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Moacyr Scliar (Porto Alegre, 1937)
é autor de uma vasta obra que abrange conto, romance e ensaio.
Recebeu numerosos prêmios e teve textos traduzidos para doze
idiomas. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a
televisão e o teatro. Pela Companhia das Letras publicou A Orelha de
Van Gogh (1988), coletânea de contos que recebeu o prêmio Casa de
Las Américas; Sonhos Tropicais (1992), romance baseado na vida de
Oswaldo Cruz; Contos Reunidos (1995) e A Paixão Transformada,
história da medicina na literatura (1996).
TEMAS:
Memória
Culpa – vergonha
Família
Imigração russa (ou judaica) no Brasil
Contação de histórias
Amizade
O índio
Doenças: tuberculose, varíola, câncer, ataque cardíaco
Ditadura
Cartas
Autobiográfico?
Gênero: romance (Memorial – Ficção. Não há divisão
em capítulos, mas divide-se em espaços brancos)
O romance inicia com o narrador, que está na UTI, contando
ao doutor a vida de Noel Nutels, que conhecera quando
criança em um navio que os trouxe ao Brasil no ano de 1921.
A narrativa transcorre em tom humorístico, apesar do
sofrimento do paciente. Protagonista inominado, cultivou uma
profunda admiração por Noel, o defensor dos índios, durante
toda a sua vida.
Começa relembrando o episódio em que Noel, internado num
hospital no Rio de Janeiro, no ano de 1973, vítima de câncer
na bexiga, pouco antes de sua morte, recebe a visita de quatro
generais.
Linguagem
Simples. Narrativa com tom coloquial (ex: repetição de
palavras) – sem eufemismo (contudo, há respeito à norma)
*estrangeirismos
Narrador: 1ª pessoa
Espaço: Rússia e Brasil
Tempo: Cronológico com alguns flashbacks
1917 - 1970
PERSONAGENS
•Narrador anônimo
•Pai do narrador
•Mãe do narrador
•Ana
• Paulina
•Ezequiel (Zequi)
•Sarita
•Iracema
•João Mortalha
•Noel Nutels
•Berta Nutels
•Salomão Nutels
•Elisa
...era a época da ditadura, visitar o Noel, que era uma
figura tão respeitada, principalmente na esquerda,
poderia repercutir bem na opinião pública, e ao abrir os
olhos e ver aqueles quatro generais à sua volta (...) olhou
todos, um por um, com aquele olhar debochado dele. Um
dos generais perguntou como ele estava. E o Noel que,
mesmo morrendo, continuava o gozador de sempre,
respondeu: estou como o Brasil, na merda e cercado de
generais.
Estou na merda, doutor? Não? Não estou na merda? O
senhor tem certeza? Na merda, não? Não estou? Que
bom, doutor. Não estou na merda, que bom.
Prossegue contando-lhe que a vida de Noel Nutels, ele, o
narrador, tem toda guardada numa pasta através de
reportagens em jornais, fotografias, artigos, publicações.
Pede ao doutor para escutá-lo.
...não é por mim, não. É pelo Noel. Não: é pelo senhor. O
senhor deve ourvir a história do Noel, doutor. Acho que
alguma coisa mudará no senhor depois que ouvir esta
história.
O navio que os trouxera ao Brasil chamava-se Madeira.
Era um cargueiro adaptado para o transporte de
imigrantes. Estavam fugindo da Rússia. Vinham do sul
da Rússia, da Bessarábia, na fronteira com a Romênia.
A região pertencia ao Império Tzarista. Os judeus não
podiam sair dali a não ser que fossem ricos. Mas eles
não eram ricos. Moravam numa pequena aldeia, num
shtetl, de gente pobre: agricultores, artesãos, pequenos
comerciantes.
Seu pai, sapateiro, mal ganhava para sustentar a família,
embora pequena, pois só tinha uma irmã. Seu pai
consertava os finos sapatos do conde Alexei. Venerava-
lhes os sapatos e as botas, confeccionados em couros
macios e raros. O protagonista lembra-se de que começou
a ter pesadelos em que, à noite, um cossaco debochado
surgia e calçava de uma bota as botinhas minúsculas que
o pai havia feito com as sobras da reforma do conde
Alexei. Calçava-as e galopava numa ratazana, rindo
deles.
O primogênito morrera um mês antes do seu nascimento.
O irmão morto tornara-se-lhe um fantasma que vivia por
todos os lados.
O pogrom, massacre organizado no Império Tzarista,
estava por toda parte. Os cossacos surgiam à noite,
matando homens, violentando mulheres, queimando
casas. Os judeus eram perseguidos.
Um dia apareceu na aldeia um homem de Kiev. Trabalhava
para uma companhia de colonização agrícola, a Jewish
Colonization Association, JCA ou ICA, fundada por filântropos
judeus da outra metade da Europa. Poderiam levá-los para a
América do Sul, onde as terras eram promissoras. Poderiam ir
para o Brasil trabalhar como agricultores. Receberiam todo o
apoio.
Por essa época o pai de Nutels decidira ir para a Argentina.
Buenos Aires prosperava. Mas Salomão Nutels resolveu voltar
para a Rússia. Pegou o navio que fazia escala no Recife, acabou
vendedor de sapatos. Em 1917, ele, justo no dia em que o Brasil
declarou guerra à Alemanha do kaiser, tomou uma surra, depois
de ter sido perseguido ao desembarcar, e perdeu o navio. Fixou-
se no Brasil, em Laje do Canhoto, pequena vila de Alagoas, e lá
abriu uma loja que vendia de tudo, desde alpiste até penicos de
ágata. Em pouco tempo tinha conseguido economizar o
suficiente para trazer a mulher e o filho de Ananiev.
Durante a guerra civil, após a Revolução de 1917, a
Rússia ficou isolada do resto do mundo. Berta, mulher de
Salomão, e o filho ficaram sem ter notícias suas até 1920,
quando Salomão Nutels comunicou-lhes que partissem
imediatamente para o Brasil. Por essa época, sair da
Rússia era muito arriscado, mas mesmo assim partiram.
As ameaças do pogrom continuavam. Porém, apareceu
Semyon Budyonny, comandante de um esquadrão da
cavalaria bolchevique e anunciou que a aldeia havia sido
libertada pela Revolução. Era o início do socialismo.
Um dos homens de Budyonny, Isaac Babel, que ficara
hospedado na casa do narrador, indagado sobre o que
pensara a respeito de partirem para a América, fez um
discurso arrebatado em que defendia o governo
bolchevista, pois finalmente todos os oprimidos teriam
uma vida decente, enquanto que na América só existiam
exploradores.
Anos depois Babel foi preso e veio a morrer num campo de
concentração stalinista.
A partida da família do narrador para o Brasil foi tranquila.
Em Hamburgo pegaram o navio Madeira rumo ao Brasil.
No navio o narrador tornou-se amigo de Noel e assim que o
conheceu teve a certeza de que seria seu amigo para o resto da
vida. Noel era expansivo, seguro de si, fazia amizade com
todos. Logo tornou-se amigo de um marinheiro russo, homem
de esquerda que vivera no Brasil e anos mais tarde continuava
defendendo suas ideias com o mesmo fervor.
A viagem fora longa e insalubre.
Todos no navio sentiam-se inseguros quanto à nova vida no
Brasil. Porém, ao chegarem em Recife, a diversidade de cores,
a vegetação tropical e a população alegre deslumbrou-os.
Salomão Nutels apareceu e Berta, ao vê-lo, abraçou-o e
chorou, assim como Noel. Todos os demais emigrantes também
choraram. Ao perceber o entusiamo de Noel pelos pretinhos
brasileiros, de súbito nosso pobre protagonista percebeu que já
não o encantara mais. Agora o encantava o Brasil.
Salomão convidou a família do narrador para morar em sua
casa. Ao conhecer a loja de Salomão, o pai do protagonista
recusou-se a trabalhar lá. Não venderia penicos. Decidiu que
iriam para São Paulo.
Em São Paulo, fixaram-se em Bom Retiro, bairro de judeus.
Seu pai sofreu um acidente e teve de amputar o braço
direito. Impossibilitado de continuar no ofício de sapateiro,
passou a vender gravatas.
Seu pai queria que ele tivesse se formado em Medicina como
Noel Nutels. Frequentou o colégio José de Anchieta. Em três
anos sabia tudo sobre o padre José de Anchieta, sobretudo
que amava muito os índios, diferentemente da maioria dos
colonizadores que os menosprezavam, considerando-os
inferiores, especialmente por serem canibais.
O narrador possuía uma imaginação muito fértil e suja.
Numa das histórias que imaginava, o braço de seu pai
era jantado por antropófagos devido ao ancestral
parentesco destes com índios canibais. Imaginava
também o padre Anchieta sendo seduzido por uma
indiazinha moribunda. Sua mente era povoada por
seres descomunais que devoravam profetas e
sacerdotes. Sua mente sórdida elocubrava fabulações
doentias.
Sentia saudade de Noel. Podia escrever-lhe, mas não
tinha coragem, então escrevia-lhe só na imaginação.
Seu pai veio a falecer de infarto do miocárdio, sendo-
lhe imposto o sustento da família. Precisou largar os
estudos e trabalhar o dia inteiro. Trabalhava na
pequena loja do seu Isaac. Chamava-se A Majestade,
conhecida por loja Não Tem. Vendia miudezas em
geral: carretéis de linha, agulhas de crochê, etc. Não
soube mais nada de Noel a não ser bem mais tarde
quando tornou-se famoso e escreviam sobre ele. Noel
foi estudar Medicina em Recife.
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NUTELS
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A majestade do xingu

  • 1.
  • 2. Moacyr Scliar (Porto Alegre, 1937) é autor de uma vasta obra que abrange conto, romance e ensaio. Recebeu numerosos prêmios e teve textos traduzidos para doze idiomas. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro. Pela Companhia das Letras publicou A Orelha de Van Gogh (1988), coletânea de contos que recebeu o prêmio Casa de Las Américas; Sonhos Tropicais (1992), romance baseado na vida de Oswaldo Cruz; Contos Reunidos (1995) e A Paixão Transformada, história da medicina na literatura (1996).
  • 3. TEMAS: Memória Culpa – vergonha Família Imigração russa (ou judaica) no Brasil Contação de histórias Amizade O índio Doenças: tuberculose, varíola, câncer, ataque cardíaco Ditadura Cartas Autobiográfico?
  • 4. Gênero: romance (Memorial – Ficção. Não há divisão em capítulos, mas divide-se em espaços brancos) O romance inicia com o narrador, que está na UTI, contando ao doutor a vida de Noel Nutels, que conhecera quando criança em um navio que os trouxe ao Brasil no ano de 1921. A narrativa transcorre em tom humorístico, apesar do sofrimento do paciente. Protagonista inominado, cultivou uma profunda admiração por Noel, o defensor dos índios, durante toda a sua vida. Começa relembrando o episódio em que Noel, internado num hospital no Rio de Janeiro, no ano de 1973, vítima de câncer na bexiga, pouco antes de sua morte, recebe a visita de quatro generais.
  • 5. Linguagem Simples. Narrativa com tom coloquial (ex: repetição de palavras) – sem eufemismo (contudo, há respeito à norma) *estrangeirismos Narrador: 1ª pessoa Espaço: Rússia e Brasil Tempo: Cronológico com alguns flashbacks 1917 - 1970
  • 6. PERSONAGENS •Narrador anônimo •Pai do narrador •Mãe do narrador •Ana • Paulina •Ezequiel (Zequi) •Sarita •Iracema •João Mortalha •Noel Nutels •Berta Nutels •Salomão Nutels •Elisa
  • 7. ...era a época da ditadura, visitar o Noel, que era uma figura tão respeitada, principalmente na esquerda, poderia repercutir bem na opinião pública, e ao abrir os olhos e ver aqueles quatro generais à sua volta (...) olhou todos, um por um, com aquele olhar debochado dele. Um dos generais perguntou como ele estava. E o Noel que, mesmo morrendo, continuava o gozador de sempre, respondeu: estou como o Brasil, na merda e cercado de generais. Estou na merda, doutor? Não? Não estou na merda? O senhor tem certeza? Na merda, não? Não estou? Que bom, doutor. Não estou na merda, que bom. Prossegue contando-lhe que a vida de Noel Nutels, ele, o narrador, tem toda guardada numa pasta através de reportagens em jornais, fotografias, artigos, publicações. Pede ao doutor para escutá-lo.
  • 8. ...não é por mim, não. É pelo Noel. Não: é pelo senhor. O senhor deve ourvir a história do Noel, doutor. Acho que alguma coisa mudará no senhor depois que ouvir esta história. O navio que os trouxera ao Brasil chamava-se Madeira. Era um cargueiro adaptado para o transporte de imigrantes. Estavam fugindo da Rússia. Vinham do sul da Rússia, da Bessarábia, na fronteira com a Romênia. A região pertencia ao Império Tzarista. Os judeus não podiam sair dali a não ser que fossem ricos. Mas eles não eram ricos. Moravam numa pequena aldeia, num shtetl, de gente pobre: agricultores, artesãos, pequenos comerciantes.
  • 9. Seu pai, sapateiro, mal ganhava para sustentar a família, embora pequena, pois só tinha uma irmã. Seu pai consertava os finos sapatos do conde Alexei. Venerava- lhes os sapatos e as botas, confeccionados em couros macios e raros. O protagonista lembra-se de que começou a ter pesadelos em que, à noite, um cossaco debochado surgia e calçava de uma bota as botinhas minúsculas que o pai havia feito com as sobras da reforma do conde Alexei. Calçava-as e galopava numa ratazana, rindo deles. O primogênito morrera um mês antes do seu nascimento. O irmão morto tornara-se-lhe um fantasma que vivia por todos os lados. O pogrom, massacre organizado no Império Tzarista, estava por toda parte. Os cossacos surgiam à noite, matando homens, violentando mulheres, queimando casas. Os judeus eram perseguidos.
  • 10. Um dia apareceu na aldeia um homem de Kiev. Trabalhava para uma companhia de colonização agrícola, a Jewish Colonization Association, JCA ou ICA, fundada por filântropos judeus da outra metade da Europa. Poderiam levá-los para a América do Sul, onde as terras eram promissoras. Poderiam ir para o Brasil trabalhar como agricultores. Receberiam todo o apoio. Por essa época o pai de Nutels decidira ir para a Argentina. Buenos Aires prosperava. Mas Salomão Nutels resolveu voltar para a Rússia. Pegou o navio que fazia escala no Recife, acabou vendedor de sapatos. Em 1917, ele, justo no dia em que o Brasil declarou guerra à Alemanha do kaiser, tomou uma surra, depois de ter sido perseguido ao desembarcar, e perdeu o navio. Fixou- se no Brasil, em Laje do Canhoto, pequena vila de Alagoas, e lá abriu uma loja que vendia de tudo, desde alpiste até penicos de ágata. Em pouco tempo tinha conseguido economizar o suficiente para trazer a mulher e o filho de Ananiev.
  • 11. Durante a guerra civil, após a Revolução de 1917, a Rússia ficou isolada do resto do mundo. Berta, mulher de Salomão, e o filho ficaram sem ter notícias suas até 1920, quando Salomão Nutels comunicou-lhes que partissem imediatamente para o Brasil. Por essa época, sair da Rússia era muito arriscado, mas mesmo assim partiram. As ameaças do pogrom continuavam. Porém, apareceu Semyon Budyonny, comandante de um esquadrão da cavalaria bolchevique e anunciou que a aldeia havia sido libertada pela Revolução. Era o início do socialismo. Um dos homens de Budyonny, Isaac Babel, que ficara hospedado na casa do narrador, indagado sobre o que pensara a respeito de partirem para a América, fez um discurso arrebatado em que defendia o governo bolchevista, pois finalmente todos os oprimidos teriam uma vida decente, enquanto que na América só existiam exploradores.
  • 12. Anos depois Babel foi preso e veio a morrer num campo de concentração stalinista. A partida da família do narrador para o Brasil foi tranquila. Em Hamburgo pegaram o navio Madeira rumo ao Brasil. No navio o narrador tornou-se amigo de Noel e assim que o conheceu teve a certeza de que seria seu amigo para o resto da vida. Noel era expansivo, seguro de si, fazia amizade com todos. Logo tornou-se amigo de um marinheiro russo, homem de esquerda que vivera no Brasil e anos mais tarde continuava defendendo suas ideias com o mesmo fervor. A viagem fora longa e insalubre. Todos no navio sentiam-se inseguros quanto à nova vida no Brasil. Porém, ao chegarem em Recife, a diversidade de cores, a vegetação tropical e a população alegre deslumbrou-os. Salomão Nutels apareceu e Berta, ao vê-lo, abraçou-o e chorou, assim como Noel. Todos os demais emigrantes também choraram. Ao perceber o entusiamo de Noel pelos pretinhos brasileiros, de súbito nosso pobre protagonista percebeu que já não o encantara mais. Agora o encantava o Brasil.
  • 13. Salomão convidou a família do narrador para morar em sua casa. Ao conhecer a loja de Salomão, o pai do protagonista recusou-se a trabalhar lá. Não venderia penicos. Decidiu que iriam para São Paulo. Em São Paulo, fixaram-se em Bom Retiro, bairro de judeus. Seu pai sofreu um acidente e teve de amputar o braço direito. Impossibilitado de continuar no ofício de sapateiro, passou a vender gravatas. Seu pai queria que ele tivesse se formado em Medicina como Noel Nutels. Frequentou o colégio José de Anchieta. Em três anos sabia tudo sobre o padre José de Anchieta, sobretudo que amava muito os índios, diferentemente da maioria dos colonizadores que os menosprezavam, considerando-os inferiores, especialmente por serem canibais.
  • 14. O narrador possuía uma imaginação muito fértil e suja. Numa das histórias que imaginava, o braço de seu pai era jantado por antropófagos devido ao ancestral parentesco destes com índios canibais. Imaginava também o padre Anchieta sendo seduzido por uma indiazinha moribunda. Sua mente era povoada por seres descomunais que devoravam profetas e sacerdotes. Sua mente sórdida elocubrava fabulações doentias.
  • 15. Sentia saudade de Noel. Podia escrever-lhe, mas não tinha coragem, então escrevia-lhe só na imaginação. Seu pai veio a falecer de infarto do miocárdio, sendo- lhe imposto o sustento da família. Precisou largar os estudos e trabalhar o dia inteiro. Trabalhava na pequena loja do seu Isaac. Chamava-se A Majestade, conhecida por loja Não Tem. Vendia miudezas em geral: carretéis de linha, agulhas de crochê, etc. Não soube mais nada de Noel a não ser bem mais tarde quando tornou-se famoso e escreviam sobre ele. Noel foi estudar Medicina em Recife.