2. CONCEITO
O conceito de política, no contexto da
modernidade, foi marcado pela dicotomia
esquerda-direita, e significava ação das
metanarrativas (ideologias totalizadoras). Estas,
estabeleciam amplos e distantes objetivos
relacionados com a revolução burguesa, ou com a
socialista, cada uma, a sua maneira, defendia o
progressivismo, que afirmava a possibilidade de se
mudar tudo para melhor. Foi neste contexto que o
parlamento, os partidos políticos e os sindicatos,
eram a expressão dos verdadeiros agentes da
política; a atuação era reduzida à classe ou a
outros determinismos fixos, e o Estado, uma mera
agência de classe.
3. PRÁTICA
Este tipo de política, estava de acordo
com um tempo espaço simples e
tradicional, no qual a natureza ou a
tradição ditavam as ordens e as metas, e
uma superestrutura corporativista e
político-partidária forjava as opções
políticas, nas quais os cidadãos eram
tratados como súditos.
4. Porém a emergência da condição pós-
moderna mais do que acentuar os problemas
desse contexto, colocou novos e complexos
problemas, os quais são a expressão de um tempo
espaço destradicionalizado e de
crescente "reflexividade social", que obriga os
indivíduos a um engajamento mais amplo com o
mundo, e a tomar o destino em suas próprias mãos.
Os problemas da pós-modernidade, são ricos,
variados, heterogêneos; dizem respeito às
condições de vida dos indivíduos; fogem da
dicotomia esquerda-direita e de suas ortodoxias, e
não podem ser resolvidos através de "políticas
redentoras" (Heller). No lugar destas políticas, e da
subordinação das vozes às mesmas, vem à tona o
poder da opinião pública, "muito mais próxima, por
sua própria flexibilidade e fragilidade, das
demandas sociais, do que as grandes máquinas
políticas seguras de si mesmas e do seu direito
histórico de representar as "massas""(Touraine).
5. Este entendimento e valorização da política na
pós-modernidade enquanto participação
coletiva na esfera pública, com a defesa da
legitimidade e autenticidade das vozes que por
longo tempo foram caladas sob os
macrodiscursos, é expressão do movimento de
desconstrução da razão iluminista; desacredita as
burocracias especializadas e seus representantes
políticos, colocando em xeque as categorias do
pensamento político clássico, principalmente o
partido (que não aborda os novos campos de
ação), e desideologiza o comportamento político.
6. A política pós-moderna, efetivada nas ações da
"política de vida", da "subpolítica", da
"antropolítica", ou das "micropolíticas", reconhece
a pluralidade constitutiva dos sujeitos sociais e
políticos, favorecendo o surgimento de novos
atores, os quais lutam pela cidadania de forma
fluída e dinâmica, possibilitados pelos grupos
e novos movimentos com uma estrutura decisória
descentralizada.
7. Ao contrário do que os políticos tradicionais
pensam, hoje todos estão, de alguma maneira,
positivamente (des)organizados, e desta posição
resultam as questões sobre como viver, ou como
diriam os existencialistas, sobre "como-estar-no-
mundo" das incertezas globais, e dos "riscos de
grande consequência”. As inovações e decisões
sobre o futuro não se originam na classe política,
mas sim nos grupos e movimentos da política
pós-moderna, e na melhor das hipóteses, mais
tarde os partidos apropriam-se e legislam sobre
as mesmas.