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BIODANZA: O CORPO COMO MOVIMENTO, SENSIBILIDADE E
EXPRESSÃO DE VIDA
‘Por trás dos acontecimentos exteriores da vida, o dançarino percebe o
mundo completamente diferente. Há por detrás de todo acontecimento e
de toda coisa, uma energia a qual dificilmente se pode dar nome. Uma
paisagem escondida e esquecida. A região do silencio, o império da alma;
em seu centro, há um templo em movimento. As mensagens vindas dessa
região do silencio são, no entanto, tão eloquentes! Elas nos falam, em
termos sempre cambiantes, de realidades que são para nós de uma
grande importância. O que nós chamamos habitualmente de “dança” vem
dessas regiões, e aquele que for consciente disso é um verdadeiro
habitante desse país, tirando a sua força diretamente desses tesouros
inesgotáveis.”
(LABAN apud LAUNAY,1999, p. 84 e 85)
ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO
BIODANZA: O CORPO COMO MOVIMENTO, SENSIBILIDADE E
EXPRESSÃO DE VIDA
SIMONE NOBRE
Trabalho apresentado à Escola de Biodanza
Rolando Toro do Rio de Janeiro como
requisito para a obtenção do título de
Facilitador de Biodanza
Orientadora:
Andrea Zattar
Facilitadora Didata Reg. IBF RJ0132
RIO DE JANEIRO, MAIO DE 2017
MONOGRAFIA APRESENTADA Á ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO
TORO DO RIO DE JANEIRO, E APROVADA PELA COMISSÃO
JULGADORA, FORMADA PELOS DIDATAS:
__________________________________
Andrea Zattar
Orientadora
Facilitadora Didata
International Biocentric Foundation
Reg. RJ nº 0132
___________________________________
Paulo Botelho
Facilitador Didata
International Biocentric Foundation
Reg. RJ nº 0027
___________________________________
Luciana Pinto
Facilitadora Didata
International Biocentric Foundation
Reg. RJ nº 0352
Visto e permitida a impressão
Rio de Janeiro, 05 de maio de 2017
_______________________________________
Danielle Tavares e Andrea Zattar
Diretoras da Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro
International Biocentric Foundation
Reg. RJ nºs 00134 e 0132
DEDICATÓRIA
A meu querido e amado filho Felipe, pela presença amorosa em
minha vida. A meu amor e companheiro Selemir Coelho, pela
cumplicidade, apoio e caminhar amoroso na dança da vida. À
minha irmã Beth e sobrinhos queridos, Patty, Enzo, Henrique e
Bruno. Às minhas amigas Tânia Castilho, Gerlane Passos,
Danielle Tavares e Andréa Zattar pela amizade sincera e
participação nos momentos mais importantes em meu caminhar
pela vida.
AGRADECIMENTOS
À meu pai e à minha mãe, por minha vinda a vida!
Às minhas facilitadoras Danielle Tavares e Andréa Zattar, amigas especiais, que
transformaram meu caminhar acreditando em mim, estimulando e orientando
amorosamente meu mergulho sincero na Biodanza!
À todos os amigos queridos que encontrei na Biodanza, nos grupos regulares,
pelo estímulo, proteção, cuidado e carinho que trocamos!
Aos amigos da turma VIII e didatas pela contribuição e participação na minha
formação!
À minha querida parceira Nazareth Malaphaia, por tanta aprendizagem,
cumplicidade e troca afetiva!
Aos meus alunos, pela confiança, aprendizagem e oportunidade amorosa de ver
florescer a beleza humana!
À todos os amigos e parceiros, que de alguma forma constituiu o Grupo do
Projeto Social e possibilitou a realização desse sonho, fazendo-o chegar nas
crianças da Tia Edith!
Ao querido e eterno mestre Rolando Toro, por seu olhar luminoso e por sua
generosidade com o mundo!
E, especialmente a minha orientadora e amiga Andréa Zattar, pela presença
firme e amorosa e pela dedicação na orientação dessa escrita, pois sem seu
olhar não teria acontecido.
RESUMO
O presente estudo visa ressaltar a qualidade da importante
relação do corpo como agente transformador do modo de vida da pessoa no
mundo.
Essa pesquisa foi de caráter investigativo, visando ressaltar a
Biodanza como um potente agente transformador para o desenvolvimento de
uma relação mais integrada e afetiva com a vida e com o mundo a partir da
relação com o do próprio corpo.
Essa monografia foi baseada principalmente nas bases teóricas
que dão suporte a Biodanza, assim como nas pesquisas que abordam a visão e
os questionamentos relacionados ao conceito de corporeidade na sociedade
moderna contemporânea.
A conclusão se refere as reflexões e observações aos efeitos da
experiência prática com a Biodanza, pela contribuição dos alunos através de
seus depoimentos, confirmando uma possível transformação a partir de um
modo de vida mais integrado entre o sentir, pensar e agir.
RESUMEN
El presente estudio tiene por objetivo destacar la calidad de la
importante relación del cuerpo como agente transformador del estilo de vida de
la persona en el mundo.
Esta pesquisa, de carácter investigativo, pone de relieve la
Biodanza como un potente agente transformador para el desarrollo de una
relación más integrada y afectiva con la vida y con el mundo a partir de la relación
con el propio cuerpo.
Esta monografía se ha basado principalmente en las bases
teóricas que dan soporte a la Biodanza. Sin embargo, también se apoya en las
pesquisas que plantean la visión y los cuestionamientos relacionados al
concepto de corporeidad en la sociedad moderna contemporánea.
La conclusión presenta las reflexiones sobre las observaciones
de los efectos de la experiencia práctica con la Biodanza, a partir de la
contribución de los alumnos a través de sus declaraciones, que han confirmado
una posible transformación que ha resultado de un estilo de vida más integrado
entre el sentir, el pensar y el actuar.
APRESENTAÇÃO
Antes de iniciar o presente estudo faz-se imprescindível esclarecer
alguns conceitos, tais como os apresento em correspondência ao tema proposto.
Alguns destes conceitos serão posteriormente repetidos,
aprofundados e ampliados para maior compreensão.
Rolando Toro – (1924 – 2010) Psicólogo e antropólogo chileno, criou
o Sistema Biodanza na década de 1960.
Biodanza – A Biodanza é um sistema de integração humana,
renovação orgânica, reeducação afetiva e reaprendizagem das
funções originárias de vida. Sua metodologia consiste em induzir
vivências integradoras por meio da música, do movimento e de
situações de encontro em grupo.1
Ecofatores – Fatores externos - Segundo o modelo teórico de
Biodanza o indivíduo nasce com um potencial genético, sendo que são
os fatores ambientais que determinam à expressão desse potencial.
Ecofatores podem ser positivos ou negativos. São considerados
positivos quando estimulam as expressões das
potencialidades genéticas, e negativos quando as inibem.2
Corpo sensível – termo que se refere a relação viva entre a
subjetividade do sujeito e o corpo.3
Corporeidade – O termo corporeidade fala do aspecto humano de ser
o corpo. O corpo com todas as suas implicações emocionais e
existenciais. A corporeidade segundo J.J.Lopez Ibor não é apenas uma
experiência vivida, mas também uma realidade fenomenológica.4
Sujeito – Segundo a filosofia é um ser que tem uma consciência e
experiências únicas e que se relaciona com outra entidade fora de si
possui a natureza do ser.5
Subjetividade - é entendida como o espaço íntimo do indivíduo, ou
seja, como ele "instala" a sua opinião ao que é dito (mundo interno)
com o qual ele se relaciona com o mundo social (mundo externo),
resultando tanto em marcas singulares na formação do indivíduo
quanto na construção de crenças e valores compartilhados na
dimensão cultural que vão constituir a experiência histórica e coletiva.6
1
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.33.
2
Ibidem. p.76
3
BOIS. Danis. Sujeito Sensível e renovação do eu. Editora: Paulus, São Paulo, 2008 p 47
4
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p55
5
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sujeito_(filosofia)
6
https://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetividade
Contrapondo-me a educação tradicional da dança, por conta de seu
trabalho com o corpo de forma padronizada, encontrei na Biodanza proposta por
Rolando Toro, a ressonância e o apoio necessários para a consideração do
corpo como movimento, sensibilidade e expressão criadora, em sua
integralidade e como um modo autêntico e profundo de lidar com a vida,
direcionando assim minhas buscas em relação as possíveis transformações
existenciais para uma utilidade tanto pedagógica como terapêutica.
Visando a aplicação dos conceitos previamente expostos e partindo
do reconhecimento da eficácia do Sistema Biodanza, a aplicação deste estudo
se dá no campo da experiência, necessitando de um aprofundamento nos
fundamentos teóricos-conceituais que sustentem tal reflexão.
O objetivo principal deste estudo foi propor um possível
reconhecimento fundamentado a partir da inclusão das ferramentas propostas
pela Biodanza como elementos potentes na transformação do reconhecimento
do corpo enquanto movimento, sensibilidade e criação de vida, em suas
relações, como uma possibilidade de sair do esvaziamento dos corpos
anestesiados pela herança histórica do pensamento platônico e pelo modo de
vida atual da sociedade contemporânea, em prol de um modo de vida mais
implicado e coerente com uma maneira de viver a vida mais integrada em sua
amplitude.
Consideramos que uma proposta como a Biodanza, pode, via corpo
sensível, desperto e vivente, contribuir para a integração da pessoa consigo, com
o outro e com o mundo, ampliando sua capacidade relacional e expressiva em
um modo de ser pleno de suas capacidades. Podendo assim, afirmar a
experiência única e singular de cada um em cada corpo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 12
CAPITULO 1
 O Corpo .......................................................................................... 15
CAPITULO 2
 Corporeidade ................................................................................. 19
CAPITULO 3
 O Movimento .................................................................................. 22
CAPITULO 4
 Biodanza ....................................................................................... 36
CAPITULO 5
 Uma experiência prática ............................................................... 48
 Depoimento dos alunos ................................................................ 52
CONCLUSÃO ............................................................................................ 58
ANEXO - FOTOS ...................................................................................... 63
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 68
12
INTRODUÇÃO
Em minha formação como bailarina fui submetida, durante anos, ao
ensino tradicional da dança, e reconheço a importante vivência que obtive com
a experiência. Porém, por mais absurdos que tenha proporcionado ao meu corpo
durante este treinamento para o desenvolvimento técnico com a dança clássica,
vivenciei nele o movimento. E, através dele, pude superar questões e reconhecer
o quanto o movimento é curativo e transformador para os processos de vida.
Sabemos que corpo do bailarino acadêmico é submetido a uma
dominação e exploração para seu aproveitamento no sentido de produzir sujeitos
que sustentem as exigências de um modelo pré-determinado. Mas, dançar não
é só isso. A forma como o corpo percebe o mundo é uma dança. E foi
mergulhando na dança contemporânea que pude experimentar uma dimensão
mais humana e menos virtuosa da dança, pois a proposta do balé clássico é
concebida com uma determinada finalidade enquanto a dança contemporânea
valoriza predominantemente o sentido do gesto e o que ele traz da pessoa.
As questões do corpo em relação ao movimento me orientaram de
modo incisivo nas buscas tanto pessoais como profissionais, dando-me a
compreensão do corpo como o lugar de experimentação e abertura ao
conhecimento e a vontade de viver uma vida plena de sentido.
Quais são as informações que faltam para que o sujeito realize seu
gesto mais original e pleno de sentido na vida? Os impedimentos procedem de
inúmeras ordens. Sejam elas educacionais ou culturais, o importante é estimular
no sujeito suas competências de sentir, pensar e agir de forma integrada,
reconhecendo que a dissociação gerada pelo modo de vida atual é fruto tanto da
herança histórica como da forma como nos organizamos na vida da sociedade
moderna contemporânea.
A paixão pelo movimento e sua capacidade transformadora, instigou-
me a questionar o modo pelo qual o corpo se organiza ao movimento e o
momento que antecede a realização dele. O que está por traz do gesto,
sustentando-o como uma espécie de pano de fundo? Que relação temos com
13
ele enquanto se desenrola no espaço? Como incluir subjetividade e objetividade
nos gestos para que isso se integre? Como transformar a sensação em ação?
Que provocações o movimento pode nos trazer?
Todo movimento surge de uma necessidade interna e, portanto, é
revelador de uma criação única e de uma subjetividade encarnada. Não importa
de qual ordem ele surja, a motivação interna sempre está em relação a algo que
não precisamos pré-conceber. A questão é o “dar-se conta”. Ou seja, é o
momento em que o sujeito se sente provocado e então se abre para dar vazão
a todos os possíveis atravessamentos que o constitui. O movimento toma assim,
a dimensão de acontecimentos.
Na Biodanza reencontrei a expressividade original da força de vida
presente em meu corpo vivo e desperto, o que me levou a questionar ainda mais
a potência transformadora que é o movimento como fonte de manutenção da
vida. Ter um corpo é diferente de ser o corpo. E para acessarmos isso hoje,
penso que o acesso é via o corpo sensível.
No processo de formação em facilitadora de Biodanza, me peguei
desnuda e entregue ao processo de fazer a vida acontecer. Me descobri no
centro da roda, vencendo medos, preconceitos e confiante em deixar a vida se
fazer. Acompanhando e cuidando dos processos do grupo e de cada indivíduo,
aprendo o quanto afetividade e amorosidade nos torna cada vez mais implicados
e comprometidos com a vida.
No processo dessa escrita tive a oportunidade de participar do II
Festival de Biodanza do Rio em novembro de 2016 e foi justamente na vivência
de abertura do Festival, dada por Antônio Sarpe que me senti provocada a
investigar o tema de meu estudo. Agradeço a Antônio pela muito bem-vinda
provocação.
Durante a vivência, jamais foi mencionada a palavra corpo, o que me
levou a um profundo encontro com as questões que vivenciei em meu corpo
durante minha formação como bailarina, e nessa experiência pude perceber
mais ainda o verdadeiro sentido da dimensão que é ser o corpo e não ter um
14
corpo e dar criação a um texto que se tornou o título de minha monografia e que
apresento no seguimento da conclusão desse estudo.
Nos tornamos sujeitos a partir das relações com o ambiente onde
existimos e assim constituímos a nós e a história. Portanto, a relação ao corpo
depende de uma escuta atenta e acolhedora, que nos revela a sabedoria da vida
presente em nosso corpo. Pensar o corpo hoje, sob o olhar da Biodanza é
reconhecer o contato que ela nos possibilita fazer com o sentimento de estar
vivo, e assim poder articular o enraizar na vida.
15
CAPITULO 1
O CORPO
O que é o corpo e do que meu corpo fala? Como ouvi-lo? Ossos,
músculos, vísceras, fáscia, pensamento, sentimento, emoção, razão,
consciência, gestos, expressões... de tudo isso ele forma uma vida, onde o
movimento é seu alimento.
Como podemos pensar o corpo na contemporaneidade, a luz da
filosofia platônica?
No ser humano o corpo, também chamado soma (do grego
transliterado soma), é considerado como o organismo material,
abstraído de suas funções psíquicas (donde provém o conceito de
somatização de algumas doenças), e, em biologia, engloba o conjunto
dos tecidos vivos que perpetuam a espécie e a mantém viva.7
No âmbito anatômico e científico, o corpo é substância física ou
estrutura, de cada homem ou animal. Para a Biologia é um organismo
vivo, composto de pequenas unidades denominadas células e para a
Química, é uma porção de matéria.8
O corpo de todos os tempos, sempre foi e é um grande motivo de
curiosidades e descobertas mediante a inúmeras possibilidades de estudo a seu
respeito. Para melhor compreendermos o corpo na contemporaneidade, faz-se
necessário visitar o momento do período da história da filosofia ocidental onde a
forma platônica de ver a vida nos apresentava uma visão cindida entre dois
mundos: o mundo do sensível e o mundo das ideias.
Platão definiu o homem constituído de corpo e alma, sendo estes
pertencentes a dois mundos distintos: o mundo do sensível e o mundo das
ideias. Em Platão, o mundo do sensível é o mundo do corpo, do qual devemos
desconfiar e o mundo das ideias, o mundo ideal, o mundo real, no qual devemos
confiar.
O pensamento platônico é fundamental para a compreensão da
dicotomia que caracteriza a depreciação do corpo em detrimento a valorização
7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo
8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_humano
16
da alma que se desenvolveu ao longo de nossa história. Segundo André Martins
em entrevista ao programa Café Filosófico9, para Platão as ideias que podemos
ter são cópias das ideias puras, pertencentes ao outro mundo. E essas ideias
puras, são concebidas por ele como sendo as ideias verdadeiras, e quanto mais
distanciados estamos deste mundo verdadeiro, mais existe degradação.
O pensamento platônico definiu a alma como sendo detentora da
sabedoria e o corpo como a prisão que a domina e que quando a alma é
dominada por ele, se torna incapaz de regrar os desejos e as tendências do
mundo sensível.
Em Santo Agostinho, inaugura-se, sequencialmente, ao pensamento
platônico, a visão da igreja cujo mundo das ideias pertence a alma imortal e
imaculada, onde devemos desconfiar do corpo, por ser ele o representante do
mundo sensível, evitando assim, vivenciar algumas experiências terrenas para
que essa alma não se macule.
Posterior a Santo Agostinho temos o pensamento cartesiano,
propondo também uma ruptura marcada pela razão prevalecendo sobre
qualquer outra forma de entender, compreender e organizar a vida, instaura o
pensamento: “penso, logo existo”. Portanto em Descartes, já no século XVII
retomamos essa dicotomia matéria e pensamento, reconhecendo também, o
homem como uma máquina perfeita, tendo sido criada por deus e mantendo a
pensamento como uma substância não pertencente ao corpo. Descartes
fortalece assim, essa depreciação do corpo em prol da valorização da mente.
Outra cisão importante, segundo André Martins10, seria a separação
entre natureza e cultura, que repercute no mundo, levando também a uma
valorização do homem sobre a natureza. Dentro desta visão, o corpo humano é
nossa natureza e nossa mente seria o que há de divino e propriamente humano
em nós. Dentro do contexto histórico, isto traz uma depreciação ao que diz
respeito a natureza e uma valorização da ação do homem sobre a natureza. Em
9 https://www.youtube.com/watch?v=1lXEzwhPtcw (minuto 4:30 ao 7:50)
10 https://www.youtube.com/watch?v=1lXEzwhPtcw(minuto 9:14 ao 10:57)
17
Aristóteles, discípulo de Platão, o homem com sua razão, está legitimando não
somente dominar e controlar a natureza, como colocar a natureza a seu serviço.
Como nos coloca André Martins, o que caracterizou o percurso da
história ocidental foi a submissão da natureza ao controle do ser humano, porém
não como um homem integrado, mas sim como um homem cindido que buscava
o controle e o domínio da razão sobre o corpo.
Quais os pensadores que mudaram nossa visão de mundo? Em que
fontes Rolando Toro foi beber para criar uma teoria que visa a integração?
A perspectiva fenomenológica, especialmente o pensamento de
Merleau-Ponty, busca oferecer uma alternativa para a Ciência e a Filosofia,
considerando o corpo a partir da experiência vivida ou como um modo de ser no
mundo, reconhecendo a ideia da “experiência do meu corpo como “meu”. Ou
seja, o retorno ao mundo do sensível e a busca pelos sentidos do vivido.11
Sabemos que a relação ao corpo não é devidamente respeitada nem
valorizada pelo modo como as sociedades se organizam perante a vida, no que
diz respeito a complexidade da mesma. Sabemos que o corpo é o lugar onde
tudo se dá, ou pelo menos o lugar onde reconhecemos todos os possíveis
atravessamentos provenientes da condição do vivente.
A vida no corpo tem a característica e o objetivo de nos manter vivos.
Sendo ele o lugar onde tudo se dá, faz-se necessário escutá-lo para podermos
aprofundar e sustentar a relação com ele e com a vida através dele. Pois é no
âmbito das relações que o sujeito e a vida se constituem e se transformam
quando nos colocamos a ouvi-los.
Conhecer é função do corpo e princípio de vida. E este se dá de
formas não lineares e evidenciadas. Dependemos tanto das funções de nossos
sistemas corporais como das relações com o imediato, para sermos e para
conhecermos.
11 https://www.23reuniao.anped.org.br/textos/1714t.pdf
18
A sobrevivência é fato, porém a supervivência, como nos disse
Rolando, depende dessa “ousada” interação entre o corpo, movimento e a
sacralidade da vida. Portanto, a história de vida do sujeito é a história das
situações e experiências vivenciadas e por ele elaboradas.
Não foi à toa que Rolando Toro reconheceu e buscou a importante
relação com o corpo e com os movimentos para chegar nas demandas e
necessidades de integração humana mediante a vida. Assim, foi também, com
outros tantos pesquisadores de nossa história.
Como abordar então o corpo da experiência, o corpo que vive
intensamente, um corpo que é capaz de sustentar a vida, as relações e dar
continuidade a espécie?
19
CAPITULO 2
CORPOREIDADE
Corporeidade é uma terminologia usada pela filosofia para determinar
basicamente a maneira pela qual o reconhecemos e utilizamos o corpo como
instrumento relacional com o mundo. Sendo que esta abarca três distintas
dimensões que se mantem de forma complexa e indissociáveis, que são as
dimensões fisiológicas, psicológicas e espirituais, sendo inspirada na
fenomenologia de Merleau-Ponty, que reconhece o corpo como o lugar da
experiência vivencial e tudo que ela envolve. Ou seja, a corporeidade assume
tanto o sentido do acompanhamento do corpo em sua experiência como também
o contexto ou os meios cognitivos.12
A corporeidade na perspectiva fenomenológica de Merleau-Ponty,
considera o corpo e as questões que envolvem o ser pelo sentido do vivido
mediante a observação. Para Merleau-Ponty, é necessário resignificarmos
nossa compreensão de corpo, pois corpo é movimento, sensibilidade e
expressão criadora, o que difere da concepção mecanicista onde se procura
entender corpo como uma unidade corpo-mente e não como uma integração
delas.
Do corpo mecânico ao corpo sujeito, surge a compreensão de uma
corporeidade pautada na fenomenologia de Merleau- Ponty, baseada no corpo,
em movimento e na sua abordagem sensível, para traduzir à consciência a
complexidade dos processos corporais e a dificuldade com o pensamento
cristalizado, anunciando novas possibilidades para o conhecimento da
experiência humana e da abordagem ao corpo.
O que há de novidade para ser falado a respeito do corpo hoje?
Segundo SANDER, antes de reforçar sua evidência, seria interessante tirá-lo de
evidência, devolvendo-lhe alguma surpresa. Para ele, não é tão fácil assim sair
da obviedade imposta pela cultura da imagem, que é a que vivenciamos hoje,
pois ela se firma na própria relação entre: corpo, cultura e subjetividade.13
12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Corporeidade
13 http://www.uff.br/periodicoshumanas/index.php/Fractal/article/view/180
20
Segundo COELHO, falar do corpo hoje é reconhecer que saímos da
condição: “eu tenho um corpo” para assumir que “eu sou o corpo”, e do quanto
nossa pertinência na vida depende da própria condição corpo. Para ele, a
questão é que na sociedade moderna contemporânea não basta sermos o corpo,
mas é necessário que ele apareça. E, portanto, para ele, sermos o corpo está
condicionado ao ter. Sendo assim, eu sou na medida em que tenho e em que
apareço.14 Porém, segue destacando, esta condição, não consegue dar conta
de nos estruturarmos na vida dentro da sociedade de consumo e de
produtividade que é a atual, pois esta não acessa a integração da vida humana.
O desenvolvimento humano pede um mínimo reconhecimento de si e
das relações que estabelecemos tanto interpessoais como sociais, culturais e
com o meio ambiente. As mudanças ocorridas em nosso estilo de vida no
percurso da história, nos mostra que o conceito de corporeidade hoje é
fundamental para tal desenvolvimento.
Se por um lado reconhecemos que o modo de vida ao qual estamos
condicionados na modernidade revela um modo de vida que não potencializa a
condição corpo, somos obrigados a admitir a urgência de uma mudança desse
estilo de vida, passando a considerar a dimensão afetiva, como destacou
Rolando. Ou seja, ternura, solidariedade, amorosidade e sensibilidade são reais
e são possíveis sim e o acesso é estimulando nossa capacidade de sentir e de
se emocionar mediante a vida.
Que saídas podemos encontrar no mundo de hoje para essa questão?
Segundo Walter Coelho em entrevista pelo Youtube, a questão do corpo hoje é
radical porque ele revela o enraizamento que temos na vida e no mundo.
Portanto, faz-se necessário indagarmos o corpo, pois assim, resgatamos a
condição de ser o corpo e a condição de nos enraizarmos na vida a partir da
construção dessa relação com a corporeidade.15
Ter clareza dessa relação “eu sou o corpo” de hoje é fundamental
também para encontrarmos novos caminhos no âmbito das práticas corporais
14
https://www.youtube.com/watch?v=SOYcovFKA2M&t=427s (0:40 a 1:22)
15 https://www.youtube.com/watch?v=SOYcovFKA2M&t=427s (0:30 a 0:40)
21
tanto terapêuticas como educacionais, pois elas nos dão oportunidade de
transformar um cenário atual tão desgastado e reconhecer a importância de
entramos em contato com as forças que habitam o corpo e suas potencialidades.
Entende-se assim, que é preciso darmos as mais variadas
informações que faltam ao corpo para que ele faça sua própria experiência e
constitua desse modo sua corporeidade no mundo de forma mais harmônica e
menos capturada pelo modo de vida atual.
Do corpo a corporeidade, uma visão mais integrada. Um caminho
22
CAPITULO 3
O MOVIMENTO
O movimento é a expressão singular de cada pessoa, revelando
involuntariamente suas mais íntimas possibilidades relacionais e existenciais.
Ele traz consigo, aspectos conscientes e inconscientes, culturais, sociais,
fisiológicos, genéticos e é através dele que aprendemos com as relações e
informações que incorporamos em suas experimentações. Vivenciamos pouco
nossos corpos em movimento de uma forma consciente e sensível em nosso
cotidiano. Mas mesmo assim, o corpo nunca deixa de estar repleto de sentidos
e de afetos que nos ligam a um estado mais profundo de relação conosco mesmo
onde a consciência cotidiana nem sempre pode perceber.
O corpo fala, tem memória, escuta, pensa, sente e incorpora aquilo
que lhe traz sentido. O movimento revela as particularidades de um modo de ser
e de suas potencialidades em ação no mundo. E como seres de expressão e
comunicação, iniciamos a vida conhecendo o mundo e o construindo nossa
história por meio de nossos movimentos.
O corpo fala e, sendo assim, seu principal elemento é o movimento.
Nada mais importa do que ele próprio, pois o movimento em sua expressão é
curativo por si só. Por trás de uma região do corpo imóvel ou inconsciente,
encontramos sempre um grande potencial de transformação.
Graças a nossas articulações podemos realizar todos os nossos
gestos e viver o potencial para o movimento, que revela através do tônus
corporal, nossos estados e nosso potencial de expressão e ação no mundo.
Para Rolando Toro, qualquer estudo sobre o movimento que esteja
relacionado apenas aos dados psicomotores não permite uma condição
integradora de todos os aspectos humanos. É necessário, portanto, que
consideremos principalmente a atitude existencial, a autoestima e a função do
vínculo.
23
Na maior parte do tempo, nos gestos cotidianos, estamos sem
perceber estas relações. Na prática como facilitadora de Biodanza, encontro
sempre pessoas desejosas de vivenciarem intensamente sua vida. Fazê-las se
perceberem nesse lugar vai além da questão básica de saúde, do cuidado
apenas com o corpo biológico.
Olhar as questões do corpo e do movimento considerando as
questões existenciais que incluem a autoestima e a vinculação afetiva, não
somente considera a promoção da saúde como um cuidar das funções e
funcionamentos viscerais, como permite que o sujeito reconsidere sua maneira
de ser no mundo e encontre estímulos para fazer as mudanças que deseja,
considerando a globalidade de sua saúde e o quanto ela depende dessa
integração entre todas as partes de um ser. Essa foi a visão mais instigante e,
portanto, a que me levou a este estudo.
Todo movimento carrega o potencial de ser por si só, organizador e
estruturante. Ele é próprio do homem, é seu pensamento e sua vida no mundo.
Dançar é a permissão de deixar seu corpo falar para você, pois o movimento
surge primeiramente de uma necessidade interna e o corpo é o lugar onde tudo
acontece.
Quando dançamos, entramos em contato com nossas
potencialidades, que nos conduz a sentir o corpo e a enriquecer nossas
perspectivas. Quando saímos do estado tenso para a descontração, mudamos
o tônus corporal porque mobilizamos nossa fisiologia. Todo movimento produz
calor, deslizamento e mudança na matéria. Quando a matéria do corpo se
encontra maleabilizada, melhoramos nossa capacidade perceptiva e assim,
abrimos caminho para reconhecer nossas potencialidades. Falo de uma relação
gerada pela intensidade emergente do ato da vivência através do encontro com
a própria dança. Sim, porque a proposta da Biodanza não é somente dançar,
mas também estimular o sujeito a encontrar sua própria dança.
A prática da Biodanza coloca no centro de sua análise, a vida.
Portanto, em sua singularidade, o que a pessoa descobre vivencialmente lhe
pertence. Nesse sentido a noção pedagógica de um fenômeno vivenciado é
24
percebida por cada um de maneira própria. Logo, a percepção de si não é
somente a consciência do próprio corpo e de seus movimentos, mas também o
reconhecimento de uma maneira própria de sentir e perceber sua vida e suas
singularidades.
Nossos movimentos, nossa postura e nossas expressões nos
oferecem uma fonte segura para o nosso conhecimento próprio. Sendo nosso
corpo, podemos reconhecer que nossa identidade se forma a partir de nossas
experiências de vida. Como nos afirma Rolando Toro: “o desenvolvimento
embriológico da identidade é paralelo e coerente com o desenvolvimento
psíquico.’16 Ele ainda nos diz que: “- Negar a própria identidade é uma perversão
expressiva grave que conduz a destruição do indivíduo.” Por aí já se reconhece
o olhar de Rolando, sobre a importância da expressão da identidade do sujeito
no mundo, objetivo máximo da Biodanza, e sua identificação com a espécie
humana.
Para Rolando Toro, tanto as práticas desportivas como algumas
modalidades de dança e trabalhos corporais não foram suficientes para abarcar
a questão que envolve todo o potencial humano. Se vivenciamos de uma
maneira particular os mesmos movimentos de uma espécie é porque possuímos
nossas próprias particularidades dentro da espécie e isso faz toda a diferença
para que cada um encontre desde seu próprio movimento, aquilo que melhor lhe
constitui e não o que a massificação atual propõe. Para ele, uma possível ciência
do movimento poderia partir dos seguintes princípios de movimento: o
intencional controlado; o movimento espontâneo; os automatismos; a postura; o
contato; a carícia.
Esta ciência do movimento para Rolando, abarcou o olhar biológico,
psicológico e antropológico. Pois qualquer estudo sobre o movimento que esteja
relacionado apenas aos aspectos psicomotores não permite uma condição
integradora de todos os aspectos humanos. Ao meu ver, Rolando nos falava de
um trabalho corporal que estimulasse um estado de abertura no corpo, mas ao
mesmo tempo uma estrutura que o permitisse ser acolhido em suas diferentes
16
Apostila Movimento Humano – Curso de Formação Docente em Biodanza, p.32
25
dimensões, onde os principais fatores a considerar são: a atitude existencial; a
autoestima; a função do vínculo.
Foi justamente esta visão integradora que o fez chegar ao modelo
teórico da Biodanza, cuja proposta consiste num sistema que permite agrupar
distintos aspectos do movimento corporal com uma visão holística do ser
humano. Há muitas questões pelas quais o movimento é abordado na Biodanza.
E para Rolando, elas seguiam das seguintes premissas:
- Sua prática corporal lhe promove saúde?
- Quais os efeitos desta prática em seu corpo?
- Ela permite que se desenvolvam seus potenciais humanos, para que
se eleve sua qualidade de vida?
- Qual a complexidade das relações entre os distintos movimentos
que você pratica e sua unidade do sistema humano vivente?
Ou seja, como um trabalho corporal pode transformar e melhorar a
qualidade de vida na vida da pessoa? Entendo que na visão de Rolando, saúde
não é somente a ausência de sintomas, mas também a capacidade para
experimentar a vida e se adaptar a suas mudanças constantes. O conceito de
saúde, então, passa a ser a capacidade de estarmos criando vida em nossas
vidas. Sendo ainda, a capacidade de nos entregarmos amorosamente a vida, ao
amor, ao trabalho e aos acontecimentos cotidianos. E quando fechamos esse
acesso, rompemos com a saúde e abrimos a porta para doenças.
Na continuidade, Rolando acreditava que daria início a investigações
futuras cujos efeitos tivessem repercussão nessa visão integrada da saúde pelo
desenvolvimento dos potenciais humanos e pela elevação da qualidade de vida,
pois o modelo teórico por ele criado abarca formas profundas de integração e
regulação do movimento em seus aspectos altamente diferenciados para chegar
numa profunda transformação do sujeito pelo movimento.
26
No II Congresso Latino Americano de Biodanza (São Paulo, 1984),
Rolando Toro17 propôs um modelo de organização cientifica das distintas classes
de movimento, dispostos num sistema de coordenadas, distribuídos em diversos
tipos de movimentos de forma tal que qualquer delas pudessem ser descritas
dentro de critérios de totalidade e que permitissem vivenciá-los livremente para
posteriormente integrar a experiência em si.
Por isso Biodanza não é dança livre. Podemos vivenciar os
movimentos livremente, mas a organização da proposta com os movimentos é
precisamente adaptada a fornecer ao sujeito a experiência de acordo com o tema
que se deseja acessar. Os exercícios promovem parâmetros dando um norte ao
sujeito, mas a experiência é própria, única e intransferível. A emoção enquanto
movimento biológico, surge e leva o sujeito ao movimento e a sua experiência
singular, onde acessa o possível para ele.
Sendo assim, a proposta em Biodanza é que o sujeito possa construir
seu processo de subjetivação, diferenciando-se em sua singularidade e saindo
do modelo social vigente que o impedem de fazer essa construção.
A dança, a música ou um poema, igualmente nos afetam e promovem
em nosso interior, um movimento. O corpo precisa dessa informação para ser
afetado e assim reconhecer sua corporeidade, onde temos um corpo que sente,
pensa e acessa sua sensibilidade corpórea, pois é ele que nos apresenta alguma
novidade a ser incorporada.
Chegamos assim num corpo vivo, desperto e sensível, onde os
movimentos são plenos de sentido. Um gesto ou movimento sem o corpo
sensível, é como fazer um gesto mecânico e repetitivo como o que sugerem
inúmeras práticas em academias de ginástica. Sair do modo mecânico de viver
a vida influi em, amar o corpo para fazê-lo despertar e integrar as coisas práticas
da vida nesse enredo. Ou seja, amando, sentindo, questionando, mas,
principalmente partindo de uma atitude afetiva e de estranhamento consigo
mesmo. A dança nos permite esse estranhamento.
17
Apostila de Movimento Humano - Curso de Formação de Docente em Biodanza, p.6
27
Dançar é uma das primeiras experiências feitas pelo homem para ter
o conhecimento.
“A dança, assim como o canto e o grito, é uma das condições inatas do ser humano.
O primeiro conhecimento do mundo, anterior a palavra, é aquele que chega a cada um de nós
por meio do movimento”.18
Toro nos ressalta que a dança surge das profundezas do ser humano,
sendo ela o próprio movimento de vida, de intimidade e de impulso a união com
a espécie, revelando assim, nosso modo de ser no mundo e permitindo uma via
de acesso a nossa identidade original e a expressão de nossa unidade orgânica
humana no universo.
Deste modo, Rolando enxergou que resgatar essa origem da dança
seria também reencontrar a força positiva que faz os organismos crescerem e
desenvolverem-se, permitindo assim a evolução da espécie. Sendo ainda, um
modo de adaptação ao movimento cósmico.19
Rolando defendeu então o encontro de uma dança orgânica, que
pudesse responder aos padrões de movimento que geram vida e não que
perturbem a organicidade do sujeito, e foi isso que encontrou. Seu propósito era
desenvolver “pautas de movimentos” que permitissem uma ressonância
profunda tanto com o micro e o macrocosmo, e com a capacidade de vinculação
real, gerada por movimentos capazes de estimular a vinculação afetiva.
Somente assim, acreditava Rolando, se torna possível, “renascer e
sair do caos obsceno” ao qual vivenciava na época, para encontrar um novo
modo de viver baseado na sensibilidade, na presença plena de si e de sentido
mediante a vida. “O que a gente necessita para viver é um sentimento de
intimidade, de transcendência, de vinculação gozosa e de estimulante
felicidade”.20
Pelo olhar de Rolando, hoje, ainda como naquela época, sabemos
que o enraizamento na vida não pode vir meramente de uma ideologia
18
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.13.
19
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.30.
20
TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 30
28
desencarnada da ação. Por isso destacamos aqui a organização feita por ele
sobre sua proposta de movimento disposta em exercícios, definindo categorias
de movimentos que possam ativar através da dança e da comunicação em
grupo, vivências harmonizadoras. Rolando destacou e organizou então
dezessete categorias distintas de movimentos a serem trabalhadas
separadamente, que são:
- 1. Ritmo - 10. Agilidade
- 2. Potência - 11. Leveza
- 3. Controle Voluntário (intencional) - 12. Flexibilidade
- 4. Resistência - 13. Fluidez
- 5. Coordenação - 14. Eutonia
- 6. Equilíbrio - 15. Expressão
- 7. Sinergismo - 16. Eurritmia
- 8. Elasticidade - 17. Passagem do ritmo à melodia
- 9. Extensão
Entre tantas possibilidade de leitura de nossos movimentos, Rolando
destacou ainda, mais algumas orientações a serem observadas e tratadas,
sendo:
- Os movimentos voluntários.
- O deslocamento dentro do espaço.
- A semântica expressiva em relação a certos códigos gestuais.
- A busca consciente de alguns efeitos e a coordenação dos diversos
movimentos em função da temática.
- A coordenação auditivo-sonora e visual-motora.
- A localização ao redor de outras figuras referenciais e relacionais.
- A introdução espontânea de elementos de fantasia.
Quando o dançarino põe em ação seus movimentos, ajustando as
necessidades expressivas, estéticas ou de representação, está
29
assumindo o comando de uma série de funções vinculadas a
identidade. Ou seja, (...) ele está colocando em ação toda sua
capacidade de jogo, equilíbrio, coordenação e expressão (...).21
Destacamos aqui, a importante visão de Rolando...
As transformações, as mudanças, para que tenham um sentido
evolutivo, têm que ser em referência a um centro interior. Têm que ser
em referência a um princípio de gravidade e equilíbrio; de vinculação
nossa com o centro de gravidade da terra. Porque toda outra mudança
é externa e não é uma mudança de fundo. É uma mudança parcial, que
às vezes pode resolver problemas locais. Mas, se aquele que quer
fazer mudanças sociais não muda a si mesmo, não tem nada a
oferecer. Então, qualquer transformação de grupo, qualquer
transformação social, nós pensamos que tem que ser feita a partir da
saúde, não a partir da neurose. Quer dizer, os que fazem a
transformação, que são vocês, têm que ter algo grande que dar. Tem
que ter saúde, fraternidade, altruísmo, erotismo, vitalidade, vinculação
com a natureza. Não há transformação político-social a partir da
neurose.22
Segundo ele as mudanças se fazem a nível de gente; não se fazem a
nível cortical, se fazem a nível hipotalâmico.23
Faz-se importante destacar aqui o olhar e as palavras determinadas
e coerentes de Rolando em relação as questões da vida enquanto seres de
movimento e também em relação ao mundo e a condição social, política,
econômica e educacional a qual dependemos.
Estamos habituados a um pensamento que está vinculado ao
discurso e a razão e não a linguagem corporal, assim nos fez a história mediante
o pensamento platônico.
O corpo tem uma organização própria dele. Uma sabedoria que rege
o funcionamento de todos os sistemas de forma integrada. Estados diferentes
vão produzir experiências e aprendizagens diferentes das habituais.
A proposta com Biodanza é induzir vivências através da dança, do
canto, de exercícios de comunicação em grupo. Pois um corpo que se
movimenta está em contato com as sensações mais íntimas e isso invade a
consciência. Isso nos permite, além de outras possibilidades, integrar sensação
e pensamento na ação, resgatando a importância do corpo e rompendo com o
21
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.29
22
TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 63
23
TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 64
30
que nos foi transmitido essencialmente pela história da cisão entre corpo e alma
e todo o seu legado patológico sobre o ser.
A proposta de movimento com a Biodanza está ligada mais a um
estado de abertura ao corpo sensível e a experiência de contato com campos
que não passam pelo lugar da significação, mas sim pela capacidade de nos
emocionarmos, e que assim podem permitir um estado de consciência ampliado
em função da expansão dos limites do corpo.
Quando falamos nessa ampliação e transformação do sujeito pelo
movimento em Biodanza, reconhecemos que essa condição se dá mediante o
processo de integração que ela pode proporcionar.
Segundo o criador, o conceito de “mudança” em Biodanza propõe
uma série de interrogações, dentre as quais podemos destacar:24
1. Que sentido tem a mudança dentro do indivíduo? Que mudanças e
adaptações ela provoca em seu organismo?
2. Que consequências tem a mudança na vida do sujeito? Existe um
ambiente receptivo para a mudança e ela pode ser sustentada pelo sujeito?
4. Como lidar com os riscos que a mudança traz? Que consequências
as mudanças oferecem as demais pessoas que convivem com o sujeito em
questão?
5. Podemos avaliar o nível de profundidade da mudança e
consequentemente reconhecer o novo equilíbrio tanto internamente como
externamente alcançado?
Segundo Rolando, a maior parte dos sistemas de desenvolvimento
humano não se colocaram seriamente estas perguntas. E justamente pela
dificuldade desta resposta foi que ele destacou a importância em cuidarmos da
dimensão que o trabalho com Biodanza pode alcançar. Rolando lançou assim,
algumas respostas provisórias a essas perguntas, sujeitas a uma verificação
mediante o avanço das ciências.
24
Toro, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 113/114
31
1. A mudança deve ser feita no sentido de aumentar a integração do
sujeito, respeitando seu equilíbrio e suas necessidades profundas, tendo como
base a recuperação dos instintos através da abordagem vivencial.
2. A profundidade da mudança deve ser avaliada em relação a nova
integração que o sujeito alcançou, mediante os seguintes parâmetros: mudanças
a nível motor, sensitivo motor, cognitivo motor, mudanças das respostas
instintivas e viscerais, de nível afetivo, isto é, mudanças da qualidade e
intensidade do encontro inter-humano, mudanças de amplitude de consciência,
etc.
3. para que sejam sustentáveis e não traumáticas ou destrutivas, as
mudanças necessitam estar em relação de escuta e reciprocidade entre o
ambiente e os sistemas corporais. Se não for por essa ordem, perdemos a
integração e aumentamos a desordem.
4. A relação com a manutenção da mudança, requer uma
progressividade no processo. As mudanças bruscas não respeitam a
organicidade e nem integram o processo, podendo aumentar o nível de
perturbação do sujeito.
5. A mudança não deve se dar de modo isolado e sim buscar
acolhimento e apoio com as pessoas próximas e com ambientes nutridores,
respeitosos e ternos.
6. A avaliação pode ser feita respeitando as características
especificas das linhas de vivência e a integração entre elas, acompanhando a
progressão do sujeito.
Porém, as perguntas fundamentais que Rolando levantou a respeito
da mudança do sujeito em sua vida foram: O que mudar? Como mudar? Através
de que proposta? Terá consistência essa mudança?
A Biodanza oferece um panorama dessas possíveis mudanças que
se dão na seguinte ordem:
32
-1ª Ordem: São as que se espera acontecer logo ao início da entrada
num grupo regular.
-2ª Ordem: As que promovem uma transformação em resistências
mais profundas, provenientes de grupos regulares de aprofundamento.
-3ª Ordem: Mudanças radicais.
Mudanças de uma 1ª. Ordem:
1. A integração ao próprio corpo, pois a maioria das pessoas
encontram-se dissociadas pelo processo da cultura e não sentem nem percebem
a si e ao seu corpo na totalidade que é.
2. A expressão das emoções não correspondem ao que a pessoa
descreve em sua fala, em relação ao que vivencia. Atitude herdada por séculos
de uma cultura que valorizou a dissociação corpo-mente.
3. Diminuição das defesas e resistências, percebidas e expressas
pelo corpo e transmitidas através de uma postura e de movimentos mais
coordenados, suaves e arredondados, ou seja, menos bruscos.
4. O respeito à expressão orgânica, no sentido de desperdiçar menos
energia com situações e atitudes que não são nutridoras do bem estar geral da
pessoa. Otimizando o trabalho e funcionamento do próprio corpo e dos
mecanismos de auto regulação.
5. Reconhecer a potência que o princípio de saúde baseado na
restauração da vitalidade tem no processo de mudança e que as soluções
provem daí e não do sofrimento.
6. A integração motora.
5. A melhoria na comunicação e expressão pela permissão a olhar
nos olhos, sorrir e para escutar o outro.
33
6. Reconhecer o corpo como fonte de prazer, assim como despertar
o desejo como algo natural e saudável e sem culpa através da confiança e da
entrega para que se dê o desfrute ao prazer.
7. A expressão das emoções.
Segundo Rolando em sua proposta com Biodanza, concluímos que,
quando entramos em contato com as experiências primárias, somos capazes de
acessar esse estado sensível e passível a mudanças proposto pelo processo
vivencial que a Biodanza permite. Onde, no corpo vivo, desperto e sensibilizado
pela vivência, estamos abertos a experiência. Esse lugar emergente é o lugar
onde a vivência de Biodanza nos leva e é um momento de abertura plena e
receptividade à vida e as forças que dela se apresentam.
Existe uma estreita relação entre a semente e o fruto, entre o programa
genético e o organismo em seu processo de maturação; o segredo da
renovação da vida é encontrado nessa coerência com a origem. Sem
a capacidade de reparação biológica, nenhum organismo poderia
sobreviver. 25
Segundo ele, é necessário fazermos uma transvaloração da cultura
para sairmos desse modo que tanto desqualifica e menospreza a vida e nos
mantem submetidos a dominação de uma cultura consumista. Em sua proposta,
acreditava que ela se inicia dentro de nós mesmos e na relação e
desdobramentos dela, para que chegue no mundo.
No ser humano, o conhecimento depende de sua interação com a
realidade. E são justamente as relações internas, o efeito de nossos
sentimentos, sensações e pensamentos que geram os nossos movimentos na
direção do conhecimento que é o “outro”.
Sendo assim, a questão principal a considerar, apontada por Rolando,
foi a dimensão total e tipicamente humana, baseada na direção do conhecimento
que é o movimento vinculante. Ou seja, dependemos do outro para nos
reconhecer e sem a capacidade afetiva não nos vinculamos de um modo
25
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 115
34
implicado, comprometido e responsável. Nossos movimentos e o contato físico
com o outro, formam a ponte necessária para que a mudança se dê.
Reconhecemos assim, que para se alcançar a comunicação por meio
dos movimentos, precisamos ter uma maior evolução motora, sensibilidade da
percepção e empatia a um nível da escuta do próprio corpo e das relações.
A Biodanza em suas considerações destaca que o movimento
vivencial em relação com o outro se coloca através das vivências de eutonia,
fluidez com o outro, sincronização rítmica e melódica com o outro, ressonância
anímica com a música, coordenação rítmica com o outro, prazer cenestésico
com o outro e o encontro em feedback.26
A Biodanza se propõe a integrar o ser humano a partir da sua
condição movente, que é viver sua vida através de seus movimentos, pois a vida
em sua maior instância é movimento.
26
Apostila de Movimento Humano - – Curso de Formação de Docente em Biodanza, p. 15/16
35
Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo o cuidado
Meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa
Do azul pintado
Pra durar
Abelha fazendo o mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor
E ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for
E ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado
Meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do seu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser todo
Amor de Índio (Beto Guedes)
36
CAPITULO 4
BIODANZA
Origem
A base conceitual da Biodanza provém de uma meditação sobre a vida;
do desejo de renascermos de nossos gestos despedaçados, de nossa
vazia e estéril estrutura de repressão; provém, com certeza, da
nostalgia do amor.27
As patologias do “eu”, como apontou Rolando, sustentadas pelas
ideologias políticas e educacionais, foram caracterizadas pela cisão entre
natureza e cultura, com uma valorização predominante da razão sobre o instinto.
A Biodanza surge do desejo de renascer e superar uma forma de vida
vazia proporcionada por valores culturais distorcidos pelas sociedades de
consumo, reprimida e distanciada de si. A Biodanza surge para resgatar o
vínculo original com a espécie, como totalidade biológica, e com o universo como
totalidade cósmica.
Para Rolando, nós nos privamos de nossa identidade e, portanto, de
nossa saúde, quando deixamos de olhar, de escutar, de tocar, ignorando o outro
em prol de uma presença ausente e adormecida que desqualifica a presença do
outro. A Biodanza procura assim um novo modo de viver, despertando a
“sensibilidade adormecida” para encontrar um “sentimento de intimidade”, de
“união agradável” e “beleza estimulante”, provenientes de nossa parte saudável.
Definição
Biodanza é um sistema de integração humana, renovação orgânica,
reeducação afetiva e reaprendizado das funções originárias da vida.
Sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio
da música, da dança, do movimento e de situações de encontro em
grupo.28
Integração afetiva: trata-se de restabelecer a unidade perdida entre
percepção, motricidade, afetividade e funções viscerais. O núcleo
integrador é a afetividade que influi sobre os centros reguladores
27
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 13
28
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 33
37
límbico-hipotalâmicos, que, por sua vez, influem sobre os instintos,
vivências e emoções.29
Renovação orgânica: é o estabelecimento da harmonia homeostática,
isto é, da ultra estabilidade dinâmica do bio-sistema. A renovação
orgânica é induzida principalmente através de estados especiais de
transe, que ativam processos de renovação e regulação global das
funções biológicas, diminuindo os fatores de desorganização (entropia
do sistema).30
Reaprendizagem das funções originárias de vida: consiste na
retroalimentação do comportamento e do estilo de vida, com os
instintos básicos (programação genética). Os instintos têm por objeto
conservar a vida e permitir sua continuidade e evolução. (Não há
evolução biológica através da cultura). O desenvolvimento dos
potenciais genéticos se realiza através do bombardeio de ecofatores
positivos sobre cinco grandes conjuntos de potenciais: Vitalidade,
Sexualidade, Criatividade, Afetividade e Transcendência. O
desenvolvimento dos potenciais genéticos dentro de um contexto
ecológico, reativa as funções originárias de vida (capacidade de amor,
alegria, coragem de viver).31
Conceitos estruturais
1.Inconsciente vital:
Segundo Rolando Toro, o inconsciente vital representa o psiquismo
das células e dos órgãos e a capacidade que essas estruturas corporais tem de
memória, defesa, afinidade, rejeição, solidariedade e comunicação entre elas
dando também origem aos estados de humor. Este psiquismo não trabalha com
ideias nem com imagens, ele responde a estímulos internos, externos e
instintivos, sendo responsável também pela defesa imunitária e adaptação ao
meio ambiente. Seguindo o conceito, os estados de humor estão relacionados
com a condição de equilíbrio, vitalidade e saúde do organismo.32
2.Princípio biocêntrico:
O princípio biocêntrico é reconhecido pelo respeito a vida e a sua
conservação no planeta, inspirando-se nas leis universais que conservam os
29
TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 2
30
TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 2
31
TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 2
32
Apostila Definição e Modelo Teórico - Curso de Formação Docente em Biodanza; p. 8
38
sistemas vivos e torna possível sua evolução. A Biodanza se estrutura em
profunda ressonância com esse princípio e suas leis, colocando a vida e sua
preservação no centro de tudo que há, estando assim inteiramente
comprometida com o principio biocêntrico e com a forma de sentir e pensar por
meio da vivência. (...)” O princípio biocêntrico surge de uma proposta anterior a
cultura e se nutre nas informações que temos sobre os seres vivos”33
Conceito de vivência
O sistema Biodanza se dá por meio de vivências integradoras, que
nos permitem acessar o inconsciente vital e os potenciais humanos. A vivência
tem uma ação reguladora sobre a organicidade, o que repercute diretamente
sobre a vida da pessoa. Em Biodanza, “a ação reguladora dos exercícios não se
exerce sobre o córtex cerebral voluntário, mas sim sobre a região límbico-
hipotalâmica, centro regulador das emoções.
A Biodanza contempla os potenciais humanos dispostos por cinco
linhas de vivência especificas, por onde eles se expressam, que são: vitalidade,
criatividade, sexualidade, afetividade e transcendência. As cinco linhas de
vivência dispostas vão atuar e estimular o sujeito em todos os âmbitos da
expressão da existência humana.
O primeiro a investigar o sentido de vivência foi o filosofo historicista
alemão Wilhelm Dilthey. Segundo Rolando, ele definiu como sendo
algo revelado no complexo psíquico dado na experiência interna de um
modo de existir a realidade para um indivíduo, e que esta concepção
teve influência direta sobre a fenomenologia de Maurice Merleau-
Ponty, na ontologia de Martin Heiddegger e na sociologia de Max
Webber.34
Na teoria de Biodanza, Rolando Toro redefine o conceito de vivência
como a experiência vivida com grande intensidade por um indivíduo no momento
presente, que envolve a cenestesia35, as funções viscerais e emocionais. A
vivência traz a referência tempo/espaço do aqui agora, concedendo o sentimento
33
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 50
34
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 30
35
CENESTESIA: impressões sensoriais internas do organismo, que formam a base das sensações
39
de presença. Mediante a vivência, o indivíduo pode sentir-se integrado, a partir
de uma profunda conexão consigo mesmo.
Em Biodanza, estimula-se esse contato consigo através de situações
prazerosas, reforçando assim o lado positivo e inaugurando o aprendizado
decorrente não somente das funções corticais, mas sim de um envolvimento de
todo o organismo, onde o corpo também participa do pensamento.
A proposta pedagógica orientada pelo método vivencial da Biodanza,
é que a aprendizagem ocorra em três níveis em correspondência: o cognitivo, o
vivencial e o visceral. Quando isto não ocorre o resultado são comportamentos
dissociados. Por isso, a proposta da Biodanza vai das vivências à compreensão
racional do processo e não da compreensão racional do processo para as
emoções, como promovem as terapias cognitivas. Não que ela exclua a
cognição, a consciência e o pensamento simbólico, mas a metodologia vivencial
propõe um caminho inverso, onde a consciência e registros dos estados internos
virão após a vivência.
A vivência por si só é integradora, pois o estado vivencial é
profundamente restaurador da organicidade do indivíduo, além de não
buscarmos analisar ou julgar conscientemente o que foi sentido, mas deixar que
a experiência dada no interior seja acolhida e possivelmente relatada e
compartilhada no grupo.
A experiência de quarenta anos em suas pesquisas, ajudaram
Rolando a observar e a definir características essenciais contidas no trabalho
apoiado na vivência e assim as resumiu: a experiência original; a anterioridade
a consciência; a espontaneidade; a subjetividade; a intensidade e suas
variações; a temporalidade; a emocionalidade; a dimensão cenestésica; a
dimensão ontológica; a dimensão psicossomática.36
Sabemos que a expressão de nossos sentimentos, pensamentos e
emoções vem tanto dos órgãos dos sentidos como da percepção. Portanto, a
36
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 30 e 31
40
vivência com seu potencial cenestésico constitui um modo de explorar a
consciência e consequentemente o conhecimento, assim como estabeleceu
cientificamente a fenomenologia de Merleau-Ponty.37
Linhas de vivência
Vitalidade:
De um modo geral a vitalidade corresponde a um bom nível de saúde
e harmonia orgânica. Significa também ter forte motivação para viver e possuir
energia para a ação que vem da profunda conexão com a vida. A vitalidade se
expressa pelo sentimento de alegria interior e entusiasmo pela vida, o humor
endógeno, estados de ânimo eufórico ou depressivo.
O desenvolvimento da vitalidade é estimulado mediante a dança, da
mobilização do sistema neurovegetativo simpático e parassimpático, da
homeostase, equilíbrio interno que se preserva apesar das mudanças externas,
pelo instinto de conservação luta e fuga, pela iniciativa a ação e pela resistência
imunológica.
Os exercícios na linha da vitalidade mobilizam a resposta orgânica
que está ligada ao inconsciente vital estimulando os estados de ânimo. A
vitalidade ajuda a pessoa a estabelecer uma conexão precisa com a vida e a se
aproximar cada vez mais daquilo que gera vida em sua vida, pois hoje em dia
isso se encontra completamente perturbado.
Sexualidade
“Em seu sentido mais amplo, a sexualidade é o que distingue física e
emocionalmente o macho da fêmea, tanto nos animais como nos vegetais. Isto
significa que na sexualidade participam componentes genéticos diferentes,
exceto nas flores hermafroditas. A diferenciação possui um papel fundamental
na reprodução das espécies e, portanto, na continuidade da vida. No ser
humano, a sexualidade também está associada ao prazer e a motivação para
37
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 32
41
viver. A sexualidade revela nossa energia erótica, que é também energia
cósmica geradora de vida. Essa expressão vem sofrendo através dos séculos
inúmeras formas de repressão. Em algumas culturas ela é o caminho do êxtase
e um modo de alcançar o sagrado. A diminuição do desejo e das motivações
sexuais em nosso tempo podem ser consideradas como uma catástrofe
antropológica”.38
“Se a sexualidade é um modo de ser, não é somente a expressão de
glândulas endócrinas e da genitalidade. Tão pouco está limitada a função
reprodutora do orgasmo”. Ela engloba a totalidade do ser, por isso está ligada à
nossa relação com a vida. Portanto está diretamente ligada a sensação corporal
proveniente das necessidades internas, que está em relação com nossos
estados de humor endógeno, com os desejos e em relação com os seres
humanos”. Segundo Rolando: “a vivência da sexualidade é uma expressão do
inconsciente vital que se manifesta como sensações de prazer cenestésico de
intensidade variáveis e que podem conduzir ao estado de êxtase”. Ela é a força
de nossa mobilização existencial. Os exercícios nessa linha de vivência
estimulam os movimentos e sensações relacionados com o erotismo, com a
identidade sexual e com a função do orgasmo. Permitindo despertar a fonte de
nossos desejos e a superar a repressão sexual.39
Criatividade
A Criatividade vista por Rolando Toro é uma atividade pertencente ao
próprio processo de transformação cósmica, uma passagem constante do caos
a ordem sucessivamente alternada, que no ser humano se expressa como
impulso de renovação diante da realidade.
Segundo Rolando...se a vida é uma expressão do universo em nós, a
criatividade humana poderia ser considerada como uma extensão dessas forças
biocósmicas, nos fazendo criar e gerar vida ao mesmo tempo que somos criados.
Para ele, nossa grandeza, nosso potencial criativo não está no espírito, mas sim
em nossa vida e que se faz importante sairmos dos condicionamentos
38
Apostila de Sexualidade – Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 4 e 5
39
Apostila de Sexualidade – Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 5 e 6
42
tradicionais proporcionados pela psicologia da criatividade para mergulhar no
extraordinário que é viver. Nosso modo de vida social reprime nosso potencial
criativo.
Para Rolando a atividade criativa não estava vinculada aos modos de
arte terapia através da dança e da música. Para ele o ato de criar está ligado aos
impulsos naturais criativos, que estão em conexão com o processo de viver.
A repressão da criatividade promove na pessoa uma dissociação
entre o que ele sente e faz, fazendo-o agir de forma mecânica obedecendo a
padrões impostos de fora para dentro, repetindo gestos sem sentido existencial.
A perda da criatividade impede o fluxo organizador da vida na pessoa porque
impede também a escuta que o coloca em relação com o mundo.
A falta da força criativa inibe a expressão de nossa organicidade e
também nossa sensibilidade em relação ao mundo deixando-nos vulneráveis a
inúmeras patologias geradas pelo “não ser em si”.
Afetividade
Segundo Rolando, é um estado de afinidade profunda em relação aos
seres, capaz de originar sentimentos de amor, amizade, altruísmo, maternidade,
paternidade, companheirismo, etc. Quando nos identificamos com os outros e
somos capazes que compreendê-los, amá-los, mas também de rejeitá-los. A
raiva, o ciúme, a insegurança, a inveja, também são considerados expressões
distorcidas da afetividade. A afetividade pode se manifestar tanto na dimensão
diferenciada, relacionada a uma só pessoa como o sentimento voltado ao
indiferenciado, dirigido a humanidade. A vivência da afetividade traz recordações
que estão em relação com nossa memória e representações, portanto está
ligada à nossa consciência. A linha da afetividade vai despertar principalmente
o sentimento de amorosidade para com os demais e com o todo. Segundo
Rolando, a afetividade é a expressão de nossa identidade. As formas patológicas
da afetividade se manifestam na destrutividade, na discriminação social, no
racismo, na injustiça e nos impulsos autodestrutivos. Quanto mais afirmamos
nossa identidade mais capacidade temos de amar e vivenciar nossa capacidade
43
afetiva. A afetividade não está submetida a sensibilidade nem a inteligência, mas
sim ao sentimento de amor a humanidade e as atitudes e ao processo evolutivo
da espécie. Os exercícios propostos em cerimônias de encontro, de contato,
vinculação e solidariedade com o outro proporcionam uma reeducação afetiva e
o acesso a amizade e amorosidade.40
Transcendência
A transcendência nos fala da capacidade que o homem possui de se
vincular essencialmente ou profundamente com tudo que existe. Em Biodanza,
transcender é superar a força do ego e ultrapassar limites da percepção e da
consciência, podendo identificar-se com a essência da natureza e das pessoas.
A vivência de transcendência estimula a região central do hipotálamo e suas
conexões com o lóbulo frontal e com a amígdala, proporcionando estados de
êxtase que são revelados pela neurociência e não somente como fenômenos
espirituais. Os exercícios da linha de transcendência vinculam o participante de
Biodanza com a harmonia universal e com a consciência cósmica.41
Expressão genética
Cada indivíduo possui um potencial genético que constitui um
conjunto de características que se dão no momento da fecundação,
determinando assim a identidade biológica que se expressará através da vida.
Os potenciais genéticos se organizam e se desenvolvem num nível orgânico e
emocional que está de acordo com a sintonização da unidade cosmo biológica
e não necessariamente de acordo com padrões culturais. O desenvolvimento
humano se dá a partir do potencial genético. O homem expressa durante sua
vida um número mínimo desses potenciais. Existem milhões de combinações
dentro da dupla espiral que são reguladas por um verdadeiro relógio genético e
se expressam tardiamente, enquanto outros se expressam logo no período inicial
da vida. Portanto uma estrutura reúne milhares de potencialidades que só
esperam a possibilidade para se manifestar. As diferentes situações na vida de
40
Apostila de Afetividade, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 5
41
Apostila de Transcendência, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 3
44
uma pessoa poderão deflagrar expressões genéticas imprevisíveis. O modelo
teórico do sistema Biodanza criado por Rolando ressalta o processo de
remodelação através do qual o potencial genético pode ser manifestado para
ajustar-se as autênticas necessidades de vida em detrimento dos valores rígidos
criados pela cultura ao qual a pessoa deve seguir reprimindo seus potenciais e
o desenvolvimento deles.42
Todo nosso potencial está contido em cada uma de nossas células.
Isto significa que a natureza assegurou a informação, reproduzindo-a
milhões de vezes. Alguns genes em conjunto permitem a expressão de
determinadas características. Assim, por exemplo, a inteligência, o tom
da voz, nossa sensibilidade cenestésica, depende da ação conjunta de
genes diferentes. A ausência de determinada característica pode ser
devido a um elemento genético que não esteja participando. Em tal
caso, esta existe potencialmente, mas não se expressa.43
Mecanismos da ação
O objetivo principal da Biodanza é levar a pessoa a uma integração
de sua totalidade. Os mecanismos de sua ação estão todos interligados e
dispostos a estimular a totalidade desse processo que é inerente à vida humana,
sendo eles: a vivência; a expressão da identidade e integração dos potenciais
humanos; o trabalho relacional; a reeducação afetiva; a renovação orgânica; a
reabilitação existencial; a percepção do ato de viver e a expansão da
consciência.
A principal ferramenta na ação da Biodanza é a estimulação de
vivências mediante a música, a dança e as situações de encontro em grupo. Na
abordagem da Biodanza, a pessoa é convidada a priorizar a vivência em
detrimento do pensamento lógico e racional, onde o significado vem pela
vivência.
“As vivências têm um poder de integração em si mesmas e não
necessitam de elaboração consciente; elas são modo de cognição, a nível
42
Apostila Modelo Teórico, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 30
43
Apostila Modelo Teórico, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 30
45
inconsciente”44. Por isso a importância da progressividade dos exercícios assim
como de sua continuidade. A integração de um indivíduo depende da sua relação
com a espécie e com o todo, portanto, não existe Biodanza individual, é uma
atividade grupal.
O fundamental na Biodanza é a expressão da identidade, e para
Rolando Toro a identidade só é identidade se manifesta na presença do outro,
diante do” tu”. Segundo Rolando, não é preciso amar a si primeiro para então
amar ao próximo. Isso ocorre simultaneamente: enquanto amo ao próximo estou
amando a mim mesmo. O amor a si mesmo e o amor ao próximo não são
sucessivos, mas simultâneos”45.
Os potenciais genéticos se manifestam pela ação dos ecofatores, ou
estímulos do meio ambiente, que também podem inibi-los. A Biodanza age
diretamente sobre a identidade proporcionando esses estímulos através da
música que é especificamente direcionada a estimular a emoção, os ecofatores
atuam sobre as cinco linhas de vivências e músicas que tem ressonância com
nossa organicidade. A música em Biodanza tem o poder de deflagrar vivências
integradoras e também proporcionar vivenciarmos o ritmo, o tônus, a fluidez, a
harmonia e a capacidade de sentir, de forma integrada e vinculada aos critérios
e significados temáticos das vivências.
A dança não tem uma proposta na execução de movimentos e
aprimoramento técnico como a da dança acadêmica, mas sim a abordagem de
uma dança integradora, baseada nos gestos naturais.
Sentir seu próprio movimento é abrir a porta para o sentido e o gosto
que ele próprio traz, compreendendo relações com a integração sensitivo
motora, entre o sentir, o pensar e o agir. Essa dança integradora oferece
ecofatores positivos e deflagra as vivências, assim como a música, gerando a
homeostasia das funções orgânicas, a regulação do sistema integrador
adaptativo-límbico-hipotalâmico e elevando a alegria de viver.
44
TORO, 1999:5 – Apostila da Escola Biocêntrica Rolando Toro de Pelotas
45
TORO, 1999:5-6. Apostila da Escola Biocêntrica Rolando Toro de Pelotas
46
Outra potência para o sistema é o desenvolvimento de nossa
capacidade de vinculação através da conexão afetiva entre as pessoas.
Segundo Rolando, a vinculação proveniente da força afetiva permeia a
identidade e tem poder curativo.
O transe é justamente a passagem do estado de consciência
intensificado de si, onde temos a forte presença do ego para um estado de
consciência alterado e a diminuição do ego por um determinado período de
tempo. Na Biodanza, a regressão permite o acesso a estados iniciais da vida,
possibilitando uma renovação orgânica e uma reaprendizagem das primeiras
experiências de vida.
A expansão da consciência promovida pela Biodanza nos leva a
estados de percepção ampliada que restabelecem o vínculo com o primordial,
onde o indivíduo resgata uma percepção profunda de si como uma unidade
ontocosmológica, gerando também uma mudança de humor.
A partir dessas colocações teóricas e metodológicas básicas sobre a
Biodanza podemos considerar que a vivência é seu elemento metodológico
essencial, pois possui um valor intrínseco e um efeito imediato de integração,
razão pela qual não é necessário que seja posteriormente analisada no nível da
consciência46. A vivência, como núcleo ontológico do ser humano, é anterior à
consciência e ao pensamento racional. É o elemento constitutivo da Identidade
e do conhecimento. Na Biodanza a ontologia da vivência inclui a epistemologia
da consciência.
O grupo
O homem como ser relacional, se desenvolve a partir do contato e
interação com o outro. O grupo é, portanto, fundamental para que o processo de
integração e transformação se dê, permitindo vivenciarmos novas formas de
comunicação e vinculação pelo afeto e pela permissão a mudança.
46
TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 30
47
Segundo Rolando, “a presença do semelhante modifica o funcionamento das
pessoas em seu nível orgânico e existencial, sendo o grupo em Biodanza a matriz de
renascimento para a evolução dos processos.”
E é nessa interação com o grupo que a pessoa será estimulada a
deflagrar seus potenciais mais primitivos, em um ambiente que lhe inspire a
confiança necessária, como poderemos constatar com a descrição da
experiência prática detalhada no capítulo que vem a seguir.
48
CAPITULO 5
UMA EXPERIÊNCIA PRÁTICA
Esta parte da monografia é o resultado da minha iniciativa na criação
de um projeto social, que tinha como objetivo dar aula gratuitamente para
pessoas que não teriam condições de arcar com o custo mensal de um grupo
regular de Biodanza, e também iniciar um possível espaço de revezamento entre
os novos facilitadores recém-saídos da escola, em seu processo de supervisão
para se tornarem facilitadores de Biodanza. Esse projeto contou com o apoio
decisivo da Escola de Biodanza do Rio de Janeiro e do facilitador Paulo Botelho,
pela cessão gratuita do espaço para acolher esse novo grupo, como também
das suas diretoras, Danielle Tavares e Andrea Zattar, que deram todo o suporte
das supervisões que tornaram possível a realização de tal ideia.
A essa ideia inicial, agregou-se a arrecadação de alimentos para
contribuir com o trabalho social desenvolvido em uma comunidade carente do
subúrbio do Rio de Janeiro, no bairro da Piedade, comandado por uma senhora
que tem cerca de 80 anos, a Tia Edith, e cuida de 30 crianças em idade escolar
e que vivem em situação de risco e vulnerabilidade social. Começamos assim a
arrecadar alimentos no grupo e a entregar diretamente na casa de Tia Edith.
Em novembro de 2015, juntamente com minha parceira e amiga
Nazareth Malaphaia, iniciou-se o trabalho voluntário com grupo regular para
adultos, acontecendo sempre na 6ª feira às 17:30h. Iniciamos o grupo com um
número aproximado de 8 alunos novos e mais uns 5 alunos já praticantes de
Biodanza, que vieram inicialmente para ajudar na formação do grupo. Há quase
um ano e meio após o início do projeto, o grupo encontra-se com uma frequência
média de 16 a 18 alunos por aula, permanecendo com alunos que estão
presentes desde o primeiro encontro.
Hoje, continuamos com a arrecadação de alimentos destinados à Tia
Edith e com a contribuição espontânea por parte de alguns alunos que tem
condições de arcar com algum custo mensal. O valor recolhido tem sido revertido
para pagamento de despesas com a manutenção do espaço, assim como na
compra de mantimentos.
49
Os objetivos com o grupo foram:
1. A integração motora
2. A integração afetivo motora
3. A vinculação afetiva
4. Expressão da identidade
5. O cuidado consigo, como outro e com o meio ambiente
6. A progressividade do grupo
7. A transmissão dos princípios biocêntricos
Ao término das supervisões, o grupo se tornará um grupo regular,
podendo acolher os seguintes públicos:
1. Pessoas que tem acesso a um trabalho como este e que podem
arcar com um valor mensal.
2. Pessoas que tem acesso a um trabalho como este, mas que não
podem pagar e irão contribuir com a doação de alimentos destinados a crianças
em situação de maior fragilidade.
Um pouco da história e evolução do projeto
Constatou-se logo no início das aulas a comunicação afetiva que se
instalou no grupo, assim como um aumento tanto na vitalidade como na
sensibilidade dos alunos que passaram a compartilhar seus relatos de vivência.
Também foi aceito com boa receptividade as celebrações e encontros após e
fora do contexto da aula. Vimos surgir relações de amizade e cumplicidade,
assim como o aumento da autoestima, proporcionada pelo acesso ao sistema
Biodanza e seu potencial transformador nos processos de vida.
Incluir Tia Edith ao projeto fez todo o diferencial para o estímulo e
desenvolvimento do trabalho. A importância de chegar com biscoitos quando ela
não tinha mais nenhum a dar as crianças na hora do lanche, só aumentava nossa
dedicação ao trabalho e o reconhecimento da importância do desenvolvimento
do potencial humano e afetivo estimulado pela Biodanza.
50
Vivenciamos a importância que tem para o início na facilitação de um
grupo de Biodanza a experiência social para quem está começando. O quanto
isso ajudou o nosso processo, pois antes de nos tornarmos facilitadores,
vivenciamos o próprio processo através do sistema Biodanza e foi justamente o
resgate do potencial afetivo que nos moveu a esse trabalho. Quando estamos
conectados com a vida, podemos reconhecer claramente o contexto biocêntrico
proposto por Rolando Toro, que através de seus estudos e modo de vida pode
organizar e transmitir um sistema onde comprovadamente se torna possível a
vivência da integração afetivo motora e do reconhecimento da sacralidade da
vida.
Sabemos que a dissociação afetiva que vivenciamos hoje, provém de
nosso estilo de vida atual e que isso bloqueia a expressão de nossos potenciais
humanos gerando baixa autoestima, violência e muitas das patologias tanto
comportamentais como físicas. Resgatar nossa afetividade, nos permite resolver
as questões da vida de forma amorosa. A Biodanza é, portanto, uma ferramenta
essencial para a vida. Foi a vivência afetiva que nos orientou nesse projeto.
Sabemos que em qualquer classe social encontramos questões
relacionadas à carência do desenvolvimento e da manifestação do potencial
afetivo, porém a diferença está no acesso e na oportunidade que as pessoas
têm a um trabalho terapêutico e pedagógico como esse.
Segundo SIMONI, em sua monografia de titulação em facilitador de
Biodanza, “O afeto faz a diferença” um trabalho de ação social com Biodanza,
“visa o estabelecimento de relações que valorizem a vida e as potencialidades de cada pessoa,
de forma a contribuir para a construção de uma autoestima positiva e criar condições para que,
aos poucos, possam desenvolver uma postura ativa para modificar seu contexto pessoal, de
modo autônomo e criativo. Que no seu contexto social tenha uma postura ética na defesa de
seus direitos.”47
Particularmente pude vivenciar toda essa transformação, quando me
deparei com o lugar que ocupa um facilitador nesse contexto. Vi aos pouco meu
47
Monografia de André Luis Soares Simoni, Pág., 15 – Escola de Biodanza de Pelotas/RS - 2006
51
comprometimento na transmissão destas experiências, e o quanto são
profundamente transformadoras na vida das pessoas. Vi surgir minha potência
em dar toda minha presença, deixando-se revelar ali, entregue. É realmente um
estado de graça poder mostrar novos caminhos, desenvolver a afetividade e
vivenciar o amor, vendo o humano florescer em cada um.
52
DEPOIMENTOS DOS ALUNOS
Rosangela Neves, 44 anos, Artesã
Conheci a Biodanza através da minha professora de teatro, Mara Souto. Ela sugeriu que os
alunos fizessem, pois ajudaria muito no teatro e principalmente na parte ocupação de espaço no
palco. A primeira vez que fiz aula Biodanza senti algo diferente em mim...as músicas, as palavras
das facilitadoras Nazaré e Simone, o ambiente, as pessoas e os movimentos, tudo isso me
faziam chorar e ri sem que eu pudesse controlar, achei tudo aquilo incrível. Hoje já consigo
perceber grandes mudanças na vida, agradeço a Biodanza, por essa nova forma de me colocar
na vida. Me sinto como água do Rio, leve, forte e que flui nas diversidades dos percursos do Rio.
Agradeço a todos por trazerem Notícias de mim. ❤
Marta Kuhner - 47 anos - professora
Biodanza foi um presente. Entrou em minha vida sem eu nem saber o que era, num momento
em que eu estava paralisada, fechada para tudo e todos. E foi avassalador. Pegou-me de
surpresa, sem receios ou reservas. A cada aula, a música, os movimentos, o grupo, as palavras
das minhas facilitadoras Simone e Nazareth, trazem-me reflexões dos meus sentimentos.
Mostram-me novas possíveis atitudes a tomar. Trazem-me harmonia e paz. Força e aceitação.
Amor. Presente esse inesgotável, rico e precioso. Gratidão!
Eliane Wasinger Lustosa Brasil, 61 anos, Psicóloga, webdesigner e divulgadora
cultural.
Vejo a biodanza como um processo terapêutico leve, não traumático, mas bastante efetivo. Um
processo motivador, que desenvolve a afetividade, a confiança, a colaboração e interação dos
participantes, o autodesenvolvimento, viajando pelo sentir-se, tocar-se e expressar os próprios
sentimentos.
Sinto-me muito bem no grupo e percebo um crescimento de todos em geral. Uma predisposição
para participarmos inteiros e acredito que isto é que gerou um caminhar gradativo para uma boa
coesão do grupo.
Lizandro Crus Chagas, 40 anos, Professor, motorista, blogueiro e youtuber
Muitas foram as mudanças que a Biodanza gerou em mim.
Algumas mais visíveis aos olhos externos, outras mais internas e talvez mais sutis para quem
vê, mas muitos repararam que estou diferente.
Mas claro, o mais importante - eu percebi e me sinto melhor por isso.
Aprendi a me relacionar melhor com as pessoas; menos sexualidade e mais afetividade; menos
dispêndio de energia com maximização de intensidade; mais leveza na adversidade; passei a
medir melhor minhas recepções e assim estabelecer melhores reações emocionais e racionais;
aprendi a estabelecer e cultivar laços melhores comigo mesmo e com os outros; passei a sentir
mais do que reagir; passei a amar mais do que cobrar.
Creio que nesse um ano e pouco de práticas e vivências, minha evolução enquanto pessoa foi
mais rápida, prática e real do que os anteriores trinta e nove anos de vida.
Antes era mais experiência pela prática, agora é mais prática para experiência
53
Gisele Lacorte, 39 anos, psicóloga, consteladora familiar, terapeuta em
massagem biodinâmica e análise Psico-orgânica
A biodanza entrou na minha vida como um presente! Em um momento de profundas reflexões e
bastante desafiador, me serviu como uma grande aliada para perceber novas formas de lidar
com as mesmas questões.
Minha primeira aula foi sobre afeto e logo pude perceber a força desta atividade, logo nos
primeiros momentos me conectei com a minha afetividade e pude extravasar sentimentos que
estavam presos há tempos.
A Biodanza me ensinou que o processo de cura pode ser leve, alegre, afetivo e cuidadoso. Que
potencializar as virtudes em vez de remoer as doenças, traz benefícios muito rápidos.
Em muito pouco tempo me senti mais leve, aberta, afetiva, flexível e com maior capacidade para
fluir pelos desafios e enfrentá-los com leveza e criatividade.
Carla Lopes Abdalla, 55 anos, Chefe de Cozinha.
Conheci a Biodanza lendo sobre ela. Por um acaso da vida, me esbarrei com a facilitadora
Simone e por convite dela comecei a fazer a aula.
Vejo a Biodanza trabalhando minha "energia vital", e todos os meus chacras. Junto com a música
todos os movimentos feitos se tornam mais lúdicos e harmoniosos.
Hoje eu percebo muito mais o meu corpo, me sinto mais flexível, afetiva, e cada vez mais alguns
outros sentidos de mudanças vão surgindo no decorrer de cada aula, tais sentidos que me coloca
num lugar de total crescimento.
Obrigada facilitadoras Nazaré e Simone.
Cecília Barge Teixeira, 44 anos, Contadora.
Biodanza, não sabia nada sobre ela. Por um convite entrei no grupo. Em uma das primeiras
aulas, ouvi a frase: "Caminhar para frente é essencial para nossa existência." Acredito muito
nisto, pé firme em nosso caminhar, sem medos, que seja seguro para alcançar nossos objetivos
de vida. Música, movimento, harmonia, leveza, firmeza, mudança, alegria e principalmente
conhecimento de si. Agradeço as facilitadoras e ao grupo pelo acolhimento e em poder participar
deste crescimento.
Karin Kuhner - 53 anos -Administradora de Empresa.
Não conhecia nada sobre Biodanza. Fui convidada por uma amiga, para uma aula aberta na
Praia do Arpoador em uma noite de luar. Achei incrível aquele encontro de pura alegria. Fiquei
curiosa. Foi aí que comecei a fazer aula no grupo das facilitadoras Simone e Nazareth. Desde a
primeira aula, já tive aquela sensação de acolhimento por parte de todos. A Biodanza me fez
refletir sobre minhas expectativas em relação aos outros e a aceitar que cada um oferece o que
pode. Hoje me sinto mais leve, aberta e com muita vitalidade. Cada encontro um novo
conhecimento, uma nova reflexão, tudo isso com movimentos e dança. Um crescimento. Só
tenho a agradecer pelo carinho de todos.
Pedro Brandão
Depois de passados os dias da semana, com todas as experiências boas e más, nada como
deixá-las no passado... para tanto, o Sina é um bom recurso, em que sinto tudo da vida fluir...
54
Katia Regina S. dos Santos, Secretária, 48 anos
Conheci a Biodanza há 5 anos, mas nunca tive vontade de participar. Não entendia a dinâmica
e achava tudo muito estranho...
Mas, há quase um ano, fui incentivada por duas amigas a conhecer verdadeiramente, uma delas
foi a facilitadora Simone Nobre, por quem tenho muita gratidão.
Na 1. Aula fiquei impressionada com o que senti, foi algo libertador!
E assim tem sido esses nove meses, em que a Biodanza passou a fazer parte da minha vida,
como um grande presente.
São muitas as transformações em meu interior.
As vivências me tocam tão profundamente, que posso dizer que muitas vezes entro em estado
de êxtase.
Sinto-me renovada, mais segura, menos tímida e com melhor autoestima.
Estou aprendendo a lidar com os fatos da vida com mais tranquilidade e maturidade emocional.
Hoje me aceito muito mais, respeito minhas emoções, meus limites e não tenho vergonha de
expor meus sentimentos.
Tenho aprendido a lidar com o outro, entendendo e respeitando seus limites e maneira de ser.
A Biodanza tem me ensinado que não preciso ser forte o tempo todo, e nem dar conta de tudo
sozinha.
Eu preciso ter leveza, deixar fluir...
E toda essa "reviravolta" no meu interior, tem sido notada positivamente pelas pessoas.
E eu respondo: Graças a Biodanza.
Hoje eu não ando, eu caminho pelo mundo de peito aberto, com um sorriso no rosto e mais feliz.
Minha gratidão as facilitadoras Simone e Nazareth, por me conduzirem a este caminhar com
mais naturalidade e leveza.
E a este grupo maravilhoso que também é parte importante na minha transformação.
Mariana Moraes, 35 anos, Assistente de Comunicação
Como todos sabem faço Biodanza a muitos anos e foi através dela que mudei a minha vida.
Resolvi entrar neste grupo pela proposta da ação social, por entender que o mundo precisa de
Biodanza. Depois que entrei nesse grupo descobri qual é o meu valor, que eu sou capaz.
Obrigada Naza e Si pela oportunidade de estar junto com vocês nesse projeto.
Julia Rodrigues Medeiros, 36 anos, psicóloga, facilitadora de Biodanza com
especialização em crianças, arte terapeuta, pós-graduanda em educação
musical
Eu conheço a Biodanza faz muito tempo e encontrei e reencontrei com ela em muitos momentos
da minha vida. As mudanças foram inúmeras: poder confiar mais em mim mesma e no outro,
poder sentir segurança nas minhas potencialidades, amar, me impor no mundo sem tanta timidez
e mais amorosidade, amar (é muito amor)! Deixar fluir a espontaneidade. Eu fiquei um bom
tempo afastada da Biodanza... Desde que minha filha nasceu (quatro anos) eu parei para ficar
mais tempo com ela. No meio do ano passado minha vida deu uma reviravolta e eu senti que
tinha de voltar a frequentar as aulas. Conversei com a Si e ela me convidou para conhecer o
55
grupo. No primeiro dia já me senti acolhida... senti uma paz, uma vontade de sair caminhando
pelo mundo sendo eu mesma novamente... ter a possibilidade de sair da paralisação e me
entregar, caminhar, voar...tenho enorme gratidão por ter sido tão bem acolhida por Nazaré e
Simone, que facilitam com tanta potência e leveza. Tenho enorme gratidão ao grupo por ter me
acolhido de braços abertos com tanto afeto...
Muito bom poder me sentir "junto e misturado " com algo que acredito ser maior e tão bonito...
amo vocês! ❤
Selemir Gomes Coelho, 61 anos, empresário.
Relutei um pouco mas decidi também dar o meu depoimento. A minha história com a biodança
é muito antiga. Ainda não se escrevia com z. As transformações em minha vida foram inúmeras
em cada um dos grupos pelos quais tive a oportunidade de passar. E estão hoje impregnadas
na minha vida. Mas estar nesse grupo criado como um projeto social, inicialmente, tinha algo de
especial, pois eu vivo com uma das facilitadoras. E assim me lancei ao desafio de estar ali com
um grupo iniciante, com o coração e a alma entregues para toda a sorte de experiências e elas
foram acontecendo a cada encontro, com muita emoção de presenciar o crescimento de cada
um dos companheiros, e a minha própria vivência de compartilhar todos os processos que foram
acontecendo. Não como não emocionar com a força dessas transformações em todos, criando
um ambiente de grande cumplicidade e amor, que auxilia no processo de crescimento individual.
Que bom estar junto de vocês e participar da história de cada de um modo tão positivo.
Nora Fortunato
A biodanza amplia meu contato comigo mesma. Na correria em que vivo, escutar meu ritmo
interno e também poder acessar a minha própria história de vida é ter acesso a trilhas que, pelas
experiências, estavam impedidas. Mesmo em terapia não acedi a pessoas tão importantes para
mim como minha avó (maior amor de minha vida). A biodanza me ajuda muito nesse sentido
Também estou tendo a oportunidade riquíssima de fazer biodanza com meu namorado, e vejo
claramente a importância da biodanza para nossa relação. Talvez eu ainda esteja um pouco
embrutecida em relação a minha feminilidade, já que sou uma ariana mãe solteira. Quero dizer,
a afabilidade, o caminho do meio, a flexibilidade, e principalmente o retorno são universos
intrínsecos ao processo individual que tenho na biodanza. A biodanza também agrega e me diz
que, estando em grupo, eu posso ter confiança em cada um que lá está. Chego aturdida e saio
esclarecida! Principalmente com muita energia e vitalidade. Acho que a biodanza é riquíssima
em vários aspectos porque ela valida o que é ser literalmente humano, no melhor sentido da
palavra!
Daniela Rodríguez Noronha, 47 anos, fisioterapeuta
Estou a pouco tempo na Biodanza. Mas, me sinto mais atenta, o olhar mudou, o equilíbrio (físico)
melhorou. Sentir sem julgar...ainda estou aprendendo.
Ouvi na aula: primeiro a gente sente e depois realiza. Estou aprendendo a sentir e me relacionar
com o outro, nem sabia que tinha tanta dificuldade. Por gostar de gente, acreditava que fluía bem
no relacionar-se.
Relacionar-me, me abrir para o outro e ter esta confiança percebi ser difícil na Biodanza.
Perceber-me e perceber o outro e saber que posso confiar (dentro da Biodanza).
Fui muito bem recebida pelo grupo
Rosangela me convidou para conhecer a Biodanza, e fui. Entrei em contato com meus
sentimentos e estar me relacionando com as pessoas, pude trabalhar a confiança e ir
56
descobrindo sentimentos que nem sabia que tinha. Sinto-me leve e desnuda, alegre e voo com
os movimentos e melhorei o meu equilíbrio corporal.
Biodanza me tira da dor e me leva atenção à dor, faz os joelhos cederem à emoção.
A aula é emoção, tanto emoção, quanto inteligência, sem emoção não há nada. Não é questão
de entender e de ouvir, mas acordar em tempo de captar que lhe convém o corpo e a alma.
A unidade do grupo e a confiança em todos, muito grata a Rosângela ter me apresentado a
Biodanza. Gratidão à Simone, Nazareth e a todos do grupo.
Masako Tanaka (Mako), percussionista
Olá eu vou falar aqui uma mensagem falando da minha história com a biodanza. Eu sou a Mako,
japonesa, mas 15 anos morando no Brasil, quase 16 anos, caramba.
Eu conheci a biodanza através de um amigo meu, que falava tanto da biodanza, que eu fiquei
curiosa, porque eu dançava na época da adolescência, comecei a dançar jazz, comecei a estudar
balé e desde criança também eu fazia aula de balé, parei um pouquinho depois, e a partir de 15
anos comecei a fazer aula de jazz até uns trinta e poucos anos, ou seja, mais de15 anos eu
dançava na minha vida, pois eu amo dançar.
Só que quando eu cheguei no Brasil, meu objetivo que era tocar música e conhecer a música
brasileira, parei de dançar totalmente e esses anos pra cá realmente eu fiquei com muita saudade
de dançar.
Então, eu queria experimentar quando abriu essa turma da ação social esse amigo meu me
avisou e eu cheguei na primeira aula sem expectativa nenhuma, e comecei a fazer aula, mas na
primeira aula já eu fiquei impressionada, porque o movimento, eu não me lembro exatamente o
que era, eu acho que um encontro, se não me engano: as pessoas andam olhando para as
outras pessoas com um sorriso bonito e eu reparei: Caramba, qualquer pessoa seja como for,
qualquer humano se viver com esse sorriso lindo todo mundo ficaria feliz.
E nada de explicar e nada de falar, só um sorriso, passa uma felicidade para outras pessoas,
que abre mais a nossa vida feliz, que eu percebi.
Realmente eu fiquei impressionada, fiquei emocionada, fiquei realmente e quis continuar fazendo
aula da biodança. Primeira coisa, eu vou parar aqui, tá.
A terceira coisa, a última coisa que eu gostaria de deixar aqui, é que o trabalho de biodança é
sempre um coletivo, a gente trabalha coletivamente, e na aula passada a realmente eu estava
muito sensível e como eu estou aqui sem família, sozinha, moro sozinha também, de vez em
quando eu fico e me sinto muito solitária, trabalho com a música e nessa biodanza no Brasil a
maioria das vezes que a gente usa, sei lá 80%, a gente usa a música brasileira. Eu amo a música
brasileira e desde que eu comecei a ouvir, pela primeira vez que ouvi, sem saber o que falava, o
que queria dizer, sem entender queria dizer eu amava a música brasileira. Acho que com o ritmo
ou com o português que é mais melódico.
Então a gente usa a música brasileira o que me faz muito feliz, e que percebi: eu que trabalho
com a música brasileira, porque fiquei apaixonada pela música brasileira, eu vivo aqui no Brasil,
conhecendo e sempre querendo conquistar, como posso expressar, sendo uma japonesa
cantando e tocando a música brasileira, isso é o meu objetivo e minha vida agora.
Fazendo aula de biodanza claro que vai acrescentar mais do que eu preciso aprender também,
como eu posso interpretar comigo cantando, tocando esse sentimento, como que eu posso
57
passar para as outras pessoas, deixando esse sentimento pra fora. E percebi que está ajudando
muito.
Isso que está fazendo mudanças na minha vida, e é o que eu acho importante falar com vocês.
Gostaria de falar a última coisa: como a biodanza trabalha coletivamente, é um trabalho coletivo,
e eu vivo aqui no Brasil sem família, sem parentes, porque eu não sou descendente de
japoneses, eu sou a primeira geração no Brasil.
Então de vez em quando eu me sinto muito só, eu tenho muitos amigos, mas é humano, qualquer
humano nesse mundo está muito esquisito, só usa internet, ninguém liga, telefone não toca,
ninguém toca a campainha, não chega os correios
Então de vez em quando eu aprofundo muito, evito, mas não tem como evitar. Eu enfrento muita
solidão que é muito horrorosa, e fazendo essa aula todo mundo junto, reunido, mesmo a pessoa,
começo a sentir realmente como uma família, que eu realmente preciso.
Eu preciso sentir que estou com eles, estou com vocês, também deixa-me livre, posso expressar
o que estou sentindo sem vergonha, porque a gente dança por si mesmo, comigo mesmo,
semana passada eu expressei a solidão que eu estava sentindo, eu até estou chorando, e
realmente percebi a importância de estar na aula e fazer a aula da biodanza e posso expressar
o que eu sinto, posso movimentar como eu sinto, e por isso eu realmente estou sentido a
importância da biodanza na minha vida.
Obrigada, eu vou chegar na aula.
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O corpo como agente transformador

  • 1. BIODANZA: O CORPO COMO MOVIMENTO, SENSIBILIDADE E EXPRESSÃO DE VIDA
  • 2. ‘Por trás dos acontecimentos exteriores da vida, o dançarino percebe o mundo completamente diferente. Há por detrás de todo acontecimento e de toda coisa, uma energia a qual dificilmente se pode dar nome. Uma paisagem escondida e esquecida. A região do silencio, o império da alma; em seu centro, há um templo em movimento. As mensagens vindas dessa região do silencio são, no entanto, tão eloquentes! Elas nos falam, em termos sempre cambiantes, de realidades que são para nós de uma grande importância. O que nós chamamos habitualmente de “dança” vem dessas regiões, e aquele que for consciente disso é um verdadeiro habitante desse país, tirando a sua força diretamente desses tesouros inesgotáveis.” (LABAN apud LAUNAY,1999, p. 84 e 85)
  • 3. ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO BIODANZA: O CORPO COMO MOVIMENTO, SENSIBILIDADE E EXPRESSÃO DE VIDA SIMONE NOBRE Trabalho apresentado à Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro como requisito para a obtenção do título de Facilitador de Biodanza Orientadora: Andrea Zattar Facilitadora Didata Reg. IBF RJ0132 RIO DE JANEIRO, MAIO DE 2017
  • 4. MONOGRAFIA APRESENTADA Á ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO, E APROVADA PELA COMISSÃO JULGADORA, FORMADA PELOS DIDATAS: __________________________________ Andrea Zattar Orientadora Facilitadora Didata International Biocentric Foundation Reg. RJ nº 0132 ___________________________________ Paulo Botelho Facilitador Didata International Biocentric Foundation Reg. RJ nº 0027 ___________________________________ Luciana Pinto Facilitadora Didata International Biocentric Foundation Reg. RJ nº 0352 Visto e permitida a impressão Rio de Janeiro, 05 de maio de 2017 _______________________________________ Danielle Tavares e Andrea Zattar Diretoras da Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro International Biocentric Foundation Reg. RJ nºs 00134 e 0132
  • 5. DEDICATÓRIA A meu querido e amado filho Felipe, pela presença amorosa em minha vida. A meu amor e companheiro Selemir Coelho, pela cumplicidade, apoio e caminhar amoroso na dança da vida. À minha irmã Beth e sobrinhos queridos, Patty, Enzo, Henrique e Bruno. Às minhas amigas Tânia Castilho, Gerlane Passos, Danielle Tavares e Andréa Zattar pela amizade sincera e participação nos momentos mais importantes em meu caminhar pela vida.
  • 6. AGRADECIMENTOS À meu pai e à minha mãe, por minha vinda a vida! Às minhas facilitadoras Danielle Tavares e Andréa Zattar, amigas especiais, que transformaram meu caminhar acreditando em mim, estimulando e orientando amorosamente meu mergulho sincero na Biodanza! À todos os amigos queridos que encontrei na Biodanza, nos grupos regulares, pelo estímulo, proteção, cuidado e carinho que trocamos! Aos amigos da turma VIII e didatas pela contribuição e participação na minha formação! À minha querida parceira Nazareth Malaphaia, por tanta aprendizagem, cumplicidade e troca afetiva! Aos meus alunos, pela confiança, aprendizagem e oportunidade amorosa de ver florescer a beleza humana! À todos os amigos e parceiros, que de alguma forma constituiu o Grupo do Projeto Social e possibilitou a realização desse sonho, fazendo-o chegar nas crianças da Tia Edith! Ao querido e eterno mestre Rolando Toro, por seu olhar luminoso e por sua generosidade com o mundo! E, especialmente a minha orientadora e amiga Andréa Zattar, pela presença firme e amorosa e pela dedicação na orientação dessa escrita, pois sem seu olhar não teria acontecido.
  • 7. RESUMO O presente estudo visa ressaltar a qualidade da importante relação do corpo como agente transformador do modo de vida da pessoa no mundo. Essa pesquisa foi de caráter investigativo, visando ressaltar a Biodanza como um potente agente transformador para o desenvolvimento de uma relação mais integrada e afetiva com a vida e com o mundo a partir da relação com o do próprio corpo. Essa monografia foi baseada principalmente nas bases teóricas que dão suporte a Biodanza, assim como nas pesquisas que abordam a visão e os questionamentos relacionados ao conceito de corporeidade na sociedade moderna contemporânea. A conclusão se refere as reflexões e observações aos efeitos da experiência prática com a Biodanza, pela contribuição dos alunos através de seus depoimentos, confirmando uma possível transformação a partir de um modo de vida mais integrado entre o sentir, pensar e agir.
  • 8. RESUMEN El presente estudio tiene por objetivo destacar la calidad de la importante relación del cuerpo como agente transformador del estilo de vida de la persona en el mundo. Esta pesquisa, de carácter investigativo, pone de relieve la Biodanza como un potente agente transformador para el desarrollo de una relación más integrada y afectiva con la vida y con el mundo a partir de la relación con el propio cuerpo. Esta monografía se ha basado principalmente en las bases teóricas que dan soporte a la Biodanza. Sin embargo, también se apoya en las pesquisas que plantean la visión y los cuestionamientos relacionados al concepto de corporeidad en la sociedad moderna contemporánea. La conclusión presenta las reflexiones sobre las observaciones de los efectos de la experiencia práctica con la Biodanza, a partir de la contribución de los alumnos a través de sus declaraciones, que han confirmado una posible transformación que ha resultado de un estilo de vida más integrado entre el sentir, el pensar y el actuar.
  • 9. APRESENTAÇÃO Antes de iniciar o presente estudo faz-se imprescindível esclarecer alguns conceitos, tais como os apresento em correspondência ao tema proposto. Alguns destes conceitos serão posteriormente repetidos, aprofundados e ampliados para maior compreensão. Rolando Toro – (1924 – 2010) Psicólogo e antropólogo chileno, criou o Sistema Biodanza na década de 1960. Biodanza – A Biodanza é um sistema de integração humana, renovação orgânica, reeducação afetiva e reaprendizagem das funções originárias de vida. Sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio da música, do movimento e de situações de encontro em grupo.1 Ecofatores – Fatores externos - Segundo o modelo teórico de Biodanza o indivíduo nasce com um potencial genético, sendo que são os fatores ambientais que determinam à expressão desse potencial. Ecofatores podem ser positivos ou negativos. São considerados positivos quando estimulam as expressões das potencialidades genéticas, e negativos quando as inibem.2 Corpo sensível – termo que se refere a relação viva entre a subjetividade do sujeito e o corpo.3 Corporeidade – O termo corporeidade fala do aspecto humano de ser o corpo. O corpo com todas as suas implicações emocionais e existenciais. A corporeidade segundo J.J.Lopez Ibor não é apenas uma experiência vivida, mas também uma realidade fenomenológica.4 Sujeito – Segundo a filosofia é um ser que tem uma consciência e experiências únicas e que se relaciona com outra entidade fora de si possui a natureza do ser.5 Subjetividade - é entendida como o espaço íntimo do indivíduo, ou seja, como ele "instala" a sua opinião ao que é dito (mundo interno) com o qual ele se relaciona com o mundo social (mundo externo), resultando tanto em marcas singulares na formação do indivíduo quanto na construção de crenças e valores compartilhados na dimensão cultural que vão constituir a experiência histórica e coletiva.6 1 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.33. 2 Ibidem. p.76 3 BOIS. Danis. Sujeito Sensível e renovação do eu. Editora: Paulus, São Paulo, 2008 p 47 4 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p55 5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Sujeito_(filosofia) 6 https://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetividade
  • 10. Contrapondo-me a educação tradicional da dança, por conta de seu trabalho com o corpo de forma padronizada, encontrei na Biodanza proposta por Rolando Toro, a ressonância e o apoio necessários para a consideração do corpo como movimento, sensibilidade e expressão criadora, em sua integralidade e como um modo autêntico e profundo de lidar com a vida, direcionando assim minhas buscas em relação as possíveis transformações existenciais para uma utilidade tanto pedagógica como terapêutica. Visando a aplicação dos conceitos previamente expostos e partindo do reconhecimento da eficácia do Sistema Biodanza, a aplicação deste estudo se dá no campo da experiência, necessitando de um aprofundamento nos fundamentos teóricos-conceituais que sustentem tal reflexão. O objetivo principal deste estudo foi propor um possível reconhecimento fundamentado a partir da inclusão das ferramentas propostas pela Biodanza como elementos potentes na transformação do reconhecimento do corpo enquanto movimento, sensibilidade e criação de vida, em suas relações, como uma possibilidade de sair do esvaziamento dos corpos anestesiados pela herança histórica do pensamento platônico e pelo modo de vida atual da sociedade contemporânea, em prol de um modo de vida mais implicado e coerente com uma maneira de viver a vida mais integrada em sua amplitude. Consideramos que uma proposta como a Biodanza, pode, via corpo sensível, desperto e vivente, contribuir para a integração da pessoa consigo, com o outro e com o mundo, ampliando sua capacidade relacional e expressiva em um modo de ser pleno de suas capacidades. Podendo assim, afirmar a experiência única e singular de cada um em cada corpo.
  • 11. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................... 12 CAPITULO 1  O Corpo .......................................................................................... 15 CAPITULO 2  Corporeidade ................................................................................. 19 CAPITULO 3  O Movimento .................................................................................. 22 CAPITULO 4  Biodanza ....................................................................................... 36 CAPITULO 5  Uma experiência prática ............................................................... 48  Depoimento dos alunos ................................................................ 52 CONCLUSÃO ............................................................................................ 58 ANEXO - FOTOS ...................................................................................... 63 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 68
  • 12. 12 INTRODUÇÃO Em minha formação como bailarina fui submetida, durante anos, ao ensino tradicional da dança, e reconheço a importante vivência que obtive com a experiência. Porém, por mais absurdos que tenha proporcionado ao meu corpo durante este treinamento para o desenvolvimento técnico com a dança clássica, vivenciei nele o movimento. E, através dele, pude superar questões e reconhecer o quanto o movimento é curativo e transformador para os processos de vida. Sabemos que corpo do bailarino acadêmico é submetido a uma dominação e exploração para seu aproveitamento no sentido de produzir sujeitos que sustentem as exigências de um modelo pré-determinado. Mas, dançar não é só isso. A forma como o corpo percebe o mundo é uma dança. E foi mergulhando na dança contemporânea que pude experimentar uma dimensão mais humana e menos virtuosa da dança, pois a proposta do balé clássico é concebida com uma determinada finalidade enquanto a dança contemporânea valoriza predominantemente o sentido do gesto e o que ele traz da pessoa. As questões do corpo em relação ao movimento me orientaram de modo incisivo nas buscas tanto pessoais como profissionais, dando-me a compreensão do corpo como o lugar de experimentação e abertura ao conhecimento e a vontade de viver uma vida plena de sentido. Quais são as informações que faltam para que o sujeito realize seu gesto mais original e pleno de sentido na vida? Os impedimentos procedem de inúmeras ordens. Sejam elas educacionais ou culturais, o importante é estimular no sujeito suas competências de sentir, pensar e agir de forma integrada, reconhecendo que a dissociação gerada pelo modo de vida atual é fruto tanto da herança histórica como da forma como nos organizamos na vida da sociedade moderna contemporânea. A paixão pelo movimento e sua capacidade transformadora, instigou- me a questionar o modo pelo qual o corpo se organiza ao movimento e o momento que antecede a realização dele. O que está por traz do gesto, sustentando-o como uma espécie de pano de fundo? Que relação temos com
  • 13. 13 ele enquanto se desenrola no espaço? Como incluir subjetividade e objetividade nos gestos para que isso se integre? Como transformar a sensação em ação? Que provocações o movimento pode nos trazer? Todo movimento surge de uma necessidade interna e, portanto, é revelador de uma criação única e de uma subjetividade encarnada. Não importa de qual ordem ele surja, a motivação interna sempre está em relação a algo que não precisamos pré-conceber. A questão é o “dar-se conta”. Ou seja, é o momento em que o sujeito se sente provocado e então se abre para dar vazão a todos os possíveis atravessamentos que o constitui. O movimento toma assim, a dimensão de acontecimentos. Na Biodanza reencontrei a expressividade original da força de vida presente em meu corpo vivo e desperto, o que me levou a questionar ainda mais a potência transformadora que é o movimento como fonte de manutenção da vida. Ter um corpo é diferente de ser o corpo. E para acessarmos isso hoje, penso que o acesso é via o corpo sensível. No processo de formação em facilitadora de Biodanza, me peguei desnuda e entregue ao processo de fazer a vida acontecer. Me descobri no centro da roda, vencendo medos, preconceitos e confiante em deixar a vida se fazer. Acompanhando e cuidando dos processos do grupo e de cada indivíduo, aprendo o quanto afetividade e amorosidade nos torna cada vez mais implicados e comprometidos com a vida. No processo dessa escrita tive a oportunidade de participar do II Festival de Biodanza do Rio em novembro de 2016 e foi justamente na vivência de abertura do Festival, dada por Antônio Sarpe que me senti provocada a investigar o tema de meu estudo. Agradeço a Antônio pela muito bem-vinda provocação. Durante a vivência, jamais foi mencionada a palavra corpo, o que me levou a um profundo encontro com as questões que vivenciei em meu corpo durante minha formação como bailarina, e nessa experiência pude perceber mais ainda o verdadeiro sentido da dimensão que é ser o corpo e não ter um
  • 14. 14 corpo e dar criação a um texto que se tornou o título de minha monografia e que apresento no seguimento da conclusão desse estudo. Nos tornamos sujeitos a partir das relações com o ambiente onde existimos e assim constituímos a nós e a história. Portanto, a relação ao corpo depende de uma escuta atenta e acolhedora, que nos revela a sabedoria da vida presente em nosso corpo. Pensar o corpo hoje, sob o olhar da Biodanza é reconhecer o contato que ela nos possibilita fazer com o sentimento de estar vivo, e assim poder articular o enraizar na vida.
  • 15. 15 CAPITULO 1 O CORPO O que é o corpo e do que meu corpo fala? Como ouvi-lo? Ossos, músculos, vísceras, fáscia, pensamento, sentimento, emoção, razão, consciência, gestos, expressões... de tudo isso ele forma uma vida, onde o movimento é seu alimento. Como podemos pensar o corpo na contemporaneidade, a luz da filosofia platônica? No ser humano o corpo, também chamado soma (do grego transliterado soma), é considerado como o organismo material, abstraído de suas funções psíquicas (donde provém o conceito de somatização de algumas doenças), e, em biologia, engloba o conjunto dos tecidos vivos que perpetuam a espécie e a mantém viva.7 No âmbito anatômico e científico, o corpo é substância física ou estrutura, de cada homem ou animal. Para a Biologia é um organismo vivo, composto de pequenas unidades denominadas células e para a Química, é uma porção de matéria.8 O corpo de todos os tempos, sempre foi e é um grande motivo de curiosidades e descobertas mediante a inúmeras possibilidades de estudo a seu respeito. Para melhor compreendermos o corpo na contemporaneidade, faz-se necessário visitar o momento do período da história da filosofia ocidental onde a forma platônica de ver a vida nos apresentava uma visão cindida entre dois mundos: o mundo do sensível e o mundo das ideias. Platão definiu o homem constituído de corpo e alma, sendo estes pertencentes a dois mundos distintos: o mundo do sensível e o mundo das ideias. Em Platão, o mundo do sensível é o mundo do corpo, do qual devemos desconfiar e o mundo das ideias, o mundo ideal, o mundo real, no qual devemos confiar. O pensamento platônico é fundamental para a compreensão da dicotomia que caracteriza a depreciação do corpo em detrimento a valorização 7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo 8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_humano
  • 16. 16 da alma que se desenvolveu ao longo de nossa história. Segundo André Martins em entrevista ao programa Café Filosófico9, para Platão as ideias que podemos ter são cópias das ideias puras, pertencentes ao outro mundo. E essas ideias puras, são concebidas por ele como sendo as ideias verdadeiras, e quanto mais distanciados estamos deste mundo verdadeiro, mais existe degradação. O pensamento platônico definiu a alma como sendo detentora da sabedoria e o corpo como a prisão que a domina e que quando a alma é dominada por ele, se torna incapaz de regrar os desejos e as tendências do mundo sensível. Em Santo Agostinho, inaugura-se, sequencialmente, ao pensamento platônico, a visão da igreja cujo mundo das ideias pertence a alma imortal e imaculada, onde devemos desconfiar do corpo, por ser ele o representante do mundo sensível, evitando assim, vivenciar algumas experiências terrenas para que essa alma não se macule. Posterior a Santo Agostinho temos o pensamento cartesiano, propondo também uma ruptura marcada pela razão prevalecendo sobre qualquer outra forma de entender, compreender e organizar a vida, instaura o pensamento: “penso, logo existo”. Portanto em Descartes, já no século XVII retomamos essa dicotomia matéria e pensamento, reconhecendo também, o homem como uma máquina perfeita, tendo sido criada por deus e mantendo a pensamento como uma substância não pertencente ao corpo. Descartes fortalece assim, essa depreciação do corpo em prol da valorização da mente. Outra cisão importante, segundo André Martins10, seria a separação entre natureza e cultura, que repercute no mundo, levando também a uma valorização do homem sobre a natureza. Dentro desta visão, o corpo humano é nossa natureza e nossa mente seria o que há de divino e propriamente humano em nós. Dentro do contexto histórico, isto traz uma depreciação ao que diz respeito a natureza e uma valorização da ação do homem sobre a natureza. Em 9 https://www.youtube.com/watch?v=1lXEzwhPtcw (minuto 4:30 ao 7:50) 10 https://www.youtube.com/watch?v=1lXEzwhPtcw(minuto 9:14 ao 10:57)
  • 17. 17 Aristóteles, discípulo de Platão, o homem com sua razão, está legitimando não somente dominar e controlar a natureza, como colocar a natureza a seu serviço. Como nos coloca André Martins, o que caracterizou o percurso da história ocidental foi a submissão da natureza ao controle do ser humano, porém não como um homem integrado, mas sim como um homem cindido que buscava o controle e o domínio da razão sobre o corpo. Quais os pensadores que mudaram nossa visão de mundo? Em que fontes Rolando Toro foi beber para criar uma teoria que visa a integração? A perspectiva fenomenológica, especialmente o pensamento de Merleau-Ponty, busca oferecer uma alternativa para a Ciência e a Filosofia, considerando o corpo a partir da experiência vivida ou como um modo de ser no mundo, reconhecendo a ideia da “experiência do meu corpo como “meu”. Ou seja, o retorno ao mundo do sensível e a busca pelos sentidos do vivido.11 Sabemos que a relação ao corpo não é devidamente respeitada nem valorizada pelo modo como as sociedades se organizam perante a vida, no que diz respeito a complexidade da mesma. Sabemos que o corpo é o lugar onde tudo se dá, ou pelo menos o lugar onde reconhecemos todos os possíveis atravessamentos provenientes da condição do vivente. A vida no corpo tem a característica e o objetivo de nos manter vivos. Sendo ele o lugar onde tudo se dá, faz-se necessário escutá-lo para podermos aprofundar e sustentar a relação com ele e com a vida através dele. Pois é no âmbito das relações que o sujeito e a vida se constituem e se transformam quando nos colocamos a ouvi-los. Conhecer é função do corpo e princípio de vida. E este se dá de formas não lineares e evidenciadas. Dependemos tanto das funções de nossos sistemas corporais como das relações com o imediato, para sermos e para conhecermos. 11 https://www.23reuniao.anped.org.br/textos/1714t.pdf
  • 18. 18 A sobrevivência é fato, porém a supervivência, como nos disse Rolando, depende dessa “ousada” interação entre o corpo, movimento e a sacralidade da vida. Portanto, a história de vida do sujeito é a história das situações e experiências vivenciadas e por ele elaboradas. Não foi à toa que Rolando Toro reconheceu e buscou a importante relação com o corpo e com os movimentos para chegar nas demandas e necessidades de integração humana mediante a vida. Assim, foi também, com outros tantos pesquisadores de nossa história. Como abordar então o corpo da experiência, o corpo que vive intensamente, um corpo que é capaz de sustentar a vida, as relações e dar continuidade a espécie?
  • 19. 19 CAPITULO 2 CORPOREIDADE Corporeidade é uma terminologia usada pela filosofia para determinar basicamente a maneira pela qual o reconhecemos e utilizamos o corpo como instrumento relacional com o mundo. Sendo que esta abarca três distintas dimensões que se mantem de forma complexa e indissociáveis, que são as dimensões fisiológicas, psicológicas e espirituais, sendo inspirada na fenomenologia de Merleau-Ponty, que reconhece o corpo como o lugar da experiência vivencial e tudo que ela envolve. Ou seja, a corporeidade assume tanto o sentido do acompanhamento do corpo em sua experiência como também o contexto ou os meios cognitivos.12 A corporeidade na perspectiva fenomenológica de Merleau-Ponty, considera o corpo e as questões que envolvem o ser pelo sentido do vivido mediante a observação. Para Merleau-Ponty, é necessário resignificarmos nossa compreensão de corpo, pois corpo é movimento, sensibilidade e expressão criadora, o que difere da concepção mecanicista onde se procura entender corpo como uma unidade corpo-mente e não como uma integração delas. Do corpo mecânico ao corpo sujeito, surge a compreensão de uma corporeidade pautada na fenomenologia de Merleau- Ponty, baseada no corpo, em movimento e na sua abordagem sensível, para traduzir à consciência a complexidade dos processos corporais e a dificuldade com o pensamento cristalizado, anunciando novas possibilidades para o conhecimento da experiência humana e da abordagem ao corpo. O que há de novidade para ser falado a respeito do corpo hoje? Segundo SANDER, antes de reforçar sua evidência, seria interessante tirá-lo de evidência, devolvendo-lhe alguma surpresa. Para ele, não é tão fácil assim sair da obviedade imposta pela cultura da imagem, que é a que vivenciamos hoje, pois ela se firma na própria relação entre: corpo, cultura e subjetividade.13 12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Corporeidade 13 http://www.uff.br/periodicoshumanas/index.php/Fractal/article/view/180
  • 20. 20 Segundo COELHO, falar do corpo hoje é reconhecer que saímos da condição: “eu tenho um corpo” para assumir que “eu sou o corpo”, e do quanto nossa pertinência na vida depende da própria condição corpo. Para ele, a questão é que na sociedade moderna contemporânea não basta sermos o corpo, mas é necessário que ele apareça. E, portanto, para ele, sermos o corpo está condicionado ao ter. Sendo assim, eu sou na medida em que tenho e em que apareço.14 Porém, segue destacando, esta condição, não consegue dar conta de nos estruturarmos na vida dentro da sociedade de consumo e de produtividade que é a atual, pois esta não acessa a integração da vida humana. O desenvolvimento humano pede um mínimo reconhecimento de si e das relações que estabelecemos tanto interpessoais como sociais, culturais e com o meio ambiente. As mudanças ocorridas em nosso estilo de vida no percurso da história, nos mostra que o conceito de corporeidade hoje é fundamental para tal desenvolvimento. Se por um lado reconhecemos que o modo de vida ao qual estamos condicionados na modernidade revela um modo de vida que não potencializa a condição corpo, somos obrigados a admitir a urgência de uma mudança desse estilo de vida, passando a considerar a dimensão afetiva, como destacou Rolando. Ou seja, ternura, solidariedade, amorosidade e sensibilidade são reais e são possíveis sim e o acesso é estimulando nossa capacidade de sentir e de se emocionar mediante a vida. Que saídas podemos encontrar no mundo de hoje para essa questão? Segundo Walter Coelho em entrevista pelo Youtube, a questão do corpo hoje é radical porque ele revela o enraizamento que temos na vida e no mundo. Portanto, faz-se necessário indagarmos o corpo, pois assim, resgatamos a condição de ser o corpo e a condição de nos enraizarmos na vida a partir da construção dessa relação com a corporeidade.15 Ter clareza dessa relação “eu sou o corpo” de hoje é fundamental também para encontrarmos novos caminhos no âmbito das práticas corporais 14 https://www.youtube.com/watch?v=SOYcovFKA2M&t=427s (0:40 a 1:22) 15 https://www.youtube.com/watch?v=SOYcovFKA2M&t=427s (0:30 a 0:40)
  • 21. 21 tanto terapêuticas como educacionais, pois elas nos dão oportunidade de transformar um cenário atual tão desgastado e reconhecer a importância de entramos em contato com as forças que habitam o corpo e suas potencialidades. Entende-se assim, que é preciso darmos as mais variadas informações que faltam ao corpo para que ele faça sua própria experiência e constitua desse modo sua corporeidade no mundo de forma mais harmônica e menos capturada pelo modo de vida atual. Do corpo a corporeidade, uma visão mais integrada. Um caminho
  • 22. 22 CAPITULO 3 O MOVIMENTO O movimento é a expressão singular de cada pessoa, revelando involuntariamente suas mais íntimas possibilidades relacionais e existenciais. Ele traz consigo, aspectos conscientes e inconscientes, culturais, sociais, fisiológicos, genéticos e é através dele que aprendemos com as relações e informações que incorporamos em suas experimentações. Vivenciamos pouco nossos corpos em movimento de uma forma consciente e sensível em nosso cotidiano. Mas mesmo assim, o corpo nunca deixa de estar repleto de sentidos e de afetos que nos ligam a um estado mais profundo de relação conosco mesmo onde a consciência cotidiana nem sempre pode perceber. O corpo fala, tem memória, escuta, pensa, sente e incorpora aquilo que lhe traz sentido. O movimento revela as particularidades de um modo de ser e de suas potencialidades em ação no mundo. E como seres de expressão e comunicação, iniciamos a vida conhecendo o mundo e o construindo nossa história por meio de nossos movimentos. O corpo fala e, sendo assim, seu principal elemento é o movimento. Nada mais importa do que ele próprio, pois o movimento em sua expressão é curativo por si só. Por trás de uma região do corpo imóvel ou inconsciente, encontramos sempre um grande potencial de transformação. Graças a nossas articulações podemos realizar todos os nossos gestos e viver o potencial para o movimento, que revela através do tônus corporal, nossos estados e nosso potencial de expressão e ação no mundo. Para Rolando Toro, qualquer estudo sobre o movimento que esteja relacionado apenas aos dados psicomotores não permite uma condição integradora de todos os aspectos humanos. É necessário, portanto, que consideremos principalmente a atitude existencial, a autoestima e a função do vínculo.
  • 23. 23 Na maior parte do tempo, nos gestos cotidianos, estamos sem perceber estas relações. Na prática como facilitadora de Biodanza, encontro sempre pessoas desejosas de vivenciarem intensamente sua vida. Fazê-las se perceberem nesse lugar vai além da questão básica de saúde, do cuidado apenas com o corpo biológico. Olhar as questões do corpo e do movimento considerando as questões existenciais que incluem a autoestima e a vinculação afetiva, não somente considera a promoção da saúde como um cuidar das funções e funcionamentos viscerais, como permite que o sujeito reconsidere sua maneira de ser no mundo e encontre estímulos para fazer as mudanças que deseja, considerando a globalidade de sua saúde e o quanto ela depende dessa integração entre todas as partes de um ser. Essa foi a visão mais instigante e, portanto, a que me levou a este estudo. Todo movimento carrega o potencial de ser por si só, organizador e estruturante. Ele é próprio do homem, é seu pensamento e sua vida no mundo. Dançar é a permissão de deixar seu corpo falar para você, pois o movimento surge primeiramente de uma necessidade interna e o corpo é o lugar onde tudo acontece. Quando dançamos, entramos em contato com nossas potencialidades, que nos conduz a sentir o corpo e a enriquecer nossas perspectivas. Quando saímos do estado tenso para a descontração, mudamos o tônus corporal porque mobilizamos nossa fisiologia. Todo movimento produz calor, deslizamento e mudança na matéria. Quando a matéria do corpo se encontra maleabilizada, melhoramos nossa capacidade perceptiva e assim, abrimos caminho para reconhecer nossas potencialidades. Falo de uma relação gerada pela intensidade emergente do ato da vivência através do encontro com a própria dança. Sim, porque a proposta da Biodanza não é somente dançar, mas também estimular o sujeito a encontrar sua própria dança. A prática da Biodanza coloca no centro de sua análise, a vida. Portanto, em sua singularidade, o que a pessoa descobre vivencialmente lhe pertence. Nesse sentido a noção pedagógica de um fenômeno vivenciado é
  • 24. 24 percebida por cada um de maneira própria. Logo, a percepção de si não é somente a consciência do próprio corpo e de seus movimentos, mas também o reconhecimento de uma maneira própria de sentir e perceber sua vida e suas singularidades. Nossos movimentos, nossa postura e nossas expressões nos oferecem uma fonte segura para o nosso conhecimento próprio. Sendo nosso corpo, podemos reconhecer que nossa identidade se forma a partir de nossas experiências de vida. Como nos afirma Rolando Toro: “o desenvolvimento embriológico da identidade é paralelo e coerente com o desenvolvimento psíquico.’16 Ele ainda nos diz que: “- Negar a própria identidade é uma perversão expressiva grave que conduz a destruição do indivíduo.” Por aí já se reconhece o olhar de Rolando, sobre a importância da expressão da identidade do sujeito no mundo, objetivo máximo da Biodanza, e sua identificação com a espécie humana. Para Rolando Toro, tanto as práticas desportivas como algumas modalidades de dança e trabalhos corporais não foram suficientes para abarcar a questão que envolve todo o potencial humano. Se vivenciamos de uma maneira particular os mesmos movimentos de uma espécie é porque possuímos nossas próprias particularidades dentro da espécie e isso faz toda a diferença para que cada um encontre desde seu próprio movimento, aquilo que melhor lhe constitui e não o que a massificação atual propõe. Para ele, uma possível ciência do movimento poderia partir dos seguintes princípios de movimento: o intencional controlado; o movimento espontâneo; os automatismos; a postura; o contato; a carícia. Esta ciência do movimento para Rolando, abarcou o olhar biológico, psicológico e antropológico. Pois qualquer estudo sobre o movimento que esteja relacionado apenas aos aspectos psicomotores não permite uma condição integradora de todos os aspectos humanos. Ao meu ver, Rolando nos falava de um trabalho corporal que estimulasse um estado de abertura no corpo, mas ao mesmo tempo uma estrutura que o permitisse ser acolhido em suas diferentes 16 Apostila Movimento Humano – Curso de Formação Docente em Biodanza, p.32
  • 25. 25 dimensões, onde os principais fatores a considerar são: a atitude existencial; a autoestima; a função do vínculo. Foi justamente esta visão integradora que o fez chegar ao modelo teórico da Biodanza, cuja proposta consiste num sistema que permite agrupar distintos aspectos do movimento corporal com uma visão holística do ser humano. Há muitas questões pelas quais o movimento é abordado na Biodanza. E para Rolando, elas seguiam das seguintes premissas: - Sua prática corporal lhe promove saúde? - Quais os efeitos desta prática em seu corpo? - Ela permite que se desenvolvam seus potenciais humanos, para que se eleve sua qualidade de vida? - Qual a complexidade das relações entre os distintos movimentos que você pratica e sua unidade do sistema humano vivente? Ou seja, como um trabalho corporal pode transformar e melhorar a qualidade de vida na vida da pessoa? Entendo que na visão de Rolando, saúde não é somente a ausência de sintomas, mas também a capacidade para experimentar a vida e se adaptar a suas mudanças constantes. O conceito de saúde, então, passa a ser a capacidade de estarmos criando vida em nossas vidas. Sendo ainda, a capacidade de nos entregarmos amorosamente a vida, ao amor, ao trabalho e aos acontecimentos cotidianos. E quando fechamos esse acesso, rompemos com a saúde e abrimos a porta para doenças. Na continuidade, Rolando acreditava que daria início a investigações futuras cujos efeitos tivessem repercussão nessa visão integrada da saúde pelo desenvolvimento dos potenciais humanos e pela elevação da qualidade de vida, pois o modelo teórico por ele criado abarca formas profundas de integração e regulação do movimento em seus aspectos altamente diferenciados para chegar numa profunda transformação do sujeito pelo movimento.
  • 26. 26 No II Congresso Latino Americano de Biodanza (São Paulo, 1984), Rolando Toro17 propôs um modelo de organização cientifica das distintas classes de movimento, dispostos num sistema de coordenadas, distribuídos em diversos tipos de movimentos de forma tal que qualquer delas pudessem ser descritas dentro de critérios de totalidade e que permitissem vivenciá-los livremente para posteriormente integrar a experiência em si. Por isso Biodanza não é dança livre. Podemos vivenciar os movimentos livremente, mas a organização da proposta com os movimentos é precisamente adaptada a fornecer ao sujeito a experiência de acordo com o tema que se deseja acessar. Os exercícios promovem parâmetros dando um norte ao sujeito, mas a experiência é própria, única e intransferível. A emoção enquanto movimento biológico, surge e leva o sujeito ao movimento e a sua experiência singular, onde acessa o possível para ele. Sendo assim, a proposta em Biodanza é que o sujeito possa construir seu processo de subjetivação, diferenciando-se em sua singularidade e saindo do modelo social vigente que o impedem de fazer essa construção. A dança, a música ou um poema, igualmente nos afetam e promovem em nosso interior, um movimento. O corpo precisa dessa informação para ser afetado e assim reconhecer sua corporeidade, onde temos um corpo que sente, pensa e acessa sua sensibilidade corpórea, pois é ele que nos apresenta alguma novidade a ser incorporada. Chegamos assim num corpo vivo, desperto e sensível, onde os movimentos são plenos de sentido. Um gesto ou movimento sem o corpo sensível, é como fazer um gesto mecânico e repetitivo como o que sugerem inúmeras práticas em academias de ginástica. Sair do modo mecânico de viver a vida influi em, amar o corpo para fazê-lo despertar e integrar as coisas práticas da vida nesse enredo. Ou seja, amando, sentindo, questionando, mas, principalmente partindo de uma atitude afetiva e de estranhamento consigo mesmo. A dança nos permite esse estranhamento. 17 Apostila de Movimento Humano - Curso de Formação de Docente em Biodanza, p.6
  • 27. 27 Dançar é uma das primeiras experiências feitas pelo homem para ter o conhecimento. “A dança, assim como o canto e o grito, é uma das condições inatas do ser humano. O primeiro conhecimento do mundo, anterior a palavra, é aquele que chega a cada um de nós por meio do movimento”.18 Toro nos ressalta que a dança surge das profundezas do ser humano, sendo ela o próprio movimento de vida, de intimidade e de impulso a união com a espécie, revelando assim, nosso modo de ser no mundo e permitindo uma via de acesso a nossa identidade original e a expressão de nossa unidade orgânica humana no universo. Deste modo, Rolando enxergou que resgatar essa origem da dança seria também reencontrar a força positiva que faz os organismos crescerem e desenvolverem-se, permitindo assim a evolução da espécie. Sendo ainda, um modo de adaptação ao movimento cósmico.19 Rolando defendeu então o encontro de uma dança orgânica, que pudesse responder aos padrões de movimento que geram vida e não que perturbem a organicidade do sujeito, e foi isso que encontrou. Seu propósito era desenvolver “pautas de movimentos” que permitissem uma ressonância profunda tanto com o micro e o macrocosmo, e com a capacidade de vinculação real, gerada por movimentos capazes de estimular a vinculação afetiva. Somente assim, acreditava Rolando, se torna possível, “renascer e sair do caos obsceno” ao qual vivenciava na época, para encontrar um novo modo de viver baseado na sensibilidade, na presença plena de si e de sentido mediante a vida. “O que a gente necessita para viver é um sentimento de intimidade, de transcendência, de vinculação gozosa e de estimulante felicidade”.20 Pelo olhar de Rolando, hoje, ainda como naquela época, sabemos que o enraizamento na vida não pode vir meramente de uma ideologia 18 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.13. 19 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.30. 20 TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 30
  • 28. 28 desencarnada da ação. Por isso destacamos aqui a organização feita por ele sobre sua proposta de movimento disposta em exercícios, definindo categorias de movimentos que possam ativar através da dança e da comunicação em grupo, vivências harmonizadoras. Rolando destacou e organizou então dezessete categorias distintas de movimentos a serem trabalhadas separadamente, que são: - 1. Ritmo - 10. Agilidade - 2. Potência - 11. Leveza - 3. Controle Voluntário (intencional) - 12. Flexibilidade - 4. Resistência - 13. Fluidez - 5. Coordenação - 14. Eutonia - 6. Equilíbrio - 15. Expressão - 7. Sinergismo - 16. Eurritmia - 8. Elasticidade - 17. Passagem do ritmo à melodia - 9. Extensão Entre tantas possibilidade de leitura de nossos movimentos, Rolando destacou ainda, mais algumas orientações a serem observadas e tratadas, sendo: - Os movimentos voluntários. - O deslocamento dentro do espaço. - A semântica expressiva em relação a certos códigos gestuais. - A busca consciente de alguns efeitos e a coordenação dos diversos movimentos em função da temática. - A coordenação auditivo-sonora e visual-motora. - A localização ao redor de outras figuras referenciais e relacionais. - A introdução espontânea de elementos de fantasia. Quando o dançarino põe em ação seus movimentos, ajustando as necessidades expressivas, estéticas ou de representação, está
  • 29. 29 assumindo o comando de uma série de funções vinculadas a identidade. Ou seja, (...) ele está colocando em ação toda sua capacidade de jogo, equilíbrio, coordenação e expressão (...).21 Destacamos aqui, a importante visão de Rolando... As transformações, as mudanças, para que tenham um sentido evolutivo, têm que ser em referência a um centro interior. Têm que ser em referência a um princípio de gravidade e equilíbrio; de vinculação nossa com o centro de gravidade da terra. Porque toda outra mudança é externa e não é uma mudança de fundo. É uma mudança parcial, que às vezes pode resolver problemas locais. Mas, se aquele que quer fazer mudanças sociais não muda a si mesmo, não tem nada a oferecer. Então, qualquer transformação de grupo, qualquer transformação social, nós pensamos que tem que ser feita a partir da saúde, não a partir da neurose. Quer dizer, os que fazem a transformação, que são vocês, têm que ter algo grande que dar. Tem que ter saúde, fraternidade, altruísmo, erotismo, vitalidade, vinculação com a natureza. Não há transformação político-social a partir da neurose.22 Segundo ele as mudanças se fazem a nível de gente; não se fazem a nível cortical, se fazem a nível hipotalâmico.23 Faz-se importante destacar aqui o olhar e as palavras determinadas e coerentes de Rolando em relação as questões da vida enquanto seres de movimento e também em relação ao mundo e a condição social, política, econômica e educacional a qual dependemos. Estamos habituados a um pensamento que está vinculado ao discurso e a razão e não a linguagem corporal, assim nos fez a história mediante o pensamento platônico. O corpo tem uma organização própria dele. Uma sabedoria que rege o funcionamento de todos os sistemas de forma integrada. Estados diferentes vão produzir experiências e aprendizagens diferentes das habituais. A proposta com Biodanza é induzir vivências através da dança, do canto, de exercícios de comunicação em grupo. Pois um corpo que se movimenta está em contato com as sensações mais íntimas e isso invade a consciência. Isso nos permite, além de outras possibilidades, integrar sensação e pensamento na ação, resgatando a importância do corpo e rompendo com o 21 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2002 p.29 22 TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 63 23 TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 64
  • 30. 30 que nos foi transmitido essencialmente pela história da cisão entre corpo e alma e todo o seu legado patológico sobre o ser. A proposta de movimento com a Biodanza está ligada mais a um estado de abertura ao corpo sensível e a experiência de contato com campos que não passam pelo lugar da significação, mas sim pela capacidade de nos emocionarmos, e que assim podem permitir um estado de consciência ampliado em função da expansão dos limites do corpo. Quando falamos nessa ampliação e transformação do sujeito pelo movimento em Biodanza, reconhecemos que essa condição se dá mediante o processo de integração que ela pode proporcionar. Segundo o criador, o conceito de “mudança” em Biodanza propõe uma série de interrogações, dentre as quais podemos destacar:24 1. Que sentido tem a mudança dentro do indivíduo? Que mudanças e adaptações ela provoca em seu organismo? 2. Que consequências tem a mudança na vida do sujeito? Existe um ambiente receptivo para a mudança e ela pode ser sustentada pelo sujeito? 4. Como lidar com os riscos que a mudança traz? Que consequências as mudanças oferecem as demais pessoas que convivem com o sujeito em questão? 5. Podemos avaliar o nível de profundidade da mudança e consequentemente reconhecer o novo equilíbrio tanto internamente como externamente alcançado? Segundo Rolando, a maior parte dos sistemas de desenvolvimento humano não se colocaram seriamente estas perguntas. E justamente pela dificuldade desta resposta foi que ele destacou a importância em cuidarmos da dimensão que o trabalho com Biodanza pode alcançar. Rolando lançou assim, algumas respostas provisórias a essas perguntas, sujeitas a uma verificação mediante o avanço das ciências. 24 Toro, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 113/114
  • 31. 31 1. A mudança deve ser feita no sentido de aumentar a integração do sujeito, respeitando seu equilíbrio e suas necessidades profundas, tendo como base a recuperação dos instintos através da abordagem vivencial. 2. A profundidade da mudança deve ser avaliada em relação a nova integração que o sujeito alcançou, mediante os seguintes parâmetros: mudanças a nível motor, sensitivo motor, cognitivo motor, mudanças das respostas instintivas e viscerais, de nível afetivo, isto é, mudanças da qualidade e intensidade do encontro inter-humano, mudanças de amplitude de consciência, etc. 3. para que sejam sustentáveis e não traumáticas ou destrutivas, as mudanças necessitam estar em relação de escuta e reciprocidade entre o ambiente e os sistemas corporais. Se não for por essa ordem, perdemos a integração e aumentamos a desordem. 4. A relação com a manutenção da mudança, requer uma progressividade no processo. As mudanças bruscas não respeitam a organicidade e nem integram o processo, podendo aumentar o nível de perturbação do sujeito. 5. A mudança não deve se dar de modo isolado e sim buscar acolhimento e apoio com as pessoas próximas e com ambientes nutridores, respeitosos e ternos. 6. A avaliação pode ser feita respeitando as características especificas das linhas de vivência e a integração entre elas, acompanhando a progressão do sujeito. Porém, as perguntas fundamentais que Rolando levantou a respeito da mudança do sujeito em sua vida foram: O que mudar? Como mudar? Através de que proposta? Terá consistência essa mudança? A Biodanza oferece um panorama dessas possíveis mudanças que se dão na seguinte ordem:
  • 32. 32 -1ª Ordem: São as que se espera acontecer logo ao início da entrada num grupo regular. -2ª Ordem: As que promovem uma transformação em resistências mais profundas, provenientes de grupos regulares de aprofundamento. -3ª Ordem: Mudanças radicais. Mudanças de uma 1ª. Ordem: 1. A integração ao próprio corpo, pois a maioria das pessoas encontram-se dissociadas pelo processo da cultura e não sentem nem percebem a si e ao seu corpo na totalidade que é. 2. A expressão das emoções não correspondem ao que a pessoa descreve em sua fala, em relação ao que vivencia. Atitude herdada por séculos de uma cultura que valorizou a dissociação corpo-mente. 3. Diminuição das defesas e resistências, percebidas e expressas pelo corpo e transmitidas através de uma postura e de movimentos mais coordenados, suaves e arredondados, ou seja, menos bruscos. 4. O respeito à expressão orgânica, no sentido de desperdiçar menos energia com situações e atitudes que não são nutridoras do bem estar geral da pessoa. Otimizando o trabalho e funcionamento do próprio corpo e dos mecanismos de auto regulação. 5. Reconhecer a potência que o princípio de saúde baseado na restauração da vitalidade tem no processo de mudança e que as soluções provem daí e não do sofrimento. 6. A integração motora. 5. A melhoria na comunicação e expressão pela permissão a olhar nos olhos, sorrir e para escutar o outro.
  • 33. 33 6. Reconhecer o corpo como fonte de prazer, assim como despertar o desejo como algo natural e saudável e sem culpa através da confiança e da entrega para que se dê o desfrute ao prazer. 7. A expressão das emoções. Segundo Rolando em sua proposta com Biodanza, concluímos que, quando entramos em contato com as experiências primárias, somos capazes de acessar esse estado sensível e passível a mudanças proposto pelo processo vivencial que a Biodanza permite. Onde, no corpo vivo, desperto e sensibilizado pela vivência, estamos abertos a experiência. Esse lugar emergente é o lugar onde a vivência de Biodanza nos leva e é um momento de abertura plena e receptividade à vida e as forças que dela se apresentam. Existe uma estreita relação entre a semente e o fruto, entre o programa genético e o organismo em seu processo de maturação; o segredo da renovação da vida é encontrado nessa coerência com a origem. Sem a capacidade de reparação biológica, nenhum organismo poderia sobreviver. 25 Segundo ele, é necessário fazermos uma transvaloração da cultura para sairmos desse modo que tanto desqualifica e menospreza a vida e nos mantem submetidos a dominação de uma cultura consumista. Em sua proposta, acreditava que ela se inicia dentro de nós mesmos e na relação e desdobramentos dela, para que chegue no mundo. No ser humano, o conhecimento depende de sua interação com a realidade. E são justamente as relações internas, o efeito de nossos sentimentos, sensações e pensamentos que geram os nossos movimentos na direção do conhecimento que é o “outro”. Sendo assim, a questão principal a considerar, apontada por Rolando, foi a dimensão total e tipicamente humana, baseada na direção do conhecimento que é o movimento vinculante. Ou seja, dependemos do outro para nos reconhecer e sem a capacidade afetiva não nos vinculamos de um modo 25 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 115
  • 34. 34 implicado, comprometido e responsável. Nossos movimentos e o contato físico com o outro, formam a ponte necessária para que a mudança se dê. Reconhecemos assim, que para se alcançar a comunicação por meio dos movimentos, precisamos ter uma maior evolução motora, sensibilidade da percepção e empatia a um nível da escuta do próprio corpo e das relações. A Biodanza em suas considerações destaca que o movimento vivencial em relação com o outro se coloca através das vivências de eutonia, fluidez com o outro, sincronização rítmica e melódica com o outro, ressonância anímica com a música, coordenação rítmica com o outro, prazer cenestésico com o outro e o encontro em feedback.26 A Biodanza se propõe a integrar o ser humano a partir da sua condição movente, que é viver sua vida através de seus movimentos, pois a vida em sua maior instância é movimento. 26 Apostila de Movimento Humano - – Curso de Formação de Docente em Biodanza, p. 15/16
  • 35. 35 Tudo que move é sagrado E remove as montanhas Com todo o cuidado Meu amor Enquanto a chama arder Todo dia te ver passar Tudo viver a teu lado Com o arco da promessa Do azul pintado Pra durar Abelha fazendo o mel Vale o tempo que não voou A estrela caiu do céu O pedido que se pensou O destino que se cumpriu De sentir seu calor E ser todo Todo dia é de viver Para ser o que for E ser tudo Sim, todo amor é sagrado E o fruto do trabalho É mais que sagrado Meu amor A massa que faz o pão Vale a luz do seu suor Lembra que o sono é sagrado E alimenta de horizontes O tempo acordado de viver No inverno te proteger No verão sair pra pescar No outono te conhecer Primavera poder gostar No estio me derreter Pra na chuva dançar e andar junto O destino que se cumpriu De sentir seu calor e ser todo Amor de Índio (Beto Guedes)
  • 36. 36 CAPITULO 4 BIODANZA Origem A base conceitual da Biodanza provém de uma meditação sobre a vida; do desejo de renascermos de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril estrutura de repressão; provém, com certeza, da nostalgia do amor.27 As patologias do “eu”, como apontou Rolando, sustentadas pelas ideologias políticas e educacionais, foram caracterizadas pela cisão entre natureza e cultura, com uma valorização predominante da razão sobre o instinto. A Biodanza surge do desejo de renascer e superar uma forma de vida vazia proporcionada por valores culturais distorcidos pelas sociedades de consumo, reprimida e distanciada de si. A Biodanza surge para resgatar o vínculo original com a espécie, como totalidade biológica, e com o universo como totalidade cósmica. Para Rolando, nós nos privamos de nossa identidade e, portanto, de nossa saúde, quando deixamos de olhar, de escutar, de tocar, ignorando o outro em prol de uma presença ausente e adormecida que desqualifica a presença do outro. A Biodanza procura assim um novo modo de viver, despertando a “sensibilidade adormecida” para encontrar um “sentimento de intimidade”, de “união agradável” e “beleza estimulante”, provenientes de nossa parte saudável. Definição Biodanza é um sistema de integração humana, renovação orgânica, reeducação afetiva e reaprendizado das funções originárias da vida. Sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio da música, da dança, do movimento e de situações de encontro em grupo.28 Integração afetiva: trata-se de restabelecer a unidade perdida entre percepção, motricidade, afetividade e funções viscerais. O núcleo integrador é a afetividade que influi sobre os centros reguladores 27 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 13 28 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 33
  • 37. 37 límbico-hipotalâmicos, que, por sua vez, influem sobre os instintos, vivências e emoções.29 Renovação orgânica: é o estabelecimento da harmonia homeostática, isto é, da ultra estabilidade dinâmica do bio-sistema. A renovação orgânica é induzida principalmente através de estados especiais de transe, que ativam processos de renovação e regulação global das funções biológicas, diminuindo os fatores de desorganização (entropia do sistema).30 Reaprendizagem das funções originárias de vida: consiste na retroalimentação do comportamento e do estilo de vida, com os instintos básicos (programação genética). Os instintos têm por objeto conservar a vida e permitir sua continuidade e evolução. (Não há evolução biológica através da cultura). O desenvolvimento dos potenciais genéticos se realiza através do bombardeio de ecofatores positivos sobre cinco grandes conjuntos de potenciais: Vitalidade, Sexualidade, Criatividade, Afetividade e Transcendência. O desenvolvimento dos potenciais genéticos dentro de um contexto ecológico, reativa as funções originárias de vida (capacidade de amor, alegria, coragem de viver).31 Conceitos estruturais 1.Inconsciente vital: Segundo Rolando Toro, o inconsciente vital representa o psiquismo das células e dos órgãos e a capacidade que essas estruturas corporais tem de memória, defesa, afinidade, rejeição, solidariedade e comunicação entre elas dando também origem aos estados de humor. Este psiquismo não trabalha com ideias nem com imagens, ele responde a estímulos internos, externos e instintivos, sendo responsável também pela defesa imunitária e adaptação ao meio ambiente. Seguindo o conceito, os estados de humor estão relacionados com a condição de equilíbrio, vitalidade e saúde do organismo.32 2.Princípio biocêntrico: O princípio biocêntrico é reconhecido pelo respeito a vida e a sua conservação no planeta, inspirando-se nas leis universais que conservam os 29 TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 2 30 TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 2 31 TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Fortaleza: ALAB, 1991, p. 2 32 Apostila Definição e Modelo Teórico - Curso de Formação Docente em Biodanza; p. 8
  • 38. 38 sistemas vivos e torna possível sua evolução. A Biodanza se estrutura em profunda ressonância com esse princípio e suas leis, colocando a vida e sua preservação no centro de tudo que há, estando assim inteiramente comprometida com o principio biocêntrico e com a forma de sentir e pensar por meio da vivência. (...)” O princípio biocêntrico surge de uma proposta anterior a cultura e se nutre nas informações que temos sobre os seres vivos”33 Conceito de vivência O sistema Biodanza se dá por meio de vivências integradoras, que nos permitem acessar o inconsciente vital e os potenciais humanos. A vivência tem uma ação reguladora sobre a organicidade, o que repercute diretamente sobre a vida da pessoa. Em Biodanza, “a ação reguladora dos exercícios não se exerce sobre o córtex cerebral voluntário, mas sim sobre a região límbico- hipotalâmica, centro regulador das emoções. A Biodanza contempla os potenciais humanos dispostos por cinco linhas de vivência especificas, por onde eles se expressam, que são: vitalidade, criatividade, sexualidade, afetividade e transcendência. As cinco linhas de vivência dispostas vão atuar e estimular o sujeito em todos os âmbitos da expressão da existência humana. O primeiro a investigar o sentido de vivência foi o filosofo historicista alemão Wilhelm Dilthey. Segundo Rolando, ele definiu como sendo algo revelado no complexo psíquico dado na experiência interna de um modo de existir a realidade para um indivíduo, e que esta concepção teve influência direta sobre a fenomenologia de Maurice Merleau- Ponty, na ontologia de Martin Heiddegger e na sociologia de Max Webber.34 Na teoria de Biodanza, Rolando Toro redefine o conceito de vivência como a experiência vivida com grande intensidade por um indivíduo no momento presente, que envolve a cenestesia35, as funções viscerais e emocionais. A vivência traz a referência tempo/espaço do aqui agora, concedendo o sentimento 33 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 50 34 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 30 35 CENESTESIA: impressões sensoriais internas do organismo, que formam a base das sensações
  • 39. 39 de presença. Mediante a vivência, o indivíduo pode sentir-se integrado, a partir de uma profunda conexão consigo mesmo. Em Biodanza, estimula-se esse contato consigo através de situações prazerosas, reforçando assim o lado positivo e inaugurando o aprendizado decorrente não somente das funções corticais, mas sim de um envolvimento de todo o organismo, onde o corpo também participa do pensamento. A proposta pedagógica orientada pelo método vivencial da Biodanza, é que a aprendizagem ocorra em três níveis em correspondência: o cognitivo, o vivencial e o visceral. Quando isto não ocorre o resultado são comportamentos dissociados. Por isso, a proposta da Biodanza vai das vivências à compreensão racional do processo e não da compreensão racional do processo para as emoções, como promovem as terapias cognitivas. Não que ela exclua a cognição, a consciência e o pensamento simbólico, mas a metodologia vivencial propõe um caminho inverso, onde a consciência e registros dos estados internos virão após a vivência. A vivência por si só é integradora, pois o estado vivencial é profundamente restaurador da organicidade do indivíduo, além de não buscarmos analisar ou julgar conscientemente o que foi sentido, mas deixar que a experiência dada no interior seja acolhida e possivelmente relatada e compartilhada no grupo. A experiência de quarenta anos em suas pesquisas, ajudaram Rolando a observar e a definir características essenciais contidas no trabalho apoiado na vivência e assim as resumiu: a experiência original; a anterioridade a consciência; a espontaneidade; a subjetividade; a intensidade e suas variações; a temporalidade; a emocionalidade; a dimensão cenestésica; a dimensão ontológica; a dimensão psicossomática.36 Sabemos que a expressão de nossos sentimentos, pensamentos e emoções vem tanto dos órgãos dos sentidos como da percepção. Portanto, a 36 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 30 e 31
  • 40. 40 vivência com seu potencial cenestésico constitui um modo de explorar a consciência e consequentemente o conhecimento, assim como estabeleceu cientificamente a fenomenologia de Merleau-Ponty.37 Linhas de vivência Vitalidade: De um modo geral a vitalidade corresponde a um bom nível de saúde e harmonia orgânica. Significa também ter forte motivação para viver e possuir energia para a ação que vem da profunda conexão com a vida. A vitalidade se expressa pelo sentimento de alegria interior e entusiasmo pela vida, o humor endógeno, estados de ânimo eufórico ou depressivo. O desenvolvimento da vitalidade é estimulado mediante a dança, da mobilização do sistema neurovegetativo simpático e parassimpático, da homeostase, equilíbrio interno que se preserva apesar das mudanças externas, pelo instinto de conservação luta e fuga, pela iniciativa a ação e pela resistência imunológica. Os exercícios na linha da vitalidade mobilizam a resposta orgânica que está ligada ao inconsciente vital estimulando os estados de ânimo. A vitalidade ajuda a pessoa a estabelecer uma conexão precisa com a vida e a se aproximar cada vez mais daquilo que gera vida em sua vida, pois hoje em dia isso se encontra completamente perturbado. Sexualidade “Em seu sentido mais amplo, a sexualidade é o que distingue física e emocionalmente o macho da fêmea, tanto nos animais como nos vegetais. Isto significa que na sexualidade participam componentes genéticos diferentes, exceto nas flores hermafroditas. A diferenciação possui um papel fundamental na reprodução das espécies e, portanto, na continuidade da vida. No ser humano, a sexualidade também está associada ao prazer e a motivação para 37 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 32
  • 41. 41 viver. A sexualidade revela nossa energia erótica, que é também energia cósmica geradora de vida. Essa expressão vem sofrendo através dos séculos inúmeras formas de repressão. Em algumas culturas ela é o caminho do êxtase e um modo de alcançar o sagrado. A diminuição do desejo e das motivações sexuais em nosso tempo podem ser consideradas como uma catástrofe antropológica”.38 “Se a sexualidade é um modo de ser, não é somente a expressão de glândulas endócrinas e da genitalidade. Tão pouco está limitada a função reprodutora do orgasmo”. Ela engloba a totalidade do ser, por isso está ligada à nossa relação com a vida. Portanto está diretamente ligada a sensação corporal proveniente das necessidades internas, que está em relação com nossos estados de humor endógeno, com os desejos e em relação com os seres humanos”. Segundo Rolando: “a vivência da sexualidade é uma expressão do inconsciente vital que se manifesta como sensações de prazer cenestésico de intensidade variáveis e que podem conduzir ao estado de êxtase”. Ela é a força de nossa mobilização existencial. Os exercícios nessa linha de vivência estimulam os movimentos e sensações relacionados com o erotismo, com a identidade sexual e com a função do orgasmo. Permitindo despertar a fonte de nossos desejos e a superar a repressão sexual.39 Criatividade A Criatividade vista por Rolando Toro é uma atividade pertencente ao próprio processo de transformação cósmica, uma passagem constante do caos a ordem sucessivamente alternada, que no ser humano se expressa como impulso de renovação diante da realidade. Segundo Rolando...se a vida é uma expressão do universo em nós, a criatividade humana poderia ser considerada como uma extensão dessas forças biocósmicas, nos fazendo criar e gerar vida ao mesmo tempo que somos criados. Para ele, nossa grandeza, nosso potencial criativo não está no espírito, mas sim em nossa vida e que se faz importante sairmos dos condicionamentos 38 Apostila de Sexualidade – Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 4 e 5 39 Apostila de Sexualidade – Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 5 e 6
  • 42. 42 tradicionais proporcionados pela psicologia da criatividade para mergulhar no extraordinário que é viver. Nosso modo de vida social reprime nosso potencial criativo. Para Rolando a atividade criativa não estava vinculada aos modos de arte terapia através da dança e da música. Para ele o ato de criar está ligado aos impulsos naturais criativos, que estão em conexão com o processo de viver. A repressão da criatividade promove na pessoa uma dissociação entre o que ele sente e faz, fazendo-o agir de forma mecânica obedecendo a padrões impostos de fora para dentro, repetindo gestos sem sentido existencial. A perda da criatividade impede o fluxo organizador da vida na pessoa porque impede também a escuta que o coloca em relação com o mundo. A falta da força criativa inibe a expressão de nossa organicidade e também nossa sensibilidade em relação ao mundo deixando-nos vulneráveis a inúmeras patologias geradas pelo “não ser em si”. Afetividade Segundo Rolando, é um estado de afinidade profunda em relação aos seres, capaz de originar sentimentos de amor, amizade, altruísmo, maternidade, paternidade, companheirismo, etc. Quando nos identificamos com os outros e somos capazes que compreendê-los, amá-los, mas também de rejeitá-los. A raiva, o ciúme, a insegurança, a inveja, também são considerados expressões distorcidas da afetividade. A afetividade pode se manifestar tanto na dimensão diferenciada, relacionada a uma só pessoa como o sentimento voltado ao indiferenciado, dirigido a humanidade. A vivência da afetividade traz recordações que estão em relação com nossa memória e representações, portanto está ligada à nossa consciência. A linha da afetividade vai despertar principalmente o sentimento de amorosidade para com os demais e com o todo. Segundo Rolando, a afetividade é a expressão de nossa identidade. As formas patológicas da afetividade se manifestam na destrutividade, na discriminação social, no racismo, na injustiça e nos impulsos autodestrutivos. Quanto mais afirmamos nossa identidade mais capacidade temos de amar e vivenciar nossa capacidade
  • 43. 43 afetiva. A afetividade não está submetida a sensibilidade nem a inteligência, mas sim ao sentimento de amor a humanidade e as atitudes e ao processo evolutivo da espécie. Os exercícios propostos em cerimônias de encontro, de contato, vinculação e solidariedade com o outro proporcionam uma reeducação afetiva e o acesso a amizade e amorosidade.40 Transcendência A transcendência nos fala da capacidade que o homem possui de se vincular essencialmente ou profundamente com tudo que existe. Em Biodanza, transcender é superar a força do ego e ultrapassar limites da percepção e da consciência, podendo identificar-se com a essência da natureza e das pessoas. A vivência de transcendência estimula a região central do hipotálamo e suas conexões com o lóbulo frontal e com a amígdala, proporcionando estados de êxtase que são revelados pela neurociência e não somente como fenômenos espirituais. Os exercícios da linha de transcendência vinculam o participante de Biodanza com a harmonia universal e com a consciência cósmica.41 Expressão genética Cada indivíduo possui um potencial genético que constitui um conjunto de características que se dão no momento da fecundação, determinando assim a identidade biológica que se expressará através da vida. Os potenciais genéticos se organizam e se desenvolvem num nível orgânico e emocional que está de acordo com a sintonização da unidade cosmo biológica e não necessariamente de acordo com padrões culturais. O desenvolvimento humano se dá a partir do potencial genético. O homem expressa durante sua vida um número mínimo desses potenciais. Existem milhões de combinações dentro da dupla espiral que são reguladas por um verdadeiro relógio genético e se expressam tardiamente, enquanto outros se expressam logo no período inicial da vida. Portanto uma estrutura reúne milhares de potencialidades que só esperam a possibilidade para se manifestar. As diferentes situações na vida de 40 Apostila de Afetividade, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 5 41 Apostila de Transcendência, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 3
  • 44. 44 uma pessoa poderão deflagrar expressões genéticas imprevisíveis. O modelo teórico do sistema Biodanza criado por Rolando ressalta o processo de remodelação através do qual o potencial genético pode ser manifestado para ajustar-se as autênticas necessidades de vida em detrimento dos valores rígidos criados pela cultura ao qual a pessoa deve seguir reprimindo seus potenciais e o desenvolvimento deles.42 Todo nosso potencial está contido em cada uma de nossas células. Isto significa que a natureza assegurou a informação, reproduzindo-a milhões de vezes. Alguns genes em conjunto permitem a expressão de determinadas características. Assim, por exemplo, a inteligência, o tom da voz, nossa sensibilidade cenestésica, depende da ação conjunta de genes diferentes. A ausência de determinada característica pode ser devido a um elemento genético que não esteja participando. Em tal caso, esta existe potencialmente, mas não se expressa.43 Mecanismos da ação O objetivo principal da Biodanza é levar a pessoa a uma integração de sua totalidade. Os mecanismos de sua ação estão todos interligados e dispostos a estimular a totalidade desse processo que é inerente à vida humana, sendo eles: a vivência; a expressão da identidade e integração dos potenciais humanos; o trabalho relacional; a reeducação afetiva; a renovação orgânica; a reabilitação existencial; a percepção do ato de viver e a expansão da consciência. A principal ferramenta na ação da Biodanza é a estimulação de vivências mediante a música, a dança e as situações de encontro em grupo. Na abordagem da Biodanza, a pessoa é convidada a priorizar a vivência em detrimento do pensamento lógico e racional, onde o significado vem pela vivência. “As vivências têm um poder de integração em si mesmas e não necessitam de elaboração consciente; elas são modo de cognição, a nível 42 Apostila Modelo Teórico, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 30 43 Apostila Modelo Teórico, do Curso de Formação Docente em Biodanza, p. 30
  • 45. 45 inconsciente”44. Por isso a importância da progressividade dos exercícios assim como de sua continuidade. A integração de um indivíduo depende da sua relação com a espécie e com o todo, portanto, não existe Biodanza individual, é uma atividade grupal. O fundamental na Biodanza é a expressão da identidade, e para Rolando Toro a identidade só é identidade se manifesta na presença do outro, diante do” tu”. Segundo Rolando, não é preciso amar a si primeiro para então amar ao próximo. Isso ocorre simultaneamente: enquanto amo ao próximo estou amando a mim mesmo. O amor a si mesmo e o amor ao próximo não são sucessivos, mas simultâneos”45. Os potenciais genéticos se manifestam pela ação dos ecofatores, ou estímulos do meio ambiente, que também podem inibi-los. A Biodanza age diretamente sobre a identidade proporcionando esses estímulos através da música que é especificamente direcionada a estimular a emoção, os ecofatores atuam sobre as cinco linhas de vivências e músicas que tem ressonância com nossa organicidade. A música em Biodanza tem o poder de deflagrar vivências integradoras e também proporcionar vivenciarmos o ritmo, o tônus, a fluidez, a harmonia e a capacidade de sentir, de forma integrada e vinculada aos critérios e significados temáticos das vivências. A dança não tem uma proposta na execução de movimentos e aprimoramento técnico como a da dança acadêmica, mas sim a abordagem de uma dança integradora, baseada nos gestos naturais. Sentir seu próprio movimento é abrir a porta para o sentido e o gosto que ele próprio traz, compreendendo relações com a integração sensitivo motora, entre o sentir, o pensar e o agir. Essa dança integradora oferece ecofatores positivos e deflagra as vivências, assim como a música, gerando a homeostasia das funções orgânicas, a regulação do sistema integrador adaptativo-límbico-hipotalâmico e elevando a alegria de viver. 44 TORO, 1999:5 – Apostila da Escola Biocêntrica Rolando Toro de Pelotas 45 TORO, 1999:5-6. Apostila da Escola Biocêntrica Rolando Toro de Pelotas
  • 46. 46 Outra potência para o sistema é o desenvolvimento de nossa capacidade de vinculação através da conexão afetiva entre as pessoas. Segundo Rolando, a vinculação proveniente da força afetiva permeia a identidade e tem poder curativo. O transe é justamente a passagem do estado de consciência intensificado de si, onde temos a forte presença do ego para um estado de consciência alterado e a diminuição do ego por um determinado período de tempo. Na Biodanza, a regressão permite o acesso a estados iniciais da vida, possibilitando uma renovação orgânica e uma reaprendizagem das primeiras experiências de vida. A expansão da consciência promovida pela Biodanza nos leva a estados de percepção ampliada que restabelecem o vínculo com o primordial, onde o indivíduo resgata uma percepção profunda de si como uma unidade ontocosmológica, gerando também uma mudança de humor. A partir dessas colocações teóricas e metodológicas básicas sobre a Biodanza podemos considerar que a vivência é seu elemento metodológico essencial, pois possui um valor intrínseco e um efeito imediato de integração, razão pela qual não é necessário que seja posteriormente analisada no nível da consciência46. A vivência, como núcleo ontológico do ser humano, é anterior à consciência e ao pensamento racional. É o elemento constitutivo da Identidade e do conhecimento. Na Biodanza a ontologia da vivência inclui a epistemologia da consciência. O grupo O homem como ser relacional, se desenvolve a partir do contato e interação com o outro. O grupo é, portanto, fundamental para que o processo de integração e transformação se dê, permitindo vivenciarmos novas formas de comunicação e vinculação pelo afeto e pela permissão a mudança. 46 TORO, Rolando A. Biodanza. Editora Olavobrás/EPB. São Paulo, 2005, p. 30
  • 47. 47 Segundo Rolando, “a presença do semelhante modifica o funcionamento das pessoas em seu nível orgânico e existencial, sendo o grupo em Biodanza a matriz de renascimento para a evolução dos processos.” E é nessa interação com o grupo que a pessoa será estimulada a deflagrar seus potenciais mais primitivos, em um ambiente que lhe inspire a confiança necessária, como poderemos constatar com a descrição da experiência prática detalhada no capítulo que vem a seguir.
  • 48. 48 CAPITULO 5 UMA EXPERIÊNCIA PRÁTICA Esta parte da monografia é o resultado da minha iniciativa na criação de um projeto social, que tinha como objetivo dar aula gratuitamente para pessoas que não teriam condições de arcar com o custo mensal de um grupo regular de Biodanza, e também iniciar um possível espaço de revezamento entre os novos facilitadores recém-saídos da escola, em seu processo de supervisão para se tornarem facilitadores de Biodanza. Esse projeto contou com o apoio decisivo da Escola de Biodanza do Rio de Janeiro e do facilitador Paulo Botelho, pela cessão gratuita do espaço para acolher esse novo grupo, como também das suas diretoras, Danielle Tavares e Andrea Zattar, que deram todo o suporte das supervisões que tornaram possível a realização de tal ideia. A essa ideia inicial, agregou-se a arrecadação de alimentos para contribuir com o trabalho social desenvolvido em uma comunidade carente do subúrbio do Rio de Janeiro, no bairro da Piedade, comandado por uma senhora que tem cerca de 80 anos, a Tia Edith, e cuida de 30 crianças em idade escolar e que vivem em situação de risco e vulnerabilidade social. Começamos assim a arrecadar alimentos no grupo e a entregar diretamente na casa de Tia Edith. Em novembro de 2015, juntamente com minha parceira e amiga Nazareth Malaphaia, iniciou-se o trabalho voluntário com grupo regular para adultos, acontecendo sempre na 6ª feira às 17:30h. Iniciamos o grupo com um número aproximado de 8 alunos novos e mais uns 5 alunos já praticantes de Biodanza, que vieram inicialmente para ajudar na formação do grupo. Há quase um ano e meio após o início do projeto, o grupo encontra-se com uma frequência média de 16 a 18 alunos por aula, permanecendo com alunos que estão presentes desde o primeiro encontro. Hoje, continuamos com a arrecadação de alimentos destinados à Tia Edith e com a contribuição espontânea por parte de alguns alunos que tem condições de arcar com algum custo mensal. O valor recolhido tem sido revertido para pagamento de despesas com a manutenção do espaço, assim como na compra de mantimentos.
  • 49. 49 Os objetivos com o grupo foram: 1. A integração motora 2. A integração afetivo motora 3. A vinculação afetiva 4. Expressão da identidade 5. O cuidado consigo, como outro e com o meio ambiente 6. A progressividade do grupo 7. A transmissão dos princípios biocêntricos Ao término das supervisões, o grupo se tornará um grupo regular, podendo acolher os seguintes públicos: 1. Pessoas que tem acesso a um trabalho como este e que podem arcar com um valor mensal. 2. Pessoas que tem acesso a um trabalho como este, mas que não podem pagar e irão contribuir com a doação de alimentos destinados a crianças em situação de maior fragilidade. Um pouco da história e evolução do projeto Constatou-se logo no início das aulas a comunicação afetiva que se instalou no grupo, assim como um aumento tanto na vitalidade como na sensibilidade dos alunos que passaram a compartilhar seus relatos de vivência. Também foi aceito com boa receptividade as celebrações e encontros após e fora do contexto da aula. Vimos surgir relações de amizade e cumplicidade, assim como o aumento da autoestima, proporcionada pelo acesso ao sistema Biodanza e seu potencial transformador nos processos de vida. Incluir Tia Edith ao projeto fez todo o diferencial para o estímulo e desenvolvimento do trabalho. A importância de chegar com biscoitos quando ela não tinha mais nenhum a dar as crianças na hora do lanche, só aumentava nossa dedicação ao trabalho e o reconhecimento da importância do desenvolvimento do potencial humano e afetivo estimulado pela Biodanza.
  • 50. 50 Vivenciamos a importância que tem para o início na facilitação de um grupo de Biodanza a experiência social para quem está começando. O quanto isso ajudou o nosso processo, pois antes de nos tornarmos facilitadores, vivenciamos o próprio processo através do sistema Biodanza e foi justamente o resgate do potencial afetivo que nos moveu a esse trabalho. Quando estamos conectados com a vida, podemos reconhecer claramente o contexto biocêntrico proposto por Rolando Toro, que através de seus estudos e modo de vida pode organizar e transmitir um sistema onde comprovadamente se torna possível a vivência da integração afetivo motora e do reconhecimento da sacralidade da vida. Sabemos que a dissociação afetiva que vivenciamos hoje, provém de nosso estilo de vida atual e que isso bloqueia a expressão de nossos potenciais humanos gerando baixa autoestima, violência e muitas das patologias tanto comportamentais como físicas. Resgatar nossa afetividade, nos permite resolver as questões da vida de forma amorosa. A Biodanza é, portanto, uma ferramenta essencial para a vida. Foi a vivência afetiva que nos orientou nesse projeto. Sabemos que em qualquer classe social encontramos questões relacionadas à carência do desenvolvimento e da manifestação do potencial afetivo, porém a diferença está no acesso e na oportunidade que as pessoas têm a um trabalho terapêutico e pedagógico como esse. Segundo SIMONI, em sua monografia de titulação em facilitador de Biodanza, “O afeto faz a diferença” um trabalho de ação social com Biodanza, “visa o estabelecimento de relações que valorizem a vida e as potencialidades de cada pessoa, de forma a contribuir para a construção de uma autoestima positiva e criar condições para que, aos poucos, possam desenvolver uma postura ativa para modificar seu contexto pessoal, de modo autônomo e criativo. Que no seu contexto social tenha uma postura ética na defesa de seus direitos.”47 Particularmente pude vivenciar toda essa transformação, quando me deparei com o lugar que ocupa um facilitador nesse contexto. Vi aos pouco meu 47 Monografia de André Luis Soares Simoni, Pág., 15 – Escola de Biodanza de Pelotas/RS - 2006
  • 51. 51 comprometimento na transmissão destas experiências, e o quanto são profundamente transformadoras na vida das pessoas. Vi surgir minha potência em dar toda minha presença, deixando-se revelar ali, entregue. É realmente um estado de graça poder mostrar novos caminhos, desenvolver a afetividade e vivenciar o amor, vendo o humano florescer em cada um.
  • 52. 52 DEPOIMENTOS DOS ALUNOS Rosangela Neves, 44 anos, Artesã Conheci a Biodanza através da minha professora de teatro, Mara Souto. Ela sugeriu que os alunos fizessem, pois ajudaria muito no teatro e principalmente na parte ocupação de espaço no palco. A primeira vez que fiz aula Biodanza senti algo diferente em mim...as músicas, as palavras das facilitadoras Nazaré e Simone, o ambiente, as pessoas e os movimentos, tudo isso me faziam chorar e ri sem que eu pudesse controlar, achei tudo aquilo incrível. Hoje já consigo perceber grandes mudanças na vida, agradeço a Biodanza, por essa nova forma de me colocar na vida. Me sinto como água do Rio, leve, forte e que flui nas diversidades dos percursos do Rio. Agradeço a todos por trazerem Notícias de mim. ❤ Marta Kuhner - 47 anos - professora Biodanza foi um presente. Entrou em minha vida sem eu nem saber o que era, num momento em que eu estava paralisada, fechada para tudo e todos. E foi avassalador. Pegou-me de surpresa, sem receios ou reservas. A cada aula, a música, os movimentos, o grupo, as palavras das minhas facilitadoras Simone e Nazareth, trazem-me reflexões dos meus sentimentos. Mostram-me novas possíveis atitudes a tomar. Trazem-me harmonia e paz. Força e aceitação. Amor. Presente esse inesgotável, rico e precioso. Gratidão! Eliane Wasinger Lustosa Brasil, 61 anos, Psicóloga, webdesigner e divulgadora cultural. Vejo a biodanza como um processo terapêutico leve, não traumático, mas bastante efetivo. Um processo motivador, que desenvolve a afetividade, a confiança, a colaboração e interação dos participantes, o autodesenvolvimento, viajando pelo sentir-se, tocar-se e expressar os próprios sentimentos. Sinto-me muito bem no grupo e percebo um crescimento de todos em geral. Uma predisposição para participarmos inteiros e acredito que isto é que gerou um caminhar gradativo para uma boa coesão do grupo. Lizandro Crus Chagas, 40 anos, Professor, motorista, blogueiro e youtuber Muitas foram as mudanças que a Biodanza gerou em mim. Algumas mais visíveis aos olhos externos, outras mais internas e talvez mais sutis para quem vê, mas muitos repararam que estou diferente. Mas claro, o mais importante - eu percebi e me sinto melhor por isso. Aprendi a me relacionar melhor com as pessoas; menos sexualidade e mais afetividade; menos dispêndio de energia com maximização de intensidade; mais leveza na adversidade; passei a medir melhor minhas recepções e assim estabelecer melhores reações emocionais e racionais; aprendi a estabelecer e cultivar laços melhores comigo mesmo e com os outros; passei a sentir mais do que reagir; passei a amar mais do que cobrar. Creio que nesse um ano e pouco de práticas e vivências, minha evolução enquanto pessoa foi mais rápida, prática e real do que os anteriores trinta e nove anos de vida. Antes era mais experiência pela prática, agora é mais prática para experiência
  • 53. 53 Gisele Lacorte, 39 anos, psicóloga, consteladora familiar, terapeuta em massagem biodinâmica e análise Psico-orgânica A biodanza entrou na minha vida como um presente! Em um momento de profundas reflexões e bastante desafiador, me serviu como uma grande aliada para perceber novas formas de lidar com as mesmas questões. Minha primeira aula foi sobre afeto e logo pude perceber a força desta atividade, logo nos primeiros momentos me conectei com a minha afetividade e pude extravasar sentimentos que estavam presos há tempos. A Biodanza me ensinou que o processo de cura pode ser leve, alegre, afetivo e cuidadoso. Que potencializar as virtudes em vez de remoer as doenças, traz benefícios muito rápidos. Em muito pouco tempo me senti mais leve, aberta, afetiva, flexível e com maior capacidade para fluir pelos desafios e enfrentá-los com leveza e criatividade. Carla Lopes Abdalla, 55 anos, Chefe de Cozinha. Conheci a Biodanza lendo sobre ela. Por um acaso da vida, me esbarrei com a facilitadora Simone e por convite dela comecei a fazer a aula. Vejo a Biodanza trabalhando minha "energia vital", e todos os meus chacras. Junto com a música todos os movimentos feitos se tornam mais lúdicos e harmoniosos. Hoje eu percebo muito mais o meu corpo, me sinto mais flexível, afetiva, e cada vez mais alguns outros sentidos de mudanças vão surgindo no decorrer de cada aula, tais sentidos que me coloca num lugar de total crescimento. Obrigada facilitadoras Nazaré e Simone. Cecília Barge Teixeira, 44 anos, Contadora. Biodanza, não sabia nada sobre ela. Por um convite entrei no grupo. Em uma das primeiras aulas, ouvi a frase: "Caminhar para frente é essencial para nossa existência." Acredito muito nisto, pé firme em nosso caminhar, sem medos, que seja seguro para alcançar nossos objetivos de vida. Música, movimento, harmonia, leveza, firmeza, mudança, alegria e principalmente conhecimento de si. Agradeço as facilitadoras e ao grupo pelo acolhimento e em poder participar deste crescimento. Karin Kuhner - 53 anos -Administradora de Empresa. Não conhecia nada sobre Biodanza. Fui convidada por uma amiga, para uma aula aberta na Praia do Arpoador em uma noite de luar. Achei incrível aquele encontro de pura alegria. Fiquei curiosa. Foi aí que comecei a fazer aula no grupo das facilitadoras Simone e Nazareth. Desde a primeira aula, já tive aquela sensação de acolhimento por parte de todos. A Biodanza me fez refletir sobre minhas expectativas em relação aos outros e a aceitar que cada um oferece o que pode. Hoje me sinto mais leve, aberta e com muita vitalidade. Cada encontro um novo conhecimento, uma nova reflexão, tudo isso com movimentos e dança. Um crescimento. Só tenho a agradecer pelo carinho de todos. Pedro Brandão Depois de passados os dias da semana, com todas as experiências boas e más, nada como deixá-las no passado... para tanto, o Sina é um bom recurso, em que sinto tudo da vida fluir...
  • 54. 54 Katia Regina S. dos Santos, Secretária, 48 anos Conheci a Biodanza há 5 anos, mas nunca tive vontade de participar. Não entendia a dinâmica e achava tudo muito estranho... Mas, há quase um ano, fui incentivada por duas amigas a conhecer verdadeiramente, uma delas foi a facilitadora Simone Nobre, por quem tenho muita gratidão. Na 1. Aula fiquei impressionada com o que senti, foi algo libertador! E assim tem sido esses nove meses, em que a Biodanza passou a fazer parte da minha vida, como um grande presente. São muitas as transformações em meu interior. As vivências me tocam tão profundamente, que posso dizer que muitas vezes entro em estado de êxtase. Sinto-me renovada, mais segura, menos tímida e com melhor autoestima. Estou aprendendo a lidar com os fatos da vida com mais tranquilidade e maturidade emocional. Hoje me aceito muito mais, respeito minhas emoções, meus limites e não tenho vergonha de expor meus sentimentos. Tenho aprendido a lidar com o outro, entendendo e respeitando seus limites e maneira de ser. A Biodanza tem me ensinado que não preciso ser forte o tempo todo, e nem dar conta de tudo sozinha. Eu preciso ter leveza, deixar fluir... E toda essa "reviravolta" no meu interior, tem sido notada positivamente pelas pessoas. E eu respondo: Graças a Biodanza. Hoje eu não ando, eu caminho pelo mundo de peito aberto, com um sorriso no rosto e mais feliz. Minha gratidão as facilitadoras Simone e Nazareth, por me conduzirem a este caminhar com mais naturalidade e leveza. E a este grupo maravilhoso que também é parte importante na minha transformação. Mariana Moraes, 35 anos, Assistente de Comunicação Como todos sabem faço Biodanza a muitos anos e foi através dela que mudei a minha vida. Resolvi entrar neste grupo pela proposta da ação social, por entender que o mundo precisa de Biodanza. Depois que entrei nesse grupo descobri qual é o meu valor, que eu sou capaz. Obrigada Naza e Si pela oportunidade de estar junto com vocês nesse projeto. Julia Rodrigues Medeiros, 36 anos, psicóloga, facilitadora de Biodanza com especialização em crianças, arte terapeuta, pós-graduanda em educação musical Eu conheço a Biodanza faz muito tempo e encontrei e reencontrei com ela em muitos momentos da minha vida. As mudanças foram inúmeras: poder confiar mais em mim mesma e no outro, poder sentir segurança nas minhas potencialidades, amar, me impor no mundo sem tanta timidez e mais amorosidade, amar (é muito amor)! Deixar fluir a espontaneidade. Eu fiquei um bom tempo afastada da Biodanza... Desde que minha filha nasceu (quatro anos) eu parei para ficar mais tempo com ela. No meio do ano passado minha vida deu uma reviravolta e eu senti que tinha de voltar a frequentar as aulas. Conversei com a Si e ela me convidou para conhecer o
  • 55. 55 grupo. No primeiro dia já me senti acolhida... senti uma paz, uma vontade de sair caminhando pelo mundo sendo eu mesma novamente... ter a possibilidade de sair da paralisação e me entregar, caminhar, voar...tenho enorme gratidão por ter sido tão bem acolhida por Nazaré e Simone, que facilitam com tanta potência e leveza. Tenho enorme gratidão ao grupo por ter me acolhido de braços abertos com tanto afeto... Muito bom poder me sentir "junto e misturado " com algo que acredito ser maior e tão bonito... amo vocês! ❤ Selemir Gomes Coelho, 61 anos, empresário. Relutei um pouco mas decidi também dar o meu depoimento. A minha história com a biodança é muito antiga. Ainda não se escrevia com z. As transformações em minha vida foram inúmeras em cada um dos grupos pelos quais tive a oportunidade de passar. E estão hoje impregnadas na minha vida. Mas estar nesse grupo criado como um projeto social, inicialmente, tinha algo de especial, pois eu vivo com uma das facilitadoras. E assim me lancei ao desafio de estar ali com um grupo iniciante, com o coração e a alma entregues para toda a sorte de experiências e elas foram acontecendo a cada encontro, com muita emoção de presenciar o crescimento de cada um dos companheiros, e a minha própria vivência de compartilhar todos os processos que foram acontecendo. Não como não emocionar com a força dessas transformações em todos, criando um ambiente de grande cumplicidade e amor, que auxilia no processo de crescimento individual. Que bom estar junto de vocês e participar da história de cada de um modo tão positivo. Nora Fortunato A biodanza amplia meu contato comigo mesma. Na correria em que vivo, escutar meu ritmo interno e também poder acessar a minha própria história de vida é ter acesso a trilhas que, pelas experiências, estavam impedidas. Mesmo em terapia não acedi a pessoas tão importantes para mim como minha avó (maior amor de minha vida). A biodanza me ajuda muito nesse sentido Também estou tendo a oportunidade riquíssima de fazer biodanza com meu namorado, e vejo claramente a importância da biodanza para nossa relação. Talvez eu ainda esteja um pouco embrutecida em relação a minha feminilidade, já que sou uma ariana mãe solteira. Quero dizer, a afabilidade, o caminho do meio, a flexibilidade, e principalmente o retorno são universos intrínsecos ao processo individual que tenho na biodanza. A biodanza também agrega e me diz que, estando em grupo, eu posso ter confiança em cada um que lá está. Chego aturdida e saio esclarecida! Principalmente com muita energia e vitalidade. Acho que a biodanza é riquíssima em vários aspectos porque ela valida o que é ser literalmente humano, no melhor sentido da palavra! Daniela Rodríguez Noronha, 47 anos, fisioterapeuta Estou a pouco tempo na Biodanza. Mas, me sinto mais atenta, o olhar mudou, o equilíbrio (físico) melhorou. Sentir sem julgar...ainda estou aprendendo. Ouvi na aula: primeiro a gente sente e depois realiza. Estou aprendendo a sentir e me relacionar com o outro, nem sabia que tinha tanta dificuldade. Por gostar de gente, acreditava que fluía bem no relacionar-se. Relacionar-me, me abrir para o outro e ter esta confiança percebi ser difícil na Biodanza. Perceber-me e perceber o outro e saber que posso confiar (dentro da Biodanza). Fui muito bem recebida pelo grupo Rosangela me convidou para conhecer a Biodanza, e fui. Entrei em contato com meus sentimentos e estar me relacionando com as pessoas, pude trabalhar a confiança e ir
  • 56. 56 descobrindo sentimentos que nem sabia que tinha. Sinto-me leve e desnuda, alegre e voo com os movimentos e melhorei o meu equilíbrio corporal. Biodanza me tira da dor e me leva atenção à dor, faz os joelhos cederem à emoção. A aula é emoção, tanto emoção, quanto inteligência, sem emoção não há nada. Não é questão de entender e de ouvir, mas acordar em tempo de captar que lhe convém o corpo e a alma. A unidade do grupo e a confiança em todos, muito grata a Rosângela ter me apresentado a Biodanza. Gratidão à Simone, Nazareth e a todos do grupo. Masako Tanaka (Mako), percussionista Olá eu vou falar aqui uma mensagem falando da minha história com a biodanza. Eu sou a Mako, japonesa, mas 15 anos morando no Brasil, quase 16 anos, caramba. Eu conheci a biodanza através de um amigo meu, que falava tanto da biodanza, que eu fiquei curiosa, porque eu dançava na época da adolescência, comecei a dançar jazz, comecei a estudar balé e desde criança também eu fazia aula de balé, parei um pouquinho depois, e a partir de 15 anos comecei a fazer aula de jazz até uns trinta e poucos anos, ou seja, mais de15 anos eu dançava na minha vida, pois eu amo dançar. Só que quando eu cheguei no Brasil, meu objetivo que era tocar música e conhecer a música brasileira, parei de dançar totalmente e esses anos pra cá realmente eu fiquei com muita saudade de dançar. Então, eu queria experimentar quando abriu essa turma da ação social esse amigo meu me avisou e eu cheguei na primeira aula sem expectativa nenhuma, e comecei a fazer aula, mas na primeira aula já eu fiquei impressionada, porque o movimento, eu não me lembro exatamente o que era, eu acho que um encontro, se não me engano: as pessoas andam olhando para as outras pessoas com um sorriso bonito e eu reparei: Caramba, qualquer pessoa seja como for, qualquer humano se viver com esse sorriso lindo todo mundo ficaria feliz. E nada de explicar e nada de falar, só um sorriso, passa uma felicidade para outras pessoas, que abre mais a nossa vida feliz, que eu percebi. Realmente eu fiquei impressionada, fiquei emocionada, fiquei realmente e quis continuar fazendo aula da biodança. Primeira coisa, eu vou parar aqui, tá. A terceira coisa, a última coisa que eu gostaria de deixar aqui, é que o trabalho de biodança é sempre um coletivo, a gente trabalha coletivamente, e na aula passada a realmente eu estava muito sensível e como eu estou aqui sem família, sozinha, moro sozinha também, de vez em quando eu fico e me sinto muito solitária, trabalho com a música e nessa biodanza no Brasil a maioria das vezes que a gente usa, sei lá 80%, a gente usa a música brasileira. Eu amo a música brasileira e desde que eu comecei a ouvir, pela primeira vez que ouvi, sem saber o que falava, o que queria dizer, sem entender queria dizer eu amava a música brasileira. Acho que com o ritmo ou com o português que é mais melódico. Então a gente usa a música brasileira o que me faz muito feliz, e que percebi: eu que trabalho com a música brasileira, porque fiquei apaixonada pela música brasileira, eu vivo aqui no Brasil, conhecendo e sempre querendo conquistar, como posso expressar, sendo uma japonesa cantando e tocando a música brasileira, isso é o meu objetivo e minha vida agora. Fazendo aula de biodanza claro que vai acrescentar mais do que eu preciso aprender também, como eu posso interpretar comigo cantando, tocando esse sentimento, como que eu posso
  • 57. 57 passar para as outras pessoas, deixando esse sentimento pra fora. E percebi que está ajudando muito. Isso que está fazendo mudanças na minha vida, e é o que eu acho importante falar com vocês. Gostaria de falar a última coisa: como a biodanza trabalha coletivamente, é um trabalho coletivo, e eu vivo aqui no Brasil sem família, sem parentes, porque eu não sou descendente de japoneses, eu sou a primeira geração no Brasil. Então de vez em quando eu me sinto muito só, eu tenho muitos amigos, mas é humano, qualquer humano nesse mundo está muito esquisito, só usa internet, ninguém liga, telefone não toca, ninguém toca a campainha, não chega os correios Então de vez em quando eu aprofundo muito, evito, mas não tem como evitar. Eu enfrento muita solidão que é muito horrorosa, e fazendo essa aula todo mundo junto, reunido, mesmo a pessoa, começo a sentir realmente como uma família, que eu realmente preciso. Eu preciso sentir que estou com eles, estou com vocês, também deixa-me livre, posso expressar o que estou sentindo sem vergonha, porque a gente dança por si mesmo, comigo mesmo, semana passada eu expressei a solidão que eu estava sentindo, eu até estou chorando, e realmente percebi a importância de estar na aula e fazer a aula da biodanza e posso expressar o que eu sinto, posso movimentar como eu sinto, e por isso eu realmente estou sentido a importância da biodanza na minha vida. Obrigada, eu vou chegar na aula.