O documento analisa a estrutura social complexa da Zululândia moderna através da descrição detalhada de várias situações sociais, mostrando as relações interdependentes entre os grupos zulus e europeus. Apesar da separação racial, há cooperação em alguns eventos, como a inauguração da ponte, revelando a comunidade híbrida formada. Contudo, as relações são marcadas por dominação européia e contradições que geram conflitos na estrutura social.
1. Análise de uma situação social na Zululândia
Moderna.
Max Gluckman [1958]
In. Feldman-Bianco (org). Antropologia das
Sociedades Contemporâneas – Método, 1987.
3. • África do Sul. 2 milhões de
brancos, 6,5 milhões de africanos.
• O sistema social do país consiste
de relações interdependentes em
cada grupo e entre vários grupos
enquanto grupos raciais.
• Trabalho de campo 1936-1938
• 2/5 dos africanos moram em
reservas.
• Apenas alguns europeus
(administradores, técnicos do
governo, missionários,
comerciantes e recrutadores)
• Africanos realizam migração
laboral (fazenda, industria, criados)
4. • Situação social como uma
série de eventos.
• A partir das situações
sociais e de suas inter-
relações numa sociedade
particular, podem-se
abstrair a estrutura social,
as relações sociais, etc.
• Validar e verificar as
generalizações.
5. • 1938 - morando no sítio de Matolana
– Plano, inauguração da ponte e encontro distrital na
magistratura Nongoma
– Richard (filho) e Matolana, vestimentas
– Episódio do policial
– Carona ao velho líder de seita cristã separatista
– Separação no hotel em Nongoma e encontro com
veterinário do governo.
– Reclamações de Matolana para o veterinário
– Distribuição no carro, brancos na frente, africanos detrás.
Bosquimanos guerreiros da tribo Zulu (com Britânicos e Africânderes em 2º plano) em 1879
6.
7. • Inauguração da ponte
– Construída pelo Departamento
de Assuntos Nativos
– Magistrado colocou guerreiro
Zulu na bifurcação;
– Carro do regente da Casa Real
Zulu, saudações, uniformes
– Ponte e cenário
• Zulus em ambas margens (A e B
no mapa)
• Europeus na barraca (C no mapa)
8.
9. • Brancos presentes: equipe administrativa; magistrado,
assistente, mensageiro; cirurgião, missionários,
funcionários do Hospital; comerciantes e recrutadores;
policiais e técnicos; leiloeiro nas vendas de gado.
Comissário Chefe dos nativos, representante de
Departamento de Estradas da Província.
• Zulus presentes: Chefes locais, líderes e seus
representantes; os que construíram a ponte; policiais
do governo; funcionários nativos da magistratura; zulus
residentes nas proximidades
• 24 Europeus e 400 zulus
10. • Arco na extremidade sul da ponte, com guerreiro Zulu.
• Construtores, com lanças e escudos. Altos dignitários Zulus com roupas de
montaria europeias; resto dos zulus combinavam roupas europeias e
tradicionais
• Tropa de guerreiros zulus marcha pela ponte e saúda o comissário chefe
dos nativos.
• Inauguração. Hino inglês conduzido por missionário, zulus em pé e tiraram
o chapéu.
• Magistrado, discurso em inglês traduzido pelo funcionário zulu; fala do
comissário-chefe dos Nativos (primeiro em inglês depois em zulu);
representante do Departamento de Estradas; Adams, velho zulu; último
discurso do Regente Mshiyeni (Mkhize em inglês), agradece ponte para
hospital e demanda ponte na estrada principal. Anuncia doação de uma
cabeça de gado e cerimônia tradicional disposta por comissário-chefe.
11. • Comissário-chefe atravessou a ponte ao som
de cantos zulus, seguido de outros carros com
europeus e do regente.
• Europeus na barraca, chá com bolo
• Outra margem zulus matam três animais para
festa. Regente organiza e toma cerveja com
súditos (D no mapa). Envio de cerveja ao
comissário-chefe.
• Comissário chefe e europeus foram embora.
12. • Zulus dividiram-se em três grupos. Regente e
idunas; mais longe os plebeus. Cerveja e
conversa à espera da carne. Rio acima (A no
mapa), homens cortando os animais. A maior
distância missionário sueco com cristãos zulus
cantando hinos religiosos.
• Ida para a reunião em Nongoma.
• Hotel, almoço separado.
• Reunião na magistratura, 200 a 300 zulus
presentes.
13.
14. • Três tribos
– Usuthu , linhagem real, sequito e clientes do rei
zulu (hoje o regente)
– Amateni, tribo real governada pelo pai
classificatorio do rei
– Mandlakazi governados por um principe de um
ramo colateral da flia real (separados em guerras
civis depois de 1880).
15.
16. • Guerras entre facções Mandlakazi
• Permaneceu chefe Amateni (sem plebeus).
• Chegada de Mshiney levantaram-se para
saudá-lo
• Pronunciamento do chefe Mandlakazi
17. Análise da situação social
• Vários eventos, ocorridos em diferentes
partes, envolvendo diferentes grupos,
interligados pela presencia do antropólogo
como observador. Através destas situações e
de seu contraste com outras situações não
descritas, delineia a estrutura social da
Zululândia moderna. Análise envolve contexto
e outras situações no sistema social da
Zululândia.
18. • Uma situação social é o comportamento, em
algumas ocasiões, de individuo como
membros de uma comunidade, analisado e
comparado com seu comportamento em
outras ocasiões. Desta forma, a análise revela
o sistema de relações subjacentes entre a
estrutura social da comunidade, as partes da
estrutura social, o meio ambiente e a vida
fisiológica dos membros da comunidade.
• Nota de rodapé 21. Cita Fortes, Evans- Pritchard e
Malinowski como referência sobre o significado
sociológico de situações sociais.
19. • Zulus e Europeus cooperaram na inauguração
da ponte. Mostra que formam uma única
comunidade com modos específicos de
relacionamento. Ponto de partida deve ser
uma única comunidade branco-africana e não
o contato cultural.
• Ponte: Engenheiros europeus, trabalhadores
zulus, usada por magistrado europeu
governando os zulus e por mulheres zulus
rumo ao hospital. Inaugurada por funcionarios
europeus e pelo regente zulu, numa
cerimônia híbrida (européia com
componentes zulus).
20. • Motivos e interesses diferentes que causaram
a presença dos diversos atores
– Magistrado local
– Comissário chefe dos nativos
– Europeus
– Veterinário do governo e antropólogo
– Esposas dos europeus (poucas esposas dos Zulus
cristãos).
21. • Zulus
– Regente
– Escrivão zulu e polícia governamental
– Chefe e idunas locais
– Trabalhadores zulus
– Público em geral
22. • Para zulus era um evento local, europeus
mobilidade maior.
• Magistrado local – prestígio e cerimônia
– Cerimônia com padrões europeus e elementos
zulus.
– Representante do governo com formação
europeia e contato com cultura zulu
– Fez como representante do governo.
– Teve o poder para organizá-la dentro dos limites
de certas tradições sociais e pôde fazer inovações
de acordo a condições locais.
– Ações não planejadas.
23. • Os presentes na cerimônia divididos em dois
grupos raciais. Relação marcada por por
separação e reserva. Não se confrontam em
situação de igualdade. Separação é também
forma indireta de associação.
• Na zululândia um africano nunca poderá
transformar-se em um branco. Para os
brancos esta separação é um valor
dominante.
24. • Zulus separados em dois grupos, Unidos na
celebração de um assunto de interesse
comum.
• Relações freqüentemente marcadas por
hostilidade e conflito.
• Grupos com status diferentes (brancos e
zulus)
– Posição dominante dos europeus
– Inter-relação
• Separação
• Conflito
• Cooperação
25. • Governo detém a autoridade suprema da
força, da penalidade, do aprisionamento.
• Governo funções judiciais, administrativas e
ambientais.
• Zulus que ocupam posições governamentais
– Dever em relação ao governo, manter a ordem.
Comissário chefe/regente
26. • Zulus interligados com brancos no aspecto
econômico, como trabalhadores não
qualificados.
• Zulus dependem do dinheiro
• Integração econômico num sistema industrial
e agrícola.
– Fluxo dos trabalhadores (1/3 ausente).
– Organizados pelos empregadores
– Agrupamentos por parentesco e identidade tribal
• Zulus / Bantus
– Autoridade no trabalho separada de autoridade
tradicional (no trabalho autoridades brancas)
27. • Chefe zulu não tem palavra em assuntos que
envolvam zulus e brancos.
• Governo, manter e controlar o fluxo de mão de obra
( e evitar que se fixem nas cidades).
• Desenvolvimento da reserva como secundário
• Contradição com êxito de leilões de gado.
• Contradições da estrutura.
• Sindicatos (pouca colaboração entre Africanos e
brancos)
• A oposição africana à dominação européia, liderada
por capitalistas e trabalhadores qualificados, está
começando a se expressar na Indústria
• Lealdade tribal vs lealdade sindical
28. • Oposição zulu ao domínio europeu se
expressa também em organizações religiosas.
• Estratificação da organização do trabalho
(capitalistas, trabalhadores qualificados/
camponeses, trabalhadores não qualificados;
corte racial).
• Línguas diferentes
• Modos de vida e costumes diferentes, valores
e organização social.
• Situações de cooperação (cerimônia).
• Base material de diferenciação e cooperação
29. • Ambientes sociais especiais: missão, hospital,
centros de treinamento.
• Separação sexual
• Relações pessoais no trabalho (castigos e
exploração, memória seletiva).
• Divisão entre pagãos e cristãos entre os Zulus,
cisão não é absoluta, laços de parentesco, cor,
aliança política e cultura.
30. • Divisões sociais entre os zulus
• Trabalho asalariado/subsistência
• Trabalho para o governo
• Cristãos (escolas e hospitais)
• Zulus associados a brancos
• Divisões em tribos
• Regente
• Tribos hostis entre sim, mesma nação frente a
outros. Relação com Bantu em oposição ais
brancos.
• Apoio ao governo na Guerra
31. • Sítios habitados por um grupo de agnatas com
suas esposas e filhos.
• Grande parte da vida dispendida nos
agrupamentos com parentes e vizinhos.
Tensões, acusações de bruxaria
• Laços de parentesco
• Novos costumes cristãos estão enfraquecendo
o parentesco.
• Contraste entre inauguração (cooperação),
com fazendas e cidades (conflito)
32. • Relações entre europeios funcionarios da
reserva e zulus (ligados pela rutina da
admnistração)
– A favor dos zulus frente a outros brancos, contudo
unem-se contra o grupo africano quando agem
como membros do grupo branco em oposição aos
africanos
• Missionários “protegem” os zulus dos brancos
e ao mesmo tempo os tornam mais dispostos
a aceitarem valores europeus.
33. • Funcionamento da estrutura social em termos de
relações entre grupos, indicando algumas
complexidades que permeiam essas relações.
• Pessoas podem pertencer a inúmeros grupos, em
oposição ou unidos em diferentes situações.
• Comportamento dos indivíduos
• Grupos principais, divididos em grupos subsidiarios,
formalizados e não formalizados, sendo que de
acordo com interesses, valores e motivos
determinam seu comportamento em situações
diferentes, o individuo modifica sua participação
nesses grupos.
34. • Através da comparação de inúmeras situações
seremos capazes de delinear o equilibro da estrutura
social de Zululândia em um certo período de tempo.
A hegemonia do grupo branco é o fator social
principal na manutenção deste equilibro.
• As mudanças de participação nos grupos em
situações diferentes revela o funcionamento da
estrutura, pois a a participação do indivíduo e
determinada pelos motivos e valores. Os mesmos
podem ser contraditórios.
35. • As contradições transformam-se em conflitos na
medida em que a frequência e importância relativa
das diferentes situações aumentam no
funcionamento das organizações.
• Relações que envolvem africanos e brancos estão
tornando-se dominantes
• Um número cada vez menor de zulus está se
comportando como membro do grupo africano em
oposição ao grupo branco. Esta situação afeta as
relações entre africanos.
36. • Influências de valores e grupos diferentes
produzem conflitos na personalidade do
indivíduo zulu e da estrutura social de
Zululândia. Estes conflitos fazem parte da
estrutura social.
• Estes conflitos imanentes no interior da
estrutura de Zululândia irão a desencadear
seu futuro desenvolvimento.