2. ERA UMA VEZ UMA CIDADE
QUE POSSUÍA UMA
COMUNIDADE,
QUE POSSUÍA UMA
ESCOLA.
MAS OS MUROS
DESSA ESCOLA
ERAM FECHADOS
A ESSA COMUNIDADE.
DE REPENTE,
CAÍRAM-SE OS MUROS
E NÃO SE SABIA MAIS ONDE
TERMINAVA A ESCOLA,
ONDE COMEÇAVA
A COMUNIDADE.
E A CIDADE PASSOU
A SER UMA
GRANDE AVENTURA DO
CONHECIMENTO.
Texto extraído do DVD "O Direito de Aprender", uma realização da
Associação Cidade Escola Aprendiz, em parceria com a UNICEF.
5. 1
2
3
5
4
6
A Série Mais Educação 05
07
08
09
13
13
Apresentação do Caderno
Uma pequena introdução ou histórias para quem gosta de refletir…
Alguns apontamentos para a construção de uma proposta de alfabetização
Alfabetizar é possível
Por que há um contingente tão grande de crianças e também de jovens e de adultos
que frequentam a escola, ano após ano, e não aprendem a ler e a escrever?
Será que a questão é o método?7 14
8
9
10
12
11
13
Mas… O que aconteceu?
A inscrição simbólica das pessoas na cultura escrita é que possibilita que elas
encontrem sentidos e finalidades na alfabetização.
Outro jeito de olhar aluno e alfabetização
Alguns princípios importantes
14
16
15
17
18
Entendendo como pensam os alfabetizandos
O que pensa o aluno que compreende a escrita pré-silabicamente?
Orientações didáticas para o trabalho com alunos que fazem hipótese pré-silábica
de escrita
O que pensa o aluno que compreende a escrita silabicamente?
O que pensa o aluno que escreve alfabeticamente?
Orientações didáticas para o trabalho com alunos que fazem hipóteses alfabética
de escrita
Objetivos de aprendizagem para os alunos que fazem hipóteses alfabéticas de
escrita
16
19
20
21
22
23
25
27
30
31
32
19 O trabalho por grupos diferenciados 33
7. 05
P
ensar na elaboração de uma proposta de Educação Integral como política pública
impregnado das práticas disciplinares da modernidade. O processo educativo, que se
dinamiza na vida social contemporânea, não pode continuar sustentando a certeza de
do conhecimento universal. Também não é mais possível acreditar que o sucesso da educação
está em uma proposta curricular homogênea e descontextualizada da vida do estudante.
Romper esses limites político-pedagógicos que enclausuram o processo educacional na
partir dele que será possível promover a ampliação das experiências educadoras sintonizadas
sua responsabilidade pela educação, sem perder seu papel de protagonista, porque sua ação é
Série Mais Educação
Texto Referência para o Debate Nacional, Rede de Saberes: pressupostos
para projetos pedagógicos de Educação Integral e Gestão Intersetorial no Território, apresenta os
Cadernos Pedagógicos do Programa Mais Educação pensados e elaborados para contribuir
perspectiva da Educação Integral.
1A Série Mais Educação
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da socie-
dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
para o trabalho”. (Art. 205, CF)
8. 06
Educação Econômica.
Em cada um dos cadernos apresentados, sugere-se caminhos para a elaboração de propostas
pedagógicas a partir do diálogo entre os saberes acadêmicos e os saberes da comunidade. A
e a organização escolar visualizando a cidade e a comunidade como locais potencialmente
educadores.
devem ser entendidas como uma apresentação de modelos prontos para serem colocados em
pública brasileira!
9.
072Apresentação do Caderno
E autorias.
nos enredos das aprendizagens da leitura e da escrita.
considerado como regular como em sua extensão.
Os sentidos da leitura e da escrita vão se produzindo nos trânsitos pelos espaços do bairro,
da comunidade, da cidade, na busca de uma leitura do mundo, de corpo inteiro, quando se lê a
O seguir etapas rígidas, com todos ao mesmo tempo, pode ser uma das causas dos insucessos
que se desenvolvem em descompasso com os momentos de aprendizagem de cada criança e com
suas expectativas de ler e de escrever.
apontando para práticas pedagógicas que,acreditamos,possam ser propulsoras de aprendizagens
contando algumas.
10. E chegava a hora do recreio e elas não haviam copiado…
E o tempo, como na letra da música “A linda rosa juvenil”, correu a passar, a passar e aquelas
O curioso é que elas entraram na escola cheias de esperança, porque iriam aprender a ler e a
em histórias, notícias, rezas, cantorias e tantas outras coisas.
Que coisas interessantes essas crianças reprovadas sabiam e que nunca puderam mostrar? O
que elas pensavam sobre a escrita?
investigador para as ações dos aprendizes da vida, do mundo e, neste mundo, o da escrita.
compreender o modo como as crianças aprendem a ler e a escrever, e direcionar nossas práticas,
Teríamos muitas histórias a contar, neste texto, mas selecionamos algumas.
Camila tem três anos. Tem uma irmã em idade escolar e vive num ambiente que se pode
considerar muito rico em eventos de letramento, mas não parecia estar interessada pelo
mundo da escrita.
0608
3 Uma pequena introdução ou histórias
para quem gosta de refletir…
Certa noite, ela estava no banheiro escovando os dentes.
Sua irmã pegou o tubo de pasta dental e apontou para a marca, perguntando:
— Tem alguma coisa escrita aqui?
Ela olhou bem, passou o dedinho por cima das letras e disse:
11. Agoraquenostornamoscúmplicesdesuas
aventuras de leitura, conseguimos enxergar
textos que estão em muitos lugares por
onde ela anda e em materiais escritos com
os quais ela convive: sinais de trânsito,
placas, cartazes, revistas, objetos, rótulos,
embalagens…
também de três anos, que disse, andando pela
rua com a avó, enquanto esta caminhava e ele
— Lendo? Quê?
Que tal nos tornarmos cúmplices das aventuras de leitura e de escrita de todas as crianças,
explorando, valorizando o que sabem e trabalhando, a partir daí, para que avancem em suas
hipóteses?
escolar propriamente dito, mas incluímos também o entorno, a comunidade, o bairro, a cidade,
O
09
4Alguns apontamentos para a construção
de uma proposta de alfabetização
Ela já estava imersa
no mundo da escrita,
construindo suas
hipóteses de leitura,
apenas não havia sido
provocada para
mostrar seus
conhecimentos
12. 10
investigativos têm nos mostrado que, para aprender a ler e a escrever, é preciso produção de
linguísticas.
Para aprender a ler e a escrever é preciso conviver com as diferentes unidades linguísticas que devem,
portanto, ser trabalhadas em todos os espaços educativos.
[…] Tudo está na palavra… Uma ideia inteira muda, porque
uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como
uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que lhe
obedeceu. As palavras têm peso, plumas, pelos, têm tudo que se
lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de
pátria, de tanto ter raízes… São antiguíssimas e recentíssimas […]
(NERUDA, P. In: NETO, A.G. A produção de textos na escola, 1988.)
Múltiplas
Unidades
Linguísticas
Memorizar,
construir
um repertório
palavras e textos
reconhecer,
comparar, analisar
Copiar,“ler”,
cantar,
declamar
13. 11
Aprender a ler
e a escrever
é também...
Cantar, Dançar,
Brincar, Jogar
Olhar, Sentir,
Descobrir
Ler quando
ainda não se sabe ler,
recorrendo a letras
de música e qualquer
texto memorizado, em
múltiplos portadores
de textos e tipologias
textuais
Conviver,
Compartilhar,
Cooperar
Aprender com o corpo inteiro,
com o espaço, com diversos
materiais, com textos,
com palavras e letras.
Explorar múltiplos materiais de
leitura – roteiros mapas, embalagens
rótulos, jornais, revistas, bulas de
remédio, quadrinhos, bilhetes, receitas,
cartas, Bíblias, folheto de oração, folders,
cartazes, canções de igreja, cantigas de
roda e letras de música
Algumas
possibilidades
de viver os processos
de ler e escrever
Escrever mesmo
quando ainda
não se sabe escrever
Viver a sala de aula, ou
outros espaços, como um
grande livro de texto
Trabalhar, jogar e brincar
com palavras e letras
móveis.
Produzir e explorar
texto, quando já se
sabe
ler. Compartilhar
Leituras
Construir textos
coletivos e realizar
leituras orientadas
14. 12 letramento não se dão desvinculados dos múltiplos campos do saber e estes, estão intimamente
O acompanhamento pedagógico, trabalhado no caderno do qual este texto é integrante, aborda
importância da água na natureza.Todas as ações,aqui propostas,podem ser realizadas,interligadas
quando de palavras, textos…
Educação Integral.
Suzana Pacheco no texto sobre letramento
Nestes apontamentos de possibilidades de ações pedagógicas há alguns princípios importantes
Múltiplos
Temas: ricas
possibilidades de
ler e de escrever
Esporte e Lazer
Promoção da
Saúde
Comunicação e Uso
de Mídias
Cultura Digital
Cultura e ArtesDireitos Humanos em
Educação
Educação
Econômica
Educação
Ambiental
Investigação no Campo
das Ciências da Natureza
15. 13
A história das crianças que copiavam a data nos remete a reprovações, insucessos e esta é uma
Por que tantas crianças não aprendem na escola o que se pensa que deveriam aprender?
muitas vezes, não acontece e a interrogação persiste.
E
escolares.
Talvez devêssemos examinar essa questão pelo seu avesso:
O que leva esses alunos a terem sucesso no seu processo de alfabetização?
palavra, na leitura do mundo, ou precedido pela leitura do mundo.
Todas as crianças podem aprender as crianças são facilmente alfabetizáveis.
Os alunos estão em momentos diferentes de suas aprendizagens.
O espaço tem sua poética,e,por isso,é fundamental criar ambientes favoráveis para a aprendizagem:
- organizados
- agradáveis
- bonitos
- provocadores de sentimentos, de identidades e construção de laços de pertencimento
5Alfabetizar é possível
Por que há um contingente tão grande de
crianças e também de jovens e de adultos
que frequentam a escola, ano após ano, e
não aprendem a ler e a escrever?
6
16. 14 inicia em um momento determinado e nem se restringe a rituais repetitivos de leitura e de escrita,
mas começa na própria vida, quando as crianças gesticulam, esboçam sorrisos, movimentam seu
de gestos de outros, leem outros sorrisos, expressões de aprovação, desaprovação, processo esse,
que segue pelos caminhos do lúdico, de práticas sociais de leitura e escrita, que se relacionam ao
por onde anda a criança e ao modo como se estabelecem as interações.
A divulgação dos resultados das avaliações a que vem sendo submetida à educação, no Brasil,
hegemônicos produziram os escandalosos índices de reprovação que tanto nos mobilizaram por
Outra declara que os maus resultados atuais são o resultado das práticas chamadas
a volta aos métodos fônicos é um retrocesso
por não valorizar os contextos sociais e culturais em que a aprendizagem se dá. Além disso,
nosso país, na maioria das salas de aula de todas as regiões, os métodos de orientação fônica
seguiram dominando nas últimas décadas.
os sintéticos
os analíticos
sintéticos, quanto analíticos é mais antiga do que as políticas de implantação de educação pública
e democrática.
“é com o valor que se há de ler e não
com o nome das letras”
da silabação, porque considerava que “não se deve consentir que as crianças soletrem, mas que
pronunciem as sílabas”.
7 Será que a questão é o método?
17. 15MUITA CALMA, ENTÃO!!!
Se a solução dos problemas de alfabetização,no Brasil,dependesse apenas da escolha do “método
certo”, como vimos antes, já seria para termos zerado a produção de analfabetos.
sendo ora um, ora outro colocado no banco dos réus. Esgotadas as polêmicas dos métodos, pelo
psicogenéticos, com orientações variadas, desde antropológicas, psico e sociolinguísticas, até
mas desempenha relevante papel, se, devidamente estudada e tomada como uma base teórica
importante,para orientar práticas pedagógicas que considerem também outros campos de estudos.
era homogêneo e que todos os alunos ingressantes na escola partiriam do mesmo ponto, rumo ao
insucessos.
A TRAJETÓRIA DAS CRIANÇAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAR-SE
Alguns estudos têm nos ajudado a entender mellhor como as crianças
aprendem a ler e a escrever, trilhando um percurso que pode começar muito
antes de sua entrada na instituição escolar.
Os trabalhos de Jean Piaget sobre a formação de símbolo nas crianças
nos apontaram o caminho percorrido por elas, por meio das etapas da
imitação, da imitação diferida e do jogo simbólico até a constituição do
processo de simbolização.
Vygotsky estudou a relação entre pensamento, linguagem oral e escrita.
Emília Ferreiro e suas colaboradoras provaram que as crianças
constroem e reconstroem hipóteses sobre a língua escrita, na interação com
este objeto cultural e com os falantes de sua língua, desde que a escrita se
torne objeto de sua atenção.
As pesquisadoras descobriram fases no desenvolvimento da
compreensão da escrita a que deram os nomes de pré-alfabéticas
(pré-silábica e silábica), alfabéticas e pós-alfabéticas (já incluindo
ortográfica) as “etapas” percorridas pela criança até a contrução do sistema
de escrita alfabético.
18. 16
Trocamos os métodos pelos discursos que criticam os métodos
Essa última ideia, aliás, bastante evidente, diz respeito ao processo mais amplo de inserção na
. Não se trata
Por que isso aconteceu?
Na verdade, à escola e aos educadores cabe entender que há muitos jeitos de não estar ainda
alfabetizado, porque as pessoas constroem diferentes hipóteses sobre o que seja a escrita e sobre
como se escreve e como se lê, ou seja, há múltiplos pontos de partida e são também, múltiplos os
caminhos para a chegada.
8 Mas… O que aconteceu?
Eu já estou
“no queijo”.
Eles estão
“na vaca”.
Você ainda nãodeu“a lata”?
19. 17dela se encontravam. Quanto aos alunos e ao que estariam compreendendo, só se podia supor que
O Quadro Negro
Cecília Meireles
Depois que os teoremas ficam demonstrados,
quando as equações se tiverem transformado,
desenvolvido, revelado;
e o mistério das palavras estiver todo aberto em flores;
quando todos os nomes e números se acharem escritos
e supostamente compreendidos,
com vagaroso e leve movimento
o Professor passará uma silenciosa esponja
sobre as coisas escritas:
e nos sentiremos outra vez cegos,
sem podermos recordar o que julgávamos ter aprendido,
e que apenas entrevíramos,
com em sonho.
20. 18
da língua escrita, que conseguimos estabelecer uma ponte entre os processos psicológicos e
Além disso, avanços na compreensão em vários campos de investigação que subsidiam
contextualização dos saberes a serem ensinados, para que ocorra aprendizagem.
Em Pensamento e linguagem
letramento ou a cultura escrita.
Quando a psicogênese da língua escrita colocou as concepções sobre a escrita do sujeito não alfabetizado
no centro do processo de alfabetização, passou a não fazer mais sentido respeitar a rígida ordem
proposta pelos métodos, porque se percebeu que só seria possível ensinar indo ao encontro do que os
alunos pensavam.
O inestimável valor da psicogênese da língua escrita é nos permitir saber quais são os saberes prévios
necessários à alfabetização que os alunos concretamente trazem ou não desde fora da escola.
A psicogênese da língua escrita não é um método, mas sim, uma teoria psicológica que oferece um
modelo de explicação de como se dá a construção da compreensão dos princípios que regem a natureza
e o funcionamento do sistema alfabético.
Diferentemente do ensino da linguagem falada, no qual a criança pode se desenvolver por si mesma,
e esforços enormes, por parte do professor e do aluno, podendo-se, dessa forma, tornar fechado em si
mesmo, relegando a linguagem escrita viva ao segundo plano. (…)
Essa situação lembra muito o processo de desenvolvimento de uma habilidade técnica,
como, por exemplo, o tocar piano: o aluno desenvolve a destreza de seus dedos e aprende
quais teclas deve tocar ao mesmo tempo em que lê a partitura; no entanto, ele não está, de
forma nenhuma, envolvido na essência da própria música.
21. 19
P expressar ideias e experiências. Ao contrário, a língua é uma das práticas sociais mais
Nessa situação, o conteúdo do texto não pode provocar nenhuma pergunta, crítica, ideia ou
LETRAMENTO é o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita
Exige competências variadas, como:
Capacidades de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos: informar ou informar-se,
Interagir com outros, interagir no imaginário, no estético, ampliar conhecimentos, seduzir ou
induzir, divertir-se, orientar-se, para apoio à memória, para catarse;
Habilidades de interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros de textos; habilidade de orientar-se
pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos ao escrever;
Atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e prazer em ler e escrever, sabendo
utilizar a escrita para encontrar ou fornecer informações e conhecimentos, escrevendo ou lendo de
forma diferenciada, segundo as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor.
[In: RIBEIRO,Vera Masagão (org.). . São Paulo, Global,
2003.]
A inscrição simbólica das
pessoas na cultura escrita é que
possibilita que elas encontrem sentidos
e finalidades na alfabetização
9
Tudo isso?”, “Que letrinha pequenininha!”,
“Quantas folhas tem “isso”?”
“Qual é a parte que “tem de ler”?
22.
20
E como se faz isso?
projeto de letramento,
letramento.
A
teoria psicogenética é um modelo explicativo do processo por que passam as pessoas,
sílabas orais.
ainda há um longo caminho a ser percorrido
até a completa alfabetização, no sentido estrito do termo.
Na escola, avaliado, que o aluno construiu essa compreensão, a sequência didático-pedagógica
precisa ser o investimento em todo um trabalho sistemático de estabelecimento de relações entre
sociocultural.
Um conjunto de atividades que se origine de um interesse real na vida dos alunos e cuja realização
envolve o uso da escrita, isto é, a a leitura de textos que de fato circulam na sociedade e a produção
de textos que serão lidos, em um trabalho coletivo de alunos e professores, cada um segundo a sua
capacidade. É uma prática social
além da mera aprendizagem da escrita (a aprendizagem dos aspectos formais apenas), transformando
objetivos curriculares como “escrever para aprender a escrever” e “ler para aprender a ler” em que “ler e
escrever para compreender e aprender aquilo que for relevante para o desenvolvimento e realização do
projeto. (2001, p.238)
Outro jeito de olhar aluno e alfabetização
23. 21O quê?
Produção e análise fonética das palavras e suas sílabas.
Produção de escrita com sentido e função social.
Quando e como?
Diariamente.
De forma sistemática, contínua e produtiva.
Por que?
Porque sem isso a alfabetização não acontece.
U É comum que as práticas pedagógicas que assumem essa perspectiva agreguem
também uma compreensão interacionista da aprendizagem baseada na concepção de construção
?Alguns princípios importantes
PRIMEIRO: reconstituir os
conhecimentos implícitos na ação do aluno,ou seja,avaliar em que nível psicogenético ele se encontra.
1
SEGUNDO: a partir do reconhecimento do nível psicogenético de cada um, é necessário propor
situações didáticas que provoquem a desestabilização das suas concepções de escrita
a compreender fenômenos e conceitos novos e adquirir novas competências,ou seja,avançar de nível.
2
TERCEIRO: propor atividades nas quais a escrita tenha sentido para os alunos e a partilha de saberes
entre as crianças seja não apenas permitida, como estimulada, assim como a consulta a várias fontes.
3
24.
22 a escola não sabe lidar com as diferenças, não sabe como trabalhar a
partir das diferenças assumidas como dado inevitável, e não como castigo
constituída, totalmente ou em parte, por alunos que viveram, até então, excluídos da cultura
PSICOGÊNESE LÍNGUA ESCRITA
processo
grupo social, numa dada cultura, passa até a apropriação da escrita, no sentido de saber usar
Na escola, muitas vezes, se continua esperando uma inexistente classe homogênea em que todos os
alunos compreendem perguntas como “o que começa com “b” e sabem qual a palavra que tem mais
letras: “borboleta” (um bichinho tão pequeno) ou “boi” (um animal tão grande).
Entendendo como pensam os alfabetizandos
Períodos de equilíbrio em que o sujeito mantém certa compreensão de como se escreve (os níveis ou
fases).
qual ela não dá solução ( ).
Reequilíbrio em novo nível, mais completo do que o anterior, depois de assimilar e acomodar o novo
ao seu esquema cognitivo anterior (hipóteses de como se escreve).
Exige:
Compreender a realidade como processo e não como resultado de transmissão apenas.
Compreender os erros construtivos para a demonstração de como o aluno entende a natureza e os
mecanismos de funcionamento do código alfabético (é bom lembrar que nem todo erro é“construtivo”,
somente aquele que nos informa como o aluno está pensando);
Aproveitar esse tipo de erro do aluno para planejar as aulas,propondo atividades que vão ao encontro
do que os alunos necessitam para avançar na compreensão e na habilidade de usar a escrita.
25. 23A teoria psicogenética de construção da língua escrita proposta por Emília Ferreiro e Ana
Teberosky é: um modelo explicativo do processo por que passam as pessoas até descobrirem
predominância de um esquema de pensamento para compreender e operar com a escrita.
Sua compreensão da escrita se sustenta sobre outros tipos de relação que
não a letra/som
na tentativa de escrever.
critérios
de variedade interna e quantidade mínima de caracteres, em geral, algo em torno de três.
representação escrita, associando, por exemplo, coisas grandes com nomes grandes e coisas
pequenas com nomes pequenos.
sucessivamente.
A
Recorre aos critérios de variedade interna e quantidade mínima de caracteres, em geral, algo
em torno de três.
escrita, associando, por exemplo, coisas grandes com nomes grandes e coisas pequenas com
nomes pequenos.
O que pensa o aluno que compreende a
escrita pré-silabicamente?
26.
24 Exemplo de escrita pré-silábica:
screver implica
registrar foneticamente as palavras e não aquilo a que as palavras se referem
COMO SE FAZ ISSO?
Para que nosso aluno mude seu esquema de pensamento e abandone a hipótese pré-silábica,precisamos
fazê-lo descobrir:
que a forma e a posição das letras são arbitrárias e convencionais;
o que representam as letras do código alfabético;
que a representação gráfica das palavras é estável, isto é, que se escreve uma palavra sempre do
mesmo jeito;
que, em português, se escreve da esquerda para a direita e de cima para baixo e se deixa espaços
entre as palavras.
27. 25
Atividades com o alfabeto
Estabelecer relações entre as letras e os sons que representam por meio de múltiplas atividades
Atividades com palavras
ordem e sentido das letras.
Discriminar oralmente as sílabas das palavras, acompanhando-as com palmas, batidas de pé,
instrumentos musicais, etc.
Atividades com textos
Relacionar o discurso oral e o texto escrito por meio da leitura diária para eles e com eles.
Distinguir entre imagem e escrita.
menos ambiguidade o que permite a alunos que não sabem ler, pensar sobre a escrita.
produções coletivas, pequenas histórias, letras de música, versos, bilhetes, piadas, parlendas,
dentre outros.
compreensão dos mecanismos de produção da mesma.
Orientações didáticas para o trabalho com alunos
que fazem hipótese pré-silábica de escrita
OBJETIVOS
PRINCIPAIS
Possibilitar aos alunos...
Reconhecer o alfabeto como um código de representação
da linguagem baseado na transcrição fonológica
Reconhecer a arbitrariedade da escrita (letras e palavras)
Conservar a escrita das palavras, reconhecendo a
estabilidade da escrita
28.
26
Relacionar
discurso oral
e texto escrito
Associar palavras e objetos
ou imagens
Distinguir entre
Imagem e Escrita
Participar da leitura
coletiva de
textos
Memorizar
palavras
significativas
Reconhecer o caráter arbitrário
dos signos linguísticos
Interagir com múltiplosabecedários
Reconhecer diferentesgêneros de textose suas funções sociais
Escrever diariamente
conforme seu nível
psicogenético
Destacar as iniciais
de palavras significativas
Conservar aescritas daspalavras
Reconhecer as letrase os sinais de pontuação
Analisar a distribuição espacial dos textos
e a orientação das frases
Analisar as letras do alfabeto
em
todos seus aspectos
Realizar variadas
análises não
silábicas de
palavras
comparando
umas com
outras
Reconhecer caráter linear
dos signos linguísticos
Estabelecer relações entre
os sons que representam
Participar da escrita
de textos coletivos
Objetivos de aprendizagem para
os alunos que fazem hipóteses
pré-silábicas sobre a escrita
29. 27
O sujeito que faz hipótese silábica para compreender a escrita já a relaciona com a fala e não com
os objetos do mundo real. No dizer de Vygostky (1989), passa a ver no sistema alfabético um “código
de signos de 2ª ordem”, ou seja, um código que remete a outro código (no caso, à fala) decorrendo
daí que:
ao escrever palavras soltas, o sujeito faz corresponder um símbolo gráfico para cada sílaba oral
que consegue perceber.
percebe que não pode escrever as letras como quer, mas precisa seguir os sons da pronúncia das
palavras e respeitar sua ordem, o que leva a que as palavras sejam escritas sempre da mesma
maneira (estabilidade e permanência da escrita).
pode utilizar letras ou outros signos, conforme seu conhecimento.
pode relacionar convenientemente cada letra ao seu som ou não, conforme seu conhecimento
(silábicos com e sem valor sonoro, que escrevem somente com vogais, só com consoantes ou com
ambas).
ao escrever frases, inicialmente, representa cada palavra por um sinal gráfico; só posteriormente
passa a atribuir um sinal para cada sílaba oral, permite-se escrever qualquer palavra (não mais
apenas os nomes), mas não assegura a leitura de terceiros nem a sua própria.
Exemplo de escrita silábica:
O que pensa o aluno que compreende a
escrita silabicamente?
30.
28
Atividades com o alfabeto
sílaba de palavra variada.
Atividades com palavras
desmembramento oral das sílabas, contagem das letra se hipóteses de repartição de palavras
escritas.
Atividades com textos
dentre outros.
pronomes.
OBJETIVOS
PRINCIPAIS
Possibilitar aos alunos...
Desenvolver a consciência fonológica, procurando
discriminar os fonemas constituintes das sílabas,
por meio do trabalho com paradigmas silábicos
Relacionar as letras aos sons que representam.
31. 29
Objetivos de
aprendizagem para
os alunos que fazem
hipóteses silábicas
sobre a escrita
Destacar
oralmente as
sílabas das
palavras
Propor hipóteses
de repartição de
sílabas de palavras
escritas
Construir e reconhecer
paradigmas silábicos,
quando se dá ênfase à primeira
letra no contexto da sílaba inicial
extraídas de um contexto com
Analisar
e comparar
paradigmas
silábicos
Destacar as
sílabas iniciais
de palavras
Reconhecer os diferentes
suportes dos diferentes tipos de
textos e suas funções sociais
Desenvolver a consciência
fonológica através da
discriminação dos fonemas
constituintes das sílabas no
trabalho com paradigmas
silábicos
Realizar
diariamente
escrita espontânea
individual, conforme
seu nível
psicogenético
Participar da
escrita de muitos e
variados textos
coletivos
Reconhecer todas as letras
do alfabeto, relacionando-as
aos seus sons através da
análise da primeira sílaba de
palavras variadas
32.
30 O que pensa o aluno que escreve
alfabeticamente?
Q
escrito. Tende, muitas vezes, a generalizar que as sílabas escritas, principalmente as iniciais,
são constituídas de duas letras porque seu universo visual de palavras escritas ainda é restrito e
Além disso, tem um desempenho muito melhor na escrita de palavras soltas do que no texto,
Exemplo de escrita alfabética:
33. 31
Atividades com o alfabeto
Atividades com palavras
equivocadamente pelos alunos, mas organizando propostas didáticas que problematizem as
Erros motivados por transcrição da fala:
Exemplos:
Erros motivados por trocas de letras com pontos de articulação próximos:
Exemplos:
encontros consonantais,
letras “mudas”:
Exemplos: peneu, adivogado, subistância, sequessualidade, interpletação, pissicologia,
intersequição, repuguinância, etc.
Erros motivados por supercorreção
Exemplo:
Orientações didáticas para o
trabalho com alunos que fazem
hipóteses alfabética de escrita
Assim, conforme Nunes e Bryant (1985), podemos categorizar os erros ortográficos de maneira a
desenvolver o trabalho pedagógico.
OBJETIVOS
PRINCIPAIS
Possibilitar aos alunos...
Ler com compreensão textos de seu nível
Desenvolver a consciência fonológica, procurando
discriminar os fonemas constituintes das sílabas
34. Erros motivados por desconsideração das regras contextuais:
Exemplos:
Exemplos:
Erros de separação entre palavras nas frases ou entre sílabas de palavras:
Exemplos:
bigo, etc.
Atividades com textos
com seu nível.
Observar e utilizar os espaços entre as palavras e os sinais de pontuação.
dos textos lidos.
Escrever textos variados diariamente.
Objetivos de aprendizagem para os alunos que
fazem hipóteses alfabéticas de escrita
32
desenvolvendo a consciência fonológica e superando a hipótese
silábica;
escrita;
onde, comumente, nos primeiros tempos, produz silábico-
alfabeticamente ou até silabicamente.
35. 33
A
igualdade e a diversidade constituem o cotidiano de qualquer sala de aula. A
igualdade pode ser entendida como a condição de possibilidade para aprender
aprendizagem em que se encontra cada criança de acordo com sua história, suas
vivências, experiências, interações.
anteriormente.
As propostas e ações de ensino docente, muitas vezes, não encontram correspondência nas
e nos deixam intrigados com as respostas produzidas por esses alunos. Em outras, não
aprendizagens coerentes com as condições de possibilidades de cada um.
ensinar ser seu resultado mais visível.
necessidadesdeaprendizagemdecadaaluno,emparticulardecadagrupoedaturmacomoumtodo.
processo de ensinar a ler e escrever.
Essa avaliação praticada cotidianamente é a busca permanente de estabelecer diagnósticos
tão precisos quanto possível sobre como os alunos estão compreendendo o sistema de escrita,
com um olhar que, ao mesmo tempo em que não perde o grupo como um todo, volta-se para cada
O trabalho por grupos diferenciados
36.
34 Assim, deve-se estar atento para oportunizar momentos de atividades coletivas, envolvendo
em duplas em que se proponham outros tipos de atividades.
na medida em que os alunos vão se tornando mais autônomos para se organizar e realizar as
Não são poucos os testemunhos de educadores de que trabalhar pedagogicamente, de modo
Os avanços perseguidos por educandos e educadores não se restringem a aprendizagens dos
com coragem e senso de oportunidade, a respeitar regras de convivência e a escutar o outro.
um nível de comprometimento maior com os resultados, combatem a evasão e oportunizam a
trabalho devidamente avaliada pelo educador.
OS PEQUENOS GRUPOS DE TRABALHO
Nos pequenos grupos os alunos têm oportunidade de trocar ideias, ouvir alternativas de solução e de
problemas diferentes das suas e ouvir críticas que são bem mais aceitas no contexto do engajamento
numa obra coletiva. Há um impulso difícil de quantificar no processo de aprendizagem de todos
nessas oportunidades e, quando avaliamos as situações didáticas planejadas e executadas de maneira
a tirar proveito da socialização entre os aprendizes, constatamos o quanto aprender pode ser uma
experiência social.
37. 35
A
educação escolar é responsável pelo desenvolvimento das potencialidades de cada
criança e pela sua inserção gradual no mundo da cultura e da socialização.
respeitar essa característica e aproveitá-la para desencadear aprendizagens de ordens diversas,
incontáveis oportunidades de promover seu desenvolvimento através do que é mais característico
e aprender.
considerando o que está proposto neste texto, é possível valorizar o material didático, realizando
Jogos na alfabetização
USE
E
ABUSE Jogo da Memóriade Sílabas
Baralho de
Letras e palavras
Dominó de
Leitura e escrita AlfabetoMóvel
Varal deLetras
Cartas para
DitadoBingo
de Letras
38.
36 Construindo um ambiente favorável
à educação
S
ocorre em qualquer momento do processo de conhecimento da escrita. O texto é a base de tudo.
ambiente rico de estímulos a eventos de letramento variados através de cartazes, publicações,
avisos, sinalizações, murais, convites, lembretes, escritos variados dos alunos, das alunas e de
outras pessoas, dentre muitas outras possibilidades.
A LEITURA
conseguem desenvolver estratégias bastante boas de autonomia vivendo numa cultura letrada.
período, um papel primordial, utilizando, para o reconhecimento de escritas, os mesmos aportes
aluno entra numa outra etapa da leitura em que a pessoa, diante dos estímulos escritos, tenta
reconhecimento acústico das letras.
Depois que se aprende a ler, torna-se impossível calar as vozes silenciosas que nos dizem
nas esquinas, os rótulos nos supermercados, e todo e qualquer espaço que sirva de suporte para
escritas no cotidiano urbano.
Existe o que poderíamos chamar de período pré-alfabético de leitura que engloba os procedimentos,
as estratégias, os esquemas do sujeito para lidar com a necessidade da leitura, numa sociedade letrada,
antes de ele se alfabetizar. Essa leitura se dá ainda de forma logográfica, isto é, o candidato a leitor
aprende as palavras ou quaisquer partes, já que isso não faz sentido para ele. Ele recorre a indícios,
contexto e conhecimento da função social que aquele determinado portador de texto exerce na vida que
lhe são familiares.
39. 37
está constantemente submetido numa sociedade letrada.
mais verbos relacionais e menos de ação, argumentos e não descrições. Além disso, eles não se
apoiam na memória como é comum à tradição oral e têm padrões próprios de construção, coesão
e coerência internas. Tudo isso é o aprendizado da escrita, da cultura escrita.
ESTRATÉGIAS DE LEITURA
1. A leitura depende daquilo que o leitor já sabe
circulação dos textos que ele visa (sabe quem os redige,por que e para quem,em que campo de
domínioreferencialgeralnaáreadeconhecimentoconsiderado(sabedequeassunto
2. A leitura depende da informação não visual
Qualquer coisa que possa reduzir o número de alternativas que o cérebro deve considerar
conhecimento do assunto, o reconhecimento do tipo de diagramação e ilustrações, a utilização
3. Aprende-se a ler lendo
exercícios centrados na distinção de pares de palavras isoladamente, aumentando sua apreensão
sílaba por sílaba.
40.
38 IMPORTANTE
As crianças dominam a fonética e a ortografia como um resultado de aprenderem a ler e a escrever,
e não o contrário disso, ou seja, fonética e ortografia não se constituem como pré-requisitos para a
aprendizagem da leitura e da escrita.
O modo mais fácil de aprender a ler não é com palavras individuais, mas com passagens significativas de
textos, embora, como já vimos neste caderno, as palavras também possam estar carregadas de sentidos
e se tornarem palavras-texto.
ler não é essa entrada em espaços desconhecidos,
como certa tradição o subentendeu; é, mais
de protocolos de leitura já constituídos, em presença
de textos já repertoriados.
(VIGNER, 1988)
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Da relação com o saber: elementos para uma teoria
Psicogênese da língua escrita
Cultura escrita e educação
Alfabetização – leitura do mundo, leitura da palavra. Rio de
A importância do ato de Ler
ensino e a formação do professor – alfabetização
de jovens e adultos
Os sentidos da alfabetização
A produção de textos na escola.
. Rio
Letramento e escolarização. Letramento no
O texto - leitura e escrita
A formação social da mente
De boas intenções o inferno está cheio. Ou: Quem se responsabiliza pelas crianças que
estão na escola e não estão aprendendo?
Referências
42.
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Realização:
Série Mais Educação
Cadernos Pedagógicos Mais Educação
Alfabetização
Agência Traço Leal Comunicação:
Secretaria de Educação Básica
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP 70.047-900 - Brasília, DF
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Gesuína de Fátima Elias Leclerc
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Samira Bandeira de Miranda Lima
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Ivany Souza Ávila
Maria Luiza Moreira
Revisão de textos
Ellen Neves
Carol Luz
Arte da Capa
Diego Gomes
Conrado Rezende Soares
Diagramação
Carol Luz
Conrado Rezende Soares
Diego Gomes
CADERNO ALFABETIZAÇÃO