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SISTEMAS DE MOBILIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DO SOLO


Por sistemas de mobilização de conservação do solo, e no caso das
culturas herbáceas, entende-se o conjunto de operações de mobilização do
solo, e de maneio dos resíduos das culturas, que permitam que pelo menos
30% da superfície do solo estejam cobertos em permanência pelos resíduos
das culturas, e assim protegidos do impacto directo da chuva.




Figura 1- Diferença no grau de cobertura proporcionado por um sistema de
mobilização reduzida (Esq.) e sementeira directa (Dta.).

Da definição de sistemas de mobilização de conservação do solo, vem que o
valor mínimo admissível para a taxa de cobertura do solo é de 30%. Este valor,
embora aparente alguma arbitrariedade, e tenha que ser considerado com
espírito crítico, é o resultado de um grande número de experiências, levadas a
cabo em muitas partes do mundo, que mostram que, para taxas de cobertura
do solo superiores a este mínimo, há uma grande redução da degradação do
solo.
A importância dos resíduos das culturas que ficam à superfície do solo após as
operações de mobilização, e sementeira, reside no facto de: protegerem o solo
dos processos de degradação; aumentarem a água disponível para a cultura;
melhorarem a estrutura do solo; aumentarem a fertilidade do solo; contribuírem
para o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas.

A protecção do solo contra os processos de degradação resulta,
principalmente, da intercepção das gotas de água da chuva. O impacte das
gotas de água nos agregados da superfície do solo provoca a sua ruptura,
produzindo partículas de solo, agregadas ou não, mais pequenas,
transportáveis em suspensão no escorrimento superficial, é a erosão. Um
outro efeito da ruptura dos agregados é a redução da macroporosidade, cujo
exemplo extremo é o da formação de crostas, que, diminuindo a infiltração,
aumentam o volume de escorrimento superficial.
Figura 2- Para além da evidente perda de solo, há quebras na produção, tanto pelo
arrastamento de plantas e sementes, como por soterramento nas áreas de deposição.

O aumento da água disponível para a cultura resulta, como se viu no
parágrafo acima, de uma maior infiltração de água (menor formação de crosta),
de uma maior quantidade de poros capazes de reter a água que infiltra a
tensões que as plantas a possam utilizar (diâmetros entre 0,2 e 50 µm), bem
como de uma menor evaporação da água do solo, pela redução do fluxo de
energia solar que chega à superfície do solo.

A melhoria da estrutura do solo, pelos resíduos das culturas, tem origem nas
substâncias a que dão origem por decomposição, genericamente chamadas de
húmus. O maior ou menor teor de húmus confere propriedades distintas do
ponto de vista físico, aos solos. É amplamente reconhecido o efeito destes
materiais orgânicos sobre a agregação das partículas de solo. Assim, temos:
  • Nos solos de textura grosseira, um maior teor em matéria orgânica conduz
a um maior poder de retenção da água por adsorção. À retenção da água por
adsorção, devido à atracção electrostática que se forma entre as superfícies
dos colóides (partículas de diâmetro inferior a 2 µm) e as moléculas de água,
segue-se o “engrossar” destas camadas de água por coesão com novas
moléculas de água, preenchendo os espaços intersticiais de dimensão
compatível com fenómenos de capilaridade.
  • Nos solos de textura mais fina, um maior teor de matéria orgânica conduz a
uma agregação maior, e mais estável, das partículas de solo. Como resultado
de uma maior agregação, a infiltrabilidade do solo aumenta, o crescimento das
raízes é mais fácil, a transitabilidade é melhorada, nomeadamente em
condições de maior humidade, há um maior arejamento do solo, e aumento da
actividade microbiana.
Um outro efeito dos resíduos sobre a estrutura do solo, indirecto, é o de
favorecer a presença e/ou o estabelecimento de diversos organismos que se
alimentam dos resíduos, nomeadamente as minhocas (Lumbricus terrestris L.),
que, ao construírem as suas galerias (luras) ao longo do perfil do solo,
favorecem a rápida infiltração da água. Alguns investigadores relatam números
de luras que atingem 150 por m². Importante também é o facto dos
excrementos das minhocas serem, eles próprios, agregados estáveis.




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Figura 3- Aspecto do perfil de um solo, e do crescimento das raízes, em sementeira
directa.

O aumento da fertilidade do solo reside no facto de os resíduos serem uma
fonte de nutrientes para as culturas, principalmente de azoto. Durante a
decomposição dos resíduos há a libertação de nutrientes, alguns prontamente
assimiláveis pelas plantas, no entanto, no cálculo das necessidades de
fertilização há que levar em conta as características dos resíduos da cultura
anterior, nomeadamente no que concerne a relação C/N, uma vez que pode
haver a imobilização de parte do azoto mineral do solo pelos micróbios,
deixando de estar disponível para a cultura. Voltaremos a este assunto quando
tratarmos os aspectos da fertilização. Dos resíduos que são transformados em
húmus, substâncias excepcionalmente estáveis, a libertação dos nutrientes é
lenta (taxas de mineralização na ordem de 1 a 2% ano, dependendo das
condições de temperatura e humidade), pelo que há uma acumulação no solo,
principalmente em sistemas de mobilização reduzida e sementeira directa,
libertando de ano para ano quantidades cada vez maiores de nutrientes.
A matéria orgânica do solo também contribuí para o aumento da fertilidade do
solo pela sua elevada capacidade de troca catiónica (C.T.C.), i.e., a capacidade
de reter, por adsorção, catiões e cedê-los às plantas pelo processo de troca
catiónica. Isto é tanto mais importante quanto menor o teor de argila do solo
(em termos comparativos os minerais de argila do grupo da montmorilonite
apresentam uma C.T.C. de 80 a 150 m.e./100 g, enquanto a C.T.C. do húmus
pode ser de 100 a 300 m.e./100 g).
Ainda um outro aspecto do aumento da fertilidade do solo pelos resíduos,
reside no poder tampão da matéria orgânica, nomeadamente em relação a
variações bruscas de pH.

No que concerne o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas, a
presença de resíduos, para além de ser fonte de alimento para inúmeras
espécies, oferece protecção a muitas outras.




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Figura 4- Ninho em resíduos de uma cultura.


Relação entre o tipo de alfaia e a mobilização do solo.
Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, para além da
manutenção de uma cobertura do solo pelos resíduos da cultura anterior, é
também objectivo, a redução da intensidade da mobilização, i.e., as alfaias
utilizadas, a sua regulação, e o número de passagens, devem ser ponderadas
por forma a que não haja uma pulverização excessiva dos agregados, nem
uma compactação excessiva dos solos (função do peso das alfaias e tractores,
e dos stresses a que os solos estão sujeitos pela passagem dos órgãos activos
das alfaias).
A partir da definição proposta de mobilização de conservação do solo, é óbvio
que a utilização de charruas está interdita, uma vez que, ao produzirem o
reviramento da camada superficial (ao formarem a leiva), o grau de cobertura
da superfície do solo pelos resíduos, após a mobilização, é geralmente inferior
a 2-3%. Também, em muitos solos, a lavoura com charrua de aivecas conduz
ao aparecimento, à profundidade de passagem da relha, de uma zona
extremamente compactada, o “calo de lavoura”, que diminui a passagem da
água e impede o crescimento das raízes.
A utilização de cultivadores rotativos (frezas) está interdita em sistemas de
mobilização de conservação do solo. Este tipo de máquinas pulveriza muito
finamente o solo, deixando-o muito susceptível aos processos de degradação,
e enterra a quase totalidade dos resíduos que se encontram à superfície do
solo.




Figura 5- Tanto o uso da charrua como de cultivadores rotativos de eixo horizontal
estão interditos em sistemas de mobilização de conservação do solo.

Tradicionalmente, a grade de discos é utilizada após a lavoura, por forma a
nivelar o terreno e desterroar. Outros trabalhos em que geralmente se utiliza a
grade de discos são: destroçar os resíduos das culturas; enterrar sementes,


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adubos, etc., distribuídos a lanço; e mobilizações “ligeiras” do solo, com fins
diversos, tais como o controlo de infestantes, romper crostas superficiais, etc..
A possibilidade de utilizar grades de discos em sistemas de mobilização de
conservação do solo depende do objectivo que se pretende alcançar. Assim, e
como instrumento de mobilização do solo, não deverá ser usado, exceptuando
nos casos em que a massa de resíduos à superfície seja muito elevada,
situação em que o agricultor deverá regular a grade por forma a manter um
nível adequado de resíduos à superfície. Também, a sua utilização no maneio
dos resíduos, trabalhando com a grade fechada, por exemplo para derrubar e
destroçar caules de milho ou girassol, é uma opção a ter em conta.




Figura 6- A utilização da grade de discos, em sistemas de mobilização de
conservação, deve ser reservada unicamente para as situações em que a quantidade
de resíduos à superfície seja muito elevada.

Os escarificadores são, de um modo geral, as alfaias utilizadas em sistemas
de mobilização de conservação do solo. Dentro deste grupo, existe uma
grande variedade de alfaias que diferem entre si no que concerne à forma e
número de braços, tipos de mola e bicos.




Figura 7- Os escarificadores são as alfaias utilizadas em sistemas de mobilização
reduzida e na zona.


O grau de cobertura do solo pelos resíduos das culturas depende do tipo de
alfaia utilizado mas também do número de passagens, da regulação, da
profundidade e da velocidade de trabalho.


A definição de sistemas de mobilização de conservação do solo apresentada,
permite formular um número bastante grande de sistemas de mobilização do
solo que podem receber o epíteto “de conservação”. Assim, e para melhor



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perceber os vários tipos de sistemas, distinguem-se as seguintes categorias:
mobilização reduzida, mobilização na zona e sementeira directa.
Por mobilização reduzida, no contexto de sistema de mobilização de
conservação do solo, entende-se normalmente um sistema que, embora
intervindo em toda a superfície do terreno, mantém uma quantidade apreciável
dos resíduos da cultura anterior na superfície do solo. Estes sistemas baseiam-
se na utilização de alfaias de mobilização vertical (escarificadores), ficando
interdita a utilização da charrua e da fresa. A utilização da grade de discos só
poderá ser encarada de forma muito limitada e, apenas em situações em que
uma quantidade muito elevada de resíduos o exija. No entanto, o seu uso deve
ficar sempre condicionado à manutenção da quantidade desejável de resíduos
na superfície do terreno.




Figura 8- Em sistemas de mobilização reduzida, a utilização de conjuntos de alfaias
poderá resultar numa redução significativa do número de passagens (Esq.). A
utilização de escarificadores é privilegiada (Dta.).

O termo mobilização na zona é reservado a sistemas de mobilização do solo
que intervenham apenas em parte da superfície do terreno. A área mobilizada
corresponde a faixas de largura variável sendo a sementeira da cultura
realizada no interior destas. Esta intervenção tanto pode ser realizada
antecipadamente em relação à sementeira, como em simultâneo com esta. O
recurso a estes sistemas de mobilização conduz à utilização indispensável de
herbicidas de pré-sementeira, como forma de controlar infestantes nas zonas
não mobilizadas. É também frequente, mas não indispensável, a utilização de
semeadores especiais.




Figura 9- Sementeira em sistema de mobilização na zona, com aplicação de herbicida
em simultâneo (Esq.); subsolador com disco corta-palha (Dta.).



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Por sementeira directa entende-se o sistema em que não existe mobilização
do terreno previamente ao acto de sementeira. É o próprio semeador e, apenas
na linha de sementeira, que provoca a mobilização do solo mínima necessária
para a introdução e o enterramento da semente. Assim, estes sistemas
exigem, normalmente, não só a aplicação de herbicidas de pré-sementeira,
como também a utilização de semeadores especiais, designados por
semeadores de sementeira directa.




Figura 10- A utilização de semeadores especialmente desenhados para trabalhar sem
a mobilização prévia do solo permite a realização da chamada sementeira directa.

A adopção dos sistemas de mobilização de conservação: uma aposta de
médio prazo.
A adopção de sistemas de mobilização de conservação do solo, em solos
anteriormente lavrados, implica, normalmente, uma fase de transição de 3 a 5
anos em que as condições de estrutura e fertilidade do solo vão melhorando
até atingirem o patamar de estabilidade próprio do sistema de mobilização
adoptado. Do ponto de vista do escorrimento superficial e erosão, os benefícios
podem ser visíveis logo a partir do ano de adopção. Em termos da
produtividade potencial dos solos, esta vai aumentando de ano para ano. De
um modo geral, nunca deverá realizar uma das operações interditas em
sistemas de mobilização de conservação (lavoura com charrua, ou freza) após
a adopção de um sistema de conservação, isto será desperdiçar todo o
investimento realizado na recuperação da estrutura e fertilidade do solo
(primeiros anos da adopção do sistema), remetendo-o ao estado inicial.




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Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

                        Texto de apoio e consulta 2.


                    AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO


Uma definição para agricultura de conservação pode ser conseguida por
oposição aos efeitos nefastos da agricultura tradicional sobre o ambiente.
Assim, entende-se por agricultura de conservação o conjunto de práticas
agrícolas que, permitindo uma agricultura sustentável e competitiva, “alteram o
menos possível a composição e estrutura do solo, protegendo-o da erosão e
degradação, e aumentam a biodiversidade do espaço rural”.




Figura 1- Colza em sementeira directa. A manutenção dos restolhos e a não
mobilização do solo contribuem para uma melhor estrutura e fertilidade do solo.

Os objectivos da agricultura de conservação são, num sentido lato, a
conservação dos recursos naturais (solo, água, e ar) e a sustentabilidade da
actividade agrícola. Estes dois objectivos, ao contrário do que por vezes se
pensa, não são incompatíveis:
  • Do ponto de vista da conservação dos recursos naturais, a prática de
sistemas de mobilização de conservação do solo (mobilização reduzida, na
zona e sementeira directa), a realização de culturas de cobertura, a não
queima de palhas e restolhos, entre outros, todos contribuem para a melhoria
e/ou manutenção da estrutura e fertilidade do solo. A manutenção dos resíduos
das culturas anteriores, e as culturas de cobertura, protegem o solo do impacto
directo das gotas de água da chuva, defendendo-o assim da erosão e da
formação de crostas. Contribuem também para aumentar o nível de matéria
orgânica do solo, e assim a fertilidade, a estabilidade dos agregados, etc.. A
diminuição da erosão tem um impacto muito grande em termos da conservação
da água, ao diminuir a carga de sedimentos, nutrientes, pesticidas, metais
pesados, e outros, em suspensão na água dos rios, ribeira, barragens, etc..
Outro efeito importante da manutenção dos resíduos, e da não queima das
palhas e restolhos, é a diminuição da emissão de dióxido de carbono (CO2)
para a atmosfera a partir dos terrenos agrícolas. O CO2 é, de entre os gases
responsáveis pelo efeito de estufa, o mais importante.




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Figura 2- A queima de palhas e restolhos é uma prática totalmente desaconselhada,
deixando o solo desprotegido, susceptível à erosão, e é responsável pelo aumento das
emissões de CO2 para a atmosfera.

  • Do ponto de vista da sustentabilidade da actividade agrícola, esta pode
ser considerada tanto em termos económicos como da possibilidade “material”
de a realizar.
Em termos económicos, a adopção de sistemas de mobilização de
conservação do solo permite: diminuir os custos de investimento em
maquinaria diversa (especialmente o sistema de sementeira directa); poupar
em mão-de-obra (menos horas de trabalho por ha); poupar na manutenção dos
equipamentos; menor potência de tracção; a poupança de combustível; um
período mais largo para a realização das sementeiras; etc.. Os custos
acrescidos com alguns sistemas (e.g. semeadores de sementeira directa, ou
ainda a aplicação de herbicidas de pré-sementeira) são, salvo raras excepções,
mais que compensados pelas poupanças já referidas, resultando num saldo
largamente positivo. Se tomarmos em linha de conta que, em muitos solos e
para muitas culturas, a produção praticamente não se ressente com a transição
de um sistema de mobilização tradicional para um de conservação (e.g. milho,
ou ainda o trigo), o interesse económico é ainda maior.
Em termos “materiais”, i.e. a possibilidade física de poder continuar a produzir
num determinado solo, só poderá ser possível, num futuro não muito distante,
se adoptarmos desde já as práticas da agricultura de conservação. A erosão
dos solo conduz não só a uma perda directa da produção, observável pelos
próprios agricultores, na forma de manchas sem vegetação originadas tanto
pela erosão como pela deposição de sedimentos, como a uma perda
acumulada de solo, ano após ano, que conduz a solos esqueléticos e de
fertilidade quase nula. Para aqueles que vêm no regadio, e na aplicação de
doses maciças de nutrientes, uma forma de restaurar o potencial produtivo dos
solos, sem atenderem aos aspectos de conservação do solo e da água
associados aos diferentes sistemas de mobilização de conservação, mais não
fazem que antecipar ainda mais a destruição do potencial produtivo dos solos.
Uma vez um solo completamente erodido, a sua recuperação poderá levar
séculos.




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Figura 3- A erosão é responsável pela diminuição da produção dos solos agrícolas,
tanto pelo arrastamento de plantas e sementes, e por soterramento nas áreas de
deposição, como pela perda de solo, substrato de crescimento das plantas.

Diferença no maneio dos resíduos das culturas.
Salvo raras excepções, os resíduos das culturas sempre foram enterrados, não
tanto devido a uma necessidade identificada para o fazer mas como o
resultado das práticas utilizadas para atingir outros fins, como o controlo das
infestantes, facilitar as operações de sementeira, etc.. Com o advento da
mecanização da agricultura, e principalmente a rápida vulgarização do tractor e
da charrua, cedo o homem se apercebeu da importância de manter o solo
resguardado dos agentes da erosão (a água e o vento), pela manutenção de
um coberto. No entanto, a impossibilidade técnica de conciliar o controlo de
infestantes, e a sementeira da cultura, com a manutenção de um coberto de
resíduos, devido à inexistência de semeadores robustos e de herbicidas
apropriados, adiou a resolução do problema da cobertura do solo até ao início
dos anos 70, altura em que apareceram no mercado os herbicidas paraquato e
glifosato.
Com a mobilização tradicional, os resíduos das culturas são enterrados
aquando da realização das operações de mobilização que provocam o
reviramento da camada superficial do solo, normalmente com charruas ou
ainda com grades de discos. A razão porque essas operações eram
efectuadas são: o controle de infestantes; permitir o trabalho das alfaias e
semeadores convencionais, sem o seu empapamento pelos resíduos das
culturas; o enterramento de fertilizantes, restolhos, etc.; a criação de uma
melhor estrutura do solo para o desenvolvimento das culturas, que é apenas
aparente e temporário, desaparecendo rapidamente; entre outros. As razões
porque ainda se praticam o enterramento dos resíduos da cultura anterior são:
o desconhecimento da existência de meios alternativos para alcançar os
mesmos objectivos, a relutância em abandonar sistemas que, bem ou mal, vão
funcionando; a falta de conhecimentos técnicos, etc..

A instalação de culturas de cobertura.
Uma das práticas de agricultura de conservação é a realização de culturas de
cobertura. Estas realizam-se no período Outono/Inverno, sempre que o solo vá
passar este período sem nenhuma cultura. Com o fim do Inverno, a cultura é
controlada com um herbicida (não residual, e de baixa toxicidade).
A razão de ser das culturas de cobertura reside no facto de no período
Outono/Inverno concentrarem-se as chuvas, sendo o perigo da erosão
bastante grande. Convém, no entanto, não esquecer que esta prática não
substitui os resíduos da cultura anterior. Assim, não é de todo recomendado o


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pastoreio intensivo dos restolhos, por exemplo de um cereal de Inverno,
durante o Verão, na expectativa que a cultura de cobertura proporcione a
protecção do solo desejado no período Outono/Inverno.
Outros efeitos das culturas de cobertura são: o aumento do teor de matéria
orgânica do solo; um melhor controlo das infestantes; retenção pela cultura de
nutrientes mineralizados, que de outra forma seriam lavados (nitrato); trazer
para a superfície nutrientes de camadas mais baixas; manter e/ou melhorar a
estrutura do solo; etc..

As culturas de cobertura podem ser constituídas por vegetação espontânea
ou serem semeadas. Quando naturais, poder-se-á utilizar, após a
emergência, herbicidas selectivos por forma a manter apenas as infestantes
de folha estreita, muito mais fáceis de controlar no final do Inverno. Quando
semeadas, as culturas como a aveia e a cevada prestam-se particularmente
bem para esse papel.



Com a agricultura tradicional não há nenhuma prática equivalente. Por vezes
recorre-se à realização de culturas, principalmente tremocilha, para posterior
sideração. Embora isto mostre uma preocupação com a manutenção da
fertilidade do solo, não ataca o problema uma vez que: quando a tremocilha é
enterrada apresenta um valor C/N bastante baixo (aproximadamente 13), pelo
que é rapidamente mineralizada, acrescendo o facto de, sendo enterrada,
aumentar ainda mais a taxa de mineralização e não contribuir para a protecção
da superfície do solo contra a erosão.




Figura 4- Cultura de cobertura (aveia) após o corte.




Mobilização dos solos e formação de crosta. Suas implicações.
A mobilização dos solos, principalmente com os sistemas tradicionais que
enterram os resíduos das culturas na totalidade, dá muitas vezes origem ao
aparecimento, após as primeiras chuvas, de crostas. As crostas são muito finas
(da ordem de 1-2 mm), extremamente compactadas, e com valores de
condutividade hidráulica extremamente baixos quando comparados com os
valores do solo sem crosta.




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A formação de crosta depende da textura e teor de matéria orgânica do solo.
De um modo geral, pode-se dizer que os solos francos e franco-arenosos são
os mais susceptíveis, e que a tendência a formar crosta diminui com o aumento
do teor de argila e matéria orgânica. A formação da crosta é devida a dois
mecanismos complementares: (i) a desintegração física dos agregados e a sua
compactação pelo impacto das gotas de água; (ii) a dispersão química e o
movimento de partículas de argila para a camada de 0,1 a 0,5 mm de
profundidade. Assim, é obvio que qualquer sistema que promova a cobertura
da superfície do solo com resíduos diminui, em maior ou menor extensão, a
formação de crosta, uma vez que a superfície está protegida do impacto directo
das gotas de água da chuva.
Se, com a sementeira directa, e a partir da definição, o solo está relativamente
bem protegido, não é possível eleger, a priori, entre os sistemas de
mobilização reduzida e na zona, qual oferece uma melhor protecção ao solo,
em virtude das grandes diferenças que pode existir dentro de cada sistema,
sendo, no entanto, em grande medida, função do grau de cobertura do solo. No
entanto, e para as mesmas condições de solo e cultura, a mobilização na zona
oferece mais protecção que a reduzida.




Figura 5- A formação de crostas tem implicações fundamentalmente ao nível da
infiltração de água, e da emergência das culturas quando secam.


A estrutura do solo e a retenção de água. Factores a contribuir para uma
maior infiltração e retenção.
Embora os sistemas de mobilização tradicional resultem em camadas
superficiais relativamente soltas e com grande porosidade, este efeito é pouco
duradouro, diminuindo ao longo do ciclo da cultura, havendo casos em que,
passado algum tempo sobre a realização das operações de mobilização, a
porosidade é menor que a inicial. O facto de após as operações de
mobilização, na camada mobilizada, a porosidade ser normalmente superior ao
verificado com o sistema de sementeira directa (em relação aos sistemas de
mobilização reduzida e na zona depende de muitos factores), isto não significa
que o volume de água infiltrado com os sistemas de mobilização tradicional
seja superior. Como vimos no ponto anterior, a formação de crosta pode levar
a uma redução importante da infiltração, e são numerosos os estudos
realizados, inclusive em Portugal, que mostram que embora possa haver um
maior volume infiltrado logo na 1ª chuvada após as mobilizações, nas



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seguintes, os sistemas de sementeira directa e reduzida normalmente
apresentam um maior volume infiltrado.
Convém aqui referir que, do ponto de vista físico, sempre que há ruptura de um
agregado, há diminuição da microporosidade, embora possa aumentar a
macroporosidade.
Outro factor importante a ter em conta com os sistemas de mobilização
tradicional é o aparecimento, na base do perfil mobilizado, de uma camada
extremamente compactada, o calo de lavoura, que para além de dificultar, ou
mesmo impedir, o crescimento das raízes, é muito pouco permeável à água. O
principal efeito do calo de lavoura é provocar o encharcamento da camada
superficial, o que equivale a problemas de arejamento e à asfixia das raízes, o
que pode ter reflexos graves sobre a produção. Este problema não se põe com
os sistemas de mobilização de conservação do solo.
Os sistemas de mobilização de conservação do solo, e em especial a
sementeira directa, conduzem, geralmente, ao aparecimento de uma camada
superficial com agregados mais estáveis, e nos solos de textura fina e média,
favorece o desenvolvimento de uma rede estável de macroporos que promove
uma maior continuidade entre as matrizes da superfície e do sub-solo. Esta
rede de macroporos, que tem origem na actividade da macrofauna (minhocas,
etc.), na decomposição das raízes das plantas, e nas fendas que surgem com
a secagem do solo, é desfeita na camada atingida pela mobilização. A
importância desta rede de macroporos é que consegue transmitir uma
quantidade de água considerável através do perfil.




Figura 6- Com os sistemas em que não há mobilização do solo, os poros criados pelo
     crescimento das raízes da cultura anterior não são destruídos, permitindo um
     aumento da infiltração.

Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, os resíduos das
culturas diminuem o fluxo de radiação solar que incide sobre o solo, diminuindo
a temperatura do solo, e assim, a evaporação. Apenas a título comparativo, o
albedo, ou coeficiente de reflexão (radiação recebida/ radiação reflectida ×
100), é de 7 a 10 % com os solos cultivados escuros (sem resíduos), podendo
atingir os 30 %, ou mais, em solos cobertos com restolhos e palhas. Resta
acrescentar que a condutividade térmica dos resíduos é baixa, pelo que a
energia disponível para o aquecimento do solo é ainda menor que a simples
diferença entre a energia recebida e a reflectida.
Em termos da retenção da água, para posterior utilização pelas plantas, esta
ocorre nos espaços intersticiais de reduzida dimensão, os mesoporos (entre
0,2 e 50 µm). Como já vimos no 1º texto de apoio, o maior teor de matéria
orgânica com os sistemas de mobilização de conservação do solo conduz, nos


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solos de textura grosseira, a um maior poder de retenção da água por
adsorção, devido à atracção electrostática que se forma entre as superfícies
dos colóides (partículas de diâmetro inferior a 2 µm) e as moléculas de água,
seguindo-se o “engrossar” destas camadas de água por coesão com novas
moléculas de água, preenchendo os espaços intersticiais de dimensão
compatível com fenómenos de capilaridade. Nos solos de textura mais fina, um
maior teor de matéria orgânica conduz a uma agregação maior, e mais estável,
das partículas de solo. Como resultado de uma maior agregação, a
infiltrabilidade do solo aumenta, o crescimento das raízes é mais fácil, a
transitabilidade é melhorada, nomeadamente em condições de maior
humidade, há um maior arejamento do solo, e aumento da actividade
microbiana.
Os sistemas de mobilização de conservação do solo, e especialmente a
sementeira directa, conduzem a uma mudança na proporção relativa de cada
classe de tamanho de poros, com aumento da mesoporosidade (ver gráfico).

Tabela 1- Distribuição da porosidade.


              Profundi-                                                        Água
                          > 50 µm    50 -10   10-0. 2           Porosidade
Mobilização     dade                                    < 2µm                utilizável
                            (%)     µm (%)    µm (%)             Total (%)
                (cm)                                                            (%)

                 10         3.2      2.22       2.7     38.37     46.52        4.92
   SD            20        0.86      3.91      5.22     36.16     46.15        9.13
                 30        1.86      2.63      11.48    29.44      45.4        14.11
                 10        15.08     2.34      4.36     29.95     51.73        6.71
   Lav           20        2.67      1.32      2.31     35.95     42.25        3.63
                 30        1.47      1.56      3.29     35.62     41.94        4.85



O controlo de infestantes: mobilização vs. monda química. Custos,
cumprimento de objectivos. A necessidade do saber técnico.
Com os sistemas de mobilização tradicional, o controlo das infestantes
presentes nas parcelas antes da sementeira, é realizado mecanicamente com
a preparação da “cama” para a sementeira. Com os sistemas de mobilização
de conservação, e à excepção dos sistemas de mobilização reduzida, este
controlo é realizado com herbicidas de pré-sementeira. No que respeita o
controlo das infestantes após a sementeira, não há diferenças formais entre os
sistemas de mobilização tradicional e de conservação.
Se o objectivo das mobilizações for apenas o controlo de infestantes, não são
precisos grandes cálculos para verificarmos que o controlo com herbicidas é
uma opção muito mais barata.
Em termos do cumprimento dos objectivos, o controlo eficaz das infestantes,
ambos os sistemas são eficazes se forem cumpridas todos os requisitos
próprios de cada um.
Em termos dos conhecimentos técnicos, seria desonesto afirmar que ambos os
sistemas requerem o mesmo nível de conhecimentos. Para o controlo das
infestantes com herbicidas de pré-sementeira torna-se necessário que o
agricultor, ou o seu consultor, conheça os herbicidas, e as características da


                                                                                    14
aplicação dos herbicidas em sistemas de mobilização de conservação, saiba o
que é um programa de controle de infestantes, e a flexibilidade que deve ter,
que faça o reconhecimento da flora, e do grau de infestação em cada parcela,
que promova uma rotação de culturas conveniente, que proceda a um maneio
conveniente do resíduo das culturas, etc..
Voltaremos a este assunto no módulo “A produção vegetal com sistemas de
Mobilização de Conservação”, onde faremos uma análise exaustiva.




Figura 8- A mobilização dos solos para o controlo de infestantes pode ser substituída
pela aplicação de herbicidas apropriados.


Os sistemas de mobilização e as pragas. A necessidade do saber
técnico.
Há quem aponte as culturas realizadas com sistemas de mobilização de
conservação como estando particularmente expostas às pragas, e assim,
levarem a um consumo maior de pesticidas, devido à menor ou não
mobilização dos solos, e aos resíduos das culturas. No entanto, muitos estudos
mostram que em várias regiões do mundo, onde houve uma extensa
conversão dos sistemas tradicionais para formas de agricultura de
conservação, o consumo de pesticidas não sofreu um acréscimo significativo.
Para estes resultados, por certo não foi alheio o esforço por parte dos
agricultores e seus consultores em conhecer as pragas a que estão sujeitas as
diferentes culturas, a sua maior ou menor presença em resultado dos
diferentes sistemas de mobilização, e a uma utilização mais racional dos
pesticidas quando adoptaram os sistemas de mobilização de conservação face
à utilização que faziam anteriormente.
Para um controlo eficaz e correcto das pragas, torna-se necessário conhecer
quais as pragas a que as culturas estão sujeitas, qual a relação entre a biologia
da praga e as condições criadas pelos diferentes sistemas de mobilização, no
que concerne às condições de sobrevivência da praga, os pesticidas que as
controlam e modos de aplicação, os cuidados a ter quando em sistemas de
mobilização de conservação, quais os níveis económicos de ataque, isto é, a
partir de que número de organismos presentes os prejuízos são superiores ao
custo de aplicação de um determinado pesticida, etc..




                                                                                  15
Figura 9- O conhecimento da biologia das pragas é essencial para desenvolver uma
estratégia de protecção eficaz das culturas.

Voltaremos a este assunto no módulo “A produção vegetal com sistemas de
Mobilização de Conservação”, onde faremos uma análise exaustiva.


Sofismas.
Muitos agricultores que adoptam os sistemas de mobilização de conservação,
entusiasmam-se com os excelentes resultados, nomeadamente no que
concerne a redução de custos, que podem ter desde o início mas mantêm um
certo receio sobre a evolução da produtividade dos solos. Este receio é
fundamentado não em razões objectivas mas na incerteza e desconhecimento
de quais as necessidades em termos de solos para obter boas produções, de
forma continuada e sustentada, e de qual a evolução do solo, do ponto de vista
da estrutura, da fertilidade, das pragas, das infestantes, etc., com os sistemas
de mobilização de conservação. Como veremos nos outros módulos, grande
parte destes receios não tem fundamento, e que é com o tempo que os
benefícios que advêm desses sistemas, a todos os níveis, mais se fazem
sentir.
Os argumentos utilizados pelos detractores dos sistemas de mobilização de
conservação são:
  • Trabalho medíocre dos semeadores, com um mau contacto da semente
   com o solo, tendo como resultado más emergências.
  • As culturas terem problemas com o crescimento das raízes, por causa da
   maior densidade do solo não mobilizado.
  • Um controlo deficiente das infestantes.
  • Uma maior incidência de pragas, com o argumento que a mobilização dos
   solos ajuda a destruir as pragas, e que os resíduos são alojamento das
   formas de hibernação, ovos e larvas das pragas.
  • Menos água disponível para as plantas, com o argumento que a
   mobilização do solo cria uma descontinuidade com a matriz sub-superficial,
   o que diminui a evaporação, e que promove também uma maior infiltração.
  • Etc..

Embora alguns desses argumentos possam ter uma aparente validade como
hipótese, outros são falsos, mas o que é um facto é que tanto os agricultores
que adoptaram sistemas de mobilização de conservação, como os
investigadores que têm os sistemas de mobilização do solo como objecto de
estudo, ou não sentiram estes problemas, ou quando os sentiram, verificaram
que a sua resolução não acarretava mais meios que com os sistemas de
mobilização tradicional, não comprometendo o sucesso das culturas.

                                                                             16
Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

                            Texto de apoio e consulta 3.


                 DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL


Conceito de desenvolvimento rural sustentável.
Não há uma definição para desenvolvimento rural sustentável que seja
universalmente aceite. Uma definição para desenvolvimento sustentável é “o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer
a capacidade das gerações futuras para fazer face às suas necessidades”,
proposto pela World Commission on Environment and Development (Comissão
Mundial para o Desenvolvimento e o Ambiente). No entanto, há que manter o
espírito crítico em relação à adopção de modelos de desenvolvimento, e não
esquecer que aquilo que é sustentável para um país, região ou sociedade,
pode não ser para outro.

Quando falamos em desenvolvimento rural sustentável, os sistemas de
mobilização de conservação do solo já surgem, não como os sistemas do
futuro, mas como os sistemas que urge implementar, devido às vantagens
inequívocas em termos ambientais e económicos. No entanto, do ponto de
vista social, as menores necessidades de mão-de-obra que resultam destes
sistemas de mobilização lançam o espectro de uma ainda maior diminuição do
emprego na agricultura. Isto levanta a questão da existência de uma verdadeira
política de desenvolvimento rural sustentável, que antecipe e dê respostas
atempadas aos problemas.

“O desenvolvimento sustentável tem uma natureza tri-partida: a ambiental, a
económica e a social. O desafio em que consiste o desenvolvimento rural
sustentável é conciliar estes 3 componentes, com cedências de parte-a-parte,
por forma a manter um equilíbrio dinâmico entre eles. São poucas as
situações em que todos lucram com o desenvolvimento, invariavelmente,
alguém ou alguns grupos ficam em desvantagem com a mudança de
políticas, e resistem à mudança.”
(Este parágrafo é uma adaptação livre, de um texto da FAO, Use of Indicators in Sustainable
Agriculture and Rural Development, de Jeff Tschirley).



A conservação do solo e da água. A população em crescimento e a
garantia alimentar.
(Os números apresentados neste texto seguidos de (*), foram colhidos na
publicação “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais,
Económicos e Políticos da UE", uma edição conjunta da APOSOLO e da
ECAF.)

Recentemente, a FAO anunciou que a Terra contava aproximadamente 6 mil
milhões de pessoas. A evolução da população nas ultimas décadas (ver


                                                                                         17
gráfico), só foi possível devido aos avanços registados no âmbito do
melhoramento de plantas e animais, da mecanização, da expansão do regadio
e na melhoria das técnicas de rega, e na utilização de fertilizantes e produtos
fitofarmacêuticos, que permitiram um aumento substancial da produtividade
dos solos agrícolas (ver gráficos de produções). No entanto, cedo começaram
a aparecer os sinais de degradação dos solos e da qualidade das águas, e da
não sustentabilidade a longo prazo de certas práticas como a utilização
excessiva de fertilizantes, de produtos fitofarmacêuticos de elevada
persistência e ecotoxicidade, da mobilização intensiva dos solos, deixando-os
sem resíduos de culturas à superfície, etc.. Por outras palavras, os
conhecimentos que possibilitaram o crescimento da população conduziram
também a uma pressão sobre os recursos naturais que, a não serem
corrigidos, acarretarão um futuro sombrio para a humanidade.

A conservação do solo e da água é uma preocupação que atinge a dimensão
da Terra. Com efeito, formas graves de erosão dos solos estão presentes em
todos os continentes. Estimativas apontam para a perda de aproximadamente
10 milhões de ha por ano(*) de solo com aptidão agrícola devido à erosão. Ora,
sabendo que apenas aproximadamente 20 % da superfície das terras emersas,
3000 milhões de ha, são verdadeiramente cultiváveis, e que a grande maioria
destes está sujeito a condicionalismos que limitam a sua exploração, então o
motivo para preocupação aumenta. Na Europa, calcula-se que
aproximadamente 157 milhões de ha(*) são afectados em maior ou menor grau
pela erosão, adquirindo proporções particularmente graves nos países da orla
mediterrânea.
Os quadros políticos para operar as mudanças necessária para um
desenvolvimento rural sustentável existem, e devem ser usados. Assim, e por
exemplo, Portugal é signatário da Convenção das Nações Unidas de Combate
à Desertificação desde Outubro de 1994. O significado que este facto tem é de
reconhecer que vastas regiões do país estão sujeitas a uma degradação
acelerada das terras, principalmente a sul do rio Tejo, e da necessidade da
“implementação de programas de acção, a nível local, nas áreas afectadas”.
Nos termos da convenção, o desenvolvimento sustentável das áreas afectadas
passa por “(Artigo 2º, ponto 2) – A consecução deste objectivo (o
desenvolvimento sustentável nas zonas afectadas) exigirá a aplicação, nas
zonas afectadas, de estratégias integradas de longo prazo que se centrem,
simultaneamente, no aumento de produtividade da terra e na reabilitação,
conservação e gestão sustentada dos recursos em terra e hídricos, tendo em
vista melhorar as condições de vida, particularmente ao nível das comunidades
locais.”. A mobilização de conservação é, neste contexto, parte óbvia de
qualquer estratégia integrada de longo prazo, tanto em Portugal como em
outras regiões do globo, pelos benefícios que proporciona tanto em termos da
conservação do solo como da água.



A biodiversidade e os sistemas de MC.
(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na
Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta
da APOSOLO e da ECAF.)



                                                                            18
A agricultura não deverá ter apenas como objectivo a produção de alimentos a
preços competitivos mas também cumprir um papel na preservação da
natureza. Os espaços agrícolas são habitat de diversas espécies animais que,
quando em equilíbrio, não representam um grande perigo para as culturas,
podendo estas beneficiarem até da manutenção do nível das pragas abaixo
dos níveis económicos de ataque – ver o texto de apoio do módulo
correspondente. Para o efeito dos sistemas de mobilização de conservação do
solo sobre a fauna, ver moldura:

Mais fauna - Os sistemas de mobilização convencional deixam o solo
descoberto durante longos períodos de tempo. Este habitat não é o apropriado
para muitas espécies de aves que procuram solos suficientemente cobertos
para nidificar. Ao contrário, sistemas de produção agrícola que deixam grandes
quantidades de resíduos fornecem alimentos e protecção para muitas espécies
animais em fases críticas do seu ciclo de vida. É por isto que nos solos em
sistema de mobilização de conservação prospera um grande número de
espécies animais (aves, pequenos mamíferos, répteis e outros). Vários
estudos demonstraram que campos não mobilizados apresentam densidade
maiores de aves (e ninhos) e que há uma maior diversidade de aves que
procuram estas condições para nidificar, em comparação com terrenos
mobilizados. De facto, a agricultura de conservação fornece condições mais
favoráveis para a alimentação de aves (insectos, sementes) durante um
período mais longo, o que resulta numa população maior e mais diversificada.

O solo é um meio onde vive uma grande comunidade de microorganismos,
microartrópodes, nemátodos, moluscos, etc.. Esta massa viva desempenha um
papel muito importante na decomposição e transformação dos resíduos das
culturas em matéria orgânica estável, e na formação e manutenção de uma
estrutura do solo favorável ao desenvolvimento das plantas. A manutenção do
tamanho das populações de pragas potenciais nos solos em sistemas de
mobilização de conservação, contrariando o que se conhece da biologia de
algumas espécies (é suposto algumas espécies de pragas beneficiarem, por
exemplo, da não mobilização dos solos), é explicada pela quantidade e
diversidade de organismos que alberga, e pelas relações tróficas que se
estabelecem (por exemplo, pragas controladas por outras espécies que não
estariam presentes no solo, ou estariam em baixo número, se este fosse
mobilizado).




Figura 3- O solo sob mobilização de conservação é mais rico e equilibrado.




                                                                             19
Fauna do solo - Esta é composta por numerosas espécies em quantidades
consideráveis, desde microorganismos (bactérias e fungos) que podem chegar
aos 3 mil milhões de indivíduos por grama de solo, até às minhocas em
quantidades que podem atingir 9.5 milhões por hectare. Os sistemas de
mobilização de conservação do solo permitem que se desenvolva uma
estrutura do solo estratificada, favorável à quantidade e diversidade dos
organismos do solo como, por exemplo, microorganísmos, nemátodos,
minhocas e microartrópodos (p. ex. insectos).


Contributo dos sistemas de MC para a diminuição do aquecimento global.
(CO2, maior eficiência energética, etc.).
(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na
Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta
da APOSOLO e da ECAF.)

Quando falamos em “aquecimento global” estamos geralmente a falar do
aumento da temperatura média do planeta, em resultado do aumento da
concentração na atmosfera dos chamados gases com efeito de estufa,
principalmente o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), com origem nas
actividades humanas. O CO2 é o gás com efeito de estufa mais importante, e
tem origem na queima dos combustíveis fósseis e de outras substâncias
orgânicas, no metabolismo dos seres vivos, e noutras fontes que, para o efeito
deste texto, não são relevantes.
Antes de vermos em que medida os sistemas de mobilização de conservação
podem contribuir para a diminuição do aquecimento global, convém
perspectivar o problema:
O aquecimento global é, hoje em dia, dos problemas mais graves que o
Homem enfrenta. Estudos recentes mostram que, embora a temperatura do
planeta apenas tenha subido 0,6 °C desde 1900, o aumento de temperatura
durante a década de 90 indicia um aumento durável da temperatura do planeta
a uma taxa de 2 a 3 °C por século (para P=0,05) (Centro Nacional de Dados
Climáticos de Asheville (E.U.A.)). Embora não haja uma resposta sobre a
origem do aumento da temperatura, se se trata de uma flutuação natural, ou
consequência do efeito de estufa dos gases que emitimos para a atmosfera, os
efeitos serão forçosamente graves num futuro próximo, exigindo a adopção
imediata de medidas       que contrariem esse aquecimento. Um aumento
significativo da temperatura, a concretizar-se, significará transtornos tão
grandes a nível do clima (devido ao degelo dos pólos, que já é uma realidade,
à paragem do Gulf Stream, etc.) que ainda ninguém se aventurou a traçar um
cenário que não fosse de desastre para o Homem.




Figura 4- O aumento da temperatura da Terra tem como efeito o degelo dos pólos,
com consequências devastadoras para todo o planeta.


                                                                            20
Com os sistemas de mobilização de conservação conseguimos uma diminuição
 das emissões de CO2 para a atmosfera, basicamente, de 2 formas: mantendo
 os resíduos das culturas à superfície do solo, diminuindo assim a rápida
 metabolização dos resíduos pelos microorganismos, com a respectiva
 libertação de CO2; diminuindo o consumo de combustíveis fósseis, devido à
 menor mobilização dos solos, menor número de passagens, etc. (por exemplo,
 a poupança em gasóleo, em culturas anuais com o sistema de sementeira
 directa, é calculado em mais de 30 litros por ha e por ano).


A temperatura média anual da Europa aumentou entre 0.3 e 0.6 °C desde 1990, esperando-se,
segundo modelos climáticos, a continuação deste aumento. Está bem documentado que a
queima dos combustíveis fósseis, devido às emissões de CO2, é a causa principal para o
aumento do aquecimento global. De uma forma geral, o factor chave para este problema é a
estabilização da concentração do CO2 na atmosfera.
A agricultura é responsabilizada por contribuir, ao nível mundial, em cerca de 20% para o
aumento de origem antropogénica do efeito de estufa, produzindo cerca de 50 a 75% das
emissões de metano e de óxidos nitrosos e cerca de 5% do CO2. O desflorestamento, a
queima de biomassa e outras alterações na exploração da terra provocam um aumento
adicional de 14%.
Sem dúvida, a agricultura convencional é um dos factores que mais contribuem para a
mudança do clima. A lavoura ou inversão do solo representam a causa principal para as
emissões de CO2 a partir das terras cultivadas. Foi comprovado cientificamente que a
mobilização do solo tem contribuído significativamente para o aumento do teor de CO2 na
atmosfera ocorrido durante as últimas décadas.
Historicamente, a mobilização intensiva do solo tem provocado uma perda substancial de
carbono do solo, atingindo entre 30 a 50%. Estas perdas de CO2 estão relacionadas com a
fragmentação do solo, que facilita o movimento do CO2 para fora do mesmo e, ao mesmo
tempo, a entrada de oxigénio. Operações culturais convencionais como a lavoura com charrua
de aivecas, enterram quase na totalidade os resíduos e deixam a superfície do solo rugosa e
solta; isto resulta numa perda máxima de CO2 e numa redução substancial do efeito sumidor
do solo. Da mesma forma, a intensificação da agricultura é um factor importante para a
emissão de gases que produzem o efeito estufa (CHG); estima-se que as actividades agrícolas
provocam 20% do referido efeito de estufa. Tudo isto contribui para o aquecimento global.
Ao contrário, na agricultura de conservação (sementeira directa/não mobilização) o teor de
matéria orgânica no solo aumenta em 1 tonelada ou mais por hectare e ano. Daí, estima-se
que os 17 milhões de hectares incluídos no Programa de Conservação dos EUA (áreas com
um elevado risco de erosão que foram reconvertidos em pastagens permanentes não
mobilizadas) contribuirão para uma redução em 45% das emissões de CO2 provenientes das
zonas agrícolas deste país. Consequentemente, e baseado em estudos científicos, existe
actualmente uma forte tendência a favor da adopção das técnicas de conservação a fim de
prevenir as perdas de carbono do solo e as emissões adicionais de CO2 para a atmosfera, e,
simultaneamente, aumentar o teor de carbono no solo.
Quanto menos se mobiliza o solo, tanto mais carbono o solo consegue capturar e armazenar,
elevando o teor em matéria orgânica e a produtividade do solo a longo prazo, diminuindo, ao
mesmo tempo, a quantidade de CO2 libertado para a atmosfera. Solos com altos teores em
matéria orgânica mantêm a produtividade e reduzem a poluição das águas por resistirem
melhor à erosão, por reterem uma maior quantidade de água no solo, e, através da
decomposição e imobilização de agro-químicos e outras substâncias poluentes. Há estimativas
de que a conversão total para a agricultura de conservação na Europa poderia compensar a
totalidade das emissões de carbono a partir de combustíveis fósseis por parte da agricultura
europeia, correspondendo isto a apenas 4.1% do carbono sob a forma de CO2 produzido pelo
homem na Europa e a 0.8% das emissões totais ao nível mundial.




                                                                                          21
Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

                          Texto de apoio e consulta 4.


           A POLUIÇÃO DE ORIGEM AGRÍCOLA E A SOCIEDADE


A erosão dos solos e o assoreamento das estruturas de armazenamento
de água e dos cursos de água. Custos de manutenção.
(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa:
Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da
ECAF.)

Os sedimentos provêm dos solos erodidos e são transportados nas águas de
escorrimento para fora da área na qual se deu a erosão. Os danos provocados são
diversos: danificação de estradas, canais e esgotos, depósitos de sedimentos,
obstrução de redes de drenagem, aluimento de fundações e pavimentos, diminuição
da capacidade de armazenamento de água das barragens, destruição de sistemas
ecológicos aquáticos, perigos para a saúde pública e maiores custos no tratamento
das águas. Além disso, a elevação dos leitos e a sedimentação nas margens húmidas
dos rios podem aumentar a probabilidade e a gravidade de inundações. Estima-se
que cerca de 40% dos custos da erosão devem-se ao prejuízo causado pelos
sedimentos nas infra-estruturas públicas anteriormente referidas. Desta maneira,
estima-se também que levando a cabo as técnicas de conservação, a sociedade
beneficiaria com a diminuição dos danos provocados fora dos locais de erosão em
cerca de 32 Euros/ha de superfície agrícola e ano. Os prejuízos causados pela erosão
no seu conjunto, isto é, nas zonas agrícolas afectadas e, fora destas, nas infra-
estruturas públicas referidas, foram estimados nos EUA em cerca de 85.5 Euros por
ha de superfície agrícola e ano.




Figura 1- Os sedimentos estão na origem de diversos custos para a sociedade- na
imagem, o assoreamento de uma barragem.


A mobilização de conservação reduz a erosão do solo até 90% na sementeira directa
e em mais de 60% na mobilização reduzida, em comparação com a mobilização
convencional. Desta maneira, melhora-se consideravelmente a qualidade das águas
superficiais devido à redução dos sedimentos.




                                                                                  22
O transporte de pesticidas e fertilizantes. Pesticidas e fertilizantes em
solução. A fauna aquática e a eutrofização de lagos, barragens, etc...
(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa:
Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da
ECAF.)




Figura 2- Os pesticidas em solução na água de escorrimento superficial, embora
invisíveis, constituem uma grave ameaça aos ecossistemas aquáticos e à saúde
pública.

O tratamento de águas para consumo humano. Outras utilizações da
água.
A saúde das populações depende em grande medida da qualidade da água
que consomem. A qualidade da água para consumo humano obedece a um
conjunto de normas no que concerne as suas características químicas, físicas
e bacteriológicas. Assim, e quando as fontes de água que abastecem as
populações não obedecem às normas estabelecidas, torna-se necessário, à
falta de fontes alternativas, construir e operar instalações para o tratamento
das águas que são dispendiosas e muitas vezes incapazes de tratar
determinados poluentes. Estas estações de tratamento constituem um custo
para a sociedade, que poderia ser evitado se fossem adoptadas um conjunto
de medidas eficazes na protecção das fontes de água.
A agricultura tem a sua quota parte de responsabilidade na poluição da água, a
que não pode e não deve fugir. Neste contexto, longe de acusar, os governos
da União Europeia apoiam os agricultores que adoptam medidas de protecção
dos recursos, nomeadamente através das medidas agro-ambientais, em sinal
de reconhecimento do papel positivo que os agricultores podem ter na
protecção do ambiente. A adopção de algumas medidas, como os sistemas de
mobilização de conservação do solo, contribui, significativamente, como temos
vindo a ver, na redução         da carga de poluentes de origem agrícola
transportados pelas águas que drenam os campos agrícolas, diminuindo os
custos de manutenção e operação das estações de tratamento de água.
Outras utilizações da água têm exigências de qualidade que são, com
excepção de algumas utilizações industriais e outras, menores que as
requeridas para consumo humano; falamos da água para a rega, para
determinadas lavagens, para o combate a incêndios, etc..




                                                                                  23
Os fertilizantes e pesticidas provenientes de zonas agrícolas podem chegar a
contaminar as águas superficiais, ao serem arrastados pelas águas de escorrimento
para fora das zonas agrícolas onde se aplicaram. Por vezes, os nitratos e pesticidas
transportados para as águas superficiais podem, inclusivamente, ultrapassar as
concentrações limites das águas potáveis. Concentrações relativamente elevadas de
pesticidas podem ser prejudiciais para os peixes, plantas e outros organismos
aquáticos. O azoto em forma de amónia pode ser tóxico para os peixes e os nitratos e
fosfatos intensificam o crescimento de plantas e algas, levando a uma eutrofização
acelerada de lagos e barragens.
        O restolho, ou restos vegetais da colheita anterior sobre o solo, que caracteriza
a agricultura de conservação, retêm em grande parte os fertilizantes e pesticidas na
zona agrícola onde foram aplicados, até serem utilizados pela cultura ou decompostos
noutros componentes menos prejudiciais. Assim, as técnicas de conservação não só
reduzem, consideravelmente, o escorrimento mas também proporcionam uma forte
redução de sedimentos que, por sua vez, transportam pesticidas, amónia e fosfatos
adsorvidos. Em consequência disto, a mobilização de não-inversão do solo consegue
reduzir substancialmente a perda de herbicidas na água de drenagem e, de forma
semelhante, os óxidos de azoto (>85%) e fosfatos solúveis (>65%). A este respeito,
uma comparação abrangente dos diversos métodos de mobilização, mostra que
através da sementeira directa/não mobilização se reduz o transporte de herbicidas em
70%, dos sedimentos em 93% e o escorrimento superficial em 69%, em comparação
com a mobilização convencional de inversão. Conclui-se, assim, que as técnicas de
conservação melhoram, substancialmente, a qualidade da água.
        Na agricultura de conservação usam-se diferentes métodos de aplicação de
agro-químicos e, em termos gerais, pode-se reduzir a quantidade total dos mesmos.
Assim, por exemplo, em vez de se aplicar os fertilizantes a lanço, podem-se localizar
em bandas ou sulcos, a uma certa distância da semente, ou ser injectados
directamente no solo, minimizando, desta forma, o risco de serem dispersados pela
chuva ou pelo vento para fora da zona onde se aplicaram. Da mesma maneira, o
controlo de infestantes pode não necessitar em muitas situações de uma quantidade
maior de herbicidas que na agricultura convencional. Para além disso, os herbicidas
mais apropriados para aplicação nas infestantes emergidas, têm um período de vida
curto, não são activos no solo e exibem uma ecotoxicidade extremamente baixa.
Outros métodos de maneio de infestantes, tais como a utilização de entrelinhas
menores e/ou o aumento de densidade de plantas por unidade de superfície e o
estabelecimento de culturas intercalares fazem parte das técnicas de conservação.




Figura 3- A rega é das actividades que consome mais água. No entanto, a qualidade
da água que drena os campos agrícolas não deve ter como referência a qualidade da
água para a rega mas sim a conservação dos ecossistemas dos cursos de água.


                                                                                      24
Mesmo na eventualidade da água que drena dos campos agrícolas não ter
uma utilização humana posterior, seguindo o seu curso em direcção ao mar, há
o dever de garantir que estas águas sejam isentas de poluentes, por forma a
preservar tanto os ecossistemas que se estabelecem nos cursos de água e em
seu redor, bem como os aquíferos (a água que circula nos cursos de água
também infiltra).




Figura 4- A preservação dos cursos de água é uma prioridade.




                                                                         25
Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação

                          Texto de apoio e consulta 5.


                       A POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM


Os desafios da agricultura europeia.

A Política Agrícola Comum (PAC) é o instrumento que serve de referência à
agricultura europeia, e ao seu desenvolvimento futuro. Num mundo em
permanente mudança, a PAC tem sofrido reformas por forma a acompanhar as
novas tendências com o objectivo último de preservar o sector agrícola,
tornando-o mais competitivo, tanto a nível dos países que constituem a União
Europeia (UE), como a nível internacional.
Os desafios que são postos à PAC a nível interno são: o desenvolvimento dos
mercados internos; repensar a gestão dos mecanismos de apoio. A nível
externo: o alargamento da UE a novos países; as conversações sobre as
trocas comerciais.




Figura 1- O desenvolvimento dos mercados internos da U.E., as conversações sobre
o alargamento a novos países, e a regulamentação das trocas comerciais a nível
mundial, constituem os desafios na origem da nova PAC.


As propostas da Comissão europeia. O sector dos cereais.
(Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa:
Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da
ECAF.)

Propostas para a reforma da PAC:
 • Redução dos preços de intervenção- visa beneficiar o consumidor, obrigar
   o sector agrícola da comunidade a explorar novos mercados, facilitar a
   integração dos novos candidatos à UE, e preparar as bases para a nova
   ronda de conversações sobre as trocas comerciais. Só no sector dos
   cereais, em 2001/2002 é esperado um excesso de produção em relação às
   necessidades dos países da EU superior a 26 milhões de toneladas, com a
   agravante da exportação com preços subsidiados estar limitada, o que



                                                                                  26
originará gastos enormes com a intervenção no mercado, para garantir os
  preços, e com a armazenagem.
 • Aumento das ajudas directas aos agricultores para compensar a
  diminuição de preços- visa a estabilidade do rendimento dos agricultores.
 • Pacote de medidas visando o desenvolvimento rural- este pacote permite
  que os diferentes estados membros criem um pacote de medidas que se
  adapte às necessidade específicas de cada um.

Propostas para o sector dos cereais:
 • Redução dos preços de intervenção e aumento das ajudas directas ao
   rendimento dos produtores- ao deixar que os preços internos se aproximem
   dos preços mundiais, deixa de haver necessidade de limitar a produção
   (não há limites para exportação quando a produção não é subsidiada), e
   também de constituir set-aside.
 • As ajudas directas aos produtores não serão proporcionais ao corte nos
   preços de intervenção- a Comissão acredita que os preços de mercado
   manter-se-ão acima dos preços de intervenção.
 • Existirão valores máximos para todas as ajudas directas recebidas de
   todas as Organizações do Mercado Comum. Os estados membros terão
   também as ferramentas legais para dirigir a ajuda directa àqueles que mais
   dela necessitam. No que respeita a protecção ambiental, os estados
   membros poderão associar, à sua própria descrição, pagamentos directos
   pelo respeito pelo ambiente.




Figura 2- Com a nova reforma da PAC, deixa de haver a necessidade de diminuir a
produção na EU, logo da realização do chamado set-aside.

Destas propostas, a que tem maior alcance é sem dúvida a redução do preço
de intervenção, apesar do aumento das ajudas directas ao rendimento dos
agricultores. Esta proposta traz a necessidade de uma maior competitividade
para o sector. Como temos vindo a ver, os sistemas de mobilização de
conservação do solo trazem vantagens económicas inegáveis, podendo
significar a sobrevivência do sector.


Subsídios à produção vs. ajudas ao rendimento do produtor.
A redução dos preços de intervenção, para valores próximos dos preços dos
mercados internacionais, faz com que este instrumento volte ao seu papel
original, funcionando como uma rede de segurança para os agricultores.
Assim, os preços de intervenção sofrem um corte de 20%, passando de 119,19
para 95,35 Euros/t para os cereais, oleaginosas e proteaginosas. As


                                                                            27
proteaginosas, terão direito a um prémio adicional de 6,5 Euros/t. A perda de
rendimento é compensada pelo aumento das ajudas directas ao rendimento
dos agricultores (passando de 54 para 66 Euros/t).
A compensação pelo set-aside é fixada nos 66 Euros/t.

As modulações. O financiamento das medidas agro-ambientais.
Devido às diferenças no rendimento dos agricultores, e como já vimos atrás, os
estados membros da UE terão ferramentas legais para dirigir a ajuda directa
àqueles que mais dela necessitam, i.e. o montante das ajudas directas ao
rendimento pagas serão função da área semeada, sendo as ajudas tanto
menores quanto maiores forem as áreas semeadas- são as modulações.

A inclusão de questões ambientais na reforma da PAC não é novidade. No
entanto, as novas propostas dão uma resposta mais sistemática e alargada
aos problemas ambientais. De acordo com as propostas, cabe aos estados
membros da UE, associar o pagamento das ajudas directas aos produtores ao
cumprimento de regras ambientais que estes considerem apropriados. O
financiamento destas medidas agro-ambientais, para além de um orçamento
próprio, contarão com o dinheiro poupado pelos estados membros que optarem
pela modulação do pagamento das ajudas directas, bem como aquele dinheiro
que não for despendido devido ao desrespeito das condições ambientais.
As medidas agro-ambientais que constam do Plano de Desenvolvimento Rural
2000-2006, respeitantes aos sistemas de mobilização de conservação do solo
encontram-se em anexo.



Do ponto de vista global, as diferentes modalidades da agricultura de conservação cresceram
de uma forma drástica durante os últimos 15 anos. Relativamente a culturas anuais, em 1996
foram utilizadas as técnicas de conservação em 78 milhões de hectares, com uma tendência
a aumentar. Ao nível mundial, a sementeira directa/não mobilização aumentou de 6 para 47.5
milhões de hectares nos últimos dez anos.
Os EUA têm sido o país pioneiro neste domínio e continuam a liderar a agricultura de
conservação em termos da sua adopção. Este desenvolvimento deve-se, em grande parte,
aos apoios recebidos por parte de sucessivas administrações dos EUA sob a forma da
implementação dos chamados “Farm Bills” de 1985, 1990 e 1996. Em 1997, 37% dos 120
milhões de hectares foram cultivadas utilizando as técnicas de conservação, mantendo pelo
menos 30% do solo coberto com resíduos, enquanto a agricultura convencional (com menos
de 15% de cobertura do solo) diminuiu em 36.5%. Mais de 18 milhões de hectares foram
semeados em sementeira directa/não mobilização.
Outros países pioneiros na agricultura de conservação são a Austrália, Canadá, Brasil e Argentina. É de
realçar que nestes últimos dois países, onde a agricultura não recebe subsídios governamentais, a
sementeira directa aumentou de poucos milhares de hectares em 1992 para mais de 12 e 7 milhões de
hectares, respectivamente, em 1998.
Lamentavelmente, neste momento, a agricultura de conservação está muito pouco
desenvolvida na Europa (estimativas variam entre <1% até 2%), estando muito longe dos
países atrás referidos. Actualmente, a França e a Espanha são os dois países europeus
onde se encontram mais divulgadas estas técnicas de conservação, com cerca de 1 e 0.6
milhões de hectares de culturas anuais, respectivamente, em 1998. Todavia deve-se
mencionar que a aplicabilidade das técnicas de conservação foi amplamente demonstrada na
maior parte dos ambientes agrícolas na Europa.




                                                                                                      28
Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de
                            Conservação

                        Texto de apoio e consulta 1.


                      DESENVOLVIMENTO VEGETAL


A sementeira, o contacto da semente com o solo e a germinação.
O sucesso de uma cultura é muitas vezes determinado aquando da
sementeira. Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, e
apesar dos semeadores especiais utilizados com alguns sistemas, todos os
cuidados têm de ser tomados por forma a garantir um bom contacto da
semente com o solo. Assim, torna-se necessário o conhecimento das
características do solo, a quantidade, tipo e tamanho dos resíduos de culturas
à superfície do solo, e as características e tipo de trabalho produzido pelas
alfaias e semeadores em cada solo.
O conhecimento dos solos é essencial por forma a relacionar o teor de
humidade dos solos, e outras características, com o trabalho do semeador.
Com um teor de humidade não adequado, a largura e/ou a profundidade do
sulco criado pelo semeador podem não servir para alojar convenientemente a
semente, bem como conduzir a um enterramento deficiente, o que poderá
originar um mau contacto da semente com o solo, e uma emergência irregular.
A este respeito, as dificuldades aumentam com o teor de argila do solo, pois
não só a resistência à penetração do semeador é maior em condições de solo
seco, como também a sua plasticidade em condições húmidas dificulta o fecho
do rego de sementeira, havendo o risco da semente ficar exposta. Para este
tipo de solos é necessário a utilização de semeadores mais pesados e que
tenham órgãos de abertura que apresentem um bom desempenho em
condições plásticas.




Figura 1- Emergência heterogénea de um cereal por deficiente controlo da
profundidade de sementeira.

No que concerne os resíduos das culturas à superfície do solo, os cuidados
dividem-se entre o funcionamento correcto dos semeadores e os problemas de
emergência que podem resultar do excesso de resíduos. Com os semeadores
convencionais, o problema mais comum é o arrastamento e envolvimento pelos
órgãos activos do semeador de resíduos, que causam problemas vários,
inclusive podem impedir a deposição da semente. Com os semeadores de

                                                                           29
sementeira directa, e em condições de excesso de resíduos (por exemplo,
cordões de palha da cultura anterior), os problemas mais comuns são o corte e
afastamento deficientes dos resíduos, ficando parte dos resíduos embutidos no
sulco, o que origina um contacto directo da semente com os resíduos e/ou um
mau contacto da semente com o solo. O bom funcionamento deste tipo de
agricultura exige assim que as palhas estejam uniformemente distribuídas na
superfície do terreno. Em função do tipo de semeador e do tipo de palha,
poderá haver ainda a necessidade de esta se encontrar traçada.




Figura 2- Resíduos da cultura anterior embutidos nos sulcos podem dar origem a uma
má germinação.

Por vezes, os resíduos de algumas culturas, quando em excesso, podem
originar a inibição da germinação das sementes da cultura seguinte. Este
fenómeno (efeitos alelopáticos dos resíduos) fica-se a dever à libertação,
aquando da degradação dos resíduos, de substância neles contidos e/ou de
substâncias do metabolismo dos micróbios que os degradam, que são tóxicos
para as sementes, inibindo a sua germinação. Voltaremos a este assunto
quando discutirmos as rotações.
Em relação ao trabalho do semeador, e levando em conta as características
do solo, dos resíduos à superfície, e da sementeira, ter-se-á que garantir tanto
a homogeneidade da distribuição da semente, como a profundidade e o
enterramento adequado. Assim, para realizar uma boa sementeira, a selecção
do semeador deverá ter em conta o tipo de elementos de corte e/ou
afastamento na linha dos resíduos que melhor se adapta ao sistema de
mobilização e a quantidade e forma dos resíduos deixados pelas culturas da
rotação, ao tipo de órgãos que fazem a abertura do sulco, que é em grande
medida função do tipo de solo, e ao tipo de órgãos que fazem o enterramento
das sementes. Saber regular os semeadores é fundamental.



A retenção de água e a germinação.
A mobilização dos solos conduz a uma secagem rápida da camada superficial.
Esta secagem fica-se a dever ao grande arejamento do solo, aliado ao maior
aquecimento a que ficam sujeitos por não estarem protegidos da radiação solar
pelos resíduos. Assim, e em sequeiro, quanto maior for o intervalo de tempo
que decorrer entre a mobilização do solo e a sementeira, maior será o risco



                                                                               30
das sementes não germinarem ou a cultura emergir de forma heterogénea por
o teor de água da camada superficial do solo ser insuficiente.
Com os sistemas de mobilização de conservação do solo em geral, e com os
sistemas de sementeira directa em particular, tanto a presença de resíduos das
culturas como um menor arejamento contribuem para a manutenção de um
teor de humidade mais elevado da camada superficial do solo. Salvo raras
excepções, e nas nossas condições climáticas, um menor arejamento e
temperatura da camada superficial do solo não modificam de forma notável a
germinação. O efeito do teor de humidade mais elevado da camada superficial
sobre a germinação com os sistemas de mobilização de conservação tem sido
atestado por vários agricultores e especialistas.




Figura 3- Perda de água da camada superficial após rega em sementeira directa e
mobilização tradicional.

A formação de crostas.
Em solos mobilizados, sem resíduos à superfície, o impacto das gotas de água
da chuva ou da rega leva, em alguns solos, à ruptura dos agregados da
superfície e à formação de crostas. As crostas tem um efeito negativo tanto ao
nível da infiltração de água no solo como na emergência das culturas. Quando
ocorre a formação de uma crosta bem desenvolvida, logo após a sementeira, e
esta endurece por secagem, a emergência da cultura pode ser bastante
afectada porque as plântulas podem não conseguir exercer a pressão
necessária para romper.
Existem grandes diferenças entre os solos no que respeita a susceptibilidade à
formação de crosta. Estas diferenças são devidas principalmente ao teor e tipo
de argila. Regra geral, solos com pouca ou com muita argila dão geralmente
lugar a crostas pouco desenvolvidas, as primeiras por não terem argila
suficiente para formar uma crosta coesa, as segundas pela estabilidade,
normalmente grande, dos agregados. Assim, grosso modo, são os solos com
uma textura franca a franco-arenosa os mais susceptíveis à formação de
crosta, logo aqueles que requer um cuidado maior no maneio dos resíduos.



                                                                            31
Figura 4- As crostas, para além de diminuírem a infiltrabilidade dos solos, podem
causar problemas na emergência da cultura.


Compactação da camada superficial e desenvolvimento das raízes. Os
bioporos (minhocas, raízes, etc.) e a sua destruição pela mobilização.
Com os sistemas de não mobilização dos solos, sistemas de sementeira
directa, a superfície do solo apresenta-se compacta, por vezes com uma
densidade aparente de 20%, ou mais, superior aos sistemas em que há
mobilização do solo. Esta maior densidade, ver a tabela, leva a que os
agricultores que adaptam estes sistemas temam que o crescimento das raízes
seja menor, e que a produção diminua.




Figura 5- Densidade aparente em 2 solos após vários anos de mobilização
diferenciada (SD – sementeira directa, Lav – Lavoura).




                                                                              32
De um modo geral, e nos primeiros 2 a 3 anos do uso de sistemas de
sementeira directa num determinado solo, é natural que haja um menor
crescimento das raízes com estes sistemas. No entanto, o que resta saber é se
este menor crescimento tem algum significado em termos da produção. Tanto
as experiências científicas realizadas em Portugal e no estrangeiro, como a
experiência prática dos agricultores, mostram que, à excepção de algumas
culturas de Primavera em sequeiro, a diminuição da produção não é notável
durante os primeiros anos da adopção destes sistemas.




Figura 6- Crescimento de raízes de uma cultura num solo em sementeira directa.

O facto de o solo não ser mobilizado permite que os poros criados pela fauna
do solo (minhocas, etc.), e os resultantes da decomposição das raízes das
culturas anteriores, se conservem, aumentando de ano para ano. Este
aumento da porosidade por onde as raízes possam crescer, aliado ao aumento
da fertilidade e água disponível, permitem que a produtividade dos solos com
os sistemas de sementeira directa, com o passar dos anos, seja igual ou
mesmo superior ao verificado com os sistemas de mobilização tradicional.
Assim se compreende que é contraproducente a mobilização dos solos
mantidos em sistemas de sementeira directa, seja qual for o número de anos
em que o sistema venha a ser aplicado a um solo, uma vez que a mobilização
dos solos destrói esta rede de poros.




                                                                                 33
Figura 7- Bioporosidade em 2 sistemas de mobilização do solo.


Tabela 1- Caracterização dos poros após vários anos de mobilização diferenciada (SD
– sementeira directa, Lav – Lavoura)


              Profundi-                                                        Água
                          > 50 µm    50 -10   10-0. 2           Porosidade
Mobilização     dade                                    < 2µm                utilizável
                            (%)     µm (%)    µm (%)             Total (%)
                (cm)                                                            (%)

                 10          3.2     2.22        2.7    38.37     46.52        4.92
   SD            20         0.86     3.91       5.22    36.16     46.15        9.13
                 30         1.86     2.63      11.48    29.44      45.4        14.11
                 10        15.08     2.34       4.36    29.95     51.73        6.71
   Lav           20         2.67     1.32       2.31    35.95     42.25        3.63
                 30         1.47     1.56       3.29    35.62     41.94        4.85




Culturas outonais. Culturas primaveris. A rega.
Ensaios levados a cabo em Portugal continental com culturas outonais e
primaveris permitiram estabelecer os valores da tabela abaixo. São valores
médios, obtidos em ensaios de curta a média duração, pelo que podem não
reflectir todo o potencial produtivo associados aos sistemas de mobilização de
conservação estudados.




                                                                                    34
Figura 8- Ensaio de mobilizações conduzido na Herdade da Revilheira (Direcção
Regional de Agricultura do Alentejo).


De acordo com o que temos vindo a expor, as culturas de Primavera em
sequeiro (e.g. girassol) poderão apresentar produções mais baixas com os
sistemas de mobilização de conservação devido à resistência do solo à
penetração das raízes (ver figura)- há uma maior resistência à penetração do
solo com a diminuição da humidade- principalmente nos primeiros anos após o
início da utilização destes sistemas. Ainda assim, é necessário ter em mente
que os problemas postos às culturas por uma maior resistência do solo à
penetração, em termos do crescimento das raízes, varia bastante, havendo
culturas mais susceptíveis que outras. No entanto, em termos económicos, a
diferença nas produções é, mesmo assim, largamente compensada pela
diferença de custos a favor dos sistemas de mobilização de conservação.




Figura 9- Resistência à penetração do solo sob 4 sistemas de mobilização diferentes


Quando a cultura de Primavera é regada (e.g. milho), vemos que a produção é
sensivelmente igual entre os sistemas de mobilização tradicional e de
conservação. Nestes casos, a diminuição da evaporação por causa dos
resíduos, a maior capacidade de retenção de água do solo, e um mais fácil


                                                                                  35
crescimento das raízes devido à menor resistência do solo, são os factores
determinantes. A experiência mostra, inclusive, que nas culturas de Primavera
regadas, os sistemas de mobilização de conservação podem gerar uma
importante poupança de água o que constitui por si só uma redução nos
custos (custos com a água e energia (funcionamentos das bombas)).


Tabela 2- Média das produções de vários anos e em diferentes solos – valores
expressos em % do sistema tradicional (valores de ensaios de projectos de
investigação da Universidade de Évora, coordenados pelos Professores Mário
Carvalho e/ou Gottlieb Basch).
               Mobilização de Conservação
                Sementeira Directa  Mobilização       Mobilização Tradicional
                                          Reduzida
Cevada                113                  104                  100
Trigo                  97                   99                  100
Aveia                  96                   88                  100
Forragem              109                  114                  100
Milho regado          107                   90                  100
Girassol               74                   88                  100
Grão-de-bico           79                   88                  100
Ervilha                86                   91                  100




                                                                          36
Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de
                             Conservação

                           Texto de apoio e consulta 2.


                        O CONTROLO DE INFESTANTES


Infestantes anuais/pluri-anuais.
Antes de iniciar, convém definir planta infestante. Neste texto adoptaremos a
definição do British Crop Protection Council (Comissão Britânica para a
Protecção das Culturas), que é “qualquer planta a crescer onde não é
desejada”. Assim, uma planta no campo não é forçosamente uma infestante, e
uma espécie agrícola pode ser uma infestante importante, por exemplo para a
cultura que a sucede numa rotação.
As infestantes podem influenciar a produção de uma determinada cultura tanto
do ponto de vista da qualidade como da quantidade. O seu controlo exige o
conhecimento tanto da biologia das espécies como das culturas, e a sua
relação com os aspectos agronómicos dos sistemas de produção (rotações,
sistemas de mobilização dos solos, qualidades físicas e químicas dos solos,
etc.).
Pode-se distinguir entre as chamadas infestantes anuais, bi-anuais e pluri-
anuais. As infestantes anuais, como o nome indica, germinam, crescem e
passam as várias etapas do desenvolvimento em menos de 1 ano, morrendo
após a formação e maturação das sementes. As infestantes pluri-anuais, como
o nome indica, crescem e/ou passam as várias etapas do desenvolvimento em
mais de 1 ano, podendo as sementes formadas serem férteis ou não, e
podendo ter ou não, órgãos vegetativos que permitam a sua propagação e a
sobrevivência da planta em condições adversas (por exemplo, tubérculos,
rizomas, etc.). A importância de fazer esta distinção reside no facto dos
diferentes sistemas de mobilização do solo influenciarem o tipo e a proporção
de infestantes que se encontram nos solos sujeitos aos diferentes sistemas.




Figura 1- Exemplos de infestantes anuais (papoila, à dta.) e perenes (malvas, à esq.).

Tipo de infestantes em função do sistema de Mobilização.
Há que distinguir entre os sistemas em que há mobilização do solo dos
sistemas de sementeira directa. Nos sistemas em que há mobilização dos
solos verifica-se um controlo efectivo das infestantes (anuais e pluri-anuais)
mas criando as condições óptimas de germinação das sementes das
infestantes, tanto pelo enterramento das suas sementes que se encontravam à


                                                                                    37
superfície do solo antes das mobilizações, como trazendo para a superfície
sementes que se encontravam em latência (sem condições para germinar) em
profundidade. Com os sistemas de sementeira directa, a não mobilização dos
solos tem como consequência: o não enterramento das sementes das
infestantes, o que favorece apenas as sementes das espécies infestantes
pouco exigentes em termos do enterramento da semente, e não haver um
controlo mecânico das infestantes presentes aquando da sementeira, o que
obriga a utilização de herbicidas de pré-sementeira.




Figura 2- Embora haja um controlo efectivo das infestantes, a mobilização dos solos
cria condições óptimas para a germinação de sementes das plantas infestantes.

As sementes das espécies infestantes apresentam condições óptimas de
germinação diferentes. Uma característica importante, quando tentamos
perceber o efeito dos diferentes sistemas de mobilização do solo sobre as
populações de infestantes, é a profundidade máxima a que uma semente pode
germinar e dar lugar a uma nova planta. Como vemos na figura 3, o peso das
sementes das infestantes, i.e. a quantidade de reservas que a semente
contém, determina a profundidade máxima a que uma semente pode germinar
e dar lugar a uma nova planta. A grande maioria das espécies anuais germina
a profundidades menores que 5 cm (peso da semente entre 0,1 e 5 mg).




Figura 3- Relação entre o peso da semente e a profundidade de germinação.
(Adaptado de “Weed Control Handbook”)




                                                                                38
A mobilização frequente dos solos faz com que essa camada superficial do
solo contenha sempre uma quantidade razoável de sementes prontas a
germinar: a lavoura enterra as sementes formadas recentemente,
desenterrando as sementes que foram enterradas na lavoura anterior. Com os
sistemas de sementeira directa, o controlo contínuo e eficaz das infestantes
com herbicidas reduz, de ano para ano, o número de sementes de infestantes
no solo uma vez que a renovação das sementes é menor tanto pelo menor
grau de enterramento das sementes (as sementes não enterradas ficam mais
sujeitas à morte e/ou destruição pelos organismos do solo, etc.), como pelo
facto de não haver transporte de sementes de posições mais baixas no perfil
para a camada superficial.

Tabela 1- Infestantes comuns em sementeira directa, após 3 a 5 anos de produção
com este sistema. (Adaptado de “Guía de Agricultura de Conservación en Cultivos
Anuales”, Publicação conjunta da AELC/SV e CTIC)

        Anuais (Inverno e Primavera)                       Perenes e bi-anuais
Nome científico             Nome vulgar       Nome científico             Nome vulgar
Alopecurus     myosuroides rabo-de-raposa     Cirsium arvense             cardo-das-vinhas
Hudson.
Amaranthus spp.             bredos            Convolvulus arvensis       corriola
Brassicas spp.              mostarda-negra,   Cynodon dactylon           grama
                            saramagos, etc.
Bromus spp.                 bromus            Cyperus rotundus           junça
Capsella rubella Reuter     bolsa-de-pastor   Ecbalium elaterium         Pepino-de-são-
                                                                         gregório
Chenopodium spp.           quenopódios         Malva spp.                malvas
Digitaria sanguinalis      milhã-digitada      Sorghum halepense         sorgo bravo
Kochia scoparia            Valverde
Lactuca spp.               alface       brava,
                           virosa, etc.
Panicum spp.               escalracho, milho
                           míudo, etc.
Solanum nigrum             erva moira
Stellaria media            morugem-branca
Setaria spp.               milhã amarelada,
                           milhã verde, etc.



O controlo mecânico das infestantes.
Como vimos, a não mobilização dos solos (sistemas de sementeira directa)
pode apresentar mais vantagens que os sistemas em que há mobilização dos
solos no que concerne à redução do grau de infestação por espécies de
propagação seminal. Que dizer em relação às espécies com mecanismos
vegetativos de multiplicação?
Com os sistemas em que há uma mobilização regular e mais ou menos intensa
dos solos, salvo raras excepções, são poucas as espécies de infestantes
perenes realmente problemáticas. A mobilização dos solos, embora numa
primeira fase possa conduzir à divisão dos órgão que permitem a propagação
dos indivíduos, e assim aumentar o número de infestantes, quando repetida
(no quadro de um programa de controlo de infestantes perenes) conduz
geralmente ao consumo das reservas presentes nos órgãos de propagação e à
sua morte.



                                                                                          39
Com os sistemas de não mobilização (sementeira directa), e naqueles em que
a mobilização dos solos compreende apenas parte da área (mobilização na
zona) ou a intensidade de mobilização é baixa, não há uma destruição física
dos órgãos de propagação das infestantes (separação e morte por dissecação
ou esgotamento das reservas). Assim, o controlo de infestantes perenes com
estes sistemas, e principalmente com os de não mobilização, exige a aplicação
oportuna dos herbicidas certos, o que poderá implicar mexidas nas rotações
tradicionais. Por exemplo, em parcelas onde os cereais sejam privilegiados na
rotação, é muito provável que não haja controlo das espécies infestantes cujos
órgãos de propagação vegetativa permaneçam dormentes no período
Outono/Inverno e em que os lançamentos apareçam apenas na Primavera
(e.g. Convolvulus arvensis (corriola)).

Os herbicidas: classificação dos tratamentos.
Para além dos aspectos de natureza química, efeitos sobre os diferentes
mecanismos fisiológicos das plantas, etc., os herbicidas podem ser
classificados segundo uma perspectiva funcional . Assim, distinguem-se:
  • Tratamentos herbicidas totais ou não selectivos, e selectivos. Com os
   primeiros, a intenção é matar todas as plantas presentes, enquanto que
   com os tratamentos selectivos pretende-se matar as plantas infestantes
   poupando a cultura (há uma selecção).
  • Herbicidas de contacto e sistémicos. Os herbicidas de contacto afectam
   apenas as partes das plantas que recebem o herbicida, enquanto os
   sistémicos são absorvidos e transportados no interior das plantas afectando
   outros locais da planta para além dos locais onde ocorreu a absorção.
   Aqueles herbicidas aplicados ao solo que, após aplicação mantêm efeito
   herbicida, são ainda ditos residuais ou com efeito residual.
  • Aplicações de pré-sementeira, de pré-emergência e de pós-
   emergência, em relação à cultura. Como o nome indica, estes tratamentos
   realizam-se antes da sementeira, antes da emergência da cultura e após a
   emergência da cultura.


Características da aplicação dos herbicidas em sistemas de MC. Os resíduos
das culturas e a intercepção dos herbicidas. O tamanho e distribuição dos
resíduos à superfície do solo.
Os tratamentos em pré e pós-emergência nos sistemas de mobilização de
conservação não diferem, nos aspectos formais, daqueles realizados com os
sistemas de mobilização tradicionais. No entanto, convém ter presente que
com os tratamentos herbicidas de aplicação ao solo (herbicidas residuais), uma
grande parte pode ficar retido pelos resíduos, pelo que, se não chover e/ou
regar nos dias após a aplicação, a sua eficácia diminui bastante. Nestes casos,
é preferível utilizar tratamentos em pós-emergência.




                                                                            40
Figura 4- Com os tratamentos herbicidas de aplicação ao solo, herbicidas de efeito
residual, uma proporção variável dos herbicidas aplicados pode ficar retido pelos
resíduos da cultura anterior.


Com os sistemas de mobilização reduzida e tradicional, não se fazem
normalmente tratamentos de pré-sementeira uma vez que as mobilizações
eliminam só por si a quase totalidade das infestantes presentes.
A realização de tratamentos de pré-sementeira com os sistemas de sementeira
directa e de mobilização na zona é essencial uma vez que as plantas
infestantes presentes competirão agressivamente com a cultura logo após a
sua emergência. De uma forma geral utilizam-se herbicidas não selectivos (e.g.
glifosato), sem efeito residual, permitindo assim a sementeira logo após a
aplicação, sem risco para a cultura. A utilização de herbicidas residuais, que
exijam a sua incorporação no solo devido a uma elevada volatilidade, como
herbicidas de pré-sementeira, não é geralmente possível com os sistemas de
mobilização de conservação uma vez que a maioria dessas substâncias só é
eficiente se misturado vigorosamente no solo, situação não admissível com
sistemas de mobilização de conservação. Assim, em situações em que as
infestantes ainda não tenham emergido (situações estas em que a aplicação
de um herbicida de contacto, não residual, não faz sentido), o controlo das
infestantes deve ser feito em pré e pós-emergência.




Figura 5– Após o controlo das infestantes com um herbicida total, sementeira directa
de milho sobre um manto vegetal espesso.

Os programas de controlo de infestantes. A sua flexibilidade. A importância do
reconhecimento da flora, e grau de infestação, em cada parcela.




                                                                                 41
Traços gerais, o programa de controlo de infestantes compreende um
tratamento total em pré-sementeira, ou logo após a sementeira, com um
herbicida total e/ou com um herbicida residual, com vista ao controlo das
infestantes presentes, e daquelas que emergirão entre a sementeira e a
emergência da cultura; e um tratamento de pós-emergência para o tratamento
de infestantes monocotiledónias, dicotiledóneas ou ambas (quando se utilizou
apenas um herbicida total, sem efeito residual, em pré-sementeira).
A selecção de um determinado número de herbicidas, e a sua utilização de
acordo com um calendário pré-estabelecido, sem o menor espírito crítico, para
além de poder significar um desperdício de dinheiro, pode trazer dissabores do
ponto de vista do surgimento de infestantes de difícil controlo. Assim, antes de
aplicar os herbicidas convém fazer o reconhecimento das espécies presentes,
e o grau de infestação, para melhor poder ajuizar qual o herbicida mais
indicado e em que doses deverá ser utilizado. O acompanhamento das
culturas, e da evolução da flora infestante também fornece elementos sobre a
adequação das rotações do ponto de vista do controlo das infestantes. As
infestantes cujo o período de desenvolvimento coincide com períodos em que
não se consegue um controlo adequado com herbicidas em nenhuma cultura
da rotação, podem rapidamente constituir graves problemas.




Figura 6– É importante fazer o reconhecimento da flora existente nas parcelas, e grau
de infestação, para melhor seleccionar os herbicidas, e respectivas doses.


A importância da rotação de culturas.
Um aspecto importante a ter em conta aquando do estabelecimento de uma
rotação de culturas numa parcela é o seu impacto sobre a flora infestante
dessa parcela.
Embora o período de germinação das diferentes espécies infestantes possa
ocorrer em intervalos de tempo variáveis durante o ano, geralmente é possível
associar diferentes infestantes a diferentes culturas. Assim, a rotação de
culturas deverá permitir um controlo eficaz das diferentes infestantes que se
desenvolvem em diferentes períodos do ano. Também, o facto de para as
diferentes culturas existirem diferentes herbicidas homologados, com diferentes
modos de acção, faz com que o controlo de certas infestantes seja mais fácil
numa cultura que em outra, e aumenta a pressão sobre as infestantes,
diminuindo o surgimento de fenómenos de resistência das infestantes a
determinados produtos.


                                                                                  42
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Sistemas de conservação do solo

  • 1. SISTEMAS DE MOBILIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DO SOLO Por sistemas de mobilização de conservação do solo, e no caso das culturas herbáceas, entende-se o conjunto de operações de mobilização do solo, e de maneio dos resíduos das culturas, que permitam que pelo menos 30% da superfície do solo estejam cobertos em permanência pelos resíduos das culturas, e assim protegidos do impacto directo da chuva. Figura 1- Diferença no grau de cobertura proporcionado por um sistema de mobilização reduzida (Esq.) e sementeira directa (Dta.). Da definição de sistemas de mobilização de conservação do solo, vem que o valor mínimo admissível para a taxa de cobertura do solo é de 30%. Este valor, embora aparente alguma arbitrariedade, e tenha que ser considerado com espírito crítico, é o resultado de um grande número de experiências, levadas a cabo em muitas partes do mundo, que mostram que, para taxas de cobertura do solo superiores a este mínimo, há uma grande redução da degradação do solo. A importância dos resíduos das culturas que ficam à superfície do solo após as operações de mobilização, e sementeira, reside no facto de: protegerem o solo dos processos de degradação; aumentarem a água disponível para a cultura; melhorarem a estrutura do solo; aumentarem a fertilidade do solo; contribuírem para o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas. A protecção do solo contra os processos de degradação resulta, principalmente, da intercepção das gotas de água da chuva. O impacte das gotas de água nos agregados da superfície do solo provoca a sua ruptura, produzindo partículas de solo, agregadas ou não, mais pequenas, transportáveis em suspensão no escorrimento superficial, é a erosão. Um outro efeito da ruptura dos agregados é a redução da macroporosidade, cujo exemplo extremo é o da formação de crostas, que, diminuindo a infiltração, aumentam o volume de escorrimento superficial.
  • 2. Figura 2- Para além da evidente perda de solo, há quebras na produção, tanto pelo arrastamento de plantas e sementes, como por soterramento nas áreas de deposição. O aumento da água disponível para a cultura resulta, como se viu no parágrafo acima, de uma maior infiltração de água (menor formação de crosta), de uma maior quantidade de poros capazes de reter a água que infiltra a tensões que as plantas a possam utilizar (diâmetros entre 0,2 e 50 µm), bem como de uma menor evaporação da água do solo, pela redução do fluxo de energia solar que chega à superfície do solo. A melhoria da estrutura do solo, pelos resíduos das culturas, tem origem nas substâncias a que dão origem por decomposição, genericamente chamadas de húmus. O maior ou menor teor de húmus confere propriedades distintas do ponto de vista físico, aos solos. É amplamente reconhecido o efeito destes materiais orgânicos sobre a agregação das partículas de solo. Assim, temos: • Nos solos de textura grosseira, um maior teor em matéria orgânica conduz a um maior poder de retenção da água por adsorção. À retenção da água por adsorção, devido à atracção electrostática que se forma entre as superfícies dos colóides (partículas de diâmetro inferior a 2 µm) e as moléculas de água, segue-se o “engrossar” destas camadas de água por coesão com novas moléculas de água, preenchendo os espaços intersticiais de dimensão compatível com fenómenos de capilaridade. • Nos solos de textura mais fina, um maior teor de matéria orgânica conduz a uma agregação maior, e mais estável, das partículas de solo. Como resultado de uma maior agregação, a infiltrabilidade do solo aumenta, o crescimento das raízes é mais fácil, a transitabilidade é melhorada, nomeadamente em condições de maior humidade, há um maior arejamento do solo, e aumento da actividade microbiana. Um outro efeito dos resíduos sobre a estrutura do solo, indirecto, é o de favorecer a presença e/ou o estabelecimento de diversos organismos que se alimentam dos resíduos, nomeadamente as minhocas (Lumbricus terrestris L.), que, ao construírem as suas galerias (luras) ao longo do perfil do solo, favorecem a rápida infiltração da água. Alguns investigadores relatam números de luras que atingem 150 por m². Importante também é o facto dos excrementos das minhocas serem, eles próprios, agregados estáveis. 2
  • 3. Figura 3- Aspecto do perfil de um solo, e do crescimento das raízes, em sementeira directa. O aumento da fertilidade do solo reside no facto de os resíduos serem uma fonte de nutrientes para as culturas, principalmente de azoto. Durante a decomposição dos resíduos há a libertação de nutrientes, alguns prontamente assimiláveis pelas plantas, no entanto, no cálculo das necessidades de fertilização há que levar em conta as características dos resíduos da cultura anterior, nomeadamente no que concerne a relação C/N, uma vez que pode haver a imobilização de parte do azoto mineral do solo pelos micróbios, deixando de estar disponível para a cultura. Voltaremos a este assunto quando tratarmos os aspectos da fertilização. Dos resíduos que são transformados em húmus, substâncias excepcionalmente estáveis, a libertação dos nutrientes é lenta (taxas de mineralização na ordem de 1 a 2% ano, dependendo das condições de temperatura e humidade), pelo que há uma acumulação no solo, principalmente em sistemas de mobilização reduzida e sementeira directa, libertando de ano para ano quantidades cada vez maiores de nutrientes. A matéria orgânica do solo também contribuí para o aumento da fertilidade do solo pela sua elevada capacidade de troca catiónica (C.T.C.), i.e., a capacidade de reter, por adsorção, catiões e cedê-los às plantas pelo processo de troca catiónica. Isto é tanto mais importante quanto menor o teor de argila do solo (em termos comparativos os minerais de argila do grupo da montmorilonite apresentam uma C.T.C. de 80 a 150 m.e./100 g, enquanto a C.T.C. do húmus pode ser de 100 a 300 m.e./100 g). Ainda um outro aspecto do aumento da fertilidade do solo pelos resíduos, reside no poder tampão da matéria orgânica, nomeadamente em relação a variações bruscas de pH. No que concerne o aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas, a presença de resíduos, para além de ser fonte de alimento para inúmeras espécies, oferece protecção a muitas outras. 3
  • 4. Figura 4- Ninho em resíduos de uma cultura. Relação entre o tipo de alfaia e a mobilização do solo. Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, para além da manutenção de uma cobertura do solo pelos resíduos da cultura anterior, é também objectivo, a redução da intensidade da mobilização, i.e., as alfaias utilizadas, a sua regulação, e o número de passagens, devem ser ponderadas por forma a que não haja uma pulverização excessiva dos agregados, nem uma compactação excessiva dos solos (função do peso das alfaias e tractores, e dos stresses a que os solos estão sujeitos pela passagem dos órgãos activos das alfaias). A partir da definição proposta de mobilização de conservação do solo, é óbvio que a utilização de charruas está interdita, uma vez que, ao produzirem o reviramento da camada superficial (ao formarem a leiva), o grau de cobertura da superfície do solo pelos resíduos, após a mobilização, é geralmente inferior a 2-3%. Também, em muitos solos, a lavoura com charrua de aivecas conduz ao aparecimento, à profundidade de passagem da relha, de uma zona extremamente compactada, o “calo de lavoura”, que diminui a passagem da água e impede o crescimento das raízes. A utilização de cultivadores rotativos (frezas) está interdita em sistemas de mobilização de conservação do solo. Este tipo de máquinas pulveriza muito finamente o solo, deixando-o muito susceptível aos processos de degradação, e enterra a quase totalidade dos resíduos que se encontram à superfície do solo. Figura 5- Tanto o uso da charrua como de cultivadores rotativos de eixo horizontal estão interditos em sistemas de mobilização de conservação do solo. Tradicionalmente, a grade de discos é utilizada após a lavoura, por forma a nivelar o terreno e desterroar. Outros trabalhos em que geralmente se utiliza a grade de discos são: destroçar os resíduos das culturas; enterrar sementes, 4
  • 5. adubos, etc., distribuídos a lanço; e mobilizações “ligeiras” do solo, com fins diversos, tais como o controlo de infestantes, romper crostas superficiais, etc.. A possibilidade de utilizar grades de discos em sistemas de mobilização de conservação do solo depende do objectivo que se pretende alcançar. Assim, e como instrumento de mobilização do solo, não deverá ser usado, exceptuando nos casos em que a massa de resíduos à superfície seja muito elevada, situação em que o agricultor deverá regular a grade por forma a manter um nível adequado de resíduos à superfície. Também, a sua utilização no maneio dos resíduos, trabalhando com a grade fechada, por exemplo para derrubar e destroçar caules de milho ou girassol, é uma opção a ter em conta. Figura 6- A utilização da grade de discos, em sistemas de mobilização de conservação, deve ser reservada unicamente para as situações em que a quantidade de resíduos à superfície seja muito elevada. Os escarificadores são, de um modo geral, as alfaias utilizadas em sistemas de mobilização de conservação do solo. Dentro deste grupo, existe uma grande variedade de alfaias que diferem entre si no que concerne à forma e número de braços, tipos de mola e bicos. Figura 7- Os escarificadores são as alfaias utilizadas em sistemas de mobilização reduzida e na zona. O grau de cobertura do solo pelos resíduos das culturas depende do tipo de alfaia utilizado mas também do número de passagens, da regulação, da profundidade e da velocidade de trabalho. A definição de sistemas de mobilização de conservação do solo apresentada, permite formular um número bastante grande de sistemas de mobilização do solo que podem receber o epíteto “de conservação”. Assim, e para melhor 5
  • 6. perceber os vários tipos de sistemas, distinguem-se as seguintes categorias: mobilização reduzida, mobilização na zona e sementeira directa. Por mobilização reduzida, no contexto de sistema de mobilização de conservação do solo, entende-se normalmente um sistema que, embora intervindo em toda a superfície do terreno, mantém uma quantidade apreciável dos resíduos da cultura anterior na superfície do solo. Estes sistemas baseiam- se na utilização de alfaias de mobilização vertical (escarificadores), ficando interdita a utilização da charrua e da fresa. A utilização da grade de discos só poderá ser encarada de forma muito limitada e, apenas em situações em que uma quantidade muito elevada de resíduos o exija. No entanto, o seu uso deve ficar sempre condicionado à manutenção da quantidade desejável de resíduos na superfície do terreno. Figura 8- Em sistemas de mobilização reduzida, a utilização de conjuntos de alfaias poderá resultar numa redução significativa do número de passagens (Esq.). A utilização de escarificadores é privilegiada (Dta.). O termo mobilização na zona é reservado a sistemas de mobilização do solo que intervenham apenas em parte da superfície do terreno. A área mobilizada corresponde a faixas de largura variável sendo a sementeira da cultura realizada no interior destas. Esta intervenção tanto pode ser realizada antecipadamente em relação à sementeira, como em simultâneo com esta. O recurso a estes sistemas de mobilização conduz à utilização indispensável de herbicidas de pré-sementeira, como forma de controlar infestantes nas zonas não mobilizadas. É também frequente, mas não indispensável, a utilização de semeadores especiais. Figura 9- Sementeira em sistema de mobilização na zona, com aplicação de herbicida em simultâneo (Esq.); subsolador com disco corta-palha (Dta.). 6
  • 7. Por sementeira directa entende-se o sistema em que não existe mobilização do terreno previamente ao acto de sementeira. É o próprio semeador e, apenas na linha de sementeira, que provoca a mobilização do solo mínima necessária para a introdução e o enterramento da semente. Assim, estes sistemas exigem, normalmente, não só a aplicação de herbicidas de pré-sementeira, como também a utilização de semeadores especiais, designados por semeadores de sementeira directa. Figura 10- A utilização de semeadores especialmente desenhados para trabalhar sem a mobilização prévia do solo permite a realização da chamada sementeira directa. A adopção dos sistemas de mobilização de conservação: uma aposta de médio prazo. A adopção de sistemas de mobilização de conservação do solo, em solos anteriormente lavrados, implica, normalmente, uma fase de transição de 3 a 5 anos em que as condições de estrutura e fertilidade do solo vão melhorando até atingirem o patamar de estabilidade próprio do sistema de mobilização adoptado. Do ponto de vista do escorrimento superficial e erosão, os benefícios podem ser visíveis logo a partir do ano de adopção. Em termos da produtividade potencial dos solos, esta vai aumentando de ano para ano. De um modo geral, nunca deverá realizar uma das operações interditas em sistemas de mobilização de conservação (lavoura com charrua, ou freza) após a adopção de um sistema de conservação, isto será desperdiçar todo o investimento realizado na recuperação da estrutura e fertilidade do solo (primeiros anos da adopção do sistema), remetendo-o ao estado inicial. 7
  • 8. Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação Texto de apoio e consulta 2. AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO Uma definição para agricultura de conservação pode ser conseguida por oposição aos efeitos nefastos da agricultura tradicional sobre o ambiente. Assim, entende-se por agricultura de conservação o conjunto de práticas agrícolas que, permitindo uma agricultura sustentável e competitiva, “alteram o menos possível a composição e estrutura do solo, protegendo-o da erosão e degradação, e aumentam a biodiversidade do espaço rural”. Figura 1- Colza em sementeira directa. A manutenção dos restolhos e a não mobilização do solo contribuem para uma melhor estrutura e fertilidade do solo. Os objectivos da agricultura de conservação são, num sentido lato, a conservação dos recursos naturais (solo, água, e ar) e a sustentabilidade da actividade agrícola. Estes dois objectivos, ao contrário do que por vezes se pensa, não são incompatíveis: • Do ponto de vista da conservação dos recursos naturais, a prática de sistemas de mobilização de conservação do solo (mobilização reduzida, na zona e sementeira directa), a realização de culturas de cobertura, a não queima de palhas e restolhos, entre outros, todos contribuem para a melhoria e/ou manutenção da estrutura e fertilidade do solo. A manutenção dos resíduos das culturas anteriores, e as culturas de cobertura, protegem o solo do impacto directo das gotas de água da chuva, defendendo-o assim da erosão e da formação de crostas. Contribuem também para aumentar o nível de matéria orgânica do solo, e assim a fertilidade, a estabilidade dos agregados, etc.. A diminuição da erosão tem um impacto muito grande em termos da conservação da água, ao diminuir a carga de sedimentos, nutrientes, pesticidas, metais pesados, e outros, em suspensão na água dos rios, ribeira, barragens, etc.. Outro efeito importante da manutenção dos resíduos, e da não queima das palhas e restolhos, é a diminuição da emissão de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera a partir dos terrenos agrícolas. O CO2 é, de entre os gases responsáveis pelo efeito de estufa, o mais importante. 8
  • 9. Figura 2- A queima de palhas e restolhos é uma prática totalmente desaconselhada, deixando o solo desprotegido, susceptível à erosão, e é responsável pelo aumento das emissões de CO2 para a atmosfera. • Do ponto de vista da sustentabilidade da actividade agrícola, esta pode ser considerada tanto em termos económicos como da possibilidade “material” de a realizar. Em termos económicos, a adopção de sistemas de mobilização de conservação do solo permite: diminuir os custos de investimento em maquinaria diversa (especialmente o sistema de sementeira directa); poupar em mão-de-obra (menos horas de trabalho por ha); poupar na manutenção dos equipamentos; menor potência de tracção; a poupança de combustível; um período mais largo para a realização das sementeiras; etc.. Os custos acrescidos com alguns sistemas (e.g. semeadores de sementeira directa, ou ainda a aplicação de herbicidas de pré-sementeira) são, salvo raras excepções, mais que compensados pelas poupanças já referidas, resultando num saldo largamente positivo. Se tomarmos em linha de conta que, em muitos solos e para muitas culturas, a produção praticamente não se ressente com a transição de um sistema de mobilização tradicional para um de conservação (e.g. milho, ou ainda o trigo), o interesse económico é ainda maior. Em termos “materiais”, i.e. a possibilidade física de poder continuar a produzir num determinado solo, só poderá ser possível, num futuro não muito distante, se adoptarmos desde já as práticas da agricultura de conservação. A erosão dos solo conduz não só a uma perda directa da produção, observável pelos próprios agricultores, na forma de manchas sem vegetação originadas tanto pela erosão como pela deposição de sedimentos, como a uma perda acumulada de solo, ano após ano, que conduz a solos esqueléticos e de fertilidade quase nula. Para aqueles que vêm no regadio, e na aplicação de doses maciças de nutrientes, uma forma de restaurar o potencial produtivo dos solos, sem atenderem aos aspectos de conservação do solo e da água associados aos diferentes sistemas de mobilização de conservação, mais não fazem que antecipar ainda mais a destruição do potencial produtivo dos solos. Uma vez um solo completamente erodido, a sua recuperação poderá levar séculos. 9
  • 10. Figura 3- A erosão é responsável pela diminuição da produção dos solos agrícolas, tanto pelo arrastamento de plantas e sementes, e por soterramento nas áreas de deposição, como pela perda de solo, substrato de crescimento das plantas. Diferença no maneio dos resíduos das culturas. Salvo raras excepções, os resíduos das culturas sempre foram enterrados, não tanto devido a uma necessidade identificada para o fazer mas como o resultado das práticas utilizadas para atingir outros fins, como o controlo das infestantes, facilitar as operações de sementeira, etc.. Com o advento da mecanização da agricultura, e principalmente a rápida vulgarização do tractor e da charrua, cedo o homem se apercebeu da importância de manter o solo resguardado dos agentes da erosão (a água e o vento), pela manutenção de um coberto. No entanto, a impossibilidade técnica de conciliar o controlo de infestantes, e a sementeira da cultura, com a manutenção de um coberto de resíduos, devido à inexistência de semeadores robustos e de herbicidas apropriados, adiou a resolução do problema da cobertura do solo até ao início dos anos 70, altura em que apareceram no mercado os herbicidas paraquato e glifosato. Com a mobilização tradicional, os resíduos das culturas são enterrados aquando da realização das operações de mobilização que provocam o reviramento da camada superficial do solo, normalmente com charruas ou ainda com grades de discos. A razão porque essas operações eram efectuadas são: o controle de infestantes; permitir o trabalho das alfaias e semeadores convencionais, sem o seu empapamento pelos resíduos das culturas; o enterramento de fertilizantes, restolhos, etc.; a criação de uma melhor estrutura do solo para o desenvolvimento das culturas, que é apenas aparente e temporário, desaparecendo rapidamente; entre outros. As razões porque ainda se praticam o enterramento dos resíduos da cultura anterior são: o desconhecimento da existência de meios alternativos para alcançar os mesmos objectivos, a relutância em abandonar sistemas que, bem ou mal, vão funcionando; a falta de conhecimentos técnicos, etc.. A instalação de culturas de cobertura. Uma das práticas de agricultura de conservação é a realização de culturas de cobertura. Estas realizam-se no período Outono/Inverno, sempre que o solo vá passar este período sem nenhuma cultura. Com o fim do Inverno, a cultura é controlada com um herbicida (não residual, e de baixa toxicidade). A razão de ser das culturas de cobertura reside no facto de no período Outono/Inverno concentrarem-se as chuvas, sendo o perigo da erosão bastante grande. Convém, no entanto, não esquecer que esta prática não substitui os resíduos da cultura anterior. Assim, não é de todo recomendado o 10
  • 11. pastoreio intensivo dos restolhos, por exemplo de um cereal de Inverno, durante o Verão, na expectativa que a cultura de cobertura proporcione a protecção do solo desejado no período Outono/Inverno. Outros efeitos das culturas de cobertura são: o aumento do teor de matéria orgânica do solo; um melhor controlo das infestantes; retenção pela cultura de nutrientes mineralizados, que de outra forma seriam lavados (nitrato); trazer para a superfície nutrientes de camadas mais baixas; manter e/ou melhorar a estrutura do solo; etc.. As culturas de cobertura podem ser constituídas por vegetação espontânea ou serem semeadas. Quando naturais, poder-se-á utilizar, após a emergência, herbicidas selectivos por forma a manter apenas as infestantes de folha estreita, muito mais fáceis de controlar no final do Inverno. Quando semeadas, as culturas como a aveia e a cevada prestam-se particularmente bem para esse papel. Com a agricultura tradicional não há nenhuma prática equivalente. Por vezes recorre-se à realização de culturas, principalmente tremocilha, para posterior sideração. Embora isto mostre uma preocupação com a manutenção da fertilidade do solo, não ataca o problema uma vez que: quando a tremocilha é enterrada apresenta um valor C/N bastante baixo (aproximadamente 13), pelo que é rapidamente mineralizada, acrescendo o facto de, sendo enterrada, aumentar ainda mais a taxa de mineralização e não contribuir para a protecção da superfície do solo contra a erosão. Figura 4- Cultura de cobertura (aveia) após o corte. Mobilização dos solos e formação de crosta. Suas implicações. A mobilização dos solos, principalmente com os sistemas tradicionais que enterram os resíduos das culturas na totalidade, dá muitas vezes origem ao aparecimento, após as primeiras chuvas, de crostas. As crostas são muito finas (da ordem de 1-2 mm), extremamente compactadas, e com valores de condutividade hidráulica extremamente baixos quando comparados com os valores do solo sem crosta. 11
  • 12. A formação de crosta depende da textura e teor de matéria orgânica do solo. De um modo geral, pode-se dizer que os solos francos e franco-arenosos são os mais susceptíveis, e que a tendência a formar crosta diminui com o aumento do teor de argila e matéria orgânica. A formação da crosta é devida a dois mecanismos complementares: (i) a desintegração física dos agregados e a sua compactação pelo impacto das gotas de água; (ii) a dispersão química e o movimento de partículas de argila para a camada de 0,1 a 0,5 mm de profundidade. Assim, é obvio que qualquer sistema que promova a cobertura da superfície do solo com resíduos diminui, em maior ou menor extensão, a formação de crosta, uma vez que a superfície está protegida do impacto directo das gotas de água da chuva. Se, com a sementeira directa, e a partir da definição, o solo está relativamente bem protegido, não é possível eleger, a priori, entre os sistemas de mobilização reduzida e na zona, qual oferece uma melhor protecção ao solo, em virtude das grandes diferenças que pode existir dentro de cada sistema, sendo, no entanto, em grande medida, função do grau de cobertura do solo. No entanto, e para as mesmas condições de solo e cultura, a mobilização na zona oferece mais protecção que a reduzida. Figura 5- A formação de crostas tem implicações fundamentalmente ao nível da infiltração de água, e da emergência das culturas quando secam. A estrutura do solo e a retenção de água. Factores a contribuir para uma maior infiltração e retenção. Embora os sistemas de mobilização tradicional resultem em camadas superficiais relativamente soltas e com grande porosidade, este efeito é pouco duradouro, diminuindo ao longo do ciclo da cultura, havendo casos em que, passado algum tempo sobre a realização das operações de mobilização, a porosidade é menor que a inicial. O facto de após as operações de mobilização, na camada mobilizada, a porosidade ser normalmente superior ao verificado com o sistema de sementeira directa (em relação aos sistemas de mobilização reduzida e na zona depende de muitos factores), isto não significa que o volume de água infiltrado com os sistemas de mobilização tradicional seja superior. Como vimos no ponto anterior, a formação de crosta pode levar a uma redução importante da infiltração, e são numerosos os estudos realizados, inclusive em Portugal, que mostram que embora possa haver um maior volume infiltrado logo na 1ª chuvada após as mobilizações, nas 12
  • 13. seguintes, os sistemas de sementeira directa e reduzida normalmente apresentam um maior volume infiltrado. Convém aqui referir que, do ponto de vista físico, sempre que há ruptura de um agregado, há diminuição da microporosidade, embora possa aumentar a macroporosidade. Outro factor importante a ter em conta com os sistemas de mobilização tradicional é o aparecimento, na base do perfil mobilizado, de uma camada extremamente compactada, o calo de lavoura, que para além de dificultar, ou mesmo impedir, o crescimento das raízes, é muito pouco permeável à água. O principal efeito do calo de lavoura é provocar o encharcamento da camada superficial, o que equivale a problemas de arejamento e à asfixia das raízes, o que pode ter reflexos graves sobre a produção. Este problema não se põe com os sistemas de mobilização de conservação do solo. Os sistemas de mobilização de conservação do solo, e em especial a sementeira directa, conduzem, geralmente, ao aparecimento de uma camada superficial com agregados mais estáveis, e nos solos de textura fina e média, favorece o desenvolvimento de uma rede estável de macroporos que promove uma maior continuidade entre as matrizes da superfície e do sub-solo. Esta rede de macroporos, que tem origem na actividade da macrofauna (minhocas, etc.), na decomposição das raízes das plantas, e nas fendas que surgem com a secagem do solo, é desfeita na camada atingida pela mobilização. A importância desta rede de macroporos é que consegue transmitir uma quantidade de água considerável através do perfil. Figura 6- Com os sistemas em que não há mobilização do solo, os poros criados pelo crescimento das raízes da cultura anterior não são destruídos, permitindo um aumento da infiltração. Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, os resíduos das culturas diminuem o fluxo de radiação solar que incide sobre o solo, diminuindo a temperatura do solo, e assim, a evaporação. Apenas a título comparativo, o albedo, ou coeficiente de reflexão (radiação recebida/ radiação reflectida × 100), é de 7 a 10 % com os solos cultivados escuros (sem resíduos), podendo atingir os 30 %, ou mais, em solos cobertos com restolhos e palhas. Resta acrescentar que a condutividade térmica dos resíduos é baixa, pelo que a energia disponível para o aquecimento do solo é ainda menor que a simples diferença entre a energia recebida e a reflectida. Em termos da retenção da água, para posterior utilização pelas plantas, esta ocorre nos espaços intersticiais de reduzida dimensão, os mesoporos (entre 0,2 e 50 µm). Como já vimos no 1º texto de apoio, o maior teor de matéria orgânica com os sistemas de mobilização de conservação do solo conduz, nos 13
  • 14. solos de textura grosseira, a um maior poder de retenção da água por adsorção, devido à atracção electrostática que se forma entre as superfícies dos colóides (partículas de diâmetro inferior a 2 µm) e as moléculas de água, seguindo-se o “engrossar” destas camadas de água por coesão com novas moléculas de água, preenchendo os espaços intersticiais de dimensão compatível com fenómenos de capilaridade. Nos solos de textura mais fina, um maior teor de matéria orgânica conduz a uma agregação maior, e mais estável, das partículas de solo. Como resultado de uma maior agregação, a infiltrabilidade do solo aumenta, o crescimento das raízes é mais fácil, a transitabilidade é melhorada, nomeadamente em condições de maior humidade, há um maior arejamento do solo, e aumento da actividade microbiana. Os sistemas de mobilização de conservação do solo, e especialmente a sementeira directa, conduzem a uma mudança na proporção relativa de cada classe de tamanho de poros, com aumento da mesoporosidade (ver gráfico). Tabela 1- Distribuição da porosidade. Profundi- Água > 50 µm 50 -10 10-0. 2 Porosidade Mobilização dade < 2µm utilizável (%) µm (%) µm (%) Total (%) (cm) (%) 10 3.2 2.22 2.7 38.37 46.52 4.92 SD 20 0.86 3.91 5.22 36.16 46.15 9.13 30 1.86 2.63 11.48 29.44 45.4 14.11 10 15.08 2.34 4.36 29.95 51.73 6.71 Lav 20 2.67 1.32 2.31 35.95 42.25 3.63 30 1.47 1.56 3.29 35.62 41.94 4.85 O controlo de infestantes: mobilização vs. monda química. Custos, cumprimento de objectivos. A necessidade do saber técnico. Com os sistemas de mobilização tradicional, o controlo das infestantes presentes nas parcelas antes da sementeira, é realizado mecanicamente com a preparação da “cama” para a sementeira. Com os sistemas de mobilização de conservação, e à excepção dos sistemas de mobilização reduzida, este controlo é realizado com herbicidas de pré-sementeira. No que respeita o controlo das infestantes após a sementeira, não há diferenças formais entre os sistemas de mobilização tradicional e de conservação. Se o objectivo das mobilizações for apenas o controlo de infestantes, não são precisos grandes cálculos para verificarmos que o controlo com herbicidas é uma opção muito mais barata. Em termos do cumprimento dos objectivos, o controlo eficaz das infestantes, ambos os sistemas são eficazes se forem cumpridas todos os requisitos próprios de cada um. Em termos dos conhecimentos técnicos, seria desonesto afirmar que ambos os sistemas requerem o mesmo nível de conhecimentos. Para o controlo das infestantes com herbicidas de pré-sementeira torna-se necessário que o agricultor, ou o seu consultor, conheça os herbicidas, e as características da 14
  • 15. aplicação dos herbicidas em sistemas de mobilização de conservação, saiba o que é um programa de controle de infestantes, e a flexibilidade que deve ter, que faça o reconhecimento da flora, e do grau de infestação em cada parcela, que promova uma rotação de culturas conveniente, que proceda a um maneio conveniente do resíduo das culturas, etc.. Voltaremos a este assunto no módulo “A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação”, onde faremos uma análise exaustiva. Figura 8- A mobilização dos solos para o controlo de infestantes pode ser substituída pela aplicação de herbicidas apropriados. Os sistemas de mobilização e as pragas. A necessidade do saber técnico. Há quem aponte as culturas realizadas com sistemas de mobilização de conservação como estando particularmente expostas às pragas, e assim, levarem a um consumo maior de pesticidas, devido à menor ou não mobilização dos solos, e aos resíduos das culturas. No entanto, muitos estudos mostram que em várias regiões do mundo, onde houve uma extensa conversão dos sistemas tradicionais para formas de agricultura de conservação, o consumo de pesticidas não sofreu um acréscimo significativo. Para estes resultados, por certo não foi alheio o esforço por parte dos agricultores e seus consultores em conhecer as pragas a que estão sujeitas as diferentes culturas, a sua maior ou menor presença em resultado dos diferentes sistemas de mobilização, e a uma utilização mais racional dos pesticidas quando adoptaram os sistemas de mobilização de conservação face à utilização que faziam anteriormente. Para um controlo eficaz e correcto das pragas, torna-se necessário conhecer quais as pragas a que as culturas estão sujeitas, qual a relação entre a biologia da praga e as condições criadas pelos diferentes sistemas de mobilização, no que concerne às condições de sobrevivência da praga, os pesticidas que as controlam e modos de aplicação, os cuidados a ter quando em sistemas de mobilização de conservação, quais os níveis económicos de ataque, isto é, a partir de que número de organismos presentes os prejuízos são superiores ao custo de aplicação de um determinado pesticida, etc.. 15
  • 16. Figura 9- O conhecimento da biologia das pragas é essencial para desenvolver uma estratégia de protecção eficaz das culturas. Voltaremos a este assunto no módulo “A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação”, onde faremos uma análise exaustiva. Sofismas. Muitos agricultores que adoptam os sistemas de mobilização de conservação, entusiasmam-se com os excelentes resultados, nomeadamente no que concerne a redução de custos, que podem ter desde o início mas mantêm um certo receio sobre a evolução da produtividade dos solos. Este receio é fundamentado não em razões objectivas mas na incerteza e desconhecimento de quais as necessidades em termos de solos para obter boas produções, de forma continuada e sustentada, e de qual a evolução do solo, do ponto de vista da estrutura, da fertilidade, das pragas, das infestantes, etc., com os sistemas de mobilização de conservação. Como veremos nos outros módulos, grande parte destes receios não tem fundamento, e que é com o tempo que os benefícios que advêm desses sistemas, a todos os níveis, mais se fazem sentir. Os argumentos utilizados pelos detractores dos sistemas de mobilização de conservação são: • Trabalho medíocre dos semeadores, com um mau contacto da semente com o solo, tendo como resultado más emergências. • As culturas terem problemas com o crescimento das raízes, por causa da maior densidade do solo não mobilizado. • Um controlo deficiente das infestantes. • Uma maior incidência de pragas, com o argumento que a mobilização dos solos ajuda a destruir as pragas, e que os resíduos são alojamento das formas de hibernação, ovos e larvas das pragas. • Menos água disponível para as plantas, com o argumento que a mobilização do solo cria uma descontinuidade com a matriz sub-superficial, o que diminui a evaporação, e que promove também uma maior infiltração. • Etc.. Embora alguns desses argumentos possam ter uma aparente validade como hipótese, outros são falsos, mas o que é um facto é que tanto os agricultores que adoptaram sistemas de mobilização de conservação, como os investigadores que têm os sistemas de mobilização do solo como objecto de estudo, ou não sentiram estes problemas, ou quando os sentiram, verificaram que a sua resolução não acarretava mais meios que com os sistemas de mobilização tradicional, não comprometendo o sucesso das culturas. 16
  • 17. Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação Texto de apoio e consulta 3. DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL Conceito de desenvolvimento rural sustentável. Não há uma definição para desenvolvimento rural sustentável que seja universalmente aceite. Uma definição para desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para fazer face às suas necessidades”, proposto pela World Commission on Environment and Development (Comissão Mundial para o Desenvolvimento e o Ambiente). No entanto, há que manter o espírito crítico em relação à adopção de modelos de desenvolvimento, e não esquecer que aquilo que é sustentável para um país, região ou sociedade, pode não ser para outro. Quando falamos em desenvolvimento rural sustentável, os sistemas de mobilização de conservação do solo já surgem, não como os sistemas do futuro, mas como os sistemas que urge implementar, devido às vantagens inequívocas em termos ambientais e económicos. No entanto, do ponto de vista social, as menores necessidades de mão-de-obra que resultam destes sistemas de mobilização lançam o espectro de uma ainda maior diminuição do emprego na agricultura. Isto levanta a questão da existência de uma verdadeira política de desenvolvimento rural sustentável, que antecipe e dê respostas atempadas aos problemas. “O desenvolvimento sustentável tem uma natureza tri-partida: a ambiental, a económica e a social. O desafio em que consiste o desenvolvimento rural sustentável é conciliar estes 3 componentes, com cedências de parte-a-parte, por forma a manter um equilíbrio dinâmico entre eles. São poucas as situações em que todos lucram com o desenvolvimento, invariavelmente, alguém ou alguns grupos ficam em desvantagem com a mudança de políticas, e resistem à mudança.” (Este parágrafo é uma adaptação livre, de um texto da FAO, Use of Indicators in Sustainable Agriculture and Rural Development, de Jeff Tschirley). A conservação do solo e da água. A população em crescimento e a garantia alimentar. (Os números apresentados neste texto seguidos de (*), foram colhidos na publicação “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", uma edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.) Recentemente, a FAO anunciou que a Terra contava aproximadamente 6 mil milhões de pessoas. A evolução da população nas ultimas décadas (ver 17
  • 18. gráfico), só foi possível devido aos avanços registados no âmbito do melhoramento de plantas e animais, da mecanização, da expansão do regadio e na melhoria das técnicas de rega, e na utilização de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos, que permitiram um aumento substancial da produtividade dos solos agrícolas (ver gráficos de produções). No entanto, cedo começaram a aparecer os sinais de degradação dos solos e da qualidade das águas, e da não sustentabilidade a longo prazo de certas práticas como a utilização excessiva de fertilizantes, de produtos fitofarmacêuticos de elevada persistência e ecotoxicidade, da mobilização intensiva dos solos, deixando-os sem resíduos de culturas à superfície, etc.. Por outras palavras, os conhecimentos que possibilitaram o crescimento da população conduziram também a uma pressão sobre os recursos naturais que, a não serem corrigidos, acarretarão um futuro sombrio para a humanidade. A conservação do solo e da água é uma preocupação que atinge a dimensão da Terra. Com efeito, formas graves de erosão dos solos estão presentes em todos os continentes. Estimativas apontam para a perda de aproximadamente 10 milhões de ha por ano(*) de solo com aptidão agrícola devido à erosão. Ora, sabendo que apenas aproximadamente 20 % da superfície das terras emersas, 3000 milhões de ha, são verdadeiramente cultiváveis, e que a grande maioria destes está sujeito a condicionalismos que limitam a sua exploração, então o motivo para preocupação aumenta. Na Europa, calcula-se que aproximadamente 157 milhões de ha(*) são afectados em maior ou menor grau pela erosão, adquirindo proporções particularmente graves nos países da orla mediterrânea. Os quadros políticos para operar as mudanças necessária para um desenvolvimento rural sustentável existem, e devem ser usados. Assim, e por exemplo, Portugal é signatário da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação desde Outubro de 1994. O significado que este facto tem é de reconhecer que vastas regiões do país estão sujeitas a uma degradação acelerada das terras, principalmente a sul do rio Tejo, e da necessidade da “implementação de programas de acção, a nível local, nas áreas afectadas”. Nos termos da convenção, o desenvolvimento sustentável das áreas afectadas passa por “(Artigo 2º, ponto 2) – A consecução deste objectivo (o desenvolvimento sustentável nas zonas afectadas) exigirá a aplicação, nas zonas afectadas, de estratégias integradas de longo prazo que se centrem, simultaneamente, no aumento de produtividade da terra e na reabilitação, conservação e gestão sustentada dos recursos em terra e hídricos, tendo em vista melhorar as condições de vida, particularmente ao nível das comunidades locais.”. A mobilização de conservação é, neste contexto, parte óbvia de qualquer estratégia integrada de longo prazo, tanto em Portugal como em outras regiões do globo, pelos benefícios que proporciona tanto em termos da conservação do solo como da água. A biodiversidade e os sistemas de MC. (Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.) 18
  • 19. A agricultura não deverá ter apenas como objectivo a produção de alimentos a preços competitivos mas também cumprir um papel na preservação da natureza. Os espaços agrícolas são habitat de diversas espécies animais que, quando em equilíbrio, não representam um grande perigo para as culturas, podendo estas beneficiarem até da manutenção do nível das pragas abaixo dos níveis económicos de ataque – ver o texto de apoio do módulo correspondente. Para o efeito dos sistemas de mobilização de conservação do solo sobre a fauna, ver moldura: Mais fauna - Os sistemas de mobilização convencional deixam o solo descoberto durante longos períodos de tempo. Este habitat não é o apropriado para muitas espécies de aves que procuram solos suficientemente cobertos para nidificar. Ao contrário, sistemas de produção agrícola que deixam grandes quantidades de resíduos fornecem alimentos e protecção para muitas espécies animais em fases críticas do seu ciclo de vida. É por isto que nos solos em sistema de mobilização de conservação prospera um grande número de espécies animais (aves, pequenos mamíferos, répteis e outros). Vários estudos demonstraram que campos não mobilizados apresentam densidade maiores de aves (e ninhos) e que há uma maior diversidade de aves que procuram estas condições para nidificar, em comparação com terrenos mobilizados. De facto, a agricultura de conservação fornece condições mais favoráveis para a alimentação de aves (insectos, sementes) durante um período mais longo, o que resulta numa população maior e mais diversificada. O solo é um meio onde vive uma grande comunidade de microorganismos, microartrópodes, nemátodos, moluscos, etc.. Esta massa viva desempenha um papel muito importante na decomposição e transformação dos resíduos das culturas em matéria orgânica estável, e na formação e manutenção de uma estrutura do solo favorável ao desenvolvimento das plantas. A manutenção do tamanho das populações de pragas potenciais nos solos em sistemas de mobilização de conservação, contrariando o que se conhece da biologia de algumas espécies (é suposto algumas espécies de pragas beneficiarem, por exemplo, da não mobilização dos solos), é explicada pela quantidade e diversidade de organismos que alberga, e pelas relações tróficas que se estabelecem (por exemplo, pragas controladas por outras espécies que não estariam presentes no solo, ou estariam em baixo número, se este fosse mobilizado). Figura 3- O solo sob mobilização de conservação é mais rico e equilibrado. 19
  • 20. Fauna do solo - Esta é composta por numerosas espécies em quantidades consideráveis, desde microorganismos (bactérias e fungos) que podem chegar aos 3 mil milhões de indivíduos por grama de solo, até às minhocas em quantidades que podem atingir 9.5 milhões por hectare. Os sistemas de mobilização de conservação do solo permitem que se desenvolva uma estrutura do solo estratificada, favorável à quantidade e diversidade dos organismos do solo como, por exemplo, microorganísmos, nemátodos, minhocas e microartrópodos (p. ex. insectos). Contributo dos sistemas de MC para a diminuição do aquecimento global. (CO2, maior eficiência energética, etc.). (Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.) Quando falamos em “aquecimento global” estamos geralmente a falar do aumento da temperatura média do planeta, em resultado do aumento da concentração na atmosfera dos chamados gases com efeito de estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), com origem nas actividades humanas. O CO2 é o gás com efeito de estufa mais importante, e tem origem na queima dos combustíveis fósseis e de outras substâncias orgânicas, no metabolismo dos seres vivos, e noutras fontes que, para o efeito deste texto, não são relevantes. Antes de vermos em que medida os sistemas de mobilização de conservação podem contribuir para a diminuição do aquecimento global, convém perspectivar o problema: O aquecimento global é, hoje em dia, dos problemas mais graves que o Homem enfrenta. Estudos recentes mostram que, embora a temperatura do planeta apenas tenha subido 0,6 °C desde 1900, o aumento de temperatura durante a década de 90 indicia um aumento durável da temperatura do planeta a uma taxa de 2 a 3 °C por século (para P=0,05) (Centro Nacional de Dados Climáticos de Asheville (E.U.A.)). Embora não haja uma resposta sobre a origem do aumento da temperatura, se se trata de uma flutuação natural, ou consequência do efeito de estufa dos gases que emitimos para a atmosfera, os efeitos serão forçosamente graves num futuro próximo, exigindo a adopção imediata de medidas que contrariem esse aquecimento. Um aumento significativo da temperatura, a concretizar-se, significará transtornos tão grandes a nível do clima (devido ao degelo dos pólos, que já é uma realidade, à paragem do Gulf Stream, etc.) que ainda ninguém se aventurou a traçar um cenário que não fosse de desastre para o Homem. Figura 4- O aumento da temperatura da Terra tem como efeito o degelo dos pólos, com consequências devastadoras para todo o planeta. 20
  • 21. Com os sistemas de mobilização de conservação conseguimos uma diminuição das emissões de CO2 para a atmosfera, basicamente, de 2 formas: mantendo os resíduos das culturas à superfície do solo, diminuindo assim a rápida metabolização dos resíduos pelos microorganismos, com a respectiva libertação de CO2; diminuindo o consumo de combustíveis fósseis, devido à menor mobilização dos solos, menor número de passagens, etc. (por exemplo, a poupança em gasóleo, em culturas anuais com o sistema de sementeira directa, é calculado em mais de 30 litros por ha e por ano). A temperatura média anual da Europa aumentou entre 0.3 e 0.6 °C desde 1990, esperando-se, segundo modelos climáticos, a continuação deste aumento. Está bem documentado que a queima dos combustíveis fósseis, devido às emissões de CO2, é a causa principal para o aumento do aquecimento global. De uma forma geral, o factor chave para este problema é a estabilização da concentração do CO2 na atmosfera. A agricultura é responsabilizada por contribuir, ao nível mundial, em cerca de 20% para o aumento de origem antropogénica do efeito de estufa, produzindo cerca de 50 a 75% das emissões de metano e de óxidos nitrosos e cerca de 5% do CO2. O desflorestamento, a queima de biomassa e outras alterações na exploração da terra provocam um aumento adicional de 14%. Sem dúvida, a agricultura convencional é um dos factores que mais contribuem para a mudança do clima. A lavoura ou inversão do solo representam a causa principal para as emissões de CO2 a partir das terras cultivadas. Foi comprovado cientificamente que a mobilização do solo tem contribuído significativamente para o aumento do teor de CO2 na atmosfera ocorrido durante as últimas décadas. Historicamente, a mobilização intensiva do solo tem provocado uma perda substancial de carbono do solo, atingindo entre 30 a 50%. Estas perdas de CO2 estão relacionadas com a fragmentação do solo, que facilita o movimento do CO2 para fora do mesmo e, ao mesmo tempo, a entrada de oxigénio. Operações culturais convencionais como a lavoura com charrua de aivecas, enterram quase na totalidade os resíduos e deixam a superfície do solo rugosa e solta; isto resulta numa perda máxima de CO2 e numa redução substancial do efeito sumidor do solo. Da mesma forma, a intensificação da agricultura é um factor importante para a emissão de gases que produzem o efeito estufa (CHG); estima-se que as actividades agrícolas provocam 20% do referido efeito de estufa. Tudo isto contribui para o aquecimento global. Ao contrário, na agricultura de conservação (sementeira directa/não mobilização) o teor de matéria orgânica no solo aumenta em 1 tonelada ou mais por hectare e ano. Daí, estima-se que os 17 milhões de hectares incluídos no Programa de Conservação dos EUA (áreas com um elevado risco de erosão que foram reconvertidos em pastagens permanentes não mobilizadas) contribuirão para uma redução em 45% das emissões de CO2 provenientes das zonas agrícolas deste país. Consequentemente, e baseado em estudos científicos, existe actualmente uma forte tendência a favor da adopção das técnicas de conservação a fim de prevenir as perdas de carbono do solo e as emissões adicionais de CO2 para a atmosfera, e, simultaneamente, aumentar o teor de carbono no solo. Quanto menos se mobiliza o solo, tanto mais carbono o solo consegue capturar e armazenar, elevando o teor em matéria orgânica e a produtividade do solo a longo prazo, diminuindo, ao mesmo tempo, a quantidade de CO2 libertado para a atmosfera. Solos com altos teores em matéria orgânica mantêm a produtividade e reduzem a poluição das águas por resistirem melhor à erosão, por reterem uma maior quantidade de água no solo, e, através da decomposição e imobilização de agro-químicos e outras substâncias poluentes. Há estimativas de que a conversão total para a agricultura de conservação na Europa poderia compensar a totalidade das emissões de carbono a partir de combustíveis fósseis por parte da agricultura europeia, correspondendo isto a apenas 4.1% do carbono sob a forma de CO2 produzido pelo homem na Europa e a 0.8% das emissões totais ao nível mundial. 21
  • 22. Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação Texto de apoio e consulta 4. A POLUIÇÃO DE ORIGEM AGRÍCOLA E A SOCIEDADE A erosão dos solos e o assoreamento das estruturas de armazenamento de água e dos cursos de água. Custos de manutenção. (Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.) Os sedimentos provêm dos solos erodidos e são transportados nas águas de escorrimento para fora da área na qual se deu a erosão. Os danos provocados são diversos: danificação de estradas, canais e esgotos, depósitos de sedimentos, obstrução de redes de drenagem, aluimento de fundações e pavimentos, diminuição da capacidade de armazenamento de água das barragens, destruição de sistemas ecológicos aquáticos, perigos para a saúde pública e maiores custos no tratamento das águas. Além disso, a elevação dos leitos e a sedimentação nas margens húmidas dos rios podem aumentar a probabilidade e a gravidade de inundações. Estima-se que cerca de 40% dos custos da erosão devem-se ao prejuízo causado pelos sedimentos nas infra-estruturas públicas anteriormente referidas. Desta maneira, estima-se também que levando a cabo as técnicas de conservação, a sociedade beneficiaria com a diminuição dos danos provocados fora dos locais de erosão em cerca de 32 Euros/ha de superfície agrícola e ano. Os prejuízos causados pela erosão no seu conjunto, isto é, nas zonas agrícolas afectadas e, fora destas, nas infra- estruturas públicas referidas, foram estimados nos EUA em cerca de 85.5 Euros por ha de superfície agrícola e ano. Figura 1- Os sedimentos estão na origem de diversos custos para a sociedade- na imagem, o assoreamento de uma barragem. A mobilização de conservação reduz a erosão do solo até 90% na sementeira directa e em mais de 60% na mobilização reduzida, em comparação com a mobilização convencional. Desta maneira, melhora-se consideravelmente a qualidade das águas superficiais devido à redução dos sedimentos. 22
  • 23. O transporte de pesticidas e fertilizantes. Pesticidas e fertilizantes em solução. A fauna aquática e a eutrofização de lagos, barragens, etc... (Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.) Figura 2- Os pesticidas em solução na água de escorrimento superficial, embora invisíveis, constituem uma grave ameaça aos ecossistemas aquáticos e à saúde pública. O tratamento de águas para consumo humano. Outras utilizações da água. A saúde das populações depende em grande medida da qualidade da água que consomem. A qualidade da água para consumo humano obedece a um conjunto de normas no que concerne as suas características químicas, físicas e bacteriológicas. Assim, e quando as fontes de água que abastecem as populações não obedecem às normas estabelecidas, torna-se necessário, à falta de fontes alternativas, construir e operar instalações para o tratamento das águas que são dispendiosas e muitas vezes incapazes de tratar determinados poluentes. Estas estações de tratamento constituem um custo para a sociedade, que poderia ser evitado se fossem adoptadas um conjunto de medidas eficazes na protecção das fontes de água. A agricultura tem a sua quota parte de responsabilidade na poluição da água, a que não pode e não deve fugir. Neste contexto, longe de acusar, os governos da União Europeia apoiam os agricultores que adoptam medidas de protecção dos recursos, nomeadamente através das medidas agro-ambientais, em sinal de reconhecimento do papel positivo que os agricultores podem ter na protecção do ambiente. A adopção de algumas medidas, como os sistemas de mobilização de conservação do solo, contribui, significativamente, como temos vindo a ver, na redução da carga de poluentes de origem agrícola transportados pelas águas que drenam os campos agrícolas, diminuindo os custos de manutenção e operação das estações de tratamento de água. Outras utilizações da água têm exigências de qualidade que são, com excepção de algumas utilizações industriais e outras, menores que as requeridas para consumo humano; falamos da água para a rega, para determinadas lavagens, para o combate a incêndios, etc.. 23
  • 24. Os fertilizantes e pesticidas provenientes de zonas agrícolas podem chegar a contaminar as águas superficiais, ao serem arrastados pelas águas de escorrimento para fora das zonas agrícolas onde se aplicaram. Por vezes, os nitratos e pesticidas transportados para as águas superficiais podem, inclusivamente, ultrapassar as concentrações limites das águas potáveis. Concentrações relativamente elevadas de pesticidas podem ser prejudiciais para os peixes, plantas e outros organismos aquáticos. O azoto em forma de amónia pode ser tóxico para os peixes e os nitratos e fosfatos intensificam o crescimento de plantas e algas, levando a uma eutrofização acelerada de lagos e barragens. O restolho, ou restos vegetais da colheita anterior sobre o solo, que caracteriza a agricultura de conservação, retêm em grande parte os fertilizantes e pesticidas na zona agrícola onde foram aplicados, até serem utilizados pela cultura ou decompostos noutros componentes menos prejudiciais. Assim, as técnicas de conservação não só reduzem, consideravelmente, o escorrimento mas também proporcionam uma forte redução de sedimentos que, por sua vez, transportam pesticidas, amónia e fosfatos adsorvidos. Em consequência disto, a mobilização de não-inversão do solo consegue reduzir substancialmente a perda de herbicidas na água de drenagem e, de forma semelhante, os óxidos de azoto (>85%) e fosfatos solúveis (>65%). A este respeito, uma comparação abrangente dos diversos métodos de mobilização, mostra que através da sementeira directa/não mobilização se reduz o transporte de herbicidas em 70%, dos sedimentos em 93% e o escorrimento superficial em 69%, em comparação com a mobilização convencional de inversão. Conclui-se, assim, que as técnicas de conservação melhoram, substancialmente, a qualidade da água. Na agricultura de conservação usam-se diferentes métodos de aplicação de agro-químicos e, em termos gerais, pode-se reduzir a quantidade total dos mesmos. Assim, por exemplo, em vez de se aplicar os fertilizantes a lanço, podem-se localizar em bandas ou sulcos, a uma certa distância da semente, ou ser injectados directamente no solo, minimizando, desta forma, o risco de serem dispersados pela chuva ou pelo vento para fora da zona onde se aplicaram. Da mesma maneira, o controlo de infestantes pode não necessitar em muitas situações de uma quantidade maior de herbicidas que na agricultura convencional. Para além disso, os herbicidas mais apropriados para aplicação nas infestantes emergidas, têm um período de vida curto, não são activos no solo e exibem uma ecotoxicidade extremamente baixa. Outros métodos de maneio de infestantes, tais como a utilização de entrelinhas menores e/ou o aumento de densidade de plantas por unidade de superfície e o estabelecimento de culturas intercalares fazem parte das técnicas de conservação. Figura 3- A rega é das actividades que consome mais água. No entanto, a qualidade da água que drena os campos agrícolas não deve ter como referência a qualidade da água para a rega mas sim a conservação dos ecossistemas dos cursos de água. 24
  • 25. Mesmo na eventualidade da água que drena dos campos agrícolas não ter uma utilização humana posterior, seguindo o seu curso em direcção ao mar, há o dever de garantir que estas águas sejam isentas de poluentes, por forma a preservar tanto os ecossistemas que se estabelecem nos cursos de água e em seu redor, bem como os aquíferos (a água que circula nos cursos de água também infiltra). Figura 4- A preservação dos cursos de água é uma prioridade. 25
  • 26. Módulo: Introdução à Mobilização de Conservação Texto de apoio e consulta 5. A POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM Os desafios da agricultura europeia. A Política Agrícola Comum (PAC) é o instrumento que serve de referência à agricultura europeia, e ao seu desenvolvimento futuro. Num mundo em permanente mudança, a PAC tem sofrido reformas por forma a acompanhar as novas tendências com o objectivo último de preservar o sector agrícola, tornando-o mais competitivo, tanto a nível dos países que constituem a União Europeia (UE), como a nível internacional. Os desafios que são postos à PAC a nível interno são: o desenvolvimento dos mercados internos; repensar a gestão dos mecanismos de apoio. A nível externo: o alargamento da UE a novos países; as conversações sobre as trocas comerciais. Figura 1- O desenvolvimento dos mercados internos da U.E., as conversações sobre o alargamento a novos países, e a regulamentação das trocas comerciais a nível mundial, constituem os desafios na origem da nova PAC. As propostas da Comissão europeia. O sector dos cereais. (Dentro das molduras, adaptação livre do texto “Agricultura de Conservação na Europa: Aspectos Ambientais, Económicos e Políticos da UE", edição conjunta da APOSOLO e da ECAF.) Propostas para a reforma da PAC: • Redução dos preços de intervenção- visa beneficiar o consumidor, obrigar o sector agrícola da comunidade a explorar novos mercados, facilitar a integração dos novos candidatos à UE, e preparar as bases para a nova ronda de conversações sobre as trocas comerciais. Só no sector dos cereais, em 2001/2002 é esperado um excesso de produção em relação às necessidades dos países da EU superior a 26 milhões de toneladas, com a agravante da exportação com preços subsidiados estar limitada, o que 26
  • 27. originará gastos enormes com a intervenção no mercado, para garantir os preços, e com a armazenagem. • Aumento das ajudas directas aos agricultores para compensar a diminuição de preços- visa a estabilidade do rendimento dos agricultores. • Pacote de medidas visando o desenvolvimento rural- este pacote permite que os diferentes estados membros criem um pacote de medidas que se adapte às necessidade específicas de cada um. Propostas para o sector dos cereais: • Redução dos preços de intervenção e aumento das ajudas directas ao rendimento dos produtores- ao deixar que os preços internos se aproximem dos preços mundiais, deixa de haver necessidade de limitar a produção (não há limites para exportação quando a produção não é subsidiada), e também de constituir set-aside. • As ajudas directas aos produtores não serão proporcionais ao corte nos preços de intervenção- a Comissão acredita que os preços de mercado manter-se-ão acima dos preços de intervenção. • Existirão valores máximos para todas as ajudas directas recebidas de todas as Organizações do Mercado Comum. Os estados membros terão também as ferramentas legais para dirigir a ajuda directa àqueles que mais dela necessitam. No que respeita a protecção ambiental, os estados membros poderão associar, à sua própria descrição, pagamentos directos pelo respeito pelo ambiente. Figura 2- Com a nova reforma da PAC, deixa de haver a necessidade de diminuir a produção na EU, logo da realização do chamado set-aside. Destas propostas, a que tem maior alcance é sem dúvida a redução do preço de intervenção, apesar do aumento das ajudas directas ao rendimento dos agricultores. Esta proposta traz a necessidade de uma maior competitividade para o sector. Como temos vindo a ver, os sistemas de mobilização de conservação do solo trazem vantagens económicas inegáveis, podendo significar a sobrevivência do sector. Subsídios à produção vs. ajudas ao rendimento do produtor. A redução dos preços de intervenção, para valores próximos dos preços dos mercados internacionais, faz com que este instrumento volte ao seu papel original, funcionando como uma rede de segurança para os agricultores. Assim, os preços de intervenção sofrem um corte de 20%, passando de 119,19 para 95,35 Euros/t para os cereais, oleaginosas e proteaginosas. As 27
  • 28. proteaginosas, terão direito a um prémio adicional de 6,5 Euros/t. A perda de rendimento é compensada pelo aumento das ajudas directas ao rendimento dos agricultores (passando de 54 para 66 Euros/t). A compensação pelo set-aside é fixada nos 66 Euros/t. As modulações. O financiamento das medidas agro-ambientais. Devido às diferenças no rendimento dos agricultores, e como já vimos atrás, os estados membros da UE terão ferramentas legais para dirigir a ajuda directa àqueles que mais dela necessitam, i.e. o montante das ajudas directas ao rendimento pagas serão função da área semeada, sendo as ajudas tanto menores quanto maiores forem as áreas semeadas- são as modulações. A inclusão de questões ambientais na reforma da PAC não é novidade. No entanto, as novas propostas dão uma resposta mais sistemática e alargada aos problemas ambientais. De acordo com as propostas, cabe aos estados membros da UE, associar o pagamento das ajudas directas aos produtores ao cumprimento de regras ambientais que estes considerem apropriados. O financiamento destas medidas agro-ambientais, para além de um orçamento próprio, contarão com o dinheiro poupado pelos estados membros que optarem pela modulação do pagamento das ajudas directas, bem como aquele dinheiro que não for despendido devido ao desrespeito das condições ambientais. As medidas agro-ambientais que constam do Plano de Desenvolvimento Rural 2000-2006, respeitantes aos sistemas de mobilização de conservação do solo encontram-se em anexo. Do ponto de vista global, as diferentes modalidades da agricultura de conservação cresceram de uma forma drástica durante os últimos 15 anos. Relativamente a culturas anuais, em 1996 foram utilizadas as técnicas de conservação em 78 milhões de hectares, com uma tendência a aumentar. Ao nível mundial, a sementeira directa/não mobilização aumentou de 6 para 47.5 milhões de hectares nos últimos dez anos. Os EUA têm sido o país pioneiro neste domínio e continuam a liderar a agricultura de conservação em termos da sua adopção. Este desenvolvimento deve-se, em grande parte, aos apoios recebidos por parte de sucessivas administrações dos EUA sob a forma da implementação dos chamados “Farm Bills” de 1985, 1990 e 1996. Em 1997, 37% dos 120 milhões de hectares foram cultivadas utilizando as técnicas de conservação, mantendo pelo menos 30% do solo coberto com resíduos, enquanto a agricultura convencional (com menos de 15% de cobertura do solo) diminuiu em 36.5%. Mais de 18 milhões de hectares foram semeados em sementeira directa/não mobilização. Outros países pioneiros na agricultura de conservação são a Austrália, Canadá, Brasil e Argentina. É de realçar que nestes últimos dois países, onde a agricultura não recebe subsídios governamentais, a sementeira directa aumentou de poucos milhares de hectares em 1992 para mais de 12 e 7 milhões de hectares, respectivamente, em 1998. Lamentavelmente, neste momento, a agricultura de conservação está muito pouco desenvolvida na Europa (estimativas variam entre <1% até 2%), estando muito longe dos países atrás referidos. Actualmente, a França e a Espanha são os dois países europeus onde se encontram mais divulgadas estas técnicas de conservação, com cerca de 1 e 0.6 milhões de hectares de culturas anuais, respectivamente, em 1998. Todavia deve-se mencionar que a aplicabilidade das técnicas de conservação foi amplamente demonstrada na maior parte dos ambientes agrícolas na Europa. 28
  • 29. Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação Texto de apoio e consulta 1. DESENVOLVIMENTO VEGETAL A sementeira, o contacto da semente com o solo e a germinação. O sucesso de uma cultura é muitas vezes determinado aquando da sementeira. Com os sistemas de mobilização de conservação do solo, e apesar dos semeadores especiais utilizados com alguns sistemas, todos os cuidados têm de ser tomados por forma a garantir um bom contacto da semente com o solo. Assim, torna-se necessário o conhecimento das características do solo, a quantidade, tipo e tamanho dos resíduos de culturas à superfície do solo, e as características e tipo de trabalho produzido pelas alfaias e semeadores em cada solo. O conhecimento dos solos é essencial por forma a relacionar o teor de humidade dos solos, e outras características, com o trabalho do semeador. Com um teor de humidade não adequado, a largura e/ou a profundidade do sulco criado pelo semeador podem não servir para alojar convenientemente a semente, bem como conduzir a um enterramento deficiente, o que poderá originar um mau contacto da semente com o solo, e uma emergência irregular. A este respeito, as dificuldades aumentam com o teor de argila do solo, pois não só a resistência à penetração do semeador é maior em condições de solo seco, como também a sua plasticidade em condições húmidas dificulta o fecho do rego de sementeira, havendo o risco da semente ficar exposta. Para este tipo de solos é necessário a utilização de semeadores mais pesados e que tenham órgãos de abertura que apresentem um bom desempenho em condições plásticas. Figura 1- Emergência heterogénea de um cereal por deficiente controlo da profundidade de sementeira. No que concerne os resíduos das culturas à superfície do solo, os cuidados dividem-se entre o funcionamento correcto dos semeadores e os problemas de emergência que podem resultar do excesso de resíduos. Com os semeadores convencionais, o problema mais comum é o arrastamento e envolvimento pelos órgãos activos do semeador de resíduos, que causam problemas vários, inclusive podem impedir a deposição da semente. Com os semeadores de 29
  • 30. sementeira directa, e em condições de excesso de resíduos (por exemplo, cordões de palha da cultura anterior), os problemas mais comuns são o corte e afastamento deficientes dos resíduos, ficando parte dos resíduos embutidos no sulco, o que origina um contacto directo da semente com os resíduos e/ou um mau contacto da semente com o solo. O bom funcionamento deste tipo de agricultura exige assim que as palhas estejam uniformemente distribuídas na superfície do terreno. Em função do tipo de semeador e do tipo de palha, poderá haver ainda a necessidade de esta se encontrar traçada. Figura 2- Resíduos da cultura anterior embutidos nos sulcos podem dar origem a uma má germinação. Por vezes, os resíduos de algumas culturas, quando em excesso, podem originar a inibição da germinação das sementes da cultura seguinte. Este fenómeno (efeitos alelopáticos dos resíduos) fica-se a dever à libertação, aquando da degradação dos resíduos, de substância neles contidos e/ou de substâncias do metabolismo dos micróbios que os degradam, que são tóxicos para as sementes, inibindo a sua germinação. Voltaremos a este assunto quando discutirmos as rotações. Em relação ao trabalho do semeador, e levando em conta as características do solo, dos resíduos à superfície, e da sementeira, ter-se-á que garantir tanto a homogeneidade da distribuição da semente, como a profundidade e o enterramento adequado. Assim, para realizar uma boa sementeira, a selecção do semeador deverá ter em conta o tipo de elementos de corte e/ou afastamento na linha dos resíduos que melhor se adapta ao sistema de mobilização e a quantidade e forma dos resíduos deixados pelas culturas da rotação, ao tipo de órgãos que fazem a abertura do sulco, que é em grande medida função do tipo de solo, e ao tipo de órgãos que fazem o enterramento das sementes. Saber regular os semeadores é fundamental. A retenção de água e a germinação. A mobilização dos solos conduz a uma secagem rápida da camada superficial. Esta secagem fica-se a dever ao grande arejamento do solo, aliado ao maior aquecimento a que ficam sujeitos por não estarem protegidos da radiação solar pelos resíduos. Assim, e em sequeiro, quanto maior for o intervalo de tempo que decorrer entre a mobilização do solo e a sementeira, maior será o risco 30
  • 31. das sementes não germinarem ou a cultura emergir de forma heterogénea por o teor de água da camada superficial do solo ser insuficiente. Com os sistemas de mobilização de conservação do solo em geral, e com os sistemas de sementeira directa em particular, tanto a presença de resíduos das culturas como um menor arejamento contribuem para a manutenção de um teor de humidade mais elevado da camada superficial do solo. Salvo raras excepções, e nas nossas condições climáticas, um menor arejamento e temperatura da camada superficial do solo não modificam de forma notável a germinação. O efeito do teor de humidade mais elevado da camada superficial sobre a germinação com os sistemas de mobilização de conservação tem sido atestado por vários agricultores e especialistas. Figura 3- Perda de água da camada superficial após rega em sementeira directa e mobilização tradicional. A formação de crostas. Em solos mobilizados, sem resíduos à superfície, o impacto das gotas de água da chuva ou da rega leva, em alguns solos, à ruptura dos agregados da superfície e à formação de crostas. As crostas tem um efeito negativo tanto ao nível da infiltração de água no solo como na emergência das culturas. Quando ocorre a formação de uma crosta bem desenvolvida, logo após a sementeira, e esta endurece por secagem, a emergência da cultura pode ser bastante afectada porque as plântulas podem não conseguir exercer a pressão necessária para romper. Existem grandes diferenças entre os solos no que respeita a susceptibilidade à formação de crosta. Estas diferenças são devidas principalmente ao teor e tipo de argila. Regra geral, solos com pouca ou com muita argila dão geralmente lugar a crostas pouco desenvolvidas, as primeiras por não terem argila suficiente para formar uma crosta coesa, as segundas pela estabilidade, normalmente grande, dos agregados. Assim, grosso modo, são os solos com uma textura franca a franco-arenosa os mais susceptíveis à formação de crosta, logo aqueles que requer um cuidado maior no maneio dos resíduos. 31
  • 32. Figura 4- As crostas, para além de diminuírem a infiltrabilidade dos solos, podem causar problemas na emergência da cultura. Compactação da camada superficial e desenvolvimento das raízes. Os bioporos (minhocas, raízes, etc.) e a sua destruição pela mobilização. Com os sistemas de não mobilização dos solos, sistemas de sementeira directa, a superfície do solo apresenta-se compacta, por vezes com uma densidade aparente de 20%, ou mais, superior aos sistemas em que há mobilização do solo. Esta maior densidade, ver a tabela, leva a que os agricultores que adaptam estes sistemas temam que o crescimento das raízes seja menor, e que a produção diminua. Figura 5- Densidade aparente em 2 solos após vários anos de mobilização diferenciada (SD – sementeira directa, Lav – Lavoura). 32
  • 33. De um modo geral, e nos primeiros 2 a 3 anos do uso de sistemas de sementeira directa num determinado solo, é natural que haja um menor crescimento das raízes com estes sistemas. No entanto, o que resta saber é se este menor crescimento tem algum significado em termos da produção. Tanto as experiências científicas realizadas em Portugal e no estrangeiro, como a experiência prática dos agricultores, mostram que, à excepção de algumas culturas de Primavera em sequeiro, a diminuição da produção não é notável durante os primeiros anos da adopção destes sistemas. Figura 6- Crescimento de raízes de uma cultura num solo em sementeira directa. O facto de o solo não ser mobilizado permite que os poros criados pela fauna do solo (minhocas, etc.), e os resultantes da decomposição das raízes das culturas anteriores, se conservem, aumentando de ano para ano. Este aumento da porosidade por onde as raízes possam crescer, aliado ao aumento da fertilidade e água disponível, permitem que a produtividade dos solos com os sistemas de sementeira directa, com o passar dos anos, seja igual ou mesmo superior ao verificado com os sistemas de mobilização tradicional. Assim se compreende que é contraproducente a mobilização dos solos mantidos em sistemas de sementeira directa, seja qual for o número de anos em que o sistema venha a ser aplicado a um solo, uma vez que a mobilização dos solos destrói esta rede de poros. 33
  • 34. Figura 7- Bioporosidade em 2 sistemas de mobilização do solo. Tabela 1- Caracterização dos poros após vários anos de mobilização diferenciada (SD – sementeira directa, Lav – Lavoura) Profundi- Água > 50 µm 50 -10 10-0. 2 Porosidade Mobilização dade < 2µm utilizável (%) µm (%) µm (%) Total (%) (cm) (%) 10 3.2 2.22 2.7 38.37 46.52 4.92 SD 20 0.86 3.91 5.22 36.16 46.15 9.13 30 1.86 2.63 11.48 29.44 45.4 14.11 10 15.08 2.34 4.36 29.95 51.73 6.71 Lav 20 2.67 1.32 2.31 35.95 42.25 3.63 30 1.47 1.56 3.29 35.62 41.94 4.85 Culturas outonais. Culturas primaveris. A rega. Ensaios levados a cabo em Portugal continental com culturas outonais e primaveris permitiram estabelecer os valores da tabela abaixo. São valores médios, obtidos em ensaios de curta a média duração, pelo que podem não reflectir todo o potencial produtivo associados aos sistemas de mobilização de conservação estudados. 34
  • 35. Figura 8- Ensaio de mobilizações conduzido na Herdade da Revilheira (Direcção Regional de Agricultura do Alentejo). De acordo com o que temos vindo a expor, as culturas de Primavera em sequeiro (e.g. girassol) poderão apresentar produções mais baixas com os sistemas de mobilização de conservação devido à resistência do solo à penetração das raízes (ver figura)- há uma maior resistência à penetração do solo com a diminuição da humidade- principalmente nos primeiros anos após o início da utilização destes sistemas. Ainda assim, é necessário ter em mente que os problemas postos às culturas por uma maior resistência do solo à penetração, em termos do crescimento das raízes, varia bastante, havendo culturas mais susceptíveis que outras. No entanto, em termos económicos, a diferença nas produções é, mesmo assim, largamente compensada pela diferença de custos a favor dos sistemas de mobilização de conservação. Figura 9- Resistência à penetração do solo sob 4 sistemas de mobilização diferentes Quando a cultura de Primavera é regada (e.g. milho), vemos que a produção é sensivelmente igual entre os sistemas de mobilização tradicional e de conservação. Nestes casos, a diminuição da evaporação por causa dos resíduos, a maior capacidade de retenção de água do solo, e um mais fácil 35
  • 36. crescimento das raízes devido à menor resistência do solo, são os factores determinantes. A experiência mostra, inclusive, que nas culturas de Primavera regadas, os sistemas de mobilização de conservação podem gerar uma importante poupança de água o que constitui por si só uma redução nos custos (custos com a água e energia (funcionamentos das bombas)). Tabela 2- Média das produções de vários anos e em diferentes solos – valores expressos em % do sistema tradicional (valores de ensaios de projectos de investigação da Universidade de Évora, coordenados pelos Professores Mário Carvalho e/ou Gottlieb Basch). Mobilização de Conservação Sementeira Directa Mobilização Mobilização Tradicional Reduzida Cevada 113 104 100 Trigo 97 99 100 Aveia 96 88 100 Forragem 109 114 100 Milho regado 107 90 100 Girassol 74 88 100 Grão-de-bico 79 88 100 Ervilha 86 91 100 36
  • 37. Módulo: A produção vegetal com sistemas de Mobilização de Conservação Texto de apoio e consulta 2. O CONTROLO DE INFESTANTES Infestantes anuais/pluri-anuais. Antes de iniciar, convém definir planta infestante. Neste texto adoptaremos a definição do British Crop Protection Council (Comissão Britânica para a Protecção das Culturas), que é “qualquer planta a crescer onde não é desejada”. Assim, uma planta no campo não é forçosamente uma infestante, e uma espécie agrícola pode ser uma infestante importante, por exemplo para a cultura que a sucede numa rotação. As infestantes podem influenciar a produção de uma determinada cultura tanto do ponto de vista da qualidade como da quantidade. O seu controlo exige o conhecimento tanto da biologia das espécies como das culturas, e a sua relação com os aspectos agronómicos dos sistemas de produção (rotações, sistemas de mobilização dos solos, qualidades físicas e químicas dos solos, etc.). Pode-se distinguir entre as chamadas infestantes anuais, bi-anuais e pluri- anuais. As infestantes anuais, como o nome indica, germinam, crescem e passam as várias etapas do desenvolvimento em menos de 1 ano, morrendo após a formação e maturação das sementes. As infestantes pluri-anuais, como o nome indica, crescem e/ou passam as várias etapas do desenvolvimento em mais de 1 ano, podendo as sementes formadas serem férteis ou não, e podendo ter ou não, órgãos vegetativos que permitam a sua propagação e a sobrevivência da planta em condições adversas (por exemplo, tubérculos, rizomas, etc.). A importância de fazer esta distinção reside no facto dos diferentes sistemas de mobilização do solo influenciarem o tipo e a proporção de infestantes que se encontram nos solos sujeitos aos diferentes sistemas. Figura 1- Exemplos de infestantes anuais (papoila, à dta.) e perenes (malvas, à esq.). Tipo de infestantes em função do sistema de Mobilização. Há que distinguir entre os sistemas em que há mobilização do solo dos sistemas de sementeira directa. Nos sistemas em que há mobilização dos solos verifica-se um controlo efectivo das infestantes (anuais e pluri-anuais) mas criando as condições óptimas de germinação das sementes das infestantes, tanto pelo enterramento das suas sementes que se encontravam à 37
  • 38. superfície do solo antes das mobilizações, como trazendo para a superfície sementes que se encontravam em latência (sem condições para germinar) em profundidade. Com os sistemas de sementeira directa, a não mobilização dos solos tem como consequência: o não enterramento das sementes das infestantes, o que favorece apenas as sementes das espécies infestantes pouco exigentes em termos do enterramento da semente, e não haver um controlo mecânico das infestantes presentes aquando da sementeira, o que obriga a utilização de herbicidas de pré-sementeira. Figura 2- Embora haja um controlo efectivo das infestantes, a mobilização dos solos cria condições óptimas para a germinação de sementes das plantas infestantes. As sementes das espécies infestantes apresentam condições óptimas de germinação diferentes. Uma característica importante, quando tentamos perceber o efeito dos diferentes sistemas de mobilização do solo sobre as populações de infestantes, é a profundidade máxima a que uma semente pode germinar e dar lugar a uma nova planta. Como vemos na figura 3, o peso das sementes das infestantes, i.e. a quantidade de reservas que a semente contém, determina a profundidade máxima a que uma semente pode germinar e dar lugar a uma nova planta. A grande maioria das espécies anuais germina a profundidades menores que 5 cm (peso da semente entre 0,1 e 5 mg). Figura 3- Relação entre o peso da semente e a profundidade de germinação. (Adaptado de “Weed Control Handbook”) 38
  • 39. A mobilização frequente dos solos faz com que essa camada superficial do solo contenha sempre uma quantidade razoável de sementes prontas a germinar: a lavoura enterra as sementes formadas recentemente, desenterrando as sementes que foram enterradas na lavoura anterior. Com os sistemas de sementeira directa, o controlo contínuo e eficaz das infestantes com herbicidas reduz, de ano para ano, o número de sementes de infestantes no solo uma vez que a renovação das sementes é menor tanto pelo menor grau de enterramento das sementes (as sementes não enterradas ficam mais sujeitas à morte e/ou destruição pelos organismos do solo, etc.), como pelo facto de não haver transporte de sementes de posições mais baixas no perfil para a camada superficial. Tabela 1- Infestantes comuns em sementeira directa, após 3 a 5 anos de produção com este sistema. (Adaptado de “Guía de Agricultura de Conservación en Cultivos Anuales”, Publicação conjunta da AELC/SV e CTIC) Anuais (Inverno e Primavera) Perenes e bi-anuais Nome científico Nome vulgar Nome científico Nome vulgar Alopecurus myosuroides rabo-de-raposa Cirsium arvense cardo-das-vinhas Hudson. Amaranthus spp. bredos Convolvulus arvensis corriola Brassicas spp. mostarda-negra, Cynodon dactylon grama saramagos, etc. Bromus spp. bromus Cyperus rotundus junça Capsella rubella Reuter bolsa-de-pastor Ecbalium elaterium Pepino-de-são- gregório Chenopodium spp. quenopódios Malva spp. malvas Digitaria sanguinalis milhã-digitada Sorghum halepense sorgo bravo Kochia scoparia Valverde Lactuca spp. alface brava, virosa, etc. Panicum spp. escalracho, milho míudo, etc. Solanum nigrum erva moira Stellaria media morugem-branca Setaria spp. milhã amarelada, milhã verde, etc. O controlo mecânico das infestantes. Como vimos, a não mobilização dos solos (sistemas de sementeira directa) pode apresentar mais vantagens que os sistemas em que há mobilização dos solos no que concerne à redução do grau de infestação por espécies de propagação seminal. Que dizer em relação às espécies com mecanismos vegetativos de multiplicação? Com os sistemas em que há uma mobilização regular e mais ou menos intensa dos solos, salvo raras excepções, são poucas as espécies de infestantes perenes realmente problemáticas. A mobilização dos solos, embora numa primeira fase possa conduzir à divisão dos órgão que permitem a propagação dos indivíduos, e assim aumentar o número de infestantes, quando repetida (no quadro de um programa de controlo de infestantes perenes) conduz geralmente ao consumo das reservas presentes nos órgãos de propagação e à sua morte. 39
  • 40. Com os sistemas de não mobilização (sementeira directa), e naqueles em que a mobilização dos solos compreende apenas parte da área (mobilização na zona) ou a intensidade de mobilização é baixa, não há uma destruição física dos órgãos de propagação das infestantes (separação e morte por dissecação ou esgotamento das reservas). Assim, o controlo de infestantes perenes com estes sistemas, e principalmente com os de não mobilização, exige a aplicação oportuna dos herbicidas certos, o que poderá implicar mexidas nas rotações tradicionais. Por exemplo, em parcelas onde os cereais sejam privilegiados na rotação, é muito provável que não haja controlo das espécies infestantes cujos órgãos de propagação vegetativa permaneçam dormentes no período Outono/Inverno e em que os lançamentos apareçam apenas na Primavera (e.g. Convolvulus arvensis (corriola)). Os herbicidas: classificação dos tratamentos. Para além dos aspectos de natureza química, efeitos sobre os diferentes mecanismos fisiológicos das plantas, etc., os herbicidas podem ser classificados segundo uma perspectiva funcional . Assim, distinguem-se: • Tratamentos herbicidas totais ou não selectivos, e selectivos. Com os primeiros, a intenção é matar todas as plantas presentes, enquanto que com os tratamentos selectivos pretende-se matar as plantas infestantes poupando a cultura (há uma selecção). • Herbicidas de contacto e sistémicos. Os herbicidas de contacto afectam apenas as partes das plantas que recebem o herbicida, enquanto os sistémicos são absorvidos e transportados no interior das plantas afectando outros locais da planta para além dos locais onde ocorreu a absorção. Aqueles herbicidas aplicados ao solo que, após aplicação mantêm efeito herbicida, são ainda ditos residuais ou com efeito residual. • Aplicações de pré-sementeira, de pré-emergência e de pós- emergência, em relação à cultura. Como o nome indica, estes tratamentos realizam-se antes da sementeira, antes da emergência da cultura e após a emergência da cultura. Características da aplicação dos herbicidas em sistemas de MC. Os resíduos das culturas e a intercepção dos herbicidas. O tamanho e distribuição dos resíduos à superfície do solo. Os tratamentos em pré e pós-emergência nos sistemas de mobilização de conservação não diferem, nos aspectos formais, daqueles realizados com os sistemas de mobilização tradicionais. No entanto, convém ter presente que com os tratamentos herbicidas de aplicação ao solo (herbicidas residuais), uma grande parte pode ficar retido pelos resíduos, pelo que, se não chover e/ou regar nos dias após a aplicação, a sua eficácia diminui bastante. Nestes casos, é preferível utilizar tratamentos em pós-emergência. 40
  • 41. Figura 4- Com os tratamentos herbicidas de aplicação ao solo, herbicidas de efeito residual, uma proporção variável dos herbicidas aplicados pode ficar retido pelos resíduos da cultura anterior. Com os sistemas de mobilização reduzida e tradicional, não se fazem normalmente tratamentos de pré-sementeira uma vez que as mobilizações eliminam só por si a quase totalidade das infestantes presentes. A realização de tratamentos de pré-sementeira com os sistemas de sementeira directa e de mobilização na zona é essencial uma vez que as plantas infestantes presentes competirão agressivamente com a cultura logo após a sua emergência. De uma forma geral utilizam-se herbicidas não selectivos (e.g. glifosato), sem efeito residual, permitindo assim a sementeira logo após a aplicação, sem risco para a cultura. A utilização de herbicidas residuais, que exijam a sua incorporação no solo devido a uma elevada volatilidade, como herbicidas de pré-sementeira, não é geralmente possível com os sistemas de mobilização de conservação uma vez que a maioria dessas substâncias só é eficiente se misturado vigorosamente no solo, situação não admissível com sistemas de mobilização de conservação. Assim, em situações em que as infestantes ainda não tenham emergido (situações estas em que a aplicação de um herbicida de contacto, não residual, não faz sentido), o controlo das infestantes deve ser feito em pré e pós-emergência. Figura 5– Após o controlo das infestantes com um herbicida total, sementeira directa de milho sobre um manto vegetal espesso. Os programas de controlo de infestantes. A sua flexibilidade. A importância do reconhecimento da flora, e grau de infestação, em cada parcela. 41
  • 42. Traços gerais, o programa de controlo de infestantes compreende um tratamento total em pré-sementeira, ou logo após a sementeira, com um herbicida total e/ou com um herbicida residual, com vista ao controlo das infestantes presentes, e daquelas que emergirão entre a sementeira e a emergência da cultura; e um tratamento de pós-emergência para o tratamento de infestantes monocotiledónias, dicotiledóneas ou ambas (quando se utilizou apenas um herbicida total, sem efeito residual, em pré-sementeira). A selecção de um determinado número de herbicidas, e a sua utilização de acordo com um calendário pré-estabelecido, sem o menor espírito crítico, para além de poder significar um desperdício de dinheiro, pode trazer dissabores do ponto de vista do surgimento de infestantes de difícil controlo. Assim, antes de aplicar os herbicidas convém fazer o reconhecimento das espécies presentes, e o grau de infestação, para melhor poder ajuizar qual o herbicida mais indicado e em que doses deverá ser utilizado. O acompanhamento das culturas, e da evolução da flora infestante também fornece elementos sobre a adequação das rotações do ponto de vista do controlo das infestantes. As infestantes cujo o período de desenvolvimento coincide com períodos em que não se consegue um controlo adequado com herbicidas em nenhuma cultura da rotação, podem rapidamente constituir graves problemas. Figura 6– É importante fazer o reconhecimento da flora existente nas parcelas, e grau de infestação, para melhor seleccionar os herbicidas, e respectivas doses. A importância da rotação de culturas. Um aspecto importante a ter em conta aquando do estabelecimento de uma rotação de culturas numa parcela é o seu impacto sobre a flora infestante dessa parcela. Embora o período de germinação das diferentes espécies infestantes possa ocorrer em intervalos de tempo variáveis durante o ano, geralmente é possível associar diferentes infestantes a diferentes culturas. Assim, a rotação de culturas deverá permitir um controlo eficaz das diferentes infestantes que se desenvolvem em diferentes períodos do ano. Também, o facto de para as diferentes culturas existirem diferentes herbicidas homologados, com diferentes modos de acção, faz com que o controlo de certas infestantes seja mais fácil numa cultura que em outra, e aumenta a pressão sobre as infestantes, diminuindo o surgimento de fenómenos de resistência das infestantes a determinados produtos. 42