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Sistema Rolando Toro
International Biocentric Foundation
Associação Escola de Biodanza
Rolando Toro do Rio de Janeiro
DE FRENTE PARA VIDA
Uma experiência em Biodanza
com adolescentes
Irene Guida Fagim
Véra Lúcia Botelho Demétrio
Monografia apresentada à Associação
Escola de Biodanza Rolando Toro do
Rio de Janeiro como requisito parcial
para obtenção do título de facilitador de
Biodanza
Orientador :
Antonio José Sarpe
International Biocentric Foundation
Reg. SP n.º 8515
Monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro
do Rio de Janeiro, e aprovada pela comissão julgadora, formada pelos
didatas:
_______________________________
Antonio José Sarpe
Orientador
International Biocentric Foundation
Reg. SP n.º 8515
______________________________
Gladys Trindade de Araújo
Facilitadora Didata
International Biocentric Foundation
Reg. RJ n.º 9719
______________________________
Verônica Swalf
Facilitadora Didata
International Biocentric Foundation
Reg.RJ nº9406
Visto e permitido a impressão
Rio de Janeiro,25 de fevereiro de 2005
_____________________________
Antonio José Sarpe
Diretor da Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de
Janeiro
International Biocentric Foundation
Reg. SP n.º 8515
ADOLESCENTE
O desabrochar da adolescência, à semelhança
do que ocorre com o botão de rosa que se abre ante
a carícia do Sol, desvela-lhe a intimidade que se
encontra adormecida, e desperta, suavemente,
aspirando a vida, exteriorizando aroma e oferecendo
pólen para a fertilização e ressurgimento em novas e
maravilhosas expressões.
JOANNA DE ÂNGELIS
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho a todos
os adolescentes, pela sua irreverência
criadora, potencialmente capaz de mudar
o rumo da história e de transformar o
mundo num lugar melhor e mais alegre
para se viver.
AGRADECIMENTOS
Aos nossos pais, que nos deram o mais importante: a VIDA; sem a
qual nada existiria.
Ao meu companheiro e amigo, Fagim, quem me indicou e estimulou
carinhosamente nos primeiros passos do caminho da Biodanza.
Aos nossos filhos Maíra, Fernanda, Rodrigo e Juliana que nos
facilitam com afeto, incentivo, compreensão e exemplos.
Ao meu irmão, Paulo César e minha amiga Licia, pelo incentivo e por
terem visto em mim um brilho que, mesmo eu, já julgava extinto.
A Antonio Sarpe, amigo especial, que marcou com sua presença e
incansável qualificação o nosso trabalho e a nós mesmas.
A Rolando Toro, pela sua criação, que possibilita à humanidade uma
melhor qualidade de vida, resgatando o prazer e a alegria de viver.
Aos nossos amigos e facilitadores Paulo e Licia, que, com seu
estímulo, determinação e proteção incansáveis, nos facilitaram teórica,
prática, vivencial e afetivamente.
À minha primeira facilitadora Maria Adela, pela presença firme e
afetuosa com que me conduziu no início da Biodanza.
Ao meu primeiro facilitador, Alberto Tavares (in memoriam), quem
me apresentou à Biodanza, abrindo as portas a uma nova forma de ver a
vida.
À SMS / UIS Hamilton Land, pela oportunidade e confiança que nos
foi creditada.
À Gladys, pela sua atenção e disponibilidade em nos transmitir, com
muito afeto, seu conhecimento.
Aos nossos alunos pela confiança, troca de afeto e aprendizagem e
pela grande oportunidade de reacender em nós a fé na humanidade.
Aos nossos amigos, que participaram conosco, na Escola de
Formação e nos grupos regulares.
APRESENTAÇÃO
Nossa larga experiência e convívio com o
adolescente em nossos diferentes campos profissionais e as diversas e
longas conversas que tivemos a respeito deles, nos mostraram as
coincidências das dificuldades em seus aspectos emocional, intelectual,
orgânico e social, tanto na saúde quanto na educação.
Esta constatação, aliada à consolidação de uma grande
amizade, nos levou à idéia de unirmos nossas forças e esperanças à
Biodanza e direciona-las em auxílio do adolescente. A difícil relação
familiar, em alguns casos ausente, a repressão cultural e as mudanças
pessoais provocam nos adolescentes conflitos relacionais identificados
nas escolas e a sucessão desses conflitos provoca conseqüências
orgânicas, detectadas nos consultórios médicas.
Para um melhor entendimento deste estudo, está o mesmo
dividido em quatro capítulos.
O Capitulo I trata do desenvolvimento do adolescente, em
seus aspectos físico, emocional e social.
O Capitulo II cuida das características do adolescente e a
autopercepção a partir do questionamento: o que é ser adolescente, como
eu me vejo, o que eu quero para mim.
No Capitulo III explica-se a aplicação da Biodanza, como
instrumento de facilitação da integração bio-psicossocial do adolescente.
No Capitulo IV explica-se a metodologia utilizada na
organização e na dinâmica do grupo foco deste estudo, bem como os
resultados obtidos.
A conclusão refere-se ao que se observou junto aos
adolescentes, em termos de desempenho afetivo, educacional e
profissional.
RESUMO
O estudo objetivou a integração da identidade do
adolescente com suas mudanças a nível corporal, emocional, psicológica
e social.
Quanto aos fins da metodologia, esta foi de caráter
explicativo, buscando-se justificar os motivos da pulsação comuns na fase
da adolescência em que o jovem, a nível existencial, ora está seguro, ora
inseguro.
Quanto aos meios buscou-se o estudo sistematizado, tendo
como referenciais cientistas sociais, médicos, psicólogos, filósofos,
procedimento tal que ajudou a atingir o fim para o qual a pesquisa se
propôs. A investigação documental foi feita utilizando-se prontuários
médicos, aos quais teve acesso uma das autoras deste estudo, por ser
credenciada como médica.
Ainda nesse contexto é relevante a contribuição dos alunos,
através de seus depoimentos e ainda das anotações da presente
pesquisa.
As observações e reflexões sobre o efeito da Biodanza
como instrumento de ação profilática, integrando a educação e a saúde
levaram a conclusão da inevitável integração entre saúde e educação.
ABSTRACT
The research has objectified the teenagers’ identity
integration with his/ her changes concerning physical, emotional,
psycological and social.
Talking about methodology, this was an explanatory
character, trying to justify the common pulsation reasons at the teens
phase when the young, in an existential level, first he/she is absolutely
sure, then he/she feels totally insecure.
Talking about means, it has searched for the systematize
study, having social scientists, physicians, psychologists and philosophers
as reference. This procedure helped to reach the aim that this research
has set. The documental investigation was done utilizing medical notes,
which one of the researchers had access as she is qualified as a doctor.
Up to this context, it is relevant the students’ contribution
through their statements and notes on this research.
The observations and reflexions about the Biodance effect as
a tool of profilatic action, making up education and health, took the
conclusion of the inevitable health and education integration.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO – o problema............................................................1
Objetivo.............................................................................................3
Delimitação do estudo......................................................................3
Relevância do estudo.......................................................................3
Definição dos termos........................................................................4
CAPITULO I
Desenvolvimento do adolescente..............................................5 / 13
CAPITULO II
Características do adolescente................................................14 / 20
CAPITULO III
Princípio Biocêntrico.......................................................................21
Educação Biocêntrica.....................................................................23
Biodanza – Ação mediadora...................................................24 / 40
CAPITULO IV
Metodologia....................................................................................41
Organização e formação do grupo.................................................42
Dinâmica do grupo...................................................................43 / 50
Resultados obtidos.........................................................................50
Depoimentos............................................................................51 / 55
CONCLUSÃO.................................................................................56
BIBLIOGRAFIA...............................................................................58
ANEXOS:
I – Visão do adolescente sobre si mesmo
II – Questionário
III – Fotos
INTRODUÇÃO
Ao longo de nossa formação em Biodanza, um ponto em
comum nos atraiu e convidou cada vez mais a nos aproximarmos – O
ADOLESCENTE. Essa pessoa tão cheia de dúvidas e certezas, que
passa por mudanças extremamente abrangentes, tanto a nível físico
quanto a nível emocional e social. Essa pessoa que clama com
veemência por respostas a perguntas que ainda não ousou formular, e
que ao mesmo tempo é capaz de ensinar tantas verdades que poderiam
provocar uma reviravolta no processo civilizatório, caso não fossem
sufocadas por esse mesmo processo.
Uma boa parte dos problemas dos adolescentes decorre de uma
saudável tentativa de adaptação a uma sociedade complexa e repleta de
incongruências.
Com sua natural inclinação para a saúde, os jovens insistem na
reciclagem de certos tópicos até que cheguem a solucionar os pontos
insatisfatórios. Insistem também em variar os seus temas até que tenham
alargado a sua experiência a um nível satisfatório, explorando os limites
de sua capacidade.
Pelo fato de trabalharmos com comunidades que dispõem
de uma gama menor de possibilidades para o seu crescimento, pudemos
detectar um número muito grande de dificuldades na esfera da educação
com conseqüências inevitáveis na saúde e vice versa.
A grande procura de atendimento nos ambulatórios do
serviço de saúde pública é de adolescentes de classes menos
favorecidas, que além das dificuldades sócio–econômicas apresentam
distúrbios no crescimento e desenvolvimento, comprometimento da
dinâmica familiar decorrente de uma “miséria afetiva”, o uso de drogas
como busca de prazer e fuga da realidade, a gravidez precoce como falta
de perspectiva de vida, compensação de insatisfações e tristezas e uma
busca “mágica” de um objeto de amor, as DST (doenças sexualmente
transmissíveis) como forma de desproteção, baixa auto estima e
desvalorização da vida.
Por outro lado, um sem número de adolescentes é
encaminhado aos serviços de saúde pública a fim de sanar dificuldades
detectadas nas escolas como distúrbios na aprendizagem, decorrentes de
carências alimentares, afetivas e emocionais, transtornos
comportamentais (agressividade, intolerância, destrutividade) como
conseqüência da falta de valorização pessoal, distorções de valores
humanos como o uso da força para atingir seus “objetivos”, resultado de
um contexto existencial sofrido e de uma realidade social onde impera a
“lei do mais forte”.
Toda essa consonância de sentimentos e pensamentos nos
motivou a optar pelo trabalho na esfera social, que é sem dúvida alguma
de uma enorme gratificação, por outro lado tivemos a possibilidade de
repensar o nosso lugar no mundo, tanto pessoal como profissionalmente.
Escolhemos a Unidade Integrada de Saúde Hamilton Land,
para fazer a união entre a saúde e a educação, pois é o local de atuação
da Dr. ª Irene com adolescentes, ha longo tempo e é também uma
unidade Municipal, o que possibilita a presença da Profª. Véra (que atua
na rede Municipal de Educação),
Desta união resultou o crescimento do adolescente, através
de uma maior integração e da recuperação de sua saúde mediante a
retomada da sacralidade da vida, o que mais uma vez confirma que o
Sistema Biodanza é interdisciplinar e está centrado na identidade.
Daí por que julgamos oportuna, a formulação da seguinte
pergunta:
- Até que ponto a Biodanza pode facilitar o
processo de mudança biopsicossocial do adolescente?
A resposta a tal pergunta está delineada no desenvolvimento
deste trabalho.
Objetivo
Integrar a identidade do adolescente com suas mudanças a
nível corporal, emocional, psicológica e social, ampliando seus horizontes,
aumentando as suas possibilidades de escolha e favorecendo o seu
prazer de viver.
Delimitação do estudo
Considerando o universo da adolescência, e as iniciativas
sociais já direcionadas ao seu desenvolvimento, o estudo toma como
referência, um grupo de adolescentes da Cidade de Deus, bairro da Zona
Oeste do Estado do Rio de Janeiro, na faixa etária de 12 a 17 anos, que
freqüenta o ambulatório de atendimento clínico e grupos educativos-
informativos, da Unidade Integrada de Saúde Hamilton Land, desde abril
de 2003, até a presente data.
Relevância do estudo
É na adolescência, mais do que em qualquer outra época,
que o indivíduo se coloca questões existenciais.
A formação da identidade é a principal tarefa do
adolescente, mesmo que de forma inconsciente, uma vez que ele não se
apercebe da mesma. Adquirir um forte senso de individualidade perceber-
se diferente e de certa forma, independente dos demais. Sendo o
movimento expressivo, uma manifestação profunda da identidade, a
Biodanza pode ser o instrumento apropriado para induzir modificações
positivas no adolescente.
Na aventura de conectar com a sua própria identidade, o
adolescente pode eleger caminhos que o põe em risco como: a droga, a
delinqüência, a gravidez precoce, a prostituição, a desocupação, entre
outros.
Considerando que a Biodanza atua contra toda forma de
alienação do ser humano, é de relevância, um estudo que venha reeducar
afetivamente os adolescentes e estimular sua capacidade criadora,
abrindo assim novos horizontes para a escolha de uma vida mais plena.
Definição de termos
Alquimia – a química da idade média e da renascença, que procurava,
sobretudo, descobrir a pedra filosofal, fórmula secreta para
transformar os metais em ouro.
Antropocêntrico – que considera o homem como centro ou a medida do
Universo. que concebe o Universo em termos de experiência ou
valores humanos.
Atenção primária – atendimento de atividades básicas (a nível
ambulatorial
Cenestesia – sentimento difuso resultante de um conjunto de sensações
internas ou orgânicas.
Feed back – retorno de informação, propiciando um diálogo.
Filogênese – é a história evolucionária da espécie.
Menarca – primeira menstruação.
Ontogenia – é o desenvolvimento individual do ser vivo.
Puberdade – conjunto das transformações psicofisiológicas ligadas à
maturação sexual que traduzem a passagem progressiva da infância
à adolescência.
Semenarca – primeira ejaculação.
CAPÌTULO I
Desenvolvimento do Adolescente
A adolescência tem sido definida como um período de
transição entre a infância e a vida adulta. Este período é marcado por um
importante crescimento e desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, moral
e social. O rápido e intenso crescimento físico, que caracteriza o estirão
da puberdade, num certo sentido, é análogo ao processo de modificações
psicossociais.
A adolescência é a vida que pulsa, energia explícita,
revelação da intensidade do ser. Esta fase busca sua inserção no mundo,
num tempo presente, fazendo com que cada gesto, pensamento e ação
sejam revelados no aqui e agora.
A adolescência é um estágio especifico e necessário de
desenvolvimento psicossocial, tão importante quanto a primeira infância.
Conflitos psicoafetivos da infância podem ser superados nesta fase com
mais facilidade do que na vida adulta. Outrossim, os conflitos não
resolvidos durante a adolescência podem se perpetuar no
comportamento, marcando toda a vida do indivíduo.
Desenvolvimento físico e mudanças do esquema corporal
A puberdade inaugura biologicamente a adolescência. O
desenvolvimento dos caracteres sexuais primários e secundários e o
notável crescimento somático pressagiam o destino do corpo infantil em
sua inevitável metamorfose.
Paralelamente ao aumento das gonadotrofinas, dos
esteróides sexuais e do hormônio de crescimento, ocorre neste período o
crescimento de todos os órgãos, num rápido aumento de tamanho e dos
segmentos corporais, marcando uma característica universal da
adolescência, onde 50% do peso e 20 % da estatura definitiva são nesta
fase.
Os primeiros fenômenos físicos da puberdade (como o
aparecimento dos caracteres sexuais secundários) têm seu início
somente algum tempo após ocorrerem às primeiras modificações
hormonais. Estas modificações dizem respeito ao eixo Ht-Hf-Gn e seus
respectivos hormônios.
Sendo preciso que este eixo passe por um longo caminho de
maturação, antes que a secreção dos hormônios sexuais pelas gônadas
estimuladas atinja o nível critico capaz de produzir, nos órgãos, mudanças
que representarão os primeiros fenômenos físicos da puberdade.
O funcionamento do eixo Ht-Hf-Gn não é fenômeno novo,
que se inicia na puberdade, mas um processo que está em atividade
desde a vida fetal do indivíduo. Mantido em níveis baixos de
funcionamento durante a infância, ele é apenas reativado na puberdade.
A secreção dos hormônios do eixo Ht-Hf-Gn não ocorre de maneira
continua, mas é liberada "em ondas", ou picos, a pequenos intervalos de
tempo, sendo por isso chamada de secreção pulsátil.
O mecanismo endócrino do crescimento é comandado pelo
hipotálamo, na base do cérebro, de cujo córtex recebe os estímulos para
produzir os fatores liberadores do hormônio do crescimento (HC). O HC é
sintetizado na glândula hipófise, intimamente ligada ao hipotálamo.
Na adolescência (10 aos 20 anos), ocorre a puberdade,
período de crescimento físico importante (com típicas aceleração e
desaceleração do crescimento), maturação sexual (desenvolvimento de
caracteres sexuais) e outras mudanças corporais.
No sexo feminino o primeiro sinal de puberdade é o broto
mamário, seguido do desenvolvimento de pêlos pubianos. A menarca (1ª
menstruação) deve ocorrer aproximadamente dois anos após o início do
desenvolvimento puberal, geralmente em torno dos doze e meio anos de
idade. A idade da menarca está relacionada a fatores genéticos (menarca
da mãe e maturação sexual) e a fatores ambientais (estado nutricional e
estimulação ambiental).
No sexo masculino o desenvolvimento sexual é mais tardio,
iniciando com o aumento do volume testicular, aos 13 ou 14 anos e
aparecimento de pêlos pubianos. Concomitantemente ou logo a seguir
ocorre o aumento do pênis em tamanho e espessura, culminando na
maturação sexual completa com a semenarca (1ª ejaculação) em torno
dos 15 anos de idade.
Fatores que influenciam a puberdade
As diversas características da puberdade de cada indivíduo
retratam a interação da sua herança genética com as influencias
exercidas pelo ambiente. Não só o "plano genético" de cada um é
diferente, mas também a suscetibilidade individual às influencias
ambientais é muito variável: indivíduos submetidos a uma mesma
privação podem mostrar graus muito diferentes de comprometimento
(Marshall, 1977), o que pode ser perfeitamente compreendido pela clara
percepção de que a identidade de cada um é singular e única.
Na prática, freqüentemente torna-se difícil isolar a influencia
dos determinantes genéticos da dos ambientais, e mais difícil ainda
analisar a influencia especifica de inúmeros fatores ambientais diferentes,
tais como nível socioeconômico, nutrição, características psicossociais,
etc., pois eles interagem entre si de maneira complexa e variável.
Fatores genéticos
A força do determinismo genético é de conhecimento geral.
Um indivíduo ao nascer, já vem com seu potencial genético altamente
diferenciado. Em condições ambientais favoráveis, o potencial genético
pode se expressar com maior facilidade, mas em condições mínimas
encontra maior dificuldade.
Os potenciais genéticos no adolescente estão em
desenvolvimento, esperando por cofatores e ecofatores que facilitam sua
realização a favor da saúde, da integridade e da eficiência. Como nos diz
Rolando Toro, “eles se manifestam através das estruturas funcionais dos
instintos, vivências, emoções e sentimentos.”
Fatores étnicos e raciais
Indivíduos de diferentes povos e raças podem apresentar
diferenças na configuração corpórea
Acredita-se que fatores ambientais (como estado nutricional
e o nível socioeconômico), assim como as heranças genéticas familiares,
exerçam influencia decisiva no padrão de crescimento e desenvolvimento
do adolescente.
Estado nutricional
A nutrição e a estimulação biopsicossocial adequada são
requisitos muito importantes para a realização plena do "plano genético",
interferindo diretamente no crescimento e desenvolvimento do
adolescente.
Nível sócio-econômico
A qualidade de vida de um adolescente depende em grande
parte da renda familiar, sendo esta um ecofator que influencia, em menor
ou maior grau, o crescimento e desenvolvimento do adolescente.
Doenças
Doenças crônicas ou recorrentes podem inibir crescimento e
retardar a puberdade.
Fatores psicossociais
Dentro da estimulação biopsicossocial, podemos destacar a
importância da dinâmica familiar para o crescimento físico e
desenvolvimento psico-afetivo e intelectual do adolescente.
Desenvolvimento cognitivo
A exemplo do estirão puberal, a adolescência é marcada
pelo "estirão cognitivo", um conjunto de importantes transformações
quantitativas e qualitativas da estrutura do pensamento, que modificam
sensivelmente a representação que o adolescente faz de si e do mundo.
Assim como o processo puberal repercute intensamente na vida
psicossocial e requer uma reelaboração da imagem corporal, também as
modificações cognitivas se refletem profundamente na emotividade do
adolescente, exigindo sua adaptação ao novo modo de pensar.
Desenvolvimento emocional
O ser humano nasce extremamente frágil. Durante os
primeiros anos de vida vai, gradativamente, organizando suas impressões
no mundo, em conformidade com as referências que o cercam. Sua
organização dependerá, em parte dos seus potenciais pessoais, mas
também de como seja cuidado, importando-lhe saber-se querido e
apoiado. Estas bases permitem que ele se (re) conheça como sujeito
social. A tendência a buscar estas referências em algum lugar seja na
família, nas instituições escolares ou na rua, são evidências da
necessidade de viver com os outros.
Desta forma, nós, seres humanos, estamos expostos aos
valores educativos daqueles que, com poder de adultos, nos indicam vias
de facilitação para nossa formação como indivíduos.
Na adolescência, o grupo de iguais, o exercício da
sexualidade, o direcionamento mais efetivo dos afetos intermediam o
processo de definição da identidade e a inserção social.
A vida emocional adquire uma grande intensidade e um
colorido especial durante a adolescência. Talvez em nenhum outro
período de vida as emoções são experimentadas com tanta veemência,
sensibilidade e contradição, como na adolescência.
Para alguns psicanalistas (Aberastury & Knobel), a
experiência emocional da adolescência estaria marcada pelo luto. A perda
do corpo infantil, da identidade infantil e dos pais da infância levaria a um
processo de luto e sua elaboração. Este processo seria caracterizado por
depressão, inúmeros mecanismos de defesa e características emocionais
e comportamentais que constituiriam a chamada síndrome normal da
adolescência. Julgamos oportuno a citação de Aberastury:
“As mudanças biológicas que têm lugar na
adolescência produzem grande ansiedade e
preocupação ao adolescente, de assistir passiva e
impotentemente às mesmas. A tentativa de negar a
perda do corpo e do papel infantil, especialmente,
provoca modificações no esquema corporal que se
tenta negar na elaboração dos processos de luto da
adolescência.” 1
A ansiedade típica da adolescência seria, na visão
psicanalítica de Freud, decorrente da eclosão puberal e intensificação das
pulsões libidinais.
Em todas as culturas, é na adolescência que surgem
importantes diferenças entre os sexos, na qualidade e expressão de
sentimentos. Nas sociedades ocidentais industrializadas, por exemplo, as
mulheres mostram maior propensão a comunicar seus sentimentos e
maior sensibilidade à expressão não verbal do que os homens.
Observações de grupos de adolescentes revelaram que os meninos
tendem a se afastar fisicamente dos colegas e a evitar o contato olho no
olho durante a conversação, enquanto as meninas mantêm o contato
visual e ficam mais próximas umas das outras. Rapazes utilizam mais
estratégias para evitar o contato e/ou a expressão de sentimentos:
brincam, disfarçam, negam ou atuam.
Ao mesmo tempo em que se tornam mais sensíveis e
emotivos, os adolescentes, particularmente os rapazes, mostram bastante
dificuldade em reconhecer, nomear, comunicar seus sentimentos. A
conduta do adolescente é dominada pela ação e, muitas vezes, parece
agir mais do que pensar, ou antes, de pensar. A ação se torna o modo
mais característico de expressão do adolescente.
1
ABERASTURY, apud MONTEIRO, D.L.M., CUNHA, A. A; BASTOS, A.C. Gravidez na
Adolescência: Rio de Janeiro, Livraria e Editora Revinter Ltda., 1998, página 15.
O humor e o comportamento do adolescente são marcados
pela instabilidade, imprevisibilidade e contradições sucessivas.
Experimenta diferentes papeis, assumindo identidades transitórias.
Muitas vezes irrita adultos pela inconstância e incoerência.
Ao mesmo tempo em que se mostra excessivamente autoindulgente, e
extremamente sensível a criticas, é capaz de se autodepreciar
desmedidamente.
O turbilhão interno do adolescente se traduz em uma
desorganização externa. A famosa "bagunça do quarto" é um reflexo da
desordem interna do adolescente.
A noção do tempo parece estar deturpada na adolescência.
Adolescentes estão predominantemente centrados no presente.
Freqüentemente têm dificuldade em lembrar do seu passado, em situar o
seu comportamento atual numa historia pessoal coerente, em se
aperceber das mudanças. A veemência apaixonada com que vive o "aqui
e agora" deixa pouco espaço para reflexões com elementos da
experiência passada.
Desenvolvimento social
Adolescente na Antigüidade. Embora somente no século XX
a adolescência tenha sido reconhecida e estudada como um período
especifico do desenvolvimento humano, referencias a esta fase de vida e
interesse pelas particularidades e problemas dos jovens, datam, pelo
menos, da Antigüidade egípcia e greco-romana. Senão vejamos:
Aristóteles – "... Os jovens são apaixonados, irascíveis e
tendem a se deixar levar por seus impulsos, particularmente os sexuais, e
neste sentido não conhecem a continência. Também são volúveis, e seus
desejos inconstantes, alem de transitórios e veementes. Levam tudo ao
extremo, seja amor, ódio ou qualquer outra coisa. Acham que sabem de
tudo..." 2
2
ARISTÓTELES, apud. CHIPKEVITCH, E. Puberdade e Adolescência: São Paulo, Editora Roca
Ltda., 1995.página 112
Sócrates – “... Os nossos jovens parecem amar o luxo. Têm
maus modos e desdenham a autoridade. Desrespeitam adultos, e gastam
seu tempo vadiando por ai, tagarelando uns com os outros. Estão sempre
prontos a contradizer seus pais, monopolizam a atenção em conversas,
comem insaciavelmente, e tiranizam seus mestres..." 3
Teorias modernas da adolescência
Sobre elas também se manifestam:
Sigmund Freud escreveu pouco sobre a adolescência. Para
ele, conflitos e fixações libidinais durante os estágios de sexualidade
infantil (oral, anal e fálico) determinam, em grande parte, o
desenvolvimento adolescente e adulto. A puberdade é marcada pelo
ressurgimento, após vários anos de latência, da energia libidinal, que
assume a forma adulta (genital e heterossexual) de sexualidade.
Para Anna Freud, a turbulência do período adolescente é
devida à intensidade do impulso sexual que acompanha a maturação
puberal.
Para Erik Erikson, a elaboração da identidade era tarefa
central no processo evolutivo. A aquisição da identidade do ego é a
principal tarefa evolutiva do adolescente, que se defronta com a confusão
de papéis.
Para Arminda Aberastury e Maurício Knobel, a síndrome da
adolescência normal nada mais é que um conjunto de características
evolutivas da adolescência bastante conhecidas, que marcam a
turbulência deste período de vida. Influenciados pelos conceitos de luto
da psicanálise européia, Aberastury e Knobel enfatizam as diversas
perdas (do corpo, da bissexualidade e da identidade infantil, e dos pais da
infância) que o adolescente tem que elaborar, e o luto que acompanharia
este processo.
Jean Piaget, também chamada de epistemologia genética,
permitiu compreender as modificações do pensamento que ocorrem
3
SÓCRATES, op.cit. página 112
durante a adolescência, e suas repercussões no comportamento,
identidade, moralidade, relações sociais, etc.
ADOLESCENTE
CAPÍTULO II
Características da adolescência
Fatores que influenciam com maior freqüência no
comportamento do Adolescente
Modelo de Rolando Toro4
4
TORO, R.A. Educação Biocêntrica, Apostila Curso de Formação Docente de Biodanza página
46.
Necessidade de
expressão
da emoção e da
criatividade
Busca de significação em
grupos de referência
Necessidade de pertencer
Transformação do
esquema corporal
(Problemas com auto-
imagem)
Necessidade sexual
Aparição de impulsos e
intensas sensações
eróticas
Programação escolar e
novos interesses e
motivação
(Autogestão)
Crise de identidade
Sentimentos de inferioridade
Insegurança
Necessidade de auto-afirmação
Conflitos derivados da
dependência
da família. Necessidade de
Autonomia
O organismo do adolescente, em franca expansão, sofre
mudanças bioquímicas, endócrinas, psicológicas, vivencia alterações
muito intensas e freqüentes. A cada estímulo uma resposta nova; ainda
está em aberto toda a organização do ser. Ele passa por intensas
oscilações de identidade, que vão desde o anseio pela liberdade até a
necessidade da dependência familiar.
Transformação do esquema corporal
Não se pode falar na adolescência sem falar do corpo. Nunca,
durante a vida pós-natal do indivíduo, o corpo sofre modificações tão
rápidas e profundas como na puberdade, nem adquire significado tão rico,
especial e potencialmente conflituoso, como nesta fase da vida.
Todo o processo de individuação do adolescente passa pelo
conhecimento e adaptação ao próprio corpo, um corpo diferente de todos
os outros, mas também diferente, hoje, do que foi ontem. A consolidação
da identidade pessoal também inclui a elaboração de uma imagem
corporal consistente e estável.
Todos nós temos uma auto-imagem do nosso próprio corpo,
um conceito mental, mais real ou menos real, de como somos
fisicamente, o que aparentamos e como os outros nos vêem.
Um dos principais aspectos da puberdade é a magnitude e a
rapidez das transformações que a caracterizam. Todo auto-conhecimento,
e também auto - imagem corporal necessita de tempo. Tempo para se
olhar, tempo para se sentir.
A experiência de ver seu corpo mudando rapidamente sem o
menor controle da sua parte, gera com freqüência no adolescente um
sentimento de impotência e de passividade. Alguns adolescentes,
principalmente em fase de estirão do crescimento, sentem-se esquisitos,
"tortos", desproporcionais, perdendo o controle e o sentido dos próprios
movimentos.
Muitos adolescentes tentam exercer controle sobre seu
corpo em mutação. Mudam de penteado, fazem tratamento de espinhas,
regimes para emagrecer ou para engordar, dedicam-se à musculação
para aumentar sua força muscular, entram para academias de dança e de
ginástica, procuram cirurgias plásticas para os seios, orelhas, nariz, usam
roupas para ressaltar ou ocultar partes do corpo etc.
Outro aspecto que não se pode esquecer é a influencia do
corpo idealizado na elaboração da auto - imagem corporal e na auto-
estima corporal do adolescente. Todo adolescente tem em mente o corpo
que gostaria de ter. Quanto mais este corpo se distanciar do seu corpo
real, maiores serão as possibilidades de conflito, resultando em
depressão, isolamento social e tentativa de controle.
O adolescente de hoje vive numa sociedade de consumo,
bombardeado por uma infinidade de imagens, conceitos e informações
cuja função, entre outras, é fazer dele um consumidor. Ele é por natureza
questionador da sua própria normalidade, é muito sensível e receptivo a
esta normalização social, e compara-se constantemente com modelos
idealizados.
Crise de identidade
Crise é toda situação de mudança biológica, psicológica ou
social, que exige da pessoa ou do grupo um esforço suplementar para
manter o equilíbrio. Daí resulta um aumento da vulnerabilidade, podendo
a pessoa evoluir para uma perturbação a nível afetivo ou de
aprendizagem.
É na adolescência, mais do que em qualquer outra época,
que o indivíduo se coloca questões existenciais.
A formação da identidade é a principal tarefa do
adolescente. Isso significa, adquirir um forte senso de individualidade,
perceber-se diferente e, de certa forma, independente de todos os
demais. O senso de identidade também exige um senso de unidade, a
estabilidade de um padrão próprio de necessidades, motivações e
respostas no decorrer do tempo.
O início do contato com a identidade profunda ocorre na
adolescência causando um sentimento de insegurança diante do
ambiente que em geral lhe é hostil.
Devido às grandes mudanças que sofre o adolescente, ele
se imbui de uma suposta onipotência que vai lhe permitir enfrentar os
medos diante do desconhecido, as incertezas, o descontrole sobre as
transformações físicas pelas quais passa; assim ancorado, ele enfrenta o
mundo e tem o controle de tudo, nada lhe acontece, só aos outros. É uma
necessidade de segurança. Ele se escora na fantasia para suportar a
realidade. Ele é o TODO PODEROSO.
Busca de significação em grupos de referência.
Amizades podem ser especialmente intensas na
adolescência e para muitos adultos as reminiscências destas amizades
têm uma qualidade que parece irrecuperável na maturidade. A
necessidade de ter amigos e de pertencer a um grupo é particularmente
aguda na adolescência. O grupo cumpre importantes funções para o
desenvolvimento psicossocial. Aqueles que não conseguem ter amizades
verdadeiras e vínculos podem apresentar dificuldades na socialização,
com repercussões na sua vida adulta.
As amizades e o grupo oferecem um espaço privilegiado
para a troca de idéias, sentimentos e experiências. É um espaço em que
todos se parecem, na sua procura de si mesmos, nas angustias, na sua
recusa dos valores adultos. O grupo oferece segurança emocional,
compreensão, suporte, encorajamento, incentiva o desenvolvimento de
diversos papeis e habilidades sociais, de qualidades como sensibilidade,
reciprocidade e cooperação. O convívio com o grupo também permite ao
adolescente dar vazão aos impulsos sexuais e agressivos, facilitando o
seu desligamento emocional das figuras parentais, e certamente
influencia muito no seu comportamento. A aceitação pelo grupo se torna a
aspiração inquietante para todo adolescente. Encontra-se reforço desta
explicação, através de Rolando, que assim se manifesta.
“As primeiras noções que se têm do próprio corpo e
as primeiras noções de ser diferente geram a
consciência de si mesmo e a capacidade de vínculo
com os demais.” 5
5
TORO, R.A., Educação Biocêntrica, apostila do Curso de Formação Docente de Biodanza,
página 45
Conflitos derivados da dependência da família.
Em nossa sociedade, o período da adolescência está quase
sempre marcado por algum grau de turbulência nas relações entre pais e
filhos. A conquista da independência e a elaboração da identidade
pessoal são tarefas básicas da adolescência, e ambas exigem certo
afastamento emocional dos pais. Uma boa parte do interesse e do afeto
antes dedicado aos pais será agora dirigida aos amigos e à namorada (o).
O adolescente começa a examinar outros modelos de
relacionamentos entre pais e filhos, a levar em conta outros conceitos e
valores, a comparar a personalidade e as atitudes dos seus pais com as
de outros adultos.
O relacionamento dos adolescentes com os pais é marcado
por sentimentos e atitudes ambivalentes. Ao mesmo tempo em que
reclamam a sua autonomia e exigem direitos, dependem profundamente
dos pais e temem a responsabilidade. Revoltam-se contra eles, embora
os amem.
O luto pela perda da infância, com sentimentos associados
de angustia, depressão e culpa acompanharia inevitavelmente o processo
de independentizacao das figuras parentais e de elaboração da
identidade do adolescente.
Programação escolar
A educação é muito mais que a formação intelectual e
tecnológica, como ainda hoje é pautada. Sem desprezar a formação é
preciso estimular os potenciais genéticos que constituem a estrutura
básica da identidade.
A orientação metodológica deve nortear-se rumo a uma
conecção autentica com a vida.
O comportamento contraditório do adolescente e seu
constante questionamento das regras opressoras gritam por novas formas
de expressão, onde seu aprendizado possa fundamentar-se a partir de
seus próprios questionamentos e necessidades, utilizando para isso o
terreno fértil dos anseios do adolescente que está pronto para ser arado
por uma educação pautada na afetividade, na percepção de si mesmo, da
constatação da sacralidade da vida e do prazer de viver.
Incentivar seus interesses, motivá-los a acreditar na sua
própria capacidade de aprender com suas experiências, reformular os
conceitos educacionais e direcioná-los a uma nova e possível vida,
significa proporcionar ao adolescente possibilidades de conhecer-se e
integrar-se, que inevitavelmente facilitarão sua expressão no mundo
baseada em sua própria capacidade.
Necessidade de expressão
O risco e a vulnerabilidade estão muito ligados às
características próprias do desenvolvimento psicoemocional desta fase da
vida. A busca de identidade leva ao questionamento dos padrões adultos
e, portanto, da autoridade de pais, professores. A exposição ao novo
funciona como um grande desafio vinculado à onipotência do adolescente
que se julga sempre vencedor; por outro lado a timidez e a baixa auto-
estima podem torná-lo potencialmente frágil, levando-o à vinculação com
soluções externas inadequadas para os seus problemas.
Necessidade sexual
A sexualidade envolve amor, afeto, erotismo, satisfação de
necessidades instintivas, tais como o contato, o calor, o afago, os beijos,
as carícias. Inclui, ainda, traços genéticos, identificação através da cópia
de modelos e desempenho de papéis sociais. Falam-se muito nos
aspectos físicos e fisiológicos da sexualidade, porém não podemos
ignorar a enorme influencia dos aspectos comportamentais.
A sexualidade humana é um processo evolutivo que se inicia
ao nascer, ou mesmo antes disso e se estende por toda a vida, passando
por diferentes etapas, inclusive a adolescência, onde se aperfeiçoa com o
estímulo dos fatores determinantes da puberdade, desde o auto-erotismo
até a sexualidade genital adulta e sofre a influência de fatores biológicos,
psicológicos e sociais. Nesta fase, há uma busca de satisfação através da
genitalidade, onde o adolescente busca uma definição da sua identidade
sexual e um posicionamento no meio social. Os papeis sexuais são muito
marcados nos grupos de adolescentes, às vezes até de modo caricatural,
e a aceitação pelo grupo exige o cumprimento deste papel. A identificação
com a figura parental e outros adultos do mesmo sexo, e os modelos
culturais veiculados pela mídia, também influenciam a performance do
papel sexual do adolescente. Os impulsos psicossexuais que estavam
latentes e eram indiferenciados passam a afetar todo o padrão de
comportamento, exercendo grande influência no desenvolvimento
emocional. As vivências da sexualidade trazem também possibilidade de
risco como a gravidez precoce, a AIDS e outras doenças sexualmente
transmissíveis, o aborto que pode comprometer o projeto de vida ou até a
própria vida.
Visão do adolescente sobre si mesmo
A adolescência é um dos períodos mais intensos da vida,
pelos desafios, descobertas e oportunidades que apresenta. Também é
muito trabalhosa, porque não há jeito ou ordem certa para organizar
tantas novidades. Descobrir quem somos e queremos ser, e encontrar
nosso lugar no mundo não é nada fácil.
O percurso é pessoal, intransferível, e no confronto daquilo
que trazemos dentro de nós (e que é a nossa história até hoje), com o
que vamos conhecer do mundo, cada um se tornará uma pessoa única.
Com o objetivo de conhecer a auto-percepção e a auto
imagem do adolescente, formulamos algumas perguntas existenciais, que
estão respondidas por eles no Anexo I:
CAPÍTULO III
Princípio Biocêntrico
É a fundamentação filosófica da Biodanza e define uma
forma de viver pautada na conservação da vida.
Para diferenciar do conceito do princípio antropocêntrico, no
qual o homem é o centro de onde a vida parte e faz seu movimento,
Rolando Toro cria o termo biocêntrico [Bio = vida; cêntrico = centro], que
faz o caminho inverso tendo como ponto de partida a vida em movimento
de expansão e evolução.
Baseia-se na idéia da existência de um Universo organizado
em função da vida e dessa forma compreendido como um sistema vivo,
onde tudo que existe são formas de vida, ou seja, elétrons, pedras,
vegetais, animais e o próprio pensamento são formas infinitas de
expressão da vida.
O Princípio Biocêntrico propõe um novo alicerce sobre o
qual possam se firmar as futuras ciências humanas, sendo que o ponto de
partida do Universo é a vida e ele só existe porque existe vida. Ela não
aparece simplesmente como conseqüência de processos químicos,
inversamente, ela é a estrutura fundamental que orienta a construção do
Universo. As leis que regem esse Universo são as que conservam e
permitem a evolução da vida. Roger nos diz a respeito que a vida existe
“como possibilidade singular, potencialidades muitas vezes bloqueadas,
reprimidas, mas sempre presentes.”
O Princípio Biocêntrico como um novo paradigma vem
determinar uma forma diferente de viver, de sentir, de pensar e de agir,
que atua na direção de proteger, facilitar e melhorar a evolução da vida. O
respeito pela vida é o centro de onde partem todas as disciplinas de
comportamento humano, convidando a uma nova estruturação dos
valores culturais.
Ao afastar-se das leis universais de conservação e evolução
da vida, o homem, através dos tempos, vem gerando valores culturais
falsos e transitórios, que o autorizam a destruir toda e qualquer condição
de vida que não estejam em conformidade com eles, como, por exemplo,
dinheiro e poder, chegando muitas vezes ao extremo dessa destruição,
que são as guerras e construindo, como vemos, formas culturais antivida.
Caminhando na “contramão” desse processo civilizatório
opressor, o Princípio Biocêntrico se desenvolve apoiado em fundamentos
que tem a vida como unidade maior. Nele direcionamos nossa atenção
para a vida e na integração dos seres vivos, passando assim a rechaçar
toda e qualquer cultura que não tenha a vida como prioridade. O modelo
cultural deve ter uma função pró-vida, onde ser vivo, cultura e natureza
são um todo indissolúvel, e não antivida como vemos na grande maioria
das culturas da atualidade. Mais uma vez buscamos o respaldo de
Rolando Toro, quando diz:
“Se as condições culturais e sócio-econômicas são
anti-vida, nós nos propomos a mudar o sistema, não
com a ajuda de uma ideologia, mas restabelecendo
a cada instante, em nossa vida, as condições de
nutrição da vida.” 6
Seguindo um modelo cultural pró-vida, podemos recuperar
as condições nutricionais para a vida e sua evolução, e reconhecer sua
qualidade sagrada. Qualidade que se faz presente em todo lugar e
circunstancia onde a vida acontece. Qualidade, também que vem sendo
destruída, paulatinamente, pelas civilizações, através dos séculos, por ser
um fator de grande ameaça ao domínio do poder. Rolando assim se
manifesta:
6
TORO, R. Inconsciente Vital e Princípio Biocêntrico, Apostila do Curso de Formação Docente
de Biodanza, página 39.
“Se as religiões, as ideologias políticas e as distintas
formas de psicoterapias trabalham em torno das
patologias do ego, sobre uma imagem
antropocêntrica, a Biodanza trabalha com as grandes
funções de saúde, em uma dimensão transcendente,
de permanente reverência pela vida.” 7
Educação Biocêntrica
O ponto de partida da Educação Biocêntrica é o Princípio
Biocêntrico, a metodologia por ela utilizada é “a vivência” e tem como
objetivo a “conexão com a vida”. Visando o fortalecimento da identidade,
a Educação Biocêntrica estimula os potenciais genéticos que constituem
sua estrutura básica.
É de fundamental importância para a evolução cultural que
se recupere a “sacralidade da vida” e com essa finalidade a Educação
Biocêntrica tem sua base firmada na própria vida e no prazer de vive-la
em todas as suas possibilidades. Utiliza metodologicamente como
mediação, entre a educação tradicional e a proposta biocêntrica, o
Sistema Biodanza, onde são expressos os potenciais genéticos de
vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência. Esta
mediação é imprescindível para a reestruturação da afetividade e
desenvolvimento da consciência ética.
A Educação Biocêntrica considera a família como
componente essencial do processo educativo.
O verdadeiro aprendizado acontece quando despertamos o
interesse do indivíduo a participar da elaboração do conhecimento,
instigando sua curiosidade para novas descobertas e gratificando cada
uma delas com alegria. Precisamos antes “aprender a sentir” para só
então “aprender a pensar”. O prazer do aprendizado está inserido num
contexto afetivo e a capacidade de aprender é diretamente proporcional
ao desenvolvimento dessa afetividade.
7
TORO, R.A. Inconsciente Vital e Princípio Biocêntrico, Apostila do Curso de Formação
Docente em Biodanza, página 42.
Através da Educação Biocêntrica aprendemos a expressar
nossas fantasias, transformando-as em sonhos realizados e incorporando
seu aprendizado às nossas vidas.
Ao inserirmos, no contexto educacional, a Educação
Biocêntrica e o Sistema Biodanza como mediação, estamos agindo
profilaticamente contra a desordem afetiva, responsável pela atual
desacralização da vida e permitindo, como diz Rolando Toro:
“penetrar na perfeição da vida como esplendor,
como beleza, como harmonia voluptuosa e
experimentar em si mesmo o “sentir-se vivo””. 8
Sistema Biodanza – ação mediadora
O termo “Biodanza” foi criado a partir de uma ampla
elaboração semântica. Havia nascido uma disciplina de características
inéditas, para a qual não existia o termo apropriado. Era preciso
restabelecer o conceito original da dança em sua mais ampla acepção:
como movimento de vida.
A idéia se aproxima claramente do conceito de “dançar a
vida”, proposta por Roger Garaudy. A partir dessa reflexão surge o termo
“Biodanza”: o prefixo “bio”, deriva do grego bios que significa vida. O
sentido primordial da palavra “dança” é “movimento natural”.
Seu criador, Rolando Toro, chileno, psicólogo, poeta e
antropólogo, professor da Universidade Aberta Interamericana de Buenos
Aires, coordena atualmente as atividades internacionais da Biodanza,
definiu a Biodanza como:
“Um sistema de integração humana, de renovação
orgânica, de reeducação afetiva e de
reaprendizagem das funções originárias da vida”. 9
8
TORO, R., Educação Biocêntrica, apostila do Curso de Formação Docente de Biodanza, página
19.
9
TORO, R. A. Biodanza. São Paulo. Editora Olavobrás / EPB, 2002, página 33.
É uma abordagem pedagógica - terapêutica que possibilita o
desenvolvimento humano, integrando funções orgânicas e psíquicas. É
uma extensão das ciências humanas, integra o corpo, as vivências e o
movimento em situações de grupo, abrindo novos caminhos terapêuticos.
A Biodanza é um sistema coerente de ações baseadas nas
ciências do homem: Antropologia, Etologia, Biologia, Medicina, Psicologia
e Sociologia. Baseia-se na observação, descrição e experimentação.
Utiliza as técnicas tradicionais de investigação científica. O sistema está
sujeito a uma progressividade orgânica. Ninguém pode violentar seu
amadurecimento, só pode induzi-lo com delicadeza. Encontro e
aproximação se realizam mediante adequada retroalimentação da
informação (feed back). Cada repetição dos exercícios é uma volta para
dentro da espiral evolutiva. Deste modo, o progresso da transtase é sutil.
O homem nasce com seus potenciais afetivos e intelectuais
altamente determinados, porém sua expressão depende de condições
propícias em seu meio ambiente.
É um sistema que, destinado à aplicação em grupo, se
baseia na expressão dos potenciais individuais acima citados, através da
música, do movimento e de situações de encontro.
Sendo um processo vivencial em grupo, impulsiona a
expressão da identidade e o prazer de viver. É indispensável reencontrar
a força positiva que faz crescer e desenvolver os organismos.
Combinando movimento, música e emoção a Biodanza
promove a integração do pensar com o sentir e com o agir, estimulando o
adolescente ao “compromisso com a vida”.
Convida para um crescimento saudável voltado à satisfação,
resgatando a intimidade do ser, qualificando o potencial de cada um, o
amar-se a si mesmo pela sua sinceridade e por isso mesmo sentir-se
amado, aumentando assim, a auto-estima.
A proposta da Biodanza é a de atuar estimulando uma
conexão com a vida, permitindo uma integração consigo mesmo, com o
outro e com a natureza, o que traz um grande aumento na auto-estima, e
tem como objetivo o desenvolvimento e a evolução do ser humano, em
todos os seus aspectos.
A integração consigo mesmo significa uma forma coerente
de sentir, pensar e agir a partir de nossa própria emoção. É poder
discernir emocionalmente as “verdades” familiares e culturais que nos são
impostas, as nossas próprias “verdades” vivenciais, podendo então atuar
na vida de acordo com as nossas escolhas.
A forma mais eficaz de entrarmos em contato com nossas
emoções é estimulando a afetividade mais pura e sincera existente em
nosso interior. Podemos desse modo nos desvencilhar das amarras do
mundo de hoje, que tanto nos cerceiam, para então estruturar um novo
estilo de vida direcionado à alegria, ao prazer e à plenitude. O que traz,
consequentemente, a nossa evolução. Carlos Garcia propõe:
“... desarmar as estruturas repressivas e
culpabilizantes, acabar com as sombras
envergonhadas de uma cultura manipuladora da
consciência do homem... “ 10
A integração com a espécie, com o semelhante é a
capacidade de ser humano, o que é muito diferente de ser homem. É
poder olhar para o outro com afeto e compaixão e através desse olhar
perceber-me muito mais que um ser biológico, é perceber-me um ser
afetivo, capaz de se comover e aceitar as semelhanças e diferenças que
enriquecem e valorizam a humanidade. É descobrir que só diante do
outro posso me reconhecer. Reconhecendo os valores da vida também
podemos citar Albert Schweitzer:
“Meditando sobre a vida, sinto a obrigação de
respeitar qualquer “vontade” de vida ao meu redor,
por ser igual a minha” ··11·.
10
GARCIA, C. El Arte de Danzar La Vida: Santiago, Chile – 1ª edição dezembro 1998, página 54.
11
SCHWEITZER, A. Rispetto per la vita. Torino. Claudiana Editrice. Apud Toro, R.A..
Inconsciênte Vital e Princípio Biocêntrico, Apostila.do Curso de Formação Docente Em
Biodanza, página 38
A integração com a natureza é a possibilidade de sentir-se
pertencente a ela, a tudo que nos cerca, ao universo, à totalidade.
Segundo Humberto Maturana (biólogo), a vida é concebida
como um processo de conhecimento dela mesma acoplada ao meio,
através de relações dinâmicas e interações entre os organismos vivos e a
totalidade.
É sabido que os constituintes dos organismos humanos são
os mesmos que compõem um protozoário (aminoácidos, nucleotídeos) o
que fundamenta a estreita vinculação dos seres humanos e os demais
seres vivos.
Está provada também que a estrutura nuclear dos átomos
existentes nos seres vivos é a mesma encontrada, por exemplo, em uma
pedra ou até mesmo em um meteorito caído na terra por qualquer razão,
ficando assim determinada a incontestável relação do homem com o
universo.
Permitirmos a nós mesmos a possibilidade desta vinculação
é propiciarmos à nossa vida uma infinidade de opções de escolha, para
mudanças direcionadas a uma nova forma de viver, certamente mais
inteira e mais feliz.
A integração de si mesmo, com o outro e com a natureza é
facilitada pela intensa conexão com a vida, e ocorre de uma forma
simultânea e recíproca. Reportamo-nos a Rolando que diz:
“Não é a consciência de um homem o que interessa,
mas sua prática de movimento de amor.” 12
Os sistemas biológicos possuem a capacidade de auto–
organização, podendo renovar-se e estabelecer novos níveis de
equilíbrio, de ativar processos de reparação celular e regulação das
funções biológicas.
Os seres humanos, no ato de sua concepção, recebem uma
12
TORO, R.A. Apud. PINTO, L.N. e BOTELHO, P.C.T. Monografia Implantação de Biodanza
para Adolescentes & Pais de Adolescentes em Instituição de Saúde Pública, 2000, página 17.
carga genética que contêm todas as informações necessárias para sua
formação e todo um potencial de dados que foram se agregando e sendo
transmitidos no decorrer de sua filogênese. Essas informações e dados
permanecem latentes até que um específico fator externo (ecofator)
venha estimulá-los a atuar. Isso explica, por exemplo, como uma
determinada célula “sabe” o que fazer para se defender de uma infecção.
De uma forma mais complexa nosso comportamento diante da vida
também é determinado por um aprendizado transmitido às nossas células
que se comportam de forma recorrente cada vez que o mesmo estímulo
se apresenta. Durante nossa vida, apenas uma pequena parte desses
potenciais recebidos é estimulada, permanecendo latente a grande
maioria deles, o que nos leva, em decorrência, a uma vida limitada.
Nos organismos vivos, em especial no organismo humano,
as soluções para as situações novas não estão definitivamente
programadas, apesar de que os códigos genéticos propõem caminhos
para estas soluções. Segundo Humberto Maturana, as mudanças
estruturais no processo de integração com o ambiente, constituem atos de
aprendizagem, nos quais cada ser vivo especifica que tipo de alteração
do ambiente é necessária para si. Este processo de aprendizagem não se
refere somente a processos mentais ou da consciência, por exemplo,
como o que ocorre nos vasos sangüíneos quando por qualquer motivo um
determinado vaso se entope, imediatamente o fluxo sangüíneo se
direciona a vasos próximos, encontrando um novo caminho e com isto
refazendo o fluxo apropriado. Estes processos são também comprovados
em todos os seres vivos, inclusive nos organismos desprovidos de
cérebro ou sistema nervoso, como por exemplo, quando uma lagartixa
“amputa” o próprio rabo para livrar-se de um predador.
Podemos então entender que os organismos possuem
capacidade de renovar-se, estabelecendo um novo equilibro em
decorrência de mudanças do ambiente que o cerca. Estatísticas
comprovam curas de câncer e rejuvenescimento de idosos como
decorrência da mudança do estilo de vida. Mudar de estilo de vida não
significa apenas mudar de casa ou de emprego, é muito mais. É permitir
uma mudança de dentro para fora. É constatar que o “eu sou assim” não
existe, o que há é o “eu estou assim”. A partir desta constatação podemos
realmente experimentar infinitas possibilidades de mudanças efetivas,
sem, entretanto, deixarmos de ser nós mesmos. A tal respeito, aliás,
assim se manifestou Dilthey, quando nos diz que “o homem não só está
na história, não só tem história como também é história, a historicidade
afeta o próprio ser do homem”.
O mundo atual vem evoluindo espantosamente sua
tecnologia, facilitando em muito a qualidade da vida. Porém,
paralelamente a essa evolução vem ocorrendo uma exagerada
valorização do Ter em detrimento de Sentir. Estamos tão ocupados em
obter coisas que possam nos facilitar e nos trazer “conforto”, que não nos
importamos se o preço a ser pago é o de nos afastarmos de nós mesmos
e consequentemente adoecermos. Isso nos remete a um conceito de
Binswagner, sobre a doença “Quando uma pessoa está doente, não está
mal de um órgão, é sua existência que está doente”.
Para acompanharmos a evolução dos tempos, deixamos de
nos ouvir, de nos sentir e de valorizar o que realmente pode nos levar a
uma vida saudável que é o afeto, conforme diz Rolando: “um coração que
ama é um coração saudável.”
Os tabus, preconceitos e “pecados” vêem influenciando há
séculos as relações humanas, principalmente no que diz respeito à
afetividade. Tornou-se mais valorizado dar uma moeda que um sorriso,
um objeto que um abraço sincero. Economizamos nossos carinhos como
se fossem nos faltar.
Com isso e por isso as sociedades vêem se tornando cada
vez mais violentas. As crianças não têm a chance de aprender a
importância de um carinho para sua saúde física, mental e emocional. A
educação nas escolas se direcionou a um ensino massificante e
impessoal, afastando-se da verdadeira qualidade do aprendizado.
Restabelecer um intimo contato com a afetividade é permitir
a recuperação de um canal para o conhecimento. É deixar renascer o
desejo de um aprender guiado e impulsionado pelo afeto, que respeita,
que troca e que emociona, restabelecendo desta forma, dia após dia,
todas as condições que precisamos para a nutrição, expansão,
conservação e evolução da vida. Rolando Toro fala que “a genialidade da
espécie não está na inteligência, mas na afetividade orientada para a
tolerância, para a compaixão, para a amizade e para o amor.”
É inconcebível tentarmos estabelecer uma nova forma de
aprendizado, enquanto estivermos atrelados a um processo “civilizatório”
que determina o domínio da cultura sobre a irrefutável presença do
instinto, que dá mais ênfase à moral do que ao primordial.
Através dos tempos, inúmeros estudiosos vêem afirmando
que o ser humano é essencialmente racional, criando um verdadeiro culto
à informação adquirida e expurgando com veemência a sabedoria
biológica das espécies, que são os instintos.
Com o intuito de manter a veracidade dessa informação, as
civilizações foram estabelecendo uma vinculação pejorativa entre instinto
e destruição, envolvendo a liberação do instinto em uma nuvem de terror,
capaz de exterminar toda que qualquer possibilidade de vida organizada.
O instinto pode ser considerado, segundo Rolando Toro, a
“memória da espécie”, é uma conduta inata, transmitida geneticamente
através das gerações. É comum a todos os seres vivos e sua intrínseca
sabedoria é indispensável à sobrevivência e evolução da espécie. Sua
auto-regulação é orgânica, isto é, sua força diminui à medida que satisfaz
a necessidade do próprio organismo.
O instinto tem como finalidade biológica a adaptação, não
representando de fato, nenhuma ameaça às civilizações. Ao contrário do
que muitos acreditam, a livre manifestação dos instintos nos conduz a
uma harmonia orgânica natural, interferindo positiva e eficazmente na
manutenção da saúde. Por outro lado a sua obstrução, o desvio de seu
sentido biológico ou sua dissociação, pode levá-lo a uma manifestação
deturpada, e até mesmo destrutiva para a própria vida.
Como disse Freud, os instintos provem de nosso interior e é
inútil fugir dele. O que precisamos é reencontrar seu valor básico, sua
expressão inata, que está direcionada à sobrevivência e estruturada na
conservação da vida, através do reconhecimento do valor sagrado que
por si só ela representa. É oportuna, a citação de Sanclair Lemos:
“A força cósmica organiza o mundo, e o instinto é
sua expressão nos organismos biológicos. Instinto é
força de organização e conservação. Não é
desorganizado, nem embrutecedor, não é algo que
devemos temer... O instinto é o aspecto biológico da
organização cósmica”.13
É entrando em contato com nossa forma mais pura de
exaltar a vida e a graça que dela provem, incentivando um estilo de vida
coerente com os impulsos primordiais de sentir, pensar e agir de forma
integrada, que vamos atingir o objetivo de conservar a vida em sua
plenitude, permitindo assim sua evolução.
Música, movimento, vivência.
O alicerce metodológico da Biodanza está na integração
entre a música, o movimento e a vivência. Estes três elementos formam
uma estrutura unitária, de componentes inseparáveis, cuja funcionalidade
do todo requer a atuação concomitante dos três.
A íntima relação entre música e movimento propicia
vivências integradoras e harmonizadoras, que levam a uma vida mais
completa e verdadeira.
Música
Desde os primórdios o ser humano percebe a musicalidade
do universo, e reconhece que essa harmonia encontrava eco no interior
do seu próprio ser.
A música pode ser sentida por todo o corpo, possui uma
linguagem universal capaz de deflagrar emoções que podem se expressar
em movimentos, sem que para isso precise passar pela razão. Isto pode
acontecer porque ela tem a propriedade de atuar como um instrumento de
Mediação entre a emoção e o movimento, potencializando a vinculação
13
LEMOS, S. El Coraje de Exponerse, entrevista concedida à revista UNO MISMO, Chile, 2002
do ser humano consigo mesmo (harmonia), com o outro (melodia) e com
a natureza (ritmo). Podemos ilustrar a musicalidade do ser, que é inerente
à própria vida, com a própria musicalidade das palavras de uma das
autoras desta pesquisa.
“Existe música no afago do vento sobre as folhas
das árvores, no marulho das ondas, no bater de um
coração apaixonado e na respiração ofegante dos
amantes. Nós e a natureza somos os mais puros e
belos instrumentos da música divina.” 14
Na Biodanza a música usada é rigorosamente selecionada,
se atem ao seu caráter biológico e não ao estético, pois contem
características como fluidez, harmonia, ritmo, tom e unidade de
sentimento. Por esta razão a denominamos música orgânica.
Movimento
A vida é movimento, é pulsante e tudo nela tem ritmo. Como
nos diz Rolando Toro “mover-se é estar vivo.”
O movimento é o primeiro conhecimento do mundo. A dança
é tão antiga quanto a própria vida humana. Nasceu na expressão das
emoções primitivas, na comunhão “mística” do homem com a natureza,
quando ele ainda não conhecia a palavra. Ela possui um enorme poder de
integração para o ser humano, é movimento de vida, ritmo biológico,
reaviva a vinculação do homem consigo, com o outro e com a Natureza
através de laços de amor. Por seu intermédio nos revelamos por inteiro e
revelamos também a nossa verdade.
Em Biodanza o movimento é emocional e pleno de sentido,
é estimulado pela música e coerente com ela, propiciando uma vivência
integradora.
Quando conseguimos nos afastar dos movimentos
aprendidos e cristalizados pelo atual contexto civilizatório, podemos nos
mover em sintonia com a nossa própria musicalidade, deixando de lado a
simples expressão de uma dança para nos tornarmos a própria dança.
14
BOTELHO, V. momento de inspiração Rio de Janeiro, Brasil: agosto de 2004.
Para Rolando, “Ser Dança” constitui uma experiência extraordinária, a
mais poderosa fonte de renovação e energização.”
Vivência
Vivência é uma manifestação do nosso ser, que precede a
consciência; é atemporal. É experiência vivida, aqui e agora, com grande
intensidade pelo ser humano, envolve funções viscerais e emocionais,
não estando, entretanto, submetidas ao controle da vontade. Sua
expressão traz em si sensações cenestésicas que confirmam seu caráter
orgânico. Tem sua origem no âmago do ser, na mais tenra manifestação
da identidade, de onde vem todo o seu poder reorganizador.
Só sabe o que é o amor quem já amou. Quantas vezes
diante de situações do dia a dia sentimos “um frio no estômago” sem
saber porquê. É nosso corpo reproduzindo “aqui e agora” uma
experiência já vivida anteriormente. É pessoal, é única e momentânea.
Ao se estimularem vivências integradoras, através da
música e do movimento, novas possibilidades de vida se abrem facilitando
assim a oportunidade de um enorme crescimento e evolução. Carlos
Garcia assim explica a vivência:
“A vivência é antes de tudo uma conseqüência, o
resultado alquímico do encontro do ser humano com
o mundo, com outro ser humano, com a natureza,
com o insondável infinito.” 15
Identidade
Durante séculos o conceito de identidade vem sendo
buscado e descrito por grandes nomes da civilização, desde Platão até
Heidgger, Piaget, Merleu Ponty, entre inúmeros outros. Porém sua
descrição ainda não foi satisfatoriamente elucidada, devido à sua
complexidade, carecendo de futuras investigações intensas e profundas.
O que podemos dizer sobre ela é que é o mais íntimo de
nosso próprio íntimo, é a essência da mais pura de nossas verdades.
15
GARCIA, C. op. Cit. página 47
Para a biologia a identidade é a capacidade de
reconhecimento de si mesmo, tendo em vista sua origem genética.
Dois fatores, sem dúvida, se apresentam marcantes na sua
constituição: o fator hereditário e o fator adquirido. Hereditário é aquele
fator que recebemos de nossos pais biológicos, é o que trazemos nos
genes de cada uma de nossas células, são os nossos potenciais
genéticos. Adquirido é o fator referente ao meio que nos circunda, a
cultura, a religião, a família, é este fator que facilita a expressão dessa ou
daquela característica intrínseca. Podemos dar como exemplo, o nosso
sistema imunológico, que rejeita e ataca qualquer corpo estranho que
penetre no nosso organismo.
A identidade, que é única, não está separada do mundo.
Sua manifestação se dá tanto a nível orgânico, quanto a nível psicológico
existencial, na presença do outro. É somente através de nossa
capacidade de vinculação afetiva com o mundo que podemos efetuar uma
maior integração de nossa identidade. Quanto mais integrada nossa
identidade maior se torna a nossa capacidade de vinculação. Essa
potencialização recíproca nos conduz a uma constante evolução,
segundo Rolando:
“Do “talo único” de nossa Identidade brotam os frutos
da diversidade. Quem vive aferrado
mesquinhamente para defender os limites de sua
Identidade, se priva do sabor dos frutos, se esgota
em si. As raízes da Identidade se nutrem no seio do
estranho.” 16
A nossa identidade muda constantemente, sem com isso
perder sua essência, e isso pode ser comprovado pela simples
constatação do fato de que não sou mais a criança que fui e mesmo
assim não deixei de ser eu mesma. Não tomamos posse de nossa
identidade como quem se apossa de uma “coisa”, ela é a nossa própria
capacidade de expressão na vida.
16
TORO, R. A., Identidade e Integração; Transe e Regressão; Vivência, Apostila do Curso de
Formação Docente de Biodanza, página 25.
Em lugar de definir um conceito, acreditamos que a melhor
forma de compreender a nossa Identidade seja senti-la, vive-la através da
consciência de si mesmo.
Todo ser humano é único, tendo assim sua própria maneira
de expressar sua identidade através do movimento, sendo a dança uma
dessas maneiras de expressão. A identidade, para Rolando, é “a
sensação intensa e comovente de estar vivo.”
Modelo Teórico
“Modelo Teórico da Biodanza”
Extraído de TORO, R.A. Biodanza, São Paulo. Editora Olavobrás / EPB, 2002, página 75
É a teoria que dá suporte, validade e justifica a prática da
Biodanza. É a base estrutural representativa da vida em sua totalidade.
A sua forma de uma espiral aberta expressa a
disponibilidade do ser vivo para um constante recomeço da vida.
Tem em sua base os potenciais genéticos expressos através
das linhas de vivência, que representam a própria ontogenia, direcionada
à integração. No seu eixo horizontal tem o “continuun identidade
regressão”, que está em constante e dinâmico pulsar buscando uma
integração do ser consigo mesmo e com a totalidade, representando a
alternância natural dos estados de consciência. Todos os elementos nele
inseridos, de uma forma ou de outra, interferem na filogênese da
humanidade.
É descrito dentro de um conceito cósmico, no qual a vida
humana está inserida em seu processo, sua evolução filogenética e
ontogenética, como diz Rolando:
“É um modelo do “homem cósmico”. Aborda o ser
humano em sua dimensão biológica, psicológica e
justamente cósmica.” 17
Potencial genético
Todos nós recebemos de nossos pais biológicos as
características básicas determinantes de nossa estrutura orgânica e
instintual. Essas características são os potenciais genéticos, que como o
próprio nome diz, podem ou não se expressar durante a vida,
dependendo para tal, de uma estimulação adequada, a qual chamamos
de eco fatores.
Linhas de vivência
É um conceito baseado nas diferentes formas de expressão
do potencial humano, formam os cinco grandes grupos de vivências mais
evidenciados em anos de estudos feitos por Rolando Toro, e que
envolvem as formas de expressão de maior abrangência. Esses grupos
17
TORO, R.A. Biodanza. São Paulo. Editora Olavobrás/EPB, 2002, página 72.
possuem pontos coincidentes, por isso e com isso, exercem influencias
umas sobre as outras, o que contribui para aumentar suas
potencialidades de expressão. São elas:
Linha da vitalidade – capacidade de experimentar uma harmonia
biológica, energia que cada um dispõe para enfrentar o
mundo, alegria de viver.
Linha da sexualidade – capacidade de sentir o desejo e o prazer sexual,
vínculo sexual, reprodução.
Linha da criatividade – capacidade de renovação aplicada à própria
vida, inovação, imaginação.
Linha da afetividade – capacidade de proteger, sentir amor, amizade
sem discriminação, empatia, altruísmo.
Linha da transcendência – capacidade de ir além de si mesmo, do
social, do cultural e perceber-se como parte e expressão da
totalidade. Capacidade de conectar-se com a “divindade”
encontrada em cada manifestação da vida. Capacidade de
experimentar os estados de expansão da consciência.
Protovivências
São as “gravações” neurológicas armazenadas pelas
crianças nos seis meses iniciais de vida, período em que ocorrem suas
primeiras respostas aos estímulos externos e internos. Estão intimamente
ligadas às linhas de vivência, sendo de cada uma delas a própria origem,
como veremos no quadro a seguir:
Linha de vivência Protovivência
Vitalidade Movimento
Sexualidade Carícia
Criatividade Expressão
Afetividade Nutrição
Transcendência Harmonia
Regressão
Quer dizer retornar ao início. É uma capacidade que todos
os seres humanos possuem, na qual ele vai buscar em sua própria origem
os subsídios necessários para continuidade de sua vida, em suma, para
sua renovação existencial.
Inconsciente vital
É um conceito proposto por Rolando Toro, que define a
capacidade do nosso organismo estar orientado para a saúde e em
sintonia com a essência universal da vida. Podemos perceber sua
atuação em nosso dia a dia, através do humor endógeno, do estado
cenestésico de bem e mal estar e na capacidade que nossas células
possuem de se reproduzirem espontaneamente sempre que se faz
necessário.
Inconsciente pessoal
Foi descrito por Freud. É relativo à história pessoal de cada
um, de seus potenciais estimulados ou reprimidos na própria vida, em
especial na infância, incentivando, desta forma, o indivíduo ao domínio de
sua própria vontade, vindo a possibilitar uma visão diferente das forças
vitais e dos impulsos que agem diretamente sobre seus pensamentos
conscientes e suas ações.
Inconsciente coletivo
Relatado por Jung, está relacionado ao conjunto de imagens
primordiais, representações primitivas que são heranças de gerações e
que constitui os traços coletivos vinculadas à memória da espécie. A
estas imagens, Jung dá o nome de arquétipos. E como ele mesmo nos
diz, “exerce também uma influência que compromete altamente a
liberdade da consciência.”
Eco fatores
Ao longo da vida recebemos estímulos ambientais que
influenciam o nosso desenvolvimento, entre eles o mais potente é o ser
humano. Esses estímulos atuam diretamente sobre os nossos potenciais
genéticos, favorecendo sua expressão (eco fatores positivos), ou
obrigando-os a permanecerem latentes (eco fatores negativos).
“Na história evolutiva que nos constitui como seres
humanos, nós surgimos como filhos do amor... O
amor não é peculiar aos seres humanos, é próprio
de todos os animais que vivem em intimidade. O que
ocorre é que o amor tem um caráter especial para os
seres humanos porque tornou possível a convivência
na qual surgiu a linguagem que, como modo de
convivência, configurou nosso ser humano.” 18
Humberto Maturana
18
MATURANA, H. texto Modo de Vida e Cultura. Apud, TRANCOSO,A.R. e OLIVEIRA,L.P.
Monografia Biodanza: Instrumento de Transformação Social, 2003. página 12
CAPÍTULO IV
Metodologia
Os objetivos da Biodanza são educativos, desenvolvendo o
potencial humano. Eles propõem a prioridade da ação profilática sobre
qualquer outra forma de mudança. Estimulam uma estrutura saudável do
estilo de vida, através da possibilidade de cada um se perceber, se sentir,
se valorizar e se proteger. Nosso trabalho foi orientado com coerência,
respeitando a metodologia proposta por Rolando Toro para a Biodanza.
Nossa proposta é proporcionar uma nova maneira de lidar
com todas as modificações físicas emocionais, que ocorrem com os
adolescentes, convidando-os a um crescimento voltado para a satisfação,
qualificando o potencial de cada um, aumentando assim sua auto-estima,
uma vez que a adolescência tem sido definida como um período de
transição entre a infância e a vida adulta, caracterizada por importante
crescimento e desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social.
Através da Biodanza obtivemos a chave que possibilitou
abrir portas que mostram novo modo de encarar os conflitos do cotidiano
do adolescente e atenuar suas conseqüências.
Nosso trabalho se fundamentou na integração da identidade,
mediante a expressão dos potenciais genéticos que se encontram
enormemente silenciados e transformados em limitadores dos horizontes,
metas e sonhos dos adolescentes desta localidade.
Organização e formação do grupo
Observamos que em sua maioria os adolescentes que
procuram a UIS Hamilton Land são de classes menos favorecidas,
apresentando um grande nível de carência afetiva, agressividade como
forma de sobrevivência e falta de opções para solucionar dificuldades do
dia a dia.
Todo este contexto leva os adolescentes às somatizações,
doenças carenciais, entre outras, o que os leva a procurar a UIS, para que
possam então encontrar o que na verdade procuram: atenção,
compreensão e estímulo para alcançar um futuro diferente da realidade a
que estão acostumados.
Em uma primeira etapa passam por um atendimento clínico
com a Dr.ª. Irene, onde são entrevistados, medicados (em caso de
necessidade) e encaminhados para atividades em grupos informativos e
educativos, onde são abordados temas de interesses dos adolescentes,
tais como: mudanças corporais, contracepção, DST/AIDS, drogas,
violência, relacionamento familiar e social. Esses temas são
desenvolvidos através de vários encontros e dinâmicas como, por
exemplo: desenhos e recortes, atividades com música (lúdico, auto-
estima, integração), dramatização, etc.
Após alguns encontros, quando já ocorreu o vínculo afetivo e
de confiança esses adolescentes são convidados a participar do grupo de
Biodanza.
Tivemos como prioridade eletiva a faixa etária, o
desenvolvimento físico e emocional, a necessidade individual decorrente
das dissociações motoras, dificuldades de relacionamento, transtornos
afetivos, dificuldades no aprendizado, entre outras.
Sendo a Biodanza uma atividade grupal, vem suprir a
grande demanda do serviço de saúde pública, uma vez que atende a um
maior número de adolescentes.
O nosso grupo é constituído de jovens na faixa etária entre
12 e 18 anos, com predominância do sexo feminino. A freqüência oscila
entre 60 e 70%, com a entrada e saída de alunos esporadicamente, tendo
sido formada a matriz grupal nos primeiros dois meses.
A duração de cada aula é de duas horas, sendo que nos
primeiros trinta minutos fazemos uma intimidade verbal, na qual os jovens
fazem perguntas, relatos de seu cotidiano correlacionando com as
vivências da Biodanza, ficando a hora e meia restante para as vivências
da aula.
Os horários e dias da semana foi um acerto entre as
facilitadoras e a UIS Hamilton Land, pois as aulas de Biodanza são
realizadas no único auditório existente naquele serviço.
Inicialmente os adolescentes apresentaram-se reservados,
defendidos e em alguns casos até mesmo agressivos.
Nós, facilitadoras, pudemos perceber, nos primeiros
encontros com grupo, uma conduta comum entre os adolescentes: o jeito
de se vestir, de falar, de mascar chiclete, a relutância em tirar os bonés e
calçados, a postura de “não tô nem aí”, o que vem a ser uma identificação
do grupo-adolescente. Aos poucos eles foram adquirindo confiança,
reunindo forças e entrando em contato com potenciais próprios,
descobrindo-se e aceitando as diferenças, entrando em contato uns com
os outros respeitando e sendo respeitados reciprocamente e ainda mais
podendo amar e se sentir amados pela sua própria capacidade de viver e
deixar viver.
Rapidamente fomos percebendo a crescente aceitação
afetiva da Profª. Véra e o decorrente vínculo com a mesma, o que nos
provou, na prática, a eficácia do Sistema Biodanza como técnica de
reeducação afetiva.
Dinâmica do grupo
Utilizamos a ortodoxia da Biodanza para planejarmos as
aulas iniciais, com enfoque na integração motora.
Logo nas primeiras aulas observamos pontos em comum
entre a grande maioria dos alunos como, a baixa auto-estima, pouca
vitalidade, intensa desqualificação de si mesmo, falta de sonhos e falta de
estímulo para auto-realização, o que nos levou a direcionar nossas aulas
seguintes dando maior ênfase nas linhas da vitalidade, criatividade e
afetividade.
Através da vitalidade procuramos despertar a alegria e o
ímpeto vital. Os adolescentes estimulados pela música, que está muito
presente em suas vidas, se entusiasmam com bastante facilidade
contribuindo para melhor integração do esquema corporal, motricidade e
auto-regulação.
Visamos incentivar a criatividade existencial própria do
adolescente, tão rica em impulsos de inovação e expressão,
potencializando a capacidade de renovar e embelezar o estilo de vida.
Trabalhamos na afetividade resgatando a capacidade de
vinculação (consigo mesmo, com o outro e com a totalidade), devolvendo
a auto-estima, a autovalorização e a valorização do outro, aprendendo a
expressar-se verbal e corporalmente, reforçando a identidade do
adolescente.
A veracidade da vivência não passa pela razão e seus
efeitos podem ser sentidos por todo o ser, o que observamos no decorrer
das aulas de Biodanza, com as constantes mudanças no relacionamento
do grupo, onde os jovens começaram a se ouvir, se olhar e se proteger,
nutrindo-se cada vez mais de respeito, compaixão e humanidade.
Vimos a identidade confusa, as alterações freqüentes de
humor (um dia sorriam por qualquer coisa no outro estavam de “cara
amarrada” sem qualquer motivo), observamos que os movimentos eram
condicionados e repetitivos, conseqüência da pressão da cultura, da
religião, da sociedade e da família, interferindo na expressão da
verdadeira identidade do adolescente.
Em nosso trabalho demos especial atenção ao princípio da
progressividade, permitindo ao adolescente entrar em contato com seu
verdadeiro movimento, reconhecendo seu conteúdo interno, podendo com
isso escolher o seu próprio caminho de mudança e viver com intensidade
a beleza da adolescência. Ficaram claras para nós as diferenças
vivenciadas por nossos alunos no seu dia a dia, onde são bombardeados
pela violência e desqualificação e as aulas de Biodanza, onde são
valorizados pelo afeto, pela criatividade pela capacidade de investir no
que acreditam.
A Biodanza atua no sistema neuromotor, cardio–respiratório,
neuroendócrino, imunológico e emocional. Eleva o equilíbrio
neurovegetativo, ao estimular alternadamente o sistema simpático –
adrenérgico e parassimpático – colinérgico.
É muito comum ao adolescente ultrapassar seus próprios
limites, o que foi facilmente percebido por nós, facilitadoras, nas aulas
iniciais do grupo, nos levando a pontuar em muitas ocasiões a importância
da escuta de seu próprio organismo.
Através da pulsação simpático – parassimpático das aulas
de Biodanza, os adolescentes puderam por si só perceber a importância
do repouso como fonte de renovação de energia.
A auto-regulação orgânica passou a ter um significado
especial na auto-regulação de suas vidas
Atendendo aos nossos objetivos de desenvolver uma
integração grupal, respeitamos as dificuldades iniciais de aproximação e
de relação interpessoal. Notamos que havia entre eles uma grande
dificuldade de contato, de se olharem e de ficarem ao lado de outro jovem
do sexo oposto.
Após a intimidade verbal, quando se levantavam para formar
a roda inicial, todos se encostavam à parede com os braços cruzados ou
estendidos ao longo do corpo, sendo preciso muita insistência de nossa
parte, inclusive entrando entre eles, para que se dessem as mãos e
conseguissem parar de rir e falar.
Com o norte voltado para os exercícios de integração motora
demos especial atenção aos movimentos naturais de ser humano com
caminhar, saltar e gestos ligados aos costumes sociais como abraçar e
dar a mão.
A parte motora, o mover-se e a dificuldade de comunicação
com o outro era, para alguns, muito difícil, por isso demos focalizamos
nossa atenção aos exercícios básicos de caminhar e à integração com o
outro, utilizando-os por um bom tempo.
Exercícios básicos de caminhar
Caminhar Sinérgico
Caminhar Fisiológico
Caminhar com Motivação Afetiva
Coordenação Rítmica a dois (caminhar com o outro)
Durante algum tempo muito dos jovens se movimentavam
com um ritmo incoerente ao convidado pela música, mostrando uma
dissociação entre o estímulo e a sua própria resposta motora, porém o
mesmo não acontecia quando utilizávamos danças com ritmos tropicais
(forró, samba), momento em que os jovens demostravam maior interação
e alegria.
Exercícios de ritmo e sinergismo
Variações rítmicas
Danças rítmicas
Salto sinérgico
Danças com ritmos tropicais
Por viverem em um ambiente extremamente repressor esses
adolescentes aprenderam a limitar seus próprios pensamentos e
movimentos, o que nos incentivou a convidá-los muitas vezes à exercícios
de extensão, com a intenção de ampliar seus movimentos e
consequentemente ampliar o próprio âmbito de ação. Houve um primeiro
momento em que muitos se puseram estáticos e assustados. A tendência
era copiar o movimento da facilitadora, reproduzindo o modelo alienante
de adestramento e cópia, muito valorizado em nosso processo
educacional. Nesse momento fomos tomadas por um sentimento de
desanimo e impotência, chegando a desacreditar na própria possibilidade
de realizar um trabalho de transformação profunda. Foi quando, a Dr.ª.
Irene em um desabafo e com tom de desafio convocou-os a saírem do
comodismo e apatia. Lentamente foram se permitindo entrar em contato
com a proposta.
Exercícios de extensão
Extensão Harmônica
Extensão Máxima
Elasticidade Integrativa
Foi com grande surpresa e emoção que nos apercebemos
da capacidade de aprofundamento e entrega dos nossos alunos desde as
aulas iniciais, na segunda parte da vivência, evidenciadas na expressão
facial e na desaceleração dos movimentos, o que era corroborado por
eles nos Feed Back seguintes, quando diziam que os exercícios que mais
relaxavam e davam prazer eram os de fluidez.
Exercícios de fluidez
Seqüências de fluidez
Dança Livre de Fluidez
Foram muito bem aceitos e vivenciados até com prazer os
exercícios de dissolução de tensões, o que foi comprovadamente
observado com a diminuição do número de queixas psicossomáticas no
atendimento clínico e o aumento do interesse pela escola, observada em
várias conversas sobre a mesma, onde eles começaram a ver lados
positivos.
Exercícios de Dissolução de Tensões Crônicas
Movimentos segmentares
Interação Motora e Cenestésicas dos Três Centros
Respiração Abdominal
Respiração Dançante
Com o passar do tempo, nossos jovens alunos, começaram
espontaneamente a trocar abraços e beijos rápidos no rosto; o olhar
suave e receptivo substituiu o olhar crítico e julgador, a aceitação passou
a estar mais presente, o que nos estimulou a introduzir em nossas aulas a
integração afetivo motora.
Começava a se formar o vinculo afetivo entre eles. A
crescente e tão nova vivência de solidariedade em suas vidas era
expressa pela preocupação com a ausência dos colegas na aula e o
aumento do número de encontros fora do ambiente da aula de Biodanza.
À medida que eles entravam em contato com as suas
emoções verdadeiras e se permitiam vivenciá-las, mais autentica era sua
expressão no dia a dia.
Era notório, na escolha do par, quando propúnhamos
exercícios de eutonia, que o jovem que possuía um perfil “dominador”
escolhesse um companheiro que tivesse um perfil “submisso”. Com a
continuidade e a assiduidade nas aulas de Biodanza, o equilíbrio do tônus
muscular entre os pares, foi se intensificando e foram se estabelecendo
novas relações de comunicação entre eles.
Era chegado o momento de incentivá-los a aumentar o
contato e o cuidado consigo mesmo e na sua forma de expressá-los no
mundo. Para isso escolhemos alguns exercícios de Posições Geratrizes
do código I – Proteger a Vida e Valor. E o que percebemos foi uma
grande aceitação, por parte dos nossos alunos, que a cada aula
aumentavam sua capacidade de demonstrar o afeto incondicional por si
mesmo e pelos companheiros. Aumentava também a capacidade de se
proteger das desqualificações externas e internas e das ameaças
provenientes do meio em que vivem (drogas, AIDS).
Um momento em especial nos tocou profundamente, quando
do falecimento da mãe de uma de nossas alunas, o grupo foi
extremamente protetor, acolhedor e nutritivo, abrindo a possibilidade para
que esta jovem, pela primeira vez em sua vida, pudesse “chorar sem
medo”. O que mais uma vez veio nos provar o poder da Biodanza em
abrir opções de comunicação e libertar do medo de amar e viver a
verdadeira emoção do momento.
Exercícios de integração afetivo motora
Sincronização Rítmica
Sincronização Melódica
Danças de Eutonia
Leque Chinês
Exercícios de Expressividade
Exercícios de Contato Sensível
Vivendo em um contexto desumano, onde a “lei do mais
forte” predomina, é natural a dificuldade de aproximação.
Lentamente, cada qual em seu tempo e com sua própria
progressividade nas aulas de Biodanza, foi ousando demonstrar a
afetividade com abraços mais espontâneos, aumentando, assim, seu nível
de humanização.
A expressão da aceitação do outro e da receptividade,
demonstrada nos exercícios de encontro, ampliavam cada vez mais a
interação afetiva entre os jovens, que aos poucos aprendiam a conhecer
e respeitar tanto a si mesmo quanto aos amigos. E ainda mais, esse
respeito era levado, segundo eles próprios, para o cotidiano tanto familiar
quanto escolar, contribuindo com isso para o aumento da qualidade de
suas vidas; qualidade essa que era reforçada pela proteção recebida nas
rodas de embalo, onde o grupo demonstrava com clareza a
disponibilidade em proteger e ser protegido.
Exercícios de comunicação afetiva e comunhão
Todas as Formas de Encontro
Minuto de Eternidade
Roda e Grupo compacto de Embalo
Roda de Comunhão
Fluidez em Grupo com Contato Sensível
Após entrar em contato com sua grandiosidade, e de ser
capaz de utilizá-la e protege-la, ficou claro para nós, facilitadoras, que a
necessidade dos adolescentes era de harmonizar todas as sensações e
emoções vivenciadas na aula. Neste momento era imprescindível a
elevação da identidade, de uma forma suave, o que fazíamos e
continuamos a fazer com a roda de ativação progressiva e roda final.
Resultados Obtidos
O resultado desta pesquisa consta de nossa percepção com
relação ao grupo pesquisado, em que pudemos observar as mudanças
que os adolescentes apresentaram a cada aula, através dos movimentos
tanto nos exercícios quanto na vida pessoal e também pelos feed back.
 Sendo nosso trabalho direcionado a adolescentes que fazem parte de
um grupo de risco social e pessoal, esperamos que venha a servir
de incentivo para introdução da Biodanza nessas áreas tão
marcadas pela violência física e emocional, existente em grande
número em nossa sociedade e com isso possa contribuir para a
diminuição da mesma.
 Recebemos apoio e incentivo da Associação Escola de Biodanza
Rolando Toro do Rio de Janeiro para a realização deste trabalho
social.
 Levamos a Biodanza a uma comunidade extremamente carente,
possibilitando a substituição por valores pró-vida dos valores anti-
vida existentes.
 Mudanças claras foram observadas no comportamento dos
adolescentes. Uma delas é o desprezo pelo pensamento mágico que
“acho que nada vai acontecer comigo”, marcada pela maior
solicitação de preservativos e informações sobre DST / AIDS e maior
empenho na escola visando a aprovação.
 Outra mudança ocorrida foi a possibilidade de demonstrar
sensibilidade diante de outro ser humano, superando as mensagens
culturais recebidas, principalmente em função do sexo.
 A consolidação das mudanças do grupo foi realizada mediante a
proteção recebida. O continente afetivo trocado por todos fortaleceu
e continua a fortalecer, cada vez mais, a coragem de cada um deles
em reformular a dureza do contexto atual e dar uma nova direção à
realidade de suas vidas.
 Houve uma diminuição na procura pelo atendimento clínico como
conseqüência de uma melhora na auto-estima de cada um.
 Detectamos uma redução considerável no número de queixas relativas
ao comportamento desses adolescentes e um conseqüente aumento
do nível de aprendizagem.
 A relação familiar foi enriquecida com afeto, respeito e tolerância,
segundo o depoimento de alguns responsáveis que freqüentam
rotineiramente s UIS.
Depoimentos
Fazemos a seguir alguns comentários sobre os depoimentos
dos jovens:
 Embora na Biodanza não tenhamos como objetivo a busca do
relaxamento, observamos nos depoimentos uma constante
referência a este estado. Concluímos que dois fatores são
responsáveis por estes depoimentos, primeiro o constante estado de
alerta vividos pelos jovens na comunidade e segundo a pobreza do
vocabulário, para que possam abarcar a multiplicidade de
sentimentos vividos.
G.L. 16 anos:
R.M. 15 anos:
J.F. 15 anos:
A.C. 15 anos:
 O estilo de vida do jovem da “Cidade de Deus” os obriga a atuar
predominantemente no sistema simpático (tiroteios súbitos e
freqüentes, tráfico de drogas, inesperadas incursões policiais),
propiciando um desequilíbrio neurovegetativo, ocasionando doenças
como insônia, cefaléia de stress, baixa de imunidade, entre outros.
Através da Biodanza foi possível, para eles, restabelecer esse
equilíbrio perdido como o observado nos seguintes depoimentos:
J.S. 13 anos:
S.S. 15 anos:
M.B 12 anos:
L.C. 12 anos:
 Através do reforço da auto-estima e da integração da identidade, os
jovens começam a romper resistências, a perceber o que querem para
si mesmo e com isso a ter um sonho. Mais do que isso eles começam
a investir com determinação na busca desse sonho, o que verificamos
com o início de um diálogo familiar e com a aprovação escolar de
todos os jovens que freqüentaram assiduamente as aulas de
Biodanza. Cabendo destacar com satisfação, neste momento, a
aprovação de uma de nossas alunas no vestibular.
M.S. 14 anos:
G.L. 16 anos:
L.A. 17 anos:
 O aumento da vitalidade ficou claramente demonstrado para nós, pelo
aumento da alegria dos jovens, pelo entusiasmo que passaram a
demonstrar, ao relatarem os acontecimentos da semana.
M.C. 13 anos:
M.R. 15 anos:
M.B. 12 anos:
N.D. 17 anos:
J.S 12 anos:
L.O. 17 anos:
 Levando-se em conta a realidade de vida do grupo, observamos
adolescentes sendo capazes de dar a mão, de se olhar, de se
respeitar, de compreender e de proteger o outro, demonstrando,
assim, o aumento de seu afeto. O que nos leva a crer que a Biodanza
deu a essas pessoas uma nova oportunidade até então desconhecida,
sendo dessa forma uma semente plantada para possíveis frutos de
uma nova e amorosa vida.
L.A. 18 anos:
M. 15 anos:
CONCLUSÃO
Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde,
saúde significa bem-estar físico, psicológico e social.
Não bastam as declarações de intenção e as condições de
direito das populações, mas as condições de fato em que elas vivem. É
fácil elaborar utópicos planos de ação, difícil é colocá-los em prática. No
processo civilizatório, o que faz a diferença na saúde e no bem estar é a
persistente valorização da vida e do ser humano.
Observamos claramente que a Biodanza contribui para a
melhoria da qualidade de vida dos nossos jovens, produzindo
modificações estáveis do estilo de vida.
Os adolescentes são um contingente chave para qualquer
processo de transformação social e para que isso ocorra é preciso que ele
esteja de posse de sua autonomia, dando o tempo necessário para a
harmonização das transformações biopsicossociais pelas quais eles
passam, tendo a Biodanza como facilitadora do resgate de sua auto-
estima e autoconfiança.
A ausência do afeto vivida pelos nossos jovens impossibilita
a introjeção do mesmo, criando um vazio que eles preenchem das mais
diferentes maneiras com drogas, gravidez precoce, DST / AIDS,
violências e tantas outras. Através da Biodanza foi possível a esses
jovens o encontro com seu afeto e com a sua própria maneira de
demonstrá-lo, não precisando mais substitui-lo
Concluímos com esse trabalho que a Biodanza é um
instrumento eficaz de transformação biopsicossocial, que veio facilitar ao
adolescente mostrar-se autêntico, sensível e alegre, ser mais verdadeiro
consigo mesmo, criar e conduzir suas metas, entrar em contato com seu
próprio potencial, fazendo uso dele de forma responsável e segura, sendo
com isso autor de sua própria história. Entre nós e os nossos jovens, é
difícil dizer quem cresceu mais, quem aprendeu mais. Chegamos de
braços abertos para recebê-los, sem rótulos, sem julgamentos. Porém a
difícil realidade, algumas vezes, nos assustou. Houve momentos em que
pensamos em desistir, mas logo nossos alunos nos estimulavam a
continuar, mostrando a crescente satisfação encontrada nas descobertas
que faziam.
Conhecemos um mundo novo para nós, cheio de perigosos
convites, povoado de desprezo e marcado pela rejeição. Tivemos a
chance de mostrar a riqueza da vida humana, o prazer em dar um sorriso
acolhedor e incondicional. Conviver com essa fase da vida, que para
tantos é classificada de “aborrecente”, só nos leva a acreditar, cada vez
mais, que aborrecente são os que fecham os olhos, os ouvidos e o
coração para os jovens que tem a capacidade palpitante e inovadora de
criar soluções para a mesmice limitadoras de nossa cultura.
BIBLOGRAFIA
BABCOCK,D.E., KEEPERS,T.D – Pais OK Filhos OK, tradução
CARLI,L., Rio de Janeiro, Editora Artenova s. a.,1997
CAVALCANTE,R., WAGNER,C., AVALCANTE,M., REGINA, C.,
ARRAES,C., DIÓGENES, F. – Educação Biocêntrica,
Fortaleza, Edições CDH, 2001
CHIPKEVITCH,E. – Puberdade e Adolescência – Aspectos Biológicos,
Clínicos e Psicossociais, São Paulo, Editora Roca Ltda.,
1995
COATES, V.; FRANÇOSO,L.A.; BEZNOS,G.W. – Medicina do
Adolescente, São Paulo, Savier Editora de Livros Médicos
Ltda., 1993
COELHO,H. A., MATTOSO,M.D.Q. – Biodançando com Adolescentes,
Niterói, Projeto gráfico Editoração Eletrônica: Maria Duque,
1994
EISENSTEIN,E., SOUZA,R.P. – Situações de Risco à Saúde de
Crianças e Adolescentes, Petrópolis, Editora Vozes, 1993
GARCIA,C. – El Arte de Danzar La Vida: Santiago, Chile – 1ª edição
dezembro de 1998,
GRUPO DE TRABALHO E PESQUISA EM ORIENTAÇÃO SEXUAL –
ADOLESCÊNCIA VULNERABILIDADE, Projeto Trance esta
Rede, Ministério da Saúde
LEMOS,S. – Vivência de Transcendência, Espirito Santo, Semente
Editorial, 1996
LIMA,L.P., SOUZA,I.S., RIBEIRO,J.A., GADIG,J.M., PELEGRINI,A. –
Prática de Psicologia Moderna, São Paulo, Honor Editorial
Ltda., 6ª edição, 1973
MAAKROUN,M.F.; SOUZA,R.P.; CRUZ,A.R. – Tratado de Adolescência
– um estudo multidisciplinar, Rio de Janeiro, Editora Cultura
Médica, 1991
MONTEIRO,D.L.M.; CUNHA,A.A.; BASTOS,A.C. – Gravidez na
Adolescência, Rio de Janeiro, Livraria e Editora Revinter Ltda.,
1998
TORO,R.A. – Biodanza. São Paulo, Editora Olavobrás / EPB, 2002
___________ Material didático do curso de Formação Docente em
Biodanza
PINTO,L.N. e BOTELHO,P.C.T. – Monografia Implantação de Biodanza
para Adolescentes & Pais de Adolescentes em Instituição
de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2000.
SAITO,M.I. – Adolescência, sexualidade e educação sexual, Revista
Pediatria Moderna, São Paulo, Grupo Editorial Moreira JR.,
2001
TRANCOSO,A.R. e OLIVEIRA,L.P. – Monografia Biodanza:
Instrumento de Transformação Social, Rio de Janeiro, 2003.
ANEXO I
ANEXO II
ANEXO III
Biodanza para adolescentes
Biodanza para adolescentes
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Biodanza para adolescentes
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Biodanza para adolescentes

  • 1. Sistema Rolando Toro International Biocentric Foundation Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro DE FRENTE PARA VIDA Uma experiência em Biodanza com adolescentes Irene Guida Fagim Véra Lúcia Botelho Demétrio Monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção do título de facilitador de Biodanza Orientador : Antonio José Sarpe International Biocentric Foundation Reg. SP n.º 8515
  • 2. Monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, e aprovada pela comissão julgadora, formada pelos didatas: _______________________________ Antonio José Sarpe Orientador International Biocentric Foundation Reg. SP n.º 8515 ______________________________ Gladys Trindade de Araújo Facilitadora Didata International Biocentric Foundation Reg. RJ n.º 9719 ______________________________ Verônica Swalf Facilitadora Didata International Biocentric Foundation Reg.RJ nº9406 Visto e permitido a impressão Rio de Janeiro,25 de fevereiro de 2005 _____________________________ Antonio José Sarpe Diretor da Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro International Biocentric Foundation Reg. SP n.º 8515
  • 3. ADOLESCENTE O desabrochar da adolescência, à semelhança do que ocorre com o botão de rosa que se abre ante a carícia do Sol, desvela-lhe a intimidade que se encontra adormecida, e desperta, suavemente, aspirando a vida, exteriorizando aroma e oferecendo pólen para a fertilização e ressurgimento em novas e maravilhosas expressões. JOANNA DE ÂNGELIS
  • 4. DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho a todos os adolescentes, pela sua irreverência criadora, potencialmente capaz de mudar o rumo da história e de transformar o mundo num lugar melhor e mais alegre para se viver.
  • 5. AGRADECIMENTOS Aos nossos pais, que nos deram o mais importante: a VIDA; sem a qual nada existiria. Ao meu companheiro e amigo, Fagim, quem me indicou e estimulou carinhosamente nos primeiros passos do caminho da Biodanza. Aos nossos filhos Maíra, Fernanda, Rodrigo e Juliana que nos facilitam com afeto, incentivo, compreensão e exemplos. Ao meu irmão, Paulo César e minha amiga Licia, pelo incentivo e por terem visto em mim um brilho que, mesmo eu, já julgava extinto. A Antonio Sarpe, amigo especial, que marcou com sua presença e incansável qualificação o nosso trabalho e a nós mesmas. A Rolando Toro, pela sua criação, que possibilita à humanidade uma melhor qualidade de vida, resgatando o prazer e a alegria de viver. Aos nossos amigos e facilitadores Paulo e Licia, que, com seu estímulo, determinação e proteção incansáveis, nos facilitaram teórica, prática, vivencial e afetivamente. À minha primeira facilitadora Maria Adela, pela presença firme e afetuosa com que me conduziu no início da Biodanza. Ao meu primeiro facilitador, Alberto Tavares (in memoriam), quem me apresentou à Biodanza, abrindo as portas a uma nova forma de ver a vida. À SMS / UIS Hamilton Land, pela oportunidade e confiança que nos foi creditada. À Gladys, pela sua atenção e disponibilidade em nos transmitir, com muito afeto, seu conhecimento. Aos nossos alunos pela confiança, troca de afeto e aprendizagem e pela grande oportunidade de reacender em nós a fé na humanidade. Aos nossos amigos, que participaram conosco, na Escola de Formação e nos grupos regulares.
  • 6. APRESENTAÇÃO Nossa larga experiência e convívio com o adolescente em nossos diferentes campos profissionais e as diversas e longas conversas que tivemos a respeito deles, nos mostraram as coincidências das dificuldades em seus aspectos emocional, intelectual, orgânico e social, tanto na saúde quanto na educação. Esta constatação, aliada à consolidação de uma grande amizade, nos levou à idéia de unirmos nossas forças e esperanças à Biodanza e direciona-las em auxílio do adolescente. A difícil relação familiar, em alguns casos ausente, a repressão cultural e as mudanças pessoais provocam nos adolescentes conflitos relacionais identificados nas escolas e a sucessão desses conflitos provoca conseqüências orgânicas, detectadas nos consultórios médicas. Para um melhor entendimento deste estudo, está o mesmo dividido em quatro capítulos. O Capitulo I trata do desenvolvimento do adolescente, em seus aspectos físico, emocional e social. O Capitulo II cuida das características do adolescente e a autopercepção a partir do questionamento: o que é ser adolescente, como eu me vejo, o que eu quero para mim. No Capitulo III explica-se a aplicação da Biodanza, como instrumento de facilitação da integração bio-psicossocial do adolescente. No Capitulo IV explica-se a metodologia utilizada na organização e na dinâmica do grupo foco deste estudo, bem como os resultados obtidos. A conclusão refere-se ao que se observou junto aos adolescentes, em termos de desempenho afetivo, educacional e profissional.
  • 7. RESUMO O estudo objetivou a integração da identidade do adolescente com suas mudanças a nível corporal, emocional, psicológica e social. Quanto aos fins da metodologia, esta foi de caráter explicativo, buscando-se justificar os motivos da pulsação comuns na fase da adolescência em que o jovem, a nível existencial, ora está seguro, ora inseguro. Quanto aos meios buscou-se o estudo sistematizado, tendo como referenciais cientistas sociais, médicos, psicólogos, filósofos, procedimento tal que ajudou a atingir o fim para o qual a pesquisa se propôs. A investigação documental foi feita utilizando-se prontuários médicos, aos quais teve acesso uma das autoras deste estudo, por ser credenciada como médica. Ainda nesse contexto é relevante a contribuição dos alunos, através de seus depoimentos e ainda das anotações da presente pesquisa. As observações e reflexões sobre o efeito da Biodanza como instrumento de ação profilática, integrando a educação e a saúde levaram a conclusão da inevitável integração entre saúde e educação.
  • 8. ABSTRACT The research has objectified the teenagers’ identity integration with his/ her changes concerning physical, emotional, psycological and social. Talking about methodology, this was an explanatory character, trying to justify the common pulsation reasons at the teens phase when the young, in an existential level, first he/she is absolutely sure, then he/she feels totally insecure. Talking about means, it has searched for the systematize study, having social scientists, physicians, psychologists and philosophers as reference. This procedure helped to reach the aim that this research has set. The documental investigation was done utilizing medical notes, which one of the researchers had access as she is qualified as a doctor. Up to this context, it is relevant the students’ contribution through their statements and notes on this research. The observations and reflexions about the Biodance effect as a tool of profilatic action, making up education and health, took the conclusion of the inevitable health and education integration.
  • 9. SUMÁRIO INTRODUÇÃO – o problema............................................................1 Objetivo.............................................................................................3 Delimitação do estudo......................................................................3 Relevância do estudo.......................................................................3 Definição dos termos........................................................................4 CAPITULO I Desenvolvimento do adolescente..............................................5 / 13 CAPITULO II Características do adolescente................................................14 / 20 CAPITULO III Princípio Biocêntrico.......................................................................21 Educação Biocêntrica.....................................................................23 Biodanza – Ação mediadora...................................................24 / 40 CAPITULO IV Metodologia....................................................................................41 Organização e formação do grupo.................................................42 Dinâmica do grupo...................................................................43 / 50 Resultados obtidos.........................................................................50 Depoimentos............................................................................51 / 55 CONCLUSÃO.................................................................................56 BIBLIOGRAFIA...............................................................................58 ANEXOS: I – Visão do adolescente sobre si mesmo II – Questionário III – Fotos
  • 10. INTRODUÇÃO Ao longo de nossa formação em Biodanza, um ponto em comum nos atraiu e convidou cada vez mais a nos aproximarmos – O ADOLESCENTE. Essa pessoa tão cheia de dúvidas e certezas, que passa por mudanças extremamente abrangentes, tanto a nível físico quanto a nível emocional e social. Essa pessoa que clama com veemência por respostas a perguntas que ainda não ousou formular, e que ao mesmo tempo é capaz de ensinar tantas verdades que poderiam provocar uma reviravolta no processo civilizatório, caso não fossem sufocadas por esse mesmo processo. Uma boa parte dos problemas dos adolescentes decorre de uma saudável tentativa de adaptação a uma sociedade complexa e repleta de incongruências. Com sua natural inclinação para a saúde, os jovens insistem na reciclagem de certos tópicos até que cheguem a solucionar os pontos insatisfatórios. Insistem também em variar os seus temas até que tenham alargado a sua experiência a um nível satisfatório, explorando os limites de sua capacidade. Pelo fato de trabalharmos com comunidades que dispõem de uma gama menor de possibilidades para o seu crescimento, pudemos detectar um número muito grande de dificuldades na esfera da educação com conseqüências inevitáveis na saúde e vice versa. A grande procura de atendimento nos ambulatórios do serviço de saúde pública é de adolescentes de classes menos favorecidas, que além das dificuldades sócio–econômicas apresentam distúrbios no crescimento e desenvolvimento, comprometimento da dinâmica familiar decorrente de uma “miséria afetiva”, o uso de drogas
  • 11. como busca de prazer e fuga da realidade, a gravidez precoce como falta de perspectiva de vida, compensação de insatisfações e tristezas e uma busca “mágica” de um objeto de amor, as DST (doenças sexualmente transmissíveis) como forma de desproteção, baixa auto estima e desvalorização da vida. Por outro lado, um sem número de adolescentes é encaminhado aos serviços de saúde pública a fim de sanar dificuldades detectadas nas escolas como distúrbios na aprendizagem, decorrentes de carências alimentares, afetivas e emocionais, transtornos comportamentais (agressividade, intolerância, destrutividade) como conseqüência da falta de valorização pessoal, distorções de valores humanos como o uso da força para atingir seus “objetivos”, resultado de um contexto existencial sofrido e de uma realidade social onde impera a “lei do mais forte”. Toda essa consonância de sentimentos e pensamentos nos motivou a optar pelo trabalho na esfera social, que é sem dúvida alguma de uma enorme gratificação, por outro lado tivemos a possibilidade de repensar o nosso lugar no mundo, tanto pessoal como profissionalmente. Escolhemos a Unidade Integrada de Saúde Hamilton Land, para fazer a união entre a saúde e a educação, pois é o local de atuação da Dr. ª Irene com adolescentes, ha longo tempo e é também uma unidade Municipal, o que possibilita a presença da Profª. Véra (que atua na rede Municipal de Educação), Desta união resultou o crescimento do adolescente, através de uma maior integração e da recuperação de sua saúde mediante a retomada da sacralidade da vida, o que mais uma vez confirma que o Sistema Biodanza é interdisciplinar e está centrado na identidade. Daí por que julgamos oportuna, a formulação da seguinte pergunta: - Até que ponto a Biodanza pode facilitar o processo de mudança biopsicossocial do adolescente? A resposta a tal pergunta está delineada no desenvolvimento deste trabalho.
  • 12. Objetivo Integrar a identidade do adolescente com suas mudanças a nível corporal, emocional, psicológica e social, ampliando seus horizontes, aumentando as suas possibilidades de escolha e favorecendo o seu prazer de viver. Delimitação do estudo Considerando o universo da adolescência, e as iniciativas sociais já direcionadas ao seu desenvolvimento, o estudo toma como referência, um grupo de adolescentes da Cidade de Deus, bairro da Zona Oeste do Estado do Rio de Janeiro, na faixa etária de 12 a 17 anos, que freqüenta o ambulatório de atendimento clínico e grupos educativos- informativos, da Unidade Integrada de Saúde Hamilton Land, desde abril de 2003, até a presente data. Relevância do estudo É na adolescência, mais do que em qualquer outra época, que o indivíduo se coloca questões existenciais. A formação da identidade é a principal tarefa do adolescente, mesmo que de forma inconsciente, uma vez que ele não se apercebe da mesma. Adquirir um forte senso de individualidade perceber- se diferente e de certa forma, independente dos demais. Sendo o movimento expressivo, uma manifestação profunda da identidade, a Biodanza pode ser o instrumento apropriado para induzir modificações positivas no adolescente. Na aventura de conectar com a sua própria identidade, o adolescente pode eleger caminhos que o põe em risco como: a droga, a delinqüência, a gravidez precoce, a prostituição, a desocupação, entre outros. Considerando que a Biodanza atua contra toda forma de alienação do ser humano, é de relevância, um estudo que venha reeducar afetivamente os adolescentes e estimular sua capacidade criadora, abrindo assim novos horizontes para a escolha de uma vida mais plena.
  • 13. Definição de termos Alquimia – a química da idade média e da renascença, que procurava, sobretudo, descobrir a pedra filosofal, fórmula secreta para transformar os metais em ouro. Antropocêntrico – que considera o homem como centro ou a medida do Universo. que concebe o Universo em termos de experiência ou valores humanos. Atenção primária – atendimento de atividades básicas (a nível ambulatorial Cenestesia – sentimento difuso resultante de um conjunto de sensações internas ou orgânicas. Feed back – retorno de informação, propiciando um diálogo. Filogênese – é a história evolucionária da espécie. Menarca – primeira menstruação. Ontogenia – é o desenvolvimento individual do ser vivo. Puberdade – conjunto das transformações psicofisiológicas ligadas à maturação sexual que traduzem a passagem progressiva da infância à adolescência. Semenarca – primeira ejaculação.
  • 14. CAPÌTULO I Desenvolvimento do Adolescente A adolescência tem sido definida como um período de transição entre a infância e a vida adulta. Este período é marcado por um importante crescimento e desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, moral e social. O rápido e intenso crescimento físico, que caracteriza o estirão da puberdade, num certo sentido, é análogo ao processo de modificações psicossociais. A adolescência é a vida que pulsa, energia explícita, revelação da intensidade do ser. Esta fase busca sua inserção no mundo, num tempo presente, fazendo com que cada gesto, pensamento e ação sejam revelados no aqui e agora. A adolescência é um estágio especifico e necessário de desenvolvimento psicossocial, tão importante quanto a primeira infância. Conflitos psicoafetivos da infância podem ser superados nesta fase com mais facilidade do que na vida adulta. Outrossim, os conflitos não resolvidos durante a adolescência podem se perpetuar no comportamento, marcando toda a vida do indivíduo. Desenvolvimento físico e mudanças do esquema corporal A puberdade inaugura biologicamente a adolescência. O desenvolvimento dos caracteres sexuais primários e secundários e o notável crescimento somático pressagiam o destino do corpo infantil em sua inevitável metamorfose. Paralelamente ao aumento das gonadotrofinas, dos esteróides sexuais e do hormônio de crescimento, ocorre neste período o
  • 15. crescimento de todos os órgãos, num rápido aumento de tamanho e dos segmentos corporais, marcando uma característica universal da adolescência, onde 50% do peso e 20 % da estatura definitiva são nesta fase. Os primeiros fenômenos físicos da puberdade (como o aparecimento dos caracteres sexuais secundários) têm seu início somente algum tempo após ocorrerem às primeiras modificações hormonais. Estas modificações dizem respeito ao eixo Ht-Hf-Gn e seus respectivos hormônios. Sendo preciso que este eixo passe por um longo caminho de maturação, antes que a secreção dos hormônios sexuais pelas gônadas estimuladas atinja o nível critico capaz de produzir, nos órgãos, mudanças que representarão os primeiros fenômenos físicos da puberdade. O funcionamento do eixo Ht-Hf-Gn não é fenômeno novo, que se inicia na puberdade, mas um processo que está em atividade desde a vida fetal do indivíduo. Mantido em níveis baixos de funcionamento durante a infância, ele é apenas reativado na puberdade. A secreção dos hormônios do eixo Ht-Hf-Gn não ocorre de maneira continua, mas é liberada "em ondas", ou picos, a pequenos intervalos de tempo, sendo por isso chamada de secreção pulsátil. O mecanismo endócrino do crescimento é comandado pelo hipotálamo, na base do cérebro, de cujo córtex recebe os estímulos para produzir os fatores liberadores do hormônio do crescimento (HC). O HC é sintetizado na glândula hipófise, intimamente ligada ao hipotálamo. Na adolescência (10 aos 20 anos), ocorre a puberdade, período de crescimento físico importante (com típicas aceleração e desaceleração do crescimento), maturação sexual (desenvolvimento de caracteres sexuais) e outras mudanças corporais. No sexo feminino o primeiro sinal de puberdade é o broto mamário, seguido do desenvolvimento de pêlos pubianos. A menarca (1ª menstruação) deve ocorrer aproximadamente dois anos após o início do desenvolvimento puberal, geralmente em torno dos doze e meio anos de idade. A idade da menarca está relacionada a fatores genéticos (menarca
  • 16. da mãe e maturação sexual) e a fatores ambientais (estado nutricional e estimulação ambiental). No sexo masculino o desenvolvimento sexual é mais tardio, iniciando com o aumento do volume testicular, aos 13 ou 14 anos e aparecimento de pêlos pubianos. Concomitantemente ou logo a seguir ocorre o aumento do pênis em tamanho e espessura, culminando na maturação sexual completa com a semenarca (1ª ejaculação) em torno dos 15 anos de idade. Fatores que influenciam a puberdade As diversas características da puberdade de cada indivíduo retratam a interação da sua herança genética com as influencias exercidas pelo ambiente. Não só o "plano genético" de cada um é diferente, mas também a suscetibilidade individual às influencias ambientais é muito variável: indivíduos submetidos a uma mesma privação podem mostrar graus muito diferentes de comprometimento (Marshall, 1977), o que pode ser perfeitamente compreendido pela clara percepção de que a identidade de cada um é singular e única. Na prática, freqüentemente torna-se difícil isolar a influencia dos determinantes genéticos da dos ambientais, e mais difícil ainda analisar a influencia especifica de inúmeros fatores ambientais diferentes, tais como nível socioeconômico, nutrição, características psicossociais, etc., pois eles interagem entre si de maneira complexa e variável. Fatores genéticos A força do determinismo genético é de conhecimento geral. Um indivíduo ao nascer, já vem com seu potencial genético altamente diferenciado. Em condições ambientais favoráveis, o potencial genético pode se expressar com maior facilidade, mas em condições mínimas encontra maior dificuldade. Os potenciais genéticos no adolescente estão em desenvolvimento, esperando por cofatores e ecofatores que facilitam sua realização a favor da saúde, da integridade e da eficiência. Como nos diz
  • 17. Rolando Toro, “eles se manifestam através das estruturas funcionais dos instintos, vivências, emoções e sentimentos.” Fatores étnicos e raciais Indivíduos de diferentes povos e raças podem apresentar diferenças na configuração corpórea Acredita-se que fatores ambientais (como estado nutricional e o nível socioeconômico), assim como as heranças genéticas familiares, exerçam influencia decisiva no padrão de crescimento e desenvolvimento do adolescente. Estado nutricional A nutrição e a estimulação biopsicossocial adequada são requisitos muito importantes para a realização plena do "plano genético", interferindo diretamente no crescimento e desenvolvimento do adolescente. Nível sócio-econômico A qualidade de vida de um adolescente depende em grande parte da renda familiar, sendo esta um ecofator que influencia, em menor ou maior grau, o crescimento e desenvolvimento do adolescente. Doenças Doenças crônicas ou recorrentes podem inibir crescimento e retardar a puberdade. Fatores psicossociais Dentro da estimulação biopsicossocial, podemos destacar a importância da dinâmica familiar para o crescimento físico e desenvolvimento psico-afetivo e intelectual do adolescente.
  • 18. Desenvolvimento cognitivo A exemplo do estirão puberal, a adolescência é marcada pelo "estirão cognitivo", um conjunto de importantes transformações quantitativas e qualitativas da estrutura do pensamento, que modificam sensivelmente a representação que o adolescente faz de si e do mundo. Assim como o processo puberal repercute intensamente na vida psicossocial e requer uma reelaboração da imagem corporal, também as modificações cognitivas se refletem profundamente na emotividade do adolescente, exigindo sua adaptação ao novo modo de pensar. Desenvolvimento emocional O ser humano nasce extremamente frágil. Durante os primeiros anos de vida vai, gradativamente, organizando suas impressões no mundo, em conformidade com as referências que o cercam. Sua organização dependerá, em parte dos seus potenciais pessoais, mas também de como seja cuidado, importando-lhe saber-se querido e apoiado. Estas bases permitem que ele se (re) conheça como sujeito social. A tendência a buscar estas referências em algum lugar seja na família, nas instituições escolares ou na rua, são evidências da necessidade de viver com os outros. Desta forma, nós, seres humanos, estamos expostos aos valores educativos daqueles que, com poder de adultos, nos indicam vias de facilitação para nossa formação como indivíduos. Na adolescência, o grupo de iguais, o exercício da sexualidade, o direcionamento mais efetivo dos afetos intermediam o processo de definição da identidade e a inserção social. A vida emocional adquire uma grande intensidade e um colorido especial durante a adolescência. Talvez em nenhum outro período de vida as emoções são experimentadas com tanta veemência, sensibilidade e contradição, como na adolescência. Para alguns psicanalistas (Aberastury & Knobel), a experiência emocional da adolescência estaria marcada pelo luto. A perda do corpo infantil, da identidade infantil e dos pais da infância levaria a um
  • 19. processo de luto e sua elaboração. Este processo seria caracterizado por depressão, inúmeros mecanismos de defesa e características emocionais e comportamentais que constituiriam a chamada síndrome normal da adolescência. Julgamos oportuno a citação de Aberastury: “As mudanças biológicas que têm lugar na adolescência produzem grande ansiedade e preocupação ao adolescente, de assistir passiva e impotentemente às mesmas. A tentativa de negar a perda do corpo e do papel infantil, especialmente, provoca modificações no esquema corporal que se tenta negar na elaboração dos processos de luto da adolescência.” 1 A ansiedade típica da adolescência seria, na visão psicanalítica de Freud, decorrente da eclosão puberal e intensificação das pulsões libidinais. Em todas as culturas, é na adolescência que surgem importantes diferenças entre os sexos, na qualidade e expressão de sentimentos. Nas sociedades ocidentais industrializadas, por exemplo, as mulheres mostram maior propensão a comunicar seus sentimentos e maior sensibilidade à expressão não verbal do que os homens. Observações de grupos de adolescentes revelaram que os meninos tendem a se afastar fisicamente dos colegas e a evitar o contato olho no olho durante a conversação, enquanto as meninas mantêm o contato visual e ficam mais próximas umas das outras. Rapazes utilizam mais estratégias para evitar o contato e/ou a expressão de sentimentos: brincam, disfarçam, negam ou atuam. Ao mesmo tempo em que se tornam mais sensíveis e emotivos, os adolescentes, particularmente os rapazes, mostram bastante dificuldade em reconhecer, nomear, comunicar seus sentimentos. A conduta do adolescente é dominada pela ação e, muitas vezes, parece agir mais do que pensar, ou antes, de pensar. A ação se torna o modo mais característico de expressão do adolescente. 1 ABERASTURY, apud MONTEIRO, D.L.M., CUNHA, A. A; BASTOS, A.C. Gravidez na Adolescência: Rio de Janeiro, Livraria e Editora Revinter Ltda., 1998, página 15.
  • 20. O humor e o comportamento do adolescente são marcados pela instabilidade, imprevisibilidade e contradições sucessivas. Experimenta diferentes papeis, assumindo identidades transitórias. Muitas vezes irrita adultos pela inconstância e incoerência. Ao mesmo tempo em que se mostra excessivamente autoindulgente, e extremamente sensível a criticas, é capaz de se autodepreciar desmedidamente. O turbilhão interno do adolescente se traduz em uma desorganização externa. A famosa "bagunça do quarto" é um reflexo da desordem interna do adolescente. A noção do tempo parece estar deturpada na adolescência. Adolescentes estão predominantemente centrados no presente. Freqüentemente têm dificuldade em lembrar do seu passado, em situar o seu comportamento atual numa historia pessoal coerente, em se aperceber das mudanças. A veemência apaixonada com que vive o "aqui e agora" deixa pouco espaço para reflexões com elementos da experiência passada. Desenvolvimento social Adolescente na Antigüidade. Embora somente no século XX a adolescência tenha sido reconhecida e estudada como um período especifico do desenvolvimento humano, referencias a esta fase de vida e interesse pelas particularidades e problemas dos jovens, datam, pelo menos, da Antigüidade egípcia e greco-romana. Senão vejamos: Aristóteles – "... Os jovens são apaixonados, irascíveis e tendem a se deixar levar por seus impulsos, particularmente os sexuais, e neste sentido não conhecem a continência. Também são volúveis, e seus desejos inconstantes, alem de transitórios e veementes. Levam tudo ao extremo, seja amor, ódio ou qualquer outra coisa. Acham que sabem de tudo..." 2 2 ARISTÓTELES, apud. CHIPKEVITCH, E. Puberdade e Adolescência: São Paulo, Editora Roca Ltda., 1995.página 112
  • 21. Sócrates – “... Os nossos jovens parecem amar o luxo. Têm maus modos e desdenham a autoridade. Desrespeitam adultos, e gastam seu tempo vadiando por ai, tagarelando uns com os outros. Estão sempre prontos a contradizer seus pais, monopolizam a atenção em conversas, comem insaciavelmente, e tiranizam seus mestres..." 3 Teorias modernas da adolescência Sobre elas também se manifestam: Sigmund Freud escreveu pouco sobre a adolescência. Para ele, conflitos e fixações libidinais durante os estágios de sexualidade infantil (oral, anal e fálico) determinam, em grande parte, o desenvolvimento adolescente e adulto. A puberdade é marcada pelo ressurgimento, após vários anos de latência, da energia libidinal, que assume a forma adulta (genital e heterossexual) de sexualidade. Para Anna Freud, a turbulência do período adolescente é devida à intensidade do impulso sexual que acompanha a maturação puberal. Para Erik Erikson, a elaboração da identidade era tarefa central no processo evolutivo. A aquisição da identidade do ego é a principal tarefa evolutiva do adolescente, que se defronta com a confusão de papéis. Para Arminda Aberastury e Maurício Knobel, a síndrome da adolescência normal nada mais é que um conjunto de características evolutivas da adolescência bastante conhecidas, que marcam a turbulência deste período de vida. Influenciados pelos conceitos de luto da psicanálise européia, Aberastury e Knobel enfatizam as diversas perdas (do corpo, da bissexualidade e da identidade infantil, e dos pais da infância) que o adolescente tem que elaborar, e o luto que acompanharia este processo. Jean Piaget, também chamada de epistemologia genética, permitiu compreender as modificações do pensamento que ocorrem 3 SÓCRATES, op.cit. página 112
  • 22. durante a adolescência, e suas repercussões no comportamento, identidade, moralidade, relações sociais, etc.
  • 23. ADOLESCENTE CAPÍTULO II Características da adolescência Fatores que influenciam com maior freqüência no comportamento do Adolescente Modelo de Rolando Toro4 4 TORO, R.A. Educação Biocêntrica, Apostila Curso de Formação Docente de Biodanza página 46. Necessidade de expressão da emoção e da criatividade Busca de significação em grupos de referência Necessidade de pertencer Transformação do esquema corporal (Problemas com auto- imagem) Necessidade sexual Aparição de impulsos e intensas sensações eróticas Programação escolar e novos interesses e motivação (Autogestão) Crise de identidade Sentimentos de inferioridade Insegurança Necessidade de auto-afirmação Conflitos derivados da dependência da família. Necessidade de Autonomia
  • 24. O organismo do adolescente, em franca expansão, sofre mudanças bioquímicas, endócrinas, psicológicas, vivencia alterações muito intensas e freqüentes. A cada estímulo uma resposta nova; ainda está em aberto toda a organização do ser. Ele passa por intensas oscilações de identidade, que vão desde o anseio pela liberdade até a necessidade da dependência familiar. Transformação do esquema corporal Não se pode falar na adolescência sem falar do corpo. Nunca, durante a vida pós-natal do indivíduo, o corpo sofre modificações tão rápidas e profundas como na puberdade, nem adquire significado tão rico, especial e potencialmente conflituoso, como nesta fase da vida. Todo o processo de individuação do adolescente passa pelo conhecimento e adaptação ao próprio corpo, um corpo diferente de todos os outros, mas também diferente, hoje, do que foi ontem. A consolidação da identidade pessoal também inclui a elaboração de uma imagem corporal consistente e estável. Todos nós temos uma auto-imagem do nosso próprio corpo, um conceito mental, mais real ou menos real, de como somos fisicamente, o que aparentamos e como os outros nos vêem. Um dos principais aspectos da puberdade é a magnitude e a rapidez das transformações que a caracterizam. Todo auto-conhecimento, e também auto - imagem corporal necessita de tempo. Tempo para se olhar, tempo para se sentir. A experiência de ver seu corpo mudando rapidamente sem o menor controle da sua parte, gera com freqüência no adolescente um sentimento de impotência e de passividade. Alguns adolescentes, principalmente em fase de estirão do crescimento, sentem-se esquisitos, "tortos", desproporcionais, perdendo o controle e o sentido dos próprios movimentos. Muitos adolescentes tentam exercer controle sobre seu corpo em mutação. Mudam de penteado, fazem tratamento de espinhas, regimes para emagrecer ou para engordar, dedicam-se à musculação para aumentar sua força muscular, entram para academias de dança e de
  • 25. ginástica, procuram cirurgias plásticas para os seios, orelhas, nariz, usam roupas para ressaltar ou ocultar partes do corpo etc. Outro aspecto que não se pode esquecer é a influencia do corpo idealizado na elaboração da auto - imagem corporal e na auto- estima corporal do adolescente. Todo adolescente tem em mente o corpo que gostaria de ter. Quanto mais este corpo se distanciar do seu corpo real, maiores serão as possibilidades de conflito, resultando em depressão, isolamento social e tentativa de controle. O adolescente de hoje vive numa sociedade de consumo, bombardeado por uma infinidade de imagens, conceitos e informações cuja função, entre outras, é fazer dele um consumidor. Ele é por natureza questionador da sua própria normalidade, é muito sensível e receptivo a esta normalização social, e compara-se constantemente com modelos idealizados. Crise de identidade Crise é toda situação de mudança biológica, psicológica ou social, que exige da pessoa ou do grupo um esforço suplementar para manter o equilíbrio. Daí resulta um aumento da vulnerabilidade, podendo a pessoa evoluir para uma perturbação a nível afetivo ou de aprendizagem. É na adolescência, mais do que em qualquer outra época, que o indivíduo se coloca questões existenciais. A formação da identidade é a principal tarefa do adolescente. Isso significa, adquirir um forte senso de individualidade, perceber-se diferente e, de certa forma, independente de todos os demais. O senso de identidade também exige um senso de unidade, a estabilidade de um padrão próprio de necessidades, motivações e respostas no decorrer do tempo. O início do contato com a identidade profunda ocorre na adolescência causando um sentimento de insegurança diante do ambiente que em geral lhe é hostil. Devido às grandes mudanças que sofre o adolescente, ele se imbui de uma suposta onipotência que vai lhe permitir enfrentar os
  • 26. medos diante do desconhecido, as incertezas, o descontrole sobre as transformações físicas pelas quais passa; assim ancorado, ele enfrenta o mundo e tem o controle de tudo, nada lhe acontece, só aos outros. É uma necessidade de segurança. Ele se escora na fantasia para suportar a realidade. Ele é o TODO PODEROSO. Busca de significação em grupos de referência. Amizades podem ser especialmente intensas na adolescência e para muitos adultos as reminiscências destas amizades têm uma qualidade que parece irrecuperável na maturidade. A necessidade de ter amigos e de pertencer a um grupo é particularmente aguda na adolescência. O grupo cumpre importantes funções para o desenvolvimento psicossocial. Aqueles que não conseguem ter amizades verdadeiras e vínculos podem apresentar dificuldades na socialização, com repercussões na sua vida adulta. As amizades e o grupo oferecem um espaço privilegiado para a troca de idéias, sentimentos e experiências. É um espaço em que todos se parecem, na sua procura de si mesmos, nas angustias, na sua recusa dos valores adultos. O grupo oferece segurança emocional, compreensão, suporte, encorajamento, incentiva o desenvolvimento de diversos papeis e habilidades sociais, de qualidades como sensibilidade, reciprocidade e cooperação. O convívio com o grupo também permite ao adolescente dar vazão aos impulsos sexuais e agressivos, facilitando o seu desligamento emocional das figuras parentais, e certamente influencia muito no seu comportamento. A aceitação pelo grupo se torna a aspiração inquietante para todo adolescente. Encontra-se reforço desta explicação, através de Rolando, que assim se manifesta. “As primeiras noções que se têm do próprio corpo e as primeiras noções de ser diferente geram a consciência de si mesmo e a capacidade de vínculo com os demais.” 5 5 TORO, R.A., Educação Biocêntrica, apostila do Curso de Formação Docente de Biodanza, página 45
  • 27. Conflitos derivados da dependência da família. Em nossa sociedade, o período da adolescência está quase sempre marcado por algum grau de turbulência nas relações entre pais e filhos. A conquista da independência e a elaboração da identidade pessoal são tarefas básicas da adolescência, e ambas exigem certo afastamento emocional dos pais. Uma boa parte do interesse e do afeto antes dedicado aos pais será agora dirigida aos amigos e à namorada (o). O adolescente começa a examinar outros modelos de relacionamentos entre pais e filhos, a levar em conta outros conceitos e valores, a comparar a personalidade e as atitudes dos seus pais com as de outros adultos. O relacionamento dos adolescentes com os pais é marcado por sentimentos e atitudes ambivalentes. Ao mesmo tempo em que reclamam a sua autonomia e exigem direitos, dependem profundamente dos pais e temem a responsabilidade. Revoltam-se contra eles, embora os amem. O luto pela perda da infância, com sentimentos associados de angustia, depressão e culpa acompanharia inevitavelmente o processo de independentizacao das figuras parentais e de elaboração da identidade do adolescente. Programação escolar A educação é muito mais que a formação intelectual e tecnológica, como ainda hoje é pautada. Sem desprezar a formação é preciso estimular os potenciais genéticos que constituem a estrutura básica da identidade. A orientação metodológica deve nortear-se rumo a uma conecção autentica com a vida. O comportamento contraditório do adolescente e seu constante questionamento das regras opressoras gritam por novas formas de expressão, onde seu aprendizado possa fundamentar-se a partir de seus próprios questionamentos e necessidades, utilizando para isso o terreno fértil dos anseios do adolescente que está pronto para ser arado
  • 28. por uma educação pautada na afetividade, na percepção de si mesmo, da constatação da sacralidade da vida e do prazer de viver. Incentivar seus interesses, motivá-los a acreditar na sua própria capacidade de aprender com suas experiências, reformular os conceitos educacionais e direcioná-los a uma nova e possível vida, significa proporcionar ao adolescente possibilidades de conhecer-se e integrar-se, que inevitavelmente facilitarão sua expressão no mundo baseada em sua própria capacidade. Necessidade de expressão O risco e a vulnerabilidade estão muito ligados às características próprias do desenvolvimento psicoemocional desta fase da vida. A busca de identidade leva ao questionamento dos padrões adultos e, portanto, da autoridade de pais, professores. A exposição ao novo funciona como um grande desafio vinculado à onipotência do adolescente que se julga sempre vencedor; por outro lado a timidez e a baixa auto- estima podem torná-lo potencialmente frágil, levando-o à vinculação com soluções externas inadequadas para os seus problemas. Necessidade sexual A sexualidade envolve amor, afeto, erotismo, satisfação de necessidades instintivas, tais como o contato, o calor, o afago, os beijos, as carícias. Inclui, ainda, traços genéticos, identificação através da cópia de modelos e desempenho de papéis sociais. Falam-se muito nos aspectos físicos e fisiológicos da sexualidade, porém não podemos ignorar a enorme influencia dos aspectos comportamentais. A sexualidade humana é um processo evolutivo que se inicia ao nascer, ou mesmo antes disso e se estende por toda a vida, passando por diferentes etapas, inclusive a adolescência, onde se aperfeiçoa com o estímulo dos fatores determinantes da puberdade, desde o auto-erotismo até a sexualidade genital adulta e sofre a influência de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Nesta fase, há uma busca de satisfação através da genitalidade, onde o adolescente busca uma definição da sua identidade sexual e um posicionamento no meio social. Os papeis sexuais são muito
  • 29. marcados nos grupos de adolescentes, às vezes até de modo caricatural, e a aceitação pelo grupo exige o cumprimento deste papel. A identificação com a figura parental e outros adultos do mesmo sexo, e os modelos culturais veiculados pela mídia, também influenciam a performance do papel sexual do adolescente. Os impulsos psicossexuais que estavam latentes e eram indiferenciados passam a afetar todo o padrão de comportamento, exercendo grande influência no desenvolvimento emocional. As vivências da sexualidade trazem também possibilidade de risco como a gravidez precoce, a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, o aborto que pode comprometer o projeto de vida ou até a própria vida. Visão do adolescente sobre si mesmo A adolescência é um dos períodos mais intensos da vida, pelos desafios, descobertas e oportunidades que apresenta. Também é muito trabalhosa, porque não há jeito ou ordem certa para organizar tantas novidades. Descobrir quem somos e queremos ser, e encontrar nosso lugar no mundo não é nada fácil. O percurso é pessoal, intransferível, e no confronto daquilo que trazemos dentro de nós (e que é a nossa história até hoje), com o que vamos conhecer do mundo, cada um se tornará uma pessoa única. Com o objetivo de conhecer a auto-percepção e a auto imagem do adolescente, formulamos algumas perguntas existenciais, que estão respondidas por eles no Anexo I:
  • 30. CAPÍTULO III Princípio Biocêntrico É a fundamentação filosófica da Biodanza e define uma forma de viver pautada na conservação da vida. Para diferenciar do conceito do princípio antropocêntrico, no qual o homem é o centro de onde a vida parte e faz seu movimento, Rolando Toro cria o termo biocêntrico [Bio = vida; cêntrico = centro], que faz o caminho inverso tendo como ponto de partida a vida em movimento de expansão e evolução. Baseia-se na idéia da existência de um Universo organizado em função da vida e dessa forma compreendido como um sistema vivo, onde tudo que existe são formas de vida, ou seja, elétrons, pedras, vegetais, animais e o próprio pensamento são formas infinitas de expressão da vida. O Princípio Biocêntrico propõe um novo alicerce sobre o qual possam se firmar as futuras ciências humanas, sendo que o ponto de partida do Universo é a vida e ele só existe porque existe vida. Ela não aparece simplesmente como conseqüência de processos químicos, inversamente, ela é a estrutura fundamental que orienta a construção do Universo. As leis que regem esse Universo são as que conservam e permitem a evolução da vida. Roger nos diz a respeito que a vida existe “como possibilidade singular, potencialidades muitas vezes bloqueadas, reprimidas, mas sempre presentes.” O Princípio Biocêntrico como um novo paradigma vem determinar uma forma diferente de viver, de sentir, de pensar e de agir, que atua na direção de proteger, facilitar e melhorar a evolução da vida. O
  • 31. respeito pela vida é o centro de onde partem todas as disciplinas de comportamento humano, convidando a uma nova estruturação dos valores culturais. Ao afastar-se das leis universais de conservação e evolução da vida, o homem, através dos tempos, vem gerando valores culturais falsos e transitórios, que o autorizam a destruir toda e qualquer condição de vida que não estejam em conformidade com eles, como, por exemplo, dinheiro e poder, chegando muitas vezes ao extremo dessa destruição, que são as guerras e construindo, como vemos, formas culturais antivida. Caminhando na “contramão” desse processo civilizatório opressor, o Princípio Biocêntrico se desenvolve apoiado em fundamentos que tem a vida como unidade maior. Nele direcionamos nossa atenção para a vida e na integração dos seres vivos, passando assim a rechaçar toda e qualquer cultura que não tenha a vida como prioridade. O modelo cultural deve ter uma função pró-vida, onde ser vivo, cultura e natureza são um todo indissolúvel, e não antivida como vemos na grande maioria das culturas da atualidade. Mais uma vez buscamos o respaldo de Rolando Toro, quando diz: “Se as condições culturais e sócio-econômicas são anti-vida, nós nos propomos a mudar o sistema, não com a ajuda de uma ideologia, mas restabelecendo a cada instante, em nossa vida, as condições de nutrição da vida.” 6 Seguindo um modelo cultural pró-vida, podemos recuperar as condições nutricionais para a vida e sua evolução, e reconhecer sua qualidade sagrada. Qualidade que se faz presente em todo lugar e circunstancia onde a vida acontece. Qualidade, também que vem sendo destruída, paulatinamente, pelas civilizações, através dos séculos, por ser um fator de grande ameaça ao domínio do poder. Rolando assim se manifesta: 6 TORO, R. Inconsciente Vital e Princípio Biocêntrico, Apostila do Curso de Formação Docente de Biodanza, página 39.
  • 32. “Se as religiões, as ideologias políticas e as distintas formas de psicoterapias trabalham em torno das patologias do ego, sobre uma imagem antropocêntrica, a Biodanza trabalha com as grandes funções de saúde, em uma dimensão transcendente, de permanente reverência pela vida.” 7 Educação Biocêntrica O ponto de partida da Educação Biocêntrica é o Princípio Biocêntrico, a metodologia por ela utilizada é “a vivência” e tem como objetivo a “conexão com a vida”. Visando o fortalecimento da identidade, a Educação Biocêntrica estimula os potenciais genéticos que constituem sua estrutura básica. É de fundamental importância para a evolução cultural que se recupere a “sacralidade da vida” e com essa finalidade a Educação Biocêntrica tem sua base firmada na própria vida e no prazer de vive-la em todas as suas possibilidades. Utiliza metodologicamente como mediação, entre a educação tradicional e a proposta biocêntrica, o Sistema Biodanza, onde são expressos os potenciais genéticos de vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência. Esta mediação é imprescindível para a reestruturação da afetividade e desenvolvimento da consciência ética. A Educação Biocêntrica considera a família como componente essencial do processo educativo. O verdadeiro aprendizado acontece quando despertamos o interesse do indivíduo a participar da elaboração do conhecimento, instigando sua curiosidade para novas descobertas e gratificando cada uma delas com alegria. Precisamos antes “aprender a sentir” para só então “aprender a pensar”. O prazer do aprendizado está inserido num contexto afetivo e a capacidade de aprender é diretamente proporcional ao desenvolvimento dessa afetividade. 7 TORO, R.A. Inconsciente Vital e Princípio Biocêntrico, Apostila do Curso de Formação Docente em Biodanza, página 42.
  • 33. Através da Educação Biocêntrica aprendemos a expressar nossas fantasias, transformando-as em sonhos realizados e incorporando seu aprendizado às nossas vidas. Ao inserirmos, no contexto educacional, a Educação Biocêntrica e o Sistema Biodanza como mediação, estamos agindo profilaticamente contra a desordem afetiva, responsável pela atual desacralização da vida e permitindo, como diz Rolando Toro: “penetrar na perfeição da vida como esplendor, como beleza, como harmonia voluptuosa e experimentar em si mesmo o “sentir-se vivo””. 8 Sistema Biodanza – ação mediadora O termo “Biodanza” foi criado a partir de uma ampla elaboração semântica. Havia nascido uma disciplina de características inéditas, para a qual não existia o termo apropriado. Era preciso restabelecer o conceito original da dança em sua mais ampla acepção: como movimento de vida. A idéia se aproxima claramente do conceito de “dançar a vida”, proposta por Roger Garaudy. A partir dessa reflexão surge o termo “Biodanza”: o prefixo “bio”, deriva do grego bios que significa vida. O sentido primordial da palavra “dança” é “movimento natural”. Seu criador, Rolando Toro, chileno, psicólogo, poeta e antropólogo, professor da Universidade Aberta Interamericana de Buenos Aires, coordena atualmente as atividades internacionais da Biodanza, definiu a Biodanza como: “Um sistema de integração humana, de renovação orgânica, de reeducação afetiva e de reaprendizagem das funções originárias da vida”. 9 8 TORO, R., Educação Biocêntrica, apostila do Curso de Formação Docente de Biodanza, página 19. 9 TORO, R. A. Biodanza. São Paulo. Editora Olavobrás / EPB, 2002, página 33.
  • 34. É uma abordagem pedagógica - terapêutica que possibilita o desenvolvimento humano, integrando funções orgânicas e psíquicas. É uma extensão das ciências humanas, integra o corpo, as vivências e o movimento em situações de grupo, abrindo novos caminhos terapêuticos. A Biodanza é um sistema coerente de ações baseadas nas ciências do homem: Antropologia, Etologia, Biologia, Medicina, Psicologia e Sociologia. Baseia-se na observação, descrição e experimentação. Utiliza as técnicas tradicionais de investigação científica. O sistema está sujeito a uma progressividade orgânica. Ninguém pode violentar seu amadurecimento, só pode induzi-lo com delicadeza. Encontro e aproximação se realizam mediante adequada retroalimentação da informação (feed back). Cada repetição dos exercícios é uma volta para dentro da espiral evolutiva. Deste modo, o progresso da transtase é sutil. O homem nasce com seus potenciais afetivos e intelectuais altamente determinados, porém sua expressão depende de condições propícias em seu meio ambiente. É um sistema que, destinado à aplicação em grupo, se baseia na expressão dos potenciais individuais acima citados, através da música, do movimento e de situações de encontro. Sendo um processo vivencial em grupo, impulsiona a expressão da identidade e o prazer de viver. É indispensável reencontrar a força positiva que faz crescer e desenvolver os organismos. Combinando movimento, música e emoção a Biodanza promove a integração do pensar com o sentir e com o agir, estimulando o adolescente ao “compromisso com a vida”. Convida para um crescimento saudável voltado à satisfação, resgatando a intimidade do ser, qualificando o potencial de cada um, o amar-se a si mesmo pela sua sinceridade e por isso mesmo sentir-se amado, aumentando assim, a auto-estima. A proposta da Biodanza é a de atuar estimulando uma conexão com a vida, permitindo uma integração consigo mesmo, com o outro e com a natureza, o que traz um grande aumento na auto-estima, e
  • 35. tem como objetivo o desenvolvimento e a evolução do ser humano, em todos os seus aspectos. A integração consigo mesmo significa uma forma coerente de sentir, pensar e agir a partir de nossa própria emoção. É poder discernir emocionalmente as “verdades” familiares e culturais que nos são impostas, as nossas próprias “verdades” vivenciais, podendo então atuar na vida de acordo com as nossas escolhas. A forma mais eficaz de entrarmos em contato com nossas emoções é estimulando a afetividade mais pura e sincera existente em nosso interior. Podemos desse modo nos desvencilhar das amarras do mundo de hoje, que tanto nos cerceiam, para então estruturar um novo estilo de vida direcionado à alegria, ao prazer e à plenitude. O que traz, consequentemente, a nossa evolução. Carlos Garcia propõe: “... desarmar as estruturas repressivas e culpabilizantes, acabar com as sombras envergonhadas de uma cultura manipuladora da consciência do homem... “ 10 A integração com a espécie, com o semelhante é a capacidade de ser humano, o que é muito diferente de ser homem. É poder olhar para o outro com afeto e compaixão e através desse olhar perceber-me muito mais que um ser biológico, é perceber-me um ser afetivo, capaz de se comover e aceitar as semelhanças e diferenças que enriquecem e valorizam a humanidade. É descobrir que só diante do outro posso me reconhecer. Reconhecendo os valores da vida também podemos citar Albert Schweitzer: “Meditando sobre a vida, sinto a obrigação de respeitar qualquer “vontade” de vida ao meu redor, por ser igual a minha” ··11·. 10 GARCIA, C. El Arte de Danzar La Vida: Santiago, Chile – 1ª edição dezembro 1998, página 54. 11 SCHWEITZER, A. Rispetto per la vita. Torino. Claudiana Editrice. Apud Toro, R.A.. Inconsciênte Vital e Princípio Biocêntrico, Apostila.do Curso de Formação Docente Em Biodanza, página 38
  • 36. A integração com a natureza é a possibilidade de sentir-se pertencente a ela, a tudo que nos cerca, ao universo, à totalidade. Segundo Humberto Maturana (biólogo), a vida é concebida como um processo de conhecimento dela mesma acoplada ao meio, através de relações dinâmicas e interações entre os organismos vivos e a totalidade. É sabido que os constituintes dos organismos humanos são os mesmos que compõem um protozoário (aminoácidos, nucleotídeos) o que fundamenta a estreita vinculação dos seres humanos e os demais seres vivos. Está provada também que a estrutura nuclear dos átomos existentes nos seres vivos é a mesma encontrada, por exemplo, em uma pedra ou até mesmo em um meteorito caído na terra por qualquer razão, ficando assim determinada a incontestável relação do homem com o universo. Permitirmos a nós mesmos a possibilidade desta vinculação é propiciarmos à nossa vida uma infinidade de opções de escolha, para mudanças direcionadas a uma nova forma de viver, certamente mais inteira e mais feliz. A integração de si mesmo, com o outro e com a natureza é facilitada pela intensa conexão com a vida, e ocorre de uma forma simultânea e recíproca. Reportamo-nos a Rolando que diz: “Não é a consciência de um homem o que interessa, mas sua prática de movimento de amor.” 12 Os sistemas biológicos possuem a capacidade de auto– organização, podendo renovar-se e estabelecer novos níveis de equilíbrio, de ativar processos de reparação celular e regulação das funções biológicas. Os seres humanos, no ato de sua concepção, recebem uma 12 TORO, R.A. Apud. PINTO, L.N. e BOTELHO, P.C.T. Monografia Implantação de Biodanza para Adolescentes & Pais de Adolescentes em Instituição de Saúde Pública, 2000, página 17.
  • 37. carga genética que contêm todas as informações necessárias para sua formação e todo um potencial de dados que foram se agregando e sendo transmitidos no decorrer de sua filogênese. Essas informações e dados permanecem latentes até que um específico fator externo (ecofator) venha estimulá-los a atuar. Isso explica, por exemplo, como uma determinada célula “sabe” o que fazer para se defender de uma infecção. De uma forma mais complexa nosso comportamento diante da vida também é determinado por um aprendizado transmitido às nossas células que se comportam de forma recorrente cada vez que o mesmo estímulo se apresenta. Durante nossa vida, apenas uma pequena parte desses potenciais recebidos é estimulada, permanecendo latente a grande maioria deles, o que nos leva, em decorrência, a uma vida limitada. Nos organismos vivos, em especial no organismo humano, as soluções para as situações novas não estão definitivamente programadas, apesar de que os códigos genéticos propõem caminhos para estas soluções. Segundo Humberto Maturana, as mudanças estruturais no processo de integração com o ambiente, constituem atos de aprendizagem, nos quais cada ser vivo especifica que tipo de alteração do ambiente é necessária para si. Este processo de aprendizagem não se refere somente a processos mentais ou da consciência, por exemplo, como o que ocorre nos vasos sangüíneos quando por qualquer motivo um determinado vaso se entope, imediatamente o fluxo sangüíneo se direciona a vasos próximos, encontrando um novo caminho e com isto refazendo o fluxo apropriado. Estes processos são também comprovados em todos os seres vivos, inclusive nos organismos desprovidos de cérebro ou sistema nervoso, como por exemplo, quando uma lagartixa “amputa” o próprio rabo para livrar-se de um predador. Podemos então entender que os organismos possuem capacidade de renovar-se, estabelecendo um novo equilibro em decorrência de mudanças do ambiente que o cerca. Estatísticas comprovam curas de câncer e rejuvenescimento de idosos como decorrência da mudança do estilo de vida. Mudar de estilo de vida não significa apenas mudar de casa ou de emprego, é muito mais. É permitir
  • 38. uma mudança de dentro para fora. É constatar que o “eu sou assim” não existe, o que há é o “eu estou assim”. A partir desta constatação podemos realmente experimentar infinitas possibilidades de mudanças efetivas, sem, entretanto, deixarmos de ser nós mesmos. A tal respeito, aliás, assim se manifestou Dilthey, quando nos diz que “o homem não só está na história, não só tem história como também é história, a historicidade afeta o próprio ser do homem”. O mundo atual vem evoluindo espantosamente sua tecnologia, facilitando em muito a qualidade da vida. Porém, paralelamente a essa evolução vem ocorrendo uma exagerada valorização do Ter em detrimento de Sentir. Estamos tão ocupados em obter coisas que possam nos facilitar e nos trazer “conforto”, que não nos importamos se o preço a ser pago é o de nos afastarmos de nós mesmos e consequentemente adoecermos. Isso nos remete a um conceito de Binswagner, sobre a doença “Quando uma pessoa está doente, não está mal de um órgão, é sua existência que está doente”. Para acompanharmos a evolução dos tempos, deixamos de nos ouvir, de nos sentir e de valorizar o que realmente pode nos levar a uma vida saudável que é o afeto, conforme diz Rolando: “um coração que ama é um coração saudável.” Os tabus, preconceitos e “pecados” vêem influenciando há séculos as relações humanas, principalmente no que diz respeito à afetividade. Tornou-se mais valorizado dar uma moeda que um sorriso, um objeto que um abraço sincero. Economizamos nossos carinhos como se fossem nos faltar. Com isso e por isso as sociedades vêem se tornando cada vez mais violentas. As crianças não têm a chance de aprender a importância de um carinho para sua saúde física, mental e emocional. A educação nas escolas se direcionou a um ensino massificante e impessoal, afastando-se da verdadeira qualidade do aprendizado. Restabelecer um intimo contato com a afetividade é permitir a recuperação de um canal para o conhecimento. É deixar renascer o desejo de um aprender guiado e impulsionado pelo afeto, que respeita,
  • 39. que troca e que emociona, restabelecendo desta forma, dia após dia, todas as condições que precisamos para a nutrição, expansão, conservação e evolução da vida. Rolando Toro fala que “a genialidade da espécie não está na inteligência, mas na afetividade orientada para a tolerância, para a compaixão, para a amizade e para o amor.” É inconcebível tentarmos estabelecer uma nova forma de aprendizado, enquanto estivermos atrelados a um processo “civilizatório” que determina o domínio da cultura sobre a irrefutável presença do instinto, que dá mais ênfase à moral do que ao primordial. Através dos tempos, inúmeros estudiosos vêem afirmando que o ser humano é essencialmente racional, criando um verdadeiro culto à informação adquirida e expurgando com veemência a sabedoria biológica das espécies, que são os instintos. Com o intuito de manter a veracidade dessa informação, as civilizações foram estabelecendo uma vinculação pejorativa entre instinto e destruição, envolvendo a liberação do instinto em uma nuvem de terror, capaz de exterminar toda que qualquer possibilidade de vida organizada. O instinto pode ser considerado, segundo Rolando Toro, a “memória da espécie”, é uma conduta inata, transmitida geneticamente através das gerações. É comum a todos os seres vivos e sua intrínseca sabedoria é indispensável à sobrevivência e evolução da espécie. Sua auto-regulação é orgânica, isto é, sua força diminui à medida que satisfaz a necessidade do próprio organismo. O instinto tem como finalidade biológica a adaptação, não representando de fato, nenhuma ameaça às civilizações. Ao contrário do que muitos acreditam, a livre manifestação dos instintos nos conduz a uma harmonia orgânica natural, interferindo positiva e eficazmente na manutenção da saúde. Por outro lado a sua obstrução, o desvio de seu sentido biológico ou sua dissociação, pode levá-lo a uma manifestação deturpada, e até mesmo destrutiva para a própria vida. Como disse Freud, os instintos provem de nosso interior e é inútil fugir dele. O que precisamos é reencontrar seu valor básico, sua expressão inata, que está direcionada à sobrevivência e estruturada na
  • 40. conservação da vida, através do reconhecimento do valor sagrado que por si só ela representa. É oportuna, a citação de Sanclair Lemos: “A força cósmica organiza o mundo, e o instinto é sua expressão nos organismos biológicos. Instinto é força de organização e conservação. Não é desorganizado, nem embrutecedor, não é algo que devemos temer... O instinto é o aspecto biológico da organização cósmica”.13 É entrando em contato com nossa forma mais pura de exaltar a vida e a graça que dela provem, incentivando um estilo de vida coerente com os impulsos primordiais de sentir, pensar e agir de forma integrada, que vamos atingir o objetivo de conservar a vida em sua plenitude, permitindo assim sua evolução. Música, movimento, vivência. O alicerce metodológico da Biodanza está na integração entre a música, o movimento e a vivência. Estes três elementos formam uma estrutura unitária, de componentes inseparáveis, cuja funcionalidade do todo requer a atuação concomitante dos três. A íntima relação entre música e movimento propicia vivências integradoras e harmonizadoras, que levam a uma vida mais completa e verdadeira. Música Desde os primórdios o ser humano percebe a musicalidade do universo, e reconhece que essa harmonia encontrava eco no interior do seu próprio ser. A música pode ser sentida por todo o corpo, possui uma linguagem universal capaz de deflagrar emoções que podem se expressar em movimentos, sem que para isso precise passar pela razão. Isto pode acontecer porque ela tem a propriedade de atuar como um instrumento de Mediação entre a emoção e o movimento, potencializando a vinculação 13 LEMOS, S. El Coraje de Exponerse, entrevista concedida à revista UNO MISMO, Chile, 2002
  • 41. do ser humano consigo mesmo (harmonia), com o outro (melodia) e com a natureza (ritmo). Podemos ilustrar a musicalidade do ser, que é inerente à própria vida, com a própria musicalidade das palavras de uma das autoras desta pesquisa. “Existe música no afago do vento sobre as folhas das árvores, no marulho das ondas, no bater de um coração apaixonado e na respiração ofegante dos amantes. Nós e a natureza somos os mais puros e belos instrumentos da música divina.” 14 Na Biodanza a música usada é rigorosamente selecionada, se atem ao seu caráter biológico e não ao estético, pois contem características como fluidez, harmonia, ritmo, tom e unidade de sentimento. Por esta razão a denominamos música orgânica. Movimento A vida é movimento, é pulsante e tudo nela tem ritmo. Como nos diz Rolando Toro “mover-se é estar vivo.” O movimento é o primeiro conhecimento do mundo. A dança é tão antiga quanto a própria vida humana. Nasceu na expressão das emoções primitivas, na comunhão “mística” do homem com a natureza, quando ele ainda não conhecia a palavra. Ela possui um enorme poder de integração para o ser humano, é movimento de vida, ritmo biológico, reaviva a vinculação do homem consigo, com o outro e com a Natureza através de laços de amor. Por seu intermédio nos revelamos por inteiro e revelamos também a nossa verdade. Em Biodanza o movimento é emocional e pleno de sentido, é estimulado pela música e coerente com ela, propiciando uma vivência integradora. Quando conseguimos nos afastar dos movimentos aprendidos e cristalizados pelo atual contexto civilizatório, podemos nos mover em sintonia com a nossa própria musicalidade, deixando de lado a simples expressão de uma dança para nos tornarmos a própria dança. 14 BOTELHO, V. momento de inspiração Rio de Janeiro, Brasil: agosto de 2004.
  • 42. Para Rolando, “Ser Dança” constitui uma experiência extraordinária, a mais poderosa fonte de renovação e energização.” Vivência Vivência é uma manifestação do nosso ser, que precede a consciência; é atemporal. É experiência vivida, aqui e agora, com grande intensidade pelo ser humano, envolve funções viscerais e emocionais, não estando, entretanto, submetidas ao controle da vontade. Sua expressão traz em si sensações cenestésicas que confirmam seu caráter orgânico. Tem sua origem no âmago do ser, na mais tenra manifestação da identidade, de onde vem todo o seu poder reorganizador. Só sabe o que é o amor quem já amou. Quantas vezes diante de situações do dia a dia sentimos “um frio no estômago” sem saber porquê. É nosso corpo reproduzindo “aqui e agora” uma experiência já vivida anteriormente. É pessoal, é única e momentânea. Ao se estimularem vivências integradoras, através da música e do movimento, novas possibilidades de vida se abrem facilitando assim a oportunidade de um enorme crescimento e evolução. Carlos Garcia assim explica a vivência: “A vivência é antes de tudo uma conseqüência, o resultado alquímico do encontro do ser humano com o mundo, com outro ser humano, com a natureza, com o insondável infinito.” 15 Identidade Durante séculos o conceito de identidade vem sendo buscado e descrito por grandes nomes da civilização, desde Platão até Heidgger, Piaget, Merleu Ponty, entre inúmeros outros. Porém sua descrição ainda não foi satisfatoriamente elucidada, devido à sua complexidade, carecendo de futuras investigações intensas e profundas. O que podemos dizer sobre ela é que é o mais íntimo de nosso próprio íntimo, é a essência da mais pura de nossas verdades. 15 GARCIA, C. op. Cit. página 47
  • 43. Para a biologia a identidade é a capacidade de reconhecimento de si mesmo, tendo em vista sua origem genética. Dois fatores, sem dúvida, se apresentam marcantes na sua constituição: o fator hereditário e o fator adquirido. Hereditário é aquele fator que recebemos de nossos pais biológicos, é o que trazemos nos genes de cada uma de nossas células, são os nossos potenciais genéticos. Adquirido é o fator referente ao meio que nos circunda, a cultura, a religião, a família, é este fator que facilita a expressão dessa ou daquela característica intrínseca. Podemos dar como exemplo, o nosso sistema imunológico, que rejeita e ataca qualquer corpo estranho que penetre no nosso organismo. A identidade, que é única, não está separada do mundo. Sua manifestação se dá tanto a nível orgânico, quanto a nível psicológico existencial, na presença do outro. É somente através de nossa capacidade de vinculação afetiva com o mundo que podemos efetuar uma maior integração de nossa identidade. Quanto mais integrada nossa identidade maior se torna a nossa capacidade de vinculação. Essa potencialização recíproca nos conduz a uma constante evolução, segundo Rolando: “Do “talo único” de nossa Identidade brotam os frutos da diversidade. Quem vive aferrado mesquinhamente para defender os limites de sua Identidade, se priva do sabor dos frutos, se esgota em si. As raízes da Identidade se nutrem no seio do estranho.” 16 A nossa identidade muda constantemente, sem com isso perder sua essência, e isso pode ser comprovado pela simples constatação do fato de que não sou mais a criança que fui e mesmo assim não deixei de ser eu mesma. Não tomamos posse de nossa identidade como quem se apossa de uma “coisa”, ela é a nossa própria capacidade de expressão na vida. 16 TORO, R. A., Identidade e Integração; Transe e Regressão; Vivência, Apostila do Curso de Formação Docente de Biodanza, página 25.
  • 44. Em lugar de definir um conceito, acreditamos que a melhor forma de compreender a nossa Identidade seja senti-la, vive-la através da consciência de si mesmo. Todo ser humano é único, tendo assim sua própria maneira de expressar sua identidade através do movimento, sendo a dança uma dessas maneiras de expressão. A identidade, para Rolando, é “a sensação intensa e comovente de estar vivo.”
  • 45. Modelo Teórico “Modelo Teórico da Biodanza” Extraído de TORO, R.A. Biodanza, São Paulo. Editora Olavobrás / EPB, 2002, página 75
  • 46. É a teoria que dá suporte, validade e justifica a prática da Biodanza. É a base estrutural representativa da vida em sua totalidade. A sua forma de uma espiral aberta expressa a disponibilidade do ser vivo para um constante recomeço da vida. Tem em sua base os potenciais genéticos expressos através das linhas de vivência, que representam a própria ontogenia, direcionada à integração. No seu eixo horizontal tem o “continuun identidade regressão”, que está em constante e dinâmico pulsar buscando uma integração do ser consigo mesmo e com a totalidade, representando a alternância natural dos estados de consciência. Todos os elementos nele inseridos, de uma forma ou de outra, interferem na filogênese da humanidade. É descrito dentro de um conceito cósmico, no qual a vida humana está inserida em seu processo, sua evolução filogenética e ontogenética, como diz Rolando: “É um modelo do “homem cósmico”. Aborda o ser humano em sua dimensão biológica, psicológica e justamente cósmica.” 17 Potencial genético Todos nós recebemos de nossos pais biológicos as características básicas determinantes de nossa estrutura orgânica e instintual. Essas características são os potenciais genéticos, que como o próprio nome diz, podem ou não se expressar durante a vida, dependendo para tal, de uma estimulação adequada, a qual chamamos de eco fatores. Linhas de vivência É um conceito baseado nas diferentes formas de expressão do potencial humano, formam os cinco grandes grupos de vivências mais evidenciados em anos de estudos feitos por Rolando Toro, e que envolvem as formas de expressão de maior abrangência. Esses grupos 17 TORO, R.A. Biodanza. São Paulo. Editora Olavobrás/EPB, 2002, página 72.
  • 47. possuem pontos coincidentes, por isso e com isso, exercem influencias umas sobre as outras, o que contribui para aumentar suas potencialidades de expressão. São elas: Linha da vitalidade – capacidade de experimentar uma harmonia biológica, energia que cada um dispõe para enfrentar o mundo, alegria de viver. Linha da sexualidade – capacidade de sentir o desejo e o prazer sexual, vínculo sexual, reprodução. Linha da criatividade – capacidade de renovação aplicada à própria vida, inovação, imaginação. Linha da afetividade – capacidade de proteger, sentir amor, amizade sem discriminação, empatia, altruísmo. Linha da transcendência – capacidade de ir além de si mesmo, do social, do cultural e perceber-se como parte e expressão da totalidade. Capacidade de conectar-se com a “divindade” encontrada em cada manifestação da vida. Capacidade de experimentar os estados de expansão da consciência. Protovivências São as “gravações” neurológicas armazenadas pelas crianças nos seis meses iniciais de vida, período em que ocorrem suas primeiras respostas aos estímulos externos e internos. Estão intimamente ligadas às linhas de vivência, sendo de cada uma delas a própria origem, como veremos no quadro a seguir: Linha de vivência Protovivência Vitalidade Movimento Sexualidade Carícia Criatividade Expressão Afetividade Nutrição Transcendência Harmonia
  • 48. Regressão Quer dizer retornar ao início. É uma capacidade que todos os seres humanos possuem, na qual ele vai buscar em sua própria origem os subsídios necessários para continuidade de sua vida, em suma, para sua renovação existencial. Inconsciente vital É um conceito proposto por Rolando Toro, que define a capacidade do nosso organismo estar orientado para a saúde e em sintonia com a essência universal da vida. Podemos perceber sua atuação em nosso dia a dia, através do humor endógeno, do estado cenestésico de bem e mal estar e na capacidade que nossas células possuem de se reproduzirem espontaneamente sempre que se faz necessário. Inconsciente pessoal Foi descrito por Freud. É relativo à história pessoal de cada um, de seus potenciais estimulados ou reprimidos na própria vida, em especial na infância, incentivando, desta forma, o indivíduo ao domínio de sua própria vontade, vindo a possibilitar uma visão diferente das forças vitais e dos impulsos que agem diretamente sobre seus pensamentos conscientes e suas ações. Inconsciente coletivo Relatado por Jung, está relacionado ao conjunto de imagens primordiais, representações primitivas que são heranças de gerações e que constitui os traços coletivos vinculadas à memória da espécie. A estas imagens, Jung dá o nome de arquétipos. E como ele mesmo nos diz, “exerce também uma influência que compromete altamente a liberdade da consciência.”
  • 49. Eco fatores Ao longo da vida recebemos estímulos ambientais que influenciam o nosso desenvolvimento, entre eles o mais potente é o ser humano. Esses estímulos atuam diretamente sobre os nossos potenciais genéticos, favorecendo sua expressão (eco fatores positivos), ou obrigando-os a permanecerem latentes (eco fatores negativos). “Na história evolutiva que nos constitui como seres humanos, nós surgimos como filhos do amor... O amor não é peculiar aos seres humanos, é próprio de todos os animais que vivem em intimidade. O que ocorre é que o amor tem um caráter especial para os seres humanos porque tornou possível a convivência na qual surgiu a linguagem que, como modo de convivência, configurou nosso ser humano.” 18 Humberto Maturana 18 MATURANA, H. texto Modo de Vida e Cultura. Apud, TRANCOSO,A.R. e OLIVEIRA,L.P. Monografia Biodanza: Instrumento de Transformação Social, 2003. página 12
  • 50. CAPÍTULO IV Metodologia Os objetivos da Biodanza são educativos, desenvolvendo o potencial humano. Eles propõem a prioridade da ação profilática sobre qualquer outra forma de mudança. Estimulam uma estrutura saudável do estilo de vida, através da possibilidade de cada um se perceber, se sentir, se valorizar e se proteger. Nosso trabalho foi orientado com coerência, respeitando a metodologia proposta por Rolando Toro para a Biodanza. Nossa proposta é proporcionar uma nova maneira de lidar com todas as modificações físicas emocionais, que ocorrem com os adolescentes, convidando-os a um crescimento voltado para a satisfação, qualificando o potencial de cada um, aumentando assim sua auto-estima, uma vez que a adolescência tem sido definida como um período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizada por importante crescimento e desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social. Através da Biodanza obtivemos a chave que possibilitou abrir portas que mostram novo modo de encarar os conflitos do cotidiano do adolescente e atenuar suas conseqüências. Nosso trabalho se fundamentou na integração da identidade, mediante a expressão dos potenciais genéticos que se encontram enormemente silenciados e transformados em limitadores dos horizontes, metas e sonhos dos adolescentes desta localidade.
  • 51. Organização e formação do grupo Observamos que em sua maioria os adolescentes que procuram a UIS Hamilton Land são de classes menos favorecidas, apresentando um grande nível de carência afetiva, agressividade como forma de sobrevivência e falta de opções para solucionar dificuldades do dia a dia. Todo este contexto leva os adolescentes às somatizações, doenças carenciais, entre outras, o que os leva a procurar a UIS, para que possam então encontrar o que na verdade procuram: atenção, compreensão e estímulo para alcançar um futuro diferente da realidade a que estão acostumados. Em uma primeira etapa passam por um atendimento clínico com a Dr.ª. Irene, onde são entrevistados, medicados (em caso de necessidade) e encaminhados para atividades em grupos informativos e educativos, onde são abordados temas de interesses dos adolescentes, tais como: mudanças corporais, contracepção, DST/AIDS, drogas, violência, relacionamento familiar e social. Esses temas são desenvolvidos através de vários encontros e dinâmicas como, por exemplo: desenhos e recortes, atividades com música (lúdico, auto- estima, integração), dramatização, etc. Após alguns encontros, quando já ocorreu o vínculo afetivo e de confiança esses adolescentes são convidados a participar do grupo de Biodanza. Tivemos como prioridade eletiva a faixa etária, o desenvolvimento físico e emocional, a necessidade individual decorrente das dissociações motoras, dificuldades de relacionamento, transtornos afetivos, dificuldades no aprendizado, entre outras. Sendo a Biodanza uma atividade grupal, vem suprir a grande demanda do serviço de saúde pública, uma vez que atende a um maior número de adolescentes. O nosso grupo é constituído de jovens na faixa etária entre 12 e 18 anos, com predominância do sexo feminino. A freqüência oscila
  • 52. entre 60 e 70%, com a entrada e saída de alunos esporadicamente, tendo sido formada a matriz grupal nos primeiros dois meses. A duração de cada aula é de duas horas, sendo que nos primeiros trinta minutos fazemos uma intimidade verbal, na qual os jovens fazem perguntas, relatos de seu cotidiano correlacionando com as vivências da Biodanza, ficando a hora e meia restante para as vivências da aula. Os horários e dias da semana foi um acerto entre as facilitadoras e a UIS Hamilton Land, pois as aulas de Biodanza são realizadas no único auditório existente naquele serviço. Inicialmente os adolescentes apresentaram-se reservados, defendidos e em alguns casos até mesmo agressivos. Nós, facilitadoras, pudemos perceber, nos primeiros encontros com grupo, uma conduta comum entre os adolescentes: o jeito de se vestir, de falar, de mascar chiclete, a relutância em tirar os bonés e calçados, a postura de “não tô nem aí”, o que vem a ser uma identificação do grupo-adolescente. Aos poucos eles foram adquirindo confiança, reunindo forças e entrando em contato com potenciais próprios, descobrindo-se e aceitando as diferenças, entrando em contato uns com os outros respeitando e sendo respeitados reciprocamente e ainda mais podendo amar e se sentir amados pela sua própria capacidade de viver e deixar viver. Rapidamente fomos percebendo a crescente aceitação afetiva da Profª. Véra e o decorrente vínculo com a mesma, o que nos provou, na prática, a eficácia do Sistema Biodanza como técnica de reeducação afetiva. Dinâmica do grupo Utilizamos a ortodoxia da Biodanza para planejarmos as aulas iniciais, com enfoque na integração motora. Logo nas primeiras aulas observamos pontos em comum entre a grande maioria dos alunos como, a baixa auto-estima, pouca
  • 53. vitalidade, intensa desqualificação de si mesmo, falta de sonhos e falta de estímulo para auto-realização, o que nos levou a direcionar nossas aulas seguintes dando maior ênfase nas linhas da vitalidade, criatividade e afetividade. Através da vitalidade procuramos despertar a alegria e o ímpeto vital. Os adolescentes estimulados pela música, que está muito presente em suas vidas, se entusiasmam com bastante facilidade contribuindo para melhor integração do esquema corporal, motricidade e auto-regulação. Visamos incentivar a criatividade existencial própria do adolescente, tão rica em impulsos de inovação e expressão, potencializando a capacidade de renovar e embelezar o estilo de vida. Trabalhamos na afetividade resgatando a capacidade de vinculação (consigo mesmo, com o outro e com a totalidade), devolvendo a auto-estima, a autovalorização e a valorização do outro, aprendendo a expressar-se verbal e corporalmente, reforçando a identidade do adolescente. A veracidade da vivência não passa pela razão e seus efeitos podem ser sentidos por todo o ser, o que observamos no decorrer das aulas de Biodanza, com as constantes mudanças no relacionamento do grupo, onde os jovens começaram a se ouvir, se olhar e se proteger, nutrindo-se cada vez mais de respeito, compaixão e humanidade. Vimos a identidade confusa, as alterações freqüentes de humor (um dia sorriam por qualquer coisa no outro estavam de “cara amarrada” sem qualquer motivo), observamos que os movimentos eram condicionados e repetitivos, conseqüência da pressão da cultura, da religião, da sociedade e da família, interferindo na expressão da verdadeira identidade do adolescente. Em nosso trabalho demos especial atenção ao princípio da progressividade, permitindo ao adolescente entrar em contato com seu verdadeiro movimento, reconhecendo seu conteúdo interno, podendo com isso escolher o seu próprio caminho de mudança e viver com intensidade a beleza da adolescência. Ficaram claras para nós as diferenças
  • 54. vivenciadas por nossos alunos no seu dia a dia, onde são bombardeados pela violência e desqualificação e as aulas de Biodanza, onde são valorizados pelo afeto, pela criatividade pela capacidade de investir no que acreditam. A Biodanza atua no sistema neuromotor, cardio–respiratório, neuroendócrino, imunológico e emocional. Eleva o equilíbrio neurovegetativo, ao estimular alternadamente o sistema simpático – adrenérgico e parassimpático – colinérgico. É muito comum ao adolescente ultrapassar seus próprios limites, o que foi facilmente percebido por nós, facilitadoras, nas aulas iniciais do grupo, nos levando a pontuar em muitas ocasiões a importância da escuta de seu próprio organismo. Através da pulsação simpático – parassimpático das aulas de Biodanza, os adolescentes puderam por si só perceber a importância do repouso como fonte de renovação de energia. A auto-regulação orgânica passou a ter um significado especial na auto-regulação de suas vidas Atendendo aos nossos objetivos de desenvolver uma integração grupal, respeitamos as dificuldades iniciais de aproximação e de relação interpessoal. Notamos que havia entre eles uma grande dificuldade de contato, de se olharem e de ficarem ao lado de outro jovem do sexo oposto. Após a intimidade verbal, quando se levantavam para formar a roda inicial, todos se encostavam à parede com os braços cruzados ou estendidos ao longo do corpo, sendo preciso muita insistência de nossa parte, inclusive entrando entre eles, para que se dessem as mãos e conseguissem parar de rir e falar. Com o norte voltado para os exercícios de integração motora demos especial atenção aos movimentos naturais de ser humano com caminhar, saltar e gestos ligados aos costumes sociais como abraçar e dar a mão. A parte motora, o mover-se e a dificuldade de comunicação com o outro era, para alguns, muito difícil, por isso demos focalizamos
  • 55. nossa atenção aos exercícios básicos de caminhar e à integração com o outro, utilizando-os por um bom tempo. Exercícios básicos de caminhar Caminhar Sinérgico Caminhar Fisiológico Caminhar com Motivação Afetiva Coordenação Rítmica a dois (caminhar com o outro) Durante algum tempo muito dos jovens se movimentavam com um ritmo incoerente ao convidado pela música, mostrando uma dissociação entre o estímulo e a sua própria resposta motora, porém o mesmo não acontecia quando utilizávamos danças com ritmos tropicais (forró, samba), momento em que os jovens demostravam maior interação e alegria. Exercícios de ritmo e sinergismo Variações rítmicas Danças rítmicas Salto sinérgico Danças com ritmos tropicais Por viverem em um ambiente extremamente repressor esses adolescentes aprenderam a limitar seus próprios pensamentos e movimentos, o que nos incentivou a convidá-los muitas vezes à exercícios de extensão, com a intenção de ampliar seus movimentos e consequentemente ampliar o próprio âmbito de ação. Houve um primeiro momento em que muitos se puseram estáticos e assustados. A tendência era copiar o movimento da facilitadora, reproduzindo o modelo alienante de adestramento e cópia, muito valorizado em nosso processo educacional. Nesse momento fomos tomadas por um sentimento de desanimo e impotência, chegando a desacreditar na própria possibilidade de realizar um trabalho de transformação profunda. Foi quando, a Dr.ª. Irene em um desabafo e com tom de desafio convocou-os a saírem do
  • 56. comodismo e apatia. Lentamente foram se permitindo entrar em contato com a proposta. Exercícios de extensão Extensão Harmônica Extensão Máxima Elasticidade Integrativa Foi com grande surpresa e emoção que nos apercebemos da capacidade de aprofundamento e entrega dos nossos alunos desde as aulas iniciais, na segunda parte da vivência, evidenciadas na expressão facial e na desaceleração dos movimentos, o que era corroborado por eles nos Feed Back seguintes, quando diziam que os exercícios que mais relaxavam e davam prazer eram os de fluidez. Exercícios de fluidez Seqüências de fluidez Dança Livre de Fluidez Foram muito bem aceitos e vivenciados até com prazer os exercícios de dissolução de tensões, o que foi comprovadamente observado com a diminuição do número de queixas psicossomáticas no atendimento clínico e o aumento do interesse pela escola, observada em várias conversas sobre a mesma, onde eles começaram a ver lados positivos. Exercícios de Dissolução de Tensões Crônicas Movimentos segmentares Interação Motora e Cenestésicas dos Três Centros Respiração Abdominal Respiração Dançante Com o passar do tempo, nossos jovens alunos, começaram espontaneamente a trocar abraços e beijos rápidos no rosto; o olhar suave e receptivo substituiu o olhar crítico e julgador, a aceitação passou
  • 57. a estar mais presente, o que nos estimulou a introduzir em nossas aulas a integração afetivo motora. Começava a se formar o vinculo afetivo entre eles. A crescente e tão nova vivência de solidariedade em suas vidas era expressa pela preocupação com a ausência dos colegas na aula e o aumento do número de encontros fora do ambiente da aula de Biodanza. À medida que eles entravam em contato com as suas emoções verdadeiras e se permitiam vivenciá-las, mais autentica era sua expressão no dia a dia. Era notório, na escolha do par, quando propúnhamos exercícios de eutonia, que o jovem que possuía um perfil “dominador” escolhesse um companheiro que tivesse um perfil “submisso”. Com a continuidade e a assiduidade nas aulas de Biodanza, o equilíbrio do tônus muscular entre os pares, foi se intensificando e foram se estabelecendo novas relações de comunicação entre eles. Era chegado o momento de incentivá-los a aumentar o contato e o cuidado consigo mesmo e na sua forma de expressá-los no mundo. Para isso escolhemos alguns exercícios de Posições Geratrizes do código I – Proteger a Vida e Valor. E o que percebemos foi uma grande aceitação, por parte dos nossos alunos, que a cada aula aumentavam sua capacidade de demonstrar o afeto incondicional por si mesmo e pelos companheiros. Aumentava também a capacidade de se proteger das desqualificações externas e internas e das ameaças provenientes do meio em que vivem (drogas, AIDS). Um momento em especial nos tocou profundamente, quando do falecimento da mãe de uma de nossas alunas, o grupo foi extremamente protetor, acolhedor e nutritivo, abrindo a possibilidade para que esta jovem, pela primeira vez em sua vida, pudesse “chorar sem medo”. O que mais uma vez veio nos provar o poder da Biodanza em abrir opções de comunicação e libertar do medo de amar e viver a verdadeira emoção do momento. Exercícios de integração afetivo motora Sincronização Rítmica
  • 58. Sincronização Melódica Danças de Eutonia Leque Chinês Exercícios de Expressividade Exercícios de Contato Sensível Vivendo em um contexto desumano, onde a “lei do mais forte” predomina, é natural a dificuldade de aproximação. Lentamente, cada qual em seu tempo e com sua própria progressividade nas aulas de Biodanza, foi ousando demonstrar a afetividade com abraços mais espontâneos, aumentando, assim, seu nível de humanização. A expressão da aceitação do outro e da receptividade, demonstrada nos exercícios de encontro, ampliavam cada vez mais a interação afetiva entre os jovens, que aos poucos aprendiam a conhecer e respeitar tanto a si mesmo quanto aos amigos. E ainda mais, esse respeito era levado, segundo eles próprios, para o cotidiano tanto familiar quanto escolar, contribuindo com isso para o aumento da qualidade de suas vidas; qualidade essa que era reforçada pela proteção recebida nas rodas de embalo, onde o grupo demonstrava com clareza a disponibilidade em proteger e ser protegido. Exercícios de comunicação afetiva e comunhão Todas as Formas de Encontro Minuto de Eternidade Roda e Grupo compacto de Embalo Roda de Comunhão Fluidez em Grupo com Contato Sensível Após entrar em contato com sua grandiosidade, e de ser capaz de utilizá-la e protege-la, ficou claro para nós, facilitadoras, que a necessidade dos adolescentes era de harmonizar todas as sensações e emoções vivenciadas na aula. Neste momento era imprescindível a
  • 59. elevação da identidade, de uma forma suave, o que fazíamos e continuamos a fazer com a roda de ativação progressiva e roda final. Resultados Obtidos O resultado desta pesquisa consta de nossa percepção com relação ao grupo pesquisado, em que pudemos observar as mudanças que os adolescentes apresentaram a cada aula, através dos movimentos tanto nos exercícios quanto na vida pessoal e também pelos feed back.  Sendo nosso trabalho direcionado a adolescentes que fazem parte de um grupo de risco social e pessoal, esperamos que venha a servir de incentivo para introdução da Biodanza nessas áreas tão marcadas pela violência física e emocional, existente em grande número em nossa sociedade e com isso possa contribuir para a diminuição da mesma.  Recebemos apoio e incentivo da Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro para a realização deste trabalho social.  Levamos a Biodanza a uma comunidade extremamente carente, possibilitando a substituição por valores pró-vida dos valores anti- vida existentes.  Mudanças claras foram observadas no comportamento dos adolescentes. Uma delas é o desprezo pelo pensamento mágico que “acho que nada vai acontecer comigo”, marcada pela maior solicitação de preservativos e informações sobre DST / AIDS e maior empenho na escola visando a aprovação.  Outra mudança ocorrida foi a possibilidade de demonstrar sensibilidade diante de outro ser humano, superando as mensagens culturais recebidas, principalmente em função do sexo.  A consolidação das mudanças do grupo foi realizada mediante a proteção recebida. O continente afetivo trocado por todos fortaleceu e continua a fortalecer, cada vez mais, a coragem de cada um deles
  • 60. em reformular a dureza do contexto atual e dar uma nova direção à realidade de suas vidas.  Houve uma diminuição na procura pelo atendimento clínico como conseqüência de uma melhora na auto-estima de cada um.  Detectamos uma redução considerável no número de queixas relativas ao comportamento desses adolescentes e um conseqüente aumento do nível de aprendizagem.  A relação familiar foi enriquecida com afeto, respeito e tolerância, segundo o depoimento de alguns responsáveis que freqüentam rotineiramente s UIS. Depoimentos Fazemos a seguir alguns comentários sobre os depoimentos dos jovens:  Embora na Biodanza não tenhamos como objetivo a busca do relaxamento, observamos nos depoimentos uma constante referência a este estado. Concluímos que dois fatores são responsáveis por estes depoimentos, primeiro o constante estado de alerta vividos pelos jovens na comunidade e segundo a pobreza do vocabulário, para que possam abarcar a multiplicidade de sentimentos vividos. G.L. 16 anos: R.M. 15 anos:
  • 61. J.F. 15 anos: A.C. 15 anos:  O estilo de vida do jovem da “Cidade de Deus” os obriga a atuar predominantemente no sistema simpático (tiroteios súbitos e freqüentes, tráfico de drogas, inesperadas incursões policiais), propiciando um desequilíbrio neurovegetativo, ocasionando doenças como insônia, cefaléia de stress, baixa de imunidade, entre outros. Através da Biodanza foi possível, para eles, restabelecer esse equilíbrio perdido como o observado nos seguintes depoimentos: J.S. 13 anos: S.S. 15 anos: M.B 12 anos: L.C. 12 anos:
  • 62.  Através do reforço da auto-estima e da integração da identidade, os jovens começam a romper resistências, a perceber o que querem para si mesmo e com isso a ter um sonho. Mais do que isso eles começam a investir com determinação na busca desse sonho, o que verificamos com o início de um diálogo familiar e com a aprovação escolar de todos os jovens que freqüentaram assiduamente as aulas de Biodanza. Cabendo destacar com satisfação, neste momento, a aprovação de uma de nossas alunas no vestibular. M.S. 14 anos: G.L. 16 anos: L.A. 17 anos:  O aumento da vitalidade ficou claramente demonstrado para nós, pelo aumento da alegria dos jovens, pelo entusiasmo que passaram a demonstrar, ao relatarem os acontecimentos da semana.
  • 63. M.C. 13 anos: M.R. 15 anos: M.B. 12 anos: N.D. 17 anos: J.S 12 anos: L.O. 17 anos:  Levando-se em conta a realidade de vida do grupo, observamos adolescentes sendo capazes de dar a mão, de se olhar, de se respeitar, de compreender e de proteger o outro, demonstrando, assim, o aumento de seu afeto. O que nos leva a crer que a Biodanza deu a essas pessoas uma nova oportunidade até então desconhecida, sendo dessa forma uma semente plantada para possíveis frutos de uma nova e amorosa vida.
  • 64. L.A. 18 anos: M. 15 anos:
  • 65. CONCLUSÃO Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde, saúde significa bem-estar físico, psicológico e social. Não bastam as declarações de intenção e as condições de direito das populações, mas as condições de fato em que elas vivem. É fácil elaborar utópicos planos de ação, difícil é colocá-los em prática. No processo civilizatório, o que faz a diferença na saúde e no bem estar é a persistente valorização da vida e do ser humano. Observamos claramente que a Biodanza contribui para a melhoria da qualidade de vida dos nossos jovens, produzindo modificações estáveis do estilo de vida. Os adolescentes são um contingente chave para qualquer processo de transformação social e para que isso ocorra é preciso que ele esteja de posse de sua autonomia, dando o tempo necessário para a harmonização das transformações biopsicossociais pelas quais eles passam, tendo a Biodanza como facilitadora do resgate de sua auto- estima e autoconfiança. A ausência do afeto vivida pelos nossos jovens impossibilita a introjeção do mesmo, criando um vazio que eles preenchem das mais diferentes maneiras com drogas, gravidez precoce, DST / AIDS, violências e tantas outras. Através da Biodanza foi possível a esses jovens o encontro com seu afeto e com a sua própria maneira de demonstrá-lo, não precisando mais substitui-lo Concluímos com esse trabalho que a Biodanza é um instrumento eficaz de transformação biopsicossocial, que veio facilitar ao adolescente mostrar-se autêntico, sensível e alegre, ser mais verdadeiro consigo mesmo, criar e conduzir suas metas, entrar em contato com seu
  • 66. próprio potencial, fazendo uso dele de forma responsável e segura, sendo com isso autor de sua própria história. Entre nós e os nossos jovens, é difícil dizer quem cresceu mais, quem aprendeu mais. Chegamos de braços abertos para recebê-los, sem rótulos, sem julgamentos. Porém a difícil realidade, algumas vezes, nos assustou. Houve momentos em que pensamos em desistir, mas logo nossos alunos nos estimulavam a continuar, mostrando a crescente satisfação encontrada nas descobertas que faziam. Conhecemos um mundo novo para nós, cheio de perigosos convites, povoado de desprezo e marcado pela rejeição. Tivemos a chance de mostrar a riqueza da vida humana, o prazer em dar um sorriso acolhedor e incondicional. Conviver com essa fase da vida, que para tantos é classificada de “aborrecente”, só nos leva a acreditar, cada vez mais, que aborrecente são os que fecham os olhos, os ouvidos e o coração para os jovens que tem a capacidade palpitante e inovadora de criar soluções para a mesmice limitadoras de nossa cultura.
  • 67. BIBLOGRAFIA BABCOCK,D.E., KEEPERS,T.D – Pais OK Filhos OK, tradução CARLI,L., Rio de Janeiro, Editora Artenova s. a.,1997 CAVALCANTE,R., WAGNER,C., AVALCANTE,M., REGINA, C., ARRAES,C., DIÓGENES, F. – Educação Biocêntrica, Fortaleza, Edições CDH, 2001 CHIPKEVITCH,E. – Puberdade e Adolescência – Aspectos Biológicos, Clínicos e Psicossociais, São Paulo, Editora Roca Ltda., 1995 COATES, V.; FRANÇOSO,L.A.; BEZNOS,G.W. – Medicina do Adolescente, São Paulo, Savier Editora de Livros Médicos Ltda., 1993 COELHO,H. A., MATTOSO,M.D.Q. – Biodançando com Adolescentes, Niterói, Projeto gráfico Editoração Eletrônica: Maria Duque, 1994 EISENSTEIN,E., SOUZA,R.P. – Situações de Risco à Saúde de Crianças e Adolescentes, Petrópolis, Editora Vozes, 1993 GARCIA,C. – El Arte de Danzar La Vida: Santiago, Chile – 1ª edição dezembro de 1998, GRUPO DE TRABALHO E PESQUISA EM ORIENTAÇÃO SEXUAL – ADOLESCÊNCIA VULNERABILIDADE, Projeto Trance esta Rede, Ministério da Saúde LEMOS,S. – Vivência de Transcendência, Espirito Santo, Semente Editorial, 1996 LIMA,L.P., SOUZA,I.S., RIBEIRO,J.A., GADIG,J.M., PELEGRINI,A. – Prática de Psicologia Moderna, São Paulo, Honor Editorial Ltda., 6ª edição, 1973
  • 68. MAAKROUN,M.F.; SOUZA,R.P.; CRUZ,A.R. – Tratado de Adolescência – um estudo multidisciplinar, Rio de Janeiro, Editora Cultura Médica, 1991 MONTEIRO,D.L.M.; CUNHA,A.A.; BASTOS,A.C. – Gravidez na Adolescência, Rio de Janeiro, Livraria e Editora Revinter Ltda., 1998 TORO,R.A. – Biodanza. São Paulo, Editora Olavobrás / EPB, 2002 ___________ Material didático do curso de Formação Docente em Biodanza PINTO,L.N. e BOTELHO,P.C.T. – Monografia Implantação de Biodanza para Adolescentes & Pais de Adolescentes em Instituição de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2000. SAITO,M.I. – Adolescência, sexualidade e educação sexual, Revista Pediatria Moderna, São Paulo, Grupo Editorial Moreira JR., 2001 TRANCOSO,A.R. e OLIVEIRA,L.P. – Monografia Biodanza: Instrumento de Transformação Social, Rio de Janeiro, 2003.
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