Obstáculo epistemológico refere-se a elementos psicológicos que dificultam a aprendizagem de novos conceitos científicos. Estes obstáculos impedem que o pensamento pré-científico conceba a abordagem científica. Gaston Bachelard identificou dez obstáculos comuns, como experiências iniciais, generalizações, verbalismo e substancialismo. Superar esses obstáculos permite que o espírito evolua para um pensamento verdadeiramente científico.
1. O que é obstáculo epistemológico?
Gaston Bachelard cunhou em sua obra A formação do espírito científico (1938) a ideia do obstáculo
epistemológico, que deve ser visto como uma derivação limitante de um sistema de conceitos sobre o
desenvolvimento do pensamento, o que impede um modo de pensamento pré-científico de conceber
a abordagem científica. Em palavras mais simples, a ideia de obstáculo epistemológico, identifica e
expressa elementos psicológicos que dificultam a aprendizagem de novos conceitos para a ciência,
e está presente em pessoas sujeitas a enfrentar novas realidades, uma vez que não têm referências diretas
por experiências anteriores sobre o que estamos tentando descobrir.
Em outras palavras, poderíamos dizer que o obstáculo epistemológico é um conjunto de dificuldades
psicológicas que não permitem acesso correto ao conhecimento objetivo. Bachelard encontra
elementos que dificultam o conhecimento adequado e real, que não permitem a própria evolução do
espírito, para que ele possa passar de um estado pré-científico, influenciado pelos sentidos e feedback
imediato, a um método científico com base no status científico.
As pessoas que desejam atingir um grau de enriquecimento epistemológico, o chamado: espírito
científico, devem pôr de lado experiência e hábitos de pensamento que sempre foram utilizados, típicos
de todo o espírito pré-científico. Bachelard identifica esses obstáculos epistemológicos como barreiras
para a formação de um espírito científico.
Obstáculos epistemológicos não estão se referindo a elementos ou fatores externos que podem estar
envolvidos no processo de desenvolvimento do conhecimento científico de pessoas. Obstáculos
epistemológicos encontram-se na dificuldade de captar o acontecimento ou fenômeno devido às
condições psicológicas que impedem o desenvolvimento do espírito científico.
Gaston Bachelard em seu trabalho identifica 10 obstáculos epistemológicos
1) Superar a primeira experiência: Ela é a experiência que é composta das informações percebidas e está
no espírito, geralmente adquirida nos primeiros anos da vida intelectual das pessoas que, em seguida,
envolvidas no desenvolvimento da ciência, e não sujeitas à algumas críticas, leva a pessoa a ficar imersa
neste mar de ignorância tomando estes conhecimentos primários como verdadeiros e rejeitando as
novidades que vão contra eles. O espírito científico deve ser reformado constantemente.
2) O obstáculo generalista envolve tomar as características ou particularidades de conhecimento da
substância como realidade e verdade, que não tem discussão. Você não pode explicar, ele é tomado como
uma causa fundamental e inegável. Ao aceitar o obstáculo realista, não há problema científico, o
obstáculo torna-se um gerador de verdade.
3) O obstáculo Verbal: Localizado em hábitos orais de pessoas usados em uma base diária, tornando este
obstáculo um dos mais difíceis e com maior poder explicativo.
4) Obstáculo unitário e pragmático: O conceito de unidade para simplificar o estudo de qualquer
realidade, para explicar tudo de forma satisfatória. As partes são explicadas e sua unificação explica toda
a realidade. O conceito de unidade em conjunto com o utilitário se torna perigoso porque dá
imediatamente explicação para o que é de algum modo útil.
5) Obstáculo substancialista: Esta coligação é feita da substância e as suas qualidades. Bachelard
distingue uma realidade oculta do substancialismo que é algo fechado, coberto pelo material, que deve
abrir para expor seu conteúdo. E há substancialismo da íntima qualidade, profundo, que é fechado não
superficialmente. Devemos cavar fundo para encontrá-lo.
2. 6) Obstáculo Realista: A mente está deslumbrada com a presença do real. Ela ainda considerou que não
deve ser estudado ou ensinado. Toma impressões pessoais sobre o pesquisador. O argumento realista tem
mais peso contra o que não é.
7) Obstáculo animista: Os seres humanos prestam mais atenção e maior valorização do conceito do que
pode levar para a vida. O espírito do pesquisador prioriza a vida, este valor sempre acompanhou o homem
em qualquer fase do seu desenvolvimento intelectual.
8) Obstáculo e o mito da digestão: Qualquer evento ou fenômeno que tem a ver com o estômago passa a
ter maior valor explicativo.
9) Obstáculo da libido é interpretado a partir da perspectiva do poder e a vontade de dominar os outros
seres humanos por parte do pesquisador e que não pode ajudar, mas refletir sobre suas experiências ou
ensaios dá uma explicação coerente para um fenômeno ou um fato. Outra referência deste obstáculo é a
referência constante a pensamentos sexuais que estão presentes em todos os espíritos científicos na
formação integral para enfrentar novos fatos ou fenômenos.
10) O último obstáculo epistemológico: o conhecimento quantitativo é aquele que se considera livre de
erro, saltando do quantitativo ao objetivo, através de todo este conhecimento tem maior validade.
Obstáculos epistemológicos mencionados brevemente são fatores que dificultam a passagem do espírito
pré-científico para o espírito verdadeiramente científico, e superando obstáculos epistemológicos é como
o espírito pode evoluir para criar ciência, na qual emana e surgem novos conhecimentos e existentes
realidades que, por vezes, não percebemos que estão ali.
O Método Científico Segundo Alguns Filósofos
Para Aristóteles, ciência é conhecer as quatro causas: 1) causa material. É a substância
concreta de que um objeto é composto. Exemplo: o bronze de uma estátua; 2) causa eficiente.
É o processo que produziu o objeto. No exemplo acima, é o trabalho do artista ao esculpir a
estátua; 3) causa formal. É a estrutura interna que determina a realidade de um objeto; 4)
causa final. É a finalidade para a qual uma coisa foi produzida.
Para Galileu, um fato demonstrado pela experiência seria verdade, se Aristóteles não o
negasse. Na sua lide da verificação experimental, Galileu teve que combater os teólogos
(porque acreditavam literalmente na Bíblia) e os filósofos aristotélicos (porque negavam as
verdades contrárias às doutrinas científicas de Aristóteles). Quanto aos teólogos, não tinha
muito o que fazer. Quanto ao dogmatismo dos filósofos aristotélicos, aqueles que negavam a
evidência, porém, Galileu entendia que isso era devido à tendência da psique humana de
obedecer ao poder e à autoridade vigentes.
Para Bacon, o método científico baseia-se na indução, que é um saber das obras, não das
palavras. No passado, era sábio quem conseguia, através da retórica, vencer dialeticamente um
adversário; no presente, o confronto deve ser posto em relação à natureza. Deve -se, assim,
3. recusar o método dedutivo, que considerava a verdade como uma consequência de afirmações
precedentes, e adotar o método indutivo, porque baseado em estatísticas observáveis.
Para Descartes, o método científico deveria se basear nos raciocínios concatenados. Volta à
dedução, que supõe obter novas verdades a partir de proposições absolutamente certas. Para
isso, usa o modelo da geometria de Euclides, capaz de deduzir centenas de teoremas de cinco
postulados iniciais.
Para Hume, o princípio fundamental de todo pensamento científico é o de causa-efeito: a
previsão de determinados eventos pode ser deduzida em função das causas que os produziram.
Não podemos, porém, levar essa tese às suas últimas consequências. Dá-nos, como exemplo, o
choque entre duas bolas de bilhar: “certamente veremos uma continuidade espacial e temporal
porque a bola atingida se move logo depois da primeira e começa seu movimento onde a outra
se detém”... “Hume está pronto a admitir que é possível relevar também uma constância dos
fenômenos, porque encontramos regularidades típicas no movimento dos corpos. Mas isso
implica apenas hábito, não necessidade lógica: se nunca tivéssemos visto um choque entre duas
bolas de bilhar seriamos incapazes de prever o seu movimento”.
Para Kant, há necessidade de diferenciarmos os juízos analíticos dos juízos sintéticos. Os juízos
analíticos dizem respeito à explicação dedutiva; os juízos sintéticos, ao contrário, são típicos da
tradição empirista. Tanto os juízos analíticos quanto os juízos sintéticos têm suas limitações.
Kant propõe a junção dos dois juízos. “Faz-se necessária, portanto, uma nova abordagem global
de conhecimento, ultrapassando as tradições do Racionalismo e do Empirismo”.
Fonte de Consulta: NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das Origens à Idade
Moderna.