SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Disciplina : Literatura
Profª: Luciana Tavares
A origem da palavra barroco tem suscitado muitas discussões. Segundo
alguns autores, a palavra tem origem no vocábulo espanhol barrueco, um
termo usado pelos joalheiros desde o século XVI, para designar um tipo de
pérola irregular e de formação defeituosa. Assim, o termo técnico, aplicado
às diferentes artes, passou a designar tudo o que era exagerado,
irregular.
O Barroco, embora tenha ganhado força a partir do século XVII,
está muito relacionado ao contexto da Contrarreforma, cujos marcos
históricos vêm do século anterior. Em 1517, o movimento religioso
conhecido como Reforma começa a dividir a igreja cristã em católicos e
protestantes. Essa divisão enfraquece a influência do catolicismo na
Europa, questionada há tempos pelo racionalismo dos humanistas e
renascentistas.
Com a Reforma, acentua-se a queda de poder político e
econômico do Vaticano, pois muitas regiões da Europa Ocidental em que
antes o catolicismo imperava passam a ser, majoritariamente,
protestantes.
A reação a esse quadro vem com a Contrarreforma, em 1563. A
igreja católica tenta recuperar prestígio e influência de vários modos. Um
deles é o incentivo às manifestações artísticas de temática religiosa, como
arma para fortalecer a fé católica.
No final do século XVI, a igreja reafirma a interpretação
dogmática e teocêntrica do mundo, combatendo o racionalismo
renascentista ainda em vigor. No meio disso está o artista, que, ao lidar
com esse embate filosófico e psicológico vivido nesse período, começa
a reconsiderar a importância da religiosidade, sem, no entanto,
desconsiderar as conquistas racionais.
Como expressão da crise em que vive, ou como tentativa de
escapar dela, o artista barroco lança mão de um grande rebuscamento
formal: ornamenta e decora suas igrejas e catedrais ostensivamente;
produz uma música rica em nuances; cria pinturas dominadas pelo jogo
de claro e escuro; constrói esculturas de alta dramaticidade e escreve
uma literatura repleta de jogos de palavras e de ideias.
Dentre os artistas barrocos, destacam-se as figuras dos italianos
Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) e Gian Lorenzo Bernini
(1598-1680).
Por ser uma produção bastante diversificada, a poesia barroca atingia
leitores de diferentes estratos sociais: enquanto a lírica amorosa, religiosa
circulava nos salões da corte e nos ambientes frequentados pela burguesia mais
abastada, a poesia satírica encontrava receptividade entre a grande massa da
população. Já no caso da prosa, como são exemplos os Sermões de padre
Antônio Vieira no Brasil, os textos eram lidos por membros do clero, da nobreza
e da população em geral.
Formalmente, o Barroco apresenta duas vertentes bem definidas:
Cultismo: baseia-se na convicção de que o conhecimento do mundo pode se
dar por meio de sua descrição plástica; tal ideia se realiza por meio de jogos de
imagens, de palavras e de construções sintáticas.
Conceptismo: exploração dos jogos de ideias ou de conceitos; lança mão do
raciocínio, da lógica, de figuras de linguagem como a antítese e o paradoxo
na abordagem de temas escolhidos.
O padre Antônio Vieira é visto como o principal representante da oratória
sacra em língua portuguesa. Apesar de sacros, seus sermões abordam temas
que ultrapassam a esfera religiosa: trata de questões metalinguísticas, como
o próprio ato de discursar; jurídicas e humanísticas, quando faz a defesa de
leis contra a escravização dos indígenas; e políticas, quando critica a
corrupção e opina sobre as invasões holandesas no Brasil.
A obra de Vieira adota o conceptismo, trabalhando, sobretudo, com elaborados
jogos de ideias e argumentos de autoridade. No entanto, não lhe seria
possível chegar ao refinado trabalho conceitual que faz em seus Sermões se
não empregasse também jogos de palavras ,igualmente, rebuscados.
Compilado em 16 volumes, o conjunto de sermões do padre Vieira é numeroso
e variado. Pregado na capela real de Lisboa em 1655, o Sermão da
Sexagésima é um dos mais célebres. Nele, o orador discorre sobre o estilo dos
pregadores de sua época, considerando-os culpados pelo fato de a palavra de
Deus não fazer frutos, ou seja, não causar a conversão dos ouvintes.
O período de produção que pode ser delimitado como Barroco na literatura
brasileira dura aproximadamente um século (1601-1705), como em Portugal e
na Espanha. Já nas artes plásticas, principalmente a escultura, o período
prolonga-se pelo século XVIII e chega até princípios do século XIX.
Bento Teixeira (1561-1600) é considerado o autor da obra que marca o começo
do Barroco no Brasil: Prosopopeia. Publicado em 1601, o livro é um longo
poema narrativo sobre Jorge de Albuquerque Coelho, na época o donatário da
capitania de Pernambuco.
A crítica atribui pouco valor literário ao poema de Bento Teixeira, que
geralmente só é citado pelo seu valor histórico como introdutor da estética
barroca no Brasil. O grande realizador dessa estética em nosso país foi
Gregório de Matos (1636-1696).
A lírica de Gregório de Matos, composta principalmente de sonetos, é marcada pela
leitura que o escritor fez de poetas clássicos. Os poemas de Gregório de Matos podem
ser divididos em dois núcleos principais: um deles formado pelos que tratam da
problemática amorosa e outro que reúne os poemas de natureza reflexiva e filosófica.
A preferência pelos contrastes, tão ao gosto da arte barroca, aparecerá em ambos.
No primeiro núcleo de poemas, destacam-se textos que versam sobre a beleza da mulher,
contrastando-a com a passagem do tempo, que a deteriora. O tema do carpe diem, que
exalta as felicidades momentâneas, marca alguns dos seus versos.
Já os poemas de natureza reflexiva e filosófica tratam dos temas do
desconcerto/inconstância do mundo.
Mas a poesia satírica é, provavelmente, a parte mais popular da obra de Gregório de
Matos. Pelas críticas frequentes e impiedosas que fez a políticos e à organização social
da Bahia, o poeta ficou conhecido pelo famoso apelido de Boca do inferno.
Outro aspecto importante a ser observado na poesia de Gregório de Matos é a
recorrência da temática religiosa. Nesse ponto, manifesta-se com bastante clareza o
conflito entre a razão e a fé, muito presente na arte barroca.
Barroco | Literatura | Profª Luciana Tavares

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Introdução a Literatura
Introdução a LiteraturaIntrodução a Literatura
Introdução a LiteraturaGlauco Duarte
 
Personificação (figura de linguagem)
Personificação (figura de linguagem)Personificação (figura de linguagem)
Personificação (figura de linguagem)Denise
 
Generos e tipos textuais considerações necessárias marcushi
Generos e tipos textuais considerações necessárias marcushiGeneros e tipos textuais considerações necessárias marcushi
Generos e tipos textuais considerações necessárias marcushiofpedagogica
 
Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.
Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.
Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.Fatima Andreia Tamanini
 
Coesão exóforica ou dêitica
Coesão exóforica ou dêiticaCoesão exóforica ou dêitica
Coesão exóforica ou dêiticaAlex lemos
 
Conclusao - Dissertação (ENEM)
Conclusao - Dissertação (ENEM)Conclusao - Dissertação (ENEM)
Conclusao - Dissertação (ENEM)Cynthia Funchal
 
Parnasianismo e simbolismo
Parnasianismo e simbolismo Parnasianismo e simbolismo
Parnasianismo e simbolismo Elaine Blogger
 
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...Joselma Mendes
 

Mais procurados (20)

Conectivos
ConectivosConectivos
Conectivos
 
Humanismo
HumanismoHumanismo
Humanismo
 
Introdução a Literatura
Introdução a LiteraturaIntrodução a Literatura
Introdução a Literatura
 
Homônimos
HomônimosHomônimos
Homônimos
 
Personificação (figura de linguagem)
Personificação (figura de linguagem)Personificação (figura de linguagem)
Personificação (figura de linguagem)
 
Generos e tipos textuais considerações necessárias marcushi
Generos e tipos textuais considerações necessárias marcushiGeneros e tipos textuais considerações necessárias marcushi
Generos e tipos textuais considerações necessárias marcushi
 
Figuras de Linguagem
Figuras de LinguagemFiguras de Linguagem
Figuras de Linguagem
 
O Trovadorismo
O Trovadorismo O Trovadorismo
O Trovadorismo
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.
Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.
Metafunção Textual (oração como mensagem): SISTEMA DE TEMA E REMA.
 
A poesia parnasiana.
A poesia parnasiana.A poesia parnasiana.
A poesia parnasiana.
 
Humanismo
HumanismoHumanismo
Humanismo
 
Coesão exóforica ou dêitica
Coesão exóforica ou dêiticaCoesão exóforica ou dêitica
Coesão exóforica ou dêitica
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 
Conclusao - Dissertação (ENEM)
Conclusao - Dissertação (ENEM)Conclusao - Dissertação (ENEM)
Conclusao - Dissertação (ENEM)
 
Parnasianismo e simbolismo
Parnasianismo e simbolismo Parnasianismo e simbolismo
Parnasianismo e simbolismo
 
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
 
Toda a Literatura
Toda a LiteraturaToda a Literatura
Toda a Literatura
 
Coesao e-coerencia
Coesao e-coerenciaCoesao e-coerencia
Coesao e-coerencia
 
Clarice lispector- A hora da Estrela
Clarice lispector- A hora da EstrelaClarice lispector- A hora da Estrela
Clarice lispector- A hora da Estrela
 

Semelhante a Barroco | Literatura | Profª Luciana Tavares

Semelhante a Barroco | Literatura | Profª Luciana Tavares (20)

Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Aula 06 barroco no brasil
Aula 06   barroco no brasilAula 06   barroco no brasil
Aula 06 barroco no brasil
 
Movimento Literário Barroco do 1º ANO D
Movimento Literário Barroco do 1º ANO DMovimento Literário Barroco do 1º ANO D
Movimento Literário Barroco do 1º ANO D
 
Barroco & Rococó
Barroco & Rococó Barroco & Rococó
Barroco & Rococó
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Barroco
Barroco Barroco
Barroco
 
Características do barroco
Características do barrocoCaracterísticas do barroco
Características do barroco
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Aula 05 barroco em portugal e literatura informativa
Aula 05   barroco em portugal e literatura informativaAula 05   barroco em portugal e literatura informativa
Aula 05 barroco em portugal e literatura informativa
 
Barroco em portugal
Barroco em portugalBarroco em portugal
Barroco em portugal
 
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
13650916 literatura-aula-05-barroco-em-portugal-e-literatura-informativa
 
Literatura slides
Literatura  slidesLiteratura  slides
Literatura slides
 
Literatura barroca
Literatura barrocaLiteratura barroca
Literatura barroca
 
A linguagem do Barroco - João.docx
A linguagem do Barroco - João.docxA linguagem do Barroco - João.docx
A linguagem do Barroco - João.docx
 
Barroco 1 ano
Barroco 1 anoBarroco 1 ano
Barroco 1 ano
 
Material de apoio trabalho de sala literatura
Material de apoio trabalho de sala literaturaMaterial de apoio trabalho de sala literatura
Material de apoio trabalho de sala literatura
 
Escolas literárias .pdf
Escolas literárias   .pdfEscolas literárias   .pdf
Escolas literárias .pdf
 
O barroco no Brasil
O barroco no BrasilO barroco no Brasil
O barroco no Brasil
 

Mais de Alpha Colégio e Vestibulares

Bioenergética i respiração celular - aulas 31 e 32
Bioenergética i   respiração celular - aulas 31 e 32Bioenergética i   respiração celular - aulas 31 e 32
Bioenergética i respiração celular - aulas 31 e 32Alpha Colégio e Vestibulares
 
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianas
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianasBiologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianas
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianasAlpha Colégio e Vestibulares
 
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino monera
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino moneraBiologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino monera
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino moneraAlpha Colégio e Vestibulares
 
Vírus - Tipos e Doenças Virais - Biologia A - Profª Lara
Vírus  - Tipos e Doenças Virais -  Biologia A - Profª LaraVírus  - Tipos e Doenças Virais -  Biologia A - Profª Lara
Vírus - Tipos e Doenças Virais - Biologia A - Profª LaraAlpha Colégio e Vestibulares
 
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e Verminoses
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e VerminosesProfª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e Verminoses
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e VerminosesAlpha Colégio e Vestibulares
 
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminoses
 Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminoses Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminoses
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminosesAlpha Colégio e Vestibulares
 
Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese - Aulas 35 e 36
Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese  - Aulas 35 e 36Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese  - Aulas 35 e 36
Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese - Aulas 35 e 36Alpha Colégio e Vestibulares
 
Bioenergética II - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.
Bioenergética II  - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.Bioenergética II  - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.
Bioenergética II - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.Alpha Colégio e Vestibulares
 

Mais de Alpha Colégio e Vestibulares (20)

Separação de misturas
Separação de misturasSeparação de misturas
Separação de misturas
 
Estudo da Química
Estudo da QuímicaEstudo da Química
Estudo da Química
 
Evolução
EvoluçãoEvolução
Evolução
 
Bioenergética i respiração celular - aulas 31 e 32
Bioenergética i   respiração celular - aulas 31 e 32Bioenergética i   respiração celular - aulas 31 e 32
Bioenergética i respiração celular - aulas 31 e 32
 
Bioenergética respiração celular - aulas 31 e 32
Bioenergética  respiração celular - aulas 31 e 32Bioenergética  respiração celular - aulas 31 e 32
Bioenergética respiração celular - aulas 31 e 32
 
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianas
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianasBiologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianas
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Infecções bacterianas
 
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino monera
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino moneraBiologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino monera
Biologia A, Profª Lara, 1ª Série - EM | Reino monera
 
Vírus - Tipos e Doenças Virais - Biologia A - Profª Lara
Vírus  - Tipos e Doenças Virais -  Biologia A - Profª LaraVírus  - Tipos e Doenças Virais -  Biologia A - Profª Lara
Vírus - Tipos e Doenças Virais - Biologia A - Profª Lara
 
O Sistema Endócrino
O Sistema EndócrinoO Sistema Endócrino
O Sistema Endócrino
 
Diversidade da vida - Reinos e domínios
Diversidade da vida - Reinos e domíniosDiversidade da vida - Reinos e domínios
Diversidade da vida - Reinos e domínios
 
Os vírus - características e ação
Os vírus  - características e açãoOs vírus  - características e ação
Os vírus - características e ação
 
Gabarito caderno de exercícios 2
Gabarito caderno de exercícios 2Gabarito caderno de exercícios 2
Gabarito caderno de exercícios 2
 
Gabarito Caderno de Exercícios 2
Gabarito Caderno de Exercícios 2Gabarito Caderno de Exercícios 2
Gabarito Caderno de Exercícios 2
 
A origem da vida
A origem da vidaA origem da vida
A origem da vida
 
Sistemas de transporte
Sistemas de transporteSistemas de transporte
Sistemas de transporte
 
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e Verminoses
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e VerminosesProfª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e Verminoses
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Platelmintos e Verminoses
 
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminoses
 Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminoses Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminoses
Profª Quitéria | Biologia | 3ª série EM | Nematódeos e verminoses
 
Artrópodes
ArtrópodesArtrópodes
Artrópodes
 
Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese - Aulas 35 e 36
Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese  - Aulas 35 e 36Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese  - Aulas 35 e 36
Bioenergética II - Fisiologia da Fotossíntese - Aulas 35 e 36
 
Bioenergética II - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.
Bioenergética II  - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.Bioenergética II  - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.
Bioenergética II - Fotossíntese e Quimiossíntese - Aulas 33 e 34.
 

Barroco | Literatura | Profª Luciana Tavares

  • 2. A origem da palavra barroco tem suscitado muitas discussões. Segundo alguns autores, a palavra tem origem no vocábulo espanhol barrueco, um termo usado pelos joalheiros desde o século XVI, para designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa. Assim, o termo técnico, aplicado às diferentes artes, passou a designar tudo o que era exagerado, irregular.
  • 3. O Barroco, embora tenha ganhado força a partir do século XVII, está muito relacionado ao contexto da Contrarreforma, cujos marcos históricos vêm do século anterior. Em 1517, o movimento religioso conhecido como Reforma começa a dividir a igreja cristã em católicos e protestantes. Essa divisão enfraquece a influência do catolicismo na Europa, questionada há tempos pelo racionalismo dos humanistas e renascentistas. Com a Reforma, acentua-se a queda de poder político e econômico do Vaticano, pois muitas regiões da Europa Ocidental em que antes o catolicismo imperava passam a ser, majoritariamente, protestantes. A reação a esse quadro vem com a Contrarreforma, em 1563. A igreja católica tenta recuperar prestígio e influência de vários modos. Um deles é o incentivo às manifestações artísticas de temática religiosa, como arma para fortalecer a fé católica.
  • 4. No final do século XVI, a igreja reafirma a interpretação dogmática e teocêntrica do mundo, combatendo o racionalismo renascentista ainda em vigor. No meio disso está o artista, que, ao lidar com esse embate filosófico e psicológico vivido nesse período, começa a reconsiderar a importância da religiosidade, sem, no entanto, desconsiderar as conquistas racionais. Como expressão da crise em que vive, ou como tentativa de escapar dela, o artista barroco lança mão de um grande rebuscamento formal: ornamenta e decora suas igrejas e catedrais ostensivamente; produz uma música rica em nuances; cria pinturas dominadas pelo jogo de claro e escuro; constrói esculturas de alta dramaticidade e escreve uma literatura repleta de jogos de palavras e de ideias. Dentre os artistas barrocos, destacam-se as figuras dos italianos Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) e Gian Lorenzo Bernini (1598-1680).
  • 5. Por ser uma produção bastante diversificada, a poesia barroca atingia leitores de diferentes estratos sociais: enquanto a lírica amorosa, religiosa circulava nos salões da corte e nos ambientes frequentados pela burguesia mais abastada, a poesia satírica encontrava receptividade entre a grande massa da população. Já no caso da prosa, como são exemplos os Sermões de padre Antônio Vieira no Brasil, os textos eram lidos por membros do clero, da nobreza e da população em geral. Formalmente, o Barroco apresenta duas vertentes bem definidas: Cultismo: baseia-se na convicção de que o conhecimento do mundo pode se dar por meio de sua descrição plástica; tal ideia se realiza por meio de jogos de imagens, de palavras e de construções sintáticas. Conceptismo: exploração dos jogos de ideias ou de conceitos; lança mão do raciocínio, da lógica, de figuras de linguagem como a antítese e o paradoxo na abordagem de temas escolhidos.
  • 6. O padre Antônio Vieira é visto como o principal representante da oratória sacra em língua portuguesa. Apesar de sacros, seus sermões abordam temas que ultrapassam a esfera religiosa: trata de questões metalinguísticas, como o próprio ato de discursar; jurídicas e humanísticas, quando faz a defesa de leis contra a escravização dos indígenas; e políticas, quando critica a corrupção e opina sobre as invasões holandesas no Brasil. A obra de Vieira adota o conceptismo, trabalhando, sobretudo, com elaborados jogos de ideias e argumentos de autoridade. No entanto, não lhe seria possível chegar ao refinado trabalho conceitual que faz em seus Sermões se não empregasse também jogos de palavras ,igualmente, rebuscados. Compilado em 16 volumes, o conjunto de sermões do padre Vieira é numeroso e variado. Pregado na capela real de Lisboa em 1655, o Sermão da Sexagésima é um dos mais célebres. Nele, o orador discorre sobre o estilo dos pregadores de sua época, considerando-os culpados pelo fato de a palavra de Deus não fazer frutos, ou seja, não causar a conversão dos ouvintes.
  • 7. O período de produção que pode ser delimitado como Barroco na literatura brasileira dura aproximadamente um século (1601-1705), como em Portugal e na Espanha. Já nas artes plásticas, principalmente a escultura, o período prolonga-se pelo século XVIII e chega até princípios do século XIX. Bento Teixeira (1561-1600) é considerado o autor da obra que marca o começo do Barroco no Brasil: Prosopopeia. Publicado em 1601, o livro é um longo poema narrativo sobre Jorge de Albuquerque Coelho, na época o donatário da capitania de Pernambuco. A crítica atribui pouco valor literário ao poema de Bento Teixeira, que geralmente só é citado pelo seu valor histórico como introdutor da estética barroca no Brasil. O grande realizador dessa estética em nosso país foi Gregório de Matos (1636-1696).
  • 8. A lírica de Gregório de Matos, composta principalmente de sonetos, é marcada pela leitura que o escritor fez de poetas clássicos. Os poemas de Gregório de Matos podem ser divididos em dois núcleos principais: um deles formado pelos que tratam da problemática amorosa e outro que reúne os poemas de natureza reflexiva e filosófica. A preferência pelos contrastes, tão ao gosto da arte barroca, aparecerá em ambos. No primeiro núcleo de poemas, destacam-se textos que versam sobre a beleza da mulher, contrastando-a com a passagem do tempo, que a deteriora. O tema do carpe diem, que exalta as felicidades momentâneas, marca alguns dos seus versos. Já os poemas de natureza reflexiva e filosófica tratam dos temas do desconcerto/inconstância do mundo. Mas a poesia satírica é, provavelmente, a parte mais popular da obra de Gregório de Matos. Pelas críticas frequentes e impiedosas que fez a políticos e à organização social da Bahia, o poeta ficou conhecido pelo famoso apelido de Boca do inferno. Outro aspecto importante a ser observado na poesia de Gregório de Matos é a recorrência da temática religiosa. Nesse ponto, manifesta-se com bastante clareza o conflito entre a razão e a fé, muito presente na arte barroca.