O documento discute a evolução do hipertexto desde sua criação por Theodore Nelson na década de 1960 até os dias atuais. Explica como o hipertexto permite a navegação não linear de informações e a construção flexível de significados pelos leitores. Também descreve como as tecnologias digitais atuais, incluindo o hipertexto, transformaram a produção e socialização do conhecimento.
2. O termo hipertexto foi criado por Theodore Nelson, na década de sessenta,
para denominar a forma de escrita/leitura não linear na informática, pelo
sistema “Xanadu”. Até então a ideia de hipertextualidade havia sido apenas
manifestada pelo matemático e físico Vannevar Bush através do dispositivo
“Memex”.
O hipertexto está relacionado à própria evolução da tecnologia
computacional quando a interação passa à interatividade, em que o
computador deixa de ser binário, rígido e centralizador, para oferecer ao
usuário interfaces interativas. O termo interativo já pertencia ao campo das
artes quando se propunha intervenção do/com apreciador, no entanto o
termo interatividade passa a se associar a sistemas da informática, por
fazer um contraponto à leitura/escrita das metanarrativas. O hipertexto
permite ao leitor decidir o rumo a seguir na sua viagem pela leitura,
tornando o tempo e o espaço, em relação à construção textual, flexível.
3. As tecnologias digitais vêm, a cada dia, transpondo os modos e processos de produção e
socialização de uma variada gama de saberes. Criar, transmitir, significar e armazenar estão
acontecendo como em nenhum outro momento da história. As formas digitais permitem que as
informações sejam criadas de maneira extremamente rápida e flexível, envolvendo praticamente
as diversas áreas do conhecimento sistematizado, bem como todo cotidiano.
O hipertexto permite “ao usuário escolher seu próprio centro de investigação e caminhos a
serem seguidos na navegação”. O estudante pode construir a obra, recriar seus significados e
ligações mentais. “O autor apenas cria uma proposta de interação com o leitor”. O estudante
constrói os seus próprios ambientes utilizando recursos de multimídia, isto é, “ambientes de
aprendizado de cunho construtivista e sócio-interacionista”. Ele aprende, segundo Silva (2002, p.
16), “a ‘nova gramática dos meios audiovisuais’ – a multimídia e a hipermídia. Aprende novos
parâmetros de leitura e de conhecimento”. De acordo com Dias (2000), quando os alunos fazem
uso do hipertexto, buscando uma informação, eles “participam ativamente de um processo de
busca e construção do conhecimento”. Esta ferramenta é também um recurso interessante para
o próprio professor “organizar material de diferentes disciplinas ministradas simultaneamente ou
em ocasião anterior e mesmo para recompor colaborações preciosas entre diferentes turmas de
alunos”.
4. O ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita precisam levar em conta, atualmente, a
variedade dos modos de comunicação existentes, o que chamamos de multimodalidade. Nessa
nova perspectiva, que se opõe às abordagens educacionais ocidentais mais tradicionais, devem-
se considerar os modos de comunicação linguísticos – a escrita e a oralidade –, visuais –
imagens, fotografias –, ou gestuais – apontar o dedo, balançar a cabeça negativa ou
afirmativamente, por exemplo. Essa diversidade de modos de comunicação foi incorporada tanto
pelos meios de comunicação mais tradicionais, como livros e jornais, quanto pelos mais
modernos, como computadores, celulares, televisão, entre outros. Dessa forma, professores
precisam preocupar-se, atualmente, em ensinar não só as habilidades técnicas necessárias para
manusear os diferentes meios de comunicação, mas também o metaconhecimento que é
necessário para compreender, de maneira integrada e significativa, as diferentes mídias e seu
funcionamento. Isso já vem ocorrendo – e deverá ampliar-se cada vez mais – já a partir dos anos
iniciais de escolarização.
5. Todo texto carrega em si um projeto de inscrição, isto é, ele é
planejado, em diversas camadas modais (palavra, imagem,
diagramação, etc.) e sua materialidade ajuda a compô-lo,
instaurando uma existência, desde a origem, multimodal. Um
texto é o resultado de seleções, decisões e edições não apenas
de conteúdos, mas de formas de dizer. Há, neles, o produto da
costura de intenções, sentidos, linguagens e propiciamentos
tecnológicos. A ideia de que todo texto é multimodal está em
Kress e Van Leeuwen (1998).
Observar que a multimodalidade constitui todo texto é admitir uma
abordagem desse objeto em camadas, isto é, numa analogia com
a música, as modulações que constroem uma composição
musical podem funcionar como metáfora do que ocorre a um
texto.
6. As tecnologias da inteligência. O futuro dom pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
DIAS, A. M. P. Hipertexto – o labirinto eletrônico: uma experiência hipertextual, 2000. Tese de doutorado. Disponível
em: . Acessado em: 25/10/2009.
[ARTIGO] - Multimodalidade e Produção de Textos (RIBEIRO, A. E.)