O documento discute o tabagismo como uma dependência, explicando os componentes físicos, psicológicos e comportamentais da dependência da nicotina. A nicotina causa dependência ao ativar o sistema de recompensa cerebral e levar à tolerância e síndrome de abstinência. Isso estabelece a dependência física e psicológica, mantida por condicionamentos comportamentais.
1. ENTENDENDO O TABAGISMOENTENDENDO O TABAGISMO
COMO DEPENDÊNCIACOMO DEPENDÊNCIA
Ministério da Saúde - MSMinistério da Saúde - MS
Instituto Nacional de Câncer - INCAInstituto Nacional de Câncer - INCA
Coordenação de Prevenção e Vigilância - ConprevCoordenação de Prevenção e Vigilância - Conprev
Divisão de Programas de Controle do TabagismoDivisão de Programas de Controle do Tabagismo
e outros Fatores de Risco de Câncere outros Fatores de Risco de Câncer
2. São substâncias naturais ou sintetizadas que ao
serem ingeridas produzem alterações no SNC,
modificando, assim, estado emocional e
comportamental;
Por serem psicoativas produzem prazer, o que
pode induzir ao abuso e dependência.
O que são drogas psicoativasO que são drogas psicoativas ??
3. O que é dependência à uma droga?O que é dependência à uma droga?
Fonte: OMS e Associação Americana de Psiquiatria
Existência de um padrão de auto-administração que,
geralmente, resulta em tolerância,
abstinência e comportamento compulsivo
para consumir a droga”.
Existência de um padrão de auto-administração que,
geralmente, resulta em tolerância,
abstinência e comportamento compulsivo
para consumir a droga”.
O uso e a necessidade, tanto física quanto
psicológica, de uma substância psicoativa, apesar
do conhecimento de seus efeitos
prejudiciais à saúde.
O uso e a necessidade, tanto física quanto
psicológica, de uma substância psicoativa, apesar
do conhecimento de seus efeitos
prejudiciais à saúde.
4. FORTE DESEJO OU COMPULSÃO PARA CONSUMIR;
DIFICULDADE DE CONTROLAR O USO EM TERMOS DE INÍCIO, TÉRMINO
OU NÍVEL DE CONSUMO;
NA AUSÊNCIA OU DIMINUIÇÃO SURGEM REAÇÕES FÍSICAS COMO
ANSIEDADE, DISTÚRBIO DO SONO, DEPRESSÃO E CONVULSÕES (ESTADO
DE ABSTINÊNCIA FISIOLÓGICO);
NECESSIDADE DE DOSES MAIORES (TOLERÂNCIA);
ABANDONO PROGRESSIVO DE OUTROS PRAZERES E INTERESSES E
AUMENTO DE TEMPO PARA USO E/OU SE RECUPERAR DOS EFEITOS;
PERSISTÊNCIA NO USO APESAR DAS CONSEQUÊNCIAS.
Diagnóstico de dependência químicaDiagnóstico de dependência química
3 ou mais sintomas nos 12 meses3 ou mais sintomas nos 12 meses
5. Aspectos da dependênciaAspectos da dependência
Compulsão
Forte desejo de consumir uma
substância.
Forte desejo de consumir uma
substância.
Necessidade de doses cada vez
maiores da substância para
alcançar efeitos inicialmente
conseguidos com doses
menores.
Necessidade de doses cada vez
maiores da substância para
alcançar efeitos inicialmente
conseguidos com doses
menores.
Tolerância
Aparecimento de sintomas
desagradáveis quando se pára
o uso de uma substância.
Aparecimento de sintomas
desagradáveis quando se pára
o uso de uma substância.
Síndrome de
abstinência
6. DROGAS DEPRESSORAS - diminuem a atividade mental. Afetam o
cérebro, fazendo com que funcione de forma mais lenta. Essas drogas
diminuem a atenção, a concentração, a tensão emocional e a capacidade
intelectual. Ex. tranquilizantes, álcool, cola, morfina, heroína.
DROGAS ESTIMULANTES - aumentam a atividade mental. Afetam o
cérebro, fazendo com que funcione de forma mais acelerada. Ex.
nicotina, cafeína, anfetamina, cocaína, crack
DROGAS ALUCINÓGENAS - alteram a percepção, provocando distúrbios
no funcionamento do cérebro, fazendo com que ele passe a trabalhar de
forma desordenada, numa espécie de delírio. Ex. LSD, ecstasy, maconha.
Ação das drogasAção das drogas
no S.N.C.no S.N.C.
7. A nicotina como drogaA nicotina como droga
Propriedades psicoativas
Padrão de auto administração
Compulsão
Tolerância farmacológica
Síndrome de abstinência
Grupo de transtornos mentais e de
comportamento decorrentes do uso de
substância psicoativa da CID
10ª revisão, OMS 1997
Grupo de transtornos mentais e de
comportamento decorrentes do uso de
substância psicoativa da CID
10ª revisão, OMS 1997
8. Addison Yeaman,
Brown & Williamson,
17 de julho de 1963
“Nicotina causa dependência.
Portanto nosso negócio é vender nicotina,
uma droga que causa dependência e
é efetiva no alívio do estresse”
“Nicotina causa dependência.
Portanto nosso negócio é vender nicotina,
uma droga que causa dependência e
é efetiva no alívio do estresse”
9. O que faz as pessoas se tornarem fumantes?O que faz as pessoas se tornarem fumantes?
Publicidade
Fácil acesso
Modelos de comportamento
Suscetibilidade individual
Aceitação social 90% dos Fumantes
começaram a
fumar até
os 19 anos
90% dos Fumantes
começaram a
fumar até
os 19 anos
10. Phillip Morris:apresentação interna, 1984
““ Para relaxar, pelo sabor, para preencher o
tempo, para fazer alguma coisa com as mãos.
Mas na maioria dos casos,
as pessoas fumam porque sentem que
deixar de fumar é muito difícil ”
““ Para relaxar, pelo sabor, para preencher o
tempo, para fazer alguma coisa com as mãos.
Mas na maioria dos casos,
as pessoas fumam porque sentem que
deixar de fumar é muito difícil ”
Por que as pessoas continuam a fumar?Por que as pessoas continuam a fumar?
12. ““ O cigarro não deveria ser considerado um
produto, mas uma embalagem. O produto é
a nicotina. A fumaça é considerada o
melhor veículo de nicotina e o cigarro é o
dispositivo mais eficiente para a produção
de fumaça”
““ O cigarro não deveria ser considerado um
produto, mas uma embalagem. O produto é
a nicotina. A fumaça é considerada o
melhor veículo de nicotina e o cigarro é o
dispositivo mais eficiente para a produção
de fumaça”
Fonte: Memorando interno da Phillip MorrisFonte: Memorando interno da Phillip Morris
13. Inalação pelos pulmões
Concentração diminui em 20 a 30 min.
Meia-vida de 30 a 120 min.
Após doses repetidas, se acumula por
mais de 6 a 8 horas e durante a noite
85-90% metabolizada no fígado
Gene CYP2A6 – metaboliza 60-80% da
nicotina
Metabólito- cotinina tem meia vida de
18-36 horas
Inalação pelos pulmões
Concentração diminui em 20 a 30 min.
Meia-vida de 30 a 120 min.
Após doses repetidas, se acumula por
mais de 6 a 8 horas e durante a noite
85-90% metabolizada no fígado
Gene CYP2A6 – metaboliza 60-80% da
nicotina
Metabólito- cotinina tem meia vida de
18-36 horas
Distribuição e MetabolismoDistribuição e Metabolismo
14. Sistema Cerebral
de Recompensa
Sistema Cerebral
de Recompensa
Neurotransmissor
Dopamina
Neurotransmissor
Dopamina
NicotinaNicotina
Sensação de
Prazer
Sensação de
Prazer
Estabelecendo a dependência em nívelEstabelecendo a dependência em nível
cerebralcerebral
Auto-
administração
Auto-
administração
17. no
médio
de cigarros
fumados
por
adultos
(18 a 20/dia)
Necessidade crescente
de nicotina para atingir
o efeito desejado
Necessidade crescente
de nicotina para atingir
o efeito desejado
no
médio de
cigarros
fumados por
adolescentes
( 9 /dia)
Tolerância
Estabelecendo a dependência físicaEstabelecendo a dependência física
18. vontade intensa de fumar
5 minutos de duração
persiste por meses
diminui progressivamente
vontade intensa de fumar
5 minutos de duração
persiste por meses
diminui progressivamente
Fissura
Sintomas
ansiedade, dificuldade de
concentração, agitação,
irritabilidade, agressividade,
tontura, cefaléia, desconforto
abdominal
Duração 2 a 3 semanas
Sintomas
ansiedade, dificuldade de
concentração, agitação,
irritabilidade, agressividade,
tontura, cefaléia, desconforto
abdominal
Duração 2 a 3 semanas
Síndrome de Abstinência
Estabelecendo a dependência físicaEstabelecendo a dependência física
20. Associações Automáticas:
após as refeições
atividades intelectuais
após cafezinho
ao beber
ao dirigir
Associações Automáticas:
após as refeições
atividades intelectuais
após cafezinho
ao beber
ao dirigir
Busca e
auto-administração
de nicotina
Estabelecendo os condicionamentosEstabelecendo os condicionamentos
21. Condicionamentos
Tentativa de evitar a
síndrome de abstinência
Aceitação social
Dependência psicológica
Condicionamentos
Tentativa de evitar a
síndrome de abstinência
Aceitação social
Dependência psicológica
Manutenção do ato de fumarManutenção do ato de fumar
Notas do Editor
Esta aula sobre tabagismo como dependência, tem como fundamental objetivo, modificar a visão de que o fumante é uma pessoa sem força de vontade, sem personalidade e sujo. O fumante é uma pessoa que possui uma doença, chamada dependência química.
As drogas psicoativas são definidas como substâncias naturais ou sintetizadas que ao serem ingeridas, produzem alterações no Sistema Nervoso Central (SNC), modificando o estado emocional e comportamental do indivíduo. Por serem drogas psicoativas, elas vão produzir prazer o que pode induzir~o indivíduo ao abuso e dependência.
O que é dependência de drogas ? Segundo definição da Organização Mundial de Saúde, representa ..................( ler o 1º item) De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria a dependência de uma droga representa “a existência de um padrão de auto-administração que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo para consumir a droga. Assim, quando uma pessoa não consegue alcançar seu bem-estar ou executar tarefas cotidianas, sem o auxílio de alguma substância psicoativa, tal fato caracteriza uma farmaco-dependência, drogadição, devendo ser ajudada, e acompanhada por profissionais de saúde. Portanto, não deve ser vista como falta de caráter, nem de força de vontade. A dependência química é uma doença e precisa ser tratada.
O diagnóstico de dependência química ocorre quando o usuário de qualquer droga apresenta 3 ou mais sintomas listados a seguir em 1 ano (12 meses).
A dependência de qualquer substância, geralmente apresenta algumas características dentre elas estão: Compulsão: é um forte desejo de consumir uma substância, conhecido também com “fissura”. Tolerância: é a necessidade de doses cada vez maiores da mesma substância psicoativa para alcançar efeitos produzidos originalmente por doses mais baixas. Síndrome de abstinência: é quando há interrupção do uso de uma substância, podendo ocorrer, como conseqüência, o aparecimento de alguns sintomas, como ansiedade, dificuldade de concentração, dor de cabeça, entre outros. Que desaparecem após poucas semanas sem fumar ou quando se consome novamente a substância .
Quanto a ação das drogas no Sistema Nervoso Central (SNC), elas são divididas em: - drogas depressoras - (ler a definição) - drogas estimulantes - (ler a definição) - drogas alucinógenas - (ler a definição) A nicotina está classificada como droga psicoativa estimulante.
Atualmente, fumar é considerado mais que uma opção de comportamento. É a dependência de uma droga, no caso a nicotina, que faz com que os fumantes mesmo querendo deixar de fumar, sejam repetidamente expostos às 4700 substâncias tóxicas do cigarro. Estudos laboratoriais mostram os efeitos da dependência da nicotina, tais como propriedades psicoativas resultantes de alterações da função cerebral através de efeitos sobre neurotransmissores como a dopamina, reforço comportamental levando a autoadminstração, tolerância e síndrome de abstinência O reconhecimento dessas propriedades psicoativas da nicotina levou a Organização Mundial de Saúde a incluí-la no grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10.
Um cientista que trabalhou numa das indústrias fumageiras, a Brown Willianson, publicou alguns relatórios internos após sair da empresa, um deles dizia: “ Nicotina causa dependência. Portanto, nosso negócio é vender nicotina, uma droga que causa dependência e é efetiva no alívio do estresse” Addison Yeaman, da Brown Williamson, 17 de julho de 1963. Por essa declaração podemos perceber que esse fato já era bem conhecido nos meios de produção da droga, antes mesmo da comunidade científica ter esse conhecimento.
AGORA VEJAMOS TODO O PROCESSO QUE LEVA UM INDIVÍDUO A SE TORNAR FUMANTE. POR QUE OS FUMANTES COMEÇAM A FUMAR? A iniciação do tabagismo resulta da interação de fatores individuais que tornam o indivíduo mais suscetível ao uso da droga, e de fatores sócio- culturais que estimulam o uso e facilitam o acesso do indivíduo à droga. Fatores Sócio-culturais : Se um determinado comportamento é esperado ou até mesmo estimulado em uma sociedade, provavelmente ele terá uma maior adesão dos indivíduos a ele, do que em uma sociedade em que este comportamento não é aprovado. Da mesma forma a facilidade do acesso à droga é um fator decisivo na adoção do comportamento. Fatores Individuais – Na dimensão individual encontram-se disposições próprias de cada indivíduo, que influenciam na sua escolha do ambiente, nas suas reações ao ambiente, no desenvolvimento de suas habilidades para lidar com situações sociais e estresse crônico, assim somo, vários componentes da personalidade. O indivíduo também pode ser geneticamente mais suscetível a ação recompensatória da nicotina ou menos suscetíve a seus efeitos aversivos. Em função dessas influências 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos de idade e as pesquisas mostram que a necessidade da aceitação social ou integração em um grupo, o modelo de comportamento de ídolos, pais e professores, são fatores importantes. Da mesma forma o estímulo através da publicidade, o fácil acesso através do baixo custo e o não controle da venda a menores
POR QUE AS PESSOAS CONTINUAM A FUMAR? Numerosas pesquisas mostram, que os fumantes relatam que fumam em parte porque fumar os ajuda a reduzir os sentimentos negativos, porque causa relaxamento, sensação de prazer e aumenta a concentração. Esses motivos são específicos a cada indivíduo e situação. E isso é bem conhecido e explorado pela indústria fumageira, como podemos perceber nesse relato: “ Para relaxar, pelo sabor, para preencher o tempo; para fazer algumas coisas com as mãos. Mas na maioria dos casos, as pessoas continuam a fumar porque sentem que deixar de fumar é muito difícil” ( Phillip Morris, apresentação interna, 1984) Como podemos ver por essa declaração dos que mais entendem de dependência de nicotina, existem diferentes componentes que resultam na dependência.
Os principais componentes da dependência da nicotina são: Físicos- Que se caracteriza pelas modificações físicas que ocorrem no Sistema Nervoso Central (SNC), onde a droga nicotina atua estabelecendo a dependência física. Psicológicos- São mecanismos que acreditamos “funcionar”, como por exemplo, acender um cigarro para relaxar, isso nada mais é que um ritual, que criamos para alcançar um estado positivo, ou então ter o cigarro como um “amigo”, “companheiro”, como se fosse um objeto com vida, que nos auxilia e faz parte de nossa vida. Condicionamentos- Esse é o componente principal da dependência da nicotina, esses condicionamentos são estabelecidos durante os anos, se tornando automático, acender um cigarro após as refeições, ou um cigarro com o café, entre outros. Esses são comportamentos que aprendemos com as repetições e que quando tentamos nos livrar deles, temos grande dificuldade. Embora o slide mostre esses componentes de forma compartimentada, na prática eles são bastante interrelacionados.
Essa frase retirada de um memorando interno da Phllip Morris, a maior indústria de cigarro do munido, prova que o que a indústria sempre quis, foi vender nicotina, porém, como veremos adiante, a melhor forma de absorção da nicotina é a forma inalatória. Podemos afirmar que as 4.719 substâncias presentes na fumaça do cigarro, com exceção da nicotina vêm de bojo, na fabricasção do cigarro.
A fumaça do tabaco, durante a tragada, é inalada para os pulmões , distribuindo-se para a circulação e chegando, rapidamente, ao cérebro, em geral 7 segundos. Essa rápida absorção, é facilitada pelo grande número de alvéolos pulmonares - cerca de 70 m2 de superfície em cada pulmão, numa pessoa adulta, pela pequena espessura das paredes alveolares e pela irrigação capilar abundante. Além disso, o fluxo sangüíneo capilar pulmonar é rápido, e todo o volume de sangue do corpo percorre os pulmões em um minuto (Fiore, 1992). As substâncias inaladas pelos pulmões espalham-se pelo organismo com uma velocidade quase igual à de substâncias introduzidas por uma injeção intravenosa (Felleenberg,1980). As concentrações de nicotina no sangue arterial, aumentam rapidamente após uma tragada, com um pico de concentração plasmática de 24 a 50 ng/ml de nicotina e uma meia-vida de 30 a 120 minutos. Os níveis inicialmente altos após a inalação, diminuem à medida que a nicotina é redistribuída para outros tecidos do corpo. É por isso que os fumantes, geralmente, sentem necessidade de fumar um cigarro a cada meia hora, a fim de manter um nível satisfatório de nicotina na corrente sangüínea (Rosemberg,1987;Fiore,1992; Schuckit,1991; Rosemberg,1996). Todavia, devido às doses repetidas que o fumante recebe regularmente durante o dia, a nicotina se acumula por mais de 6 a 8 horas e persiste em níveis significantes por toda a noite. Ela é metabolizada principalmente pelo fígado (85-90%), dando origem aos seus metabólitos primários: cotinina e óxido de nicotina. A meia-vida da cotinina é de 18-36 horas, mesmo 72 horas após o último cigarro, ainda pode-se recuperar 90% de cotinina.
O QUE FAZ OS INDIVIDUOS CONTINUAREM A FUMAR? Nosso cérebro funciona através de neurotransmissores que são substâncias químicas com estrutura semelhante às drogas que causam dependência. Nas membranas de alguns tipos de neurônios existem receptores que reagem com algumas dessas drogas, inclusive a nicotina. A nicotina, da mesma forma que ocorre com muitas outras drogas de abuso, é auto-administrada, porque estimula o sistema cerebral de recompensa. Trata -se de uma complexa rede de neurônios cerebrais que ao ser estimulada pela a nicotina, libera o neurotransmissor dopamina em uma região do cérebro chamada núcleo accumbens, gerando uma sensação agradável ou de prazer.
Os neurônios (células cerebrais) “conversam” entre si, através da liberação constante de dopamina, serotonina e acetilcolina.
Ao receber nicotina, há a liberação de alta dose de dopamina, levando a sensação de prazer e bem-estar entre eles, e consequentemente fazendo com que o fumante sinta prazer em fumar.
A resposta de auto-administração para a nicotina exibe um padrão dose resposta limitado. Ou seja em altas doses a droga torna-se aversiva, e o fumante não mais sente a sensação recompensatória. Isso ocorre porque depois que os níveis plásmáticos de nicotina atingem um determinado patamar,(30 a 60 mg em animais de laboratório) os receptores nicotinícos dopaminérgicos se dessensibilizam temporariamente não mais respondendo de forma prazerosa ao estímulo da nicotina. Só depois de um período de latência esses neurônios voltam a tornar-se sensíveis à ação recompensatória da nicotina. Com o uso crônico e as repetidas desensibilizações ocorre um aumento regulatório dos receptores e assim com a continuidade do uso, se estabelecem alguns aspectos da dependência física, como tolerância e síndrome abstinência. A tolerância acontece com quem fuma da mesma forma que acontece com quem usa outras drogas. A medida em que o uso se torna crônico surge progressivamente a necessidade de quantidades crescentes da droga para atingir o efeito desejado. Além de haver um aumento do número de receptores nicotínicos no cérebro, com o aumento da dose ocorre a dessensibilização dos mesmos em relação aos efeitos da nicotina. Por exemplo os adolescentes começam fumando apenas alguns dias por mês e progressivamente passam a fumar mais a medida que vão se tornando adultos. Só para termos uma idéia, o número médio de cigarros fumados por dia por adultos é de 18 a 20 cigarros, o dobro do fumado por adolescentes (9 cigarros por dia). E por que isso ocorre? Isso resulta do fenômeno chamado de tolerância .
Como já falamos, a nicotina inalada se liga a receptores neuronais específicos provocando efeitos farmacológicos, percebidos pelo fumante como positivos e prazerosos. Quando esses efeitos se dissipam, os receptores enviam um sinal de que precisam de novo estímulo, isto é, mais droga nicotina, e isso é percebido como uma sensação desagradável e surgem sintomas tais como irritabilidade, insônia, sensação de frustração, dor de cabeça, ansiedade, tonteira, dificuldade de concentração etc. Chamamos todo esse processo, de síndrome de abstinência. Muitos fumantes relatam que fumam para evitar ou controlar esses sintomas. Por exemplo pessoas que fumam imediatamente após terem estado em uma situação onde não é permitido fumar, tais como avião, cinema, geralmente o fazem para aliviar os sintomas da síndrome de abstinência. Um outro sintoma é um desejo forte por fumar, chamado de fissura que faz parte também do processo de dependência física. Trata-se de um processo complexo que o fumante tem experimentado e reforçado ao longo dos anos. A supressão da nicotina produz efeitos físicos importantes durante 7 a 30 dias. Contudo a fissura pode persistir por muitos meses. Isso se deve ao fato de que apesar dos receptores de nicotina, privados de nicotina rapidamente wither (encolher, fenecer, secar, murchar, enfraquecer, degenerar-se) e pararem de produzir a sensação de necessidade da nicotina, os estímulos ambientais que se associaram com o tabagismo continuam e essas associações são difíceis de apagar. Mais de 90% dos fumantes regulares relataram terem tido pelo menos um tipo de sintoma da síndrome de abstinência na última vez que tentou deixar de fumar.
Estudos experimentais mostram que todos os comportamentos que são reforçados por uma recompensa positiva, tendem a ser repetidos e incorporados. As sucessivas repetições tendem a associar não só o comportamento que conduz à recompensa, mas também estímulos, sensações, determinadas atividades e situações que passam a ser associadas a esse comportamento no dia a dia do fumante. Dessa forma o uso da nicotina passa ser incorporado para reduzir sentimentos desagradáveis, negativos, angústia, depressão. Para aumentar rendimentos psicofísicos, como a capacidade de vigília, memória e o rendimento intelectual.
Os processos comportamentais podem ser divididos em 2 categorias: Automáticos e não automáticos Não automático ou processo controlado – processo relativamente lento deliberado, consciente, associado com um sentimento de ação desejada. Automáticos - processos incorporados, que não requerem consciência, atenção deliberada ou controlada. Quando um estímulo específico existe, um processo automático é desencadeado sem requerer atenção consciente ou grandes recursos cognitivos. Por exemplo, quando dirigimos, nós não nos damos conta que estamos passando a marcha. Muitas vezes um estímulo nos faz frear instintivamente. No dia a dia do fumante, o fumar é visto como um processo que requer pouca consciência ou controle deliberado do ato de pegar um maço de cigarro, acender e fumá-lo O uso da nicotina passa ser associado a estímulos ambientais e assim se criam CONDICIONAMENTOS, que levam o indivíduo a acender um cigarro, na maioria das vezes sem perceber. Quantos fumantes não se dão conta muitas vezes de que acendeu um cigarro sem sequer perceber, estimulados por uma situação de estresse, por um cafezinho, a visão de alguém fumando. Dessa forma, o processo associado com a busca da nicotina e a auto-administração são automáticos. Processos não automáticos são necessários para se sobrepor ou resistir a processos automáticos. Portanto, existem apenas 2 tipos de situações onde o processo não automático é requerido para lidar com o fumar: .quando o fumante precisa vencer obstáculos para fumar. .quando o fumante está tentando deixar de fumar.
Como podemos perceber o ato de fumar, não ocorre em um contexto isolado. Cada episódio de consumo ocorre em ambientes e situações particulares do fumante. Todo esse ambiente pode estar associado com o efeito físico de ingerir nicotina ou sintomas de abstinência. Gradualmente a necessidade de fumar ocorre, ou quando existe um baixo nível de nicotina no organismo, ou quando um estímulo situacional, ambiental, emocional ou desejo estimula a necessidade de fumar. Os fumantes utilizam cigarros em praticamente cada aspecto das suas vidas diárias, assim existem muitas oportunidades para criar associações entre o ambiente e o comportamento de fumar. O ato de fumar também é mantido parte por outros pontos como o gestual, que significa a necessidade de manter sempre algo nas mãos, ou as sensações como o odor e o paladar que o cigarro produz, ou até mesmo a tentativa de evitar os sintomas da síndrome de abstinência.