2. TEMPO, MODO E ASPECTO
breve introdução
Em seu livro Introdução à semântica, o professor Rodolfo Ilari, da UNICAMP, afirma que as
formas verbais do português exprimem tempo, modo e aspecto. O aspecto pode ser:
PERFECTIVO IMPERFECTIVO
[não conhece fases] [desdobra-se em fases]
pontual inceptivo
A criança adormeceu às sete horas.
À noite, João arrumou a mala.
resultativo cursivo
Às oito e meia, a mala estava arrumada. João estava arrumando a mala.
terminativo
João terminava de arrumar a mala.
3. TEMPO, MODO E ASPECTO
ITA-2003
Quanto ao tempo verbal é correto afirmar no texto a seguir.
a) a relação cronológica, no primeiro verso, entre o momento da
JOÃO E MARIA, Chico Buarque
fala e “ser herói” é de anterioridade.
Agora eu era herói
E o meu cavalo só falava inglês b) o pretérito imperfeito indica um processo concluído num
A noiva do cawboy
período definido no passado.
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões c) o pretérito imperfeito é usado para instaurar um mundo
Os alemães e os seus canhões imaginário, próprio do universo infantil.
Guardava o meu bodoque
d) o conflito entre a marca do presente – no advérbio “agora” –
Ensaiava o rock
e a do passado – nos verbos – leva à intemporalidade.
Para as matinês
COMENTANDO A QUESTÃO
a) A forma verbal agora não deixa clara que a referência é anterior, mas simulânea; b) O pretérito
imperfeito indica um processo não concluído num passado definido; c) Conforme se constata no
texto de Chico Buarque, todos os tempos instauram o mundo imaginário, típico do universo
infantil, inclusive o presente do indicativo; d) o tempo da poesia [e do imaginário infantil] não se
encontra situado no tempo comum; por isso, pode ser chamado de intemporal ou mítico
4. TEMPO, MODO E ASPECTO
Rodolfo Ilari
As duas narrativas transcritas a seguir foram utilizadas, em anos diferentes, como textos de
referência no exame de língua portuguesa do Vestibular Unicamp. Além de outras características
comuns eles se assemelham porque uma das personagens desperdiça a possibilidade de criar para si
própria uma situação vantajosa, distinta de sua situação real.
Dois carregadores estão conversando e um diz: “Se eu fosse presidente da República, eu só
acordava lá pelo meio-dia, depois ia almoçar lá pelas três, quatro horas. Só então é que eu ia fazer o
primeiro carreto”.
Cansado de não vender nada na sua loja, João pegou o carro e saiu pelo interior para vender seus
produtos. Depois de 15 dias sem tirar um só pedido, sentou-se embaixo de uma árvore para
descansar. De repente, viu uma garrafa e chutou. A garrafa deu meia volta e chegou junto. João
tornou a chutar e a garrafa deu outra meia volta e ficou bem ao seu lado. João pegou a garrafa,
começou a acariciar e de repente surgiu uma voz que disse: — Você tem direito a três pedidos. João
levantou correndo e disse: — Espere que vou buscar o talão!
5. TEMPO, MODO E ASPECTO
Rodolfo Ilari [Adaptada]
Identifique, nas duas histórias, as personagens que incorrem nesse tipo de fracasso; analise o modo
como se cria, na história, a possibilidade de construir uma situação irreal.
COMENTANDO A QUESTÃO
As personagens que incorrem em fracasso são um carregador e um vendedor. A possibilidade de
se construir uma situação irreal se dá, no primeiro texto, através do uso da conjunção condicional
se e do uso do pretérito imperfeito do subjuntivo [se eu fosse] e, no segundo, através da criação
de um contexto narrativo similar aos das histórias das Mil e uma noites, em que uma personagem
encontra uma garrafa, da qual sai um gênio, que realiza os desejos da personagem.
O humor advém do fato de, mesmo na fantasia, os protagonistas [carregador e vendedor] não
abandonarem suas condições reais.
No primeiro texto, a personagem imagina um presidente da república que faça carretos. E, na
segunda história, João imagina que o gênio da garrafa seja um cliente.