Apresentação em seminário no Simpósio Internacional de Filosofia, Teologia e Ciências da Religião na FAJE e PUC Minas em torno do tema da Secularização
Libertação da teologia frente à secularização em Juan Luis Segundo
1. A “libertação da
Teologia” em J.L.
Segundo, frente à
ambiguidade da
religião
Afonso Murad
Simpósio Internacional de Filosofia, Teologia
e Ciências da Religião – FAJE e PUC Minas
3. Dados biográficos
• Nasceu em Montevidéu, Uruguai em 1925
• Formado em Ciências Médicas.
• Em 1941 ingressa na Companhia de Jesus. Estuda
em seminários jesuítas na Argentina e na
Faculdade de Teologia na Bélgica (onde encontrou
Gustavo Gutiérrez).
• Ordenado em 1955.
• Entre 1958 e 1963 , fez o doutorado na Faculdade
de Letras da Sorbonne. Tese: "Berdiaeff, una
Reflexión cristiana sobre la persona".
4. Dados biográficos
• Volta ao Uruguai. Profere cursos de formação para
lideranças cristãs sobre questões políticas, sociais e
econômicas à luz da fé cristã, com outros pensadores.
• Um dos fundadores de Centro Pedro Fabro de Estudos
Sociais e teológicos em 1965 (fechado pelos militares nos
anos 70).
• Após o Concílio Vaticano II, organiza material didático
sobre temas fundamentais da fé cristã -> coleção
“Teologia Aberta para o leigo adulto”.
• Lecionou em vários países latino-americanos (Chile, Brasil,
Argentina) e nas universidades de Harvard, Chicago e
Birmingham.
• Obras traduzidas em francês, inglês, italiano e alemão.
• Faleceu em 1996.
5. Um homem com múltiplas influências
• Literatura
• Arte
• Filosofia existencialista
• Mestres da suspeita: Marx e Freud
• Teologia de Karl Rahner
• Visão evolutiva de Teillard de Chardin
• Teoria sistêmica a partir da Física e da biologia
(Gregory Bateson)
6. O contexto e os interlocutores
• Origem no Uruguai: país latino-americano, com
população de grande influência da ilustração
européia: ateísmo, espírito anticlerical, cultivo da
cultura plural.
• Pouca presença indígena e afrodescendente.
• Década de 70: sob regime militar.
• Interlocutores privilegiados: cristãos e militantes
políticos de setores médios, empenhados na luta
pela cidadania.
7. O duplo horizonte de Segundo
• Modernidade (1ª ilustração): subjetividade,
historicidade, espírito científico e
antropocentrismo.
• Libertação (2ª ilustração): prática social
transformadora.
-> Aqui reside a originalidade do teólogo.
8. O percurso teológico pelos livros
• Da sociedade à Teologia e Concepção Cristã do homem
(1970)
• Ação Pastoral latino-americana. Seus motivos ocultos
(1972).
• Coleção “Teologia aberta para o leigo adulto” (1970-
1977*): Igreja, Graça, Ideia de Deus, Sacramentos,
Evolução e culpa.
• Massas e minorias (1973).
• Libertação da Teologia (1978)
• O homem de Hoje diante de Jesus de Nazaré (3 vol),
1985.
• Teologia Aberta III (1984)
9. O percurso teológico pelos livros
• Teologia da Libertação. Resposta a Ratzinger
(1985).
• O dogma que liberta (1989).
• A história perdida e reencontrada de Jesus de
Nazaré (1991).
• Que homem, que mundo, que Deus? (1991).
• Outras obras posteriores.
15. Secularização
• Mudança cultural ampla, que modifica a relação
entre a religião e a sociedade.
• A religião, a tradição e autoridade já não
configuram de forma predominante os valores e
as normas na sociedade -> emancipação e
pluralismo.
• Questiona-se o uso social de símbolos religiosos.
• A batalha dos extremos: a laicidade do Estado x
interesses corporativos das religiões.
• Desenvolvem-se religiosidades deslocadas das
religiões ou em grande bricolagem.
16. Secularização na América Latina?
• Não. Proliferam o movimento pentecostal e
outras iniciativas religiosas devocionais e
mágicas. Apropriam-se de espaços midiáticos.
Promovem eventos massivos.
• Sim. Cresce nas sociedades urbanizadas.
Privatização da religião. Censo: aumento de
pessoas “sem religião” e de múltipla pertença.
• Sim e não. Intensificação da crença (subjetiva)
e indiferença religiosa coexistem em diferente
intensidade.
17. Onde estaria o núcleo da questão?
• Nas origens da Teologia da Libertação se
afirma que o problema não é o ateísmo
(negação da existência de Deus), mas sim a
idolatria (adoração aos deuses do sistema).
• Pessoas e grupos podem ser muito
“religiosas”, mas estarem distantes do Deus
libertador de Jesus Cristo.
• O acesso ao Deus da Vida se daria a partir da
ética (atuar na transformação social) e não no
âmbito do segrado.
18. Passos do Método da Libertação da
Teologia, conforme J.L. Segundo
1. Sensibilidade ética e compromisso social
2. Levantar suspeita sobre a infiltração
ideológica na doutrina cristã.
3. Voltar-se à Palavra de Deus e à Tradição
eclesial com novo olhar.
4. Reelaborar o discurso teológico.
19. Circulo Hermenêutico da libertação
da teologia
Postura
ética
Suspeita
Ciências
Humanas
Voltar a
Jesus
Reelaborar
20. A suspeita na base do método
• J.L. Segundo levanta a suspeita contra a religião
que se considera detentora do Absoluto e isenta
de qualquer elemento contingente e limitado ->
totalitarismo religioso. Quais suspeitas?
- Existencial: busca de segurança.
- Ideológica: a serviço das classes dominantes.
- Antropológico: mutilação do humano.
- Teológica: opõe às atitudes de Jesus.
Para que? Desideologizar a fé e resgatar sua missão
libertadora na história.
21. Teologia da Libertação
e libertação da Teologia
Onde se diferencia a abordagem de
Segundo, em relação aos outros
teólogos(as) da libertação?
22. Método clássico da Teologia da
Libertação
• Estar com os pobres, ouvir os apelos de Deus
nos seus gritos (Gutierrez).
• Compreender a realidade estrutural: porque a
pobreza existe e cresce? – Usar a Mediação
sócio-analítica (MAS).
• Reler a Biblia e a Tradição eclesial em
perspectiva social transformadora.
• Realizar ações individuais, comunitárias e
eclesiais em favor da justiça e da nova
sociedade.
23. Método da TdL
Ouvir os
clamores de
Deus nos
pobres
Analisar a
sociedade
Ciências Sociais
Ler
teologicamente
a realidade
Agir para mudar
24. Como se faz teologia?
Seu processo de elaboração conforme J.B. Libanio
Matéria
prima
Trabalho
pré-
teológico
Elaboração
teológica
Produto
final
26. A novidade da Teologia da libertação
consistiria em...
• Resgatar a sabedoria dos pobres, negada desde o início
da colonização.
• Tomar como “matéria prima” da teologia não somente os
conteúdos religiosos, mas a realidade social de opressão –
busca de libertação.
• Cultivar a espiritualidade encarnada: perceber os sinais e
as ausências de Deus na realidade social.
• Redescobrir a dimensão social da fé a partir de Bíblia.
• Utilizar as Ciências Sociais como mediação hermenêutica
pré-teológica.
• Estimular a formação de Igreja-comunidade.
• Favorecer o engajamento de cristãos em processos de
transformação social (práxis)
27. Outros teólogos de Libertação
• Ponto de partida: compromisso de
cristãos com a mudança da
sociedade.
• Ciências sociais como Mediação
hermenêutica pré-teológica.
• Introduz-se no pensar teológico a
prática transformadora.
• Igreja-comunidade CEBs e
pastorais.
• Teologia na/para/pela/da práxis.
• Crítica ao capitalismo e proposta de
nova sociedade.
• Redescobrem-se muitos elementos
bíblicos para a espiritualidade.
• Protagonistas: os pobres
• Ponto de partida:
compromisso com a
humanização.
• Ciências humanas como MH
pré-teológica
• Menos destaque à práxis e
acento na compreensão.
• Igreja-comunidade como sal
e luz, em diálogo.
• Crítica ao sistema com
categoria originais.
• Redescoberta bíblica
• Protagonistas: minorias
J.L. Segundo
28. Teologia em diálogo na sociedade
plural
• Caráter didático e pedagógico dos livros e
artigos de Juan Luis Segundo.
• Considera as questões existenciais e sociais
de seus interlocutores (modernidade e
libertação).
• Transita com conceitos de pensadores de
várias áreas do saber.
• Antecipa a “teologia pública”.
• O diálogo faz parte da elaboração teológica.
29. Conclusão aberta
• Tanto no conteúdo quanto no método, a
“libertação da teologia” de Juan Luis Segundo
dialoga com a sociedade secularizada.
• Ele não considera a religião como um
fenômeno tranquilo. Ao contrário!
• Segundo se foca no significado de Jesus para
homens e mulheres de hoje, a partir do
horizonte de valores, atitudes e práticas
sociais.
30. Fonte
• Artigo: A Teologia inquieta de Juan
Luis Segundo em Perspectiva
Teológica
http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/perspectiva/
article/viewFile/1189/1595
• Livro: Este cristianismo inquieto.
Loyola.
Afonso Murad: professor na FAJE, teólogo, escritor e ambientalista. Bolsista de
produtividade em pesquisa do CNPq.
Blog: afonsomurad.blogspot.com
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