita por
meio de ideias, porém não basta a mudança, mas também sua perpetuação. Para
tanto, se faz necessária a educação de indivíduos que perpassam pela estética, pela
contemplação do belo, só dessa forma será possível o surgimento do homem ideal,
como aquele que supera as necessidades primordiais da natureza e amplia-se por
meio de uma cultura que revele a beleza. A razão aliada à sensibilidade seria o ideal
para a transformação de uma sociedade que valoriza a vida planetária e não apenas a
vida humana.
Estes conceitos não se encerram nestes pequenos parágrafos, mas nos coloca em um
ponto de partida para melhor compreender o que nos é trazido pelos autores propostos para a
atividade.
Estes autores nos chamam a atenção para a importância do homem mergulhar em si
mesmo, olhar para dentro com profundidade, descolado da mesmice do dia a dia, da repetição
sem reflexão, das ações sem sentido e desprovidas de quaisquer sentimentos que o afastam da
sua essência.
Vê-se uma explosão de doenças neuronais entre elas o transtorno de déficit de atenção
com síndrome da hiperatividade (TDAH), o transtorno de personalidade limítrofe
(Borderline), Síndrome de Burnout, a Síndrome do Espectro Autista, entre outras tão
conhecidas. Uma sociedade onde há uma farmácia em cada esquina (quando não mais de
uma!) e pouquíssimas livrarias (em número cada vez menor…); onde se procura nas
prateleiras uma anestesia para as inquietações da alma.
E qual seria a solução para este problema que atinge tão profunda e avassaladoramente
a sociedade moderna? Almeida e Araújo (p. 94) refletem com profundidade sobre todos esses
conceitos até desembocarem na pedagogia da escolha, [...] pedagogia que não se dissocia de
uma visão trágica da existência, a qual se expressa pela afirmação incondicional da vida, por
meio da aprovação do nada, do acaso e da convenção [...]” já que esta está posta, a partir desta
corrente filosófica, mas que não se encerra nela mesma, muito pelo contrário incentiva o
caminhar para uma educação estética que “coloca as sensações, a sensibilidade e os sentidos
(em dupla acepção) no centro das ações pedagógicas”.
3. Os autores (p. 96) complementam que “Educar não se resume, ou não deveria se
resumir, à preparação para exercer uma função social ou cumprir um projeto de vida, pois a
profissão, o trabalho e a realização pessoal não prescindem da adesão à própria vida, o que
requer essa dimensão estética historicamente negligenciada [...]”.
CONCLUSÃO
Cursar a disciplina de Sensibilidades na ação pedagógica é uma oportunidade ímpar de
sairmos do lugar comum e ampliarmos nossos horizontes. Cada aula, cada texto, cada
experiência nos permite colocar mais um tijolinho neste desenvolvimento, alargando cada vez
mais o nosso olhar. E, expandidos como alma, para além do “real” acabaremos por
transbordar nos, encontrando o melhor de nós mesmos e incorporando na nossa prática essa
delicadeza, fazendo com que o contato com o outro seja sempre uma experiência rica e
transformadora. É um exercício engrandecedor.
Referências
ALMEIDA, Rogério de; ARAÚJO, Alberto Filipe. Educação Estética e pedagogia da escolha. In:
PILLOTTO, Silvia Sell Duarte; STRAPAZZON, Mirtes Antunes Locateli. Educação estética: a
pesquisa/experiência nos territórios das sensibilidades. volume 1. Joinville, SC. Ed. Univille, 2023.
(p. 81-102).
KIETZER, Roseli Moreira. Conceitos sobre a Educação Estética: Contribuições de Schiller e Piaget.
Linguagens - Revista de Letras, Artes e Comunicação, v. 1, n.2, p.158-169, mar. 2008. Disponível
em: <https.://bu.furb.br/ojs/index.php/linguagens/article/view/687>. Acesso em 20 ago. 2023.
ALMEIDA, Rogério de. O mundo, o homem e suas obras: Filosofia trágica, e pedagogia da
escolha. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/livredocencia/48/tde-15032016-143517/en.php>. Acesso
em: 20 ago 2023.
SEVERINO, Antônio Joaquim. A busca do sentido da formação humana; Tarefa da Filosofia da
Educação. Educação e pesquisa, v. 32, n. 03, p. 619-634, 2006. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/ep/a/rhVxLn4XhLWjYJKXB7grswG/abstract/?lang=pt> Acesso em: 20 ago
2023.