SlideShare uma empresa Scribd logo
ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 
1 
A Inclusão e as Relações entre a Família e a Escola 
(Mônica Pereira dos Santos)1 
Introdução 
A perspectiva da relação entre família e escola pouco tem sido tratada na literatura do ponto de vista educacional, e sim predominantemente clínico. Freqüentemente, estas relações têm sido caracterizadas por laços de ‘autoridade’ por parte da instituição escolar, que muitas vezes mais se assemelham a laços de autoritarismo, dado o lugar que a escola ocupa, no imaginário da instituição familiar, de lugar de saber, que lhe confere autoridade sobre rumos e decisões a serem tomados sobre seus próprios filhos. 
Entretanto, com o advento da oficialização, em Declaração Mundial, da proposta de Educação para Todos (em Jomtiem, Tailândia, 1990), o quadro destas relações tem sido transformado, senão na prática, pelo menos no plano das recomendações. É que a Educação para Todos trouxe à tona o paradigma da Inclusão e, com este, a importância de se analisar os fenômenos educacionais de um ponto de vista múltiplo, que considere todas as dimensões implicadas nos referidos fenômenos. Assim, a família passa a adquirir um outro status nestes processos: o status de quem não apenas é fonte de origem do alunado, mas também o de quem provê as primeiras formas de relações educativas, ainda que num ambiente não escolar. 
Por outro lado, as mesmas mudanças nos cenários internacional e nacional quanto aos rumos da educação no terceiro milênio têm implicado numa reavaliação do papel da escola e da forma como esta se organiza, tanto no sentido de suas respostas às necessidades educacionais dos alunos, quanto no sentido de sua própria identidade enquanto instituição social. Assim é que as instituições escolares têm também passado por uma transformação de seu status: o daquela que muitas vezes acaba ocupando um lugar que ultrapassa os limites da ação pedagógica e da relação ensino-aprendizagem, para ocupar espaços de ordem pessoal que influi diretamente no cotidiano de seus alunos. 
Este artigo se propõe a fazer uma revisão das transformações por que têm passado estas duas instituições sociais (a família e a escola), dentro dos paradigmas da Educação Para Todos, com ênfase especial ao movimento pela Inclusão de alunos que passam por barreiras à 
1 Profa. Adjunta do Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação da UFRJ.
ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 
2 
aprendizagem, seja por apresentarem dificuldades específicas, deficiências ou quaisquer outros motivos, inclusive de ordem externa ao indivíduo. 
Iniciaremos analisando as ‘trocas’ de papéis entre cada uma das instituições. Em seguida, apresentaremos o que dizem as recomendações internacionais a respeito do assunto para, por fim, tentar indicar alguns caminhos que desatem nós nesta relação e promovam, com isso, uma das principais recomendações da proposta de uma Educação para Todos: a de aproximação e parceria entre família e escola. 
O Lado Educacional da Família 
A família, primeiro berço educacional do ser humano, possui algumas obrigações convencionalmente estabelecidas no seio das sociedades às quais pertencem. Em nossa sociedade, ocidental, alguns papéis que lhe cabem são claramente demarcados inclusive em documentos legais, como por exemplo o Estatuto da Criança e do Adolescente (1992) e a Constituição de 1988. 
Nos dois documentos é possível verificar aspectos comuns quanto ao papel da família no crescimento e desenvolvimento de seus filhos, como por exemplo: 
- 
garantir a escolarização; 
- 
garantir uma criação voltada para a cidadania e uma vida digna; 
- 
garantir carinho, proteção e afeto. 
No entanto, nem sempre estes papéis são cumpridos à risca em muitas sociedades, e os motivos para tal são de ordens variadas. Destaca-se, por exemplo, o caso de sociedades em que as crianças são, desde cedo, retiradas ou impedidas de freqüentar a escola, por terem que trabalhar e contribuir para o orçamento familiar. Ou ainda o caso de sociedades em que há famílias de viajantes, retirantes ou povos nômades, cujos filhos têm sua freqüência a uma determinada escola prejudicada pelo fato de se encontrarem majoritariamente em trânsito. Ou mesmo casos de sociedades que simplesmente não têm como prioridade a educação escolar de seus povos, simplesmente por não atribuírem a esta o valor que outras sociedades convencionaram atribuir. 
Mas, mesmo quando os fatores acima não acontecem e as crianças freqüentam a escola, muitas vezes acabam sofrendo a falta de apoio por parte da família em seu processo de
ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 
3 
escolarização e aprendizagem. Isto também pode ser dar por vários motivos, incluindo os descritos acima. Nos primeiros casos, de ausência, trata-se de buscar estratégias que façam com que as famílias percebam a importância da escolarização dos filhos, e de informá-las inclusive da obrigatoriedade desta função. No segundo caso, no entanto, a situação pode se tornar mais complexa. Dado que há a presença física (mas não necessariamente emocional) da criança na escola, caberá à esta última desenvolver estratégias de aproximação com a família no sentido de estabelecer laços não de cobrança, mas de parceria com a família. Trata-se de tentar fazer com que a família se perceba como participante do processo educacional, porque pode contribuir com aspectos fundamentais quando a criança se encontra em casa, sem no entanto, substituir a escola e assumir o papel de professor de seu próprio filho, ou de provedor único das alternativas educacionais, psicológicas e sociais para seus filhos, nos casos de maiores dificuldades. 
Em outras palavras, trata-se de rever o aspecto que coloca a escola em posição de cobrança e a família em posição de culpada, ou cobrada. Assim, a família funcionaria como mais um elemento estratégico no processo de escolarização daqueles alunos que estivessem apresentado resultados diferentes do esperado. 
Estas necessidades ficam muito claramente expressas nas recomendações internacionais. A Declaração de Salamanca (1994)2, por exemplo, diz, em suas diretrizes de ação nos níveis nacionais, no artigo 58: 
Os Ministérios da Educação e as escolas não devem ser os únicos a perseguir o objetivo de dispensar o ensino a crianças com necessidades educacionais especiais. Isso exige também a cooperação das famílias e a mobilização da comunidade (...) 
E continua, no artigo 61: 
Deverão ser estreitadas as relações de cooperação e de apoio entre administradores das escolas, professores e pais, fazendo que estes últimos participem na tomada de decisões, em atividades educativas no lar e na escola (...) e na supervisão e no apoio da aprendizagem de seus filhos. 
2 Documento aprovado em Conferência das nações Unidas em 1994, na Espanha, que, entre outras coisas, recontextualiza o papel da Educação Especial dentro da plataforma lançada na Tailândia, na Conferência Mundial sobre Educação Para Todos.
ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 
4 
O Lado Maternal da Escola 
Do outro lado da moeda, encontra-se a escola, passando por uma transformação histórica com implicações diretas a uma revisão de seu papel. Há muito a escola vem deixando de se preocupar com os aspectos acadêmicos da aprendizagem para se ocupar com os aspectos afetivos e sociais de seus alunos. 
Assim é que vemos a escola como pólo central para onde se encaminham denúncias relativas a negligências nos cuidados infantis, como centro de alimentação das crianças de muitas famílias desprivilegiadas, como centro de recurso a cuidados relativos à saúde, e muitos outros. Também não é raro ver professores, diretores e técnicos de uma escola assumindo um papel em que o afeto é literalmente marcado por uma relação de quase parentesco (maternal, paternal, filial...). 
Aqui, também, os documentos atestam. No documento Necessidades Especiais na Sala de Aula (MEC, 1998), da série Atualidades Pedagógicas, discute-se, no capítulo referente às necessidades dos professores, que o estresse atual da profissão é considerável. E, entre os fatores que geram o estresse, está levantado o “excesso de funções”, que exige do professor maiores responsabilidades no desempenho de suas funções (...) para ampliá-las (...) a aspectos administrativos e de orientação aos alunos (p. 145). 
A própria Declaração de Salamanca também já abordava, em suas diretrizes de ação nos níveis nacionais, no artigo 37, que: 
Toda escola deve ser uma comunidade coletivamente responsável pelo êxito ou fracasso de cada aluno. O corpo docente, e não cada professor, [grifo meu] deverá partilhar a responsabilidade do ensino ministrado a crianças com necessidades especiais (...). 
E no artigo 40, que: 
A preparação adequada de todos os profissionais da educação é também um dos fatores-chave para propiciar a mudança (...) Cada vez mais se reconhece a importância da contratação de professores que sirvam de modelo para crianças com deficiência. 
Portanto, parece ficar clara a abrangência do papel da escola e da família, e da respectiva parceria que deveriam estabelecer.
ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 
5 
Caberia perguntar, a esta altura, sobre a propriedade desta troca, ou abrangência, de papéis. A resposta, como praticamente todas as respostas a questões de ordem social, é relativa. Se a relação de troca se efetiva de fato numa troca, implicando uma relação bidirecional entre família e escola, cabe afirmar a positividade da troca. Se, no entanto, a “troca” se caracteriza por uma inversão, em que responsabilidades básicas deixam de ser assumidas, ou ficam “esquecidas”, todos os problemas que levaram à necessidade de uma revisão destas relações no sentido de uma troca efetiva maior, permanecem. 
A César o que é de César, mas... o que cabe a César? 
Definitivamente, as relações mudaram. Na verdade, estas transformações não constituem um “privilégio” apenas entre família e escola. Praticamente em todas as áreas em que seres humanos se relacionam, as relações passam por transformações dramáticas: no trabalho, entre os amigos, entre os cônjuges, entre pais e filhos, entre todos, enfim. O mundo está muito mais marcado pela velocidade, pelo acesso à informação imediata, por novos parâmetros de competitividade. Ao mesmo tempo, os ideais por um mundo mais justo se afirmam e solidificam cada vez mais, pelo menos no discurso. Faz-se mister atualizarmo-nos a respeito desses aspectos, se quisermos acompanhar o mundo no passo de hoje. 
No que cabe às relações entre família e escola, torna-se imperativo assumir um compromisso com a reciprocidade. De um lado, a família, com sua vivência e sabedoria prática a respeito de seus filhos. De outro, a escola com sua convivência e sabedoria não menos prática a respeito de seus alunos. É preciso entender que esses mesmos alunos são também os filhos, e que os filhos são (ou serão) os alunos. Dito de outra forma: cabe às duas instituições mais básicas das sociedades letradas o movimento de aproximação num plano mais horizontal, de distribuição mais igualitária de responsabilidades. 
Esta idéia já estava expressa em 1990, na Declaração Mundial sobre Educação para Todos. O artigo 5, por exemplo, diz: 
A diversidade, a complexidade e o caráter mutável das necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, exigem que se amplie e se redefina continuamente o alcance da educação básica, para que nela se incluam os seguintes aspectos: 
(a) A aprendizagem começa com o nascimento. Isto implica cuidados básicos e educação inicial na infância, proporcionados seja através de estratégias que
ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 
6 
envolvam as famílias e comunidades ou programas institucionais, como for mais apropriado. (...) 
E o artigo 7 fundamenta o artigo 58 da Declaração de Salamanca e reitera o exposto acima: 
As autoridades responsáveis pela educação aos níveis nacional, estadual e municipal têm a obrigação prioritária de proporcionar educação básica para todos. Não se pode, todavia, esperar que elas supram a totalidade dos requisitos humanos, financeiros e organizacionais necessários a esta tarefa. Novas e crescentes articulações e alianças serão necessárias em todos os níveis (...) É particularmente importante reconhecer o papel vital dos educadores e das famílias. (...) Quando nos referimos a um ‘enfoque abrangente e a um compromisso renovado’, incluímos as alianças como parte fundamental. 
As famílias precisam se aproximar da escola não apenas comparecendo a reuniões de pais ou participando de Conselhos Escola-Comunidade através de representantes, mas é preciso que ela se inteire mais diretamente do processo educacional acadêmico de seus filhos, ajudando-os a aprender a aprender. Coisa que a escola há muito já não pode fazer sozinha, por estar sobrecarregada com outras, novas tarefas. 
A escola, por sua vez, precisa abrir suas portas às famílias, de fato (e de direito). Não alimentando uma relação hierárquica e autoritária, fazendo papel de juiz ou cobrador, da família. Mas ampliando cada vez mais o espaço verdadeira da participação, dividindo seu conhecimento sobre a criança com a família, respeitando o desejo desta e auxiliando esta a se informar para crescer numa relação de maior igualdade. 
Apenas com o estabelecimento de uma relação neste nível é que as propostas educacionais relativas à formação de cidadãos nos dias de hoje poderá acontecer. Pois se à própria família for negado acesso e participação no processo educacional de seus filhos, de que democracia falamos? Com que parceria poderemos sonhar? 
Por fim, um último alerta: este compromisso com a reciprocidade entre a família e a escola não deve significar isenção de responsabilidades por parte das autoridades. O ensino deve continuar público e gratuito. Ao contrário, o compromisso das autoridades é duplo: assegurar o que já lhe cabe como responsabilidade, e fomentar, incentivar, apoiar moralmente o estabelecimento de relações horizontais entre família, comunidades e escola.
ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 
7 
Bibliografia: 
Brasil/MEC/SEESP (1998) Necessidades Especiais na Sala de Aula. Atualidades Pedagógicas, vol 2. 
Brasil/MJ/Secretaria Nacional dos Direitos Humanos/CORDE (1994) Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. 
Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990) World Conference on Education For All Jomtiem, Tailândia.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Artigo pós psicopedagogia
Artigo pós psicopedagogiaArtigo pós psicopedagogia
Artigo pós psicopedagogia
Ana Paula Dmetriv
 
A Relação escola e familia
 A  Relação  escola e familia  A  Relação  escola e familia
A Relação escola e familia
adrianafrancisca
 
A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança
A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criançaA importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança
A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança
Miriam Martins Nunes
 
Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?
Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?
Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?
Elisandra Manfroi
 
A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...
A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...
A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...
Joaquim Colôa
 
Fracasso escolar
Fracasso escolarFracasso escolar
Fracasso escolar
0110janini
 
Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012
Biblioteca Campus VII
 
Tcc ucam
Tcc ucamTcc ucam
Tcc ucam
Fatima Costa
 
Modos de educação, gênero e
Modos de educação, gênero eModos de educação, gênero e
Modos de educação, gênero e
UNICEP
 
Princ adm escolar
Princ adm escolarPrinc adm escolar
Princ adm escolar
IFP
 
Familia e escola
Familia e escolaFamilia e escola
Familia e escola
Claudio Santos
 
Pratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolar
Pratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolarPratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolar
Pratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolar
Daniella Bezerra
 
Ana Picanco. ee e escola tese de mestrado
Ana Picanco. ee e escola  tese de mestradoAna Picanco. ee e escola  tese de mestrado
Ana Picanco. ee e escola tese de mestrado
Maria Pedro Pinho
 
Monografia -fracasso_escolar - cópia
Monografia  -fracasso_escolar - cópiaMonografia  -fracasso_escolar - cópia
Monografia -fracasso_escolar - cópia
Agassis Rodrigues
 
Artigo familia
Artigo familiaArtigo familia
Artigo familia
Jéssica Fernandes
 
Dever de casa
Dever de casaDever de casa
Dever de casa
Andrea Cortelazzi
 
Pais
PaisPais
Diretrizescurriculares 2012
Diretrizescurriculares 2012Diretrizescurriculares 2012
Diretrizescurriculares 2012
angelafreire
 
A atitude dos pais face à escola e à escolaridade
A atitude dos pais face à escola e à escolaridadeA atitude dos pais face à escola e à escolaridade
A atitude dos pais face à escola e à escolaridade
Henrique Santos
 
Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012
Biblioteca Campus VII
 

Mais procurados (20)

Artigo pós psicopedagogia
Artigo pós psicopedagogiaArtigo pós psicopedagogia
Artigo pós psicopedagogia
 
A Relação escola e familia
 A  Relação  escola e familia  A  Relação  escola e familia
A Relação escola e familia
 
A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança
A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criançaA importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança
A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança
 
Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?
Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?
Que alternativas poderiam promover a integração da família na escola?
 
A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...
A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...
A problemática da relação família escola e a criança com necessidades educati...
 
Fracasso escolar
Fracasso escolarFracasso escolar
Fracasso escolar
 
Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Edivânia Pedagogia Itiúba 2012
 
Tcc ucam
Tcc ucamTcc ucam
Tcc ucam
 
Modos de educação, gênero e
Modos de educação, gênero eModos de educação, gênero e
Modos de educação, gênero e
 
Princ adm escolar
Princ adm escolarPrinc adm escolar
Princ adm escolar
 
Familia e escola
Familia e escolaFamilia e escola
Familia e escola
 
Pratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolar
Pratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolarPratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolar
Pratica de ensino oportunizando vivências da realidade escolar
 
Ana Picanco. ee e escola tese de mestrado
Ana Picanco. ee e escola  tese de mestradoAna Picanco. ee e escola  tese de mestrado
Ana Picanco. ee e escola tese de mestrado
 
Monografia -fracasso_escolar - cópia
Monografia  -fracasso_escolar - cópiaMonografia  -fracasso_escolar - cópia
Monografia -fracasso_escolar - cópia
 
Artigo familia
Artigo familiaArtigo familia
Artigo familia
 
Dever de casa
Dever de casaDever de casa
Dever de casa
 
Pais
PaisPais
Pais
 
Diretrizescurriculares 2012
Diretrizescurriculares 2012Diretrizescurriculares 2012
Diretrizescurriculares 2012
 
A atitude dos pais face à escola e à escolaridade
A atitude dos pais face à escola e à escolaridadeA atitude dos pais face à escola e à escolaridade
A atitude dos pais face à escola e à escolaridade
 
Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Áurea Pedagogia Itiúba 2012
 

Destaque

Autismo inclusão
Autismo inclusãoAutismo inclusão
Autismo inclusão
nuno2305
 
Saúde Mental na Escola
Saúde Mental na EscolaSaúde Mental na Escola
Saúde Mental na Escola
Narjara Aline Zanoli Cruz
 
Slides Sextas inclusivas- práticas pedagógicas
Slides Sextas inclusivas- práticas pedagógicasSlides Sextas inclusivas- práticas pedagógicas
Slides Sextas inclusivas- práticas pedagógicas
Marily Oliveira
 
PSE
PSEPSE
Cartilha inclusao escolar
Cartilha inclusao escolarCartilha inclusao escolar
Cartilha inclusao escolar
SA Asperger
 
O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo
O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismoO papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo
O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo
Amanda Barbosa
 
Palestra Autismo
Palestra AutismoPalestra Autismo
Palestra Autismo
Carlos Junior
 
O autista na escola inclusiva
O autista na escola inclusivaO autista na escola inclusiva
O autista na escola inclusiva
Ju Dias
 
Práticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdo
Práticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdoPráticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdo
Práticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdo
Grupo Educação, Mídias e Comunidade Surda
 
Inclusão
InclusãoInclusão
Inclusão
Thaisduarte
 
Autismo os educadores são a chave para inclusão!
Autismo  os educadores são a chave para inclusão!Autismo  os educadores são a chave para inclusão!
Autismo os educadores são a chave para inclusão!
Raline Guimaraes
 
Autismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regular
Autismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regularAutismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regular
Autismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regular
Janderly Reis
 
Pedagogia - Autismo
Pedagogia - AutismoPedagogia - Autismo
Pedagogia - Autismo
Aurivan
 
Autismo
AutismoAutismo
A rotina de um autista
A rotina de um autistaA rotina de um autista
A rotina de um autista
SimoneHelenDrumond
 
93 metodos para pessoas autistas
93 metodos para pessoas autistas93 metodos para pessoas autistas
93 metodos para pessoas autistas
SimoneHelenDrumond
 
Jogos e atividades para Autista
Jogos e atividades para AutistaJogos e atividades para Autista
Jogos e atividades para Autista
Pri Domingos
 
75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do autista por simone helen drumond
75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do  autista por simone helen drumond75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do  autista por simone helen drumond
75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do autista por simone helen drumond
SimoneHelenDrumond
 
80 planejamento de atividades para desenvolver a linguagem do autista
80 planejamento de  atividades para desenvolver a linguagem do autista80 planejamento de  atividades para desenvolver a linguagem do autista
80 planejamento de atividades para desenvolver a linguagem do autista
SimoneHelenDrumond
 
35 metodo teacch
35 metodo teacch35 metodo teacch
35 metodo teacch
SimoneHelenDrumond
 

Destaque (20)

Autismo inclusão
Autismo inclusãoAutismo inclusão
Autismo inclusão
 
Saúde Mental na Escola
Saúde Mental na EscolaSaúde Mental na Escola
Saúde Mental na Escola
 
Slides Sextas inclusivas- práticas pedagógicas
Slides Sextas inclusivas- práticas pedagógicasSlides Sextas inclusivas- práticas pedagógicas
Slides Sextas inclusivas- práticas pedagógicas
 
PSE
PSEPSE
PSE
 
Cartilha inclusao escolar
Cartilha inclusao escolarCartilha inclusao escolar
Cartilha inclusao escolar
 
O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo
O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismoO papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo
O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo
 
Palestra Autismo
Palestra AutismoPalestra Autismo
Palestra Autismo
 
O autista na escola inclusiva
O autista na escola inclusivaO autista na escola inclusiva
O autista na escola inclusiva
 
Práticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdo
Práticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdoPráticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdo
Práticas Pedagógicas Inclusivas: Refletindo sobre o aluno surdo
 
Inclusão
InclusãoInclusão
Inclusão
 
Autismo os educadores são a chave para inclusão!
Autismo  os educadores são a chave para inclusão!Autismo  os educadores são a chave para inclusão!
Autismo os educadores são a chave para inclusão!
 
Autismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regular
Autismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regularAutismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regular
Autismo: desafios da inclusão da criança autista na escola regular
 
Pedagogia - Autismo
Pedagogia - AutismoPedagogia - Autismo
Pedagogia - Autismo
 
Autismo
AutismoAutismo
Autismo
 
A rotina de um autista
A rotina de um autistaA rotina de um autista
A rotina de um autista
 
93 metodos para pessoas autistas
93 metodos para pessoas autistas93 metodos para pessoas autistas
93 metodos para pessoas autistas
 
Jogos e atividades para Autista
Jogos e atividades para AutistaJogos e atividades para Autista
Jogos e atividades para Autista
 
75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do autista por simone helen drumond
75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do  autista por simone helen drumond75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do  autista por simone helen drumond
75 jogos e brincadeiras na aprendizagem do autista por simone helen drumond
 
80 planejamento de atividades para desenvolver a linguagem do autista
80 planejamento de  atividades para desenvolver a linguagem do autista80 planejamento de  atividades para desenvolver a linguagem do autista
80 planejamento de atividades para desenvolver a linguagem do autista
 
35 metodo teacch
35 metodo teacch35 metodo teacch
35 metodo teacch
 

Semelhante a A inclusao nas relacoes entre a familia e a escola monica

A GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVAS
A GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVASA GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVAS
A GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVAS
RafaelaNascimento86
 
(In)disci..
(In)disci..(In)disci..
(In)disci..
Luciana
 
TCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA
TCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLATCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA
TCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA
JJOAOPAULO7
 
artigo educação
artigo educaçãoartigo educação
artigo educação
Eliane Cardoso
 
2420 8302-1-pb
2420 8302-1-pb2420 8302-1-pb
Encontro técnicos 1
Encontro técnicos 1Encontro técnicos 1
Encontro técnicos 1
ProgramaEscolasTEIP
 
INP-Aula 12.pptx
INP-Aula 12.pptxINP-Aula 12.pptx
INP-Aula 12.pptx
EdgarFaustinoRodrigu
 
Soc mariana junqueira camasmie
Soc mariana junqueira camasmieSoc mariana junqueira camasmie
Soc mariana junqueira camasmie
Ivo Fonseca
 
Influência da família no ensino aprendizagem 3 2015
Influência da família no ensino aprendizagem 3  2015Influência da família no ensino aprendizagem 3  2015
Influência da família no ensino aprendizagem 3 2015
cefaprodematupa
 
Tcc - Escola e Família - Parceria Necessária
Tcc - Escola e Família -  Parceria NecessáriaTcc - Escola e Família -  Parceria Necessária
Tcc - Escola e Família - Parceria Necessária
Cirlei Santos
 
Educação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultosEducação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultos
marcelle55
 
0 a 3 anos cuidar%2c acolher
0 a 3 anos cuidar%2c acolher0 a 3 anos cuidar%2c acolher
0 a 3 anos cuidar%2c acolher
Arthur Rodrigues Lourenço
 
Avaliação unidade curricular
Avaliação unidade curricularAvaliação unidade curricular
Avaliação unidade curricular
lislieribeiro
 
Inclusão entre a teoria e a prática e.ou entre a
Inclusão  entre a teoria e a prática e.ou entre aInclusão  entre a teoria e a prática e.ou entre a
Inclusão entre a teoria e a prática e.ou entre a
Caminhos do Autismo
 
A escola e seu entorno social
A escola e seu entorno socialA escola e seu entorno social
A escola e seu entorno social
Catarina Louro
 
Regattieri,
Regattieri,Regattieri,
Regattieri,
silvinhaalmeida
 
Tacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdf
Tacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdfTacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdf
Tacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdf
ThainJaine1
 
Jennifer alyne maria
Jennifer alyne mariaJennifer alyne maria
Jennifer alyne maria
Fernando Pissuto
 
Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012
Biblioteca Campus VII
 
Educacao como processo_de_desenvolvimento
Educacao como processo_de_desenvolvimentoEducacao como processo_de_desenvolvimento
Educacao como processo_de_desenvolvimento
http://blogdomarcosmoraes.blogspot.com.br/
 

Semelhante a A inclusao nas relacoes entre a familia e a escola monica (20)

A GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVAS
A GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVASA GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVAS
A GESTAO DEMOCRATICA E A RELAÇÃO FAMILIA E ESCOLA: DESAFIOS E PESPECTIVAS
 
(In)disci..
(In)disci..(In)disci..
(In)disci..
 
TCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA
TCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLATCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA
TCC - RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA
 
artigo educação
artigo educaçãoartigo educação
artigo educação
 
2420 8302-1-pb
2420 8302-1-pb2420 8302-1-pb
2420 8302-1-pb
 
Encontro técnicos 1
Encontro técnicos 1Encontro técnicos 1
Encontro técnicos 1
 
INP-Aula 12.pptx
INP-Aula 12.pptxINP-Aula 12.pptx
INP-Aula 12.pptx
 
Soc mariana junqueira camasmie
Soc mariana junqueira camasmieSoc mariana junqueira camasmie
Soc mariana junqueira camasmie
 
Influência da família no ensino aprendizagem 3 2015
Influência da família no ensino aprendizagem 3  2015Influência da família no ensino aprendizagem 3  2015
Influência da família no ensino aprendizagem 3 2015
 
Tcc - Escola e Família - Parceria Necessária
Tcc - Escola e Família -  Parceria NecessáriaTcc - Escola e Família -  Parceria Necessária
Tcc - Escola e Família - Parceria Necessária
 
Educação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultosEducação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultos
 
0 a 3 anos cuidar%2c acolher
0 a 3 anos cuidar%2c acolher0 a 3 anos cuidar%2c acolher
0 a 3 anos cuidar%2c acolher
 
Avaliação unidade curricular
Avaliação unidade curricularAvaliação unidade curricular
Avaliação unidade curricular
 
Inclusão entre a teoria e a prática e.ou entre a
Inclusão  entre a teoria e a prática e.ou entre aInclusão  entre a teoria e a prática e.ou entre a
Inclusão entre a teoria e a prática e.ou entre a
 
A escola e seu entorno social
A escola e seu entorno socialA escola e seu entorno social
A escola e seu entorno social
 
Regattieri,
Regattieri,Regattieri,
Regattieri,
 
Tacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdf
Tacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdfTacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdf
Tacca e Branco%2c 2008_Processos de significação relação professores-alunos.pdf
 
Jennifer alyne maria
Jennifer alyne mariaJennifer alyne maria
Jennifer alyne maria
 
Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012
Monografia Agda Pedagogia Itiúba 2012
 
Educacao como processo_de_desenvolvimento
Educacao como processo_de_desenvolvimentoEducacao como processo_de_desenvolvimento
Educacao como processo_de_desenvolvimento
 

A inclusao nas relacoes entre a familia e a escola monica

  • 1. ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 1 A Inclusão e as Relações entre a Família e a Escola (Mônica Pereira dos Santos)1 Introdução A perspectiva da relação entre família e escola pouco tem sido tratada na literatura do ponto de vista educacional, e sim predominantemente clínico. Freqüentemente, estas relações têm sido caracterizadas por laços de ‘autoridade’ por parte da instituição escolar, que muitas vezes mais se assemelham a laços de autoritarismo, dado o lugar que a escola ocupa, no imaginário da instituição familiar, de lugar de saber, que lhe confere autoridade sobre rumos e decisões a serem tomados sobre seus próprios filhos. Entretanto, com o advento da oficialização, em Declaração Mundial, da proposta de Educação para Todos (em Jomtiem, Tailândia, 1990), o quadro destas relações tem sido transformado, senão na prática, pelo menos no plano das recomendações. É que a Educação para Todos trouxe à tona o paradigma da Inclusão e, com este, a importância de se analisar os fenômenos educacionais de um ponto de vista múltiplo, que considere todas as dimensões implicadas nos referidos fenômenos. Assim, a família passa a adquirir um outro status nestes processos: o status de quem não apenas é fonte de origem do alunado, mas também o de quem provê as primeiras formas de relações educativas, ainda que num ambiente não escolar. Por outro lado, as mesmas mudanças nos cenários internacional e nacional quanto aos rumos da educação no terceiro milênio têm implicado numa reavaliação do papel da escola e da forma como esta se organiza, tanto no sentido de suas respostas às necessidades educacionais dos alunos, quanto no sentido de sua própria identidade enquanto instituição social. Assim é que as instituições escolares têm também passado por uma transformação de seu status: o daquela que muitas vezes acaba ocupando um lugar que ultrapassa os limites da ação pedagógica e da relação ensino-aprendizagem, para ocupar espaços de ordem pessoal que influi diretamente no cotidiano de seus alunos. Este artigo se propõe a fazer uma revisão das transformações por que têm passado estas duas instituições sociais (a família e a escola), dentro dos paradigmas da Educação Para Todos, com ênfase especial ao movimento pela Inclusão de alunos que passam por barreiras à 1 Profa. Adjunta do Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação da UFRJ.
  • 2. ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 2 aprendizagem, seja por apresentarem dificuldades específicas, deficiências ou quaisquer outros motivos, inclusive de ordem externa ao indivíduo. Iniciaremos analisando as ‘trocas’ de papéis entre cada uma das instituições. Em seguida, apresentaremos o que dizem as recomendações internacionais a respeito do assunto para, por fim, tentar indicar alguns caminhos que desatem nós nesta relação e promovam, com isso, uma das principais recomendações da proposta de uma Educação para Todos: a de aproximação e parceria entre família e escola. O Lado Educacional da Família A família, primeiro berço educacional do ser humano, possui algumas obrigações convencionalmente estabelecidas no seio das sociedades às quais pertencem. Em nossa sociedade, ocidental, alguns papéis que lhe cabem são claramente demarcados inclusive em documentos legais, como por exemplo o Estatuto da Criança e do Adolescente (1992) e a Constituição de 1988. Nos dois documentos é possível verificar aspectos comuns quanto ao papel da família no crescimento e desenvolvimento de seus filhos, como por exemplo: - garantir a escolarização; - garantir uma criação voltada para a cidadania e uma vida digna; - garantir carinho, proteção e afeto. No entanto, nem sempre estes papéis são cumpridos à risca em muitas sociedades, e os motivos para tal são de ordens variadas. Destaca-se, por exemplo, o caso de sociedades em que as crianças são, desde cedo, retiradas ou impedidas de freqüentar a escola, por terem que trabalhar e contribuir para o orçamento familiar. Ou ainda o caso de sociedades em que há famílias de viajantes, retirantes ou povos nômades, cujos filhos têm sua freqüência a uma determinada escola prejudicada pelo fato de se encontrarem majoritariamente em trânsito. Ou mesmo casos de sociedades que simplesmente não têm como prioridade a educação escolar de seus povos, simplesmente por não atribuírem a esta o valor que outras sociedades convencionaram atribuir. Mas, mesmo quando os fatores acima não acontecem e as crianças freqüentam a escola, muitas vezes acabam sofrendo a falta de apoio por parte da família em seu processo de
  • 3. ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 3 escolarização e aprendizagem. Isto também pode ser dar por vários motivos, incluindo os descritos acima. Nos primeiros casos, de ausência, trata-se de buscar estratégias que façam com que as famílias percebam a importância da escolarização dos filhos, e de informá-las inclusive da obrigatoriedade desta função. No segundo caso, no entanto, a situação pode se tornar mais complexa. Dado que há a presença física (mas não necessariamente emocional) da criança na escola, caberá à esta última desenvolver estratégias de aproximação com a família no sentido de estabelecer laços não de cobrança, mas de parceria com a família. Trata-se de tentar fazer com que a família se perceba como participante do processo educacional, porque pode contribuir com aspectos fundamentais quando a criança se encontra em casa, sem no entanto, substituir a escola e assumir o papel de professor de seu próprio filho, ou de provedor único das alternativas educacionais, psicológicas e sociais para seus filhos, nos casos de maiores dificuldades. Em outras palavras, trata-se de rever o aspecto que coloca a escola em posição de cobrança e a família em posição de culpada, ou cobrada. Assim, a família funcionaria como mais um elemento estratégico no processo de escolarização daqueles alunos que estivessem apresentado resultados diferentes do esperado. Estas necessidades ficam muito claramente expressas nas recomendações internacionais. A Declaração de Salamanca (1994)2, por exemplo, diz, em suas diretrizes de ação nos níveis nacionais, no artigo 58: Os Ministérios da Educação e as escolas não devem ser os únicos a perseguir o objetivo de dispensar o ensino a crianças com necessidades educacionais especiais. Isso exige também a cooperação das famílias e a mobilização da comunidade (...) E continua, no artigo 61: Deverão ser estreitadas as relações de cooperação e de apoio entre administradores das escolas, professores e pais, fazendo que estes últimos participem na tomada de decisões, em atividades educativas no lar e na escola (...) e na supervisão e no apoio da aprendizagem de seus filhos. 2 Documento aprovado em Conferência das nações Unidas em 1994, na Espanha, que, entre outras coisas, recontextualiza o papel da Educação Especial dentro da plataforma lançada na Tailândia, na Conferência Mundial sobre Educação Para Todos.
  • 4. ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 4 O Lado Maternal da Escola Do outro lado da moeda, encontra-se a escola, passando por uma transformação histórica com implicações diretas a uma revisão de seu papel. Há muito a escola vem deixando de se preocupar com os aspectos acadêmicos da aprendizagem para se ocupar com os aspectos afetivos e sociais de seus alunos. Assim é que vemos a escola como pólo central para onde se encaminham denúncias relativas a negligências nos cuidados infantis, como centro de alimentação das crianças de muitas famílias desprivilegiadas, como centro de recurso a cuidados relativos à saúde, e muitos outros. Também não é raro ver professores, diretores e técnicos de uma escola assumindo um papel em que o afeto é literalmente marcado por uma relação de quase parentesco (maternal, paternal, filial...). Aqui, também, os documentos atestam. No documento Necessidades Especiais na Sala de Aula (MEC, 1998), da série Atualidades Pedagógicas, discute-se, no capítulo referente às necessidades dos professores, que o estresse atual da profissão é considerável. E, entre os fatores que geram o estresse, está levantado o “excesso de funções”, que exige do professor maiores responsabilidades no desempenho de suas funções (...) para ampliá-las (...) a aspectos administrativos e de orientação aos alunos (p. 145). A própria Declaração de Salamanca também já abordava, em suas diretrizes de ação nos níveis nacionais, no artigo 37, que: Toda escola deve ser uma comunidade coletivamente responsável pelo êxito ou fracasso de cada aluno. O corpo docente, e não cada professor, [grifo meu] deverá partilhar a responsabilidade do ensino ministrado a crianças com necessidades especiais (...). E no artigo 40, que: A preparação adequada de todos os profissionais da educação é também um dos fatores-chave para propiciar a mudança (...) Cada vez mais se reconhece a importância da contratação de professores que sirvam de modelo para crianças com deficiência. Portanto, parece ficar clara a abrangência do papel da escola e da família, e da respectiva parceria que deveriam estabelecer.
  • 5. ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 5 Caberia perguntar, a esta altura, sobre a propriedade desta troca, ou abrangência, de papéis. A resposta, como praticamente todas as respostas a questões de ordem social, é relativa. Se a relação de troca se efetiva de fato numa troca, implicando uma relação bidirecional entre família e escola, cabe afirmar a positividade da troca. Se, no entanto, a “troca” se caracteriza por uma inversão, em que responsabilidades básicas deixam de ser assumidas, ou ficam “esquecidas”, todos os problemas que levaram à necessidade de uma revisão destas relações no sentido de uma troca efetiva maior, permanecem. A César o que é de César, mas... o que cabe a César? Definitivamente, as relações mudaram. Na verdade, estas transformações não constituem um “privilégio” apenas entre família e escola. Praticamente em todas as áreas em que seres humanos se relacionam, as relações passam por transformações dramáticas: no trabalho, entre os amigos, entre os cônjuges, entre pais e filhos, entre todos, enfim. O mundo está muito mais marcado pela velocidade, pelo acesso à informação imediata, por novos parâmetros de competitividade. Ao mesmo tempo, os ideais por um mundo mais justo se afirmam e solidificam cada vez mais, pelo menos no discurso. Faz-se mister atualizarmo-nos a respeito desses aspectos, se quisermos acompanhar o mundo no passo de hoje. No que cabe às relações entre família e escola, torna-se imperativo assumir um compromisso com a reciprocidade. De um lado, a família, com sua vivência e sabedoria prática a respeito de seus filhos. De outro, a escola com sua convivência e sabedoria não menos prática a respeito de seus alunos. É preciso entender que esses mesmos alunos são também os filhos, e que os filhos são (ou serão) os alunos. Dito de outra forma: cabe às duas instituições mais básicas das sociedades letradas o movimento de aproximação num plano mais horizontal, de distribuição mais igualitária de responsabilidades. Esta idéia já estava expressa em 1990, na Declaração Mundial sobre Educação para Todos. O artigo 5, por exemplo, diz: A diversidade, a complexidade e o caráter mutável das necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, exigem que se amplie e se redefina continuamente o alcance da educação básica, para que nela se incluam os seguintes aspectos: (a) A aprendizagem começa com o nascimento. Isto implica cuidados básicos e educação inicial na infância, proporcionados seja através de estratégias que
  • 6. ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 6 envolvam as famílias e comunidades ou programas institucionais, como for mais apropriado. (...) E o artigo 7 fundamenta o artigo 58 da Declaração de Salamanca e reitera o exposto acima: As autoridades responsáveis pela educação aos níveis nacional, estadual e municipal têm a obrigação prioritária de proporcionar educação básica para todos. Não se pode, todavia, esperar que elas supram a totalidade dos requisitos humanos, financeiros e organizacionais necessários a esta tarefa. Novas e crescentes articulações e alianças serão necessárias em todos os níveis (...) É particularmente importante reconhecer o papel vital dos educadores e das famílias. (...) Quando nos referimos a um ‘enfoque abrangente e a um compromisso renovado’, incluímos as alianças como parte fundamental. As famílias precisam se aproximar da escola não apenas comparecendo a reuniões de pais ou participando de Conselhos Escola-Comunidade através de representantes, mas é preciso que ela se inteire mais diretamente do processo educacional acadêmico de seus filhos, ajudando-os a aprender a aprender. Coisa que a escola há muito já não pode fazer sozinha, por estar sobrecarregada com outras, novas tarefas. A escola, por sua vez, precisa abrir suas portas às famílias, de fato (e de direito). Não alimentando uma relação hierárquica e autoritária, fazendo papel de juiz ou cobrador, da família. Mas ampliando cada vez mais o espaço verdadeira da participação, dividindo seu conhecimento sobre a criança com a família, respeitando o desejo desta e auxiliando esta a se informar para crescer numa relação de maior igualdade. Apenas com o estabelecimento de uma relação neste nível é que as propostas educacionais relativas à formação de cidadãos nos dias de hoje poderá acontecer. Pois se à própria família for negado acesso e participação no processo educacional de seus filhos, de que democracia falamos? Com que parceria poderemos sonhar? Por fim, um último alerta: este compromisso com a reciprocidade entre a família e a escola não deve significar isenção de responsabilidades por parte das autoridades. O ensino deve continuar público e gratuito. Ao contrário, o compromisso das autoridades é duplo: assegurar o que já lhe cabe como responsabilidade, e fomentar, incentivar, apoiar moralmente o estabelecimento de relações horizontais entre família, comunidades e escola.
  • 7. ESPAÇO – Informativo Técnico do INES, no. 11, jun/99, pp.40-43 7 Bibliografia: Brasil/MEC/SEESP (1998) Necessidades Especiais na Sala de Aula. Atualidades Pedagógicas, vol 2. Brasil/MJ/Secretaria Nacional dos Direitos Humanos/CORDE (1994) Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990) World Conference on Education For All Jomtiem, Tailândia.