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INFORME
MENSAL Zai
Gezunt
Ano 3 OUTUBRO /2016 No
28
.
Menache Mendel em Paris
Conta-se que um kasrilevkense, que se cansou
de passar fome em Kasrilefke aventurou-se
pelo mundo à procura da sorte e foi parar em
Paris. Um judeu, estando em Paris, não podia
deixar de procurar o sr.Rothchild. Mas surge
um problema — ele não é admitido pelo
mordomo por causa do seu gabardo
esfarrapado.
“Se eu tivesse um gabardo inteiro, para que
diabo eu viria até Paris?”
Mas um judeu de Kasrilefke não desanima —
e dá um jeito e dirigiu-se ao mordomo que
estava no portão: “Vá dizer ao patrão que não
é, nenhum pedinte mas um judeu
“comerciante”, que lhe trouxe um artigo que
não se consegue em Paris por dinheiro
nenhum”. Ouvindo tais palavras, Rothchild
manda introduzir o “comerciante” só por
curiosidade.
O que o senhor me conta de bom?
Bem, Pani Rothchild, que é que eu posso lhe
contar? O caso é êste: lá na minha terra dizem
que o senhor, graças a Deus, não vai tão mal
de finanças. Numa palavra, o que lhe falta?
Uma coisa apenas: a “vida eterna” e é isto que
lhe vim oferecer. Ouvindo as palavras “vida
eterna”,
Ele manda entrar o visitante que lhe mostra a
última novidade: Elixir para vida eterna
Rothchild recebeu o elixir e lhe paga sem
pechinchar com trezentas notas na ficha.
Nosso homenzinho, primeiro, escorrega um
pouco com o contadinho no bôlso e dirige-se
a Rothchild com essas palavras: Se quer
viver eternamente, o meu conselho é:
abandone Paris, esta cidade barulhenta e
mude-se com armas e bagagens para a nossa
cidadezinha de Kasrilevke. Então não morrerá
nunca. Porque, desde que Kasrílevke é cidade,
lá entre nós jamais morreu um ricaço.
Trecho e adaptação de um conto de Sholem Aleichem
Nossos poetas : David Edelstat
David Edelstat nasceu na cidade de Kaluga, na
Rússia, no ano de 1866. Seu pai serviu o
exército russo durante 25 anos. Era costume
naquela época, primeira metade do século XIX,
durante o reinado do retrógrado imperador
Nicolau Primeiro, sequestrar meninos judeus e
obrigá-los a fazer serviço militar durante 25 ou
30 anos.
Calcula-se que seu número alcançou 100.000
crianças das quais a terça parte foi convertida
à força para o cristianismo. Estes soldados
eram conhecidos como cantonistas.
Ele foi um dos primeiros poetas socialista
judaico, tendo começado a escrever poemas
revolucionários na Rússia Tzarista. Depois do
pogrom de Kiev, em 1881, ele se ligou ao
movimento Am Olam que se preparava para
estabelecer comunas agrícolas nos Estados
Unidos.
Ele foi para lá com 16 anos de idade, durante o
processo de imigração em massa que começou
em 1880, em decorrência dos pogroms e fatores
econômicos e políticos ocorridos naquela época
na Europa Oriental.
Nos Estados Unidos porem ele foi trabalhar
como a maioria dos emigrantes em fábricas
insalubres e se aliou ao movimento anarquista
que nesta época exercia grande influência entre
os trabalhadores judeus.
De 1889 a 1890 foi editor do semanário “Fraie
Arbeter Shtime”, A Voz do Trabalhador Livre.
Ele e seus colegas americanos Moris
Winchevsky, Moris Rosenfeld, Iossef
Barchover e Abraham Liesen exerceram
durante a década de 1880 a 1890 uma
influência enorme na poesia ídish e nas canções
populares da Europa Oriental.
Dezenas de poemas, de todos eles, foram
transformados em canções e musicados por
compositores anônimos, nos dois lados do
Atlântico.
A seguir publicamos a tradução da canção “In
Dem Land Fun Piramidn”, de sua autoria,
lembrando a festa de Pessach:
No País das Pirãmides
No país das pirâmides,
Havia um rei furioso e ruim,
Lá se encontravam os judeus,
Seus servos, seus escravos.
Crianças se emparedavam
Quando tijolos faltavam,
Quem sabe quanto iria demorar
Esta terrível escravidão
O rei os castigava pesadamente,
O povo ia sofrendo
Porque pouco entendia e
Pouca coragem, tinha, em sua mente.
Amassando barro e carregando tijolos,
Construindo monumentos altos e suntuosos,
Desde o berço até o túmulo,
Era o escravo a um cão comparado.
Mas no país das pirâmides,
Um grande herói existia,
Que lutou pelos judeus,
Com sua espada e sua sabedoria.
O herói também era único
Das pessoas livres de bom senso
Que em geral o mundo apedreja
Ou o entrega ao verdugo
Mas quando isto acontece
Fazendo grandes favores,
E no túmulo descansa,
A sociedade lhe ergue monumentos
Este herói também entendia,
Que o povo viverá mal
Enquanto dominarem os tiranos
E existirem, amos e escravos.
O homem está insatisfeito,
Enquanto arrasta a corrente,
Mas ele libertou os judeus
Desta terrível escravidão.
Cruze o mar Vermelho. Vá direto ao Monte Sinai. Procure alcançar a terra prometida.
Tempo de chegada: 40 anos.
Bai Mir Bistu Shein
Há um dito popular que quando as Irmãs Andrews lançaram a gravação de enorme sucesso da
canção de Sholom Secunda “Bai Mir Bistu Shein", em 1938, a mãe do compositor estava tão
perturbada que jejuou por uma semana para expiar seus pecados.
A razão desta perturbação? Somente dois meses antes seu filho vendeu os direitos autorais da
canção por apenas 30 dólares.
Embora esta extrema reação da mãe de Secunda possa ter sido exagerada na imprensa, a
surpreendente pequena quantia resultado da venda era verdadeira.
Naturalmente o autor não tinha ideia que a canção ia se tornar um grande sucesso. Escrita em
1932,"Bai Mir Bistu Shein" (Para Mim você é Linda) foi parte de uma opereta ídish chamada "I
Would If I Could", escrita em 1932 por Abraham Bloom com a música de Secunda e letra de seu
sócio Jacob Jacobs.
A apresentação da opereta não teve nenhum sucesso e eles decidiram vender os direitos autorais
para uma editora. Ele já tinha vendido centenas de canções por trinta dólares e ficou satisfeito com
este valor, que ele dividia com Jacobs, seu sócio.
Durante 28 anos os direitos autorais da canção pertenciam a Editora Kammen e se estima que a
renda obtida com os seus direitos autorais tenha chegado a três milhões de dólares, repartidos entre
as editoras e ilustres astros e estrelas do mundo musical. O lirista Sammy Cahn chegou a comprar
uma casa para sua mãe com o dinheiro ganho.
Parece que todos colheram prêmios pela canção, todos, menos o compositor...
A Nova Sara Bat Tovim ( Retrato )
Itzchak Guterman
Sua elevada estatura com os cabelos grisalhos, o rosto pálido e olhar perdido, atraiam a atenção nos
círculos culturais de São Paulo. Para mim ela parecia um enigma. No seu olhar pairava um temor.
Suas ações comunitárias eram repletas de coragem, vontade, como para afastar com as mãos suas
próprias convicções – não é preciso pensar nada sobre si mesmo, é preciso agir, ser bom, construir
cultura, incutir nas pessoas conhecimento judaico. O principal era ajudar o próximo: para quem está
solitário, dar companhia para quem está desanimado –animá-lo, fortalecê-lo.
Em pouco tempo ela atraiu muita gente. As pessoas se acercavam dela, procuravam sua amizade.
Pessoas sós desses lares ela também dava calor humano e alegria, quando as convidava para sua
casa hospitaleira. O “cabalat shabat” (véspera do sábado) em sua casa era uma alegria para o
espírito e elevação para a alma. Na sua curta permanência em São Paulo ela organizou muitas
destas cerimônias.
Quando ela estava inspirada com algo, esta alegria transparecia apenas nos seus olhos. Seu riso
vinha da alma. Sua risada era mais espiritual, como se somente a alma se alegrasse. Todo o corpo
novamente ficava triste, sem o movimento da alegria. Somente no rosto é que algo mudava.
Apareciam algumas ruguinhas, que olhos sorridentes forçam sobre o rosto.
O tanto que ela não se revelava, ela se abria para as pessoas com suas conversas, sua atividade, sua
leitura, mas sempre permanecia fechada, hermética como que com algo secreto. Sua casa era
parcialmente uma exposição de quadros: paisagens, motivos judaicos, figuras desenhadas com
traços místicos. E os móveis, os lustres, os utensílios e os cristais, nas prateleiras e sobre as mesas e
mesinhas respiravam a histórica e aristocrática antiguidade judaicas. Em sua casa entrava o brilho
da
velha história e da velha tradição judaica, a atmosfera de Sion, de Jerusalém –pois de lá era oriunda
Ela nasceu em Jerusalém, porem viveu em Meron e em Safed.
Pode também ser, que o olhar assustado que aparentava, era uma expressão de temor a Deus. Talvez
ela tivesse trazido sua expressão das cidades místicas onde os olhares estavam voltados para os
altos santuários dos céus. Também sua palidez e seu aspecto ascético está no mesmo tom e
atmosfera daquelas cidades.
Nos seus temas literários estavam os candelabros de sua mãe, os cálices de seu pai da “havdalá”
(benção proferida no fim do sábado e no fim das festas judaicas) e a casa de campo – não distante
de São Paulo, Campos do Jordão, que ela descreveu com beleza e saudade. Este lugar ela relembrou
nas históricas belezas naturais dos seus lugares de origem, Jerusalém e suas redondezas, e com
certeza no meio disso ela descreveu a semelhança com o vivido na lembrança, na saudade. Em uma
árvore com galhos estendidos para o céu, ela viu uma “menorá” (candelabro) onde o sol poente
acende as pequenas chamas.
Quando ela lia sua obra, ela permanecia mais tarde com um semblante quieto, pensativo, com a
expressão de indagação: por que me cabe o privilégio de saber escrever e pessoas me ouvirem?
Havia nela uma contradição consigo mesma, uma baixa autoestima: quem sou eu e o que sou eu,
para merecer isso?
Quando chegava um escritor estrangeiro, ela o recebia amistosamente e com grande dedicação o
ajudava a vender seus livros. Nem sempre isso lhe trazia honra, mas também nisso ela encontrava
um sentido na vida e um prazer. E também poderia acontecer, que o escritor, de quem ela não
recebia reconhecimento, ele ainda lhe pagava com aborrecimento, mas ela aceitava tudo com amor,
como parte da sua missão social.
O que sempre se via nela era a comunidade, apesar de participar de vários grupos ela tinha ela
nunca estava satisfeita. Ela tinha necessidade de mais aproximação. Seu orgulho era sua filha e seu
genro que falavam ídish e hebraico e seus netos que falavam em hebraico.
No círculo de leitura, ela se sentia revivida, como uma planta delicada que é tocada pelo sereno da
primavera e raios solares.
Cada círculo cultural de ídish era seu lar espiritual, onde ela revivia e se dedicava como uma mãe
em seu próprio lar.
Também havia algo de místico em sua fala. Quando o fazia em público, suas palavras eram em tom
baixo, o rosto mais pálido do que o usual, os olhos fixavam ao longe e parecia que ela contava um
segredo, um fato da longínqua história antiga, dos patriarcas e profetas. A sua imagem crescia,
como saindo de um sonho e transformando-se em uma figura desses personagens.
Quando ela dava uma palestra sobre personagens femininas na história judaica, ela mesma se
parecia com uma das matriarcas.
Quando ela mesma se recolheu depois de suas calmas e saudosas conversas, dizia-se que ela mesma
foi encontrar-se com “as mulheres da história judaica”.
Tradução do Ídish: Por Cheindlea Rachovski e Fany Kessel, membros do Grupo de Tradutores do Centro de Estudos Judaicos da
USP e revisado pelo Grupo: Cheindlea Rachovsky, Cilka Thalenberg, ,Didio Kozlowski, Dina Kinochita, Edith Gross Hojda,
EstherTerdiman,, Fany Kessel, Israel Granatovicz, Helena Bursztyn, Mendel Lustig, Moysés Worcman, Pesie Nussenbaum, Raquel
Szafir,Samuel Belk, Sandra Meneguetti, , Sarita Rawet, Szmulik Kilsztajn, sob a direção da professora, Dra Genha Migdal
Zai Gezunt: Edição do Grupo Amigos do Ídish.
Editor: Eng.Samuel Belk EMail: belk@uol.com.br
Colaborador: Eng. Moysés Worcman EMail: workmosh@gmail.com

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A batalha por Jerusalem
 

Zai Gezunt - Edição 28

  • 1. INFORME MENSAL Zai Gezunt Ano 3 OUTUBRO /2016 No 28 . Menache Mendel em Paris Conta-se que um kasrilevkense, que se cansou de passar fome em Kasrilefke aventurou-se pelo mundo à procura da sorte e foi parar em Paris. Um judeu, estando em Paris, não podia deixar de procurar o sr.Rothchild. Mas surge um problema — ele não é admitido pelo mordomo por causa do seu gabardo esfarrapado. “Se eu tivesse um gabardo inteiro, para que diabo eu viria até Paris?” Mas um judeu de Kasrilefke não desanima — e dá um jeito e dirigiu-se ao mordomo que estava no portão: “Vá dizer ao patrão que não é, nenhum pedinte mas um judeu “comerciante”, que lhe trouxe um artigo que não se consegue em Paris por dinheiro nenhum”. Ouvindo tais palavras, Rothchild manda introduzir o “comerciante” só por curiosidade. O que o senhor me conta de bom? Bem, Pani Rothchild, que é que eu posso lhe contar? O caso é êste: lá na minha terra dizem que o senhor, graças a Deus, não vai tão mal de finanças. Numa palavra, o que lhe falta? Uma coisa apenas: a “vida eterna” e é isto que lhe vim oferecer. Ouvindo as palavras “vida eterna”, Ele manda entrar o visitante que lhe mostra a última novidade: Elixir para vida eterna Rothchild recebeu o elixir e lhe paga sem pechinchar com trezentas notas na ficha. Nosso homenzinho, primeiro, escorrega um pouco com o contadinho no bôlso e dirige-se a Rothchild com essas palavras: Se quer viver eternamente, o meu conselho é: abandone Paris, esta cidade barulhenta e mude-se com armas e bagagens para a nossa cidadezinha de Kasrilevke. Então não morrerá nunca. Porque, desde que Kasrílevke é cidade, lá entre nós jamais morreu um ricaço. Trecho e adaptação de um conto de Sholem Aleichem Nossos poetas : David Edelstat David Edelstat nasceu na cidade de Kaluga, na Rússia, no ano de 1866. Seu pai serviu o exército russo durante 25 anos. Era costume naquela época, primeira metade do século XIX, durante o reinado do retrógrado imperador Nicolau Primeiro, sequestrar meninos judeus e obrigá-los a fazer serviço militar durante 25 ou 30 anos. Calcula-se que seu número alcançou 100.000 crianças das quais a terça parte foi convertida à força para o cristianismo. Estes soldados eram conhecidos como cantonistas. Ele foi um dos primeiros poetas socialista judaico, tendo começado a escrever poemas revolucionários na Rússia Tzarista. Depois do pogrom de Kiev, em 1881, ele se ligou ao movimento Am Olam que se preparava para estabelecer comunas agrícolas nos Estados Unidos. Ele foi para lá com 16 anos de idade, durante o processo de imigração em massa que começou em 1880, em decorrência dos pogroms e fatores econômicos e políticos ocorridos naquela época na Europa Oriental. Nos Estados Unidos porem ele foi trabalhar como a maioria dos emigrantes em fábricas insalubres e se aliou ao movimento anarquista que nesta época exercia grande influência entre os trabalhadores judeus. De 1889 a 1890 foi editor do semanário “Fraie Arbeter Shtime”, A Voz do Trabalhador Livre. Ele e seus colegas americanos Moris Winchevsky, Moris Rosenfeld, Iossef Barchover e Abraham Liesen exerceram durante a década de 1880 a 1890 uma influência enorme na poesia ídish e nas canções populares da Europa Oriental.
  • 2. Dezenas de poemas, de todos eles, foram transformados em canções e musicados por compositores anônimos, nos dois lados do Atlântico. A seguir publicamos a tradução da canção “In Dem Land Fun Piramidn”, de sua autoria, lembrando a festa de Pessach: No País das Pirãmides No país das pirâmides, Havia um rei furioso e ruim, Lá se encontravam os judeus, Seus servos, seus escravos. Crianças se emparedavam Quando tijolos faltavam, Quem sabe quanto iria demorar Esta terrível escravidão O rei os castigava pesadamente, O povo ia sofrendo Porque pouco entendia e Pouca coragem, tinha, em sua mente. Amassando barro e carregando tijolos, Construindo monumentos altos e suntuosos, Desde o berço até o túmulo, Era o escravo a um cão comparado. Mas no país das pirâmides, Um grande herói existia, Que lutou pelos judeus, Com sua espada e sua sabedoria. O herói também era único Das pessoas livres de bom senso Que em geral o mundo apedreja Ou o entrega ao verdugo Mas quando isto acontece Fazendo grandes favores, E no túmulo descansa, A sociedade lhe ergue monumentos Este herói também entendia, Que o povo viverá mal Enquanto dominarem os tiranos E existirem, amos e escravos. O homem está insatisfeito, Enquanto arrasta a corrente, Mas ele libertou os judeus Desta terrível escravidão. Cruze o mar Vermelho. Vá direto ao Monte Sinai. Procure alcançar a terra prometida. Tempo de chegada: 40 anos. Bai Mir Bistu Shein
  • 3. Há um dito popular que quando as Irmãs Andrews lançaram a gravação de enorme sucesso da canção de Sholom Secunda “Bai Mir Bistu Shein", em 1938, a mãe do compositor estava tão perturbada que jejuou por uma semana para expiar seus pecados. A razão desta perturbação? Somente dois meses antes seu filho vendeu os direitos autorais da canção por apenas 30 dólares. Embora esta extrema reação da mãe de Secunda possa ter sido exagerada na imprensa, a surpreendente pequena quantia resultado da venda era verdadeira. Naturalmente o autor não tinha ideia que a canção ia se tornar um grande sucesso. Escrita em 1932,"Bai Mir Bistu Shein" (Para Mim você é Linda) foi parte de uma opereta ídish chamada "I Would If I Could", escrita em 1932 por Abraham Bloom com a música de Secunda e letra de seu sócio Jacob Jacobs. A apresentação da opereta não teve nenhum sucesso e eles decidiram vender os direitos autorais para uma editora. Ele já tinha vendido centenas de canções por trinta dólares e ficou satisfeito com este valor, que ele dividia com Jacobs, seu sócio. Durante 28 anos os direitos autorais da canção pertenciam a Editora Kammen e se estima que a renda obtida com os seus direitos autorais tenha chegado a três milhões de dólares, repartidos entre as editoras e ilustres astros e estrelas do mundo musical. O lirista Sammy Cahn chegou a comprar uma casa para sua mãe com o dinheiro ganho. Parece que todos colheram prêmios pela canção, todos, menos o compositor... A Nova Sara Bat Tovim ( Retrato ) Itzchak Guterman Sua elevada estatura com os cabelos grisalhos, o rosto pálido e olhar perdido, atraiam a atenção nos círculos culturais de São Paulo. Para mim ela parecia um enigma. No seu olhar pairava um temor. Suas ações comunitárias eram repletas de coragem, vontade, como para afastar com as mãos suas próprias convicções – não é preciso pensar nada sobre si mesmo, é preciso agir, ser bom, construir cultura, incutir nas pessoas conhecimento judaico. O principal era ajudar o próximo: para quem está solitário, dar companhia para quem está desanimado –animá-lo, fortalecê-lo. Em pouco tempo ela atraiu muita gente. As pessoas se acercavam dela, procuravam sua amizade. Pessoas sós desses lares ela também dava calor humano e alegria, quando as convidava para sua casa hospitaleira. O “cabalat shabat” (véspera do sábado) em sua casa era uma alegria para o espírito e elevação para a alma. Na sua curta permanência em São Paulo ela organizou muitas destas cerimônias. Quando ela estava inspirada com algo, esta alegria transparecia apenas nos seus olhos. Seu riso vinha da alma. Sua risada era mais espiritual, como se somente a alma se alegrasse. Todo o corpo novamente ficava triste, sem o movimento da alegria. Somente no rosto é que algo mudava. Apareciam algumas ruguinhas, que olhos sorridentes forçam sobre o rosto. O tanto que ela não se revelava, ela se abria para as pessoas com suas conversas, sua atividade, sua leitura, mas sempre permanecia fechada, hermética como que com algo secreto. Sua casa era parcialmente uma exposição de quadros: paisagens, motivos judaicos, figuras desenhadas com traços místicos. E os móveis, os lustres, os utensílios e os cristais, nas prateleiras e sobre as mesas e mesinhas respiravam a histórica e aristocrática antiguidade judaicas. Em sua casa entrava o brilho da velha história e da velha tradição judaica, a atmosfera de Sion, de Jerusalém –pois de lá era oriunda Ela nasceu em Jerusalém, porem viveu em Meron e em Safed.
  • 4. Pode também ser, que o olhar assustado que aparentava, era uma expressão de temor a Deus. Talvez ela tivesse trazido sua expressão das cidades místicas onde os olhares estavam voltados para os altos santuários dos céus. Também sua palidez e seu aspecto ascético está no mesmo tom e atmosfera daquelas cidades. Nos seus temas literários estavam os candelabros de sua mãe, os cálices de seu pai da “havdalá” (benção proferida no fim do sábado e no fim das festas judaicas) e a casa de campo – não distante de São Paulo, Campos do Jordão, que ela descreveu com beleza e saudade. Este lugar ela relembrou nas históricas belezas naturais dos seus lugares de origem, Jerusalém e suas redondezas, e com certeza no meio disso ela descreveu a semelhança com o vivido na lembrança, na saudade. Em uma árvore com galhos estendidos para o céu, ela viu uma “menorá” (candelabro) onde o sol poente acende as pequenas chamas. Quando ela lia sua obra, ela permanecia mais tarde com um semblante quieto, pensativo, com a expressão de indagação: por que me cabe o privilégio de saber escrever e pessoas me ouvirem? Havia nela uma contradição consigo mesma, uma baixa autoestima: quem sou eu e o que sou eu, para merecer isso? Quando chegava um escritor estrangeiro, ela o recebia amistosamente e com grande dedicação o ajudava a vender seus livros. Nem sempre isso lhe trazia honra, mas também nisso ela encontrava um sentido na vida e um prazer. E também poderia acontecer, que o escritor, de quem ela não recebia reconhecimento, ele ainda lhe pagava com aborrecimento, mas ela aceitava tudo com amor, como parte da sua missão social. O que sempre se via nela era a comunidade, apesar de participar de vários grupos ela tinha ela nunca estava satisfeita. Ela tinha necessidade de mais aproximação. Seu orgulho era sua filha e seu genro que falavam ídish e hebraico e seus netos que falavam em hebraico. No círculo de leitura, ela se sentia revivida, como uma planta delicada que é tocada pelo sereno da primavera e raios solares. Cada círculo cultural de ídish era seu lar espiritual, onde ela revivia e se dedicava como uma mãe em seu próprio lar. Também havia algo de místico em sua fala. Quando o fazia em público, suas palavras eram em tom baixo, o rosto mais pálido do que o usual, os olhos fixavam ao longe e parecia que ela contava um segredo, um fato da longínqua história antiga, dos patriarcas e profetas. A sua imagem crescia, como saindo de um sonho e transformando-se em uma figura desses personagens. Quando ela dava uma palestra sobre personagens femininas na história judaica, ela mesma se parecia com uma das matriarcas. Quando ela mesma se recolheu depois de suas calmas e saudosas conversas, dizia-se que ela mesma foi encontrar-se com “as mulheres da história judaica”. Tradução do Ídish: Por Cheindlea Rachovski e Fany Kessel, membros do Grupo de Tradutores do Centro de Estudos Judaicos da USP e revisado pelo Grupo: Cheindlea Rachovsky, Cilka Thalenberg, ,Didio Kozlowski, Dina Kinochita, Edith Gross Hojda, EstherTerdiman,, Fany Kessel, Israel Granatovicz, Helena Bursztyn, Mendel Lustig, Moysés Worcman, Pesie Nussenbaum, Raquel Szafir,Samuel Belk, Sandra Meneguetti, , Sarita Rawet, Szmulik Kilsztajn, sob a direção da professora, Dra Genha Migdal Zai Gezunt: Edição do Grupo Amigos do Ídish. Editor: Eng.Samuel Belk EMail: belk@uol.com.br Colaborador: Eng. Moysés Worcman EMail: workmosh@gmail.com