SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 10
Baixar para ler offline
Literatas
                       Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo
                                                                                               Literatas agora é no SAPO
Sai às Terças-feiras


                                                                                               literatas.blogs.sapo.mz
                                                                                               Encontre-nos no facebook
                                                                                                       Literatas
                                Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 30 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 08 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz



“Cidades dos espelhos”


uma
Novela
Futurista
                                                           11 respostas
                                                           iNspiradoras
                                                           de mia Couto                   Discurso Directo páginas. 6 e 7

Brasilidades Africanas
                                             Segunda-feira abertura dos eventos - DEBATE
                                          Tema: Arte, Educação e Política: movimentos em cena.
                                                           Horário: 17:30H
                                          Local: Centro Cultural Brasil Moçambique - Maputo
2    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
    Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                                           https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                                          2

Em primEira

“Cidade dos Espelhos”
uma “Novela Futurista” de João Paulo Borges Coelho a ser lançada nesta quinta-feira as 18:00 horas no instituto Camões em Maputo

    LuíS CARLOS PATRAQuiM - O PAíS                              Então bioy Casares – prossegue borges – recordou que um
                                                                dos heresiarcas de Uqbar havia declarado que os espelhos e
                                                                                                                                       como são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos
                                                                                                                                       e mais casos semelhantes”. a catástrofe introduz a perturba-
                                                                a cópula eram abomináveis, porque multiplicam o número                 ção que prenuncia o desfecho, ou o desenlace. “o messias está
DEixEmos DE lado a blague, para despistar, sobre a novela       dos homens”. também podia ir-se pela mão de alice, mas                 exangue – escreve o narrador – sem condições para prosseguir
futurista, sub-título do autor a esta sua e nossa, por mérito   deixemos Carroll e a sua dama de copas.                                o encantamento do mundo. a multidão murmura, relutante em
dele, “Cidade dos Espelhos”                                     porQUE tUDo tem um começo, arregalamos os olhos,                       dispersar.”
No priNCípio é a estranheza. Deixemos de lado a blague,         semi-cerramo-los, névoas e brilhos sucedem-se ante o                    DEsCoNFio QUE, no meio dela, anónimo e discreto, um certo
para despistar, sobre a novela futurista, sub-título do autor   insólito atentado às portas do templo. é noite, uma noite              poeta, tendo assistido ao julgamento dos personagens, percorrida
a esta sua e nossa, por mérito dele, “Cidade dos Espelhos”.     depois daquela, a antiquíssima, e deparamo-nos com o mais              a avenida Louise, constatado um inusitado frémito nas estátuas
Como nos ensinou sherlock Holmes, as primeiras evidên-          insólito atentado. o autor descreve-o com alguma minúcia:              perfiladas, escutado o “lamento sincopado das chapas ondula-
cias são, a mais das vezes, o engodo para a fulguração final    umas bolinhas, que parecem de sabão, umas seringas e                   das”, percebida a seiva inquieta por dentro das árvores sintéticas
da razão omnisciente que, sob a trama de enganos, falsas        uma espécie de gosma, venenosa, presumimos, que três                   da cidade alta, esse certo poeta com uma ideia de prosa, preferiu,
pistas, equívocos, repõe a ordem de um percurso, apazigua       bradas – Caia, Laissone e Jeremias – sopram com uma cana.              apesar de tudo apiedar-se da “cidade dos espelhos”. “por isso
a intencional e prazeirosa perturba-                                                                                                                                            – condescende – ela ficará
ção de um mundo. saudoso opti-                                                                                                                                                  em suspenso, perdida neste
mismo positivista que a incerteza                                                                                                                                               jogo de reflexos, enquanto
apartou do nosso convívio.                                                                                                                                                      das falhas das paredes e
sobrE os futurismos, russo, italiano                                                                                                                                            dos passeios, dos frisos dos
à la marineti, que custeou a sua pub-                                                                                                                                           edifícios e dos castigados
licação como publicidade redigida                                                                                                                                               olhos das estátuas, não
nas páginas do Figaro, à solitária                                                                                                                                              rebentarem novas ervas e
aventura dos poetas do orpheu,                                                                                                                                                  destas surgirem as sement-
ficamos conversados. maiakovski                                                                                                                                                 es de futuros personagens
sucumbe aos seus banhos; marineti                                                                                                                                               marchando lentamente em
veste a camisa negra, e os poetas de                                                                                                                                            procissão até ao templo das
orpheu, de ouvido em concha para                                                                                                                                                colunas, com as suas cores
o ranger das máquinas quase inex-                                                                                                                                               e os seus rumores”.
istentes no país das uvas e estáticos                                                                                                                                           ELE é a criança neoténia, a
ante a dromologia em slow motion,                                                                                                                                               pedamorfose, de que fala
deambulam pelos cafés da baixa,                                                                                                                                                 Giorgio agamben, “a que
fazem painéis, bravatas, sacodem                                                                                                                                                pode dar atenção àquilo
a poeira e o cisco da Casa do ser. Que às vezes é um gal-       terrorismo bacteriológico mas executado como se de uma                 que não está escrito”. E prossegue: “a cultura e a espiritualidade
inheiro.                                                        brincadeira de crianças se tratasse. Em banda desenhada,               genuína são aquelas que não esquecem esta originária vocação
mas é nessa sub-titulada designação que se revela a             com recorte ao fundo das colunas em sombra, veríamos a                 infantil da linguagem humana, enquanto uma cultura degra-
primeira subtil ironia de João paulo borges Coelho. se ele      silhueta dos três da vida airada com as canas em pose e as             dada caracteriza-se por tentar imitar um gérmen natural para
fosse americano e andasse de casaco à banda pelos pubs          bolinhas flanando – brilhantes ou brilhiosas, como preferi-            transmitir valores imortais e codificados. (…) Em qualquer parte
de Greenwich Village, lia-se este livro e dizia-se: ora aqui    rem – em contraste com o escuro do mistério e o balão                  de nós o distraído rapazinho neoténico continua o seu jogo real.
está, o gajo está meio gótico, não te parece? ou então          encimando o quadro com a onomatopeia “floc! floc!”. é isto             (…) só no dia em que essa originária não-latência infantil fosse
convocava-se o ray bradbury: há uma poética; não, não se        uma novela futurista?                                                  verdadeiramente, vertiginosamente, assumida como tal, em que
trata da particular ficção científica do autor de Farenheit e   E QUE cidade! reduzida a si, sem topónimo, com uma parte alta,         se recuperasse o tempo e o menino aíon fosse distraído do seu
das Crónicas marcianas, mas é amazing, meu, andar pela          uma parte baixa, um subúrbio com paredes de chapas ondula-             jogo, os homens poderiam construir uma história e uma língua
avenida Louise – um achado! – e afagar aquelas árvores          das, ferinas, segundo o narrador. Um subúrbio assim descrito: “os      universais, já não diferíveis, e pôr fim à sua errância nas tradições.
de plástico, pressentir as aves agoirentas, imaginar a insól-   escanzelados candeeiros públicos delimitam no seu pé (o pé de          Este autêntico apelo da humanidade em relação ao soma infantil
ita casa cor de mostarda. será literatura fantástica? E as      Laissone) pequenas ilhas de luz sobre as quais esvoaçam, enlouque-     tem um nome: o pensamento, ou seja, a política”.
aves agoirentas? E o “areóstato negro com as insígnias da       cidos, os insectos”.E, como se não bastasse, há ainda o som de         mas as crianças brincam e podem ser cruéis. Deste originalíssimo
república” que se desinfla e se estatela sobre os subúrbios?    um trompete. é nesta triangulação de percursos, com a sempre           livro de João paulo borges Coelho, onde o puro jogo de muitos
será o colibri uma variação do corvo de Edgar allen poe? o      omnipresente avenida Louise – um achado, volto repetir – que as        sinais mescla-se com a ironia, terna é ela, onde na rarefacção que
mar de sargaços, um dos capítulos, será uma homenagem           três personagens correm, fogem, deparam-se com gente estranha          o perpassa, a memória institui-se como ágon, e percebe-se uma
ao reggae, uma alusão corsária, uma ondulada e ondulante        – não propriamente zombies – mas algo excêntricas, no sentido          visualidade que a arte da escrita nos oferece, entre a imobilidade
meditação pós-colonial, uma paráfrase a Jane rhys?              etimológico da palavra: avós desfiando o tempo, uma indefinida         misteriosa de certos quadros de paul Delvaux e a convulsão inte-
DEVo DizEr que não pretendo ter uma resposta nem julgo          baba tecida agora de vazios, meninas e generais à varanda da sua       rior da Cathédral Engloutie, de Débussy, deste livro pode-se dizer
interessante essa cómoda classificação por géneros ou           obra de plástico. Caia, Laissne, Jeremias, são a única mobilidade      que é um dos mais originais da literatura moçambicana.
atmosferas de alguma moda.                                      acossada. E correm. Quando um deles é aprisionado e tropeça            razão tEm Nazir Can quando observa que “ a chegada de JpbC
EstE LiVro está cheio de sinais, de pontilhados exercícios      na palavra – para confessar, claro – a palavra é violentada. a pala-   produz um saudável abalo no universo literário moçambicano.
de crueldade, a do mundo rarefeito onde estas persona-          vra não é da ordem da conotação. Querem-na confessional. o             Estamos certos que a sua escrita, como ocorre com todos os
gens se movem. alcandorado na irrevogável exigência de          acontecimento tinha de ser com Jeremias. Ele faz, para si o filme      tremores, marcará uma época”.
se demarcar de todas as antinomias, redutoras, enganosas,       breve da sua vida, mas, escreve o narrador, os torcionários “queriam
e alheio aos marcadores genéticos a que o câanon obriga         dele uma torrente de palavras dóceis, que se dissolvessem numa         o aUtor que me perdoe por citar e falar, não de livros e seus
para a jubilação identitária – moçambicaníssima, já se vê       certa lógica, mas o que o prisioneiro lhes entrega são palavras que    fazedores, mas, seguindo na esteira deste seu entusiástico e
- João paulo borges Coelho prefere a cegueira dos sábios.       engolem o acto, o transformam em algo que já não é acto mas            competente estudioso, o inclua onde ele, afinal, também está.
No cabo do texto, avesso aos muitos ventos da História,         uma qualquer delirante construção”. “metáforas?”, pergunta ele, e      João paULo borges Coelho é hoje dono de uma obra que,
conhecedor dela como é por ofício civil, olha o farol que,      a inquirição é-nos devolvida. Começamos a coçar a cabeça. arre!,       como afirma Nazir Can, “faz da relativização ou mesmo
como dizia sebastião alba, “há séculos /que emite/ sinais       exclamariam, num certo antigamente da vida, os desaparecidos           da desmistificação de toda a certeza, principalmente das
indecifráveis”. percebê-los, adivinhar-lhes ou inventar-lhes    velhos de uma certa cidade que conhecemos. mas Jeremias faz            certezas históricas e causas ideológicas de sentido único,
sentidos, vem sendo a empresa do autor de “as Visitas           como bartleby, embora o seu “preferia não… “ seja de outra ordem,      a sua pedra angular. Esta opção, de resto, permite ao autor
do Dr. Valdez”, desses majestosos setentrião e meridião         porque impossível. Então, os “fragmentos de que falava – observa       projectar um olhar novo sobre a História de moçambique,
onde um mesmo rio os une, masculino e feminino, como            o narrador – são agora esquírolas que tomam conta das palavras,        um olhar que transcende a fácil dicotomia (entre “bons” e
exemplarmente nos ensinou.                                      e as palavras são só letras soltas e sangue e guinchos e dentes e      “maus”, “colonizadores” e “colonizados”) e que, simultanea-
“CiDaDE Dos Espelhos”. Côncavos? Convexos? Jogo de              baba que excitam os torturadores, e por fim uma massa amorfa           mente, evita a facilidade do “indiferenciado no diverso”.
intersecções de reflectidas imagens, floresta de enganos        que flui devagar pelas comissuras dos lábios desfraldados, sem         Finalmente, JpbC consegue encontrar um caminho original
ou caminhos da floresta, os de Heidegger, recolhido na sua      que seja necessário empurrá-la. Um cálido magma, quando muito          para desenvolver a sua escrita, sem ter que passar pelo
cabana depois da queda? Jogo e tensão do desejo como            um espaço mastigável”.                                                 filtro de justificações normalmente exigidas ao escritor
na sequência da Dama de xangai, com um orson Welles             GraVE CirCUNstâNCia nesta cidade futurada, a agrilhoada ou             africano: porta-voz autorizado do lugar; missão social e
à procura da sua rita Hayworth? os espelhos…. Em tlon,          conspurcada condição das palavras. talvez seja por isso que o som      compromisso político, que sustentam e outorgam sentido
Uqbar, orbis tertius, de Jorge Luís borges fala-se deles.       do trompete acentua a melancolia dos seres, enovelados numa            à sua vida literária, etc.
“Devo à conjugação de um espelho e de uma enciclopédia          espécie de tempo aracnídio, onde há encarquilhadas mãos como           paraFrasEaNDo rimbaUD, é na liberdade livre que está
a descoberta de Uqbar”, confessa o autor de ficções, onde o     raízes expostas segurando o fio, um fio de ariadne que, suspeita-se,   o compromisso do autor de “Cidade dos Espelhos”. só me
texto se inclui. Estava o argentino com o amigo bioy Casa-      se perdeu.                                                             resta saudá-lo com admiração e amizade. E convidar-vos
res. “Do fundo remoto do corredor, espreitava-nos o espe-       Não obstaNtE as vestes ditas futuristas, há nesta “Cidade dos          à leitura
lho. Descobrimos (a altas horas da noite esta descoberta        Espelhos” a dimensão da catástrofe tal como a define aristóteles
é inevitável) que os espelhos têm algo de monstruoso.           na sua “poética”. Cuja, consistia “numa acção perniciosa e dolorosa,
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA       3
 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                                                          https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                        3

Em primEira
Ungulani Ba Ka Khosa:


A África que o Brasil não conhece
 ADELTO GONçALvES - BRASiL                                                Couto, suleiman Cassamo e Ungulani ba Ka Khosa”, de Chris-
                                                                          toph oesters, doutor pela Universidade de Utrecht, Holanda,       nial, como foi feito no período
                               i                                          com a tese “Figuras do outro: identidades pós-coloniais no
       Enquanto as universidades e editoras portuguesas e                 romance moçambicano contemporâneo” (2005).                       pós-independência (1975). “Em
brasileiras, praticamente, só estudam e publicam autores                        os demais ensaios são de ana mafalda Leite, professora
africanos lusodescendentes – com as exceções de praxe,                    de Literatura africana Lusófona da Universidade de Lisboa,       vez disso, dedica-se muito mais a
na área editorial, como a Editorial Caminho, de Lisboa,                   antónio belchior Vaz martins, autor de teoria e práticas de
que tem tradição na área –, pouco se lê sobre romancistas,                análise da Narrativa: as mitologias apocalípticas e Ualalapi     uma representação de Ngungun-
contistas e poetas africanos autóctones ou mestiços que                   de Ungulani ba Ka Khosa (2004), Daniela Neves Lima, profes-
utilizam a Língua portuguesa como meio de expressão. E,                   sora da pontifícia Universidade Católica (pUC), de belo Hori-    hane que corresponde à realidade
no entanto, em poucos anos, se a Língua portuguesa – a                    zonte, e Ebenezer adedeji omoteso, coordenador de Estudos
língua do invasor e do colonizador – quiser sobreviver no                 portugueses no Departamento de Línguas Estrangeiras da            histórica, mostrando a imagem
continente africano – e com ela todo o legado lusófono –,                 Universidade obafemi awolowo, da Nigéria.
será mesmo dos autores autóctones que dependerá.                                 além da introdução “Quem tem medo de Ungulani ba           de um tirano cruel em relação
      Esse incompreensível silêncio – que reflete, pelo lado              Ka Khosa?”, de Niyi afolabi, igualmente traduzida para o por-
português, segundo o professor patrick Chabal, do King´s                  tuguês, há estudos de Jared banks, doutor em Línguas e Lit-        a outros povos africanos, mas
College de Londres, certa saudade colonialista ainda não                  eraturas africanas pela Universidade de Wisconsin-madison,
superada e, pelo lado brasileiro, descomunal desconheci-                  Gilberto matusse, professor do Departamento de Lingüística        também para com seu próprio
mento em relação a assuntos africanos – é o que explica                   e Literatura da Universidade Eduardo mondlane, de maputo,
que um livro como Emerging perspectives on Ungulani ba                    anne sletsjoe, professora de Literatura portuguesa da Uni-               povo”, diz Oesters.
Ka Khosa: prophet, trickster, and provacateur, preparado                  versidade de oslo, Noruega, sophia beal, doutoranda em                  oesters observa que o “outro” na obra de Khosa
pelo professor Niyi afolabi, ainda não tenha sido editado                 Estudos portugueses e brasileiros pela Universidade brown,      aparece na forma dos “brancos, do outro lado do mar”,
no brasil nem em portugal. E que, para lê-lo, tenhamos de                 EUa, sunday bamisile, doutorando em Literatura Comparada        mas em breves referências. Numa delas, refere-se à morte
recorrer à edição da africa press World pres, inc., com sede              pela Universidade de Lisboa, e do próprio organizador do        de Ngungunhane no exílio “em roupas que sempre rejeit-
em trenton, New Jersey, EUa, e em asmara, na Eritreia, país               volume.                                                         ara e no meio da gente da cor do cabrito esfolado que
do Nordeste da África, antiga colônia italiana, às margens                                                iii                             muito se espantara por ver um preto”.
do mar Vermelho, que se separou da Etiópia em 1991.                                                                                                                        iV
       pouco conhecido do público-leitor brasileiro, Khosa                        Como se vê por aqui, Khosa é                                     Já Nataniel Ngomane, em seu ensaio, faz um
(1957) não teve até hoje obra publicada no brasil, mas                                                                                    paralelo entre a obra de Khosa e a dos autores latino-
esteve em são paulo em novembro de 2010 para partici-                        um autor já largamente estudado                              americanos do boom, a partir da constatação de que as
par de um encontro na Casa das Áfricas e de um debate                                                                                     culturas de ambos os lados são historicamente mestiças,
na biblioteca de são paulo sobre “o negro na literatura                    por críticos de outras línguas. E que                          “como produto do contato entre elementos indígenas
internacional”, que teve a mediação de Carmen Lucia tindó                                                                                 – em si já bastante diversificados –, africanos e aluviões
secco, doutora em Literatura brasileira e professora de                    há muito já deveria ter sido editado                           imigratórios europeus e asiáticos, na américa Latina,
Literaturas africanas na Universidade Federal do rio de                                                                                   e de elementos indígenas – não menos diversificados
Janeiro (UFrJ).                                                           no Brasil. Aliás, desde o seu primeiro                          que aqueles –, árabes, asiáticos e europeus em moçam-
      trata-se de um dos mais importantes autores moçam-                                                                                  bique”.
bicanos de sua geração, ganhador do prêmio José Caveir-                    livro, Ualalapi, romance histórico e                                   Ngomane ressalta que essa situação vem sendo
inha de 2007 por seu livro os sobreviventes da Noite. outro                                                                               explorada por narrativas como as de Khosa e de mia
galardão que atesta a qualidade de sua obra é o Grande                    primeira obra de ficção que se dedica                           Couto que, “no intuito de representar a conjugação dos
prêmio de Literatura moçambicana de 1990 por Ualalapi,                                                                                    imaginários e atitudes aí presentes, acabam por con-
que foi assinalado como um dos cem melhores livros africa-                exclusivamente ao passado colonial de                           figurar processos culturais diversos”. para tanto, vale-se
nos do século xx. No brasil, Khosa já havia estado em 1987                                                                                da já clássica obra Contrapunteo cubano del tabaco y el
para participar do lançamento da antologia sonha mamana                     Moçambique e conta a ascensão de                              azúcar (Havana: Letras Cubanas, 1991), de Fernando ortiz
africa, preparada pela professora e jornalista Cremilda                                                                                   (1881-1969), publicada pela primeira vez em 1940, tão
medina de araújo, da Universidade de são paulo (Usp).                      Ngungunhane, imperador de Gaza,                                estudada no Departamento de Letras modernas da Usp,
         Nascido em inhaminga, província de sofala, Ungulani ba                                                                           mas que, incompreensivelmente, ainda está à espera de
Ka Khosa é o nome tsonga – grupo étnico do sul de moçambique               famoso pela resistência que opôs aos                           publicação por editora brasileira.
– de Francisco Esaú Cossa, bacharel em História e Geografia pela                                                                                 Ngomane ressalta que, além de utilizar termos de
Faculdade de Educação da Universidade Eduardo mondlane, de                  portugueses ao final do século XIX,                           origem bantu, “desconhecidos da maioria dos leitores
maputo, professor de carreira e atual diretor do instituto Nacional                                                                       em português, Khosa incorpora em sua linguagem a
do Livro e do Disco, de moçambique. Khosa também exerceu                          até o fim de seu império.                               descrição de universos culturais a que esses termos se vin-
a função de diretor-adjunto do instituto Nacional de Cinema e                                                                             culam”. ou seja, Khosa salpica seu texto com expressões
audiovisual de moçambique, participando na elaboração de                               Como observa Oesters, o                            verbais de origem bantu, mas o faz de uma maneira mais
roteiros e jornais cinematográficos. Filho de pais enfermeiros,                                                                           palatável ao leitor, explicando os termos no próprio texto,
Khosa completou os estudos secundários na zambézia e tornou-                livro é construído a partir de frag-                          sem recorrer a um glossário no final do livro ou a notas
se professor em 1978.                                                                                                                     de rodapé.
      é autor de seis livros, Ualalapi (1987), orgia dos Loucos (1990),      mentos históricos, comentários de                                                             V
Histórias de amor e Espanto (1993), No reino dos abutres (2001),                                                                                obviamente, ninguém é contra que professores de
os sobreviventes da Noite(2005) e Choriro (2009). Co-fundador                oficiais portugueses envolvidos na                           outros mundos não lusófonos se preocupem em estudar
da revista literária Charrua, na década de 90, tem escrito crônicas                                                                       as literaturas africanas de expressão portuguesa. pelo
e artigos para vários jornais africanos. membro da associação dos           campanha contra o líder africano.                             contrário. o que se lamenta é que tanto em portugal
Escritores moçambicanos, recebeu ainda o prêmio Gazeta de                                                                                 como no brasil se dê tão pouco espaço aos escritores afri-
Ficção Narrativa (1988), além de ter sido homenageado em 2003                  São seis contos que acabam por                             canos autóctones que se utilizam da língua portuguesa.
pela Comunidade dos países de Língua portuguesa (CpLp).                                                                                   até porque, como observa perpétua Gonçalves em por-
                                ii                                           reconstituir na imaginação episó-                            tuguês de moçambique: uma variedade em formação
         Essa vasta obra justifica o livro que Niyi afolabi,                                                                              (maputo: Livraria Universitária e Faculdade de Letras da
doutor em Estudos africanos e portugueses pela Univer-                     dios daquele período, formando um                              UEm, 1996), citada por Nataniel Ngomane, só uma mino-
sidade de Wisconsin-madison e professor de Literaturas                                                                                    ria em moçambique que teve acesso à escola (25%) e que
brasileira, ioruba e de Estudos da Diáspora africana da                       romance. O importante, porém,                               habita nos centros urbanos (17%) fala português.
Universidade do texas, de austin, EUa, preparou, reunindo                                                                                        Como o país é formado por muitas nações e 95%
quinze ensaios escritos por estudiosos de várias partes do                   é que, ao contrário do que comu-                             da população têm como língua materna uma língua
mundo, além de entrevistas e excertos de textos do autor.                                                                                 bantu, por enquanto, o português serve como uma
Na maioria, os textos estão em inglês – inclusive, excertos                mente se pode imaginar, o livro não                            espécie de tertius(neutro) para a língua oficial, já que, se
dos livros –, mas há seis ensaios em português.                                                                                           um grupo étnico local quiser impor a sua língua como
        Entre esses, destacam-se “transculturação e repre-                  apresenta Ngungunhane como um                                 a predominante, com certeza, irá causar insatisfação
sentatividade lingüística em Ungulani ba Ka Khosa: um                                                                                     entre os demais. mas, se portugal e brasil continuarem de
comparatismo da solidariedade”, de Nataniel Ngomane,                        “grande líder” nem se preocupa em                             costas viradas para a África, não será difícil que Camões
professor do Departamento de Lingüística e Literatura da                                                                                  (c.1524-1580) seja substituído por shakespeare (1564-
Universidade Eduardo mondlane, de maputo, doutor em                        relatar seus possíveis feitos históricos                       1616) em pouco tempo. até porque a África do sul é logo
Letras pela Universidade de são paulo (Usp), e “o outro na                                                                                ali. Depois, não digam que ninguém avisou
representação da identidade nacional nas obras de mia                      contra a violência do domínio colo-
4    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
    Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                                                 LiTERATuRA MOçAMBiCANA                                                        4



Gulamo Khan
                                                                                                                             MOçAMBiCANTO i
                                                                                                                            GuLAMO KhAN
Nascido em maputo aos 11 de maio de 1952,
Gulamo Khan foi um escritor e jornalista
moçambicano.
                                                                 XiTiMELA                                                   Céleres as águas
Gulamo Khan foi locutor e jornalista na rádio                GuLAMO KhAN                                                    zambezeiam pela memória
Clube de moçambique e adido de imprensa                                                                                     das almadias do silêncio
do presidente da república de moçambique,
samora machel. morreu no acidente de avia-                                                                                  nem o zumbido da cigarra
ção que também vitimou o presidente no dia                  para alexandre Langa                                            me entontece
19 de outubro de 1986 em mbuzini (montes
Libombos.                                                                                                                   nem o troar do tambor
                                                                                                                            me ensurdece
Como literato, destacou-se pela idealização e               neste xitimela nosso comboio da vida
realização, juntamente com o escritor Calane                que nos faz meninos de ontem                                    as vozes que são
da silva, dos msahos – encontros de decla-                  pensar hoje vamos não só à manhiça                              sulcos das nossas esperanças
mação de poesia a um sábado de cada mês                     mais longe vamos meu amigo
no correcto do Jardim tudunro na capital                    espera ver no diesel do teu peito                               oh pátria
moçambicana.                                                a força motriz que sopra                                        moçambiquero-te
                                                            as mais belas ngomas deste moçambicano                          neste alumbramento
Depois da sua morte foi publicado o livro                   e diz ao povo como sabes                                        e amar-te
moçambicanto, com uma recolha dos seus                      que xitimela da vida é da gente                                 devo-o à carne e ao nervo
textos organizada por albino magaia, Calane                 e faz poh poh poh num apeadeiro livre.                          deglutidos em revolta.
da silva, José Craveirinha e Júlio Navarro.
o livro foi editado na colecção timbila da
associação dos Escritores moçambicanos.




Hélder Muteia                                                                                                               PRESENçA
                                                                                                                              héLDER MuTEiA

NÓS E O DESTiNO                                                                                                              sou dos que ainda estão presentes
    héLDER MuTEiA                                                                                                            e bebem do amor a única ausência.
ao patraquim

o tempo sacode na areia o musgo dos pés
no plasma do orvalho lava o rancor das mãos,                                                                                 Quantos pedaços de mentira
somos pó e pólvora na combustão da História
medimos aos milhões o fragor de cada acto consumado                                                                          retenho na viscosidade do meu cuspo?
e entre nós e o destino vai um palmo de esperança        Escritor e político moçambicano, Hélder dos santos Félix mon-
que por sorte marcha a pé.                               teiro muteia, nasceu a 21 de setembro de 1960, em Quelimane,
                                                         na província de zambézia, moçambique.
é o silêncio o mártir predilecto desse gesto             após a realização dos seus estudos secundários na sua cidade        Quantas verdades apaixonadas
quando a fome não satisfaz a míngua da boca              natal, concluiu o curso de agropecuária do instituto agrário de
e as migalhas fermentam o cuspo de cada um               Chimoio, em 1981, começando a trabalhar, no ano seguinte,           reclamam ansiosas o esperma das palavras?
pois é então cruel o nosso grito inevitável              como codiretor do projeto avícola do Chokwe, na província de
e ardem em brasa os braços cálidos de vontade.           Gaza. Entre 1983 e 1988, exerceu as funções de subchefe da
                                                         pateira da matola, na província de maputo, e de chefe do Depar-
No mesmo chão em que brindamos os sacrifícios            tamento técnico da avícola de maputo, de 1989 a 1990. Foi,          Nenhumas, talvez, nenhumas…
cremos ter semeado a sílaba mágica                       nesse ano, que obteve a licenciatura em medicina Veterinária
dessa oração de manter a mão de outro irmão              pela Universidade de Eduardo mondlane, em maputo. Em 1997,          escravizo o silêncio
lacrada à nossa;                                         tornou-se Diretor Nacional no Centro de Formação agrária e
e só na hora de adorar o luar e os batuques frenéticos   Desenvolvimento rural, em 1998, foi designado vice-ministro         e faço dele o meu mensageiro.
nos desfazemos em êxtase                                 da agricultura e pescas e, em 2000, foi nomeado ministro da
triturando o mesmo pó de que somos feitos                agricultura e Desenvolvimento rural. a nível político, foi ainda
                                                         deputado, entre 1994 e 1999, pelo círculo eleitoral de zambézia,
                                                         na assembleia da república, em representação da FrELimo.            Estou presente em tudo ou mais
                                                         Como escritor, escreveu diversas crónicas e artigos para
                                                         a imprensa, como em Notícias da beira, Charrua, Diário de           e aí onde me procurarem
                                                         moçambique, Eco, tempo, Lótus, Forja, entre outros órgãos de
                                                         comunicação. Vários dos seus trabalhos literários estão incluí-     será a minha próxima ausência
                                                         dos em antologias nacionais e estrangeiras, tais como Contos
                                                         moçambicanos ou sonha mamana África. publicou os livros
                                                         Verdade dos mitos (1988), Nhambaro (1996). Desde 1984, faz
                                                         parte da associação dos Escritores moçambicanos da qual foi
                                                         secretário-geral (1992-1996) e presidente do Conselho Fiscal
                                                         (1996-1999)

FICHA TÉCNICA
                                                        Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
  Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 *
                                                     Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz
Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br)
Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com)
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA       5
Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                                                 CRÓNiCA / CONTO                                                          5
                                  CARTOGRAFiA DO                                   FiLosoFonias                        rapsódicas
                                  ECOAR E DO MiAR                       MARCELO SORiANO - BRASiL
                                                                       m.m.soriano@gmail.com
                                  DO COuTO Ou COMO                    Nota preliminar: Antes de
                                                                      prosseguir com este artigo,
                                  viAJAR COM AS 24 (C)                lembro ao leitor que me dirijo à
                                                                      CPLP (Comunidade dos Países
                                  OBRAS DO MiA COuTO                  de Língua Portuguesa), portanto,
                                                                      podemos encontrar gerúndios,
                                                                      futuros do pretérito, expressões
 AMOSSE MuCAvELE- MAPuTO                                              etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros.
Sobre a nossa a Terra disse que ela é Sonâmbula: com muita razão, Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas
sabem porquê?                                                         para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós.
-Porque ela não dorme fica dias e noites de mãos estendidas ao Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011.
exterior a pedir esmola.
Amigos, num país visto como pobre os dirigentes são tão ricos!
trocam de carros de luxo e gozam de mordomias , mas não tem nem 1. BrevIárIo ÉBrIo
se quer um livro na cabeça.(preocupante não é)
Por isso que digo as nossas elites são incultas (vendem a nossa terra
a 30 dinheiros)                                                        Todo o boteco tem algo de solidão coletiva.
Além de tudo que acima croniquei, vejam só o profeta deu-lhes a  Decisão importante: Tomar um Rum na vida.
porção, dada a incompetência deles fizeram tudo ao contrário, deram  A bebedeira é uma ética etílico-psicodélica.
os venenos ao Deus e os remédios ao Diabo, nestes últimamentes
nós o povo, encontramo-nos na berma de nenhuma estrada, sabem,  Não há solidão mais bêbada que a da azeitona no Dry Martini.
sem onde guardar as nossas súplicas, sem onde pedir clemências,  O caramujo do bêbado é o barril.
pois o Senhor Deus exilou-se na terra onde reside o Homem que lhe  Amigos chatos nos ensinam que devemos ser tolerantes.
salvou da morte (por envenenamento perpetrado pela nossas elites)
dando-lhe antídoto.                                                    O fundo do poço e o fundo do copo são correlatos.
Quem me dera lá estar com eles debaixo daquela Varanda do  Tinham egos tão frágeis que, quando se encontravam, faziam
Frangipani, a ouvir os Contos do Nascer da Terra.                     tim-tim.
Do que estar nestas Cidades dos partidos políticos com idades
seculares no Governo, e onde os seus dirigentes consideram-se
Divindades.
Eu cansei de viver neste País do Queixa Andar, vou-me embora, com
um fio amarrado no pescoço (sei que Missangas não me faltarão), 2. A MorTe do reI
pelo caminho irei folhear as páginas desta Casa Chamada Terra e irei
remar contra maré deste Rio Chamado Tempo.
Chegado a Uma Terra Sem Amós, constato que algo mudou, a Imperador do chorume, Yohoy empunhou a garrafa como se fosse
aldeia cresceu, já são Vinte as Casas de madeira e Zinco. Mas ainda um cetro.
continuamos no Escuro e o Gato Abensonhado pressagia as Estórias
do velho.                                                             Moscas cingiram-lhe em coroa o tampo do crânio cabeludo. Aos
Alguém disse o velho está a morrer, o Gato não parava de tocar o borbotões, ratazanas
Ritmo do presságio:                                                   vieram do nada, roendo-lhe as raivas, carcomendo-lhe os concretos,
Retorquiu de novo-a biblioteca esta a arder.                          pulverizando-lhe
-E eu nos meus Pensatempos confusos, surgiu-me a seguinte a em restos... Pó de osso. Farinha da loucura... Em uma fração de
pergunta? Como hei-de o ajudar?
-Pensei na Princêsa Russa, cortei a ideia porque a neve não pode
                                                                      soluços,Yohoy
extinguir as chamas, continuei neste pensaraltivo, afinei os meus transformara-se em rasa montanha. Uma duna branca de vício
Silêncios, dentro de mim uma voz uivava “Vou ficando do som das pronta para ser inalada.
pedras. Me deito mais antigo que a terra. Daqui em diante, vou O cetro caído ao lado voltou a ser mera garrafa de espumante
dormir mais quieto que a morte¹.”Pego no machado, pelo caminho
vou Traduzindo esta Chuva que molha os ramos da minha alegria, descartada.
de nada vale continuar aqui, mas, antes partir deixem-me descolar a
Raiz do Orvalho.
Alguém disse - Ah, de nada resultará. De repente as Vozes 3. MoNóLogos PósTuMos CoM QuINTANA - PArTe vII
Anoiteceram, era o início da Chuva Pasmada.
E agora vou me embora mesmo “a procura da outra Pátria esta não
me pertence²”, pois O Mar Me Quer, é no mar onde vou pescar                  “ Se um poeta consegue expressar a sua infelicidade com toda a felicidade,
o meu sonho de se tornar noutro Pé da Sereia, caso não consiga                                                         como é que poderá ser infeliz?”
concretizar este meu sonho, procurarei outra maneira de partir,                                                                       Mário Quintana
assim sendo tornar-me-ei no Pensageiro Frequente deste Último
Voo do Flamengo que me levará até a Jesusalém.
                                                                  Eu a ele: Eis-me ali... Sob os olhos da Górgona interior... Ante
gLossárIo                                                         o Evangelho das
                                                                  Divagações... Enfim só... Perplexo... Por instantes, letrificado
1-Mia Couto in A Varanda do Fragipani                             para todo o sempre no
2-Celso Manguana in Pàtria Que Pariu                              meu papel vazio...
3-todas palavras a negrito fazem parte do acervo bibliográfico do
autor acima referido -Princêsa Russa conto que faz parte do livro Ele a mim: Amanhã nosso dia recomeçará, com o nome de ‘Todo
Cada Homem é Uma Raça. E outros livros                            o Santo Dia’...
-No meu País tem um provérbio que diz - um velho que morre é Repovoado por recantos, releituras, ressalvas... E
uma biblioteca que arde.                                          repassarinhos...
-O gato e o escuro, Cronicando
- Estórias abensonhadas
-O fio das Missangas,....e outros ficam sob alçada do leitor,
beijooooos
                                                                       (3.) CoNTINuA NA PróxIMA edIção..
6    BLA BLA BLA   Exero 01, 5555
     Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                                            https://literatas.blogs.sapo.mz                                                                         6


 - discurso dirEcto

Situação de Leitura:                      Moçambique e Brasil
com mesmos problemas
 FONTE: EDuCAR PARA CERSCER - BRASiL                              aquela que lê e compra livros, veremos que a situação é mas que era o assassino mais simpático que eu podia encon-
                                                                  proporcional à de moçambique.                              trar.
E sE você tivesse a oportunidade de entrevistar um escritor?                                                                 isso é para mostrar como construímos a imagem uns dos
pois os alunos do 3º ano do Ensino médio do Colégio são Luís,     3 – o que os escritores fazem para promover o livro em outros. a imagem que se tem da África fora da África é
em são paulo, tiveram. E não foi um escritor qualquer. Há duas    moçambique?                                                sempre associada à fome, à miséria, à guerra. mas os africa-
semanas, os adolescentes estiveram com o moçambicano              a assoCiação de Escritores de moçambique faz encon- nos não vivem todos assim. Eles são felizes, são construtores
mia Couto no auditório da escola. Em quase duas horas de          tros em escolas primárias e secundárias e em fábricas. E de vida, têm uma vida social riquíssima, têm culturas diver-
conversa, os meninos não se intimidaram: fizeram perguntas        aí tentamos fazer alguma coisa. mas os livros estão muito sas, é o lugar no mundo onde há mais diversidade do ponto
inteligentes e não deixaram espaço para silêncios constrange-     caros. é o trabalho que escritor faz, mas é uma panaceia, de vista linguístico e cultural. Então os problemas que temos
dores (a propósito, veja o que o escritor tem a dizer sobre o     porque o resto não depende do escritor.                    são os mesmos da maior parte dos países africanos. têm a
silêncio na oitava pergunta).                                                                                                ver com a miséria, têm a ver com o fato de que a sua própria
EU EstiVE lá para acompanhar a entrevista e, junto com os         4 – Quais são os maiores problemas de moçambique história é muito recente. moçambique teve uma guerra
alunos, ri e me emocionei com as respostas de mia. ao final,                                                                                                       civil de 16 anos, em que
ainda tive a chance de perguntar a ele sobre a diferença que                                                                                                        morreram muitas pes-
a Educação fez em sua vida. Confira abaixo a entrevista e                                                                                                           soas. Quando morre
encante-se com as histórias de mia Couto, um dos maiores                                                                                                            uma pessoa, tanto faz
escritores africanos da atualidade. (Fiz questão de deixar as                                                                                                       se é militar ou civil, mas
respostas na íntegra. Ficaram longas, mas valem a leitura,                                                                                                          o que é mais triste é
garanto!)                                                                                                                                                           que as guerras da África
                                                                                                                                                                    são guerras que matam
                                                                                                                                                                    sobretudo os civis. os
1 – Você lutou pela independência de moçambique durante                                                                                                             soldados morrem
a guerra civil. Como a sua vivência como militante da Frelimo                                                                                                       pouco, porque muitas
(Frente de Libertação de moçambique) marcou o seu trabalho                                                                                                          vezes se transformam
como escritor?                                                                                                                                                      em forças descoman-
                                                                                                                                                                    dadas, já que não existe
marCoU DE várias maneiras. Foi um processo longo, de escol-                                                                                                         um Estado forte e não
has, de um certo risco em um dado momento. Foi algo que                                                                                                             há territórios defini-
me ensinou a não aceitar e a não me conformar. é a grande                                                                                                           dos. mas a África toda
lição que tiro, que também me ajuda hoje a estar longe desse                                                                                                        não é isso, há grandes
movimento de libertação, que se conformou e se transformou                                                                                                          histórias de sucesso.
naquilo que era o seu próprio contrário. mas eu acredito que                                                                                                        moçambique é ao
ser uma pessoa feliz e autônoma é uma conquista pessoal.                                                                                                            mesmo tempo uma
Não se pode esperar que algum movimento social ou político                                                                                                          grande história de suc-
faça isso por você. isso é algo que resulta do nosso próprio                                                                                                        esso, porque a guerra
empenho.                                                                                                                                                            acabou em 1992 e,
                                                                                                                                                                    quando eu pensava
2 – Como é ser escritor em moçambique?                                                                                                                             que nunca mais ia ver a
                                                                  hoje?                                                      paz, o governo conseguiu instalar a paz juntamente com a
VoU CoNtar um pequeno episódio que pode ajudar a                                                                             sociedade civil. E hoje moçambique é um grande parceiro
responder a essa questão. Um dia eu estava chegando em            aNtEs DE responder à pergunta, eu vou dizer uma coisa. internacional de investimento e de outros governos. por
casa e já estava escuro, já eram umas seis da tarde. Havia um     a imagem que nós temos uns dos outros é feita muito de exemplo, hoje o brasil está muito presente em moçambique,
menino sentado no muro à minha espera.                            clichês, de estereótipos. Vocês também têm uma imagem com projetos de construção, de estradas, portos, barra-
QuANdo CHegueI, ele se apresentou, mas estava com uma mão         feita fora. a primeira vez que eu vim a são paulo, há gens etc. portanto, acho que moçambique vive hoje um
atrás das costas. Eu senti medo e a primeira coisa que pensei é   alguns anos, fui protagonista de uma história engraçada. momento muito feliz. mas continua sendo um dos países
que aquele menino ia me assaltar. pareceu quase cruel pensar      Quando eu estava saindo de moçambique, disseram-me mais pobres do mundo.
que no mundo que vivemos hoje nós podemos ter medo de             que são paulo era perigosíssima, que havia balas perdi-
uma criança de dez anos, que era a idade daquele menino.          das, gente morrendo, e eu comecei a ficar cheio de medo. 5 – Com sua obra, você conseguiu apresentar a realidade
Então ele mostrou o que estava escondendo. Era um livro, um       Uma das minhas filhas me dizia até que eu ia morrer. Na de um país, e até de um continente. Como é a sua relação
livro meu. Ele mostrou o livro e disse: “Eu vim aqui devolver     viagem de avião, que dura onze horas, eu vim pensando com moçambique?
uma coisa que você deve ter perdido”. Então ele explicou a        que era um perigo e que eu seria assaltado. tinham me
história.                                                         dito para tomar cuidado quando chegasse ao aeroporto, EU Não me considero representante de moçambique, me
dIsse Que estava no átrio de uma escola, onde vendia amen-        porque tinha saído na Globo – lá também temos Globo – considero apenas representante de mim mesmo. Eu tenho
doins, e de repente viu uma estudante entrando na escola          que havia falsos táxis que raptavam as pessoas.            duas dificuldades: eu sou de um continente em que os
com esse livro. Na capa do livro, havia uma foto minha e ele      E, DE fato, eu já estava contaminado com aquela coisa. brancos são minoria. os brancos moçambicanos são mino-
me reconheceu. Então ele pensou:                                  Quando cheguei, tinha um motorista da minha editora, ria. Num país de 21 milhões, os brancos são 10 ou 20 mil.
 “essA MoçA roubou o livro daquele fulano”. porque como           mas ele não estava usando uniforme e não tinha nen- portanto, eu não poderia ser o representante de qualquer
eu apareço na televisão, as pessoas me conhecem. Então ele        huma identificação. Eu logo perguntei se ele tinha iden- coisa, se é que existe isso de representatividade. E a outra
perguntou: Esse livro que você tem não é do mia Couto?”. E        tificação e ele disse: “Não, eu sou o pepe”. E foi me con- dificuldade é que eu tenho nome de mulher. agora já não
ela respondeu: “sim, é do mia Couto”. Então ele pegou o livro     duzindo por um corredor e dizendo que o carro estava acontece tanto, mas antes, quando eu ia visitar um outro
da menina e fugiu.                                                lá no fundo. E o carro não era propriamente um táxi. E país, muitas vezes estavam esperando uma mulher negra.
                                                                  a ideia de que eu estava sendo raptado começou a soar E eu ficava no aeroporto esperando que alguém viesse falar
Essa História é para dizer que, para uma parte dos moçam-         na minha cabeça.                                           comigo e nada. Já tive desentendimentos terríveis.
bicanos, a relação com o livro é uma coisa nova. é a primeira     QuANdo eNTreI no carro e sentei ao lado do motorista, Uma VEz fui visitar Cuba e tinham organizado um presente
geração que está lidando com a escrita, com o escritor, com o     eu já estava olhando para a frente e pensando “esses são para cada membro da delegação de jornalistas. Voltei com
livro. Nós, escritores moçambicanos, sabemos que escrevemos       os últimos momentos da minha vida, vou reviver todo uma caixa de presentes. Na época, vivíamos em guerra. E,
para uma pequena porcentagem da população, que são os             o meu passado, como nos filmes”. até que o motorista na guerra em moçambique, nós vivíamos em uma situação-
que sabem ler e escrever.                                         pegou algo no porta-luvas. Era uma coisa metálica, para o limite, não tínhamos nada. Nós saíamos de casa em busca
o LIvro tem uma circulação muito restrita. mas, mesmo assim,      meu desespero. E ele estendeu essa coisa e disse: “aceita de coisas para comer. Era essa a situação que meus filhos
as tiragens dos meus livros em moçambique giram em torno          uma balinha?”. Vocês estão rindo, mas eu não tinha nen- tinham de enfrentar todos os dias. Então eu estava fascinado
de 6 mil, 7 mil exemplares, o que é um número alto. Quando        huma vontade de rir, porque balinha lá não quer dizer a com aquela coisa de ter ganhado um presente. Quando
comparo com as tiragens que faço no brasil, posso dizer que       mesma coisa que aqui. Quer dizer bala no sentido literal cheguei em maputo, abri aquela caixa e eram vestidos,
o brasil não vai muito além. o brasil não lê tanto quanto pen-    mesmo, projétil de bala. E aí eu só consegui pensar que brincos, eram coisas para uma mulher, para a senhora mia
samos. se contarmos a população inteira do brasil e apenas        estava sendo assaltado, que aquele homem ia me matar, Couto. Então eu não me sinto representante nesse sentido,
                                                                                                                             mas sinto que o fato de seu ser conhecido hoje fora de
                                                                                                                             moçambique me obrigar a ter uma responsabilidade para
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA       7
 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                                                https://literatas.blogs.sapo.mz                                                     7


- discurso dirEcto
com o meu próprio país. Então, quando estou fora, eu         ausência não existe. Nesse silêncio, há sempre alguém que
tento divulgar a cultura de moçambique, os outros                                                       É um investimento que eles fazem
                                                             fala. são os mortos. por exemplo, a relação com o corpo. é
escritores. trago livros de escritores moçambicanos e        preciso ter tempo para encontrar alguém. Quando eu estou
entrego às editoras, para saber se é possível que sejam                                                 em uma outra esperança, em uma
                                                             falando com um homem, eu cumprimento com um aperto
editados etc.                                                de mão. mas o aperto de mão não é igual, tem um ritual.
                                                                                                      outra crença. É impressionante. Mas
                                                             Depois do aperto, a mão fica na mão da outra pessoa. Não
6 – E com portugal?                                          tem nada a ver com interpretação gay. a mão fica na mão
                                                                                                     há escolas em Moçambique nas quais
                                                             da pessoa com quem estamos falando, e essa mão não tem
EU soU descendente, sou filho de portugueses e tenho         peso, é uma mão leve. porque se fala com o corpo. temos
uma relação com portugal muito curiosa, porque eu                                                     eu não vou: a escola americana, por
                                                             essa liberdade de poder usar o corpo para dizer coisas que
não conhecia portugal até eu ser adulto. só fui a por-       não podem ser ditas pela palavra. são coisas pequenas que
tugal quando eu comecei a publicar meus primeiros                                                     exemplo, que é uma chatice. É uma
                                                             nos mudam muito interiormente. é uma capacidade de
livros. E era uma coisa muito estranha, porque a con-        estar disponível para os outros. E capacidade de ser feliz.
cepção africana de lugar é que o lugar é nosso quando                                               vida feita de facilidades, em contraste
                                                             EU também encontro muito isso no brasil. tem a letra de
os nossos mortos estão enterrados no lugar. E eu não         música brasileira que diz “levanta, sacode a poeira, dá volta
tenho mortos em moçambique, infelizmente. Então                                                       com essa vida de conquistas, em que
                                                             por cima”. Eu acho que isso é, em grande parte, uma her-
os meus mortos estão enterrados em algum lugar no            ança africana. isto é para não ficar lamentando a desgraça.
norte de portugal. E eu fui ver esse lugar. Eu queria                                                   as pessoas têm de sair de manhã e
                                                             Eu acho que, se os europeus vivessem as dificuldades que
ver justamente porque queria ter essa relação quase          vivem os africanos, eles seriam muito amargos. aliás, já são.
religiosa com o lugar.                                                                                   têm de lutar. Às vezes nem tenho
                                                             a forma como os africanos celebram a alegria de viver e o
o QUE acontece é que os meus pais imigraram para             fato de que qualquer momento é um momento de festa,
moçambique quando eram jovens, tinham 20 anos, e                                                    coragem de perguntar a esses meninos
                                                             de celebração, de dança, de canto, acho que é outra coisa
viveram toda a sua vida lá, nunca mais tiveram relação       que é importante aprender. Há uma tolerância profunda.
com portugal. E eles contavam histórias de um país                                                        o que eles fizeram para chegar à
                                                             Vocês vão ouvir mil histórias sobre intolerância, e essas
que, ao mesmo tempo que me fascinava, era uma coisa          histórias também são verdadeiras. o mundo é feito dessa
muito distante. o que acontecia é que a minha mãe,                                                      escola naquele dia. Muitas vezes o
                                                             coisa contraditória, mas a verdade é que há uma tolerância
ao contar histórias sobre a sua família, seus tios e avós,   muito grande. Essa tolerância nasce de uma coisa. o que
trazia para mim e para meus irmãos uma presença que                                                      giz é feito com pau de mandioca
                                                             eu vou dizer agora é muito importante: a África só pode
nos fazia muita falta, porque todos os meus amigos           ser entendida se vocês perceberem que a África tem uma
tinha avós, tios e falavam dos primos. Eu não tinha                                                    seca. Às vezes, não há sala. É uma
                                                             outra religião. Essa África negra tem uma outra religião.
ninguém. a minha família eram os meus pais e os meus         Essa religião não tem nome. Não é o candomblé, não é
três irmãos. Então o que a minha mãe fazia ao contar                                                  árvore. E não há cadeiras, as pessoas
                                                             a umbanda, é outra coisa. é uma religiosidade que não
histórias era inventar a família inteira. Eu precisava ter   se separou das outras esferas do pensamento. Não é um
um sentimento de eternidade que era conferido por                                                    sentam no chão. No entanto, aqueles
                                                             sistema de pensamento. Na África que eu conheço, existem
essas histórias que a minha mãe contava. mas eram            os deuses das famílias. Você tem os seus deuses, eu tenho
quase todas mentira, quase todas eram inventadas                                                        meninos estão todos os dias ali na
                                                             os meus deuses. isso significa que eu não estou muito
por ela.                                                     preocupado em te convencer de que existe uma verdade
                                                                                                         escola, assim como os professores.
                                                             só, que é uma coisa muito típica das regiões monoteístas,
7- QUaL é a sua opinião sobre a reforma ortográfica?         que é uma verdade que tem de ser imposta ao outro e o
                                                                                                       Isso é uma grande esperança. É um
                                                             outro tem de seguir esse princípio. Você pode ter a sua
EU Não sou a favor. Considero que alguns dos motivos         verdade, eu tenho a minha, e está tudo certo. acho que
que foram invocados para a reforma ortográfica não                                                     universo de gente que sabe que tem
                                                             essa é a razão para os africanos terem essa tolerância.
são verdadeiros. E acho que é uma discussão com a
qual os portugueses, principalmente, ficaram muito             Mas a verdade é que africanos são de fazer isso para construir uma vida
nervosos, porque, para portugal, mexer na língua é uma
coisa muito sensível. algumas pessoas de portugal acr-       muito parecidos com todos os outros.         diferente. É uma grande escola.
editam que a língua é a última coisa que eles têm, que
é a primeira e última coisa que têm, é um sentimento          Essa ideia de que a África é muito 9 – Como você e as personagens da sua obra dialogam com
imperial da sua própria presença no mundo que foi                                                   o mundo contemporâneo, que é marcado pelo consumismo
posto em causa. mas a minha questão não é essa. é               diferente, muito exótica existe só  e pelo hedonismo?
que eu sempre li os livros dos brasileiros e nunca tive
problema nenhum, nunca tive dificuldade nenhuma.              na cabeça de algumas pessoas. Mas EU aCHo que um jogo de construção e desconstrução porque
para vocês, que estão lendo meus livros em português                                                esse mundo que você retrata como sociedade do consumo
de moçambique, existe alguma dificuldade particular           há uma coisa que é preciso ser dita. existe e não existe em moçambique, porque muitas vezes
por causa da grafia? ou a dificuldade é o resto e essa é                                            consumimos muito pouco. Consumimos mais aquilo que é
a única coisa que não é difícil?                                 Em uma sociedade que é muito       ilusão. Cada vez menos o Estado confere Educação e saúde, e
EU aCHo inclusive que haver uma grafia que tem                                                      nós temos que conseguir isso por outras vias. Então o que eu
alguma distinção, um traço de distinção pode trazer           pobre, às cinco da manhã, às vezes procuro fazer nos meus livros é uma coisa que eu posso fazer
um outro sabor a uma escrita. E os brasileiros conhecem                                             como escritor. Eu não posso lutar para além desse limite, que
muito pouco de moçambique, de angola ou de são                 eu saio de casa e vejo as pessoas já é sugerir que há outros caminhos, que é possível sonhar, que
tomé. Às vezes eu ando na rua e tenho uma dificuldade                                               não podemos ficar acomodados, resignados. obviamente eu
enorme para explicar quem eu sou. Na verdade, isso eu        acordadas, atravessando quilômetros não posso propor uma tese ou um modelo alternativo nos
não sei explicar, mas a dificuldade é para explicar de                                              meus livros, nem saberia fazer isso, mas posso incentivar o
onde eu venho. Quando falo que não sou de portugal,           a pé, andando 30, 40 quilômetros gosto, a vontade.
sempre fica uma coisa difícil. Fazem as perguntas mais
estranhas sobre o que pode ser moçambique, se é um               para ir à escola, saindo de casa   10 – Como você vê os seus personagens no cinema? Como
país que fica perto do paraguai, por exemplo. Então a                                               é a visão física deles?
distância entre nós não é um problema que deriva da             sem o café da manhã e tomando
ortografia, deriva de outras coisas, de política, de uma                                            é Um estranhamento, porque aquilo que eu criei não tinha
falta de interesse, de um distanciamento. isso não será         simplesmente uma xícara de chá      voz nem rosto, nem para mim mesmo. Então de repente
resolvido mudando o acordo ortográfico.                                                             o personagem tem uma voz. mas, mesmo que seja a mais
                                                             com muito açúcar para dar energia, bela voz do mundo ou o rosto mais belo do mundo, o fato
8 – o que pode mudar a imagem negativa que muitas                                                   de ter um rosto e uma voz e não estar aberto e não ter vozes
pessoas têm da África?                                         para ir para a escola aprender. Eu múltiplas é uma perda. por isso, eu me distanciei. se participo
                                                                                                    do filme, é somente para pontualmente dar algum apoio,
HÁ VÁrias Áfricas e eu estou falando daquela que eu             tenho um prazer enorme de ir às     mas não como alguém que tenha competência para isso,
conheço. Essa África que eu conheço sobrevive por um                                                porque eu não tenho. Eu quero que o realizador de cinema
espírito de solidariedade, de abertura e de respeito com      escolas em Moçambique, porque os faça um produto distante, que é capaz de se soltar, ganhar
os outros. a forma que os africanos têm de se abordar,                                              asas e sair do texto escrito, senão perde como livro e perde
de saber um dos outros é uma coisa genuinamente              meninos estão ali com uma fé quase como filme.
autêntica. Quando eu estou cumprimentando alguém,
quando estou falando com alguém, eu dou espaço para           religiosa. Eles estão ali absorvendo, 11- VoCê gostou de “Um rio chamado tempo, uma casa
o outro. Então há uma lição de escutar os outros. Eu                                                chama terra”, filme baseado em seu livro?
nunca falo quando o outro está falando, dou espaço,           têm os olhos abertos até o infinito,
não tenho medo do silêncio, que é uma coisa que acon-                                               mais oU menos. o que tinha de dizer já disse ao realizador,
tece aqui. as pessoas estão conversando, de repente             estão completamente ali. Não se     que é meu amigo. Gostei, mas não gostei
há um silêncio, e isso é um peso, é uma coisa da qual
temos que nos libertar, é uma ausência. Na África, essa       ouve uma mosca passando na sala.
8   BLA BLA BLA    Exero 01, 5555
Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                  https://literatas.blogs.sapo.mz                                                            8
no rEcanto dE apoLo...
Doce como o massacre                 Pensei que estavas
de sóis                              sozinha                                              Amanhecer
BáRBARA LiA - BRASiL                                                                       PEDRO Du BOiS - BRASiL
 oito canhões na praça de guerra
                                      SAMuEL COSTA - iTAJAí - BRASiL
 apontam para o peixe                                        para Nagdila thally malfoy     amanheço em nuvens de inver-
 Que traz a paz nas guelras
                                                                                          no.
 Quatro gaivotas suicidas
 Lambem o babado azulado                            Entre lírios e rosas!                  No esfriar da hora sou corpo
 Do triste mar-flamenco
                                       Em meio a sussurros, gritos, gemidos & prantos!     despertado. sigo o leito do rio
 Lembro um filme de babenco:
                                                   Espasmos de prazer.                     ao largo: estrito ao peito
 ana e o vôo
 mariposas no quarto lúgubre                          Juras de amor!                       da mulher amada no anunciar
 suas mãos em concha
 a esmagar a eternidade insalubre            Eu pensava que estavas sozinha!               horas anteriores de refúgio. acordo

                                            No meu desespero...procurava-te!               e levanto em ensolarados passos.
 i
 n, a FLor DENtro Da ÁrVorE                  Nos meus sonhos...andavas só!

                                                  Vagando pelo infinito!                              Da manhã retiro a necessidade

                                                            ***                                       da utilidade. sou repositório
Até que os serafins acenem               Embriaga-me...oh...minha divina musa!                        da inatividade.
com seus chapéus brancos                         Com o teu eflúvio sutil.
BáRBARA LiA
                                        Em meus pensamentos...andavas sozinha!

 Não nasci para resfriar o mundo                         insegura!                              Madrugada Madrugadora
 Neste lerdo cortejo de omissões                     E desprotegida.

 Estas palavras interditas                             No infinito...                           CELSO MuNGuAMBE - MAPuTO
 suspensas                                       E na solidão do meu ser!                        a noite ronca eternamente, e internamente dorme
                                                                                                 a escuridão
 Não vim quebrar as pernas do sol                     procurava-te...                            Friamente as madrugadas nascem, congelando e
                                                                                                 Gelando o universo, madrugadas silenciam-se
 silenciar cada bemol                       Eu pensava...que estavas sozinha.                    Diante de tanto frio

 Não vim para arrebentar o anzol                 Em meus pensamentos!                           Um ninho floresce com delicadeza
                                                                                                a madrugada vomita a cacimba aconchegante
 Do velho de Hemingway                            tomo-te pelos braços!                         Como um diamante delapidado e escalado
 sou mar e trovão no coração                                                                    Num dos silêncios, a madrugada grita apelando
                                                   Digo que és minha!                           para lua
 Nasci para amar sem lastro
                                                      mas não o és!                             a madrugada delira de tanta solidão, sem exactidão
 para dançar no pátio                                                                           Ela faz um sarau
                                                 perco-me no teu olhar...                       bisbilhotando na noite, ela procura afazeres
 it is my way                                                                                   Desfazendo o movimento rotativo
                                             No teu sorriso quero me perder.
                                                                                                a madrugada conversa com a manhã
 in, a FLor DENtro Da ÁrVorE           No meu devaneio...desapareço em teus cabelos!            Uma conversa rápida e fria, mas não sombria
                                                                                                Lá esta ela, com uma cara murcha de solidão
A lentidão das palavras do            Em meio a sussurros, gritos, gemidos & pran-              a madrugada é muito sacrificada.


arcanjo ao acordá-la                                       tos!

                                                   Espasmos de prazer.
BáRBARA LiA

                                                                                                 Mente vadia
                                                     E juras de amor!
 o sagrado despe as ilusões
                                                 Não estás mais sozinha!
 e abraça as árvores mortas

 suas folhas azul esmaecido
                                                                                                 RuTh BOANE - TETE
 qual manto da Virgem de Cambrai                                                                  procuro-me nos murmúrios da vida
 os ossos das árvores adoeceram
                                      JAPONE ARiJuANE - MAPuTO                                    mas perco-me nos mesmos.
                                                                                                  mergulho em águas secas e consolo-me
 e elas morreram – azuis -             Enferruja nos meus olhos arco-ires                         somente na dúvida da minha dúvida.
                                       Deste mundo que chove infortúnios                          Questiono-me porque sangram os homens
 antes que tornassem brancos           tédios sentidos travejam desamorvidos                      mais tristeza do que alegria.
                                       alienadas aguas de um homem com sede do sahara             ah! Não me vem a resposta!
 os seus cabelos                       Labuta infertilidade na terra que inunda pobreza           Como poderei saber se nem o verdadeiro
                                       Dirão que sim a este destino incerto                       significado dos mesmos conheço?
                                       a fome torrencialmente nestes olhos enxurrados             sinto um vazio!
                                       relâmpago e trovoadas no estômago deserto                  Várias são as questões que
                                       desalojamento acentua o medo nas vitimas enche.            navegam em minha mente.
                                                                                                  No silêncio da minha obscura noite
                                                                                                  vadio por entre bairros desconhecidos
 in, a FLor DENtro Da ÁrVorE                                                                      procurando saber e conhecer o que é desconhecido.
Exero 01, 5555   BLA BLA BLA   9
Terça-feira, 30 de Agosto de 2011                                              https://literatas.blogs.sapo.mz                                                           9

canto da poEsia - FacEbook
 vOAR NO MuNDO                                                   MALDiçÃO                                        A demência persegue-te
                                                                 ANDERSON FERREiRA                               RuTh BOANE - TETE
iziDiNE JAiME
                                                                                                                  tu, miserável!
                                                                Vida de sonhos incompletos
Escrever é calar o mundo dos ouvidos.
E cantar a madrugada que não nasce.                             Desejos inconstantes de alma sem asas             pena sentem minhas janelas
é também levar ao ombro que ninguém toca                                                                          ao abrirem-se e mirarem parvoíces.
um consolo de dedos invisíveis.                                 Incomensurável frustração do gozo                 Cospes porcarias para mim e depois
                                                                Que corre em minhas veias                         dizes que eu é que sou demente. (Gargalhadas)
Voar como quem nunca tivera asas
E descobrir que o mundo                                         Sangue venoso que não se purifica                 triste é ver-te convencido
Não é esse pedaço de terra que nos cobra o corpo                Não se esvai em sangrias medicinais               de que demente eu é que sou.
mas o suspiro de um vento leve                                                                                    ah! se soubesses quem o é!
que nos toca docemente o coração.                               Lamúrias sem virtude                              triste é ouvir-te cuspir
                                                                Sem a nobreza da dor                              maldições em mim e humilhar-me. (Gargalhadas)
Escrever é libertar-se...                                                                                         tu, miserável!
Decalcando em letras                                            Sem os cuidados de outrem                         tu, miserável!
as rasuras do silêncio que o coração clama.                                                                       a demência persegue-te...
                                                                Santifica tuas feridas
E ainda ser a triste cantiga da sociedade
num verso rítmico que rege a alma.                              Agarre tuas mazelas
                                                                                                                  Julgas tu que me humilhando
                                                                Pois serão tuas e somente tuas
E nas mãos de todos,                                                                                              erguem-se os teus ombros
invocar a missão de ser                                         Sê-de forte                                       sabes, certas criaturas podem até
toda uma brisa no ar                                                                                              rir-se na hora em que te sentes o tal
Que se dissolve em sorrisos                                     A desgraça será teu alimento                      mas sim, sim! são as mesmas que se
Florindo a todos olhares que sabem amar.                        Junte-se as aves de rapina                        riem de ti pelas costas (Gargalhadas)
                                                                                                                  são as mesmas que se riem da tua demência
                                                                A toda sorte de animais malditos                  são as mesmas que se riem da tua estupidez.
                                                                Teu caminho será entre as sombras da tua alma
 POEMA DA MANhà ChuvOSA                                         Serás infame
                                                                                                                  a demência persegue-te!
                                                                                                                  (Gargalhadas) Eu é que sou demente...
                                                                Até que percebas                                  Essa é boa!
 PETER PEDRO PiERRE PETROSSE
                                                                A criação.


  o dia amanheceu,
  Nuvens tristes e turvas,                                             textos do Grupo - Canto da poesia do FacebooK. recolha de raffa inguane.
  o sol ainda vadia por outras bandas.

  tic, tic, tic, tic...
  Chora o céu,
  triste pela ausência do sol.

  parte de suas lágrimas morre nas chapas do meu humilde aposento,
  Dirigindo-se em seguida para a sepultura do solo.

  o seu embater nas chapas,
  Cria uma melódia agradável de se ouvir.                                    Tem a honra de convidar para a palestra “Independência do Brasil: Novas

  a melodia atravessa os atalhos dos meus tímpanos,
                                                                             interpretações”, proferida pela Drª Emy Caldwell de Farias, no dia 1º de
  o bass do bater do meu coração fica mais suave.                            Setembro de 2011, às 18H00.
  Na tela da minha mente,
  aprecio a exposição do teu semblante jubiloso,
  Que almejo ver e amalgama-lo com os sentimentos que carrego.


                                                                             Esta palestra irá fazer uma abordagem um pouco diferenciada do que se
                                                                             conhece sobre a independência do Brasil, antiga colónia portuguesa e país
                                                                             que caminha hoje, com celeridade, para se transformar na quinta mais
                                                                             poderosa economia do mundo.


                                                                             Amy Caldwell de Farias é de origem americana e residiu mais de 10 anos
                                                                             no Brasil,   é Professora Associada na Monmnouth College, em Illinois,
                                                                             Estados Unidos e Coordenadora           de Estudos Integrados na mesma
                                                                             universidade,     tendo lecionado   História Latino-Americana            em várias
                                                                             universidades americanas e brasileiras.


                                                                             Amy Caldwell tem uma lista imensa de artigos sobre História publicado em
                                                                             várias revistas especializadas e vários livros. A sua obra emblemática, fruto
                                                                             da sua tese de doutoramento, intitula-se: Mergulho no Letes: Um Re-
                                                                             Interpretação Político-Histórica da Confederação do Equador, editada no
                                                                             Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.


                                                                             Neste momento, Amy Caldwell de Farias encontra-se em Moçambique onde
                                                                             desenvolve uma pequisa relacionada com a presença de brasileiros no vale
                                                                             do Zambeze dos séculos XVII e XVIII.
Terça-feira, 30 de Agosto de 2011
10 BLA BLA BLA Exero 01, 5555
                                                    https://literatas.blogs.sapo.mz                              10

outras agEndas

      ERRATA

      Na edição anterior, referente ao dia 23 de agosto de 2011, neste espaço, publicamos um artigo de título “Niassa
     sem livrarias”, assinado com o nome mauro brito de maputo. Na verdade, o artigo pertence ao nosso corespon-
     dente em Lichinga, capital da província do Niassa, Lino de sousa mucurusa. pelo facto, as nossas desculpas, ao
     autor do artigo e aos leitores no geral.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Revista literatas edição 6
Revista literatas   edição 6Revista literatas   edição 6
Revista literatas edição 6canaldoreporter
 
Possíveis exercícios de a cidade e as serras
Possíveis exercícios de a cidade e as serrasPossíveis exercícios de a cidade e as serras
Possíveis exercícios de a cidade e as serrasBriefCase
 
Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017
Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017
Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017Larissa Barreis
 
CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...
CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...
CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...Cláudia Heloísa
 
Revisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismo
Revisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismoRevisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismo
Revisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismoma.no.el.ne.ves
 
A Cidade e as Serras
A Cidade e as SerrasA Cidade e as Serras
A Cidade e as Serrasvpaganatto
 
Revisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismoRevisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismoma.no.el.ne.ves
 
Análise dos contos de Sagarana, de João Guimarães Rosa
Análise dos contos de Sagarana, de João Guimarães RosaAnálise dos contos de Sagarana, de João Guimarães Rosa
Análise dos contos de Sagarana, de João Guimarães Rosajasonrplima
 
A poesia de joão cabral de melo neto
A poesia de joão cabral de melo netoA poesia de joão cabral de melo neto
A poesia de joão cabral de melo netoma.no.el.ne.ves
 
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães RosaModernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães RosaTamara Amaral
 
Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018
Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018
Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018Luiz Felipe
 
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosaAnálise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosama.no.el.ne.ves
 
Revista literatas edição 7
Revista literatas   edição 7Revista literatas   edição 7
Revista literatas edição 7canaldoreporter
 

Mais procurados (19)

Dom Casmurro
Dom CasmurroDom Casmurro
Dom Casmurro
 
Revista literatas edição 6
Revista literatas   edição 6Revista literatas   edição 6
Revista literatas edição 6
 
Possíveis exercícios de a cidade e as serras
Possíveis exercícios de a cidade e as serrasPossíveis exercícios de a cidade e as serras
Possíveis exercícios de a cidade e as serras
 
Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017
Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017
Análise literária obra "Sagarana" de Guimarães Rosa. FUVEST 2017
 
CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...
CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...
CONFIRA A ATUALIZAÇÃO DESTA APRESENTAÇÃO EM https://www.slideshare.net/clauhe...
 
Agustina
AgustinaAgustina
Agustina
 
Revisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismo
Revisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismoRevisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismo
Revisional de estilos de época 14, terceira geração do modernismo
 
A Cidade e as Serras
A Cidade e as SerrasA Cidade e as Serras
A Cidade e as Serras
 
Revisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismoRevisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismo
 
Análise dos contos de Sagarana, de João Guimarães Rosa
Análise dos contos de Sagarana, de João Guimarães RosaAnálise dos contos de Sagarana, de João Guimarães Rosa
Análise dos contos de Sagarana, de João Guimarães Rosa
 
A poesia de joão cabral de melo neto
A poesia de joão cabral de melo netoA poesia de joão cabral de melo neto
A poesia de joão cabral de melo neto
 
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães RosaModernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
 
Barroco 2011
Barroco 2011Barroco 2011
Barroco 2011
 
Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018
Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018
Sagarana - leitura obrigatória da FUVEST 2018
 
Dom Casmurro
Dom CasmurroDom Casmurro
Dom Casmurro
 
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosaAnálise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
 
Guimarães Rosa
Guimarães RosaGuimarães Rosa
Guimarães Rosa
 
Fernão Mendes Pinto
Fernão Mendes PintoFernão Mendes Pinto
Fernão Mendes Pinto
 
Revista literatas edição 7
Revista literatas   edição 7Revista literatas   edição 7
Revista literatas edição 7
 

Destaque

Nueva diez
Nueva diezNueva diez
Nueva diezvalleidy
 
Los 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadoresLos 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadoresvalleidy
 
Los 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadoresLos 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadoresvalleidy
 
Como flechas nas mãos do valente
Como flechas nas mãos do  valenteComo flechas nas mãos do  valente
Como flechas nas mãos do valentehenrique dressler
 
Motores de Búsqueda y Operadores Boléanos
Motores de Búsqueda y Operadores BoléanosMotores de Búsqueda y Operadores Boléanos
Motores de Búsqueda y Operadores BoléanosCarlos Beltran
 
Diferencias entre buscador y navegador
Diferencias entre buscador y navegadorDiferencias entre buscador y navegador
Diferencias entre buscador y navegadorbmllanos
 

Destaque (9)

Jornal do Sertao 98 Abril 2014
Jornal do Sertao 98  Abril 2014 Jornal do Sertao 98  Abril 2014
Jornal do Sertao 98 Abril 2014
 
Nueva diez
Nueva diezNueva diez
Nueva diez
 
10 mejores buscadores
10 mejores buscadores10 mejores buscadores
10 mejores buscadores
 
Los 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadoresLos 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadores
 
Los 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadoresLos 10 mejores buscadores
Los 10 mejores buscadores
 
Como flechas nas mãos do valente
Como flechas nas mãos do  valenteComo flechas nas mãos do  valente
Como flechas nas mãos do valente
 
Revista Hangar
Revista Hangar Revista Hangar
Revista Hangar
 
Motores de Búsqueda y Operadores Boléanos
Motores de Búsqueda y Operadores BoléanosMotores de Búsqueda y Operadores Boléanos
Motores de Búsqueda y Operadores Boléanos
 
Diferencias entre buscador y navegador
Diferencias entre buscador y navegadorDiferencias entre buscador y navegador
Diferencias entre buscador y navegador
 

Semelhante a Análise da 'Cidade dos Espelhos', uma novela futurista de João Paulo Borges Coelho

Revista literatas edição 16
Revista literatas   edição 16Revista literatas   edição 16
Revista literatas edição 16canaldoreporter
 
Revista literatas edição 16
Revista literatas   edição 16Revista literatas   edição 16
Revista literatas edição 16canaldoreporter
 
Revista literatas edição 13
Revista literatas   edição 13Revista literatas   edição 13
Revista literatas edição 13canaldoreporter
 
Acre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autor
Acre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autorAcre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autor
Acre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autorAMEOPOEMA Editora
 
O quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário VerdeO quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário VerdeMariaVerde1995
 
Revista literatas edição 12
Revista literatas   edição 12Revista literatas   edição 12
Revista literatas edição 12canaldoreporter
 
A capoeira literária do poeta Nov@to
A capoeira literária do poeta Nov@toA capoeira literária do poeta Nov@to
A capoeira literária do poeta Nov@toFavela é isso aí
 
Francisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um Figurino
Francisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um FigurinoFrancisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um Figurino
Francisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um Figurinowilson-alencar
 
Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...
Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...
Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...Maria Rosa Dias
 
La vuelta ao día en ochenta mundos
La vuelta ao día en ochenta mundosLa vuelta ao día en ochenta mundos
La vuelta ao día en ochenta mundosPriscila Stuani
 
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana SofiaCesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana SofiaJoana Azevedo
 
A carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobatoA carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobatoMonique Tomazi
 

Semelhante a Análise da 'Cidade dos Espelhos', uma novela futurista de João Paulo Borges Coelho (20)

Revista literatas edição 16
Revista literatas   edição 16Revista literatas   edição 16
Revista literatas edição 16
 
Revista literatas edição 16
Revista literatas   edição 16Revista literatas   edição 16
Revista literatas edição 16
 
Revista literatas edição 16
Revista literatas   edição 16Revista literatas   edição 16
Revista literatas edição 16
 
Revista literatas edição 13
Revista literatas   edição 13Revista literatas   edição 13
Revista literatas edição 13
 
Revista literatas edição 13
Revista literatas   edição 13Revista literatas   edição 13
Revista literatas edição 13
 
Revista literatas edição 13
Revista literatas   edição 13Revista literatas   edição 13
Revista literatas edição 13
 
Revista literatas edição 6
Revista literatas   edição 6Revista literatas   edição 6
Revista literatas edição 6
 
Acre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autor
Acre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autorAcre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autor
Acre 007 edição 007 julho, agosto e setembro... para revisão de autor
 
Revista literatas edição 7
Revista literatas   edição 7Revista literatas   edição 7
Revista literatas edição 7
 
O quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário VerdeO quotidiano na obra de Cesário Verde
O quotidiano na obra de Cesário Verde
 
Revista literatas edição 12
Revista literatas   edição 12Revista literatas   edição 12
Revista literatas edição 12
 
Revista literatas edição 12
Revista literatas   edição 12Revista literatas   edição 12
Revista literatas edição 12
 
A capoeira literária do poeta Nov@to
A capoeira literária do poeta Nov@toA capoeira literária do poeta Nov@to
A capoeira literária do poeta Nov@to
 
Francisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um Figurino
Francisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um FigurinoFrancisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um Figurino
Francisco Gil Castelo Branco - Conto Romantico Um Figurino
 
Maria rosa dias
Maria rosa diasMaria rosa dias
Maria rosa dias
 
Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...
Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...
Minha entrevista para a Folha da Região/ Araçatuba/ Brasil! ^^/ My interview ...
 
La vuelta ao día en ochenta mundos
La vuelta ao día en ochenta mundosLa vuelta ao día en ochenta mundos
La vuelta ao día en ochenta mundos
 
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana SofiaCesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
 
A carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobatoA carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobato
 
Cortazar
CortazarCortazar
Cortazar
 

Mais de Eng. Marcelo Soriano

Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres
Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteresTwitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres
Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteresEng. Marcelo Soriano
 

Mais de Eng. Marcelo Soriano (20)

Revista Literatas Ano II - Nº 33
Revista Literatas Ano II - Nº 33Revista Literatas Ano II - Nº 33
Revista Literatas Ano II - Nº 33
 
Revista Literatas Nº 31 - Ano II
Revista Literatas Nº 31 - Ano IIRevista Literatas Nº 31 - Ano II
Revista Literatas Nº 31 - Ano II
 
Revista literatas nº 28 ano II
Revista literatas nº 28   ano IIRevista literatas nº 28   ano II
Revista literatas nº 28 ano II
 
Revista Literatas nº 24 ano II
Revista Literatas nº 24   ano IIRevista Literatas nº 24   ano II
Revista Literatas nº 24 ano II
 
Revista Literatas nº 23 ano II
Revista Literatas nº 23   ano IIRevista Literatas nº 23   ano II
Revista Literatas nº 23 ano II
 
Revista Literatas 22 ano II
Revista Literatas 22   ano IIRevista Literatas 22   ano II
Revista Literatas 22 ano II
 
Revista literatas nº 21 ano II
Revista literatas nº 21   ano IIRevista literatas nº 21   ano II
Revista literatas nº 21 ano II
 
Literatas Nº 20 - 2012
Literatas Nº 20 - 2012Literatas Nº 20 - 2012
Literatas Nº 20 - 2012
 
REVISTA SAMIZDAT - Nº32 - ANO V
REVISTA SAMIZDAT - Nº32 - ANO VREVISTA SAMIZDAT - Nº32 - ANO V
REVISTA SAMIZDAT - Nº32 - ANO V
 
Literatas Nº 19 - 2012
Literatas Nº 19 - 2012Literatas Nº 19 - 2012
Literatas Nº 19 - 2012
 
Revista literatas edição 15
Revista literatas   edição 15Revista literatas   edição 15
Revista literatas edição 15
 
Revista literatas edição 14
Revista literatas   edição 14Revista literatas   edição 14
Revista literatas edição 14
 
Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres
Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteresTwitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres
Twitteratura a arte de escrever em até 140 caracteres
 
Revista literatas edição 11
Revista literatas   edição 11Revista literatas   edição 11
Revista literatas edição 11
 
Revista literatas edição 2
Revista literatas   edição 2Revista literatas   edição 2
Revista literatas edição 2
 
Revista literatas edição 1
Revista literatas   edição 1Revista literatas   edição 1
Revista literatas edição 1
 
Revista literatas edição 10
Revista literatas   edição 10Revista literatas   edição 10
Revista literatas edição 10
 
Revista literatas edição 9
Revista literatas   edição 9Revista literatas   edição 9
Revista literatas edição 9
 
Revista Literatas edição 5
Revista Literatas edição 5Revista Literatas edição 5
Revista Literatas edição 5
 
Revista literatas edição 4
Revista literatas   edição 4Revista literatas   edição 4
Revista literatas edição 4
 

Último

2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecniCleidianeCarvalhoPer
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 

Último (20)

2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecni
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 

Análise da 'Cidade dos Espelhos', uma novela futurista de João Paulo Borges Coelho

  • 1. Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Literatas agora é no SAPO Sai às Terças-feiras literatas.blogs.sapo.mz Encontre-nos no facebook Literatas Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 30 de Agosto de 2011 * Ano 01 * Nº 08 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz “Cidades dos espelhos” uma Novela Futurista 11 respostas iNspiradoras de mia Couto Discurso Directo páginas. 6 e 7 Brasilidades Africanas Segunda-feira abertura dos eventos - DEBATE Tema: Arte, Educação e Política: movimentos em cena. Horário: 17:30H Local: Centro Cultural Brasil Moçambique - Maputo
  • 2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2 Em primEira “Cidade dos Espelhos” uma “Novela Futurista” de João Paulo Borges Coelho a ser lançada nesta quinta-feira as 18:00 horas no instituto Camões em Maputo LuíS CARLOS PATRAQuiM - O PAíS Então bioy Casares – prossegue borges – recordou que um dos heresiarcas de Uqbar havia declarado que os espelhos e como são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos e mais casos semelhantes”. a catástrofe introduz a perturba- a cópula eram abomináveis, porque multiplicam o número ção que prenuncia o desfecho, ou o desenlace. “o messias está DEixEmos DE lado a blague, para despistar, sobre a novela dos homens”. também podia ir-se pela mão de alice, mas exangue – escreve o narrador – sem condições para prosseguir futurista, sub-título do autor a esta sua e nossa, por mérito deixemos Carroll e a sua dama de copas. o encantamento do mundo. a multidão murmura, relutante em dele, “Cidade dos Espelhos” porQUE tUDo tem um começo, arregalamos os olhos, dispersar.” No priNCípio é a estranheza. Deixemos de lado a blague, semi-cerramo-los, névoas e brilhos sucedem-se ante o DEsCoNFio QUE, no meio dela, anónimo e discreto, um certo para despistar, sobre a novela futurista, sub-título do autor insólito atentado às portas do templo. é noite, uma noite poeta, tendo assistido ao julgamento dos personagens, percorrida a esta sua e nossa, por mérito dele, “Cidade dos Espelhos”. depois daquela, a antiquíssima, e deparamo-nos com o mais a avenida Louise, constatado um inusitado frémito nas estátuas Como nos ensinou sherlock Holmes, as primeiras evidên- insólito atentado. o autor descreve-o com alguma minúcia: perfiladas, escutado o “lamento sincopado das chapas ondula- cias são, a mais das vezes, o engodo para a fulguração final umas bolinhas, que parecem de sabão, umas seringas e das”, percebida a seiva inquieta por dentro das árvores sintéticas da razão omnisciente que, sob a trama de enganos, falsas uma espécie de gosma, venenosa, presumimos, que três da cidade alta, esse certo poeta com uma ideia de prosa, preferiu, pistas, equívocos, repõe a ordem de um percurso, apazigua bradas – Caia, Laissone e Jeremias – sopram com uma cana. apesar de tudo apiedar-se da “cidade dos espelhos”. “por isso a intencional e prazeirosa perturba- – condescende – ela ficará ção de um mundo. saudoso opti- em suspenso, perdida neste mismo positivista que a incerteza jogo de reflexos, enquanto apartou do nosso convívio. das falhas das paredes e sobrE os futurismos, russo, italiano dos passeios, dos frisos dos à la marineti, que custeou a sua pub- edifícios e dos castigados licação como publicidade redigida olhos das estátuas, não nas páginas do Figaro, à solitária rebentarem novas ervas e aventura dos poetas do orpheu, destas surgirem as sement- ficamos conversados. maiakovski es de futuros personagens sucumbe aos seus banhos; marineti marchando lentamente em veste a camisa negra, e os poetas de procissão até ao templo das orpheu, de ouvido em concha para colunas, com as suas cores o ranger das máquinas quase inex- e os seus rumores”. istentes no país das uvas e estáticos ELE é a criança neoténia, a ante a dromologia em slow motion, pedamorfose, de que fala deambulam pelos cafés da baixa, Giorgio agamben, “a que fazem painéis, bravatas, sacodem pode dar atenção àquilo a poeira e o cisco da Casa do ser. Que às vezes é um gal- terrorismo bacteriológico mas executado como se de uma que não está escrito”. E prossegue: “a cultura e a espiritualidade inheiro. brincadeira de crianças se tratasse. Em banda desenhada, genuína são aquelas que não esquecem esta originária vocação mas é nessa sub-titulada designação que se revela a com recorte ao fundo das colunas em sombra, veríamos a infantil da linguagem humana, enquanto uma cultura degra- primeira subtil ironia de João paulo borges Coelho. se ele silhueta dos três da vida airada com as canas em pose e as dada caracteriza-se por tentar imitar um gérmen natural para fosse americano e andasse de casaco à banda pelos pubs bolinhas flanando – brilhantes ou brilhiosas, como preferi- transmitir valores imortais e codificados. (…) Em qualquer parte de Greenwich Village, lia-se este livro e dizia-se: ora aqui rem – em contraste com o escuro do mistério e o balão de nós o distraído rapazinho neoténico continua o seu jogo real. está, o gajo está meio gótico, não te parece? ou então encimando o quadro com a onomatopeia “floc! floc!”. é isto (…) só no dia em que essa originária não-latência infantil fosse convocava-se o ray bradbury: há uma poética; não, não se uma novela futurista? verdadeiramente, vertiginosamente, assumida como tal, em que trata da particular ficção científica do autor de Farenheit e E QUE cidade! reduzida a si, sem topónimo, com uma parte alta, se recuperasse o tempo e o menino aíon fosse distraído do seu das Crónicas marcianas, mas é amazing, meu, andar pela uma parte baixa, um subúrbio com paredes de chapas ondula- jogo, os homens poderiam construir uma história e uma língua avenida Louise – um achado! – e afagar aquelas árvores das, ferinas, segundo o narrador. Um subúrbio assim descrito: “os universais, já não diferíveis, e pôr fim à sua errância nas tradições. de plástico, pressentir as aves agoirentas, imaginar a insól- escanzelados candeeiros públicos delimitam no seu pé (o pé de Este autêntico apelo da humanidade em relação ao soma infantil ita casa cor de mostarda. será literatura fantástica? E as Laissone) pequenas ilhas de luz sobre as quais esvoaçam, enlouque- tem um nome: o pensamento, ou seja, a política”. aves agoirentas? E o “areóstato negro com as insígnias da cidos, os insectos”.E, como se não bastasse, há ainda o som de mas as crianças brincam e podem ser cruéis. Deste originalíssimo república” que se desinfla e se estatela sobre os subúrbios? um trompete. é nesta triangulação de percursos, com a sempre livro de João paulo borges Coelho, onde o puro jogo de muitos será o colibri uma variação do corvo de Edgar allen poe? o omnipresente avenida Louise – um achado, volto repetir – que as sinais mescla-se com a ironia, terna é ela, onde na rarefacção que mar de sargaços, um dos capítulos, será uma homenagem três personagens correm, fogem, deparam-se com gente estranha o perpassa, a memória institui-se como ágon, e percebe-se uma ao reggae, uma alusão corsária, uma ondulada e ondulante – não propriamente zombies – mas algo excêntricas, no sentido visualidade que a arte da escrita nos oferece, entre a imobilidade meditação pós-colonial, uma paráfrase a Jane rhys? etimológico da palavra: avós desfiando o tempo, uma indefinida misteriosa de certos quadros de paul Delvaux e a convulsão inte- DEVo DizEr que não pretendo ter uma resposta nem julgo baba tecida agora de vazios, meninas e generais à varanda da sua rior da Cathédral Engloutie, de Débussy, deste livro pode-se dizer interessante essa cómoda classificação por géneros ou obra de plástico. Caia, Laissne, Jeremias, são a única mobilidade que é um dos mais originais da literatura moçambicana. atmosferas de alguma moda. acossada. E correm. Quando um deles é aprisionado e tropeça razão tEm Nazir Can quando observa que “ a chegada de JpbC EstE LiVro está cheio de sinais, de pontilhados exercícios na palavra – para confessar, claro – a palavra é violentada. a pala- produz um saudável abalo no universo literário moçambicano. de crueldade, a do mundo rarefeito onde estas persona- vra não é da ordem da conotação. Querem-na confessional. o Estamos certos que a sua escrita, como ocorre com todos os gens se movem. alcandorado na irrevogável exigência de acontecimento tinha de ser com Jeremias. Ele faz, para si o filme tremores, marcará uma época”. se demarcar de todas as antinomias, redutoras, enganosas, breve da sua vida, mas, escreve o narrador, os torcionários “queriam e alheio aos marcadores genéticos a que o câanon obriga dele uma torrente de palavras dóceis, que se dissolvessem numa o aUtor que me perdoe por citar e falar, não de livros e seus para a jubilação identitária – moçambicaníssima, já se vê certa lógica, mas o que o prisioneiro lhes entrega são palavras que fazedores, mas, seguindo na esteira deste seu entusiástico e - João paulo borges Coelho prefere a cegueira dos sábios. engolem o acto, o transformam em algo que já não é acto mas competente estudioso, o inclua onde ele, afinal, também está. No cabo do texto, avesso aos muitos ventos da História, uma qualquer delirante construção”. “metáforas?”, pergunta ele, e João paULo borges Coelho é hoje dono de uma obra que, conhecedor dela como é por ofício civil, olha o farol que, a inquirição é-nos devolvida. Começamos a coçar a cabeça. arre!, como afirma Nazir Can, “faz da relativização ou mesmo como dizia sebastião alba, “há séculos /que emite/ sinais exclamariam, num certo antigamente da vida, os desaparecidos da desmistificação de toda a certeza, principalmente das indecifráveis”. percebê-los, adivinhar-lhes ou inventar-lhes velhos de uma certa cidade que conhecemos. mas Jeremias faz certezas históricas e causas ideológicas de sentido único, sentidos, vem sendo a empresa do autor de “as Visitas como bartleby, embora o seu “preferia não… “ seja de outra ordem, a sua pedra angular. Esta opção, de resto, permite ao autor do Dr. Valdez”, desses majestosos setentrião e meridião porque impossível. Então, os “fragmentos de que falava – observa projectar um olhar novo sobre a História de moçambique, onde um mesmo rio os une, masculino e feminino, como o narrador – são agora esquírolas que tomam conta das palavras, um olhar que transcende a fácil dicotomia (entre “bons” e exemplarmente nos ensinou. e as palavras são só letras soltas e sangue e guinchos e dentes e “maus”, “colonizadores” e “colonizados”) e que, simultanea- “CiDaDE Dos Espelhos”. Côncavos? Convexos? Jogo de baba que excitam os torturadores, e por fim uma massa amorfa mente, evita a facilidade do “indiferenciado no diverso”. intersecções de reflectidas imagens, floresta de enganos que flui devagar pelas comissuras dos lábios desfraldados, sem Finalmente, JpbC consegue encontrar um caminho original ou caminhos da floresta, os de Heidegger, recolhido na sua que seja necessário empurrá-la. Um cálido magma, quando muito para desenvolver a sua escrita, sem ter que passar pelo cabana depois da queda? Jogo e tensão do desejo como um espaço mastigável”. filtro de justificações normalmente exigidas ao escritor na sequência da Dama de xangai, com um orson Welles GraVE CirCUNstâNCia nesta cidade futurada, a agrilhoada ou africano: porta-voz autorizado do lugar; missão social e à procura da sua rita Hayworth? os espelhos…. Em tlon, conspurcada condição das palavras. talvez seja por isso que o som compromisso político, que sustentam e outorgam sentido Uqbar, orbis tertius, de Jorge Luís borges fala-se deles. do trompete acentua a melancolia dos seres, enovelados numa à sua vida literária, etc. “Devo à conjugação de um espelho e de uma enciclopédia espécie de tempo aracnídio, onde há encarquilhadas mãos como paraFrasEaNDo rimbaUD, é na liberdade livre que está a descoberta de Uqbar”, confessa o autor de ficções, onde o raízes expostas segurando o fio, um fio de ariadne que, suspeita-se, o compromisso do autor de “Cidade dos Espelhos”. só me texto se inclui. Estava o argentino com o amigo bioy Casa- se perdeu. resta saudá-lo com admiração e amizade. E convidar-vos res. “Do fundo remoto do corredor, espreitava-nos o espe- Não obstaNtE as vestes ditas futuristas, há nesta “Cidade dos à leitura lho. Descobrimos (a altas horas da noite esta descoberta Espelhos” a dimensão da catástrofe tal como a define aristóteles é inevitável) que os espelhos têm algo de monstruoso. na sua “poética”. Cuja, consistia “numa acção perniciosa e dolorosa,
  • 3. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3 Em primEira Ungulani Ba Ka Khosa: A África que o Brasil não conhece ADELTO GONçALvES - BRASiL Couto, suleiman Cassamo e Ungulani ba Ka Khosa”, de Chris- toph oesters, doutor pela Universidade de Utrecht, Holanda, nial, como foi feito no período i com a tese “Figuras do outro: identidades pós-coloniais no Enquanto as universidades e editoras portuguesas e romance moçambicano contemporâneo” (2005). pós-independência (1975). “Em brasileiras, praticamente, só estudam e publicam autores os demais ensaios são de ana mafalda Leite, professora africanos lusodescendentes – com as exceções de praxe, de Literatura africana Lusófona da Universidade de Lisboa, vez disso, dedica-se muito mais a na área editorial, como a Editorial Caminho, de Lisboa, antónio belchior Vaz martins, autor de teoria e práticas de que tem tradição na área –, pouco se lê sobre romancistas, análise da Narrativa: as mitologias apocalípticas e Ualalapi uma representação de Ngungun- contistas e poetas africanos autóctones ou mestiços que de Ungulani ba Ka Khosa (2004), Daniela Neves Lima, profes- utilizam a Língua portuguesa como meio de expressão. E, sora da pontifícia Universidade Católica (pUC), de belo Hori- hane que corresponde à realidade no entanto, em poucos anos, se a Língua portuguesa – a zonte, e Ebenezer adedeji omoteso, coordenador de Estudos língua do invasor e do colonizador – quiser sobreviver no portugueses no Departamento de Línguas Estrangeiras da histórica, mostrando a imagem continente africano – e com ela todo o legado lusófono –, Universidade obafemi awolowo, da Nigéria. será mesmo dos autores autóctones que dependerá. além da introdução “Quem tem medo de Ungulani ba de um tirano cruel em relação Esse incompreensível silêncio – que reflete, pelo lado Ka Khosa?”, de Niyi afolabi, igualmente traduzida para o por- português, segundo o professor patrick Chabal, do King´s tuguês, há estudos de Jared banks, doutor em Línguas e Lit- a outros povos africanos, mas College de Londres, certa saudade colonialista ainda não eraturas africanas pela Universidade de Wisconsin-madison, superada e, pelo lado brasileiro, descomunal desconheci- Gilberto matusse, professor do Departamento de Lingüística também para com seu próprio mento em relação a assuntos africanos – é o que explica e Literatura da Universidade Eduardo mondlane, de maputo, que um livro como Emerging perspectives on Ungulani ba anne sletsjoe, professora de Literatura portuguesa da Uni- povo”, diz Oesters. Ka Khosa: prophet, trickster, and provacateur, preparado versidade de oslo, Noruega, sophia beal, doutoranda em oesters observa que o “outro” na obra de Khosa pelo professor Niyi afolabi, ainda não tenha sido editado Estudos portugueses e brasileiros pela Universidade brown, aparece na forma dos “brancos, do outro lado do mar”, no brasil nem em portugal. E que, para lê-lo, tenhamos de EUa, sunday bamisile, doutorando em Literatura Comparada mas em breves referências. Numa delas, refere-se à morte recorrer à edição da africa press World pres, inc., com sede pela Universidade de Lisboa, e do próprio organizador do de Ngungunhane no exílio “em roupas que sempre rejeit- em trenton, New Jersey, EUa, e em asmara, na Eritreia, país volume. ara e no meio da gente da cor do cabrito esfolado que do Nordeste da África, antiga colônia italiana, às margens iii muito se espantara por ver um preto”. do mar Vermelho, que se separou da Etiópia em 1991. iV pouco conhecido do público-leitor brasileiro, Khosa Como se vê por aqui, Khosa é Já Nataniel Ngomane, em seu ensaio, faz um (1957) não teve até hoje obra publicada no brasil, mas paralelo entre a obra de Khosa e a dos autores latino- esteve em são paulo em novembro de 2010 para partici- um autor já largamente estudado americanos do boom, a partir da constatação de que as par de um encontro na Casa das Áfricas e de um debate culturas de ambos os lados são historicamente mestiças, na biblioteca de são paulo sobre “o negro na literatura por críticos de outras línguas. E que “como produto do contato entre elementos indígenas internacional”, que teve a mediação de Carmen Lucia tindó – em si já bastante diversificados –, africanos e aluviões secco, doutora em Literatura brasileira e professora de há muito já deveria ter sido editado imigratórios europeus e asiáticos, na américa Latina, Literaturas africanas na Universidade Federal do rio de e de elementos indígenas – não menos diversificados Janeiro (UFrJ). no Brasil. Aliás, desde o seu primeiro que aqueles –, árabes, asiáticos e europeus em moçam- trata-se de um dos mais importantes autores moçam- bique”. bicanos de sua geração, ganhador do prêmio José Caveir- livro, Ualalapi, romance histórico e Ngomane ressalta que essa situação vem sendo inha de 2007 por seu livro os sobreviventes da Noite. outro explorada por narrativas como as de Khosa e de mia galardão que atesta a qualidade de sua obra é o Grande primeira obra de ficção que se dedica Couto que, “no intuito de representar a conjugação dos prêmio de Literatura moçambicana de 1990 por Ualalapi, imaginários e atitudes aí presentes, acabam por con- que foi assinalado como um dos cem melhores livros africa- exclusivamente ao passado colonial de figurar processos culturais diversos”. para tanto, vale-se nos do século xx. No brasil, Khosa já havia estado em 1987 da já clássica obra Contrapunteo cubano del tabaco y el para participar do lançamento da antologia sonha mamana Moçambique e conta a ascensão de azúcar (Havana: Letras Cubanas, 1991), de Fernando ortiz africa, preparada pela professora e jornalista Cremilda (1881-1969), publicada pela primeira vez em 1940, tão medina de araújo, da Universidade de são paulo (Usp). Ngungunhane, imperador de Gaza, estudada no Departamento de Letras modernas da Usp, Nascido em inhaminga, província de sofala, Ungulani ba mas que, incompreensivelmente, ainda está à espera de Ka Khosa é o nome tsonga – grupo étnico do sul de moçambique famoso pela resistência que opôs aos publicação por editora brasileira. – de Francisco Esaú Cossa, bacharel em História e Geografia pela Ngomane ressalta que, além de utilizar termos de Faculdade de Educação da Universidade Eduardo mondlane, de portugueses ao final do século XIX, origem bantu, “desconhecidos da maioria dos leitores maputo, professor de carreira e atual diretor do instituto Nacional em português, Khosa incorpora em sua linguagem a do Livro e do Disco, de moçambique. Khosa também exerceu até o fim de seu império. descrição de universos culturais a que esses termos se vin- a função de diretor-adjunto do instituto Nacional de Cinema e culam”. ou seja, Khosa salpica seu texto com expressões audiovisual de moçambique, participando na elaboração de Como observa Oesters, o verbais de origem bantu, mas o faz de uma maneira mais roteiros e jornais cinematográficos. Filho de pais enfermeiros, palatável ao leitor, explicando os termos no próprio texto, Khosa completou os estudos secundários na zambézia e tornou- livro é construído a partir de frag- sem recorrer a um glossário no final do livro ou a notas se professor em 1978. de rodapé. é autor de seis livros, Ualalapi (1987), orgia dos Loucos (1990), mentos históricos, comentários de V Histórias de amor e Espanto (1993), No reino dos abutres (2001), obviamente, ninguém é contra que professores de os sobreviventes da Noite(2005) e Choriro (2009). Co-fundador oficiais portugueses envolvidos na outros mundos não lusófonos se preocupem em estudar da revista literária Charrua, na década de 90, tem escrito crônicas as literaturas africanas de expressão portuguesa. pelo e artigos para vários jornais africanos. membro da associação dos campanha contra o líder africano. contrário. o que se lamenta é que tanto em portugal Escritores moçambicanos, recebeu ainda o prêmio Gazeta de como no brasil se dê tão pouco espaço aos escritores afri- Ficção Narrativa (1988), além de ter sido homenageado em 2003 São seis contos que acabam por canos autóctones que se utilizam da língua portuguesa. pela Comunidade dos países de Língua portuguesa (CpLp). até porque, como observa perpétua Gonçalves em por- ii reconstituir na imaginação episó- tuguês de moçambique: uma variedade em formação Essa vasta obra justifica o livro que Niyi afolabi, (maputo: Livraria Universitária e Faculdade de Letras da doutor em Estudos africanos e portugueses pela Univer- dios daquele período, formando um UEm, 1996), citada por Nataniel Ngomane, só uma mino- sidade de Wisconsin-madison e professor de Literaturas ria em moçambique que teve acesso à escola (25%) e que brasileira, ioruba e de Estudos da Diáspora africana da romance. O importante, porém, habita nos centros urbanos (17%) fala português. Universidade do texas, de austin, EUa, preparou, reunindo Como o país é formado por muitas nações e 95% quinze ensaios escritos por estudiosos de várias partes do é que, ao contrário do que comu- da população têm como língua materna uma língua mundo, além de entrevistas e excertos de textos do autor. bantu, por enquanto, o português serve como uma Na maioria, os textos estão em inglês – inclusive, excertos mente se pode imaginar, o livro não espécie de tertius(neutro) para a língua oficial, já que, se dos livros –, mas há seis ensaios em português. um grupo étnico local quiser impor a sua língua como Entre esses, destacam-se “transculturação e repre- apresenta Ngungunhane como um a predominante, com certeza, irá causar insatisfação sentatividade lingüística em Ungulani ba Ka Khosa: um entre os demais. mas, se portugal e brasil continuarem de comparatismo da solidariedade”, de Nataniel Ngomane, “grande líder” nem se preocupa em costas viradas para a África, não será difícil que Camões professor do Departamento de Lingüística e Literatura da (c.1524-1580) seja substituído por shakespeare (1564- Universidade Eduardo mondlane, de maputo, doutor em relatar seus possíveis feitos históricos 1616) em pouco tempo. até porque a África do sul é logo Letras pela Universidade de são paulo (Usp), e “o outro na ali. Depois, não digam que ninguém avisou representação da identidade nacional nas obras de mia contra a violência do domínio colo-
  • 4. 4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 LiTERATuRA MOçAMBiCANA 4 Gulamo Khan MOçAMBiCANTO i GuLAMO KhAN Nascido em maputo aos 11 de maio de 1952, Gulamo Khan foi um escritor e jornalista moçambicano. XiTiMELA Céleres as águas Gulamo Khan foi locutor e jornalista na rádio GuLAMO KhAN zambezeiam pela memória Clube de moçambique e adido de imprensa das almadias do silêncio do presidente da república de moçambique, samora machel. morreu no acidente de avia- nem o zumbido da cigarra ção que também vitimou o presidente no dia para alexandre Langa me entontece 19 de outubro de 1986 em mbuzini (montes Libombos. nem o troar do tambor me ensurdece Como literato, destacou-se pela idealização e neste xitimela nosso comboio da vida realização, juntamente com o escritor Calane que nos faz meninos de ontem as vozes que são da silva, dos msahos – encontros de decla- pensar hoje vamos não só à manhiça sulcos das nossas esperanças mação de poesia a um sábado de cada mês mais longe vamos meu amigo no correcto do Jardim tudunro na capital espera ver no diesel do teu peito oh pátria moçambicana. a força motriz que sopra moçambiquero-te as mais belas ngomas deste moçambicano neste alumbramento Depois da sua morte foi publicado o livro e diz ao povo como sabes e amar-te moçambicanto, com uma recolha dos seus que xitimela da vida é da gente devo-o à carne e ao nervo textos organizada por albino magaia, Calane e faz poh poh poh num apeadeiro livre. deglutidos em revolta. da silva, José Craveirinha e Júlio Navarro. o livro foi editado na colecção timbila da associação dos Escritores moçambicanos. Hélder Muteia PRESENçA héLDER MuTEiA NÓS E O DESTiNO sou dos que ainda estão presentes héLDER MuTEiA e bebem do amor a única ausência. ao patraquim o tempo sacode na areia o musgo dos pés no plasma do orvalho lava o rancor das mãos, Quantos pedaços de mentira somos pó e pólvora na combustão da História medimos aos milhões o fragor de cada acto consumado retenho na viscosidade do meu cuspo? e entre nós e o destino vai um palmo de esperança Escritor e político moçambicano, Hélder dos santos Félix mon- que por sorte marcha a pé. teiro muteia, nasceu a 21 de setembro de 1960, em Quelimane, na província de zambézia, moçambique. é o silêncio o mártir predilecto desse gesto após a realização dos seus estudos secundários na sua cidade Quantas verdades apaixonadas quando a fome não satisfaz a míngua da boca natal, concluiu o curso de agropecuária do instituto agrário de e as migalhas fermentam o cuspo de cada um Chimoio, em 1981, começando a trabalhar, no ano seguinte, reclamam ansiosas o esperma das palavras? pois é então cruel o nosso grito inevitável como codiretor do projeto avícola do Chokwe, na província de e ardem em brasa os braços cálidos de vontade. Gaza. Entre 1983 e 1988, exerceu as funções de subchefe da pateira da matola, na província de maputo, e de chefe do Depar- No mesmo chão em que brindamos os sacrifícios tamento técnico da avícola de maputo, de 1989 a 1990. Foi, Nenhumas, talvez, nenhumas… cremos ter semeado a sílaba mágica nesse ano, que obteve a licenciatura em medicina Veterinária dessa oração de manter a mão de outro irmão pela Universidade de Eduardo mondlane, em maputo. Em 1997, escravizo o silêncio lacrada à nossa; tornou-se Diretor Nacional no Centro de Formação agrária e e só na hora de adorar o luar e os batuques frenéticos Desenvolvimento rural, em 1998, foi designado vice-ministro e faço dele o meu mensageiro. nos desfazemos em êxtase da agricultura e pescas e, em 2000, foi nomeado ministro da triturando o mesmo pó de que somos feitos agricultura e Desenvolvimento rural. a nível político, foi ainda deputado, entre 1994 e 1999, pelo círculo eleitoral de zambézia, na assembleia da república, em representação da FrELimo. Estou presente em tudo ou mais Como escritor, escreveu diversas crónicas e artigos para a imprensa, como em Notícias da beira, Charrua, Diário de e aí onde me procurarem moçambique, Eco, tempo, Lótus, Forja, entre outros órgãos de comunicação. Vários dos seus trabalhos literários estão incluí- será a minha próxima ausência dos em antologias nacionais e estrangeiras, tais como Contos moçambicanos ou sonha mamana África. publicou os livros Verdade dos mitos (1988), Nhambaro (1996). Desde 1984, faz parte da associação dos Escritores moçambicanos da qual foi secretário-geral (1992-1996) e presidente do Conselho Fiscal (1996-1999) FICHA TÉCNICA Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com) Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane. Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza* Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas. Design e páginação: Eduardo Quive
  • 5. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 CRÓNiCA / CONTO 5 CARTOGRAFiA DO FiLosoFonias rapsódicas ECOAR E DO MiAR MARCELO SORiANO - BRASiL m.m.soriano@gmail.com DO COuTO Ou COMO Nota preliminar: Antes de prosseguir com este artigo, viAJAR COM AS 24 (C) lembro ao leitor que me dirijo à CPLP (Comunidade dos Países OBRAS DO MiA COuTO de Língua Portuguesa), portanto, podemos encontrar gerúndios, futuros do pretérito, expressões AMOSSE MuCAvELE- MAPuTO etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros. Sobre a nossa a Terra disse que ela é Sonâmbula: com muita razão, Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas sabem porquê? para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós. -Porque ela não dorme fica dias e noites de mãos estendidas ao Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011. exterior a pedir esmola. Amigos, num país visto como pobre os dirigentes são tão ricos! trocam de carros de luxo e gozam de mordomias , mas não tem nem 1. BrevIárIo ÉBrIo se quer um livro na cabeça.(preocupante não é) Por isso que digo as nossas elites são incultas (vendem a nossa terra a 30 dinheiros)  Todo o boteco tem algo de solidão coletiva. Além de tudo que acima croniquei, vejam só o profeta deu-lhes a  Decisão importante: Tomar um Rum na vida. porção, dada a incompetência deles fizeram tudo ao contrário, deram  A bebedeira é uma ética etílico-psicodélica. os venenos ao Deus e os remédios ao Diabo, nestes últimamentes nós o povo, encontramo-nos na berma de nenhuma estrada, sabem,  Não há solidão mais bêbada que a da azeitona no Dry Martini. sem onde guardar as nossas súplicas, sem onde pedir clemências,  O caramujo do bêbado é o barril. pois o Senhor Deus exilou-se na terra onde reside o Homem que lhe  Amigos chatos nos ensinam que devemos ser tolerantes. salvou da morte (por envenenamento perpetrado pela nossas elites) dando-lhe antídoto.  O fundo do poço e o fundo do copo são correlatos. Quem me dera lá estar com eles debaixo daquela Varanda do  Tinham egos tão frágeis que, quando se encontravam, faziam Frangipani, a ouvir os Contos do Nascer da Terra. tim-tim. Do que estar nestas Cidades dos partidos políticos com idades seculares no Governo, e onde os seus dirigentes consideram-se Divindades. Eu cansei de viver neste País do Queixa Andar, vou-me embora, com um fio amarrado no pescoço (sei que Missangas não me faltarão), 2. A MorTe do reI pelo caminho irei folhear as páginas desta Casa Chamada Terra e irei remar contra maré deste Rio Chamado Tempo. Chegado a Uma Terra Sem Amós, constato que algo mudou, a Imperador do chorume, Yohoy empunhou a garrafa como se fosse aldeia cresceu, já são Vinte as Casas de madeira e Zinco. Mas ainda um cetro. continuamos no Escuro e o Gato Abensonhado pressagia as Estórias do velho. Moscas cingiram-lhe em coroa o tampo do crânio cabeludo. Aos Alguém disse o velho está a morrer, o Gato não parava de tocar o borbotões, ratazanas Ritmo do presságio: vieram do nada, roendo-lhe as raivas, carcomendo-lhe os concretos, Retorquiu de novo-a biblioteca esta a arder. pulverizando-lhe -E eu nos meus Pensatempos confusos, surgiu-me a seguinte a em restos... Pó de osso. Farinha da loucura... Em uma fração de pergunta? Como hei-de o ajudar? -Pensei na Princêsa Russa, cortei a ideia porque a neve não pode soluços,Yohoy extinguir as chamas, continuei neste pensaraltivo, afinei os meus transformara-se em rasa montanha. Uma duna branca de vício Silêncios, dentro de mim uma voz uivava “Vou ficando do som das pronta para ser inalada. pedras. Me deito mais antigo que a terra. Daqui em diante, vou O cetro caído ao lado voltou a ser mera garrafa de espumante dormir mais quieto que a morte¹.”Pego no machado, pelo caminho vou Traduzindo esta Chuva que molha os ramos da minha alegria, descartada. de nada vale continuar aqui, mas, antes partir deixem-me descolar a Raiz do Orvalho. Alguém disse - Ah, de nada resultará. De repente as Vozes 3. MoNóLogos PósTuMos CoM QuINTANA - PArTe vII Anoiteceram, era o início da Chuva Pasmada. E agora vou me embora mesmo “a procura da outra Pátria esta não me pertence²”, pois O Mar Me Quer, é no mar onde vou pescar “ Se um poeta consegue expressar a sua infelicidade com toda a felicidade, o meu sonho de se tornar noutro Pé da Sereia, caso não consiga como é que poderá ser infeliz?” concretizar este meu sonho, procurarei outra maneira de partir, Mário Quintana assim sendo tornar-me-ei no Pensageiro Frequente deste Último Voo do Flamengo que me levará até a Jesusalém. Eu a ele: Eis-me ali... Sob os olhos da Górgona interior... Ante gLossárIo o Evangelho das Divagações... Enfim só... Perplexo... Por instantes, letrificado 1-Mia Couto in A Varanda do Fragipani para todo o sempre no 2-Celso Manguana in Pàtria Que Pariu meu papel vazio... 3-todas palavras a negrito fazem parte do acervo bibliográfico do autor acima referido -Princêsa Russa conto que faz parte do livro Ele a mim: Amanhã nosso dia recomeçará, com o nome de ‘Todo Cada Homem é Uma Raça. E outros livros o Santo Dia’... -No meu País tem um provérbio que diz - um velho que morre é Repovoado por recantos, releituras, ressalvas... E uma biblioteca que arde. repassarinhos... -O gato e o escuro, Cronicando - Estórias abensonhadas -O fio das Missangas,....e outros ficam sob alçada do leitor, beijooooos (3.) CoNTINuA NA PróxIMA edIção..
  • 6. 6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6 - discurso dirEcto Situação de Leitura: Moçambique e Brasil com mesmos problemas FONTE: EDuCAR PARA CERSCER - BRASiL aquela que lê e compra livros, veremos que a situação é mas que era o assassino mais simpático que eu podia encon- proporcional à de moçambique. trar. E sE você tivesse a oportunidade de entrevistar um escritor? isso é para mostrar como construímos a imagem uns dos pois os alunos do 3º ano do Ensino médio do Colégio são Luís, 3 – o que os escritores fazem para promover o livro em outros. a imagem que se tem da África fora da África é em são paulo, tiveram. E não foi um escritor qualquer. Há duas moçambique? sempre associada à fome, à miséria, à guerra. mas os africa- semanas, os adolescentes estiveram com o moçambicano a assoCiação de Escritores de moçambique faz encon- nos não vivem todos assim. Eles são felizes, são construtores mia Couto no auditório da escola. Em quase duas horas de tros em escolas primárias e secundárias e em fábricas. E de vida, têm uma vida social riquíssima, têm culturas diver- conversa, os meninos não se intimidaram: fizeram perguntas aí tentamos fazer alguma coisa. mas os livros estão muito sas, é o lugar no mundo onde há mais diversidade do ponto inteligentes e não deixaram espaço para silêncios constrange- caros. é o trabalho que escritor faz, mas é uma panaceia, de vista linguístico e cultural. Então os problemas que temos dores (a propósito, veja o que o escritor tem a dizer sobre o porque o resto não depende do escritor. são os mesmos da maior parte dos países africanos. têm a silêncio na oitava pergunta). ver com a miséria, têm a ver com o fato de que a sua própria EU EstiVE lá para acompanhar a entrevista e, junto com os 4 – Quais são os maiores problemas de moçambique história é muito recente. moçambique teve uma guerra alunos, ri e me emocionei com as respostas de mia. ao final, civil de 16 anos, em que ainda tive a chance de perguntar a ele sobre a diferença que morreram muitas pes- a Educação fez em sua vida. Confira abaixo a entrevista e soas. Quando morre encante-se com as histórias de mia Couto, um dos maiores uma pessoa, tanto faz escritores africanos da atualidade. (Fiz questão de deixar as se é militar ou civil, mas respostas na íntegra. Ficaram longas, mas valem a leitura, o que é mais triste é garanto!) que as guerras da África são guerras que matam sobretudo os civis. os 1 – Você lutou pela independência de moçambique durante soldados morrem a guerra civil. Como a sua vivência como militante da Frelimo pouco, porque muitas (Frente de Libertação de moçambique) marcou o seu trabalho vezes se transformam como escritor? em forças descoman- dadas, já que não existe marCoU DE várias maneiras. Foi um processo longo, de escol- um Estado forte e não has, de um certo risco em um dado momento. Foi algo que há territórios defini- me ensinou a não aceitar e a não me conformar. é a grande dos. mas a África toda lição que tiro, que também me ajuda hoje a estar longe desse não é isso, há grandes movimento de libertação, que se conformou e se transformou histórias de sucesso. naquilo que era o seu próprio contrário. mas eu acredito que moçambique é ao ser uma pessoa feliz e autônoma é uma conquista pessoal. mesmo tempo uma Não se pode esperar que algum movimento social ou político grande história de suc- faça isso por você. isso é algo que resulta do nosso próprio esso, porque a guerra empenho. acabou em 1992 e, quando eu pensava 2 – Como é ser escritor em moçambique? que nunca mais ia ver a hoje? paz, o governo conseguiu instalar a paz juntamente com a VoU CoNtar um pequeno episódio que pode ajudar a sociedade civil. E hoje moçambique é um grande parceiro responder a essa questão. Um dia eu estava chegando em aNtEs DE responder à pergunta, eu vou dizer uma coisa. internacional de investimento e de outros governos. por casa e já estava escuro, já eram umas seis da tarde. Havia um a imagem que nós temos uns dos outros é feita muito de exemplo, hoje o brasil está muito presente em moçambique, menino sentado no muro à minha espera. clichês, de estereótipos. Vocês também têm uma imagem com projetos de construção, de estradas, portos, barra- QuANdo CHegueI, ele se apresentou, mas estava com uma mão feita fora. a primeira vez que eu vim a são paulo, há gens etc. portanto, acho que moçambique vive hoje um atrás das costas. Eu senti medo e a primeira coisa que pensei é alguns anos, fui protagonista de uma história engraçada. momento muito feliz. mas continua sendo um dos países que aquele menino ia me assaltar. pareceu quase cruel pensar Quando eu estava saindo de moçambique, disseram-me mais pobres do mundo. que no mundo que vivemos hoje nós podemos ter medo de que são paulo era perigosíssima, que havia balas perdi- uma criança de dez anos, que era a idade daquele menino. das, gente morrendo, e eu comecei a ficar cheio de medo. 5 – Com sua obra, você conseguiu apresentar a realidade Então ele mostrou o que estava escondendo. Era um livro, um Uma das minhas filhas me dizia até que eu ia morrer. Na de um país, e até de um continente. Como é a sua relação livro meu. Ele mostrou o livro e disse: “Eu vim aqui devolver viagem de avião, que dura onze horas, eu vim pensando com moçambique? uma coisa que você deve ter perdido”. Então ele explicou a que era um perigo e que eu seria assaltado. tinham me história. dito para tomar cuidado quando chegasse ao aeroporto, EU Não me considero representante de moçambique, me dIsse Que estava no átrio de uma escola, onde vendia amen- porque tinha saído na Globo – lá também temos Globo – considero apenas representante de mim mesmo. Eu tenho doins, e de repente viu uma estudante entrando na escola que havia falsos táxis que raptavam as pessoas. duas dificuldades: eu sou de um continente em que os com esse livro. Na capa do livro, havia uma foto minha e ele E, DE fato, eu já estava contaminado com aquela coisa. brancos são minoria. os brancos moçambicanos são mino- me reconheceu. Então ele pensou: Quando cheguei, tinha um motorista da minha editora, ria. Num país de 21 milhões, os brancos são 10 ou 20 mil. “essA MoçA roubou o livro daquele fulano”. porque como mas ele não estava usando uniforme e não tinha nen- portanto, eu não poderia ser o representante de qualquer eu apareço na televisão, as pessoas me conhecem. Então ele huma identificação. Eu logo perguntei se ele tinha iden- coisa, se é que existe isso de representatividade. E a outra perguntou: Esse livro que você tem não é do mia Couto?”. E tificação e ele disse: “Não, eu sou o pepe”. E foi me con- dificuldade é que eu tenho nome de mulher. agora já não ela respondeu: “sim, é do mia Couto”. Então ele pegou o livro duzindo por um corredor e dizendo que o carro estava acontece tanto, mas antes, quando eu ia visitar um outro da menina e fugiu. lá no fundo. E o carro não era propriamente um táxi. E país, muitas vezes estavam esperando uma mulher negra. a ideia de que eu estava sendo raptado começou a soar E eu ficava no aeroporto esperando que alguém viesse falar Essa História é para dizer que, para uma parte dos moçam- na minha cabeça. comigo e nada. Já tive desentendimentos terríveis. bicanos, a relação com o livro é uma coisa nova. é a primeira QuANdo eNTreI no carro e sentei ao lado do motorista, Uma VEz fui visitar Cuba e tinham organizado um presente geração que está lidando com a escrita, com o escritor, com o eu já estava olhando para a frente e pensando “esses são para cada membro da delegação de jornalistas. Voltei com livro. Nós, escritores moçambicanos, sabemos que escrevemos os últimos momentos da minha vida, vou reviver todo uma caixa de presentes. Na época, vivíamos em guerra. E, para uma pequena porcentagem da população, que são os o meu passado, como nos filmes”. até que o motorista na guerra em moçambique, nós vivíamos em uma situação- que sabem ler e escrever. pegou algo no porta-luvas. Era uma coisa metálica, para o limite, não tínhamos nada. Nós saíamos de casa em busca o LIvro tem uma circulação muito restrita. mas, mesmo assim, meu desespero. E ele estendeu essa coisa e disse: “aceita de coisas para comer. Era essa a situação que meus filhos as tiragens dos meus livros em moçambique giram em torno uma balinha?”. Vocês estão rindo, mas eu não tinha nen- tinham de enfrentar todos os dias. Então eu estava fascinado de 6 mil, 7 mil exemplares, o que é um número alto. Quando huma vontade de rir, porque balinha lá não quer dizer a com aquela coisa de ter ganhado um presente. Quando comparo com as tiragens que faço no brasil, posso dizer que mesma coisa que aqui. Quer dizer bala no sentido literal cheguei em maputo, abri aquela caixa e eram vestidos, o brasil não vai muito além. o brasil não lê tanto quanto pen- mesmo, projétil de bala. E aí eu só consegui pensar que brincos, eram coisas para uma mulher, para a senhora mia samos. se contarmos a população inteira do brasil e apenas estava sendo assaltado, que aquele homem ia me matar, Couto. Então eu não me sinto representante nesse sentido, mas sinto que o fato de seu ser conhecido hoje fora de moçambique me obrigar a ter uma responsabilidade para
  • 7. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7 - discurso dirEcto com o meu próprio país. Então, quando estou fora, eu ausência não existe. Nesse silêncio, há sempre alguém que tento divulgar a cultura de moçambique, os outros É um investimento que eles fazem fala. são os mortos. por exemplo, a relação com o corpo. é escritores. trago livros de escritores moçambicanos e preciso ter tempo para encontrar alguém. Quando eu estou entrego às editoras, para saber se é possível que sejam em uma outra esperança, em uma falando com um homem, eu cumprimento com um aperto editados etc. de mão. mas o aperto de mão não é igual, tem um ritual. outra crença. É impressionante. Mas Depois do aperto, a mão fica na mão da outra pessoa. Não 6 – E com portugal? tem nada a ver com interpretação gay. a mão fica na mão há escolas em Moçambique nas quais da pessoa com quem estamos falando, e essa mão não tem EU soU descendente, sou filho de portugueses e tenho peso, é uma mão leve. porque se fala com o corpo. temos uma relação com portugal muito curiosa, porque eu eu não vou: a escola americana, por essa liberdade de poder usar o corpo para dizer coisas que não conhecia portugal até eu ser adulto. só fui a por- não podem ser ditas pela palavra. são coisas pequenas que tugal quando eu comecei a publicar meus primeiros exemplo, que é uma chatice. É uma nos mudam muito interiormente. é uma capacidade de livros. E era uma coisa muito estranha, porque a con- estar disponível para os outros. E capacidade de ser feliz. cepção africana de lugar é que o lugar é nosso quando vida feita de facilidades, em contraste EU também encontro muito isso no brasil. tem a letra de os nossos mortos estão enterrados no lugar. E eu não música brasileira que diz “levanta, sacode a poeira, dá volta tenho mortos em moçambique, infelizmente. Então com essa vida de conquistas, em que por cima”. Eu acho que isso é, em grande parte, uma her- os meus mortos estão enterrados em algum lugar no ança africana. isto é para não ficar lamentando a desgraça. norte de portugal. E eu fui ver esse lugar. Eu queria as pessoas têm de sair de manhã e Eu acho que, se os europeus vivessem as dificuldades que ver justamente porque queria ter essa relação quase vivem os africanos, eles seriam muito amargos. aliás, já são. religiosa com o lugar. têm de lutar. Às vezes nem tenho a forma como os africanos celebram a alegria de viver e o o QUE acontece é que os meus pais imigraram para fato de que qualquer momento é um momento de festa, moçambique quando eram jovens, tinham 20 anos, e coragem de perguntar a esses meninos de celebração, de dança, de canto, acho que é outra coisa viveram toda a sua vida lá, nunca mais tiveram relação que é importante aprender. Há uma tolerância profunda. com portugal. E eles contavam histórias de um país o que eles fizeram para chegar à Vocês vão ouvir mil histórias sobre intolerância, e essas que, ao mesmo tempo que me fascinava, era uma coisa histórias também são verdadeiras. o mundo é feito dessa muito distante. o que acontecia é que a minha mãe, escola naquele dia. Muitas vezes o coisa contraditória, mas a verdade é que há uma tolerância ao contar histórias sobre a sua família, seus tios e avós, muito grande. Essa tolerância nasce de uma coisa. o que trazia para mim e para meus irmãos uma presença que giz é feito com pau de mandioca eu vou dizer agora é muito importante: a África só pode nos fazia muita falta, porque todos os meus amigos ser entendida se vocês perceberem que a África tem uma tinha avós, tios e falavam dos primos. Eu não tinha seca. Às vezes, não há sala. É uma outra religião. Essa África negra tem uma outra religião. ninguém. a minha família eram os meus pais e os meus Essa religião não tem nome. Não é o candomblé, não é três irmãos. Então o que a minha mãe fazia ao contar árvore. E não há cadeiras, as pessoas a umbanda, é outra coisa. é uma religiosidade que não histórias era inventar a família inteira. Eu precisava ter se separou das outras esferas do pensamento. Não é um um sentimento de eternidade que era conferido por sentam no chão. No entanto, aqueles sistema de pensamento. Na África que eu conheço, existem essas histórias que a minha mãe contava. mas eram os deuses das famílias. Você tem os seus deuses, eu tenho quase todas mentira, quase todas eram inventadas meninos estão todos os dias ali na os meus deuses. isso significa que eu não estou muito por ela. preocupado em te convencer de que existe uma verdade escola, assim como os professores. só, que é uma coisa muito típica das regiões monoteístas, 7- QUaL é a sua opinião sobre a reforma ortográfica? que é uma verdade que tem de ser imposta ao outro e o Isso é uma grande esperança. É um outro tem de seguir esse princípio. Você pode ter a sua EU Não sou a favor. Considero que alguns dos motivos verdade, eu tenho a minha, e está tudo certo. acho que que foram invocados para a reforma ortográfica não universo de gente que sabe que tem essa é a razão para os africanos terem essa tolerância. são verdadeiros. E acho que é uma discussão com a qual os portugueses, principalmente, ficaram muito Mas a verdade é que africanos são de fazer isso para construir uma vida nervosos, porque, para portugal, mexer na língua é uma coisa muito sensível. algumas pessoas de portugal acr- muito parecidos com todos os outros. diferente. É uma grande escola. editam que a língua é a última coisa que eles têm, que é a primeira e última coisa que têm, é um sentimento Essa ideia de que a África é muito 9 – Como você e as personagens da sua obra dialogam com imperial da sua própria presença no mundo que foi o mundo contemporâneo, que é marcado pelo consumismo posto em causa. mas a minha questão não é essa. é diferente, muito exótica existe só e pelo hedonismo? que eu sempre li os livros dos brasileiros e nunca tive problema nenhum, nunca tive dificuldade nenhuma. na cabeça de algumas pessoas. Mas EU aCHo que um jogo de construção e desconstrução porque para vocês, que estão lendo meus livros em português esse mundo que você retrata como sociedade do consumo de moçambique, existe alguma dificuldade particular há uma coisa que é preciso ser dita. existe e não existe em moçambique, porque muitas vezes por causa da grafia? ou a dificuldade é o resto e essa é consumimos muito pouco. Consumimos mais aquilo que é a única coisa que não é difícil? Em uma sociedade que é muito ilusão. Cada vez menos o Estado confere Educação e saúde, e EU aCHo inclusive que haver uma grafia que tem nós temos que conseguir isso por outras vias. Então o que eu alguma distinção, um traço de distinção pode trazer pobre, às cinco da manhã, às vezes procuro fazer nos meus livros é uma coisa que eu posso fazer um outro sabor a uma escrita. E os brasileiros conhecem como escritor. Eu não posso lutar para além desse limite, que muito pouco de moçambique, de angola ou de são eu saio de casa e vejo as pessoas já é sugerir que há outros caminhos, que é possível sonhar, que tomé. Às vezes eu ando na rua e tenho uma dificuldade não podemos ficar acomodados, resignados. obviamente eu enorme para explicar quem eu sou. Na verdade, isso eu acordadas, atravessando quilômetros não posso propor uma tese ou um modelo alternativo nos não sei explicar, mas a dificuldade é para explicar de meus livros, nem saberia fazer isso, mas posso incentivar o onde eu venho. Quando falo que não sou de portugal, a pé, andando 30, 40 quilômetros gosto, a vontade. sempre fica uma coisa difícil. Fazem as perguntas mais estranhas sobre o que pode ser moçambique, se é um para ir à escola, saindo de casa 10 – Como você vê os seus personagens no cinema? Como país que fica perto do paraguai, por exemplo. Então a é a visão física deles? distância entre nós não é um problema que deriva da sem o café da manhã e tomando ortografia, deriva de outras coisas, de política, de uma é Um estranhamento, porque aquilo que eu criei não tinha falta de interesse, de um distanciamento. isso não será simplesmente uma xícara de chá voz nem rosto, nem para mim mesmo. Então de repente resolvido mudando o acordo ortográfico. o personagem tem uma voz. mas, mesmo que seja a mais com muito açúcar para dar energia, bela voz do mundo ou o rosto mais belo do mundo, o fato 8 – o que pode mudar a imagem negativa que muitas de ter um rosto e uma voz e não estar aberto e não ter vozes pessoas têm da África? para ir para a escola aprender. Eu múltiplas é uma perda. por isso, eu me distanciei. se participo do filme, é somente para pontualmente dar algum apoio, HÁ VÁrias Áfricas e eu estou falando daquela que eu tenho um prazer enorme de ir às mas não como alguém que tenha competência para isso, conheço. Essa África que eu conheço sobrevive por um porque eu não tenho. Eu quero que o realizador de cinema espírito de solidariedade, de abertura e de respeito com escolas em Moçambique, porque os faça um produto distante, que é capaz de se soltar, ganhar os outros. a forma que os africanos têm de se abordar, asas e sair do texto escrito, senão perde como livro e perde de saber um dos outros é uma coisa genuinamente meninos estão ali com uma fé quase como filme. autêntica. Quando eu estou cumprimentando alguém, quando estou falando com alguém, eu dou espaço para religiosa. Eles estão ali absorvendo, 11- VoCê gostou de “Um rio chamado tempo, uma casa o outro. Então há uma lição de escutar os outros. Eu chama terra”, filme baseado em seu livro? nunca falo quando o outro está falando, dou espaço, têm os olhos abertos até o infinito, não tenho medo do silêncio, que é uma coisa que acon- mais oU menos. o que tinha de dizer já disse ao realizador, tece aqui. as pessoas estão conversando, de repente estão completamente ali. Não se que é meu amigo. Gostei, mas não gostei há um silêncio, e isso é um peso, é uma coisa da qual temos que nos libertar, é uma ausência. Na África, essa ouve uma mosca passando na sala.
  • 8. 8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8 no rEcanto dE apoLo... Doce como o massacre Pensei que estavas de sóis sozinha Amanhecer BáRBARA LiA - BRASiL PEDRO Du BOiS - BRASiL oito canhões na praça de guerra SAMuEL COSTA - iTAJAí - BRASiL apontam para o peixe para Nagdila thally malfoy amanheço em nuvens de inver- Que traz a paz nas guelras no. Quatro gaivotas suicidas Lambem o babado azulado Entre lírios e rosas! No esfriar da hora sou corpo Do triste mar-flamenco Em meio a sussurros, gritos, gemidos & prantos! despertado. sigo o leito do rio Lembro um filme de babenco: Espasmos de prazer. ao largo: estrito ao peito ana e o vôo mariposas no quarto lúgubre Juras de amor! da mulher amada no anunciar suas mãos em concha a esmagar a eternidade insalubre Eu pensava que estavas sozinha! horas anteriores de refúgio. acordo No meu desespero...procurava-te! e levanto em ensolarados passos. i n, a FLor DENtro Da ÁrVorE Nos meus sonhos...andavas só! Vagando pelo infinito! Da manhã retiro a necessidade *** da utilidade. sou repositório Até que os serafins acenem Embriaga-me...oh...minha divina musa! da inatividade. com seus chapéus brancos Com o teu eflúvio sutil. BáRBARA LiA Em meus pensamentos...andavas sozinha! Não nasci para resfriar o mundo insegura! Madrugada Madrugadora Neste lerdo cortejo de omissões E desprotegida. Estas palavras interditas No infinito... CELSO MuNGuAMBE - MAPuTO suspensas E na solidão do meu ser! a noite ronca eternamente, e internamente dorme a escuridão Não vim quebrar as pernas do sol procurava-te... Friamente as madrugadas nascem, congelando e Gelando o universo, madrugadas silenciam-se silenciar cada bemol Eu pensava...que estavas sozinha. Diante de tanto frio Não vim para arrebentar o anzol Em meus pensamentos! Um ninho floresce com delicadeza a madrugada vomita a cacimba aconchegante Do velho de Hemingway tomo-te pelos braços! Como um diamante delapidado e escalado sou mar e trovão no coração Num dos silêncios, a madrugada grita apelando Digo que és minha! para lua Nasci para amar sem lastro mas não o és! a madrugada delira de tanta solidão, sem exactidão para dançar no pátio Ela faz um sarau perco-me no teu olhar... bisbilhotando na noite, ela procura afazeres it is my way Desfazendo o movimento rotativo No teu sorriso quero me perder. a madrugada conversa com a manhã in, a FLor DENtro Da ÁrVorE No meu devaneio...desapareço em teus cabelos! Uma conversa rápida e fria, mas não sombria Lá esta ela, com uma cara murcha de solidão A lentidão das palavras do Em meio a sussurros, gritos, gemidos & pran- a madrugada é muito sacrificada. arcanjo ao acordá-la tos! Espasmos de prazer. BáRBARA LiA Mente vadia E juras de amor! o sagrado despe as ilusões Não estás mais sozinha! e abraça as árvores mortas suas folhas azul esmaecido RuTh BOANE - TETE qual manto da Virgem de Cambrai procuro-me nos murmúrios da vida os ossos das árvores adoeceram JAPONE ARiJuANE - MAPuTO mas perco-me nos mesmos. mergulho em águas secas e consolo-me e elas morreram – azuis - Enferruja nos meus olhos arco-ires somente na dúvida da minha dúvida. Deste mundo que chove infortúnios Questiono-me porque sangram os homens antes que tornassem brancos tédios sentidos travejam desamorvidos mais tristeza do que alegria. alienadas aguas de um homem com sede do sahara ah! Não me vem a resposta! os seus cabelos Labuta infertilidade na terra que inunda pobreza Como poderei saber se nem o verdadeiro Dirão que sim a este destino incerto significado dos mesmos conheço? a fome torrencialmente nestes olhos enxurrados sinto um vazio! relâmpago e trovoadas no estômago deserto Várias são as questões que desalojamento acentua o medo nas vitimas enche. navegam em minha mente. No silêncio da minha obscura noite vadio por entre bairros desconhecidos in, a FLor DENtro Da ÁrVorE procurando saber e conhecer o que é desconhecido.
  • 9. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 9 Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9 canto da poEsia - FacEbook vOAR NO MuNDO MALDiçÃO A demência persegue-te ANDERSON FERREiRA RuTh BOANE - TETE iziDiNE JAiME tu, miserável! Vida de sonhos incompletos Escrever é calar o mundo dos ouvidos. E cantar a madrugada que não nasce. Desejos inconstantes de alma sem asas pena sentem minhas janelas é também levar ao ombro que ninguém toca ao abrirem-se e mirarem parvoíces. um consolo de dedos invisíveis. Incomensurável frustração do gozo Cospes porcarias para mim e depois Que corre em minhas veias dizes que eu é que sou demente. (Gargalhadas) Voar como quem nunca tivera asas E descobrir que o mundo Sangue venoso que não se purifica triste é ver-te convencido Não é esse pedaço de terra que nos cobra o corpo Não se esvai em sangrias medicinais de que demente eu é que sou. mas o suspiro de um vento leve ah! se soubesses quem o é! que nos toca docemente o coração. Lamúrias sem virtude triste é ouvir-te cuspir Sem a nobreza da dor maldições em mim e humilhar-me. (Gargalhadas) Escrever é libertar-se... tu, miserável! Decalcando em letras Sem os cuidados de outrem tu, miserável! as rasuras do silêncio que o coração clama. a demência persegue-te... Santifica tuas feridas E ainda ser a triste cantiga da sociedade num verso rítmico que rege a alma. Agarre tuas mazelas Julgas tu que me humilhando Pois serão tuas e somente tuas E nas mãos de todos, erguem-se os teus ombros invocar a missão de ser Sê-de forte sabes, certas criaturas podem até toda uma brisa no ar rir-se na hora em que te sentes o tal Que se dissolve em sorrisos A desgraça será teu alimento mas sim, sim! são as mesmas que se Florindo a todos olhares que sabem amar. Junte-se as aves de rapina riem de ti pelas costas (Gargalhadas) são as mesmas que se riem da tua demência A toda sorte de animais malditos são as mesmas que se riem da tua estupidez. Teu caminho será entre as sombras da tua alma POEMA DA MANhà ChuvOSA Serás infame a demência persegue-te! (Gargalhadas) Eu é que sou demente... Até que percebas Essa é boa! PETER PEDRO PiERRE PETROSSE A criação. o dia amanheceu, Nuvens tristes e turvas, textos do Grupo - Canto da poesia do FacebooK. recolha de raffa inguane. o sol ainda vadia por outras bandas. tic, tic, tic, tic... Chora o céu, triste pela ausência do sol. parte de suas lágrimas morre nas chapas do meu humilde aposento, Dirigindo-se em seguida para a sepultura do solo. o seu embater nas chapas, Cria uma melódia agradável de se ouvir. Tem a honra de convidar para a palestra “Independência do Brasil: Novas a melodia atravessa os atalhos dos meus tímpanos, interpretações”, proferida pela Drª Emy Caldwell de Farias, no dia 1º de o bass do bater do meu coração fica mais suave. Setembro de 2011, às 18H00. Na tela da minha mente, aprecio a exposição do teu semblante jubiloso, Que almejo ver e amalgama-lo com os sentimentos que carrego. Esta palestra irá fazer uma abordagem um pouco diferenciada do que se conhece sobre a independência do Brasil, antiga colónia portuguesa e país que caminha hoje, com celeridade, para se transformar na quinta mais poderosa economia do mundo. Amy Caldwell de Farias é de origem americana e residiu mais de 10 anos no Brasil, é Professora Associada na Monmnouth College, em Illinois, Estados Unidos e Coordenadora de Estudos Integrados na mesma universidade, tendo lecionado História Latino-Americana em várias universidades americanas e brasileiras. Amy Caldwell tem uma lista imensa de artigos sobre História publicado em várias revistas especializadas e vários livros. A sua obra emblemática, fruto da sua tese de doutoramento, intitula-se: Mergulho no Letes: Um Re- Interpretação Político-Histórica da Confederação do Equador, editada no Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Neste momento, Amy Caldwell de Farias encontra-se em Moçambique onde desenvolve uma pequisa relacionada com a presença de brasileiros no vale do Zambeze dos séculos XVII e XVIII.
  • 10. Terça-feira, 30 de Agosto de 2011 10 BLA BLA BLA Exero 01, 5555 https://literatas.blogs.sapo.mz 10 outras agEndas ERRATA Na edição anterior, referente ao dia 23 de agosto de 2011, neste espaço, publicamos um artigo de título “Niassa sem livrarias”, assinado com o nome mauro brito de maputo. Na verdade, o artigo pertence ao nosso corespon- dente em Lichinga, capital da província do Niassa, Lino de sousa mucurusa. pelo facto, as nossas desculpas, ao autor do artigo e aos leitores no geral.