Este documento é um resumo de uma novela futurista chamada "Cidade dos Espelhos". A história segue três personagens, Caia, Laissne e Jeremias, que correm pela cidade estranha escapando de pessoas estranhas. Um deles é preso e torturado, mas suas palavras se tornam incompreensíveis sob a tortura. A cidade é descrita como um lugar misterioso com árvores de plástico e edifícios estranhos.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
Análise da 'Cidade dos Espelhos', uma novela futurista de João Paulo Borges Coelho
1. Literatas
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Literatas
Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 30 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 08 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz
“Cidades dos espelhos”
uma
Novela
Futurista
11 respostas
iNspiradoras
de mia Couto Discurso Directo páginas. 6 e 7
Brasilidades Africanas
Segunda-feira abertura dos eventos - DEBATE
Tema: Arte, Educação e Política: movimentos em cena.
Horário: 17:30H
Local: Centro Cultural Brasil Moçambique - Maputo
2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555
Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2
Em primEira
“Cidade dos Espelhos”
uma “Novela Futurista” de João Paulo Borges Coelho a ser lançada nesta quinta-feira as 18:00 horas no instituto Camões em Maputo
LuíS CARLOS PATRAQuiM - O PAíS Então bioy Casares – prossegue borges – recordou que um
dos heresiarcas de Uqbar havia declarado que os espelhos e
como são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos
e mais casos semelhantes”. a catástrofe introduz a perturba-
a cópula eram abomináveis, porque multiplicam o número ção que prenuncia o desfecho, ou o desenlace. “o messias está
DEixEmos DE lado a blague, para despistar, sobre a novela dos homens”. também podia ir-se pela mão de alice, mas exangue – escreve o narrador – sem condições para prosseguir
futurista, sub-título do autor a esta sua e nossa, por mérito deixemos Carroll e a sua dama de copas. o encantamento do mundo. a multidão murmura, relutante em
dele, “Cidade dos Espelhos” porQUE tUDo tem um começo, arregalamos os olhos, dispersar.”
No priNCípio é a estranheza. Deixemos de lado a blague, semi-cerramo-los, névoas e brilhos sucedem-se ante o DEsCoNFio QUE, no meio dela, anónimo e discreto, um certo
para despistar, sobre a novela futurista, sub-título do autor insólito atentado às portas do templo. é noite, uma noite poeta, tendo assistido ao julgamento dos personagens, percorrida
a esta sua e nossa, por mérito dele, “Cidade dos Espelhos”. depois daquela, a antiquíssima, e deparamo-nos com o mais a avenida Louise, constatado um inusitado frémito nas estátuas
Como nos ensinou sherlock Holmes, as primeiras evidên- insólito atentado. o autor descreve-o com alguma minúcia: perfiladas, escutado o “lamento sincopado das chapas ondula-
cias são, a mais das vezes, o engodo para a fulguração final umas bolinhas, que parecem de sabão, umas seringas e das”, percebida a seiva inquieta por dentro das árvores sintéticas
da razão omnisciente que, sob a trama de enganos, falsas uma espécie de gosma, venenosa, presumimos, que três da cidade alta, esse certo poeta com uma ideia de prosa, preferiu,
pistas, equívocos, repõe a ordem de um percurso, apazigua bradas – Caia, Laissone e Jeremias – sopram com uma cana. apesar de tudo apiedar-se da “cidade dos espelhos”. “por isso
a intencional e prazeirosa perturba- – condescende – ela ficará
ção de um mundo. saudoso opti- em suspenso, perdida neste
mismo positivista que a incerteza jogo de reflexos, enquanto
apartou do nosso convívio. das falhas das paredes e
sobrE os futurismos, russo, italiano dos passeios, dos frisos dos
à la marineti, que custeou a sua pub- edifícios e dos castigados
licação como publicidade redigida olhos das estátuas, não
nas páginas do Figaro, à solitária rebentarem novas ervas e
aventura dos poetas do orpheu, destas surgirem as sement-
ficamos conversados. maiakovski es de futuros personagens
sucumbe aos seus banhos; marineti marchando lentamente em
veste a camisa negra, e os poetas de procissão até ao templo das
orpheu, de ouvido em concha para colunas, com as suas cores
o ranger das máquinas quase inex- e os seus rumores”.
istentes no país das uvas e estáticos ELE é a criança neoténia, a
ante a dromologia em slow motion, pedamorfose, de que fala
deambulam pelos cafés da baixa, Giorgio agamben, “a que
fazem painéis, bravatas, sacodem pode dar atenção àquilo
a poeira e o cisco da Casa do ser. Que às vezes é um gal- terrorismo bacteriológico mas executado como se de uma que não está escrito”. E prossegue: “a cultura e a espiritualidade
inheiro. brincadeira de crianças se tratasse. Em banda desenhada, genuína são aquelas que não esquecem esta originária vocação
mas é nessa sub-titulada designação que se revela a com recorte ao fundo das colunas em sombra, veríamos a infantil da linguagem humana, enquanto uma cultura degra-
primeira subtil ironia de João paulo borges Coelho. se ele silhueta dos três da vida airada com as canas em pose e as dada caracteriza-se por tentar imitar um gérmen natural para
fosse americano e andasse de casaco à banda pelos pubs bolinhas flanando – brilhantes ou brilhiosas, como preferi- transmitir valores imortais e codificados. (…) Em qualquer parte
de Greenwich Village, lia-se este livro e dizia-se: ora aqui rem – em contraste com o escuro do mistério e o balão de nós o distraído rapazinho neoténico continua o seu jogo real.
está, o gajo está meio gótico, não te parece? ou então encimando o quadro com a onomatopeia “floc! floc!”. é isto (…) só no dia em que essa originária não-latência infantil fosse
convocava-se o ray bradbury: há uma poética; não, não se uma novela futurista? verdadeiramente, vertiginosamente, assumida como tal, em que
trata da particular ficção científica do autor de Farenheit e E QUE cidade! reduzida a si, sem topónimo, com uma parte alta, se recuperasse o tempo e o menino aíon fosse distraído do seu
das Crónicas marcianas, mas é amazing, meu, andar pela uma parte baixa, um subúrbio com paredes de chapas ondula- jogo, os homens poderiam construir uma história e uma língua
avenida Louise – um achado! – e afagar aquelas árvores das, ferinas, segundo o narrador. Um subúrbio assim descrito: “os universais, já não diferíveis, e pôr fim à sua errância nas tradições.
de plástico, pressentir as aves agoirentas, imaginar a insól- escanzelados candeeiros públicos delimitam no seu pé (o pé de Este autêntico apelo da humanidade em relação ao soma infantil
ita casa cor de mostarda. será literatura fantástica? E as Laissone) pequenas ilhas de luz sobre as quais esvoaçam, enlouque- tem um nome: o pensamento, ou seja, a política”.
aves agoirentas? E o “areóstato negro com as insígnias da cidos, os insectos”.E, como se não bastasse, há ainda o som de mas as crianças brincam e podem ser cruéis. Deste originalíssimo
república” que se desinfla e se estatela sobre os subúrbios? um trompete. é nesta triangulação de percursos, com a sempre livro de João paulo borges Coelho, onde o puro jogo de muitos
será o colibri uma variação do corvo de Edgar allen poe? o omnipresente avenida Louise – um achado, volto repetir – que as sinais mescla-se com a ironia, terna é ela, onde na rarefacção que
mar de sargaços, um dos capítulos, será uma homenagem três personagens correm, fogem, deparam-se com gente estranha o perpassa, a memória institui-se como ágon, e percebe-se uma
ao reggae, uma alusão corsária, uma ondulada e ondulante – não propriamente zombies – mas algo excêntricas, no sentido visualidade que a arte da escrita nos oferece, entre a imobilidade
meditação pós-colonial, uma paráfrase a Jane rhys? etimológico da palavra: avós desfiando o tempo, uma indefinida misteriosa de certos quadros de paul Delvaux e a convulsão inte-
DEVo DizEr que não pretendo ter uma resposta nem julgo baba tecida agora de vazios, meninas e generais à varanda da sua rior da Cathédral Engloutie, de Débussy, deste livro pode-se dizer
interessante essa cómoda classificação por géneros ou obra de plástico. Caia, Laissne, Jeremias, são a única mobilidade que é um dos mais originais da literatura moçambicana.
atmosferas de alguma moda. acossada. E correm. Quando um deles é aprisionado e tropeça razão tEm Nazir Can quando observa que “ a chegada de JpbC
EstE LiVro está cheio de sinais, de pontilhados exercícios na palavra – para confessar, claro – a palavra é violentada. a pala- produz um saudável abalo no universo literário moçambicano.
de crueldade, a do mundo rarefeito onde estas persona- vra não é da ordem da conotação. Querem-na confessional. o Estamos certos que a sua escrita, como ocorre com todos os
gens se movem. alcandorado na irrevogável exigência de acontecimento tinha de ser com Jeremias. Ele faz, para si o filme tremores, marcará uma época”.
se demarcar de todas as antinomias, redutoras, enganosas, breve da sua vida, mas, escreve o narrador, os torcionários “queriam
e alheio aos marcadores genéticos a que o câanon obriga dele uma torrente de palavras dóceis, que se dissolvessem numa o aUtor que me perdoe por citar e falar, não de livros e seus
para a jubilação identitária – moçambicaníssima, já se vê certa lógica, mas o que o prisioneiro lhes entrega são palavras que fazedores, mas, seguindo na esteira deste seu entusiástico e
- João paulo borges Coelho prefere a cegueira dos sábios. engolem o acto, o transformam em algo que já não é acto mas competente estudioso, o inclua onde ele, afinal, também está.
No cabo do texto, avesso aos muitos ventos da História, uma qualquer delirante construção”. “metáforas?”, pergunta ele, e João paULo borges Coelho é hoje dono de uma obra que,
conhecedor dela como é por ofício civil, olha o farol que, a inquirição é-nos devolvida. Começamos a coçar a cabeça. arre!, como afirma Nazir Can, “faz da relativização ou mesmo
como dizia sebastião alba, “há séculos /que emite/ sinais exclamariam, num certo antigamente da vida, os desaparecidos da desmistificação de toda a certeza, principalmente das
indecifráveis”. percebê-los, adivinhar-lhes ou inventar-lhes velhos de uma certa cidade que conhecemos. mas Jeremias faz certezas históricas e causas ideológicas de sentido único,
sentidos, vem sendo a empresa do autor de “as Visitas como bartleby, embora o seu “preferia não… “ seja de outra ordem, a sua pedra angular. Esta opção, de resto, permite ao autor
do Dr. Valdez”, desses majestosos setentrião e meridião porque impossível. Então, os “fragmentos de que falava – observa projectar um olhar novo sobre a História de moçambique,
onde um mesmo rio os une, masculino e feminino, como o narrador – são agora esquírolas que tomam conta das palavras, um olhar que transcende a fácil dicotomia (entre “bons” e
exemplarmente nos ensinou. e as palavras são só letras soltas e sangue e guinchos e dentes e “maus”, “colonizadores” e “colonizados”) e que, simultanea-
“CiDaDE Dos Espelhos”. Côncavos? Convexos? Jogo de baba que excitam os torturadores, e por fim uma massa amorfa mente, evita a facilidade do “indiferenciado no diverso”.
intersecções de reflectidas imagens, floresta de enganos que flui devagar pelas comissuras dos lábios desfraldados, sem Finalmente, JpbC consegue encontrar um caminho original
ou caminhos da floresta, os de Heidegger, recolhido na sua que seja necessário empurrá-la. Um cálido magma, quando muito para desenvolver a sua escrita, sem ter que passar pelo
cabana depois da queda? Jogo e tensão do desejo como um espaço mastigável”. filtro de justificações normalmente exigidas ao escritor
na sequência da Dama de xangai, com um orson Welles GraVE CirCUNstâNCia nesta cidade futurada, a agrilhoada ou africano: porta-voz autorizado do lugar; missão social e
à procura da sua rita Hayworth? os espelhos…. Em tlon, conspurcada condição das palavras. talvez seja por isso que o som compromisso político, que sustentam e outorgam sentido
Uqbar, orbis tertius, de Jorge Luís borges fala-se deles. do trompete acentua a melancolia dos seres, enovelados numa à sua vida literária, etc.
“Devo à conjugação de um espelho e de uma enciclopédia espécie de tempo aracnídio, onde há encarquilhadas mãos como paraFrasEaNDo rimbaUD, é na liberdade livre que está
a descoberta de Uqbar”, confessa o autor de ficções, onde o raízes expostas segurando o fio, um fio de ariadne que, suspeita-se, o compromisso do autor de “Cidade dos Espelhos”. só me
texto se inclui. Estava o argentino com o amigo bioy Casa- se perdeu. resta saudá-lo com admiração e amizade. E convidar-vos
res. “Do fundo remoto do corredor, espreitava-nos o espe- Não obstaNtE as vestes ditas futuristas, há nesta “Cidade dos à leitura
lho. Descobrimos (a altas horas da noite esta descoberta Espelhos” a dimensão da catástrofe tal como a define aristóteles
é inevitável) que os espelhos têm algo de monstruoso. na sua “poética”. Cuja, consistia “numa acção perniciosa e dolorosa,
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Em primEira
Ungulani Ba Ka Khosa:
A África que o Brasil não conhece
ADELTO GONçALvES - BRASiL Couto, suleiman Cassamo e Ungulani ba Ka Khosa”, de Chris-
toph oesters, doutor pela Universidade de Utrecht, Holanda, nial, como foi feito no período
i com a tese “Figuras do outro: identidades pós-coloniais no
Enquanto as universidades e editoras portuguesas e romance moçambicano contemporâneo” (2005). pós-independência (1975). “Em
brasileiras, praticamente, só estudam e publicam autores os demais ensaios são de ana mafalda Leite, professora
africanos lusodescendentes – com as exceções de praxe, de Literatura africana Lusófona da Universidade de Lisboa, vez disso, dedica-se muito mais a
na área editorial, como a Editorial Caminho, de Lisboa, antónio belchior Vaz martins, autor de teoria e práticas de
que tem tradição na área –, pouco se lê sobre romancistas, análise da Narrativa: as mitologias apocalípticas e Ualalapi uma representação de Ngungun-
contistas e poetas africanos autóctones ou mestiços que de Ungulani ba Ka Khosa (2004), Daniela Neves Lima, profes-
utilizam a Língua portuguesa como meio de expressão. E, sora da pontifícia Universidade Católica (pUC), de belo Hori- hane que corresponde à realidade
no entanto, em poucos anos, se a Língua portuguesa – a zonte, e Ebenezer adedeji omoteso, coordenador de Estudos
língua do invasor e do colonizador – quiser sobreviver no portugueses no Departamento de Línguas Estrangeiras da histórica, mostrando a imagem
continente africano – e com ela todo o legado lusófono –, Universidade obafemi awolowo, da Nigéria.
será mesmo dos autores autóctones que dependerá. além da introdução “Quem tem medo de Ungulani ba de um tirano cruel em relação
Esse incompreensível silêncio – que reflete, pelo lado Ka Khosa?”, de Niyi afolabi, igualmente traduzida para o por-
português, segundo o professor patrick Chabal, do King´s tuguês, há estudos de Jared banks, doutor em Línguas e Lit- a outros povos africanos, mas
College de Londres, certa saudade colonialista ainda não eraturas africanas pela Universidade de Wisconsin-madison,
superada e, pelo lado brasileiro, descomunal desconheci- Gilberto matusse, professor do Departamento de Lingüística também para com seu próprio
mento em relação a assuntos africanos – é o que explica e Literatura da Universidade Eduardo mondlane, de maputo,
que um livro como Emerging perspectives on Ungulani ba anne sletsjoe, professora de Literatura portuguesa da Uni- povo”, diz Oesters.
Ka Khosa: prophet, trickster, and provacateur, preparado versidade de oslo, Noruega, sophia beal, doutoranda em oesters observa que o “outro” na obra de Khosa
pelo professor Niyi afolabi, ainda não tenha sido editado Estudos portugueses e brasileiros pela Universidade brown, aparece na forma dos “brancos, do outro lado do mar”,
no brasil nem em portugal. E que, para lê-lo, tenhamos de EUa, sunday bamisile, doutorando em Literatura Comparada mas em breves referências. Numa delas, refere-se à morte
recorrer à edição da africa press World pres, inc., com sede pela Universidade de Lisboa, e do próprio organizador do de Ngungunhane no exílio “em roupas que sempre rejeit-
em trenton, New Jersey, EUa, e em asmara, na Eritreia, país volume. ara e no meio da gente da cor do cabrito esfolado que
do Nordeste da África, antiga colônia italiana, às margens iii muito se espantara por ver um preto”.
do mar Vermelho, que se separou da Etiópia em 1991. iV
pouco conhecido do público-leitor brasileiro, Khosa Como se vê por aqui, Khosa é Já Nataniel Ngomane, em seu ensaio, faz um
(1957) não teve até hoje obra publicada no brasil, mas paralelo entre a obra de Khosa e a dos autores latino-
esteve em são paulo em novembro de 2010 para partici- um autor já largamente estudado americanos do boom, a partir da constatação de que as
par de um encontro na Casa das Áfricas e de um debate culturas de ambos os lados são historicamente mestiças,
na biblioteca de são paulo sobre “o negro na literatura por críticos de outras línguas. E que “como produto do contato entre elementos indígenas
internacional”, que teve a mediação de Carmen Lucia tindó – em si já bastante diversificados –, africanos e aluviões
secco, doutora em Literatura brasileira e professora de há muito já deveria ter sido editado imigratórios europeus e asiáticos, na américa Latina,
Literaturas africanas na Universidade Federal do rio de e de elementos indígenas – não menos diversificados
Janeiro (UFrJ). no Brasil. Aliás, desde o seu primeiro que aqueles –, árabes, asiáticos e europeus em moçam-
trata-se de um dos mais importantes autores moçam- bique”.
bicanos de sua geração, ganhador do prêmio José Caveir- livro, Ualalapi, romance histórico e Ngomane ressalta que essa situação vem sendo
inha de 2007 por seu livro os sobreviventes da Noite. outro explorada por narrativas como as de Khosa e de mia
galardão que atesta a qualidade de sua obra é o Grande primeira obra de ficção que se dedica Couto que, “no intuito de representar a conjugação dos
prêmio de Literatura moçambicana de 1990 por Ualalapi, imaginários e atitudes aí presentes, acabam por con-
que foi assinalado como um dos cem melhores livros africa- exclusivamente ao passado colonial de figurar processos culturais diversos”. para tanto, vale-se
nos do século xx. No brasil, Khosa já havia estado em 1987 da já clássica obra Contrapunteo cubano del tabaco y el
para participar do lançamento da antologia sonha mamana Moçambique e conta a ascensão de azúcar (Havana: Letras Cubanas, 1991), de Fernando ortiz
africa, preparada pela professora e jornalista Cremilda (1881-1969), publicada pela primeira vez em 1940, tão
medina de araújo, da Universidade de são paulo (Usp). Ngungunhane, imperador de Gaza, estudada no Departamento de Letras modernas da Usp,
Nascido em inhaminga, província de sofala, Ungulani ba mas que, incompreensivelmente, ainda está à espera de
Ka Khosa é o nome tsonga – grupo étnico do sul de moçambique famoso pela resistência que opôs aos publicação por editora brasileira.
– de Francisco Esaú Cossa, bacharel em História e Geografia pela Ngomane ressalta que, além de utilizar termos de
Faculdade de Educação da Universidade Eduardo mondlane, de portugueses ao final do século XIX, origem bantu, “desconhecidos da maioria dos leitores
maputo, professor de carreira e atual diretor do instituto Nacional em português, Khosa incorpora em sua linguagem a
do Livro e do Disco, de moçambique. Khosa também exerceu até o fim de seu império. descrição de universos culturais a que esses termos se vin-
a função de diretor-adjunto do instituto Nacional de Cinema e culam”. ou seja, Khosa salpica seu texto com expressões
audiovisual de moçambique, participando na elaboração de Como observa Oesters, o verbais de origem bantu, mas o faz de uma maneira mais
roteiros e jornais cinematográficos. Filho de pais enfermeiros, palatável ao leitor, explicando os termos no próprio texto,
Khosa completou os estudos secundários na zambézia e tornou- livro é construído a partir de frag- sem recorrer a um glossário no final do livro ou a notas
se professor em 1978. de rodapé.
é autor de seis livros, Ualalapi (1987), orgia dos Loucos (1990), mentos históricos, comentários de V
Histórias de amor e Espanto (1993), No reino dos abutres (2001), obviamente, ninguém é contra que professores de
os sobreviventes da Noite(2005) e Choriro (2009). Co-fundador oficiais portugueses envolvidos na outros mundos não lusófonos se preocupem em estudar
da revista literária Charrua, na década de 90, tem escrito crônicas as literaturas africanas de expressão portuguesa. pelo
e artigos para vários jornais africanos. membro da associação dos campanha contra o líder africano. contrário. o que se lamenta é que tanto em portugal
Escritores moçambicanos, recebeu ainda o prêmio Gazeta de como no brasil se dê tão pouco espaço aos escritores afri-
Ficção Narrativa (1988), além de ter sido homenageado em 2003 São seis contos que acabam por canos autóctones que se utilizam da língua portuguesa.
pela Comunidade dos países de Língua portuguesa (CpLp). até porque, como observa perpétua Gonçalves em por-
ii reconstituir na imaginação episó- tuguês de moçambique: uma variedade em formação
Essa vasta obra justifica o livro que Niyi afolabi, (maputo: Livraria Universitária e Faculdade de Letras da
doutor em Estudos africanos e portugueses pela Univer- dios daquele período, formando um UEm, 1996), citada por Nataniel Ngomane, só uma mino-
sidade de Wisconsin-madison e professor de Literaturas ria em moçambique que teve acesso à escola (25%) e que
brasileira, ioruba e de Estudos da Diáspora africana da romance. O importante, porém, habita nos centros urbanos (17%) fala português.
Universidade do texas, de austin, EUa, preparou, reunindo Como o país é formado por muitas nações e 95%
quinze ensaios escritos por estudiosos de várias partes do é que, ao contrário do que comu- da população têm como língua materna uma língua
mundo, além de entrevistas e excertos de textos do autor. bantu, por enquanto, o português serve como uma
Na maioria, os textos estão em inglês – inclusive, excertos mente se pode imaginar, o livro não espécie de tertius(neutro) para a língua oficial, já que, se
dos livros –, mas há seis ensaios em português. um grupo étnico local quiser impor a sua língua como
Entre esses, destacam-se “transculturação e repre- apresenta Ngungunhane como um a predominante, com certeza, irá causar insatisfação
sentatividade lingüística em Ungulani ba Ka Khosa: um entre os demais. mas, se portugal e brasil continuarem de
comparatismo da solidariedade”, de Nataniel Ngomane, “grande líder” nem se preocupa em costas viradas para a África, não será difícil que Camões
professor do Departamento de Lingüística e Literatura da (c.1524-1580) seja substituído por shakespeare (1564-
Universidade Eduardo mondlane, de maputo, doutor em relatar seus possíveis feitos históricos 1616) em pouco tempo. até porque a África do sul é logo
Letras pela Universidade de são paulo (Usp), e “o outro na ali. Depois, não digam que ninguém avisou
representação da identidade nacional nas obras de mia contra a violência do domínio colo-
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Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 LiTERATuRA MOçAMBiCANA 4
Gulamo Khan
MOçAMBiCANTO i
GuLAMO KhAN
Nascido em maputo aos 11 de maio de 1952,
Gulamo Khan foi um escritor e jornalista
moçambicano.
XiTiMELA Céleres as águas
Gulamo Khan foi locutor e jornalista na rádio GuLAMO KhAN zambezeiam pela memória
Clube de moçambique e adido de imprensa das almadias do silêncio
do presidente da república de moçambique,
samora machel. morreu no acidente de avia- nem o zumbido da cigarra
ção que também vitimou o presidente no dia para alexandre Langa me entontece
19 de outubro de 1986 em mbuzini (montes
Libombos. nem o troar do tambor
me ensurdece
Como literato, destacou-se pela idealização e neste xitimela nosso comboio da vida
realização, juntamente com o escritor Calane que nos faz meninos de ontem as vozes que são
da silva, dos msahos – encontros de decla- pensar hoje vamos não só à manhiça sulcos das nossas esperanças
mação de poesia a um sábado de cada mês mais longe vamos meu amigo
no correcto do Jardim tudunro na capital espera ver no diesel do teu peito oh pátria
moçambicana. a força motriz que sopra moçambiquero-te
as mais belas ngomas deste moçambicano neste alumbramento
Depois da sua morte foi publicado o livro e diz ao povo como sabes e amar-te
moçambicanto, com uma recolha dos seus que xitimela da vida é da gente devo-o à carne e ao nervo
textos organizada por albino magaia, Calane e faz poh poh poh num apeadeiro livre. deglutidos em revolta.
da silva, José Craveirinha e Júlio Navarro.
o livro foi editado na colecção timbila da
associação dos Escritores moçambicanos.
Hélder Muteia PRESENçA
héLDER MuTEiA
NÓS E O DESTiNO sou dos que ainda estão presentes
héLDER MuTEiA e bebem do amor a única ausência.
ao patraquim
o tempo sacode na areia o musgo dos pés
no plasma do orvalho lava o rancor das mãos, Quantos pedaços de mentira
somos pó e pólvora na combustão da História
medimos aos milhões o fragor de cada acto consumado retenho na viscosidade do meu cuspo?
e entre nós e o destino vai um palmo de esperança Escritor e político moçambicano, Hélder dos santos Félix mon-
que por sorte marcha a pé. teiro muteia, nasceu a 21 de setembro de 1960, em Quelimane,
na província de zambézia, moçambique.
é o silêncio o mártir predilecto desse gesto após a realização dos seus estudos secundários na sua cidade Quantas verdades apaixonadas
quando a fome não satisfaz a míngua da boca natal, concluiu o curso de agropecuária do instituto agrário de
e as migalhas fermentam o cuspo de cada um Chimoio, em 1981, começando a trabalhar, no ano seguinte, reclamam ansiosas o esperma das palavras?
pois é então cruel o nosso grito inevitável como codiretor do projeto avícola do Chokwe, na província de
e ardem em brasa os braços cálidos de vontade. Gaza. Entre 1983 e 1988, exerceu as funções de subchefe da
pateira da matola, na província de maputo, e de chefe do Depar-
No mesmo chão em que brindamos os sacrifícios tamento técnico da avícola de maputo, de 1989 a 1990. Foi, Nenhumas, talvez, nenhumas…
cremos ter semeado a sílaba mágica nesse ano, que obteve a licenciatura em medicina Veterinária
dessa oração de manter a mão de outro irmão pela Universidade de Eduardo mondlane, em maputo. Em 1997, escravizo o silêncio
lacrada à nossa; tornou-se Diretor Nacional no Centro de Formação agrária e
e só na hora de adorar o luar e os batuques frenéticos Desenvolvimento rural, em 1998, foi designado vice-ministro e faço dele o meu mensageiro.
nos desfazemos em êxtase da agricultura e pescas e, em 2000, foi nomeado ministro da
triturando o mesmo pó de que somos feitos agricultura e Desenvolvimento rural. a nível político, foi ainda
deputado, entre 1994 e 1999, pelo círculo eleitoral de zambézia,
na assembleia da república, em representação da FrELimo. Estou presente em tudo ou mais
Como escritor, escreveu diversas crónicas e artigos para
a imprensa, como em Notícias da beira, Charrua, Diário de e aí onde me procurarem
moçambique, Eco, tempo, Lótus, Forja, entre outros órgãos de
comunicação. Vários dos seus trabalhos literários estão incluí- será a minha próxima ausência
dos em antologias nacionais e estrangeiras, tais como Contos
moçambicanos ou sonha mamana África. publicou os livros
Verdade dos mitos (1988), Nhambaro (1996). Desde 1984, faz
parte da associação dos Escritores moçambicanos da qual foi
secretário-geral (1992-1996) e presidente do Conselho Fiscal
(1996-1999)
FICHA TÉCNICA
Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 *
Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz
Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br)
Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
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Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 CRÓNiCA / CONTO 5
CARTOGRAFiA DO FiLosoFonias rapsódicas
ECOAR E DO MiAR MARCELO SORiANO - BRASiL
m.m.soriano@gmail.com
DO COuTO Ou COMO Nota preliminar: Antes de
prosseguir com este artigo,
viAJAR COM AS 24 (C) lembro ao leitor que me dirijo à
CPLP (Comunidade dos Países
OBRAS DO MiA COuTO de Língua Portuguesa), portanto,
podemos encontrar gerúndios,
futuros do pretérito, expressões
AMOSSE MuCAvELE- MAPuTO etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros.
Sobre a nossa a Terra disse que ela é Sonâmbula: com muita razão, Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas
sabem porquê? para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós.
-Porque ela não dorme fica dias e noites de mãos estendidas ao Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011.
exterior a pedir esmola.
Amigos, num país visto como pobre os dirigentes são tão ricos!
trocam de carros de luxo e gozam de mordomias , mas não tem nem 1. BrevIárIo ÉBrIo
se quer um livro na cabeça.(preocupante não é)
Por isso que digo as nossas elites são incultas (vendem a nossa terra
a 30 dinheiros) Todo o boteco tem algo de solidão coletiva.
Além de tudo que acima croniquei, vejam só o profeta deu-lhes a Decisão importante: Tomar um Rum na vida.
porção, dada a incompetência deles fizeram tudo ao contrário, deram A bebedeira é uma ética etílico-psicodélica.
os venenos ao Deus e os remédios ao Diabo, nestes últimamentes
nós o povo, encontramo-nos na berma de nenhuma estrada, sabem, Não há solidão mais bêbada que a da azeitona no Dry Martini.
sem onde guardar as nossas súplicas, sem onde pedir clemências, O caramujo do bêbado é o barril.
pois o Senhor Deus exilou-se na terra onde reside o Homem que lhe Amigos chatos nos ensinam que devemos ser tolerantes.
salvou da morte (por envenenamento perpetrado pela nossas elites)
dando-lhe antídoto. O fundo do poço e o fundo do copo são correlatos.
Quem me dera lá estar com eles debaixo daquela Varanda do Tinham egos tão frágeis que, quando se encontravam, faziam
Frangipani, a ouvir os Contos do Nascer da Terra. tim-tim.
Do que estar nestas Cidades dos partidos políticos com idades
seculares no Governo, e onde os seus dirigentes consideram-se
Divindades.
Eu cansei de viver neste País do Queixa Andar, vou-me embora, com
um fio amarrado no pescoço (sei que Missangas não me faltarão), 2. A MorTe do reI
pelo caminho irei folhear as páginas desta Casa Chamada Terra e irei
remar contra maré deste Rio Chamado Tempo.
Chegado a Uma Terra Sem Amós, constato que algo mudou, a Imperador do chorume, Yohoy empunhou a garrafa como se fosse
aldeia cresceu, já são Vinte as Casas de madeira e Zinco. Mas ainda um cetro.
continuamos no Escuro e o Gato Abensonhado pressagia as Estórias
do velho. Moscas cingiram-lhe em coroa o tampo do crânio cabeludo. Aos
Alguém disse o velho está a morrer, o Gato não parava de tocar o borbotões, ratazanas
Ritmo do presságio: vieram do nada, roendo-lhe as raivas, carcomendo-lhe os concretos,
Retorquiu de novo-a biblioteca esta a arder. pulverizando-lhe
-E eu nos meus Pensatempos confusos, surgiu-me a seguinte a em restos... Pó de osso. Farinha da loucura... Em uma fração de
pergunta? Como hei-de o ajudar?
-Pensei na Princêsa Russa, cortei a ideia porque a neve não pode
soluços,Yohoy
extinguir as chamas, continuei neste pensaraltivo, afinei os meus transformara-se em rasa montanha. Uma duna branca de vício
Silêncios, dentro de mim uma voz uivava “Vou ficando do som das pronta para ser inalada.
pedras. Me deito mais antigo que a terra. Daqui em diante, vou O cetro caído ao lado voltou a ser mera garrafa de espumante
dormir mais quieto que a morte¹.”Pego no machado, pelo caminho
vou Traduzindo esta Chuva que molha os ramos da minha alegria, descartada.
de nada vale continuar aqui, mas, antes partir deixem-me descolar a
Raiz do Orvalho.
Alguém disse - Ah, de nada resultará. De repente as Vozes 3. MoNóLogos PósTuMos CoM QuINTANA - PArTe vII
Anoiteceram, era o início da Chuva Pasmada.
E agora vou me embora mesmo “a procura da outra Pátria esta não
me pertence²”, pois O Mar Me Quer, é no mar onde vou pescar “ Se um poeta consegue expressar a sua infelicidade com toda a felicidade,
o meu sonho de se tornar noutro Pé da Sereia, caso não consiga como é que poderá ser infeliz?”
concretizar este meu sonho, procurarei outra maneira de partir, Mário Quintana
assim sendo tornar-me-ei no Pensageiro Frequente deste Último
Voo do Flamengo que me levará até a Jesusalém.
Eu a ele: Eis-me ali... Sob os olhos da Górgona interior... Ante
gLossárIo o Evangelho das
Divagações... Enfim só... Perplexo... Por instantes, letrificado
1-Mia Couto in A Varanda do Fragipani para todo o sempre no
2-Celso Manguana in Pàtria Que Pariu meu papel vazio...
3-todas palavras a negrito fazem parte do acervo bibliográfico do
autor acima referido -Princêsa Russa conto que faz parte do livro Ele a mim: Amanhã nosso dia recomeçará, com o nome de ‘Todo
Cada Homem é Uma Raça. E outros livros o Santo Dia’...
-No meu País tem um provérbio que diz - um velho que morre é Repovoado por recantos, releituras, ressalvas... E
uma biblioteca que arde. repassarinhos...
-O gato e o escuro, Cronicando
- Estórias abensonhadas
-O fio das Missangas,....e outros ficam sob alçada do leitor,
beijooooos
(3.) CoNTINuA NA PróxIMA edIção..
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- discurso dirEcto
Situação de Leitura: Moçambique e Brasil
com mesmos problemas
FONTE: EDuCAR PARA CERSCER - BRASiL aquela que lê e compra livros, veremos que a situação é mas que era o assassino mais simpático que eu podia encon-
proporcional à de moçambique. trar.
E sE você tivesse a oportunidade de entrevistar um escritor? isso é para mostrar como construímos a imagem uns dos
pois os alunos do 3º ano do Ensino médio do Colégio são Luís, 3 – o que os escritores fazem para promover o livro em outros. a imagem que se tem da África fora da África é
em são paulo, tiveram. E não foi um escritor qualquer. Há duas moçambique? sempre associada à fome, à miséria, à guerra. mas os africa-
semanas, os adolescentes estiveram com o moçambicano a assoCiação de Escritores de moçambique faz encon- nos não vivem todos assim. Eles são felizes, são construtores
mia Couto no auditório da escola. Em quase duas horas de tros em escolas primárias e secundárias e em fábricas. E de vida, têm uma vida social riquíssima, têm culturas diver-
conversa, os meninos não se intimidaram: fizeram perguntas aí tentamos fazer alguma coisa. mas os livros estão muito sas, é o lugar no mundo onde há mais diversidade do ponto
inteligentes e não deixaram espaço para silêncios constrange- caros. é o trabalho que escritor faz, mas é uma panaceia, de vista linguístico e cultural. Então os problemas que temos
dores (a propósito, veja o que o escritor tem a dizer sobre o porque o resto não depende do escritor. são os mesmos da maior parte dos países africanos. têm a
silêncio na oitava pergunta). ver com a miséria, têm a ver com o fato de que a sua própria
EU EstiVE lá para acompanhar a entrevista e, junto com os 4 – Quais são os maiores problemas de moçambique história é muito recente. moçambique teve uma guerra
alunos, ri e me emocionei com as respostas de mia. ao final, civil de 16 anos, em que
ainda tive a chance de perguntar a ele sobre a diferença que morreram muitas pes-
a Educação fez em sua vida. Confira abaixo a entrevista e soas. Quando morre
encante-se com as histórias de mia Couto, um dos maiores uma pessoa, tanto faz
escritores africanos da atualidade. (Fiz questão de deixar as se é militar ou civil, mas
respostas na íntegra. Ficaram longas, mas valem a leitura, o que é mais triste é
garanto!) que as guerras da África
são guerras que matam
sobretudo os civis. os
1 – Você lutou pela independência de moçambique durante soldados morrem
a guerra civil. Como a sua vivência como militante da Frelimo pouco, porque muitas
(Frente de Libertação de moçambique) marcou o seu trabalho vezes se transformam
como escritor? em forças descoman-
dadas, já que não existe
marCoU DE várias maneiras. Foi um processo longo, de escol- um Estado forte e não
has, de um certo risco em um dado momento. Foi algo que há territórios defini-
me ensinou a não aceitar e a não me conformar. é a grande dos. mas a África toda
lição que tiro, que também me ajuda hoje a estar longe desse não é isso, há grandes
movimento de libertação, que se conformou e se transformou histórias de sucesso.
naquilo que era o seu próprio contrário. mas eu acredito que moçambique é ao
ser uma pessoa feliz e autônoma é uma conquista pessoal. mesmo tempo uma
Não se pode esperar que algum movimento social ou político grande história de suc-
faça isso por você. isso é algo que resulta do nosso próprio esso, porque a guerra
empenho. acabou em 1992 e,
quando eu pensava
2 – Como é ser escritor em moçambique? que nunca mais ia ver a
hoje? paz, o governo conseguiu instalar a paz juntamente com a
VoU CoNtar um pequeno episódio que pode ajudar a sociedade civil. E hoje moçambique é um grande parceiro
responder a essa questão. Um dia eu estava chegando em aNtEs DE responder à pergunta, eu vou dizer uma coisa. internacional de investimento e de outros governos. por
casa e já estava escuro, já eram umas seis da tarde. Havia um a imagem que nós temos uns dos outros é feita muito de exemplo, hoje o brasil está muito presente em moçambique,
menino sentado no muro à minha espera. clichês, de estereótipos. Vocês também têm uma imagem com projetos de construção, de estradas, portos, barra-
QuANdo CHegueI, ele se apresentou, mas estava com uma mão feita fora. a primeira vez que eu vim a são paulo, há gens etc. portanto, acho que moçambique vive hoje um
atrás das costas. Eu senti medo e a primeira coisa que pensei é alguns anos, fui protagonista de uma história engraçada. momento muito feliz. mas continua sendo um dos países
que aquele menino ia me assaltar. pareceu quase cruel pensar Quando eu estava saindo de moçambique, disseram-me mais pobres do mundo.
que no mundo que vivemos hoje nós podemos ter medo de que são paulo era perigosíssima, que havia balas perdi-
uma criança de dez anos, que era a idade daquele menino. das, gente morrendo, e eu comecei a ficar cheio de medo. 5 – Com sua obra, você conseguiu apresentar a realidade
Então ele mostrou o que estava escondendo. Era um livro, um Uma das minhas filhas me dizia até que eu ia morrer. Na de um país, e até de um continente. Como é a sua relação
livro meu. Ele mostrou o livro e disse: “Eu vim aqui devolver viagem de avião, que dura onze horas, eu vim pensando com moçambique?
uma coisa que você deve ter perdido”. Então ele explicou a que era um perigo e que eu seria assaltado. tinham me
história. dito para tomar cuidado quando chegasse ao aeroporto, EU Não me considero representante de moçambique, me
dIsse Que estava no átrio de uma escola, onde vendia amen- porque tinha saído na Globo – lá também temos Globo – considero apenas representante de mim mesmo. Eu tenho
doins, e de repente viu uma estudante entrando na escola que havia falsos táxis que raptavam as pessoas. duas dificuldades: eu sou de um continente em que os
com esse livro. Na capa do livro, havia uma foto minha e ele E, DE fato, eu já estava contaminado com aquela coisa. brancos são minoria. os brancos moçambicanos são mino-
me reconheceu. Então ele pensou: Quando cheguei, tinha um motorista da minha editora, ria. Num país de 21 milhões, os brancos são 10 ou 20 mil.
“essA MoçA roubou o livro daquele fulano”. porque como mas ele não estava usando uniforme e não tinha nen- portanto, eu não poderia ser o representante de qualquer
eu apareço na televisão, as pessoas me conhecem. Então ele huma identificação. Eu logo perguntei se ele tinha iden- coisa, se é que existe isso de representatividade. E a outra
perguntou: Esse livro que você tem não é do mia Couto?”. E tificação e ele disse: “Não, eu sou o pepe”. E foi me con- dificuldade é que eu tenho nome de mulher. agora já não
ela respondeu: “sim, é do mia Couto”. Então ele pegou o livro duzindo por um corredor e dizendo que o carro estava acontece tanto, mas antes, quando eu ia visitar um outro
da menina e fugiu. lá no fundo. E o carro não era propriamente um táxi. E país, muitas vezes estavam esperando uma mulher negra.
a ideia de que eu estava sendo raptado começou a soar E eu ficava no aeroporto esperando que alguém viesse falar
Essa História é para dizer que, para uma parte dos moçam- na minha cabeça. comigo e nada. Já tive desentendimentos terríveis.
bicanos, a relação com o livro é uma coisa nova. é a primeira QuANdo eNTreI no carro e sentei ao lado do motorista, Uma VEz fui visitar Cuba e tinham organizado um presente
geração que está lidando com a escrita, com o escritor, com o eu já estava olhando para a frente e pensando “esses são para cada membro da delegação de jornalistas. Voltei com
livro. Nós, escritores moçambicanos, sabemos que escrevemos os últimos momentos da minha vida, vou reviver todo uma caixa de presentes. Na época, vivíamos em guerra. E,
para uma pequena porcentagem da população, que são os o meu passado, como nos filmes”. até que o motorista na guerra em moçambique, nós vivíamos em uma situação-
que sabem ler e escrever. pegou algo no porta-luvas. Era uma coisa metálica, para o limite, não tínhamos nada. Nós saíamos de casa em busca
o LIvro tem uma circulação muito restrita. mas, mesmo assim, meu desespero. E ele estendeu essa coisa e disse: “aceita de coisas para comer. Era essa a situação que meus filhos
as tiragens dos meus livros em moçambique giram em torno uma balinha?”. Vocês estão rindo, mas eu não tinha nen- tinham de enfrentar todos os dias. Então eu estava fascinado
de 6 mil, 7 mil exemplares, o que é um número alto. Quando huma vontade de rir, porque balinha lá não quer dizer a com aquela coisa de ter ganhado um presente. Quando
comparo com as tiragens que faço no brasil, posso dizer que mesma coisa que aqui. Quer dizer bala no sentido literal cheguei em maputo, abri aquela caixa e eram vestidos,
o brasil não vai muito além. o brasil não lê tanto quanto pen- mesmo, projétil de bala. E aí eu só consegui pensar que brincos, eram coisas para uma mulher, para a senhora mia
samos. se contarmos a população inteira do brasil e apenas estava sendo assaltado, que aquele homem ia me matar, Couto. Então eu não me sinto representante nesse sentido,
mas sinto que o fato de seu ser conhecido hoje fora de
moçambique me obrigar a ter uma responsabilidade para
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- discurso dirEcto
com o meu próprio país. Então, quando estou fora, eu ausência não existe. Nesse silêncio, há sempre alguém que
tento divulgar a cultura de moçambique, os outros É um investimento que eles fazem
fala. são os mortos. por exemplo, a relação com o corpo. é
escritores. trago livros de escritores moçambicanos e preciso ter tempo para encontrar alguém. Quando eu estou
entrego às editoras, para saber se é possível que sejam em uma outra esperança, em uma
falando com um homem, eu cumprimento com um aperto
editados etc. de mão. mas o aperto de mão não é igual, tem um ritual.
outra crença. É impressionante. Mas
Depois do aperto, a mão fica na mão da outra pessoa. Não
6 – E com portugal? tem nada a ver com interpretação gay. a mão fica na mão
há escolas em Moçambique nas quais
da pessoa com quem estamos falando, e essa mão não tem
EU soU descendente, sou filho de portugueses e tenho peso, é uma mão leve. porque se fala com o corpo. temos
uma relação com portugal muito curiosa, porque eu eu não vou: a escola americana, por
essa liberdade de poder usar o corpo para dizer coisas que
não conhecia portugal até eu ser adulto. só fui a por- não podem ser ditas pela palavra. são coisas pequenas que
tugal quando eu comecei a publicar meus primeiros exemplo, que é uma chatice. É uma
nos mudam muito interiormente. é uma capacidade de
livros. E era uma coisa muito estranha, porque a con- estar disponível para os outros. E capacidade de ser feliz.
cepção africana de lugar é que o lugar é nosso quando vida feita de facilidades, em contraste
EU também encontro muito isso no brasil. tem a letra de
os nossos mortos estão enterrados no lugar. E eu não música brasileira que diz “levanta, sacode a poeira, dá volta
tenho mortos em moçambique, infelizmente. Então com essa vida de conquistas, em que
por cima”. Eu acho que isso é, em grande parte, uma her-
os meus mortos estão enterrados em algum lugar no ança africana. isto é para não ficar lamentando a desgraça.
norte de portugal. E eu fui ver esse lugar. Eu queria as pessoas têm de sair de manhã e
Eu acho que, se os europeus vivessem as dificuldades que
ver justamente porque queria ter essa relação quase vivem os africanos, eles seriam muito amargos. aliás, já são.
religiosa com o lugar. têm de lutar. Às vezes nem tenho
a forma como os africanos celebram a alegria de viver e o
o QUE acontece é que os meus pais imigraram para fato de que qualquer momento é um momento de festa,
moçambique quando eram jovens, tinham 20 anos, e coragem de perguntar a esses meninos
de celebração, de dança, de canto, acho que é outra coisa
viveram toda a sua vida lá, nunca mais tiveram relação que é importante aprender. Há uma tolerância profunda.
com portugal. E eles contavam histórias de um país o que eles fizeram para chegar à
Vocês vão ouvir mil histórias sobre intolerância, e essas
que, ao mesmo tempo que me fascinava, era uma coisa histórias também são verdadeiras. o mundo é feito dessa
muito distante. o que acontecia é que a minha mãe, escola naquele dia. Muitas vezes o
coisa contraditória, mas a verdade é que há uma tolerância
ao contar histórias sobre a sua família, seus tios e avós, muito grande. Essa tolerância nasce de uma coisa. o que
trazia para mim e para meus irmãos uma presença que giz é feito com pau de mandioca
eu vou dizer agora é muito importante: a África só pode
nos fazia muita falta, porque todos os meus amigos ser entendida se vocês perceberem que a África tem uma
tinha avós, tios e falavam dos primos. Eu não tinha seca. Às vezes, não há sala. É uma
outra religião. Essa África negra tem uma outra religião.
ninguém. a minha família eram os meus pais e os meus Essa religião não tem nome. Não é o candomblé, não é
três irmãos. Então o que a minha mãe fazia ao contar árvore. E não há cadeiras, as pessoas
a umbanda, é outra coisa. é uma religiosidade que não
histórias era inventar a família inteira. Eu precisava ter se separou das outras esferas do pensamento. Não é um
um sentimento de eternidade que era conferido por sentam no chão. No entanto, aqueles
sistema de pensamento. Na África que eu conheço, existem
essas histórias que a minha mãe contava. mas eram os deuses das famílias. Você tem os seus deuses, eu tenho
quase todas mentira, quase todas eram inventadas meninos estão todos os dias ali na
os meus deuses. isso significa que eu não estou muito
por ela. preocupado em te convencer de que existe uma verdade
escola, assim como os professores.
só, que é uma coisa muito típica das regiões monoteístas,
7- QUaL é a sua opinião sobre a reforma ortográfica? que é uma verdade que tem de ser imposta ao outro e o
Isso é uma grande esperança. É um
outro tem de seguir esse princípio. Você pode ter a sua
EU Não sou a favor. Considero que alguns dos motivos verdade, eu tenho a minha, e está tudo certo. acho que
que foram invocados para a reforma ortográfica não universo de gente que sabe que tem
essa é a razão para os africanos terem essa tolerância.
são verdadeiros. E acho que é uma discussão com a
qual os portugueses, principalmente, ficaram muito Mas a verdade é que africanos são de fazer isso para construir uma vida
nervosos, porque, para portugal, mexer na língua é uma
coisa muito sensível. algumas pessoas de portugal acr- muito parecidos com todos os outros. diferente. É uma grande escola.
editam que a língua é a última coisa que eles têm, que
é a primeira e última coisa que têm, é um sentimento Essa ideia de que a África é muito 9 – Como você e as personagens da sua obra dialogam com
imperial da sua própria presença no mundo que foi o mundo contemporâneo, que é marcado pelo consumismo
posto em causa. mas a minha questão não é essa. é diferente, muito exótica existe só e pelo hedonismo?
que eu sempre li os livros dos brasileiros e nunca tive
problema nenhum, nunca tive dificuldade nenhuma. na cabeça de algumas pessoas. Mas EU aCHo que um jogo de construção e desconstrução porque
para vocês, que estão lendo meus livros em português esse mundo que você retrata como sociedade do consumo
de moçambique, existe alguma dificuldade particular há uma coisa que é preciso ser dita. existe e não existe em moçambique, porque muitas vezes
por causa da grafia? ou a dificuldade é o resto e essa é consumimos muito pouco. Consumimos mais aquilo que é
a única coisa que não é difícil? Em uma sociedade que é muito ilusão. Cada vez menos o Estado confere Educação e saúde, e
EU aCHo inclusive que haver uma grafia que tem nós temos que conseguir isso por outras vias. Então o que eu
alguma distinção, um traço de distinção pode trazer pobre, às cinco da manhã, às vezes procuro fazer nos meus livros é uma coisa que eu posso fazer
um outro sabor a uma escrita. E os brasileiros conhecem como escritor. Eu não posso lutar para além desse limite, que
muito pouco de moçambique, de angola ou de são eu saio de casa e vejo as pessoas já é sugerir que há outros caminhos, que é possível sonhar, que
tomé. Às vezes eu ando na rua e tenho uma dificuldade não podemos ficar acomodados, resignados. obviamente eu
enorme para explicar quem eu sou. Na verdade, isso eu acordadas, atravessando quilômetros não posso propor uma tese ou um modelo alternativo nos
não sei explicar, mas a dificuldade é para explicar de meus livros, nem saberia fazer isso, mas posso incentivar o
onde eu venho. Quando falo que não sou de portugal, a pé, andando 30, 40 quilômetros gosto, a vontade.
sempre fica uma coisa difícil. Fazem as perguntas mais
estranhas sobre o que pode ser moçambique, se é um para ir à escola, saindo de casa 10 – Como você vê os seus personagens no cinema? Como
país que fica perto do paraguai, por exemplo. Então a é a visão física deles?
distância entre nós não é um problema que deriva da sem o café da manhã e tomando
ortografia, deriva de outras coisas, de política, de uma é Um estranhamento, porque aquilo que eu criei não tinha
falta de interesse, de um distanciamento. isso não será simplesmente uma xícara de chá voz nem rosto, nem para mim mesmo. Então de repente
resolvido mudando o acordo ortográfico. o personagem tem uma voz. mas, mesmo que seja a mais
com muito açúcar para dar energia, bela voz do mundo ou o rosto mais belo do mundo, o fato
8 – o que pode mudar a imagem negativa que muitas de ter um rosto e uma voz e não estar aberto e não ter vozes
pessoas têm da África? para ir para a escola aprender. Eu múltiplas é uma perda. por isso, eu me distanciei. se participo
do filme, é somente para pontualmente dar algum apoio,
HÁ VÁrias Áfricas e eu estou falando daquela que eu tenho um prazer enorme de ir às mas não como alguém que tenha competência para isso,
conheço. Essa África que eu conheço sobrevive por um porque eu não tenho. Eu quero que o realizador de cinema
espírito de solidariedade, de abertura e de respeito com escolas em Moçambique, porque os faça um produto distante, que é capaz de se soltar, ganhar
os outros. a forma que os africanos têm de se abordar, asas e sair do texto escrito, senão perde como livro e perde
de saber um dos outros é uma coisa genuinamente meninos estão ali com uma fé quase como filme.
autêntica. Quando eu estou cumprimentando alguém,
quando estou falando com alguém, eu dou espaço para religiosa. Eles estão ali absorvendo, 11- VoCê gostou de “Um rio chamado tempo, uma casa
o outro. Então há uma lição de escutar os outros. Eu chama terra”, filme baseado em seu livro?
nunca falo quando o outro está falando, dou espaço, têm os olhos abertos até o infinito,
não tenho medo do silêncio, que é uma coisa que acon- mais oU menos. o que tinha de dizer já disse ao realizador,
tece aqui. as pessoas estão conversando, de repente estão completamente ali. Não se que é meu amigo. Gostei, mas não gostei
há um silêncio, e isso é um peso, é uma coisa da qual
temos que nos libertar, é uma ausência. Na África, essa ouve uma mosca passando na sala.
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no rEcanto dE apoLo...
Doce como o massacre Pensei que estavas
de sóis sozinha Amanhecer
BáRBARA LiA - BRASiL PEDRO Du BOiS - BRASiL
oito canhões na praça de guerra
SAMuEL COSTA - iTAJAí - BRASiL
apontam para o peixe para Nagdila thally malfoy amanheço em nuvens de inver-
Que traz a paz nas guelras
no.
Quatro gaivotas suicidas
Lambem o babado azulado Entre lírios e rosas! No esfriar da hora sou corpo
Do triste mar-flamenco
Em meio a sussurros, gritos, gemidos & prantos! despertado. sigo o leito do rio
Lembro um filme de babenco:
Espasmos de prazer. ao largo: estrito ao peito
ana e o vôo
mariposas no quarto lúgubre Juras de amor! da mulher amada no anunciar
suas mãos em concha
a esmagar a eternidade insalubre Eu pensava que estavas sozinha! horas anteriores de refúgio. acordo
No meu desespero...procurava-te! e levanto em ensolarados passos.
i
n, a FLor DENtro Da ÁrVorE Nos meus sonhos...andavas só!
Vagando pelo infinito! Da manhã retiro a necessidade
*** da utilidade. sou repositório
Até que os serafins acenem Embriaga-me...oh...minha divina musa! da inatividade.
com seus chapéus brancos Com o teu eflúvio sutil.
BáRBARA LiA
Em meus pensamentos...andavas sozinha!
Não nasci para resfriar o mundo insegura! Madrugada Madrugadora
Neste lerdo cortejo de omissões E desprotegida.
Estas palavras interditas No infinito... CELSO MuNGuAMBE - MAPuTO
suspensas E na solidão do meu ser! a noite ronca eternamente, e internamente dorme
a escuridão
Não vim quebrar as pernas do sol procurava-te... Friamente as madrugadas nascem, congelando e
Gelando o universo, madrugadas silenciam-se
silenciar cada bemol Eu pensava...que estavas sozinha. Diante de tanto frio
Não vim para arrebentar o anzol Em meus pensamentos! Um ninho floresce com delicadeza
a madrugada vomita a cacimba aconchegante
Do velho de Hemingway tomo-te pelos braços! Como um diamante delapidado e escalado
sou mar e trovão no coração Num dos silêncios, a madrugada grita apelando
Digo que és minha! para lua
Nasci para amar sem lastro
mas não o és! a madrugada delira de tanta solidão, sem exactidão
para dançar no pátio Ela faz um sarau
perco-me no teu olhar... bisbilhotando na noite, ela procura afazeres
it is my way Desfazendo o movimento rotativo
No teu sorriso quero me perder.
a madrugada conversa com a manhã
in, a FLor DENtro Da ÁrVorE No meu devaneio...desapareço em teus cabelos! Uma conversa rápida e fria, mas não sombria
Lá esta ela, com uma cara murcha de solidão
A lentidão das palavras do Em meio a sussurros, gritos, gemidos & pran- a madrugada é muito sacrificada.
arcanjo ao acordá-la tos!
Espasmos de prazer.
BáRBARA LiA
Mente vadia
E juras de amor!
o sagrado despe as ilusões
Não estás mais sozinha!
e abraça as árvores mortas
suas folhas azul esmaecido
RuTh BOANE - TETE
qual manto da Virgem de Cambrai procuro-me nos murmúrios da vida
os ossos das árvores adoeceram
JAPONE ARiJuANE - MAPuTO mas perco-me nos mesmos.
mergulho em águas secas e consolo-me
e elas morreram – azuis - Enferruja nos meus olhos arco-ires somente na dúvida da minha dúvida.
Deste mundo que chove infortúnios Questiono-me porque sangram os homens
antes que tornassem brancos tédios sentidos travejam desamorvidos mais tristeza do que alegria.
alienadas aguas de um homem com sede do sahara ah! Não me vem a resposta!
os seus cabelos Labuta infertilidade na terra que inunda pobreza Como poderei saber se nem o verdadeiro
Dirão que sim a este destino incerto significado dos mesmos conheço?
a fome torrencialmente nestes olhos enxurrados sinto um vazio!
relâmpago e trovoadas no estômago deserto Várias são as questões que
desalojamento acentua o medo nas vitimas enche. navegam em minha mente.
No silêncio da minha obscura noite
vadio por entre bairros desconhecidos
in, a FLor DENtro Da ÁrVorE procurando saber e conhecer o que é desconhecido.
9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9
Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9
canto da poEsia - FacEbook
vOAR NO MuNDO MALDiçÃO A demência persegue-te
ANDERSON FERREiRA RuTh BOANE - TETE
iziDiNE JAiME
tu, miserável!
Vida de sonhos incompletos
Escrever é calar o mundo dos ouvidos.
E cantar a madrugada que não nasce. Desejos inconstantes de alma sem asas pena sentem minhas janelas
é também levar ao ombro que ninguém toca ao abrirem-se e mirarem parvoíces.
um consolo de dedos invisíveis. Incomensurável frustração do gozo Cospes porcarias para mim e depois
Que corre em minhas veias dizes que eu é que sou demente. (Gargalhadas)
Voar como quem nunca tivera asas
E descobrir que o mundo Sangue venoso que não se purifica triste é ver-te convencido
Não é esse pedaço de terra que nos cobra o corpo Não se esvai em sangrias medicinais de que demente eu é que sou.
mas o suspiro de um vento leve ah! se soubesses quem o é!
que nos toca docemente o coração. Lamúrias sem virtude triste é ouvir-te cuspir
Sem a nobreza da dor maldições em mim e humilhar-me. (Gargalhadas)
Escrever é libertar-se... tu, miserável!
Decalcando em letras Sem os cuidados de outrem tu, miserável!
as rasuras do silêncio que o coração clama. a demência persegue-te...
Santifica tuas feridas
E ainda ser a triste cantiga da sociedade
num verso rítmico que rege a alma. Agarre tuas mazelas
Julgas tu que me humilhando
Pois serão tuas e somente tuas
E nas mãos de todos, erguem-se os teus ombros
invocar a missão de ser Sê-de forte sabes, certas criaturas podem até
toda uma brisa no ar rir-se na hora em que te sentes o tal
Que se dissolve em sorrisos A desgraça será teu alimento mas sim, sim! são as mesmas que se
Florindo a todos olhares que sabem amar. Junte-se as aves de rapina riem de ti pelas costas (Gargalhadas)
são as mesmas que se riem da tua demência
A toda sorte de animais malditos são as mesmas que se riem da tua estupidez.
Teu caminho será entre as sombras da tua alma
POEMA DA MANhà ChuvOSA Serás infame
a demência persegue-te!
(Gargalhadas) Eu é que sou demente...
Até que percebas Essa é boa!
PETER PEDRO PiERRE PETROSSE
A criação.
o dia amanheceu,
Nuvens tristes e turvas, textos do Grupo - Canto da poesia do FacebooK. recolha de raffa inguane.
o sol ainda vadia por outras bandas.
tic, tic, tic, tic...
Chora o céu,
triste pela ausência do sol.
parte de suas lágrimas morre nas chapas do meu humilde aposento,
Dirigindo-se em seguida para a sepultura do solo.
o seu embater nas chapas,
Cria uma melódia agradável de se ouvir. Tem a honra de convidar para a palestra “Independência do Brasil: Novas
a melodia atravessa os atalhos dos meus tímpanos,
interpretações”, proferida pela Drª Emy Caldwell de Farias, no dia 1º de
o bass do bater do meu coração fica mais suave. Setembro de 2011, às 18H00.
Na tela da minha mente,
aprecio a exposição do teu semblante jubiloso,
Que almejo ver e amalgama-lo com os sentimentos que carrego.
Esta palestra irá fazer uma abordagem um pouco diferenciada do que se
conhece sobre a independência do Brasil, antiga colónia portuguesa e país
que caminha hoje, com celeridade, para se transformar na quinta mais
poderosa economia do mundo.
Amy Caldwell de Farias é de origem americana e residiu mais de 10 anos
no Brasil, é Professora Associada na Monmnouth College, em Illinois,
Estados Unidos e Coordenadora de Estudos Integrados na mesma
universidade, tendo lecionado História Latino-Americana em várias
universidades americanas e brasileiras.
Amy Caldwell tem uma lista imensa de artigos sobre História publicado em
várias revistas especializadas e vários livros. A sua obra emblemática, fruto
da sua tese de doutoramento, intitula-se: Mergulho no Letes: Um Re-
Interpretação Político-Histórica da Confederação do Equador, editada no
Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Neste momento, Amy Caldwell de Farias encontra-se em Moçambique onde
desenvolve uma pequisa relacionada com a presença de brasileiros no vale
do Zambeze dos séculos XVII e XVIII.
10. Terça-feira, 30 de Agosto de 2011
10 BLA BLA BLA Exero 01, 5555
https://literatas.blogs.sapo.mz 10
outras agEndas
ERRATA
Na edição anterior, referente ao dia 23 de agosto de 2011, neste espaço, publicamos um artigo de título “Niassa
sem livrarias”, assinado com o nome mauro brito de maputo. Na verdade, o artigo pertence ao nosso corespon-
dente em Lichinga, capital da província do Niassa, Lino de sousa mucurusa. pelo facto, as nossas desculpas, ao
autor do artigo e aos leitores no geral.