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JEAN PIAGET
A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA
Tradução de Nathanael C. Caixeira
Paris. Presses Universitaires de France..
Introdução
Aproveitei, com prazer, a oportunidade de escrever este pequeno livro sobre Epistemologia Genética, de
modo a poder insistir na noção bem pouco admitida correntemente, mas que parece confirmada por
nossos trabalhos coletivos neste domínio: o conhecimento não poderia ser concebido como algo
predeterminado nas estruturas internas do indivíduo, pois que estas resultam de uma construção efetiva
e contínua, nem nos caracteres preexistentes do objeto, pois que estes só são conhecidos graças à
mediação necessária dessas estruturas; e estas estruturas os enriquecem e enquadram (pelo menos
situando-os no conjunto dos possíveis). Em outras palavras, todo conhecimento comporta um aspecto de
elaboração nova, e o grande problema da epistemologia é o de conciliar esta criação de novidades com
o duplo fato de que, no terreno formal, elas se acompanham de necessidade tão logo elaboradas e de
que, no plano do real, elas permitem (e são mesmo as únicas a permitir) a conquista da objetividade.
Este problema da construção de estruturas não pré-formadas é, de fato, já antigo, embora a maioria dos
epistemologistas permaneçam amarrados a hipóteses, sejam aprioristas (até mesmo com certos recuos
ao inatismo), sejam empiris
tas, que subordinam o conhecimento a formas situadas de antemão no indivíduo ou no objeto. Todas as
correntes dialéticas insistem na idéia de novidades e procuram o segredo delas em "ultrapassagens" que
transcenderiam incessantemente o jogo das teses e das antíteses. No domínio da história do
pensamento científico, o problema das mudanças de perspectiva e mesmo das "revoluções" nos
"paradigmas" (Kuhn) se impõe necessariamente, e L. Brunschvicg extraiu dele uma epistemologia do vir-
a-ser radical da razão. Adstrito às fronteiras mais especificamente psicológicas, J. M. Baldwim forneceu,
sob o nome de "lógica genética", pareceres penetrantes sobre a elaboração das estruturas cognitivas.
Poderiam ser citadas ainda diversas outras tentativas.
Mas, se a epistemologia genética voltou de novo à questão, é com o duplo intuito de constituir um
método capaz de oferecer os controles e, sobretudo, de retornar às fontes, portanto à gênese mesma
dos conhecimentos de que a episte mologia tradicional apenas conhece os estados superiores, isto é,
certas resultantes. O que se propõe a epistemologia genética é pois pôr a descoberto as raízes das
diversas variedades de conhecimento, desde as suas formas mais elementares, e se¢uir sua evolução
até os níveis seguintes, até, inclusive, o pensamento científico.
130
131
Mas, se esse gênero de análise comporta uma parte essencial de experimentação psicológica, de modo
algum significa, por essa razão, um esforço de pura psicologia. Os próprios psicólogos não se
enganaram a esse respeito, e numa citação que a .a nrerican Psychological Association teve a gentileza
de enviar ao autor destas linhas depara-se com esta passagem significativa: "Ele enfocou questões até
então exclusivamente filosóficas de um modo decididamente empírico, e constituiu a epistemologia como
uma ciência separada da filosofa mas ligada a todas as ciëncias humanas", sem esquecer. naturalmente,
a biologia. Em outros termos, a grande sociedade americana admitiu de bom grado que nossas trabalhos
revestiam-se de uma dimensão psicológica, mas a título de byproduct, como o esclarece ainda a citação,
e reconhecendo que a intenção, no caso, era essencialmente epistemológica.
Quanto à necessidade de recuar à gênese, como o indica o próprio termo "epistemologia genética",
convém dissipar desde logo um possível equívoco, que seria de certa gravidade se importasse em opor
a gênese às outras fases da elabo ração contínua dos conhecimentos. A grande lição contida no estudo
da gênese ou das gêneses é, pelo contrário, mostrar que não existem jamais conhecimentos absolutos.
Isto significa dizer, em outras palavras, seja que tudo é gênese, inclusive a elaboração de uma teoria
nova no estado atual das ciëncias, seja que a gênese recua indefinidamente, porque as fases
psicogenéticos mais elementares são, elas mesmas, precedidas de fases de algum modo
organogenéticas, etc. Afirmar a necessidade de recuar à gênese não significa de modo algum conceder
um privilégio a tal ou qual fase considerada primeira, absolutamente falando: é, pelo contrário, lembrar a
existência de uma construção indefinida e, sobretudo, insistir no fato de que, para compreender suas
razões e seu mecanismo, é preciso conhecer todas as suas fases, ou, pelo menos, o máximo possível.
Se fomos levados a insistir muito na questão dos começos do conhecimento, nos domínios da psicologia
da criança e da biologia, tal não se deve a que atribuamos a eles uma significação quase exclusiva:
deve-se simplesmente a que se trata de perspectivas em geral quase totalmente negligenciadas pelos
epistemologistas.
Todas as demais fontes científicas de informação permanecem pois necessárias, e o segundo aspecto
da epistemologia genética sobre o qual gostaríamos de insistir é sua natureza decididamente
interdisciplinar. O problema específico da epistemologia, expresso sob sua forma geral, é, com efeito, o
do aumento dos conhecimentos, isto é, da passagem de um conhecimento inferior ou mais pobre a um
saber mais rico (em compreensão e em extensão). Ora, como toda ciência está em permanente
transformação e não considera jamais seu estado como definitivo (com exceção de certas ilusões
históricas, como as do aristotelismo dos adversários de Galileu ou da física newtoniana para seus
continuadores), este problema genético, no sentido amplo, engloba também o do progresso de todo
conhecimento científico e apresenta duas dimensões: uma, respeitante às questões de fato (estado dos
conhecimentos em um nível determinado e passagem de um nível ao seguinte), e outra, acerca das
questões de validade (avaliação dos conhecimentos em termos de aprimoramento ou de regressão,
estrutura formal dos conhecimen
tos). É, portanto, evidente que, seja qual for a pesquisa em epistemologia genética, seja que se trate da
evolução de tal setor do conhecimento na criança ( número, velocidade, causalidade física, etc.) ou de tal
transformação num dos ramos correspondentes do pensamento científico, tal pesquisa pressupõe a
colaboração de especialistas em epistemologia da ciência considerada, psicólogos, historiadores das
ciências, lógicos, matemáticos, cultores da cibernética, lingüística, etc. Este tem sido sempre o método
de nosso Centro Internacional de Epistemologia Genética em Genebra, cuja atividade integral tem
consistido sempre de um trabalho de equipe. A obra que se segue é, portanto, sob muitos aspectos,
coletiva!
O objetivo deste opúsculo não é, todavia, contar a história desse Centro, nem mesmo resumir os
Estudos de Epistemologia Genética que surgiram graças a ele.' Nesses Estudos se encontram os
trabalhos realizados, bem como o sumário das discussões que tiveram lugar por ocasião de cada
Simpósio anual e que trataram das pesquisas em curso. O que nos propomos aqui é simplesmente pôr
em destaque as tendências gerais da epistemologia genética e expor os principais fatos que as
justificam. O plano de trabalho é portanto muito simples: análise dos dados psicogenéticos, em seguida
de seus antecedentes biológicos e, finalmente, retorno aos problemas epistemológicos clássicos.
Convém no entanto comentar este plano, pois os dois primeiros capítulos poderiam parecer inúteis.
No que diz respeito em particular à psicogênese dos conhecimentos (cap. I), muitas vezes a
descrevemos à maneira dos psicólogos. Mas os epistemologistas lêem apenas uns poucos trabalhos
psicológicos, o que é concebível, desde que não se destinam explicitamente a corresponder às suas
preocupações. Procuramos pois centrar nossa exposição unicamente nos fatos que se revestem de uma
significação epistemológica, e insistindo nesta última: trata-se, em conseqüëncia, de uma tentativa nova,
em parte, tanto mais que ela toma em onsideração um grande número de pesquisas ainda não
publicadas sobre a causa           e. Quanto às raízes biológicas do conhecimento (cap. II), não
modificamos muito nosso ponto de vista desde a publicação de Biologia e Conhecimento (Gallimard,
1967), mas, como pudemos substituir essas 430 páginas por menos de uma vintena, estamos certos de
ser perdoados por este novo apelo às fontes orgânicas, que era indispensável para justificar a
interpretação proposta pela epistemologia genética das relações entre o sujeito e os objetos.
Em poucas palavras se encontrará nestas páginas a exposição de uma epistemologia que é naturalista
sem ser positivista, que põe em evidência a atividade do sujeito sem ser idealista, que se apóia também
no objeto sem deixar de considerá lo como um limite (existente, portanto, independentemente de nós,
mas jamais completamente atingido) e que, sobretudo, vê no conhecimento uma elaboração contínua: é
este último aspecto da epistemologia genética que suscita mais problemas e são estes que se pretende
equacionar bem assim como discutir exaustivamente.
' Esta obra será citada sob o título geral Études com o número do volume em questào. (N. do A.)
133
CAPÍTULO I
A Formação dos Conhecimentos
(Psicogênese)
A vantagem que um estudo da evolução dos conhecimentos desde suas raízes apresenta (embora, no
momento, sem referëncias aos antecedentes biológicos) é oferecer uma resposta à questão mal
solucionada do sentido das tentativas cogni tivas iniciais. A se restringir às posições clássicas do
problema, não se pode, com efeito, senão indagar se toda informação cognitiva emana dos objetos e
vem de fora informar o sujeito, como o supunha o empirismo tradicional, ou, se, pelo contrário, o sujeito
está desde o início munido de estruturas endógenas que ele imporia aos objetos, conforme as diversas
variedades de apriorismo ou de inatismo. Não obstante, mesmo a multiplicar os matizes entre as
posições extremas (e a história das idéias mostrou o número dessas combinações possíveis), o postu-
lado comum das epistemologias conhecidas é supor que existem em todos os níveis um sujeito
conhecedor de seus poderes em graus diversos (mesmo que eles se reduzam à mera percepção dos
objetos), objetos existentes como tais aos olhos do sujeito (mesmo que eles se reduzam a "fenômenos"},
e, sobretudo, instrumentos de modificação ou de conquista (percepções ou conceitos), determinantes do
trajeto que conduz do sujeito aos objetos ou o inverso.
Ora, as primeiras lições da análise psicogenética parecem contradizer essas pressuposições. De uma
parte, o conhecimento não procede, em suas origens, nem de um sujeito consciente de si mesmo nem
de objetos já constituídos (do ponto de vista do sujeito) que a ele se imporiam. O conhecimento resultaria
de interações que se produzem a meio caminho entre os dois, dependendo, portanto, dos dois ao
mesmo tempo, mas em decorrência de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio entre formas
distintas. De outro lado, e, por conseguinte, se não há, no início, nem sujeito, no sentido epistemológico
do termo, nem objetos concebidos como tais, nem, sobretudo, instrumentos invariantes de troca, o
problema inicial do conhecimento será pois o de elaborar tais mediadores. A partir da zona de contato
entre o corpo próprio e as coisas eles se empenharão então sempre mais adiante nas duas direções
complementares do exterior e do interior, e é desta dupla construção progressiva que depende a
elaboração solidária do sujeito e dos objetos.
Com efeito, o instrumento de troca inicial não é a percepção, como os racionalistas demasiado
facilmente admitiram do empirismo, mas, antes, a própria ação em sua plasticidade muito maior. Sem
dúvida, as percepções desempenham
um papel essencial, mas elas dependem em parte da ação em seu conjunto, e certos mecanismos
perceptivos que se poderiam acreditar inatos ou muito primitivos (como o "efeito túnel" de Michotte) só se
constituem a certo nível da construção dos objetos. De modo geral, toda percepção chega a conferir
significações relativas à ação aos elementos percebidos (J. Bruner fala, nesse sentido, de "identifica-
ções", cf. Estudos, vol. VI, cap. I) e é pois da ação que convém partir. Distinguiremos a este respeito dois
períodos sucessivos: o das ações sensório-motoras anteriores a qualquer linguagem ou a toda
conceptualização representativa, e o das ações completadas por estas novas propriedades, a propósito
dos quais se coloca então o problema da tomada de consciência dos resultados, intenções e
mecanismos dos atos, isto é, de sua tradução em termos de pensamento conceptualizado.
I. Os níveis sensório-motores
No que diz respeito às ações sensório-motrizes, J. M. Baldwin mostrou, há muito, que o lactente não
manifesta qualquer índice de uma consciência de seu eu, nem de uma fronteira estável entre dados do
mundo interior e do universo externo, "adualismo" este que dura até o momento em que a construção
desse eu se torna possível em correspondência e em oposição com o dos outros. De nossa parte,
fizemos notar que o universo primitivo não comportaria objetos permanentes até uma época coincidente
com o interesse pela pessoa dos outros, sendo os primeiros objetos dotados de permanência
constituídos precisamente dessas personagens (resultados verificados com minúcia por Th. Gouin-
Décarie, em um estudo sobre a permanência dos objetos materiais e sobre seu sincronismo com as
"relações objetais", neste sentido freudiano do interesse por outrem). Em uma estrutura de realidade que
não comporte nem sujeitos nem objetos, evidentemente o único liame possível entre o que se tornará
mais tarde um sujeito e objetos é constituído por ações, mas ações de um tipo peculiar, cuja significação
epistemológica parece esclarecedora. Com efeito, tanto no terreno do espaço como no dos diversos
feixes perceptivos em construção, o lactente tudo relaciona a seu corpo como se ele fosse o centro do
mundo, mas um centro que a si mesmo ignora. Em outras palavras, a ação primitiva exibe
simultaneamente uma indiferenciação completa entre o subjetivo e o objetivo e uma centração
fundamental, embora radicalmente inconsciente, em razão de achar-se ligada a esta indiferenciação.
Qual poderia ser, no entanto, o laço entre esses dois aspectos? Se existe uma indiferenciação entre o
sujeito e o objeto ao ponto que o primeiro não se conhece nem mesmo como fonte de suas ações, por
que seriam elas centradas no corpo próprio ao passo que a atenção estaria fixada no exterior? O termo
"egocentrismo radical" de que nos valemos para designar esta centração pode, ao invés (malgrado
nossas precauções), parecer evocar um eu consciente (e é ainda mais o caso do "narcisismo" freudiano
ao passo que se trata de um narcisismo sem Narciso). De fato, a indiferenciação e a centração das
ações primitivas importam ambas em um terceiro aspecto que lhes é geral: elas ainda não estão
coordenadas entre si, e
134
135
constituem, cada uma, um pequeno todo isolável que liga diretamente o corpo próprio.ao objeto (sugar,
olhar, segurar, etc.). Daí decorre uma falta de diferenciação, pois o sujeito não se afirmará em seguida a
não ser coordenando livremente suas ações, e o objeto não se constituirá a não ser se sujeitando ou
resistindo às coordenações dos movimentos ou posições em um sistema coerente. Por outro lado, como
cada ação forma ainda um todo isolável, sua única referência comum e constante só pode ser o corpo
próprio, donde uma centração automática sobre ele, embora não desejada nem consciente.
Para verificar esta conexão entre a falta de coordenação das ações, a indiferenciaçào do sujeito e dos
objetos e a centraçào sobre o corpq próprio, basta lembrar o que se passa entre esse estado inicial e o
nível dos 18 aos 24 meses, início da função semiótica e da inteligência representativa. Neste intervalo de
um a dois anos realiza-se, de fato, mas ainda apenas no plano dos atos materiais, uma espécie de
revoluçào copérniciana que consiste em descentralizar as ações em relação ao corpo próprio, em
considerar este como objeto entre os demais num espaço que a todos contém e em associar as ações
dos objetos sob o efeito das coordenações de um sujeito que começa a se conhecer como fonte ou
mesmo senhor de seus movimentos. Com efeito (e é esta terceira novidade que acarreta as duas
outras), presencia-se, em primeiro lugar, nos níveis sucessivos do período sensório-motor, uma
coordenação gradual das ações. Em lugar de continuar cada uma a formar um pequeno todo encerrado
em si mesmo, elas chegam, mais ou menos rapidamente, pelo jogo fundamentàl das assimilações
recíprocas, a se coordenar entre si até constituir esta conexão entre meios e fins que caracteriza os atos
da inteligência propriamente dita. É nesta ocasião que se constitui o sujeito na medida em que fonte de
ações e pois de conhecimentos, por isso que a coordenação de duas dessas ações supõe uma iniciativa
que ultrapassa a interdependência imediata a que se restringiam as condutas primitivas entre uma coisa
exterior e o corpo próprio. Mas coordenar ações quer dizer deslocar objetos, e, na medida em que esses
deslocamentos são submetidos a coordenações, o "grupo de deslocamentos" que se elabora
progressivamente a partir desse fato permite, em segundo lugar, atribuir aos objetos posições
sucessivas, também estas determinadas. O objeto adquire, por conseguinte, certa permanëncia espaço-
temporal donde a espacialização e objetivação das próprias relações causais. Tal diferenciação do
sujeito e dos objetos que acarreta a substanciação progressiva destes explica em definitivo esta inversão
total das perspectivas, inversão esta que leva o sujeito a considerar seu próprio corpo como um objeto
no seio dos demais, em um universo espaço-temporal e causal do qual ele vem a tornar-se parte
integrante na medida em que aprende a atuar eficazmente sobre ele.
Em resumo, a coordenação das ações do sujeito, inseparável das coordenações espaço-temporais e
causais que ele atribui ao real, é ao mesmo tempo fonte das diferenciações entre este sujeito e os
objetos, e desta descentralização no plano dos atos materiais que vai tornar possível com o concurso da
função semiótica a ocorrência da representação ou do pensamento. Mas essa coordenação mesma
acarreta um problema epistemológico,emboro ainda limitada a esse plano
de ação, e a assimilação recíproca invocada para esse fim é um primeiro exemplo dessas novidades, a
um tempo não predeterminadas e vindo a ser, entretanto, "necessárias", e que caracterizam o
desenvolvimento dos conhecimentos. Importa pois insistir nisto um pouco mais a partir do início.
A noção fundamental peculiar à psicologia de inspiração empirista é a da associação que, assinalada já
por Hume, permanece muito em voga nos meios considerados comportamentistas ou reflexológicos,
Contudo, esse conceito de associação refere-se tão-somente a um liame exterior entre os elementos
associados, ao passo que a noção de assimilam (Eludes, vol. v, cap. III) implica a de integração dos
dados a uma estrutura anterior ou mesmo a constituição de nova estrutura sob a forma elementar de um
esquema. No que se refere a ações primitivas, não coordenadas entre si, dois casos são possíveis; no
primeiro a estrutura preexiste por ser hereditária (por exemplo, os reflexos de sucção) e a assimilação
consiste apenas em incorporar-lhe novos objetos não previstos na programação orgânica. No segundo
caso, a situação é imprevista: por exemplo, o lactente procura apreender um objeto pendurado, mas, no
decorrer de uma tentativa frustrada, limita-se a tocá-lo e se segue então um balançar que lhe interessa
como espetáculo inédito. Então ele tentará consegui-lo novamente, donde o que se poderia chamar uma
assimilação reprodutora (fazer novamente o mesmo gesto), e a formação de um início de esquema. Em
presença de outro objeto pendurado ele o assimilará a esse mesmoesquema,donde uma assimilação
recognitiva, e à medida que repita a ação nesta nova situação, uma assimilação generalizadora, e esses

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Jean piaget epistemologia genética

  • 1. JEAN PIAGET A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA Tradução de Nathanael C. Caixeira Paris. Presses Universitaires de France.. Introdução Aproveitei, com prazer, a oportunidade de escrever este pequeno livro sobre Epistemologia Genética, de modo a poder insistir na noção bem pouco admitida correntemente, mas que parece confirmada por nossos trabalhos coletivos neste domínio: o conhecimento não poderia ser concebido como algo predeterminado nas estruturas internas do indivíduo, pois que estas resultam de uma construção efetiva e contínua, nem nos caracteres preexistentes do objeto, pois que estes só são conhecidos graças à mediação necessária dessas estruturas; e estas estruturas os enriquecem e enquadram (pelo menos situando-os no conjunto dos possíveis). Em outras palavras, todo conhecimento comporta um aspecto de elaboração nova, e o grande problema da epistemologia é o de conciliar esta criação de novidades com o duplo fato de que, no terreno formal, elas se acompanham de necessidade tão logo elaboradas e de que, no plano do real, elas permitem (e são mesmo as únicas a permitir) a conquista da objetividade. Este problema da construção de estruturas não pré-formadas é, de fato, já antigo, embora a maioria dos epistemologistas permaneçam amarrados a hipóteses, sejam aprioristas (até mesmo com certos recuos ao inatismo), sejam empiris tas, que subordinam o conhecimento a formas situadas de antemão no indivíduo ou no objeto. Todas as correntes dialéticas insistem na idéia de novidades e procuram o segredo delas em "ultrapassagens" que transcenderiam incessantemente o jogo das teses e das antíteses. No domínio da história do pensamento científico, o problema das mudanças de perspectiva e mesmo das "revoluções" nos "paradigmas" (Kuhn) se impõe necessariamente, e L. Brunschvicg extraiu dele uma epistemologia do vir- a-ser radical da razão. Adstrito às fronteiras mais especificamente psicológicas, J. M. Baldwim forneceu, sob o nome de "lógica genética", pareceres penetrantes sobre a elaboração das estruturas cognitivas. Poderiam ser citadas ainda diversas outras tentativas. Mas, se a epistemologia genética voltou de novo à questão, é com o duplo intuito de constituir um método capaz de oferecer os controles e, sobretudo, de retornar às fontes, portanto à gênese mesma dos conhecimentos de que a episte mologia tradicional apenas conhece os estados superiores, isto é, certas resultantes. O que se propõe a epistemologia genética é pois pôr a descoberto as raízes das diversas variedades de conhecimento, desde as suas formas mais elementares, e se¢uir sua evolução até os níveis seguintes, até, inclusive, o pensamento científico. 130 131 Mas, se esse gênero de análise comporta uma parte essencial de experimentação psicológica, de modo algum significa, por essa razão, um esforço de pura psicologia. Os próprios psicólogos não se enganaram a esse respeito, e numa citação que a .a nrerican Psychological Association teve a gentileza de enviar ao autor destas linhas depara-se com esta passagem significativa: "Ele enfocou questões até então exclusivamente filosóficas de um modo decididamente empírico, e constituiu a epistemologia como uma ciência separada da filosofa mas ligada a todas as ciëncias humanas", sem esquecer. naturalmente, a biologia. Em outros termos, a grande sociedade americana admitiu de bom grado que nossas trabalhos revestiam-se de uma dimensão psicológica, mas a título de byproduct, como o esclarece ainda a citação, e reconhecendo que a intenção, no caso, era essencialmente epistemológica. Quanto à necessidade de recuar à gênese, como o indica o próprio termo "epistemologia genética", convém dissipar desde logo um possível equívoco, que seria de certa gravidade se importasse em opor a gênese às outras fases da elabo ração contínua dos conhecimentos. A grande lição contida no estudo da gênese ou das gêneses é, pelo contrário, mostrar que não existem jamais conhecimentos absolutos. Isto significa dizer, em outras palavras, seja que tudo é gênese, inclusive a elaboração de uma teoria nova no estado atual das ciëncias, seja que a gênese recua indefinidamente, porque as fases psicogenéticos mais elementares são, elas mesmas, precedidas de fases de algum modo organogenéticas, etc. Afirmar a necessidade de recuar à gênese não significa de modo algum conceder um privilégio a tal ou qual fase considerada primeira, absolutamente falando: é, pelo contrário, lembrar a existência de uma construção indefinida e, sobretudo, insistir no fato de que, para compreender suas razões e seu mecanismo, é preciso conhecer todas as suas fases, ou, pelo menos, o máximo possível. Se fomos levados a insistir muito na questão dos começos do conhecimento, nos domínios da psicologia da criança e da biologia, tal não se deve a que atribuamos a eles uma significação quase exclusiva:
  • 2. deve-se simplesmente a que se trata de perspectivas em geral quase totalmente negligenciadas pelos epistemologistas. Todas as demais fontes científicas de informação permanecem pois necessárias, e o segundo aspecto da epistemologia genética sobre o qual gostaríamos de insistir é sua natureza decididamente interdisciplinar. O problema específico da epistemologia, expresso sob sua forma geral, é, com efeito, o do aumento dos conhecimentos, isto é, da passagem de um conhecimento inferior ou mais pobre a um saber mais rico (em compreensão e em extensão). Ora, como toda ciência está em permanente transformação e não considera jamais seu estado como definitivo (com exceção de certas ilusões históricas, como as do aristotelismo dos adversários de Galileu ou da física newtoniana para seus continuadores), este problema genético, no sentido amplo, engloba também o do progresso de todo conhecimento científico e apresenta duas dimensões: uma, respeitante às questões de fato (estado dos conhecimentos em um nível determinado e passagem de um nível ao seguinte), e outra, acerca das questões de validade (avaliação dos conhecimentos em termos de aprimoramento ou de regressão, estrutura formal dos conhecimen tos). É, portanto, evidente que, seja qual for a pesquisa em epistemologia genética, seja que se trate da evolução de tal setor do conhecimento na criança ( número, velocidade, causalidade física, etc.) ou de tal transformação num dos ramos correspondentes do pensamento científico, tal pesquisa pressupõe a colaboração de especialistas em epistemologia da ciência considerada, psicólogos, historiadores das ciências, lógicos, matemáticos, cultores da cibernética, lingüística, etc. Este tem sido sempre o método de nosso Centro Internacional de Epistemologia Genética em Genebra, cuja atividade integral tem consistido sempre de um trabalho de equipe. A obra que se segue é, portanto, sob muitos aspectos, coletiva! O objetivo deste opúsculo não é, todavia, contar a história desse Centro, nem mesmo resumir os Estudos de Epistemologia Genética que surgiram graças a ele.' Nesses Estudos se encontram os trabalhos realizados, bem como o sumário das discussões que tiveram lugar por ocasião de cada Simpósio anual e que trataram das pesquisas em curso. O que nos propomos aqui é simplesmente pôr em destaque as tendências gerais da epistemologia genética e expor os principais fatos que as justificam. O plano de trabalho é portanto muito simples: análise dos dados psicogenéticos, em seguida de seus antecedentes biológicos e, finalmente, retorno aos problemas epistemológicos clássicos. Convém no entanto comentar este plano, pois os dois primeiros capítulos poderiam parecer inúteis. No que diz respeito em particular à psicogênese dos conhecimentos (cap. I), muitas vezes a descrevemos à maneira dos psicólogos. Mas os epistemologistas lêem apenas uns poucos trabalhos psicológicos, o que é concebível, desde que não se destinam explicitamente a corresponder às suas preocupações. Procuramos pois centrar nossa exposição unicamente nos fatos que se revestem de uma significação epistemológica, e insistindo nesta última: trata-se, em conseqüëncia, de uma tentativa nova, em parte, tanto mais que ela toma em onsideração um grande número de pesquisas ainda não publicadas sobre a causa e. Quanto às raízes biológicas do conhecimento (cap. II), não modificamos muito nosso ponto de vista desde a publicação de Biologia e Conhecimento (Gallimard, 1967), mas, como pudemos substituir essas 430 páginas por menos de uma vintena, estamos certos de ser perdoados por este novo apelo às fontes orgânicas, que era indispensável para justificar a interpretação proposta pela epistemologia genética das relações entre o sujeito e os objetos. Em poucas palavras se encontrará nestas páginas a exposição de uma epistemologia que é naturalista sem ser positivista, que põe em evidência a atividade do sujeito sem ser idealista, que se apóia também no objeto sem deixar de considerá lo como um limite (existente, portanto, independentemente de nós, mas jamais completamente atingido) e que, sobretudo, vê no conhecimento uma elaboração contínua: é este último aspecto da epistemologia genética que suscita mais problemas e são estes que se pretende equacionar bem assim como discutir exaustivamente. ' Esta obra será citada sob o título geral Études com o número do volume em questào. (N. do A.) 133 CAPÍTULO I A Formação dos Conhecimentos (Psicogênese) A vantagem que um estudo da evolução dos conhecimentos desde suas raízes apresenta (embora, no momento, sem referëncias aos antecedentes biológicos) é oferecer uma resposta à questão mal solucionada do sentido das tentativas cogni tivas iniciais. A se restringir às posições clássicas do problema, não se pode, com efeito, senão indagar se toda informação cognitiva emana dos objetos e
  • 3. vem de fora informar o sujeito, como o supunha o empirismo tradicional, ou, se, pelo contrário, o sujeito está desde o início munido de estruturas endógenas que ele imporia aos objetos, conforme as diversas variedades de apriorismo ou de inatismo. Não obstante, mesmo a multiplicar os matizes entre as posições extremas (e a história das idéias mostrou o número dessas combinações possíveis), o postu- lado comum das epistemologias conhecidas é supor que existem em todos os níveis um sujeito conhecedor de seus poderes em graus diversos (mesmo que eles se reduzam à mera percepção dos objetos), objetos existentes como tais aos olhos do sujeito (mesmo que eles se reduzam a "fenômenos"}, e, sobretudo, instrumentos de modificação ou de conquista (percepções ou conceitos), determinantes do trajeto que conduz do sujeito aos objetos ou o inverso. Ora, as primeiras lições da análise psicogenética parecem contradizer essas pressuposições. De uma parte, o conhecimento não procede, em suas origens, nem de um sujeito consciente de si mesmo nem de objetos já constituídos (do ponto de vista do sujeito) que a ele se imporiam. O conhecimento resultaria de interações que se produzem a meio caminho entre os dois, dependendo, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em decorrência de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio entre formas distintas. De outro lado, e, por conseguinte, se não há, no início, nem sujeito, no sentido epistemológico do termo, nem objetos concebidos como tais, nem, sobretudo, instrumentos invariantes de troca, o problema inicial do conhecimento será pois o de elaborar tais mediadores. A partir da zona de contato entre o corpo próprio e as coisas eles se empenharão então sempre mais adiante nas duas direções complementares do exterior e do interior, e é desta dupla construção progressiva que depende a elaboração solidária do sujeito e dos objetos. Com efeito, o instrumento de troca inicial não é a percepção, como os racionalistas demasiado facilmente admitiram do empirismo, mas, antes, a própria ação em sua plasticidade muito maior. Sem dúvida, as percepções desempenham um papel essencial, mas elas dependem em parte da ação em seu conjunto, e certos mecanismos perceptivos que se poderiam acreditar inatos ou muito primitivos (como o "efeito túnel" de Michotte) só se constituem a certo nível da construção dos objetos. De modo geral, toda percepção chega a conferir significações relativas à ação aos elementos percebidos (J. Bruner fala, nesse sentido, de "identifica- ções", cf. Estudos, vol. VI, cap. I) e é pois da ação que convém partir. Distinguiremos a este respeito dois períodos sucessivos: o das ações sensório-motoras anteriores a qualquer linguagem ou a toda conceptualização representativa, e o das ações completadas por estas novas propriedades, a propósito dos quais se coloca então o problema da tomada de consciência dos resultados, intenções e mecanismos dos atos, isto é, de sua tradução em termos de pensamento conceptualizado. I. Os níveis sensório-motores No que diz respeito às ações sensório-motrizes, J. M. Baldwin mostrou, há muito, que o lactente não manifesta qualquer índice de uma consciência de seu eu, nem de uma fronteira estável entre dados do mundo interior e do universo externo, "adualismo" este que dura até o momento em que a construção desse eu se torna possível em correspondência e em oposição com o dos outros. De nossa parte, fizemos notar que o universo primitivo não comportaria objetos permanentes até uma época coincidente com o interesse pela pessoa dos outros, sendo os primeiros objetos dotados de permanência constituídos precisamente dessas personagens (resultados verificados com minúcia por Th. Gouin- Décarie, em um estudo sobre a permanência dos objetos materiais e sobre seu sincronismo com as "relações objetais", neste sentido freudiano do interesse por outrem). Em uma estrutura de realidade que não comporte nem sujeitos nem objetos, evidentemente o único liame possível entre o que se tornará mais tarde um sujeito e objetos é constituído por ações, mas ações de um tipo peculiar, cuja significação epistemológica parece esclarecedora. Com efeito, tanto no terreno do espaço como no dos diversos feixes perceptivos em construção, o lactente tudo relaciona a seu corpo como se ele fosse o centro do mundo, mas um centro que a si mesmo ignora. Em outras palavras, a ação primitiva exibe simultaneamente uma indiferenciação completa entre o subjetivo e o objetivo e uma centração fundamental, embora radicalmente inconsciente, em razão de achar-se ligada a esta indiferenciação. Qual poderia ser, no entanto, o laço entre esses dois aspectos? Se existe uma indiferenciação entre o sujeito e o objeto ao ponto que o primeiro não se conhece nem mesmo como fonte de suas ações, por que seriam elas centradas no corpo próprio ao passo que a atenção estaria fixada no exterior? O termo "egocentrismo radical" de que nos valemos para designar esta centração pode, ao invés (malgrado nossas precauções), parecer evocar um eu consciente (e é ainda mais o caso do "narcisismo" freudiano ao passo que se trata de um narcisismo sem Narciso). De fato, a indiferenciação e a centração das
  • 4. ações primitivas importam ambas em um terceiro aspecto que lhes é geral: elas ainda não estão coordenadas entre si, e 134 135 constituem, cada uma, um pequeno todo isolável que liga diretamente o corpo próprio.ao objeto (sugar, olhar, segurar, etc.). Daí decorre uma falta de diferenciação, pois o sujeito não se afirmará em seguida a não ser coordenando livremente suas ações, e o objeto não se constituirá a não ser se sujeitando ou resistindo às coordenações dos movimentos ou posições em um sistema coerente. Por outro lado, como cada ação forma ainda um todo isolável, sua única referência comum e constante só pode ser o corpo próprio, donde uma centração automática sobre ele, embora não desejada nem consciente. Para verificar esta conexão entre a falta de coordenação das ações, a indiferenciaçào do sujeito e dos objetos e a centraçào sobre o corpq próprio, basta lembrar o que se passa entre esse estado inicial e o nível dos 18 aos 24 meses, início da função semiótica e da inteligência representativa. Neste intervalo de um a dois anos realiza-se, de fato, mas ainda apenas no plano dos atos materiais, uma espécie de revoluçào copérniciana que consiste em descentralizar as ações em relação ao corpo próprio, em considerar este como objeto entre os demais num espaço que a todos contém e em associar as ações dos objetos sob o efeito das coordenações de um sujeito que começa a se conhecer como fonte ou mesmo senhor de seus movimentos. Com efeito (e é esta terceira novidade que acarreta as duas outras), presencia-se, em primeiro lugar, nos níveis sucessivos do período sensório-motor, uma coordenação gradual das ações. Em lugar de continuar cada uma a formar um pequeno todo encerrado em si mesmo, elas chegam, mais ou menos rapidamente, pelo jogo fundamentàl das assimilações recíprocas, a se coordenar entre si até constituir esta conexão entre meios e fins que caracteriza os atos da inteligência propriamente dita. É nesta ocasião que se constitui o sujeito na medida em que fonte de ações e pois de conhecimentos, por isso que a coordenação de duas dessas ações supõe uma iniciativa que ultrapassa a interdependência imediata a que se restringiam as condutas primitivas entre uma coisa exterior e o corpo próprio. Mas coordenar ações quer dizer deslocar objetos, e, na medida em que esses deslocamentos são submetidos a coordenações, o "grupo de deslocamentos" que se elabora progressivamente a partir desse fato permite, em segundo lugar, atribuir aos objetos posições sucessivas, também estas determinadas. O objeto adquire, por conseguinte, certa permanëncia espaço- temporal donde a espacialização e objetivação das próprias relações causais. Tal diferenciação do sujeito e dos objetos que acarreta a substanciação progressiva destes explica em definitivo esta inversão total das perspectivas, inversão esta que leva o sujeito a considerar seu próprio corpo como um objeto no seio dos demais, em um universo espaço-temporal e causal do qual ele vem a tornar-se parte integrante na medida em que aprende a atuar eficazmente sobre ele. Em resumo, a coordenação das ações do sujeito, inseparável das coordenações espaço-temporais e causais que ele atribui ao real, é ao mesmo tempo fonte das diferenciações entre este sujeito e os objetos, e desta descentralização no plano dos atos materiais que vai tornar possível com o concurso da função semiótica a ocorrência da representação ou do pensamento. Mas essa coordenação mesma acarreta um problema epistemológico,emboro ainda limitada a esse plano de ação, e a assimilação recíproca invocada para esse fim é um primeiro exemplo dessas novidades, a um tempo não predeterminadas e vindo a ser, entretanto, "necessárias", e que caracterizam o desenvolvimento dos conhecimentos. Importa pois insistir nisto um pouco mais a partir do início. A noção fundamental peculiar à psicologia de inspiração empirista é a da associação que, assinalada já por Hume, permanece muito em voga nos meios considerados comportamentistas ou reflexológicos, Contudo, esse conceito de associação refere-se tão-somente a um liame exterior entre os elementos associados, ao passo que a noção de assimilam (Eludes, vol. v, cap. III) implica a de integração dos dados a uma estrutura anterior ou mesmo a constituição de nova estrutura sob a forma elementar de um esquema. No que se refere a ações primitivas, não coordenadas entre si, dois casos são possíveis; no primeiro a estrutura preexiste por ser hereditária (por exemplo, os reflexos de sucção) e a assimilação consiste apenas em incorporar-lhe novos objetos não previstos na programação orgânica. No segundo caso, a situação é imprevista: por exemplo, o lactente procura apreender um objeto pendurado, mas, no decorrer de uma tentativa frustrada, limita-se a tocá-lo e se segue então um balançar que lhe interessa como espetáculo inédito. Então ele tentará consegui-lo novamente, donde o que se poderia chamar uma assimilação reprodutora (fazer novamente o mesmo gesto), e a formação de um início de esquema. Em presença de outro objeto pendurado ele o assimilará a esse mesmoesquema,donde uma assimilação recognitiva, e à medida que repita a ação nesta nova situação, uma assimilação generalizadora, e esses