Correlação entre chuvas e deslizamentos no PPDC de SP
1. 1
CORRELAÇÃO ENTRE CHUVAS E DESLIZAMENTOS OCORRIDOS
DURANTE A OPERAÇÃO DO PLANO PREVENTIVO DE DEFESA CIVIL
EM SÃO PAULO, SP
Dr. JAIR SANTORO
Pesquisador Científico, Instituto Geológico-SMA
Av. Miguel Stefano, 3900, Água Funda, São Paulo/SP, CEP: 04301-903
e-mail: jsantoro@igeologico.sp.gov.br
Dr. RODOLFO MOREDA MENDES
Pesquisador Científico, Instituto Geológico-SMA
Av. Miguel Stefano, 3900, Água Funda, São Paulo/SP, CEP: 04301-903
MSc. MÁRCIA MARIA NOGUEIRA PRESSINOTTI
Pesquisador Científico, Instituto Geológico-SMA
Av. Miguel Stefano, 3900, Água Funda, São Paulo/SP, CEP: 04301-903
GISELE DOS REIS MANOEL
Estagiária, Instituto Geológico-SMA
Av. Miguel Stefano, 3900, Água Funda, São Paulo/SP, CEP: 04301-903
RESUMO
Este trabalho tem por finalidade apresentar uma análise da correlação entre os eventos de
deslizamentos atendidos no âmbito do Plano Preventivo de Defesa Civil para o período de
2000 a 2010, os parâmetros técnicos utilizados na operação do PPDC, ou seja, precipitação
horária (mm/h) e precipitação acumulada de 3 dias (mm), com os condicionantes geológico-
geotécnicos e antrópicos. As análises foram realizadas a partir de modelo proposto inicialmente
para a cidade de Cubatão-SP, onde foram avaliados eventos de escorregamentos e chuvas
para um período de 30 anos. Os resultados obtidos no presente estudo indicam que a
correlação entre chuvas e deslizamentos depende fundamentalmente de parâmetros
associados aos condicionantes do terreno e da precipitação acumulada de, pelo menos, 3 dias.
Palavras-chave: deslizamentos, chuvas, Plano Preventivo de Defesa Civil
ABSTRACT
This paper aims at presenting an analysis of the correlation between the events of landslides
that were attended under the Preventive Plan of Civil Defense for the period 2000 to 2010, with
the technical parameters used in the operation of the PPDC, in other words, precipitation (in
mm/h) and rainfall of 3 days (in mm), and with the geological, geotechnical and anthropogenic
conditions. The analysis were carried out from the model originally proposed for the city of
Cubatão-SP, to evaluate events of landslides and rain for a period of 30 years. The results
obtained indicate that the correlation between rainfall and landslides depends crucially of
parameters related to the limitations of terrain and of the rainfall of 3 days.
Keywords: landslides, rain, Civil Defense Preventive Plan
2. 2
1 INTRODUÇÃO
No Estado de São Paulo, as atividades de identificação, avaliação e gerenciamento de áreas
de riscos geológicos, tiveram início de forma mais sistemática a partir da iniciativa do governo
do Estado face aos acidentes em larga escala e com graves conseqüências que ocorreram no
verão de 1987-1988, na região da Serra do Mar, no Estado de São Paulo. Tais acidentes,
associados a escorregamentos causaram mortes nas cidades de Cubatão e Ubatuba, SP.
Em função da gravidade dessas ocorrências, teve início no verão de 1988-1989, o Plano
Preventivo de Defesa Civil – PPDC, específico para escorregamentos nas encostas da Serra
do Mar no Estado de São Paulo. O PPDC constitui em um importante instrumento de gestão
das ações preventivas dos poderes público municipal e estadual, principalmente quando a
meta é a solução de problemas causados pela ocupação de áreas de risco em diversos
municípios do Estado.
O PPDC é implementado anualmente no período de verão, coordenado pela Defesa Civil do
Estado de São Paulo (CEDEC) e conta com a participação do Instituto Geológico-IG e do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas-IPT. O Plano envolve ações de monitoramento dos índices
pluviométricos (chuvas), previsão meteorológica, vistorias de campo e atendimentos
emergenciais. O objetivo principal do PPDC é evitar a ocorrência de mortes. Para isso a
principal ação prevista no Plano é a remoção preventiva das populações que ocupam áreas de
risco, antes que os escorregamentos atinjam suas moradias.
Atualmente esta atividade é desenvolvida em seis regiões do Estado de São Paulo, com o
monitoramento de 66 municípios, listados a seguir (Figura 1):
- 08 municípios do litoral (Baixada Santista e Litoral Norte);
- 07 municípios da região do ABCD;
- 11 municípios da região de Sorocaba;
- 24 municípios da região de Campinas;
- 16 municípios da região do Vale do Paraíba (Vale, Serra da Mantiqueira e Vale Histórico).
A operação do PPDC corresponde a uma ação de convivência com os riscos geológicos
associados a escorregamentos em encosta, presentes nas áreas ocupadas, tendo em vista
que a gravidade dos problemas frente à eliminação dos riscos identificados, no curto prazo, é
em muitos casos, impraticável (Macedo et al. 1999, Macedo et al. 2002).
Assim, o PPDC pode ser considerado uma eficiente medida não estrutural de gerenciamento
destes riscos, estando consonante com os métodos e as técnicas adotadas pelos sistemas de
Defesa Civil internacionais e recomendado pela ONU.
O objetivo do presente trabalho é analisar os eventos de escorregamentos ocorridos e
atendidos no âmbito do Plano Preventivo de Defesa Civil – PPDC para o período de 2000 a
2010, bem como verificar a correlação dos parâmetros envolvidos nos escorregamentos com
os parâmetros técnicos utilizados na operação do PPDC. Assim, buscou-se avaliar e
correlacionar a precipitação horária (mm/h) e precipitação acumulada de 3 dias (mm) com os
condicionantes geológico-geotécnicos e antrópicos.
3. 3
Figura 1 – Mapa do Estado de São Paulo com os 66 municípios atendidos pelo PPDC
2 METODOLOGIA
2.1 Parâmetros Técnicos Envolvidos no PPDC
O sistema PPDC tem por base legal o Decreto Estadual nº 42.565. A concepção do PPDC
apóia-se na possibilidade de serem tomadas medidas anteriormente à deflagração de
deslizamentos, a partir da previsão das condições potencialmente favoráveis à sua ocorrência,
por meio do acompanhamento de alguns parâmetros técnicos que serão discutidos a seguir.
A definição dos critérios técnicos para a deflagração de ações leva em consideração que a
água (e, consequentemente, a chuva) é o principal agente deflagrador de deslizamentos. Além
disso, os indícios de instabilização das encostas devem prioritariamente determinar o momento
crucial de intervenção do PPDC (Macedo et al. 2006).
Deste modo, a questão principal é: qual a quantidade de água de chuva necessária para
causar o deslizamento? Para respondê-la foram realizadas as análises de correlação entre
chuvas e deslizamentos, relacionando os registros de eventos de deslizamento com dados de
chuvas.
Macedo et al. (2006) observaram que, quanto mais longo for o período de estudo e mais
detalhado forem os dados de deslizamentos e chuvas, melhores resultados poderão ser
obtidos para essa correlação.
Au (1998) estudou diversos eventos de deslizamentos de taludes induzidos pela chuva em
Hong Kong. Segundo o autor, a chuva acumulada tem pouca influência nas rupturas, sendo
estas mais influenciadas pelas chuvas intensas de curta duração.
Quinta Ferreira et al. (2005) analisaram a influência da precipitação na ocorrência de
deslizamentos para a cidade de Coimbra, no período de 1864 a 2003. Os resultados
encontrados foram que os escorregamentos não estão diretamente relacionados à precipitação
acumulada ao longo do ano, e sim aos picos de intensidade pluviométrica.
4. 4
No Brasil, Guidicini & Iwasa (1976) analisaram os índices pluviométricos e respectivas
ocorrências de deslizamentos na Serra do Mar e Mantiqueira, Serra do Maranguape e Vale do
Tubarão. Tais autores concluíram que para precipitações com duração em eventos contínuos
acima de 250-300 mm há ocorrência sistemática de deslizamentos; precipitações acima de
20% da média anual tendem a deflagrar movimentos catastróficos e para precipitações acima
de 12% da média anual tendem a saturar o substrato até um grau crítico, podendo a partir daí,
deflagrar movimentos, independentes do valor acumulado de chuva anterior.
Um dos estudos pioneiros no Estado de São Paulo é a correlação entre chuva e deslizamentos
para a região de Cubatão-SP, elaborada por Tatizana et al. (1987a e 1987b), que se baseia no
levantamento de dados de deslizamentos e chuvas acumuladas e horárias para um período de
mais de 30 anos. Esses autores obtiveram uma curva que correlaciona os registros de
deslizamentos com a precipitação acumulada (em mm), para um período de 84 horas, e com a
intensidade da precipitação (mm/h).
A equação que representa essa curva é utilizada para se obter um Coeficiente de Precipitação
Crítica (CPC), cujos valores são a base para tomada de decisões no PPDC de Cubatão-SP,
conforme apresentado na Figura 2.
Figura 2 - Gráfico da correlação entre chuva e deslizamento elaborado para o município de
Cubatão-SP
Fonte: Tatizana et al. (1987a e 1987b)
Os resultados de correlação obtidos por esses autores (Tatizana et al. 1987a e 1987b) foram
posteriormente extrapolados para toda a região da Serra do Mar e para outras regiões do
Estado de São Paulo, tendo como referência os dados de precipitação acumulada (em mm)
para um período de 72 horas (3 dias). Deste modo, se estabeleceu para os 66 municípios
operados atualmente pelo PPDC, os seguintes acumulados críticos de precipitação para um
período de 72 horas (3 dias):
- Região de Campinas: 80 mm;
- Região da Baixada Santista: 100 mm;
- Região do Litoral Norte: 120 mm;
5. 5
- Região de Sorocaba: 80 mm;
- Região do ABCD: 100 mm;
- Região do Vale do Paraíba: 100 mm (Vale e Vale Histórico) e 80 mm (Serra Mantiqueira).
Apesar dos diversos estudos realizados até o presente momento, tanto no Brasil quanto no
exterior, observa-se que não existe, ainda, um consenso global entre os resultados obtidos nos
estudos de correlação entre chuvas e deslizamentos, na definição de parâmetros ou critérios
técnicos a serem adotados em sistemas de alerta para a ocorrência iminente de deslizamentos
em encostas e taludes. Além disso, não basta apenas adotar parâmetros baseados em
análises de correlação entre chuvas e eventos de deslizamentos. Deve-se considerar, também,
aspectos relacionados principalmente às características geológico-geotécnicas e antrópicas
dos locais onde ocorrem os deslizamentos. Ou seja, parâmetros de chuva acumulada ou de
intensidade de chuva podem ser adotados como valores limites para a deflagração de
deslizamentos generalizados para uma determinada área, e esses mesmos valores podem ser
totalmente incoerentes em relação à deflagração de deslizamentos em outras áreas com
características geológico-geotécnicas distintas.
2.2 Níveis Operacionais e Ações do PPDC
O PPDC está estruturado em 4 níveis operacionais, denominados: observação, atenção, alerta
e alerta máximo, os quais indicam a situação em que o município se encontra, durante a
vigência do Plano. No Estado de São Paulo o período chuvoso é entre os meses de dezembro
a março.
Para cada nível estão previstas ações preventivas para avaliar a possibilidade de ocorrência de
deslizamentos. O monitoramento integrado dos parâmetros operacionais estabelecidos para o
PPDC (índices pluviométricos, previsão meteorológica e vistorias de campo nas áreas de risco)
orienta a deflagração das ações preventivas, ou seja, a entrada e a saída de cada nível do
PPDC (Macedo et al. 2006). O roteiro operacional das ações do PPDC, em cada nível vigente,
encontra-se sintetizado na Tabela 1.
Tabela 1 – Níveis do PPDC e principais ações correspondentes (os valores de referência de
chuva são os citados no item 2.1, para cada região do PPDC)
NÍVEL CRITÉRIO DE AÇÕES A SEREM
AÇÕES A SEREM EXECUTADAS PELO
DO ENTRADA NO EXECUTADAS PELO
MUNICÍPIO
PLANO NÍVEL APOIO TÉCNICO
-Conscientização da população das áreas de
risco;
OBSERVAÇÃO
-Manter técnicos em
-Obtenção do dado pluviométrico;
plantão para
-Cálculo do acumulado de chuvas;
Início da operação acompanhamento e
-Recebimento da previsão meteorológica;
do plano. análise da situação;
-Transmissão para o apoio técnico do dado
-Enviar previsões
pluviométrico e nível vigente;
meteorológicas
-Avaliação da necessidade de MUDANÇA
DE NÍVEL.
6. 6
-Declarar MUDANÇA DE NÍVEL;
-Comunicar ao apoio técnico sobre
MUDANÇA DE NÍVEL;
-Quando o -Realizar VISTORIAS de campo visando
acumulado de verificar a ocorrência de deslizamentos e -Manter técnicos em
ATENÇÃO
chuvas ultrapassar feições de instabilização. Devem ser iniciadas plantão para
o valor de pelas áreas de risco; acompanhamento e
referência -Obtenção do dado pluviométrico; análise da situação;
combinado com a -Cálculo do acumulado de chuvas; -Enviar previsões
previsão -Recebimento da previsão meteorológica; meteorológicas.
meteorológica. -Transmissão ao apoio técnico do dado
pluviométrico e nível vigente;
-Avaliação da necessidade de MUDANÇA
DE NÍVEL.
-Declarar MUDANÇA DE NÍVEL;
-Comunicar ao apoio técnico sobre
MUDANÇA DE NÍVEL;
-Realizar VISTORIAS de campo;
-Quando as -Retirada da população das áreas de risco
-Deslocamento de
vistorias de campo iminente;
técnicos para
indicarem a -Obtenção do dado pluviométrico;
ALERTA
acompanhamento da
existência de -Cálculo do acumulado de chuvas;
situação e avaliação da
feições de -Recebimento da previsão meteorológica;
necessidade de medidas
instabilidade ou -Transmissão ao apoio técnico do dado
complementares;
mesmo pluviométrico e nível vigente;
-Enviar previsões
deslizamentos -Agilizar os meios necessários para
meteorológicas.
pontuais. POSSÍVEL
retirada da população das demais áreas de
risco;
-Avaliação da necessidade de MUDANÇA
DE NÍVEL.
-Declarar MUDANÇA DE NÍVEL;
-Comunicar ao apoio técnico sobre
ALERTA MÁXIMO
MUDANÇA DE NÍVEL; -Deslocamento de
-Proceder a retirada da população das áreas de técnicos para
-Quando risco e demais áreas necessárias; acompanhamento da
ocorrerem -Obtenção do dado pluviométrico; situação e avaliação da
deslizamentos em -Cálculo do acumulado de chuvas; necessidade de medidas
geral. -Recebimento da previsão meteorológica; complementares;
-Transmissão ao apoio técnico do dado -Enviar previsões
pluviométrico e nível vigente; meteorológicas.
-Avaliação da necessidade de MUDANÇA
DE NÍVEL.
Fonte: Macedo et al. (2006)
2.3 Análise dos Dados para Correlação
Para o presente trabalho foram levantados, inicialmente, os registros de atendimentos
emergenciais realizados pelo Instituto Geológico (IG), durante a operação do PPDC no período
de 2000 a 2010. Posteriormente foram selecionados os atendimentos emergenciais associados
com processos de escorregamentos em encostas e taludes de corte/aterro. Deste modo, não
foram considerados os atendimentos envolvendo processos associados à
queda/rolamento/desplacamento de blocos rochosos, rastejo e corridas de detritos. Portanto,
os dados utilizados neste trabalho correspondem a 53 atendimentos emergenciais do PPDC
realizados pelo IG em 25 municípios no Estado de São Paulo, no período de 2000 a 2010, nos
quais foram registradas as ocorrências de 175 deslizamentos em encostas e taludes de
corte/aterro, conforme apresentado na Tabela 02.
7. 7
Na Figura 3 é apresentada a distribuição espacial dos municípios atendidos durante a
operação do PPDC no período de 2000 a 2010, bem como os respectivos números de
ocorrências de deslizamentos por município.
Tabela 2 – Municípios atendidos, pelo IG, durante a operação do PPDC no período de 2000 a
2010, e respectivos registros de deslizamentos de encosta e talude de corte/aterro
Nº de Ocorrências de Deslizamento considerados na avaliação Total de Total de
Município
00-01 01-02 02-03 03-04 04-05 05-06 06-07 07-08 08-09 09-10 Atendimentos Deslizamentos
Santo André 4 1 1 3 6
São B. Campo 3 14 3 17
Ribeirão Pires 5 5 3 10
Rio G. Serra 2 1 2
Mauá 9 1 9
Cubatão 4 1 2 5
Guarujá 3 7 4 2 4 9 20
Santos 1 1 2 2
São Vicente 1 2 1 3 4
Atibaia 4 1 4
Campo Limpo 7 1 7
Várzea Paulista 4 1 4
Caraguatatuba 2 1 2
São Sebastião 7 3 2 10
Ubatuba 9 1 12 4 22
Campos Jordão 6 1 6
S. L. Paraitinga 9 1 9
Mairinque 1 1 1
Piedade 5 5 5
São Roque 2 5 1 3 8
Votorantim 3 1 3
Aparecida 3 1 3
Bananal 3 1 3
Cunha 7 1 7
Guaratinguetá 6 1 6
Total 5 2 6 13 42 9 0 4 29 65 53 175
Fonte: Acervo IG do PPDC (2000-2010)
8. 8
Figura 3 – Distribuição espacial dos 25 municípios atendidos durante a operação do PPDC no
período de 2000 a 2010 e respectivas ocorrências de deslizamentos (atendidas pelo IG)
3 RESULTADOS
Os dados referentes aos 53 atendimentos emergenciais realizados pelo IG, durante a vigência
do PPDC, associados com processos de escorregamentos em encostas e taludes de
corte/aterro, para o período de 2000 a 2010, foram agrupados em períodos bianuais (dez/2000
a março/2001, por exemplo) e analisados a partir de gráficos de chuva diária versus chuva
acumulada de 84, 72 e 48 horas, conforme apresentado nas Figuras 4, 5 e 6, respectivamente.
Nesses gráficos também foi inserida a curva de correlação de Tatizana et al. (1987a e 1987b) e
a linha para a qual os valores de precipitação diária (Pd) são iguais aos valores de chuva
acumulada (AC).
9. 9
200 Correlação Tatizana et al (1987)
Deslizamentos PPDC 2000-2001
Pd>AC Deslizamentos PPDC 2001-2002
Pd<AC Deslizamentos PPDC 2002-2003
Deslizamentos PPDC 2003-2004
Chuva diária (mm/24 horas)
150 Deslizamentos PPDC 2004-2005
Deslizamentos PPDC 2005-2006
Deslizamentos PPDC 2007-2008
A Deslizamentos PPDC 2008-2009
100 Deslizamentos PPDC 2009-2010
Pd = AC
A - Zona com deslizamentos
B B - Zona sem deslizamentos
50
0
0 100 200 300 400 500
Chuva acumulada de 84 horas (mm)
Figura 4 – Gráfico de chuva diária (Pd) versus chuva acumulada de 84 horas (AC) e
deslizamentos ocorridos no âmbito do PPDC para o período de 2000 a 2010
Ao analisar o gráfico de chuva diária versus chuva acumulada de 84 horas, conforme
apresentado na Figura 4, observa-se que a grande maioria dos pontos representativos dos
deslizamentos do PPDC está situada na zona onde se espera ocorrer deslizamentos (A), ou
seja, acima da curva de correlação proposta por Tatizana et al. (1987a e 1987b). Além disso,
três pontos se situaram abaixo e outros três pontos se encontraram sobre a curva de
correlação. Deve-se ressaltar que, apesar da curva de correlação proposta por Tatizana et al.
(1987a e 1987b) ser originariamente representada em gráfico de chuva horária (mm/h), os
dados de deslizamentos do PPDC analisados por gráficos de chuva diária (mm/24horas)
apresentaram uma excelente correlação com a curva de Tatizana et al. (1987a e 1987b).
Também foram obtidos excelentes resultados de correlação quando chuvas acumuladas de 72
horas foram consideradas, conforme apresentado na Figura 5. Neste caso, nota-se um ligeiro
aumento no número de pontos (deslizamentos) situados abaixo da curva de correlação de
Tatizana et al. (1987a e 1987b), ou seja, três pontos, mas mantendo a maioria dos pontos
situados acima da curva de correlação. Os ótimos resultados de correlação obtidos para os
dados de chuva acumulada de 72 horas reforçam a continuidade na adoção desses
parâmetros técnicos estabelecidos na operação do PPDC.
10. 10
200 Correlação Tatizana et al (1987)
Deslizamentos PPDC 2000-2001
Pd>AC Deslizamentos PPDC 2001-2002
Pd<AC Deslizamentos PPDC 2002-2003
Deslizamentos PPDC 2003-2004
Chuva diária (mm/24 horas)
150 Deslizamentos PPDC 2004-2005
Deslizamentos PPDC 2005-2006
Deslizamentos PPDC 2007-2008
Deslizamentos PPDC 2008-2009
A Deslizamentos PPDC 2009-2010
100 Pd = AC
A - Zona com deslizamentos
B - Zona sem deslizamentos
B
50
0
0 100 200 300 400 500
Chuva acumulada de 72 horas (mm)
Figura 5 – Gráfico de chuva diária (Pd) versus chuva acumulada de 72 horas (AC) e
deslizamentos ocorridos no âmbito do PPDC para o período de 2000 a 2010
Já os dados de deslizamentos analisados a partir da chuva acumulada de 48 horas, conforme
apresentado na Figura 6, apresentaram resultados de menor correlação.
200 Correlação Tatizana et al (1987)
Deslizamentos PPDC 2000-2001
Deslizamentos PPDC 2001-2002
Deslizamentos PPDC 2002-2003
Deslizamentos PPDC 2003-2004
Chuva diária (mm/24 horas)
150 Deslizamentos PPDC 2004-2005
A
Deslizamentos PPDC 2005-2006
Deslizamentos PPDC 2007-2008
Deslizamentos PPDC 2008-2009
100 Deslizamentos PPDC 2009-2010
A - Zona com deslizamentos
B B - Zona sem deslizamentos
50
0
0 100 200 300 400 500
Chuva acumulada de 48 horas (mm)
Figura 6 – Gráfico de chuva diária (Pd) versus chuva acumulada de 48 horas (AC) e
deslizamentos ocorridos no âmbito do PPDC para o período de 2000 a 2010
11. 11
Considerando os resultados de boa correlação obtidos entre os dados de deslizamentos do
PPDC e os dados de chuva acumulada de 72 horas, buscou-se avaliar o desempenho dos
parâmetros atualmente utilizados no PPDC, ou seja, a faixa de valores de acumulados críticos
de precipitação de 3 dias adotados para as diferentes regiões do Estado de São Paulo (80 a
120 mm), conforme apresentado na Figura 7.
Analisando a Figura 7, observa-se que ocorreu um número considerável de deslizamentos
(cinco) com valores de precipitação acumulada inferiores aos parâmetros operacionais
atualmente utilizados no PPDC. Tal fato sugere a adoção de parâmetros operacionais mais
conservadores, no sentido de antecipar as vistorias de campo (conforme indicado nas ações do
nível de atenção do PPDC). Este procedimento visa garantir uma maior eficiência na
identificação das feições de instabilidade do terreno e na adoção de medidas preventivas
estabelecidas no PPDC. Assim, sugere-se a mudança da faixa de valores de acumulados
críticos de precipitação de 3 dias, de 80 a 120 mm, para 60 a 100 mm, conforme apresentado
na Figura 7, de acordo com as diferentes regiões operadas pelo PPDC.
200 Correlação Tatizana et al (1987)
Pd>AC Deslizamentos PPDC 2000-2001
Deslizamentos PPDC 2001-2002
Pd<AC Deslizamentos PPDC 2002-2003
Deslizamentos PPDC 2003-2004
Chuva diária (mm/24 horas)
150 Deslizamentos PPDC 2004-2005
Deslizamentos PPDC 2005-2006
Deslizamentos PPDC 2007-2008
Deslizamentos PPDC 2008-2009
Deslizamentos PPDC 2009-2010
100 Pd = AC
A - Zona com deslizamentos
B - Zona sem deslizamentos
B A Parâmetros operacionais atuais - PPDC
50 Parâmetros operacionais sugeridos - PPDC
0
0 100 200 300 400 500
Chuva acumulada de 72 horas (mm)
Figura 7 – Gráfico com parâmetros operacionais (chuva acumulada de 72 horas) atuais e
sugeridos para o PPDC
Verifica-se, também, que a maioria dos deslizamentos ocorridos está situada à direita da linha
“Pd=AC”, indicando que, nestas condições, a chuva acumulada de 3 dias teve uma influência
mais significativa para a ocorrência dos deslizamentos do que a chuva diária. Alguns
deslizamentos estão situados sobre a linha “Pd=AC”, ou seja, os deslizamentos ocorrem para a
condição de precipitação acumulada de 3 dias igual à chuva diária. Nestes casos, a chuva
diária ou a intensidade de chuva horária ao longo do dia teve mais influência na ocorrência de
tais eventos. De qualquer modo, acredita-se que o potencial, tanto da intensidade da chuva
quanto da precipitação acumulada, na geração de eventos de escorregamentos, dependem
fundamentalmente do histórico ou da trajetória de umidade no terreno nos dias que antecedem
os deslizamentos.
12. 12
Como exemplo, são apresentados os dados de chuva diária e de precipitação acumulada de 72
horas, relacionados ao deslizamento que ocorreu em São Roque, no dia 28 de janeiro de 2004,
conforme apresentado na Figura 8. A chuva diária e o acumulado de 72 horas no dia do
deslizamento foram de 23 e 150 mm, respectivamente. Além disso, o histórico de chuvas nos
dias anteriores ao evento sugere ter sido um dos aspectos significativos para o
desencadeamento do processo de deslizamento.
80
Acumulado Diário (mm)
70
São Roque (2003-2004)
60
50 Deslizamento
28/01/2004
40
30
20
10
0
15/mar
22/mar
29/mar
12/jan
19/jan
26/jan
1/dez
8/dez
1/mar
8/mar
15/dez
29/dez
22/dez
5/jan
2/fev
9/fev
16/fev
23/fev
200
Acumulado de 72 horas (mm)
180 Deslizamento
São Roque (2003 - 2004)
28/01/2004
160
140
120
100
80
60
40
20
0
15/mar
22/mar
29/mar
1/dez
8/dez
12/jan
19/jan
26/jan
1/mar
29/dez
15/dez
22/dez
8/mar
5/jan
2/fev
9/fev
16/fev
23/fev
Figura 8 – Registros de chuva para o município de São Roque-SP no período 2003-2004
Ao analisar os dados da Figura 9, relativos ao município de Votorantim, observa-se que a
chuva diária e o acumulado de 72 horas no dia do deslizamento (27/01/2004) foram de 122 e
220 mm, respectivamente, e que não houve um histórico de chuvas significativo nos dias
anteriores ao deslizamento, como aquele ocorrido no município de São Roque.
Comparando os dados de chuva dos deslizamentos ocorridos em São Roque e Votorantim,
conforme apresentado nas Figuras 8 e 9, respectivamente, nota-se que os acumulados diários
e de 3 dias, nos dias anteriores aos eventos, apresentaram comportamento diferenciado em
relação à distribuição das chuvas, apesar de estarem situados na mesma região operacional.
13. 13
Tal fato sugere a necessidade do desenvolvimento de estudos específicos para cada região
operada pelo PPDC, e possivelmente a proposta de adoção de novos parâmetros técnicos de
monitoramento para o estabelecimento de níveis críticos de chuva. Assim, haveria a
possibilidade de estabelecer os índices pluviométricos críticos em função das características
geológico-geotécnicas específicas para diferentes áreas, mesmo quando essas áreas estejam
situadas numa mesma região.
160
Deslizamento
140 Acumulado Diário (mm)
27/01/2004
Votorantim (2003 - 2004)
120
100
80
60
40
20
0
1/mar
8/mar
15/dez
22/dez
29/dez
5/jan
12/jan
15/mar
22/mar
29/mar
19/jan
26/jan
1/dez
8/dez
16/fev
23/fev
2/fev
9/fev
300
Acumulado de 3 dias (mm) Deslizamento
250 Votorantim (2003 - 2004) 27/01/2004
200
150
100
50
0
1/mar
8/mar
15/dez
22/dez
29/dez
5/jan
15/mar
22/mar
29/mar
12/jan
19/jan
26/jan
1/dez
8/dez
16/fev
23/fev
2/fev
9/fev
Figura 9 – Registros de chuva para o município de Votorantim-SP no período 2003-2004
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados obtidos, sugere-se a adoção de parâmetros operacionais mais
conservadores, para a operação do PPDC, visando à mudança da faixa de valores de
acumulados críticos de precipitação de 3 dias, de 80 a 120 mm, para 60 a 100 mm, de acordo
com as diferentes regiões operadas pelo PPDC. Assim, busca-se que as ações de vistoria de
campo, no nível de atenção, sejam antecipadas, de forma a se trabalhar com um fator de
segurança maior na adoção das medidas preventivas preconizadas pelo PPDC.
14. 14
Tanto a intensidade da chuva quanto a precipitação acumulada, são fatores fundamentais na
geração de eventos de escorregamentos, e dependem diretamente do histórico e da trajetória
de umidade no terreno, nos dias que antecedem os deslizamentos.
A ocorrência de eventos pluviométricos extraordinários e a ocorrência da perda de centenas de
vidas humanas, como temos presenciado atualmente, traz consigo um alerta sobre até que
ponto estes fatos poderiam ser minimizados ou evitados.
Por outro lado, sabemos que a gestão do crescimento urbano de nossas cidades, com relação
às características geológicas e geotécnicas dos terrenos ocupados, e os problemas associados
não tem sido objeto de preocupação dos administradores de nossas cidades.
Sendo assim, torna-se cada vez mais urgente a elaboração de cartas geotécnicas, cartas de
risco, documentos indispensáveis a uma eficiente gestão do uso do solo pelos municípios.
Além disso, os sistemas de monitoramento e alerta voltados às áreas de risco, à remoção de
moradias em risco iminente, à capacitação de técnicos municipais e estaduais e ao treinamento
das comunidades são ações fundamentais que devem ser mantidas, ampliadas e
aperfeiçoadas, bem como aquelas preconizadas durante a operação do PPDC no Estado de
São Paulo e objeto desse trabalho.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC do Estado de São
Paulo e às Coordenadorias Municipais de Defesa Civil pela cessão das informações utilizadas
no presente trabalho. Agradecem também aos colegas do IG que participaram dos
atendimentos emergenciais do PPDC realizados e utilizados neste trabalho.
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15. 15
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análise de correlação entre chuvas e escorregamentos aplicado às encostas da Serra do Mar
no município de Cubatão. Anais do Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia, 5, São
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