Abraham Reisen foi um poeta judeu que nasceu na Rússia no século XIX e publicou seu primeiro poema aos 15 anos. Ele escreveu vários contos e poemas que foram publicados em jornais judaicos-americanos. Sua canção "Zog Maran" relembra a época da Inquisição espanhola e a fé judaica mantida mesmo sob perseguição. Raquel Buszewski Kaplan nasceu na Bielorrússia e escreveu poemas sobre a saudade de sua cidade natal Pins
1. INFORME MENSAL Zai Gezunt
Ano 1 – Setembro de 2.014 No
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Editores- Rio de Janeiro: Genni Blank / São Paulo: Samuel Belk
ABRAHAM REISEN (1876-1953)
Nasceu em Dzerzhinsk, um vilarejo da província de Minsk. Seu primeiro poema, escrito aos quinze anos de
idade, foi publicado na antologia de I.L.Peretz e Dineson, Yiddishe Bibliotek (1891)
Suas memórias, Episodn fun main lebn, (Episódios da Minha Vida), em 3 volumes (1929/1935), são uma
importante fonte da moderna literatura ídiche e da biografia de seus criadores. Foi um escritor prolífico,
publicando um conto e dois poemas a cada semana, durante anos, nos diários judaico-americanos. Suas
histórias foram utilizadas como textos favoritos para as crianças das escolas de ídish.
A Lituânia fez parte do reino da Polônia durante os séculos XVI, XVII e XVIII, e caiu sob o domínio russo,
tendo permanecido assim até o final da Primeira Guerra Mundial. Em decorrência deste fato, em que a
Lituânia e a Polônia perderam a sua independência, a história dos judeus lituano-poloneses passou a ser similar
à dos judeus russos.
A opressão sofrida pelo povo judeu, na Rússia Tzarista, as constantes ondas de pogroms que se sucederam
entre os anos de 1881 a 1907, promovidos por organizações antissemitas com o aval do governo russo, em um
grande número de cidades, como Kerson, Varsóvia, Odessa, Kishinev e outras deixaram numerosas vítimas e
grandes danos materiais entre a população judaica.
Estes pogroms estimularam uma violenta onda emigratória e atingiu entre os anos de 1899 e 1924, um total
aproximado de 1.200.000 pessoas, que se dirigiram para os Estados Unidos. Foi então que, um grande número
de poetas judeus deixou a Rússia. Entre eles encontrava-se Reisen, que se estabeleceu definitivamente em 1914,
em New York.
Na canção Zog Maran (Diga, Marrano), ele nos relembra a época da Inquisição espanhola, a perseguição
sofrida pela comunidade judaica, seu conformismo à situação reinante, mantendo a fidelidade à sua crença,
ainda que isto lhe custe a vida.
Diz-me Marrano, meu irmão, Zog maran,du bruder mainer,
Onde pões a mesa para o Seder? Vu is greit der seider dainer
Num porão profundo, numa escola In a tife heil, in a cheider
A minha Páscoa irei fazer. Dort hob ich gegreit main seider
Diz-me marrano, de quem você vai Zog mir maran, vu bai vemen,
Obter as matzas brancas? Vestu vaise matzes nemen
No porão, com a ajuda de Deus, In der heil, oif gots barotn
A minha mulher prepara-os lá Hot main vaib dem teig geknotn
Diz-me Marrano, como consegues Zog maran ,vi vest zich klign
Encontrar uma Hagadá? A hagode vu tzu krign?
No porão, entre as fendas profundas In der heil, in tife shpaltn
Há muito que lá escondi o livro. Hob ich zi shoin lang bahaltn
Diz-me marrano, como se comportará Zog maran,vi vest zich vern
Quando tua voz ouvirem? Ven men vet dain kol derherem?
Se me vierem prender, com uma Ven der soine vet mich fangen,
Canção nos lábios, irei morrer. Vel ich shtarbn mit gezangen
RAQUEL BUSZEWSKI KAPLAN
Nasceu na Bielo Rússia em 1909 e veio para Campinas em 1930, Brasil, onde já se encontrava seu marido.
No Holocausto perdeu a família e jamais se perdoou por não ter podido salvá-la. Procurou sempre preservar
a língua ídish escrevendo poemas onde sempre estavam presentes a saudade, a dor e o amor à tradição.
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2. Seu filho Maurício publicou um livreto com suas poesias há muitos anos e ela conseguiu ainda vir a São
Paulo naquela ocasião, num programa musical para um Grupo da Terceira Idade, que estava se realizando
na Hebraica de São Paulo, para ofertar este livreto cujo titulo é Main Sheitele Pinsk, nome do primeiro
poema do livro que aqui transcrevemos parte, em tradução para o português.
Como era bonita minha cidadezinha Pinsk Vi shein bistu shtetele Pinsk geven
Onde eu passei a minha juventude Vu ich hob main iugnt farbrart
Pulando como um cabrito selvagem Geshpringen vi a tzilgele a vilde
Em nenhum momento pensando a sério Kain ain minut ernst getracht
Chorei quando te abandonei Geveint vem ich hob dich farlozn
Com saudades, como de uma mãe para filha Mit benkshaft vi a mame tzu a kind
Esperando breve voltar novamente In gichn gehoft tzu dir vider kumen
O tempo vai passar rapidamente Di tzait vet duchloifn geshvind
Passaram anos pesados e tristes A duch iorn shvere troierki,
Como te transformaram tanto Vos hot men fun dir shtetele gemacht
Onde estão os velhinhos com seus filacterios Vu zainen di altitshes mit zaire tfilin
E os jovens que brilhavam e riam. Un di iunge vos hobn geblit um gelacht
Querida cidadezinha, minha Pinsk Hartzike shtetele, Pinsk maine
Lá no morro onde eu nasci Dort oifn barg, vu ich bin geboirn
Lá onde eu perdi meus pais e meu irmão ‘ Vu ich hob maine eltern un brider farloirn
Com saudades eu eternamente te encantarei . Mit benkshaft vel ich dich eibik basingen.
NÓS MUDAMOS
Sholem Aleichem
Na América existe o costume de se mudar, o que significa transferir-se de uma residência para outra ou de
um negócio para outro. Cada um precisa mudar. Não que se vai mudar de boa vontade, para melhorar o
padrão de vida ou para ter mais aposentos para os filhos, mas obrigam-te mudar. Isto significa que se você
não paga o aluguel você vai ser despejado. Por isso não se deve admirar se te perguntam quando você vai
mudar. E você tem que responder.
Por isso meu irmão Eliáu levou uma repreensão de nosso cliente que obtém toda semana em nossa barraca.
uma caixa de fósforo gratuitamente. Aqui na América se distribuem fósforos de graça, não é preciso esperar
para receber. Vai e se apanha sozinho.
O cliente que eu lhes conto é um homem esquisito. Vale a pena descrevê-lo. O que ele é e quem ele é ainda
não sabemos. Nem onde mora e nem sua profissão. Ele na certa é um homem meticuloso. Vem todo dia, na
mesma hora em nossa barraca, apanha o diário matinal e o lê da primeira à última página.
Comprar ele nunca comprou de nós nada, além de pegar gratuitamente uma caixa de fósforos. Por ler todos
os dias o jornal provavelmente deixou meu irmão nervoso. Uma vez esperteza e outra vez esperteza fez com
que meu irmão lhe fizesse uma exigência: Isso custa um penny. O cliente dá uma olhada, põe o jornal no
mesmo lugar onde estava e se vai tranquilamente.
Neste ponto, o conto de “Motl Peissi na América” ficou incompleto. “Nós Mudamos” foi o último capítulo e
as últimas linhas que Sholem Aleichem escreveu para nós, antes de se ir, já deitado doente na cama.
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Zai Gezunt-Edição do Grupo Amigos do Ídiche
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