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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
         DANIELE SOUZA FREITAS
        RENAN OSVALDO PACHECO




            TWITTERATURA:
A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES




                Tubarão
                  2011
DANIELE SOUZA FREITAS
         RENAN OSVALDO PACHECO




               TWITTERATURA:
A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES




                          Monografia apresentada no Curso de Graduação em
                          Letras Português/Inglês da Universidade do Sul de
                          Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do
                          título de Licenciado em Letras.




     Orientadora: Prof. Cláudia Espíndola Gomes




                     Tubarão
                       2011
DANIELE SOUZA FREITAS
                   RENAN OSVALDO PACHECO




                         TWITTERATURA:
       A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES




                                    Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do
                                    título de Licenciado em Letras e aprovado em sua forma
                                    final pelo curso de Graduação em Letras
                                    Português/Inglês da Universidade do Sul de Santa
                                    Catarina.




___________________, ________ de _________________________ de 2011.
       Local            dia                       mês




        _______________________________________________
           Prof. e Orientadora Cláudia Espíndola Gomes, Msc.
                 Universidade do Sul de Santa Catarina


        _______________________________________________
                  Prof. Jussara Bittencourt de Sá, Dr.
                 Universidade do Sul de Santa Catarina


        _______________________________________________
                 Prof. Marizete Farias da Rocha, Msc.
                 Universidade do Sul de Santa Catarina
AGRADECIMENTOS




           Nossos pais por nos ensinar a ser, cada professor e orientadora, twitteiros que
fazem duma rede social um espaço para Literatura: #obrigado.
“140 caracteres são o suficiente para sangrar.” (Carpinejar)
RESUMO



Este estudo aborda um novo meio de publicação literária na internet, a Twitteratura. Em até
140 caracteres, autores brasileiros têm divulgado seus textos literários no microblog Twitter,
criado em 2006. Entretanto, textos curtos não são uma novidade do microblog, portanto, fez-
se uma abordagem dos escritores brasileiros pioneiros nessa literatura concisa, partindo do
modernista Oswald de Andrade até os microcontistas do século XXI. Também é feito um
estudo acerca do Twitter, seu surgimento, principais ferramentas e utilidades, assim como sua
popularidade no Brasil. Dessa forma, a pesquisa reúne referenciais teóricos sobre Literatura e
Twitter, além de informações extraídas dos livros literários provindos do microblog, e
investigações dos autores deste trabalho como usuários do serviço. Não é objetivo desse
estudo analisar a qualidade literária dos textos que circulam no Twitter, mas expor e reunir
parte das publicações literárias que formam a Twitteratura, reconhecendo-a como um novo
meio de publicação literária à disposição dos autores. É impossível abordar todo o conteúdo
literário publicado no Twitter, tanto pela efemeridade, característica do serviço, como pela
quantidade. Nesta pesquisa, percebeu-se o Twitter como um meio democrático e incentivador
da publicação literária, no qual os indivíduos não só são estimulados a sintetizar suas criações
literárias em 140 caracteres ou menos, como também a lerem essas produções curtas, que
exigem pouco tempo e custo ao homem pós-moderno.




Palavras-chave: Twitteratura. Literatura digital. Twitter. Literatura contemporânea.
Literatura curta.
ABSTRATC




This study addresses a new way of literary publishing on the Internet, the Twitterature. Up to
140 characters, Brazilian authors have published their literary texts on the Twitter microblog,
created in 2006. However, short texts are not a novelty of the microblog, therefore, We
approach the Brazilian writers pioneers in this concise literature, starting from the modernist
Oswald de Andrade until the twenty-first century writers of micro-fiction. It is also done a
study about Twitter, its emergence, its main tools and utilities, as well as its popularity in
Brazil. Thus, the research collects theoretical references about Literature and Twitter, as well
as information extracted from the literary books stemming from the microblog, and
investigations of the authors of this work as service users. This study does not aim to analyze
the literary quality of the texts which circulate on Twitter, but to present and to collect part of
the literary publications that makes the Twitterature, recognizing it as a new way of literary
publication available to the authors. It is impossible to cover all posted literary content on
Twitter, not only because the ephemerality, characteristic of the service, but also the quantity.
In this research, we noticed Twitter as a supporter of a democratic and literary publication, in
which individuals are not only encouraged to summarize their literary creations in 140
characters or less, but also to read these short productions that require little time and cost to
the postmodern man.


Keywords: Twitterature. Digital Literature. Twitter. Contemporary Literature. Short
Literature.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES




Figura 1- Poema vazio agudo................................................................................................... 24
Figura 2 – O primeiro tweet ..................................................................................................... 30
Figura 3 – Perfil de um dos autores deste trabalho.................................................................. 32
Figura 4 – Página inicial do Twitter de um dos autores deste trabalho .................................. 33
Figura 5 – Uso de algumas ferramentas................................................................................... 34
Figura 6 – Página inicial, slogan do Twitter. ........................................................................... 36
Figura 7 – Definição do Twitter de Marcelo Tas..................................................................... 37
Figura 8 – Capa do livro Twitterature...................................................................................... 39
Figura 9 – Nanoconto “Micro-ondas” em cem toques cravados............................................. 43
Figura 10 – I Sarau Literário via Twitter nos Assuntos do Momento...................................... 47
Figura 11 – Poeminuto de André Luís Gabriel......................................................................... 50
Figura 12 – Poeminuto de Denison Mendes............................................................................. 51
Figura 13 – Haicai de Millôr Fernandes................................................................................... 52
Figura 14 – Aforismo de Carpinejar......................................................................................... 54
Figura 15 – Aforismo de Marcelo Soriano............................................................................... 55
Figura 16 – Microconto de Samir Mesquita............................................................................. 57
Figura 17 – Conto nanico 153 de Marcelino Freire.................................................................. 58
Figura 18 – História coletiva no Twiterbook............................................................................ 61
LISTA DE GRÁFICOS




Gráfico 1 - A divisão de tweets por país em junho de 2010.....................................................31
SUMÁRIO




1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 10
2 LITERATURA.................................................................................................................... 12
2.1 A LITERATURA : UMA ABORDAGEM........................................................................ 12
2.2 AS VANGUARDAS EUROPEIAS E O MODERNISMO BRASILEIRO...................... 15
2.2.1 A concisão de Oswald de Andrade............................................................................... 16
2.2.2 Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade.................... 18
2.3 PÓS-MODERNISMO........................................................................................................ 21
2.3.1 Paulo Leminski e o haicai............................................................................................. 23
2.3.2 A narrativa curta: miniconto, microconto e nanoconto............................................. 25
3 TWITTER............................................................................................................................ 29
3.1 O PRIMEIRO TWEET....................................................................................................... 29
3.2 O TWITER NO BRASIL................................................................................................... 31
3.3 BREVE DESCRIÇÃO DO TWITTER.............................................................................. 32
3.3.1 Twitter: uma praça pública.......................................................................................... 35
4 TWITTERATURA............................................................................................................. 39
4.1 CONCEITUAÇÃO............................................................................................................ 39
4.2 ASPECTOS DA TWITTERATURA................................................................................. 41
4.3 ESCRITORES E LEITORES............................................................................................. 45
4.4 GENÊROS TEXTUAIS NO TWITTTER......................................................................... 49
4.4.1 Poeminuto, haicai e aforismo........................................................................................ 50
4.4.2 Microconto..................................................................................................................... 56
4.4.3 Prosa além de 140 caracteres........................................................................................ 59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 63
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 65
10



1    INTRODUÇÃO




             Novos meios de divulgar textos literários surgiram com a popularização da
internet. Um deles é por meio da rede social Twitter, um serviço gratuito de microblog que
vem ganhando novos leitores e escritores no Brasil.
             A sociedade do século XXI é marcada pela falta de tempo e pela rapidez em que
ocorrem os acontecimentos. Principalmente por esse motivo, o Twitter tem se destacado, pois
os textos que circulam nessa esfera são relativamente curtos, de leitura rápida e instantânea,
escritos em até 140 caracteres, sendo postados em tempo real. O usuário dessa rede social
deve ter habilidade de concisão, escrevendo seus textos dentro da limitação do microblog.
Assim, a literatura veiculada no Twitter é extremamente adequada às necessidades do leitor
contemporâneo.
             Outro fator que contribui para o sucesso do Twitter como divulgador da literatura
é que qualquer indivíduo pode escrever seu texto e publicá-lo, contribuindo para o que se
chama “Twitteratura”, a Literatura no Twitter. Além disso, o microblog possibilita a interação
entre leitores e escritores, pois qualquer usuário pode comentar, responder, elogiar,
complementar, criticar um texto de outro. Isso tende a enriquecer ainda mais o âmbito
literário.
             Percebe-se, a partir do exposto, um universo literário muito rico e novo, sendo que
o Twitter popularizou-se recentemente no Brasil, há cerca de dois anos. Contudo, esse
universo parece não ter sido descoberto por teóricos da área, pois se constata que não há
estudos a esse respeito.
             Tendo em vista a falta de pesquisas sobre esse assunto, evidenciando a relevância
desse trabalho para o meio acadêmico, faz-se necessário um estudo específico da literatura
contemporânea brasileira veiculada no microblog Twitter, nos últimos dois anos.
Levando em consideração essa situação problema, o objetivo geral desse trabalho visa
reconhecer a Twitteratura como um novo meio de publicação literária. Parte-se dos objetivos
específicos: buscar um conceito de Literatura; relacionar a Twitteratura com a poesia
modernista brasileira da primeira fase; explicar como o Twitter é utilizado; caracterizar o
perfil do escritor e do leitor do Twitter; descrever as características da Twitteratura; justificar
os benefícios do Twitter para a Literatura; identificar os gêneros literários existentes no
Twitter; demonstrar algumas obras literárias publicadas no Twitter.
11



           Contudo, se faltam pesquisas sobre o assunto, como desenvolver este estudo? A
metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica, esta segundo Leonel e Motta (2007) é
essencial no conhecimento e na análise das principais contribuições teóricas sobre um tema.
Nossa pesquisa além do caráter bibliográfico é enriquecida por nossas investigações no
âmbito do Twitter como usuários do serviço. Fez-se neste trabalho o mesmo processo feito
com o termo “Twitteratura”: primeiro abordaremos os referenciais teóricos de Literatura e
Twitter separadamente, para depois unirmos ambas as teorias.
           Dessa forma, o trabalho se divide em três seções seguidas pelas Considerações
Finais. Na primeira, discute-se um conceito de Literatura com base nas teorias de Coelho
(1976), para posteriormente abordar a literatura rápida no Brasil, recorrendo aos ideais
modernistas do início do século XX, aos poemas do primeiro nome brasileiro dessa literatura
curta: Oswald de Andrade, e as análises de Haroldo de Campos (1971). São mencionados
também os poemas de Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade.
           Assim como os ideais modernistas, o primeiro capítulo também destaca os
principais aspectos do pensamento do homem no Pós-Modernismo, período em que
vivenciamos, com base nas teorias de Tarnas (2008), e a influência desses pensamentos na
literatura, discutindo os conceitos trazidos por Proença Filho (1995). Após, é exposto o
formato original do haicai e sua presença no Brasil, principalmente na obra de Paulo
Leminski, aproveitando-se principalmente do estudo de Geraldes Júnior (2007). Para
compreender a narrativa curta, analisa-se o estudo de Spalding (2008) sobre o miniconto,
além de afirmações de teóricos do conto e de grandes contistas da Literatura mundial, como
Edgar Allan Poe e Machado de Assis, abordados pelo autor.
           A segunda seção tem como tema as características do Twitter, é explicado seu
surgimento, detalham-se suas principais ferramentas e utilidades. Aborda-se também a
presença da Língua Portuguesa no microblog e sua popularidade no Brasil. Para a elaboração
dessa revisão bibliográfica, os principais autores utilizados são: Zago (2010),       Recuero
(2009), Maurílio Silva (2009) e Spyer et al (2009).
           Por fim, a terceira seção trata, de fato, da pesquisa sobre Twitteratura, abordando
as informações extraídas do nosso estudo bibliográfico de Literatura e Twitter, já citados,
além de utilizarmos informações contidas nos livros literários provindos do microblog e
nossas constatações utilizando o serviço. Discutiu-se o conceito de Twitteratura; se a
Literatura no Twitter difere da publicada fora dessa plataforma; quem são as pessoas que
escrevem; para quem escrevem; quais os gêneros literários que circulam na Twitteratura; e
quais os benefícios que essa nova modalidade traz para o âmbito literário em geral.
12



2 LITERATURA




2.1 A LITERATURA : UMA ABORDAGEM




                 Antes de chegarmos a Twitteratura, tema central deste trabalho, naturalmente faz-
se necessária uma caminhada pela Literatura. E o que se entende por Literatura? Pode-se dizer
que a Literatura é a Arte da palavra, mas essa concepção é extremamente generalizadora.
                 Buscar um conceito claro, verdadeiro, estático para Literatura é uma tarefa um
tanto árdua, se não impossível. A Literatura como qualquer outra arte, sendo uma criação
humana, está sujeita aos valores e anseios do homem que se modificam constantemente. A
este propósito, Coelho (1976, p.23) escreve:


                               No sentido de compreendermos o que é Literatura para os homens de hoje,
                               examinemos em primeiro lugar o que ela significou para os do passado. [...]
                               Múltiplas conceituações foram formuladas através dos tempos mas nenhuma
                               conseguiu ser completa e definida, pois cada época fundamenta-se de acordo com a
                               sua maneira de interpretar a vida e o mistério da condição humana.


                 Assim, ao longo dos tempos a Literatura foi concebida de diferentes formas.
Ainda segundo a autora, na Antiguidade Clássica, Litteratura1 significava caligrafia de cada
um, alfabeto, símbolos de escrita. O termo Literatura na Era medieval equivalia a Gramática,
mais adiante no Renascimento, era definido como um conjunto de obras literárias arquivadas
pela história. Durante a Era Clássica – graças à teoria aristotélica da arte como imitação do
real – a Literatura era tida como a expressão da beleza e da verdade essencial dos seres e
coisas que surge da apreensão racional da realidade.
                 Até aqui, os conceitos de Literatura são marcados por princípios rígidos,
tradicionais. A atividade literária é regida por normas ensinadas que descartam as
peculiaridades individuais do talento criador. Também nesse período, não há uma
diferenciação entre os textos literários ou não, todo texto escrito, seja ele científico, filosófico,
histórico, ficcional ainda é considerado literatura.
                 Contudo a Era Romântica rompe essa rigidez disciplinar e essa generalização
informal. Segundo Coelho (1976, p.26) “A Literatura deixa de ser vista como uma imitação


1
    Termo em latim, origina-se em littera/ae que significa letra do alfabeto, sinal.
13



do real e passa a ser a expressão do mistério e do enigma da existência.” A razão dá lugar à
emoção. Ocorre a associação entre a Literatura e a Ficção, os textos literários começam a
exigir um caráter ficcional. Levando tal aspecto em consideração, a conceituação de
Literatura passa a ser mais restrita e funcional.
             No século XX, Salvatore D’Onofrio (1990, p. 9) propõe o seguinte conceito de
Literatura: “A literatura é uma forma de conhecimento da realidade, que se serve da ficção e
que tem como meio de expressão a linguagem artisticamente elaborada.”
            Nesse conceito, Literatura e linguagem estão fortemente associadas. Assim como
todo ser vivo é formado por células, sistemas, funções a Literatura é composta por signos que
se organizam em estruturas maiores como enunciados, discursos. (COELHO, 1976). Então, a
linguagem vem a ser o meio de expressão da Literatura, no entanto é “artisticamente
elaborada”, não sendo uma linguagem qualquer. Distinta da linguagem objetiva e direta
utilizada no Jornalismo, a Literatura utiliza estilos, figuras de linguagem para emocionar o
leitor.
            O conceito de D’Onofrio, acima citado, associa Literatura e Ficção como a
definição de Coelho também o faz:


                        Literatura é Arte, é um ato criador que por meio da palavra cria um universo
                        autônomo, onde seres, as coisas, os fatos, o tempo e o espaço, assemelham-se ao que
                        podemos reconhecer no mundo real que nos cerca, mas que ali – transformados em
                        linguagem – assumem uma dimensão diferente: pertencem ao universo da ficção.
                        (1976, p. 23).


            Observa-se que ambos os conceitos fazem referência a Literatura como criadora
de um ambiente ficcional, porém não consideram a Literatura distante da realidade, ela
“assemelha-se ao mundo real”. A Literatura, então, não é apenas o fruto da imaginação
criadora do homem, mas uma forma de conhecimento, e até de problematização do real.
            Ao retomar a discussão inicial desse capítulo, percebe-se a existência de inúmeras
definições de Literatura que surgem e desaparecem. Em sua maior parte generalizadoras,
essas definições confirmam a ideia de Coelho (1976) que considera a Literatura enigmática e
indefinível, porque o espírito humano também o é. Sendo criada pelo homem, a Literatura
tende a refletir aspectos mutáveis da sociedade em que ele está inserido. Sendo assim, quais
os principais aspectos da sociedade atual?
            Certamente, inúmeras seriam as reflexões afloradas por essa pergunta. Mas, nesse
momento, quer-se apenas ressaltar alguns poucos aspectos da complexa sociedade do século
XXI:
14




                        O sujeito moderno usa o tempo como um valor ou como uma mercadoria, é um
                        sujeito que não pode perder tempo, que tem sempre de aproveitar o tempo [...] que
                        tem de seguir o passo veloz do que se passa, que não pode ficar para trás, e por essa
                        obsessão por seguir o curso acelerado do tempo, este sujeito já não tem tempo.
                        (LAROSSA, 2002, p. 23).


            Essa é a situação vivenciada diariamente pela maioria dos indivíduos, numa
sociedade que vive em ritmo acelerado: cidades, metrôs, ônibus superlotados, surgem os fast
food e os arranha-céus. O cidadão passa mais tempo no trabalho, no elevador, nas filas, nos
meios de transporte do que na própria casa. Enfim, o sujeito não tem mais o próprio tempo.
            Em meio a esse tumulto surge, como aliada à rapidez do relógio moderno, a
internet. “A rede digital tem crescido em uma velocidade espantosa; basta comparar seu
crescimento com o de outros veículos de comunicação: o rádio levou 38 anos para atingir 50
milhões de pessoas; a TV aberta, 16 anos; a Web apenas 5 anos.” ( XAVIER; SANTOS,
2005, p. 30).
            É de conhecimento de todos que a rede digital já penetrou em todas as esferas da
atividade humana, desde o interior de nossos lares até os mais variados setores, como bancos,
supermercados, lojas... A Internet se destaca pela dinamicidade interativa, facilita o acesso às
mais variadas informações e a cada dia adquire novas utilidades. Nesse contexto de “era
digital” Pinheiro (2005, p. 131) ressalta:


                        A inserção de Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) nas
                        sociedades modernas tem acarretado muitas transformações nos seus diversos
                        setores. Novas formas de pensar, de comunicar, de acessar informações e de
                        perceber o conhecimento estão se impondo.


            Assim, a internet incentiva novas ações que permitem profundas mudanças no
modo de vida do homem moderno, transformando as formas de pensar, de adquirir
conhecimento e inclusive as formas de ler e escrever.
            E que concepção de Literatura reflete a sociedade acima descrita? A respeito disso
Calazans (2001, p. 6-7) escreve:


                        [...] é nesta vida veloz [...] que as artes se adaptam-se ao novo homem urbano, na
                        esperança de acompanhá-lo em sua corrida contra o tempo cotidiano e alcançar,
                        tocar sua sensibilidade empedernida, petrificada,[...] surgem o Cinema de curta-
                        metragem, o Teatro de esquetes e anedotas, e a Literatura que ocupa pouco espaço
                        impresso e que é lida em alta velocidade.
15



           A tal Literatura que ocupa pouco espaço impresso é uma literatura curta, rápida e
sucinta, capaz de prender o leitor em poucas palavras. Essa Literatura é extremamente
adequada ao leitor do século XXI: a velocidade e a condensação, a possibilidade de
publicação em diversas mídias como celulares, e-mails, painéis eletrônicos, blogs,
microblogs, entre outras ferramentas da internet.
           Drummond já previa que “escrever é cortar palavras”, Hemingway recomendava
“corte todo o resto e fique no essencial” e João Cabral proclamou “enxugar até a morte”
(SEABRA, 2010). Então, talvez essa Literatura não seja emergente.




2.2 AS VANGUARDAS EUROPEIAS E O MODERNISMO BRASILEIRO




           Antes mesmo de internet e televisão existirem, a Literatura sofreu modificações
que influenciariam fortemente a literatura contemporânea, no seu estilo, forma, tamanho.
           No final do século XIX e início do século XX, o mundo ocidental passou por
grandes mudanças. A revolução industrial, as duas guerras mundiais e suas consequências
mudaram o mundo, e, obviamente, o homem, seus valores e seus anseios.
           Na Europa, várias tendências artísticas surgiram, tais como o Cubismo, o
Futurismo, o Expressionismo, o Dadaísmo e o Surrealismo. Todos esses movimentos,
chamados de correntes de vanguarda, buscavam uma ruptura com os valores artísticos
tradicionais e um novo estilo para traduzir a nova realidade do século XX. Paulo Prado, em
1924, na apresentação do livro Pau-Brasil de Oswald de Andrade, registrou que:


                       Encaixar na rigidez de um soneto todo o baralhamento da vida moderna é absurdo e
                       ridículo. Descrever com palavras laboriosamente extraídas dos clássicos portugueses
                       e desentranhadas dos velhos dicionários, o pluralismo cinemático de nossa época é
                       um anacronismo chocante [...]. Outros tempos, outros poetas, outros versos.
                       (ANDRADE, 1971, p. 68-69).


           Teles (2000, p. 82) acrescenta: “mais do que simples tendência, a vanguarda
representa a mudança de crenças experimentais no pensamento e na arte do mundo ocidental.”
O Modernismo brasileiro foi influenciado pelas vanguardas europeias, contudo os
modernistas brasileiros:
16


                        Nunca se consideraram componentes de uma escola, nem afirmaram ter postulados
                        rigorosos em comum. O que os unificava era um grande desejo de expressão livre e
                        a tendência para transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do academismo, a
                        emoção pessoal e a realidade do país. (CÂNDIDO, 1967, p. 9).


               E foi por meio dessa união que os modernistas realizaram a Semana de Arte
Moderna em 1922. A Semana teve a participação de vários jovens artistas.


                        Constou de exposição de quadros e esculturas, concertos, recitais e conferências,
                        provocando da parte da opinião dominante uma reação violenta, que foi à vaia e ao
                        tumulto. Os jovens capitalizaram bem este aspecto combativo, que serviu, senão
                        para estruturá-los, certamente para os demarcar no panorama literário como
                        representantes de uma nova estética. (Ibid., p. 12).


            Nesse contexto, alguns autores se destacaram. Oswald de Andrade, um jovem de
família rica, destacou-se por seu espírito revolucionário, inovador, radical, polêmico e, o que
mais interessa neste trabalho, por sua habilidade e técnica de síntese.




2.2.1 A concisão de Oswald de Andrade




            O paulistano Oswald de Andrade (1890-1954) foi o primeiro brasileiro a escrever
na literatura curta, rápida, sintética. Essa característica da maioria de seus poemas permitiria
que os textos oswaldianos fossem publicados no Twitter, se a rede social existisse na época.
Mário da Silva Brito chama esses textos do autor de poemas-minuto, micropoemas e
minipoemas (ANDRADE, 1971).
            Embora o foco desse texto seja a habilidade de concisão de Oswald de Andrade,
não se pode deixar de mencionar outras características de seu texto, que o colocam como
precursor da literatura contemporânea.
            Na apresentação do livro Poesias Reunidas de Oswald de Andrade, Haroldo de
Campos (1971, p. 9) diz que “se quisermos caracterizar de um modo significativo a poesia de
Oswald de Andrade no panorama de nosso Modernismo, diremos que esta poesia responde a
uma poética de radicalidade. É uma poesia radical.” O autor faz essa afirmação, pois a
linguagem literária em uso e aceita pela crítica, na época de Oswald, era a parnasiana, que
“funcionava como um jargão de casta, um diploma de nobiliarquia intelectual” (Ibid., p. 10),
ou seja, entre a linguagem dos livros aceitos pela crítica e a linguagem falada, existia um
abismo que parecia ser intransponível.
17



           Oswald de Andrade mudou esse cenário, mas não com pequenas modificações, ele
radicalizou: utilizou-se do verso sem métrica e sem rima, da linguagem coloquial: “A
contribuição milionária de todos os erros” (ANDRADE, 1971, p.77). Fez poemas
nacionalistas sem qualquer traço de ufanismo, pelo contrário, sempre apresentando uma visão
crítica. Tudo isso com uma gigantesca dose de humor e ironia, como se pode observar no
poema abaixo (Ibid., p. 95):


                       senhor feudal

                       Se Pedro Segundo
                       Vier aqui
                       Com história
                       Eu boto ele na cadeia


           As características citadas anteriormente podem ser justificadas, nesse poema, pelo
título em letras minúsculas, a ausência de rima e métrica, a linguagem coloquial no último
verso (o correto pela norma padrão da língua seria “Eu o boto” ou “Eu boto-o”) e o tom
humorístico, tudo isso em quatro pequenos versos.
           Outros poetas modernistas apresentam muitas dessas características, no entanto
somente Oswald apresenta uma técnica de síntese tão sofisticada. Vejamos o “mais sintético
poema da língua”, e a análise de Haroldo de Campos:


                       amor
                       humor

                       [...] Eis aí o mais sintético poema da língua, tensão do músculo-linguagem,
                       elementarismo contundente, ginástica para a mente entorpecida no vago, obra-prima
                       do óbvio e do imediato atirado à face rotunda da retórica. Por este poema se mede
                       [...] até onde foi Oswald na sua radicalidade e como se distanciam dele, por este
                       aspecto, mesmo as mais ousadas investidas de seu companheiro Mário de Andrade.
                       (1971, p. 46).


           Nesse poema, Oswald utiliza duas palavras com alta carga semântica, que se
diferem apenas por duas letras, um som. E o principal da obra fica a cargo do leitor, que tem
de imaginar as possíveis relações entre esses dois dissílabos, isso significa que a obra
oswaldiana, segundo Haroldo de Campos:


                       Ao invés de embalar o leitor na cadeia de soluções previstas e de inebriá-lo nos
                       estereótipos de uma sensibilidade de reações já codificadas, esta poesia, em tomadas
                       e cortes rápidos, quebra a morosa expectativa desse leitor, força-o a participar do
                       processo criativo. (Ibid. p. 46).
18



           “Esta poesia, em tomadas e cortes rápidos” não se refere exclusivamente ao
poema acima. E quando o autor menciona “tomadas e cortes rápidos”, ele se refere a uma
característica da obra de Oswald, influenciada por outra arte, o cinema. Os “flashes
cinematográficos” são facilmente identificados e compreendidos no poema abaixo
(ANDRADE, 1971, p. 94):


                       o capoeira
                       - Qué apanhá sordado?      .
                       - O quê?                     .
                       - Qué apanhá?              .
                       Pernas e cabeças na calçada.


           Além das características já citadas, o poema apresentado pode suscitar uma
dúvida: essa obra é ou não um poema? Esse texto se assemelha com uma narrativa, como os
microcontos que serão explicados posteriormente neste trabalho. Esse estilo é um exemplo de
como Oswald “quebrou as barreiras entre poesia e prosa, para atingir a uma espécie de fonte
comum da linguagem artística.” (CÂNDIDO, 1967, p. 65). Haroldo de Campos ressalta que o
essencial não é chamar a obra oswaldiana de poesia ou não, e acrescenta que ela evoluiu “para
uma ideia mais válida e mais atual de texto [...], ideia para a qual marcham também toda uma
série de manifestações contemporâneas, da nova poesia ao novo romance.” (1971, p. 58).
           Em virtude de sua radicalidade, Oswald de Andrade foi muito criticado e até
ridicularizado por seus contemporâneos. Em vida, não teve sua obra devidamente valorizada.
Contudo, pelos mesmos motivos que o ridicularizaram, sem nenhuma ressalva, “pode-se dizer
que a sua importância histórica de renovador e agitador (no mais alto sentido) foi decisiva
para a formação de nossa literatura.” (CÂNDIDO, 1967, p. 65). Torna-se fácil justificar essa
afirmação, tendo em vista que esse trabalho tratará de uma modalidade de escrita de cinco
anos de existência (o Twitter foi criado em 2006) que demonstra um estilo muito semelhante à
obra de Oswald, sendo imprescindível a citação do valor de sua luta e de sua obra.




2.2.2 Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade




           Oswald de Andrade foi o primeiro e o maior destaque da literatura rápida
brasileira, entretanto outros autores se utilizaram desse estilo em seus poemas. Nenhum deles
19



escreveu tantos textos curtos quanto Oswald, no entanto eles devem ser mencionados,
ilustrando que a síntese oswaldiana não morreu junto com o autor.
            Manuel Bandeira (1886 – 1968) foi um poeta modernista da primeira fase, assim
como Oswald de Andrade, contudo por ter vivido 82 anos, seu estilo foi se modificando,
misturando todas as tendências artísticas que vivenciou. A poesia de Manuel Bandeira “vem
do parnasianismo crepuscular até as experiências concretistas, do sonêto às formas mais
audazes de expressão.” (CÂNDIDO, 1967, p. 34).
            A obra bandeiriana se destaca pelo lirismo com que trata os temas vida, morte,
amor, erotismo, solidão, infância, saudade. Além disso, Bandeira foi um mestre no uso do
verso livre, sem métrica. “A êle se deve a prática regular do verso livre, com superação do
verso polimétrico e do verso libertado, praticados pelos seus antecessores e coevos.”
(CÂNDIDO, loc. cit.)
            Para ilustrar as afirmações citadas, vejamos um poema no qual o tamanho do
verso se relaciona com o conteúdo da obra (BANDEIRA, 1993, p. 150):


                        Poema do Beco

                        Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
                        - O que eu vejo é o beco.2


            Pode-se observar que o lirismo do primeiro verso, mencionando “paisagem”,
“Glória”, é representado por um verso longo que se assemelha à “linha do horizonte”. Em
seguida, o segundo verso nos remete a uma paisagem fechada, pelo relato do eu-lírico que
afirma ver apenas “o beco” e pelo tamanho do verso: curto, rápido, sem adjetivos ou
advérbios. Bandeira harmoniza perfeitamente forma e conteúdo.
            Em relação ao conteúdo desses versos, pode-se pensar em dois significados: o
primeiro seria o significado literal, pois o poeta morou no Beco das Carmelitas, no Rio de
Janeiro, na década de 1950. O segundo seria metafórico, pois desde os 18 anos, manifestara-
se no autor a tuberculose. Como na época não existia cura, o tratamento primordial era o
isolamento. Soma-se a isso o fato de que Bandeira perdeu os pais na infância, ou seja, a
solidão pode ser “o beco”, e todas as coisas boas citadas no primeiro verso são o mundo que
ele não pôde aproveitar na sua juventude. Deve ressaltar-se que os dois significados não se
excluem, pelo contrário, eles se unem na significação desse belo poema bandeiriano, de
apenas dois versos.
2
  Apesar de não ser recomendado pelas normas da ABNT, optamos por utilizar recuo de página quando
reproduzimos os textos literários, ainda que não ultrapassem três linhas.
20



           Outro poeta da primeira metade do século passado que se destaca é o gaúcho
Mário Quintana (1906 - 1944). O autor não participou do movimento modernista brasileiro,
no entanto algumas de suas obras apresentam influências dos artistas da Semana de Arte
Moderna.
           Quintana escreveu a maioria de seus poemas num estilo tradicional, em forma
(publicou muitos sonetos), métrica e rima. Bosi (2001, p. 463) afirma que ele “encontrou
fórmulas felizes de humor sem sair do clima neo-simbolista que condicionara sua formação.”
           Mesmo tendo esse estilo tradicional, Quintana escreveu alguns poemas, sem rima
ou métrica, revelando uma semelhança com a obra de Oswald de Andrade e Manuel Bandeira,
como no poema a seguir (QUINTANA, 1997, p. 441):


                       VERÃO

                       Quando os sapatos ringem
                              - quem diria?
                       São os teus pés que estão cantando!


           Outro poema que pode enriquecer esse trabalho é (Ibid., p. 121):


                       QUEM DISSE QUE EU ME MUDEI?

                       Não importa que a tenham demolido:
                       A gente continua morando na velha casa
                                              [em que nasceu.


           Nos dois poemas, Quintana mistura lirismo e humor, isto é, ele escreveu, em seu
próprio estilo, poemas rápidos, curtos, semelhantes aos que são publicados hoje no Twitter.
           O terceiro e último poeta a ser discutido neste subtítulo é Carlos Drummond de
Andrade (1902 – 1987). O autor mineiro não foi um adepto da literatura curta. Drummond fez
poemas de todos os tamanhos, usava quantas palavras fosse necessário. Todavia ele escreveu
alguns poemas curtos e, entre eles, destaca-se nesse trabalho a obra a seguir (ANDRADE,
Drummond, 1985, p. 28):


                       COTA ZERO

                       Stop.
                       a vida parou
                       ou foi o automóvel?
21



            Esse poema se assemelha muito à obra oswaldiana em sua síntese e ironia. O
primeiro verso, em inglês, registra a influência estadunidense em ascensão, principalmente no
que diz respeito aos produtos industrializados. Pode fazer-se tal afirmação, tendo em vista que
o texto menciona o “automóvel”, produto que o Brasil sempre importou. Em três versos,
Drummond faz uma reflexão sobre a dependência do homem moderno às tecnologias, afinal o
eu-lírico fica em dúvida se foi a vida que parou, ou foi apenas o automóvel. É impressionante
a contemporaneidade dessa obra se pensarmos, por exemplo, em nossa reação quando o
celular, o computador, ou mesmo o carro não funciona. Fica-se a sensação de impotência,
como se a vida acabasse (ou parasse como traz o poema) quando esses artefatos não
funcionam. E para essa crítica, observação e/ou aviso, o autor mineiro se utiliza da ironia, do
humor, “traço constante na poesia de Drummond.” (BOSI, 2001, p. 441).
            Com esse breve poema de Drummond, encerra-se a relação de autores
modernistas que poderiam ter obras publicadas no Twitter, se a rede social existisse no século
XX. Não houve a preocupação de se fazer uma lista impecável de autores que publicaram
algum texto em até 140 caracteres. Discorreu-se apenas sobre alguns dos autores e obras mais
relevantes da nossa literatura modernista.




2.3 PÓS-MODERNISMO




            Atualmente, vive-se no período chamado de Pós-Modernismo, porém não existiu
nenhum movimento, obra ou acontecimento que marque essa transição do Modernismo para
outra escola literária. Proença Filho afirma que teóricos discordam quanto à data dessa
transição, para uns “desde o fim da Segunda Guerra Mundial, teríamos ingressado na pós-
modernidade. Para outros, entretanto, a grande mudança ainda está para acontecer: o Ocidente
não deixou de ser moderno.” (1995, p. 8).
            Não se pretende nesse trabalho discutir o fim ou começo de escolas literárias, o
próprio Proença Filho (Ibid. p. 8) acrescenta que “vive-se, no mínimo, uma fase de transição,
onde o fato pós-modernista, em termos estéticos, é uma realidade.” E são esses termos
estéticos que queremos discutir. Contudo, antes pensaremos sobre o que mudou no homem
para que mudasse sua arte.
            A principal mudança no pensamento do homem ocidental na pós-modernidade é a
não   predominância     de   uma    corrente,   seja   ela   filosófica,   científica,   artística.
22



“Podemos considerar o espírito pós-moderno como sendo um conjunto de atitudes abertas e
indeterminadas que foi moldado por uma grande diversidade de correntes intelectuais e
culturais.” (TARNAS, 2008, p. 422).
                O homem pós-moderno não sabe o que pensar, não sabe em que acreditar. As
verdades não são mais verdades. Todo o conhecimento científico, histórico, religioso é posto
a prova e não pode ser tido como absoluto. “Implicitamente, o único absoluto pós-moderno é
a consciência crítica que, desconstruindo tudo, parece forçado por sua própria lógica a
desconstruir também a si mesmo.” (Ibid., p. 429).
                Com essa visão crítica, nenhuma corrente ou pensamento se torna absoluto. No
entanto, repensa-se e considera-se todas as ideias e visões do passado, também de maneira
crítica. Sendo assim:


                              Não apenas o próprio pensamento pós-moderno é um turbilhão de diversidades não
                              resolvidas, mas virtualmente todos os elementos importantes do passado intelectual
                              do Ocidente agora estão presentes sob uma ou outra forma, contribuindo para a
                              vitalidade e confusão do Zeitgeist 3 contemporâneo. (TARNAS, 2008, p. 429).


                Além da diversidade de pensamentos em torno do homem pós-moderno, na
segunda metade do século XX e início do século XXI, a sociedade ficou marcada pela
desigualdade social e econômica: por um lado pessoas desfrutando da industrialização e
consumo exagerado; por outro, pessoas sem ter o que comer e sem acesso à escola e outros
serviços. “Nesse contexto múltiplo, em que computadores sofisticados convivem com alta
dose de miséria e analfabetismo, o Pós-Modernismo como expressão literária e artística, só
pode ser visto de modo também múltiplo.” (COUTINHO, 2004, p. 243).
                É essa multiplicidade de visões e valores que refletiu e refletem na Literatura.
Esta, no Pós-Modernismo, não se concentrou num estilo ou num objetivo. Na verdade, na
literatura, surgem vários Pós-Modernismos que integram a mesma escola literária
basicamente por ocorrerem no mesmo período. A liberdade na criação predominou e há
somente algumas características em comum entre os textos literários pós-modernos.
                O ludismo, como uma dessas características, intensifica-se na literatura pós-
moderna. O autor “brinca” com as palavras, com suas formas e sons. Uma das ferramentas
utilizadas pelos autores é a paródia, que se torna uma característica marcante com base nas
teorias do diálogo entre os textos, do russo Bakhtin. Oswald de Andrade também foi pioneiro
nesse âmbito: num capítulo do seu livro Pau-Brasil, todos os textos estabeleciam diálogos

3
    Zeitgeist – Termo alemão que significa espírito de época.
23



com textos históricos brasileiros. “Na literatura contemporânea isso se dá sobretudo com o
aproveitamento intencional de obras do passado. Insere-se nesse procedimento a mistura de
estilos presente também na arte literária dos últimos decênios.” (PROENÇA FILHO, 1995, p.
39).
                Dentro de toda a diversidade descrita nos parágrafos anteriores, destacar-se-á
nesse trabalho uma modalidade originada no Japão, o haicai, principalmente nas obras do
autor Paulo Leminski. Depois também se tratará do microconto, uma forma curta de narrativa
surgida na literatura pós-moderna. As duas modalidades serão apresentadas nesse trabalho por
fazerem parte da literatura rápida e curta, que poderia ser publicada no Twitter. Na verdade,
atualmente haicais e microcontos são publicados na rede social, mas não são frutos dela,
como veremos nos capítulos seguintes.




2.3.1 Paulo Leminski e o haicai




                Paulo Leminski (1944 – 1989) foi um poeta pós-modernista. O autor curitibano
destacou-se por sua poesia irreverente, no entanto, não é graças a essa característica que o
bandido que sabia latim4 foi incluído nesse trabalho. A concisão é uma forte característica dos
poemas leminskianos. Além disso, ele foi pioneiro no Brasil na arte do haicai, juntamente
com Guilherme de Almeida.
                Angélica Soares nos explica a forma tradicional do haicai (1993, p.33): “poema
japonês caracterizado pela brevidade, composto de três versos, somando dezessete sílabas, o
primeiro e o terceiro com cinco e o segundo com sete”. Em seu conteúdo, o haicai apresenta
um tema do presente, geralmente relacionado a algo da natureza, e teria de mencionar uma
estação do ano (MAURER; ALVES, 2009). No Brasil, principalmente o haicai leminskiano,
essas características se alteraram muito, tendo em vista o grande número de influências da
pós-modernidade, como visto anteriormente.
                Mesmo com várias modificações, o haicai não deixou de ser um poema curto,
quase sempre conservando os três versos. No Twitter, o haicai é uma das formas de
manifestação literária, considerando que esse estilo se encaixa perfeitamente como publicação
no microblog.


4
    Título da biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz, Editora Record, 2001.
24



            Observemos um dos mais famosos haicais de Leminski, publicado no livro La vie
en close:




            Figura 1- Poema vazio agudo.
            Fonte: Leminski (2000, p. 123).


            Esse poema não tem título, assim como a maioria dos haicais. O ludismo desse
poema se dá na antítese “vazio/cheio” e ainda “meio”, três “estados de espírito” diferentes,
sendo que cada um ocupa um verso, começando “vazio” e terminando “cheio”.
            O poema tem duas rimas: uma no final do primeiro e do terceiro versos
(agudo/tudo); outra no final do segundo verso com a primeira palavra do último verso
(meio/cheio). A volta da rima – lembrando que ela foi praticamente extinta no Modernismo –
ilustra o que foi dito anteriormente: no Pós-Modernismo as produções literárias anteriores não
são desconsideradas, qualquer técnica está à disposição do escritor.
            O “vazio agudo” do primeiro verso do poema é reforçado pelo espaço entrelinhas
entre um verso e outro (GERALDES JÚNIOR, 2007).

                         No segundo verso, ele dá um passo adiante “ando meio”, ou seja, o poeta chega ao
                         meio que, semanticamente, tem duas potencialidades: a primeira faz uma clara
                         referência à posição da palavra no corpo do poema, exatamente no verso do meio –
                         aparecendo após três palavras [vazio / agudo / ando] e deixa outras três palavras
                         apenas até o final do poema [cheio / de / tudo]. A outra potencialidade desta palavra
25


                        no poema é no que diz respeito ao “estado de espírito” do Eu-lírico, do sujeito do
                        poema. “Estado de espírito” este que vem culminar no último verso do poema,
                        Cheio de tudo. (Ibid., p. 93).


            É magnífico como o autor diz tanta coisa com apenas sete palavras. Leminski não
escreveu apenas haicais, também escreveu poemas concretos e em outros estilos. Em todos
eles, a concisão é característica presente. Com esse autor, encerra-se a parte referente à poesia
curta no Brasil antes da Twitteratura, o próximo subtítulo diz respeito às narrativas curtas.




2.3.2 A narrativa curta: miniconto, microconto e nanoconto




            Até este subtítulo, relacionamos os pioneirismos na literatura curta no Brasil. Em
todos os casos, tratava-se de poemas. No caso de Oswald de Andrade, alguns poemas
apresentavam elementos narrativos, como o diálogo em “o capoeira”, no entanto o próprio
autor os considerava poemas.
            Abordaremos agora as narrativas curtas, mais especificamente o conto. Este
sempre foi considerado uma narrativa curta, como se pode observar nesta afirmação de
Machado de Assis: “O tamanho não é o que faz mal a êste gênero de histórias, é naturalmente
a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes
romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos.” (ASSIS, 1955, p. 5). Observamos
que o conto é considerado curto por Assis, comparado ao romance, logo até os mais longos
contos do próprio escritor, como O Alienista de 36 páginas, são entendidos como curtos.
            E quando essa narrativa curta diminui, ficando mais sintética? Surgem então
alguns termos como miniconto, microconto e nanoconto. É difícil definir esses termos, assim
como é difícil definir o conto. Edgar Allan Poe nos oferece uma explicação de como se deve
ler o conto: em apenas uma assentada, pois


                        se alguma obra literária é longa demais para ser lida de uma assentada, devemos
                        resignar-nos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade
                        de impressão, pois, se requerem duas assentadas, os negócios do mundo interferem e
                        tudo o que se pareça com totalidade é imediatamente destruído. (POE 1997 apud
                        SPALDING, 2008, p. 21).


            Tendo essa ideia de Poe em mente, é fácil entender por que os minicontos,
microcontos e nanocontos surgiram: o homem contemporâneo tem menos tempo, inclusive
26



para uma assentada, logo ele necessita de contos menores, para que “os negócios do mundo”
não interfiram na sua leitura.
             De acordo com Spalding (2008), não se pode afirmar quais foram os primeiros
autores e textos de minicontos no Brasil, pois faltam estudos e antologias no nosso país sobre
o assunto. Contudo o autor destaca Dalton Trevisan como pioneiro em minicontos, mas o
autor considera miniconto contos de uma página e meia, que não são relevantes para nosso
estudo. Porém, o 166º texto do livro Ah, é? de Trevisan, contém apenas 21 palavras e se
encaixa no limite de 140 caracteres do Twitter:


                           O velho em agonia, no último gemido para a filha:
                           - Lá no caixão...
                           - Sim, paizinho.
                           -... não deixe essa aí me beijar. (TREVISAN 1994 apud SPALDING, 2008, p. 39).


             Segundo Spalding, a partir de Ah, é?, várias antologias de minicontos foram
publicadas, inclusive do próprio Trevisan, todavia o autor considera miniconto contos de uma
página ou duas. Porém em 2004 é publicada uma antologia com cem textos, de cem autores
diferentes e com número máximo de letras pré-determinado, estamos falando de Os Cem
Menores Contos Brasileiros do Século5, antologia organizada por Marcelino Freire. “A obra
traz cem histórias inéditas com até cinqüenta letras, sem contar o título e a pontuação”.
(SPALDING, 2008, p. 49).
             Todos os textos da antologia são independentes, não estabelecem relação com os
demais, e contém sentido completo. Vejamos o texto da autora Cíntia Moscovich:


                           Uma vida inteira pela frente.
                           O tiro veio por trás. (FREIRE, 2004, p. 16).


             Spalding faz uma análise dos elementos narrativos desse texto (2008, p.62):


                           Não temos na narrativa a primeira ação de forma explícita, mas implícita nas
                           entrelinhas: a personagem, se tem uma vida inteira pela frente, nasceu. E a segunda
                           ação, essa sim, está expressa através de um motivo, o tiro: a personagem morreu.


             O ludismo desse texto, assim como no haicai de Leminski, acontece por meio da
antítese, explicitamente em “frente / trás” e implicitamente em “vida / morte”. Nesse conto, o
ludismo é essencial para o entendimento do texto e seu efeito no leitor. Se trocássemos a

5
 O título é uma paródia do livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. Antologia organizada por Ítalo
Moriconi, editora Objetiva, 2001.
27



primeira frase para algo como “teria sido um ótimo escritor”, não haveria uma ligação entre as
frases, e a sequência dos fatos ficaria comprometida (SPALDING, 2008).
            As informações que não constam no conto, como espaço e tempo, serão
preenchidas pelo leitor,


                           e certamente ele preencherá a partir de suas experiências: se for um leitor urbano, o
                           tiro remeterá para a violência crescente de nossas grandes cidades; se for um leitor
                           jovem, a vida inteira pela frente representa toda a expectativa de um grande futuro.
                           [...] A narração, de toda forma, é a de uma morte, uma morte prematura de alguém
                           com a vida inteira pela frente; o efeito, porém, pode variar de acordo com o leitor
                           porque caberá a ele criar o clima necessário. (SPALDING, 2008, p. 63)


            Spalding ressaltou, nesse trecho, o que muitos teóricos abordam: a importância do
leitor na construção do texto. Já foi mencionado nessa pesquisa que Haroldo de Campos diz
que a obra de Oswald de Andrade força o leitor a participar do processo criativo (1971).
Nesse âmbito de discussões sobre a participação do leitor, a teoria de Ernest Hemingway se
destaca, por sua comparação com o iceberg:


                           O leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente, terá uma sensação
                           mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A dignidade do movimento do
                           iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu volume estar acima da água.
                           (HEMINGWAY, 1996 apud SPALDING, 2008, p. 19).


            Hemingway, na sua teoria do iceberg, fala da importância do não dito, da
participação do leitor que vê todo o “iceberg” a partir de um oitavo dele. Essa teoria se refere
aos contos, não necessariamente minicontos, microcontos ou nanocontos. Spalding completa a
teoria do autor norteamericano (2008, p.62):

                           “ocorre que o miniconto [...] intensifica a importância do não dito na narrativa,
                           diminui o volume do iceberg acima da superfície de um oitavo para, digamos, vinte
                           avos, sem impedir, se o texto estiver bem realizado, que ele suscite certo efeito”.


            Neste trecho: “se o texto estiver bem realizado”, Spalding se refere a alguns textos
da antologia Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século que, de acordo com sua pesquisa,
não constituem uma narrativa, por não terem uma sequência de fatos e elementos narrativos
suficientes para que o texto cause efeito no leitor.
            O que não encontramos no estudo de Spalding e de nenhum outro teórico é a
diferença entre miniconto, microconto e nanoconto. Para o nosso trabalho, trataremos o
miniconto como um conto de até uma página, pois é o termo que foi dado aos textos de
Trevisan, por exemplo. Consideraremos que microconto e nanoconto são sinônimos e que
28



tratam de textos menores que os minicontos. Talvez haja diferença entre os dois termos, mas
no Twitter, ambos são utilizados para os contos que variam de duas palavras até o limite
máximo da rede social: 140 caracteres.
           Entretanto, também levaremos em consideração um dizer de Mário de Andrade
sobre o conto: “Em verdade, sempre será conto aquilo que seu autor batizou com o nome de
conto”. (2002, p.9). Apliquemos a fala do poeta modernista aos textos contemporâneos:
sempre será miniconto, microconto ou nanoconto aquilo que seu autor batizou com o nome de
miniconto, microconto ou nanoconto, respectivamente.
           Deste modo, encerra-se o primeiro capítulo deste trabalho. O próximo capítulo
abordará o Twitter, quando ele surgiu e como ele funciona. Como se pode observar,
abordamos nos dois primeiros capítulos Literatura e Twitter separadamente. No terceiro
capítulo discutiremos, finalmente, a Twitteratura.
29



3 TWITTER




3.1 O PRIMEIRO TWEET




              Antes de abordar o surgimento do Twitter, é necessário destacar um breve
contexto da época em que isso ocorreu. Já foi mencionado que o advento da internet
transformou a sociedade, dita pós-moderna, modificando seu conceito social, racional e
cultural. Além disso, esse último conceito associado à crescente utilização das tecnologias
digitais passou a ser denominado cibercultura.
              Atualmente, qualquer indivíduo pode produzir e publicar seu conteúdo na internet.
Entretanto, a rede nem sempre foi aberta dessa forma. Quando surgiu, na década de 1990, a
World Wide Web (rede de alcance mundial) era editada por um pequeno número de pessoas e
seu conteúdo era raramente renovado (ZAGO, 2010). Esse quadro começou a mudar nos
últimos dez anos, ao invés de serem apenas receptores dos conteúdos da rede, os internautas
passaram a produzi-los. Tal cultura de colaboração da internet foi chamada de web 2.0:


                         Em 2004, para caracterizar o novo paradigma de interatividade que os dispositivos
                         técnicos haviam disponibilizado na internet, foi cunhado o termo web 2.0 em uma
                         conferência da O’ Reilly Media. Em linhas gerais, trata-se de uma segunda geração
                         de ferramentas que aprofunda a noção de web como plataforma de interação, uma
                         tendência que reforça a sociabilidade a partir da troca de informações e colaboração
                         dos internautas. (O’ Reilly, 2005 apud SPECK, 2009, p. 14).


               É nesse âmbito que surgem os microblogs, sendo o mais popular entre eles o
Twitter6. Os microblogs podem ser entendidos como “multiplataformas de atualizações
curtas, que combinam características de blog e rede social.” (RODRIGUES, 2009, p. 149).
              Como microblog, o Twitter parte da ideia de um blog - sistema de postagens,
atualizações e possibilidade de comentários - mas difere desse pela postagem reduzida, essa
característica facilita a interação com outras ferramentas digitais (ZAGO, 2010). Assim, o
Twitter permite a postagem de tweets, mensagens instantâneas de até 140 caracteres
(considera-se caractere qualquer letra, símbolo, espaço, número ou ponto), pela web ou por
dispositivos móveis, como celulares. O Twitter também é percebido como site de rede social,
pois seu usuário cria um perfil público e interage com sua rede de contatos (RECUERO,

6
    www.twitter.com
30



2009). É importante ressaltar que a rede só existe em função dos usuários que estabelecem
conexões de troca, no caso os twitteiros7.
               Lançado em 2006 pela empresa estadunidense Obvious, o projeto inicialmente
chamado de Twttr - sem letras vogais - foi criado por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Willians.
Em 21 de março de 2006, Jack Dorsey8 enviou o primeiro tweet (PENNER, 2011).
“Convidando os colegas de trabalho”, dizia em português a mensagem:




               Figura 2 – O primeiro Tweet.
               Fonte:<http://twitter.com/#!/jack/status/29> . Acesso em: 27 abr. 2011.


               O nome do serviço está relacionado ao termo tweet que em português significa
“pio” (MICHAELIS, 2009, p. 339). Convém lembrar que o serviço limita as postagens em
140 caracteres, como a velocidade de um pio, e que o símbolo do Twitter é um passarinho
azul, observado no canto superior esquerdo da Figura 2.




7
    Também chamado de tuiteiros.
8
    www.twitter.com/jack
31



3.2 O TWITER NO BRASIL




           Os desenvolvedores do Twitter não anunciavam números e não faziam
comentários a respeito até o ano de 2010, mas uma pesquisa externa feita pela Com Score
                                           as
revelou que o Twitter passou de 5 milhões de usuários no mundo em 2008, para 44,5 milhões
em 2009 (SCHONFELD, 2009) Contudo, em setembro de 2010, o presidente
         SCHONFELD, 2009).                                presidente-executivo do
Twitter, Evan Williams, anunciou no blog oficial do Twitter que o microblog havia
ultrapassado 145 milhões de usuários
                            usuários.
           O Twitter conquista cada vez mais usuários em todo mundo, no Brasil a situação
não é diferente. “O Ibope registrou que 326 mil brasileiros se conectaram ao ser
                                                                             serviço em abril
de 2009, um crescimento de 28% em relação a março e de 456% em relação ao mesmo
período do ano anterior.” (SPYER et al, 2009, p. 88).
                           SPYER
           Nos primeiros anos, o Twitter só estava disponível nos idiomas Inglês e Japonês,
todavia em função do seu alcance mundial o serviço passou a disponibilizar out
                                 mundial,                                  outros idiomas.
Em junho de 2011 lançou a versão em Língua Portuguesa, terceira língua mais falada no
serviço. De acordo com uma pesquisa divulgada pela consultoria francesa Semiocast (2010)
o Inglês é a língua mais popular no Twitter (40%), seguido do Japonês (18%) e do Português
   nglês                                        ),
(11%). Outro estudo da Semiocast com base em 2,9 milhões de tweets gerados em 22 de
                       Semiocast,
junho de 2010, mostra o Brasil como quarta maior fonte de mensagens no Twitter:




                   Gráfico 1 - A divisão de tweets por país em junho de 2010.
                   Fonte: SEMIOCAST. Disponível em:
                   <http://semiocast.com/pr/20100701/Asia_first_Twitter_region>. Acesso: 26 abr. 2011
32



           Observando os dados citados sobre a abrangência do Twitter não só no Brasil,
mas no mundo todo, pode-se perceber o grande salto de popularidade que essa ferramenta deu
nos últimos anos. E isso de certa forma desmistifica o boato do Twitter ser apenas um
modismo passageiro.
           Confirmada a relevância do Twitter, posteriormente serão abordados alguns
termos técnicos referentes a essa ferramenta, bem como suas formas de utilização.




3.3 BREVE DESCRIÇÃO DO TWITTER




           Ao criar uma conta no Twitter, pode-se adicionar uma foto, um endereço
eletrônico e uma breve biografia que juntamente ao nome de usuário e ao nome completo
formam o perfil, como a imagem abaixo:




           Figura 3 – Perfil de um dos autores deste trabalho.
           Fonte: < http://twitter.com/#!/Daniele_SF/> . Acesso em: 23 jun. 2011.


           A esse respeito, Recuero explica que devido à ausência de informações da
comunicação face a face no ciberespaço, é necessário que o usuário possua um perfil:
“É preciso colocar rostos, informações que gerem individualidade e empatia, na informação
anônima do ciberespaço. Este requisito é fundamental para que a comunicação possa ser
estruturada.” (2009, p.27). Entretanto, há quem prefira não ver suas postagens publicadas
livremente na web, portanto, alguns usuários bloqueiam seus perfis, restringindo seus tweets
apenas aos seguidores autorizados.
           No Twitter, os usuários são convidados a responderem a pergunta “O que está
acontecendo?”, em até 140 caracteres. As postagens são publicadas em tempo real formando
uma lista de tweets denominada histórico.
33



               A lógica do Twitter é baseada no ato de seguir outros perfis. Para ler o que cada
usuário tweetar9, é necessário segui-los. Assim, quando um usuário está seguindo outro, ele
recebe em seu histórico os tweets do usuário seguido. Da mesma forma o usuário pode ter
pessoas que o seguem, os chamados seguidores. Vale ressaltar que a qualquer momento um
usuário pode deixar de seguir outro.
               Diferente de muitos sites de rede social, no Twitter não é preciso que o usuário
aceite um seguidor (exceto alguns usuários que optam por bloquear seus perfis, como
explicado anteriormente), por isso, as conexões estabelecidas no serviço não são
necessariamente recíprocas. Um usuário pode seguir outro sem que este o siga. Para
exemplificar melhor o funcionamento do Twitter, observemos a seguir um recorte da página
inicial de um dos autores desse trabalho:




               Figura 4 – Página inicial do Twitter de um dos autores deste trabalho.
               Fonte: < http://twitter.com/#!/> . Acesso em: 23 jun. 2011.




9
    Também chamado de tuitar.
34



            É possível ver na figura 4 o espaço destinado à escrita dos tweets, após a pergunta
“O que está acontecendo?”. O histórico, logo abaixo, é a parte onde aparecem os tweets dos
perfis seguidos e do próprio usuário.
            Observa-se no canto direito dessa Figura, a quantidade de mensagens publicadas
pelo titular da conta até o momento (1.019 tweets), abaixo, o trecho do último tweet postado, a
quantidade de perfis que o usuário está seguindo (430) e o número de seguidores (316). Em
seguida, percebem-se mais duas ferramentas do Twitter: “Quem seguir”, que são sugestões do
próprio serviço de usuários a serem seguidos e “Assuntos do Momento”, que funciona como
uma lista dos assuntos mais tweetados naquele momento. O usuário pode selecionar os
Assuntos do Momento do mundo, de um país, ou de algumas cidades (na Figura 4, está
selecionado Brasil). Assim, percebe-se através dessa Figura que o assunto mais comentado no
Twitter, no Brasil, naquele instante, era a conquista de um título do Santos Futebol Clube:
#santoscampeao (#ClaussenPickles é um tema promovido pelo próprio Twitter, com fins
lucrativos, não sendo necessariamente o mais comentado naquele momento).
            Além disso, há duas formas de comunicação entre os usuários do Twitter:
mensagens diretas, respostas ou menções. As mensagens diretas (MD) são mensagens
privadas apenas aos usuários envolvidos. Para enviá-las, é necessário que o destinatário siga o
remetente. Entretanto, respostas ou menções são mensagens públicas, caracterizadas pelo uso
da @ (arroba) seguida pelo nome de um usuário na postagem, como no segundo tweet da
Figura a seguir:




            Figura 5 – Uso de algumas ferramentas.
            Fonte: < http://twitter.com/>. Acesso em: 29 abr. 2011.


            Na Figura 5 também percebemos um Retweet, outra ferramenta comum que
segundo a Central de ajuda do Twitter “É um Tweet enviado por um terceiro e encaminhado
35



para você, por um usuário que você segue” (2011b). Assim, ao retweetar10, o usuário
compartilha com os seus seguidores o tweet postado por outro usuário. Nessa Figura, pode-se
observar um símbolo verde no canto esquerdo do tweet que foi retweetado (o de renanrop por
Daniele_SF).
               Outra ferramenta do Twitter é a hashtag ou marcador, isto é, a união do símbolo #
(sustenido) a uma expressão qualquer, como em “#Rumos”, no terceiro tweet da Figura 5.
Sabe-se que “o símbolo # é usado para marcar palavras-chave ou um tópico em um Tweet. O
marcador ou hashtag foi criado pelos usuários do Twitter” (TWITTER, 2011). Além dos
usuários saberem de maneira mais fácil do que se trata o tweet, a utilização do marcador
também faz com que o termo em questão transforme-se em um link, tornando-se uma forma
de busca. Assim, se um usuário clicar em “#Rumos”, aparecerão todos os tweets escritos com
esse mesmo termo.
               Nesse subtítulo, nem todos os termos e ferramentas relacionadas ao Twitter foram
descritos. Preocupamo-nos em mencionar apenas as mais relevantes para esse estudo.




3.3.1 Twitter: uma praça pública




               Inicialmente a pergunta que motivava os twitteiros a escreverem em 140
caracteres era “O que você está fazendo?”. Mas, em novembro de 2009, a pergunta inicial
passou a ser “O que está acontecendo?”. A respeito dessa mudança, Biz Stone11, co-fundador
do microblog, escreveu no blog oficial do Twitter que:


                            Pessoas, organizações e empresas começaram rapidamente a alavancar a natureza
                            aberta da rede para compartilhar qualquer coisa que eles queriam, ignorando
                            completamente a pergunta original [...]. O modelo fundamentalmente aberto do
                            Twitter criou um novo tipo de rede de informação que há muito tempo já ultrapassou
                            o conceito de atualizações de status pessoal. O Twitter ajuda você a compartilhar e
                            descobrir o que está acontecendo agora entre todas as coisas, pessoas e eventos que
                            lhe interessam. “O que você está fazendo?” não é mais a pergunta certa, a partir de
                            hoje o Twitter pergunta: “O que está acontecendo?”. Nós não esperamos que isso
                            mude como alguém usa o Twitter [...]. (STONE, 2009, tradução nossa).


               Esse fato confirma a ideia de Recuero (2009) de que as redes sociais não são
estáticas, elas são dinâmicas e sofrem constantes transformações pelos desenvolvedores da
10
     Também chamado de retuitar.
11
     www.twitter.com/biz
36



rede e, até mesmo, pelas adaptações dos usuários. Observa-se que a pergunta do Twitter não
estava mais adequada às necessidades dos usuários do microblog, por isso houve a mudança.
Além dos próprios desenvolvedores confirmarem, estudos de Mischaud (apud ZAGO, 2010)
constataram que a maior parte dos twitteiros não responde à pergunta proposta pelo Twitter,
eles utilizam o serviço para fins diversificados e à medida que a base de usuários aumenta,
surgem novos usos.
              A seguir, observa-se na página inicial do Twitter seu slogan: “siga o que mais lhe
interessa”:




              Figura 6 – Página inicial, slogan do Twitter.
              Fonte: < http://twitter.com/>>. Acesso em: 24 jun. 2011.


              Assim, o Twitter além de ser utilizado como ferramenta de comunicação entre os
“amigos”, também vem sendo amplamente usado na difusão de informações de “interesses”
diversos, como políticos, publicitários, jornalísticos. Silva completa essa ideia ao mencionar
que (2009, p. 80):


                           O Twitter se apresenta também como espaço para as celebridades afirmarem sua
                           fama; para as empresas manterem contato com seus clientes e fornecedores; para os
                           políticos conversarem com seus eleitores; para os órgãos públicos publicarem
                           informações aos cidadãos e para as pessoas comuns se manterem em contato com
                           todo esse universo de informação.
37



           Portanto, a utilização do Twitter não se restringe a registros pessoais ou a
interação entre amigos, vai além disso. O serviço possibilita a publicação de textos livres (não
direcionados a alguém), e a publicação de tweets direcionados a um público específico.
           As redes sociais tradicionais têm propósitos bem definidos estabelecidos pelo
serviço, como o Orkut para relacionamentos. O Twitter, porém, não. Como já citado por
Stone anteriormente, o modelo do Twitter é “fundamentalmente aberto”, isto é, a falta de
limitações de como utilizá-lo acaba “abrindo um leque” de novas possibilidades. Dessa forma,
acredita-se que o sucesso do Twitter decorre da liberdade que os usuários têm para descobrir
novas utilidades para o serviço que não foram previstas originalmente (SPYER et al, 2009).
           A maior parte das ideias expostas até o momento é englobada por esta metáfora:
“O Twitter lembra uma praça onde ambulantes, artistas, pastores e transeuntes se encontram e
se misturam.” (Ibid., p.80). E nessa praça pública, queremos dar destaque aos artistas,
especificamente aos escritores. Dentre as várias utilizações do Twitter, a mais relevante para o
nosso estudo é a possibilidade de publicação literária por meio desse serviço.
           A seguir uma criativa definição do Twitter:




           Figura 7 – Definição do Twitter de Marcelo Tas.
           Fonte: <http://twitter.com/#!/VideosdoTas/statuses/25454018546 /> . Acesso em: 24 jun. 2011.
38



               O "Jornalista, comunicador e extra-terrestre" Marcelo Tas12 tweetou essa inusitada
definição do Twitter (o tweet da Figura 7 foi publicado por fãs do autor13) que nos faz refletir
sobre os artistas, podemos supor os escritores, que “cutucam as mentes e corações” dos
leitores twitteiros.
               Tendo em mente os aspectos de Literatura e Twitter abordados até o momento,
entraremos no mundo da Twitteratura, no qual - aproveitando a fala de Marcelo Tas - “Em
140 toques ou menos, a imaginação é o limite”.




12
     www.twitter.com/MarceloTas
13
     www.twitter.com/VideosdoTas
39



4 TWITTERATURA




4.1 CONCEITUAÇÃO




               Até o momento abordamos alguns aspectos da Literatura e do Twitter
isoladamente. Neste capítulo, far-se-á uma aproximação de ambos para conceituar o que
chamamos de Twitteratura14.
               Esse termo foi usado pela primeira vez pelos estudantes Alexander Aciman e
Emmett Rensin, que publicaram no Twitter adaptações de obras clássicas da literatura
mundial em 140 caracteres. Posteriormente, os tweets dos norteamericanos foram reunidos no
livro Twitterature: The World's Greatest Books Retold Through Twitter, em português
“Twitteratura: os melhores livros do mundo recontados pelo Twitter”, lançado em 2009.
               Os autores fazem paródias de grandes clássicos, como Jane Austen, Shakespeare,
Homero, Ernest Hemingway, em tweets inusitados. Como este de Hamlet: “Por que, Cláudio,
está me dizendo o que fazer, de novo? Você não é meu verdadeiro pai! Na verdade você
matou meu verdadeiro pai...” (ACIMAN; RENSIN, tradução nossa). A seguir a capa
estadunidense do livro:




                  Figura 8 – Capa do livro Twitterature
                  Fonte: < http://www.twitterature.us/us/index.htm/> . Acesso em: 14 maio 2011.

14
     Também chamada de Tuiteratura.
40




               Observando a Figura 8, percebe-se que para Aciman e Rensin Twitteratura seria a
“aglutinação de ‘twitter’ e ‘literatura’, releituras bem humoradas de clássicos da literatura
para o pensamento do século XXI, em porções digestíveis de 20 tweets ou menos.” (tradução
nossa).
               Ainda que conceituemos a Twitteratura como a união dos termos Twitter e
Literatura conforme Aciman e Rensin, o conceito de Twitteratura proposto nesse trabalho é
distinto, por ser mais abrangente. Consideramos Twitteratura todos os textos literários
publicados no Twitter. Ou seja, não apenas adaptações ou recriações de obras clássicas, mas
toda e qualquer arte literária que ocorra na twittosfera15.
               Como ressaltamos no capítulo anterior, o Twitter registrou um grande aumento de
usuários no Brasil nos últimos anos, expandindo as potencialidades da ferramenta. Segundo
Cordeiro e Campos (2010, p. 9-10), o Twitter é:


                            um verdadeiro fenômeno digital, que virou mania, compulsão mesmo, de muitos
                            internautas, que, além de divulgação de links e frases, iniciaram, no resumido espaço
                            de 140 dígitos (ou toques) a divulgação de frases e versos que revelavam visível
                            valor literário [...] Constitui um verdadeiro desafio, pois é necessário amalgamar
                            concisão, originalidade e beleza, a exemplo de consagradas formas literárias como a
                            milenar Haikai.


               Mesmo sendo uma ótima ferramenta para publicação dessas obras concisas, o
Twitter não é um bom suporte para registro de textos. Não é possível, por exemplo, organizá-
los por categorias: a ordem é sempre do mais recente ao mais antigo. E pior, é difícil
encontrar tweets antigos, durante a busca só são exibidas as mensagens das últimas semanas
ou meses, e o microblog apaga as mensagens muito antigas. Além disso, qualquer usuário
pode deletar seus próprios tweets.
               Sendo assim, a Twitteratura não se constitui de um acervo de textos, ela é um
fluxo de obras literárias para serem lidas no momento da publicação. É possível lê-las depois,
porém a falta de possibilidade de organização e de uma busca simples e eficiente desestimula
essa prática. Por isso, algumas antologias de tweets são formuladas no bom e velho formato
de livro, para que nada seja perdido. Alguns autores também usam os blogs para registrarem
seus textos.
               Deste modo, nos próximos subtítulos, nós trataremos dos autores, leitores, obras e
gêneros presentes na Twitteratura. No entanto, deve-se levar em consideração que esse

15
     Também chamada de tuitosfera.
41



trabalho não almeja abordar toda a Twitteratura brasileira. Essa tarefa, aliás, seria impossível,
pois lidamos com uma rede social que está em constante transformação: a cada momento há
um novo tweet literário, surgem novas iniciativas, novos gêneros, autores. Em contrapartida
tweets são apagados, ou não vistos, escritores esquecidos ou nunca conhecidos.




4.2 ASPECTOS DA TWITTERATURA




            Pode-se equivocadamente pensar que, por não ser uma boa plataforma para
registro de textos, a Twitteratura não é digna de um estudo acadêmico. Entretanto, a
efemeridade também é característica de um gênero consolidado na Literatura: a crônica.
            A Twitteratura e a crônica são escritas para serem lidas no momento de sua
publicação: a crônica tende a ser lida no mesmo dia, pois o jornal é geralmente publicado
diariamente; no caso da Twitteratura, para ser lida naquele momento, pois em pouco tempo
novos tweets ocuparão aquele espaço. Por isso, muitas antologias de tweets são organizadas,
assim como acontece com a crônica.
            Deste modo, segundo Sá (2001, p.10), a crônica quando publicada em um jornal,
dirige-se “inicialmente a leitores apressados, quem lêem nos pequenos intervalos da luta
diária, no transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite.” O leitor da
Twitteratura não é apressado, é apressadíssimo, ele pode ler os tweets literários em qualquer
lugar em seu computador portátil ou em seu celular, em meio à imensidão de notícias que são
publicadas na rede social, assim como a crônica vem em meio às notícias do jornal.
            O espaço limitado imposto pelo Twitter também não é uma novidade, os folhetins
e as crônicas também têm seu espaço delimitado no jornal:


                        uma vez que a página comporta várias matérias, o que impõe a cada uma delas um
                        número restrito de laudas, obrigando o redator a explorar da maneira mais
                        econômica possível o pequeno espaço de que dispõe. É dessa economia que nasce
                        sua riqueza estrutural. (SÁ, 2001, p. 8).


            “O pequeno espaço” que dispõe um cronista tradicional é de geralmente uma
página, espaço que é muito menor no Twitter, ou seja, a “maneira mais econômica possível”
que um cronista tem de explorar, há de ser muito mais econômica no microblog. A habilidade
de concisão deixa de ser um diferencial e passa ser obrigação. E essa opção por textos curtos
42



não é apenas do leitor e sua pressa, cada vez mais escritores aderem à literatura curta.
Vejamos como Henry Alfred Bugalho16 trata esse tema dentro de um de seus microcontos:


                                                          Poder de síntese
                          Antes, escrevia 200 páginas sem pestanejar; hoje, se chega a 200 caracteres já
                          começa a ter dores-de-cabeça. (BUGALHO, 2009a, p.25).


             Pode-se ter duas interpretações do seguinte trecho desse microconto: “se chega a
200 caracteres já começa a ter dores-de-cabeça.” Na primeira, a personagem começa a ter
dores-de-cabeça por estar escrevendo muito, chegar a 200 caracteres seria cansativo. Na
segunda interpretação possível, a personagem estaria com dores-de-cabeça por chegar a 200
caracteres, ultrapassando o limite do Twitter, tendo que reformular a ideia para que caiba nos
140 caracteres máximos da rede social.
             O autor tem de lidar com essa limitação de espaço, precisando às vezes mudar
uma palavra ou descartar uma ideia por não caber em 140 caracteres. Há um escritor que
levou a limitação ao extremo. Edson Rossatto17 publica todos os dias em seu Twitter um
nanoconto de 100 caracteres. Não se tratam de histórias de até 100 caracteres, mas com exatos
cem caracteres: “Cem Toques Cravados”, como o próprio autor intitula seu trabalho.
             Mas como o autor sintetiza uma ideia em cem toques exatos? Vejamos um
nanoconto do autor, que não está com 100 caracteres:


                          Micro-ondas
                          “Queimou, e minhas meias continuam molhadas.” (ROSSATTO, 2010).


             O nanoconto tem 56 caracteres. Observa-se que Rossatto sintetizou a ideia o
máximo possível, deixando o leitor completar os sentidos da história, como Hemingway
explica em sua teoria do iceberg. Contudo, o autor aproveitou a ideia para seu Twitter
@cemtoques18. Comparemos as versões:




16
   www.twitter.com/henrybugalho
17
   www.twitter.com/edsonrossatto e www.twitter.com/cemtoques
18
   www.twitter.com/cemtoques
43




           Figura 9 – Nanoconto “Micro-ondas” em cem toques cravados.
           Fonte:< http://twitter.com/#!/cemtoques/status/63217888189882368> . Acesso em: 30 mai. 2011.


           Nota-se que na segunda versão, em cem toques cravados, o autor dá mais
informações sobre a história, diminuindo o trabalho do leitor em completar os significados.
Rossatto incluiu várias palavras “desnecessárias” para que o texto ficasse em 100 caracteres; o
texto deixou de ser em primeira pessoa e se tornou um diálogo; o autor trocou uma palavra-
chave do texto (molhadas) por outra semelhante (úmidas), por ter dois caracteres a menos.
           Quando a qualidade deixa de ser prioridade para que o texto se encaixe em suas
limitações, é a forma se sobrepondo ao conteúdo. Essa é uma característica de todos os textos
da Twitteratura, embora no caso de Rossatto aconteça de uma maneira mais extrema. Porém,
a forma sobre o conteúdo não é uma característica exclusiva da Twitteratura, pois quantos
autores canônicos não tiveram de alterar suas ideias para que seu texto se encaixasse na
métrica, na rima, no ritmo, na quantidade de versos do soneto ou ainda no tamanho da página
do folhetim? No entanto, essa característica não representa uma má qualidade dos textos,
como podemos observar na afirmação de Sá sobre o curto espaço da crônica: “É dessa
economia que nasce sua riqueza estrutural.” (2001, p. 8).
           Mesmo com essa quantidade limitada de espaço para os autores da Twitteratura,
observamos que estes não utilizam abreviações em suas obras, ainda que na internet essa seja
uma prática comum. Há alguns casos isolados em que o escritor opta pelas abreviações do
internetês e em outros casos até ocorrem abreviações, mas que se tratam de uma representação
da linguagem informal, como neste trecho do livro @re_vira_volta, um romance publicado
primeiramente no Twitter:
44




                           Tá perdido? Ei, parece que tá dormindo um sono profundo. E esses espasmos, o que
                           eles significam? (LEMOS, 2010, p. 33).


               O uso do “tá” já é comum no âmbito literário fora do Twitter em textos mais
informais. Além disso, podemos verificar que a palavra “que” não é abreviada pelo autor
(“q”), forma muito frequente na internet. A esse respeito:


                           Seabra vê na limitação de espaço um incentivo à criatividade, embora desaprove o
                           uso de abreviações. Para ele, usar "vc” em vez de "você” pode ser válido no
                           processo de comunicação, mas condenável na tuiteratura. (MURANO,2010, p.43).


               Além do internetês, também é comum na Web e nas redes sociais a presença de
imagens, músicas e vídeos, juntamente com os textos. Todavia a Twitteratura é composta
exclusivamente pela linguagem verbal, o que, segundo Camila Franco Monteiro, explica a
adesão de escritores ao Twitter:


                           Diferentemente de outras redes sociais, como o YouTube, de blogs e da televisão,
                           que estimulam uma linguagem menos verbal e mais imagética, o twitter é
                           essencialmente uma linguagem escrita que abre espaço para a criação literária
                           propriamente dita. (SPATUZZA, 2011, p. 26-7).


               Mesmo sendo unicamente verbal, o Twitter não dispõe de algumas ferramentas de
edição de texto, como mudar fonte, cor e tamanho da letra, ou até mesmo pular uma linha.
Vejamos o poema de Sérgio Bernardo19:


                           CICLO - O menino come terra / depois / a fome de sempre / e a terra come o menino
                           (CORDEIRO; CAMPOS, 2010, p. 197).


               Pode-se observar que o autor usa a barra para indicar que o trecho seguinte seria
uma linha abaixo, se publicado em outra plataforma. O título “CICLO” está em caixa alta,
pois não há como centralizar palavras, nem como as colocar em negrito ou itálico. Esses são
alguns recursos que os autores utilizam para vencer essas limitações, no entanto alguns
escritores não colocam título. Para demonstrar que se trata de um verso novo utilizam letra
maiúscula (mesmo quando não há ponto final) ou apenas usam a pontuação para marcar o
ritmo, como neste poema de Fernando José Ribeiro Júnior20:


19
     www.twitter.com/Sempoesianaoda
20
     www.twitter.com/FernandoPlan
45




                               O corpo descansa apodrecendo, O mundo girando ainda se move. As flores em volta
                               vão crescendo, Deixando que a vida se renove. (Ibid., p. 105)


               A ausência de título em algumas obras da Twitteratura não indica necessariamente
um recurso para que o texto caiba em 140 caracteres. Para comprovar, vejamos o haicai
abaixo de Carlos Seabra21, que assim como muitos haicais de Leminski, não tem título:


                               No despenhadeiro / a sombra da pedra / cai primeiro. (CORDEIRO; CAMPOS,
                               2010, p. 21).


               Esse texto contém apenas 52 caracteres, ou seja, sobraram 88 caracteres para que
o autor incluísse um título, o que ele optou por não fazer.
               Sendo assim, como características do próprio Twitter, as opções para a construção
do texto são democráticas e variadas, ficando a cargo do escritor escolher as mais eficientes
para que o leitor melhor entenda seu texto. Essa relação entre leitores e escritores será
discutida detalhadamente na seção seguinte.




4.3 ESCRITORES E LEITORES




               Como mencionado no terceiro capítulo, o Twitter só existe em função dos
usuários que estabelecem conexões de troca, consequentemente, só há Twitteratura em função
da interação de escritores e leitores. Portanto, neste subtítulo tentaremos descrever um perfil
geral de escritores e leitores brasileiros de Twitteratura.
               Pesquisas demonstram que a maior parte dos usuários brasileiros do Twitter são
jovens que vivem no mundo da internet, eles conhecem e utilizam as ferramentas da web:


                               As pessoas que aderiram ao Twitter são predominantemente usuários avançados da
                               web, 59% possui blogs, passa em média 46 horas por semana acessando a rede. É
                               um público jovem, 65% entre 21 e 30 anos, e qualificado: 80% está estudando, tem
                               diploma universitário ou pós. (SPYER et al, 2009, p. 90).


               Se o público do Twitter é predominantemente jovem, podemos considerar que os
leitores e escritores da Twitteratura também o são. “Marcelino Freire acredita no potencial do

21
     www.twitter.com/cseabra
46



Twitter para difundir a literatura e estimular a escrita literária entre os usuários,
principalmente entre os mais jovens.” (SPATUZZA, 2011, p. 26).
               Percebe-se também que os leitores do século XXI vivem em ritmo acelerado:
“O sujeito moderno não pode perder tempo, que tem sempre de aproveitar o tempo [...] que
tem de seguir o passo veloz do que se passa, [...] e por essa obsessão por seguir o curso
acelerado do tempo, este sujeito já não tem tempo.” (LAROSSA, 2002, p. 23). E por ser curta,
ser lida em alta velocidade e ocupar pouco tempo, a Twitteratura se adapta perfeitamente a
vida cotidiana desses leitores.
               A esse respeito, Rossatto (2010, p.10) brinca com seus leitores no prefácio de um
de seus livros: “Divirta-se! E nunca mais diga que não tem tempo para ler. Com textos tão
curtos, isso já é desculpa do passado...”
               Além de terem uma rotina acelerada, os leitores modernos convivem com várias
informações. O próprio Twitter é utilizado para diversos fins, como fonte de notícias,
entretenimento, relacionamento, e não apenas literário. Semelhante ao jornal, o Twitter
oferece muitas informações, trata de vários assuntos e a literatura ocupa uma parcela do que é
publicado no microblog.
               Mas como os leitores encontram a Twitteratura nesse fluxo de informações
variadas? Comparemos novamente com a crônica que se encontra no jornal. O leitor
interessado em lê-la pode ir direto a sua página, pulando as outras seções (política, economia,
entretenimento etc.) ou ler todo o jornal, inclusive a crônica, assim como o leitor da
Twitteratura pode optar por seguir apenas perfis literários ou mesclá-los com outros
interesses.
               Observamos que muitos usuários leitores não só seguem escritores e perfis que
abordam aspectos literários, como também se utilizam de hashtags. Encontramos as hashtags
literárias: #microconto, #miniconto, #curtaconto, #poesia, #poema, #poeminuto, #haikai,
#haicai, #haiku, #literatura, #letras365.
               Dentre essas, a hashtags #letras365, criada por Giselle Zamboni22 em 2011,
ganhou destaque na twittosfera: cerca de 200 tweets por dia são publicados com ela.
Observamos que essa hashtag promove a interação de escritores, leitores e colaboradores,
sendo utilizada para citar criações próprias ou não (poemas, microcontos, trecho de obras),
compartilhar notícias importantes do mundo das letras, tais como concursos, festas literárias,
feiras, artigos e até dar dicas de livros, blogs, sites.


22
     www.twitter.com/gisellezamboni
47



            Além disso, ocorreu no dia 11 de junho de 2011, o I Sarau Literário via Twitter,
organizado por Renan Osvaldo Pacheco23, Daniele Souza Freitas24 (ambos autores desse
trabalho) em parceria com Giselle Zamboni. O evento foi criado para reunir escritores e
leitores da Twitteratura, um momento com hora marcada, das 19h às 21h, para divulgar e
apreciar criações literárias de 140 caracteres. Para participar do sarau, bastava publicar um
tweet com a hashtag #sarauletras365, retweetar ou comentar outro durante o horário
estabelecido.
            Tendo o sarau como base, podemos ter uma ideia de quantas pessoas utilizam o
Twitter para a Literatura, pois foi registrada a participação de 324 perfis de Twitter,
distribuídos entre 24 estados brasileiros e o Distrito Federal, mais dois participantes que
tweetaram do exterior. Durante o sarau, foram postados 2316 tweets literários, excluindo os
comentários e os retweets. O evento ficou nos Assuntos do Momento (também chamado de
Tópicos de Tendência, no canto direito da Figura 10) do Brasil praticamente do começo ao
fim. Na imagem a seguir, observamos a hashtag #sarauletras365 em terceiro25 lugar:




            Figura 10- I Sarau Literário via Twitter nos Assuntos do Momento.
            Disponível em: < http://bit.ly/iuvGML > Acesso em : 11 jun. 2011.


             Contudo a interatividade não ocorre somente com o uso de hashtags e em saraus
literários via Twitter, ela é uma das principais marcas do microblog. Foi-se o tempo em que


23
   www.twitter.com/renanrop
24
   www.twitter.com/Daniele_SF
25
   O tópico “#PinkisFreedom” é promovido pelo Twitter, ou seja, não significa que ele é o assunto mais
    comentado naquele momento.
A arte de escrever em
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  • 1. UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DANIELE SOUZA FREITAS RENAN OSVALDO PACHECO TWITTERATURA: A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES Tubarão 2011
  • 2. DANIELE SOUZA FREITAS RENAN OSVALDO PACHECO TWITTERATURA: A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES Monografia apresentada no Curso de Graduação em Letras Português/Inglês da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Letras. Orientadora: Prof. Cláudia Espíndola Gomes Tubarão 2011
  • 3. DANIELE SOUZA FREITAS RENAN OSVALDO PACHECO TWITTERATURA: A ARTE DE ESCREVER EM ATÉ 140 CARACTERES Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Licenciado em Letras e aprovado em sua forma final pelo curso de Graduação em Letras Português/Inglês da Universidade do Sul de Santa Catarina. ___________________, ________ de _________________________ de 2011. Local dia mês _______________________________________________ Prof. e Orientadora Cláudia Espíndola Gomes, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina _______________________________________________ Prof. Jussara Bittencourt de Sá, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina _______________________________________________ Prof. Marizete Farias da Rocha, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina
  • 4. AGRADECIMENTOS Nossos pais por nos ensinar a ser, cada professor e orientadora, twitteiros que fazem duma rede social um espaço para Literatura: #obrigado.
  • 5. “140 caracteres são o suficiente para sangrar.” (Carpinejar)
  • 6. RESUMO Este estudo aborda um novo meio de publicação literária na internet, a Twitteratura. Em até 140 caracteres, autores brasileiros têm divulgado seus textos literários no microblog Twitter, criado em 2006. Entretanto, textos curtos não são uma novidade do microblog, portanto, fez- se uma abordagem dos escritores brasileiros pioneiros nessa literatura concisa, partindo do modernista Oswald de Andrade até os microcontistas do século XXI. Também é feito um estudo acerca do Twitter, seu surgimento, principais ferramentas e utilidades, assim como sua popularidade no Brasil. Dessa forma, a pesquisa reúne referenciais teóricos sobre Literatura e Twitter, além de informações extraídas dos livros literários provindos do microblog, e investigações dos autores deste trabalho como usuários do serviço. Não é objetivo desse estudo analisar a qualidade literária dos textos que circulam no Twitter, mas expor e reunir parte das publicações literárias que formam a Twitteratura, reconhecendo-a como um novo meio de publicação literária à disposição dos autores. É impossível abordar todo o conteúdo literário publicado no Twitter, tanto pela efemeridade, característica do serviço, como pela quantidade. Nesta pesquisa, percebeu-se o Twitter como um meio democrático e incentivador da publicação literária, no qual os indivíduos não só são estimulados a sintetizar suas criações literárias em 140 caracteres ou menos, como também a lerem essas produções curtas, que exigem pouco tempo e custo ao homem pós-moderno. Palavras-chave: Twitteratura. Literatura digital. Twitter. Literatura contemporânea. Literatura curta.
  • 7. ABSTRATC This study addresses a new way of literary publishing on the Internet, the Twitterature. Up to 140 characters, Brazilian authors have published their literary texts on the Twitter microblog, created in 2006. However, short texts are not a novelty of the microblog, therefore, We approach the Brazilian writers pioneers in this concise literature, starting from the modernist Oswald de Andrade until the twenty-first century writers of micro-fiction. It is also done a study about Twitter, its emergence, its main tools and utilities, as well as its popularity in Brazil. Thus, the research collects theoretical references about Literature and Twitter, as well as information extracted from the literary books stemming from the microblog, and investigations of the authors of this work as service users. This study does not aim to analyze the literary quality of the texts which circulate on Twitter, but to present and to collect part of the literary publications that makes the Twitterature, recognizing it as a new way of literary publication available to the authors. It is impossible to cover all posted literary content on Twitter, not only because the ephemerality, characteristic of the service, but also the quantity. In this research, we noticed Twitter as a supporter of a democratic and literary publication, in which individuals are not only encouraged to summarize their literary creations in 140 characters or less, but also to read these short productions that require little time and cost to the postmodern man. Keywords: Twitterature. Digital Literature. Twitter. Contemporary Literature. Short Literature.
  • 8. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Poema vazio agudo................................................................................................... 24 Figura 2 – O primeiro tweet ..................................................................................................... 30 Figura 3 – Perfil de um dos autores deste trabalho.................................................................. 32 Figura 4 – Página inicial do Twitter de um dos autores deste trabalho .................................. 33 Figura 5 – Uso de algumas ferramentas................................................................................... 34 Figura 6 – Página inicial, slogan do Twitter. ........................................................................... 36 Figura 7 – Definição do Twitter de Marcelo Tas..................................................................... 37 Figura 8 – Capa do livro Twitterature...................................................................................... 39 Figura 9 – Nanoconto “Micro-ondas” em cem toques cravados............................................. 43 Figura 10 – I Sarau Literário via Twitter nos Assuntos do Momento...................................... 47 Figura 11 – Poeminuto de André Luís Gabriel......................................................................... 50 Figura 12 – Poeminuto de Denison Mendes............................................................................. 51 Figura 13 – Haicai de Millôr Fernandes................................................................................... 52 Figura 14 – Aforismo de Carpinejar......................................................................................... 54 Figura 15 – Aforismo de Marcelo Soriano............................................................................... 55 Figura 16 – Microconto de Samir Mesquita............................................................................. 57 Figura 17 – Conto nanico 153 de Marcelino Freire.................................................................. 58 Figura 18 – História coletiva no Twiterbook............................................................................ 61
  • 9. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - A divisão de tweets por país em junho de 2010.....................................................31
  • 10. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 10 2 LITERATURA.................................................................................................................... 12 2.1 A LITERATURA : UMA ABORDAGEM........................................................................ 12 2.2 AS VANGUARDAS EUROPEIAS E O MODERNISMO BRASILEIRO...................... 15 2.2.1 A concisão de Oswald de Andrade............................................................................... 16 2.2.2 Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade.................... 18 2.3 PÓS-MODERNISMO........................................................................................................ 21 2.3.1 Paulo Leminski e o haicai............................................................................................. 23 2.3.2 A narrativa curta: miniconto, microconto e nanoconto............................................. 25 3 TWITTER............................................................................................................................ 29 3.1 O PRIMEIRO TWEET....................................................................................................... 29 3.2 O TWITER NO BRASIL................................................................................................... 31 3.3 BREVE DESCRIÇÃO DO TWITTER.............................................................................. 32 3.3.1 Twitter: uma praça pública.......................................................................................... 35 4 TWITTERATURA............................................................................................................. 39 4.1 CONCEITUAÇÃO............................................................................................................ 39 4.2 ASPECTOS DA TWITTERATURA................................................................................. 41 4.3 ESCRITORES E LEITORES............................................................................................. 45 4.4 GENÊROS TEXTUAIS NO TWITTTER......................................................................... 49 4.4.1 Poeminuto, haicai e aforismo........................................................................................ 50 4.4.2 Microconto..................................................................................................................... 56 4.4.3 Prosa além de 140 caracteres........................................................................................ 59 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 63 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 65
  • 11. 10 1 INTRODUÇÃO Novos meios de divulgar textos literários surgiram com a popularização da internet. Um deles é por meio da rede social Twitter, um serviço gratuito de microblog que vem ganhando novos leitores e escritores no Brasil. A sociedade do século XXI é marcada pela falta de tempo e pela rapidez em que ocorrem os acontecimentos. Principalmente por esse motivo, o Twitter tem se destacado, pois os textos que circulam nessa esfera são relativamente curtos, de leitura rápida e instantânea, escritos em até 140 caracteres, sendo postados em tempo real. O usuário dessa rede social deve ter habilidade de concisão, escrevendo seus textos dentro da limitação do microblog. Assim, a literatura veiculada no Twitter é extremamente adequada às necessidades do leitor contemporâneo. Outro fator que contribui para o sucesso do Twitter como divulgador da literatura é que qualquer indivíduo pode escrever seu texto e publicá-lo, contribuindo para o que se chama “Twitteratura”, a Literatura no Twitter. Além disso, o microblog possibilita a interação entre leitores e escritores, pois qualquer usuário pode comentar, responder, elogiar, complementar, criticar um texto de outro. Isso tende a enriquecer ainda mais o âmbito literário. Percebe-se, a partir do exposto, um universo literário muito rico e novo, sendo que o Twitter popularizou-se recentemente no Brasil, há cerca de dois anos. Contudo, esse universo parece não ter sido descoberto por teóricos da área, pois se constata que não há estudos a esse respeito. Tendo em vista a falta de pesquisas sobre esse assunto, evidenciando a relevância desse trabalho para o meio acadêmico, faz-se necessário um estudo específico da literatura contemporânea brasileira veiculada no microblog Twitter, nos últimos dois anos. Levando em consideração essa situação problema, o objetivo geral desse trabalho visa reconhecer a Twitteratura como um novo meio de publicação literária. Parte-se dos objetivos específicos: buscar um conceito de Literatura; relacionar a Twitteratura com a poesia modernista brasileira da primeira fase; explicar como o Twitter é utilizado; caracterizar o perfil do escritor e do leitor do Twitter; descrever as características da Twitteratura; justificar os benefícios do Twitter para a Literatura; identificar os gêneros literários existentes no Twitter; demonstrar algumas obras literárias publicadas no Twitter.
  • 12. 11 Contudo, se faltam pesquisas sobre o assunto, como desenvolver este estudo? A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica, esta segundo Leonel e Motta (2007) é essencial no conhecimento e na análise das principais contribuições teóricas sobre um tema. Nossa pesquisa além do caráter bibliográfico é enriquecida por nossas investigações no âmbito do Twitter como usuários do serviço. Fez-se neste trabalho o mesmo processo feito com o termo “Twitteratura”: primeiro abordaremos os referenciais teóricos de Literatura e Twitter separadamente, para depois unirmos ambas as teorias. Dessa forma, o trabalho se divide em três seções seguidas pelas Considerações Finais. Na primeira, discute-se um conceito de Literatura com base nas teorias de Coelho (1976), para posteriormente abordar a literatura rápida no Brasil, recorrendo aos ideais modernistas do início do século XX, aos poemas do primeiro nome brasileiro dessa literatura curta: Oswald de Andrade, e as análises de Haroldo de Campos (1971). São mencionados também os poemas de Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade. Assim como os ideais modernistas, o primeiro capítulo também destaca os principais aspectos do pensamento do homem no Pós-Modernismo, período em que vivenciamos, com base nas teorias de Tarnas (2008), e a influência desses pensamentos na literatura, discutindo os conceitos trazidos por Proença Filho (1995). Após, é exposto o formato original do haicai e sua presença no Brasil, principalmente na obra de Paulo Leminski, aproveitando-se principalmente do estudo de Geraldes Júnior (2007). Para compreender a narrativa curta, analisa-se o estudo de Spalding (2008) sobre o miniconto, além de afirmações de teóricos do conto e de grandes contistas da Literatura mundial, como Edgar Allan Poe e Machado de Assis, abordados pelo autor. A segunda seção tem como tema as características do Twitter, é explicado seu surgimento, detalham-se suas principais ferramentas e utilidades. Aborda-se também a presença da Língua Portuguesa no microblog e sua popularidade no Brasil. Para a elaboração dessa revisão bibliográfica, os principais autores utilizados são: Zago (2010), Recuero (2009), Maurílio Silva (2009) e Spyer et al (2009). Por fim, a terceira seção trata, de fato, da pesquisa sobre Twitteratura, abordando as informações extraídas do nosso estudo bibliográfico de Literatura e Twitter, já citados, além de utilizarmos informações contidas nos livros literários provindos do microblog e nossas constatações utilizando o serviço. Discutiu-se o conceito de Twitteratura; se a Literatura no Twitter difere da publicada fora dessa plataforma; quem são as pessoas que escrevem; para quem escrevem; quais os gêneros literários que circulam na Twitteratura; e quais os benefícios que essa nova modalidade traz para o âmbito literário em geral.
  • 13. 12 2 LITERATURA 2.1 A LITERATURA : UMA ABORDAGEM Antes de chegarmos a Twitteratura, tema central deste trabalho, naturalmente faz- se necessária uma caminhada pela Literatura. E o que se entende por Literatura? Pode-se dizer que a Literatura é a Arte da palavra, mas essa concepção é extremamente generalizadora. Buscar um conceito claro, verdadeiro, estático para Literatura é uma tarefa um tanto árdua, se não impossível. A Literatura como qualquer outra arte, sendo uma criação humana, está sujeita aos valores e anseios do homem que se modificam constantemente. A este propósito, Coelho (1976, p.23) escreve: No sentido de compreendermos o que é Literatura para os homens de hoje, examinemos em primeiro lugar o que ela significou para os do passado. [...] Múltiplas conceituações foram formuladas através dos tempos mas nenhuma conseguiu ser completa e definida, pois cada época fundamenta-se de acordo com a sua maneira de interpretar a vida e o mistério da condição humana. Assim, ao longo dos tempos a Literatura foi concebida de diferentes formas. Ainda segundo a autora, na Antiguidade Clássica, Litteratura1 significava caligrafia de cada um, alfabeto, símbolos de escrita. O termo Literatura na Era medieval equivalia a Gramática, mais adiante no Renascimento, era definido como um conjunto de obras literárias arquivadas pela história. Durante a Era Clássica – graças à teoria aristotélica da arte como imitação do real – a Literatura era tida como a expressão da beleza e da verdade essencial dos seres e coisas que surge da apreensão racional da realidade. Até aqui, os conceitos de Literatura são marcados por princípios rígidos, tradicionais. A atividade literária é regida por normas ensinadas que descartam as peculiaridades individuais do talento criador. Também nesse período, não há uma diferenciação entre os textos literários ou não, todo texto escrito, seja ele científico, filosófico, histórico, ficcional ainda é considerado literatura. Contudo a Era Romântica rompe essa rigidez disciplinar e essa generalização informal. Segundo Coelho (1976, p.26) “A Literatura deixa de ser vista como uma imitação 1 Termo em latim, origina-se em littera/ae que significa letra do alfabeto, sinal.
  • 14. 13 do real e passa a ser a expressão do mistério e do enigma da existência.” A razão dá lugar à emoção. Ocorre a associação entre a Literatura e a Ficção, os textos literários começam a exigir um caráter ficcional. Levando tal aspecto em consideração, a conceituação de Literatura passa a ser mais restrita e funcional. No século XX, Salvatore D’Onofrio (1990, p. 9) propõe o seguinte conceito de Literatura: “A literatura é uma forma de conhecimento da realidade, que se serve da ficção e que tem como meio de expressão a linguagem artisticamente elaborada.” Nesse conceito, Literatura e linguagem estão fortemente associadas. Assim como todo ser vivo é formado por células, sistemas, funções a Literatura é composta por signos que se organizam em estruturas maiores como enunciados, discursos. (COELHO, 1976). Então, a linguagem vem a ser o meio de expressão da Literatura, no entanto é “artisticamente elaborada”, não sendo uma linguagem qualquer. Distinta da linguagem objetiva e direta utilizada no Jornalismo, a Literatura utiliza estilos, figuras de linguagem para emocionar o leitor. O conceito de D’Onofrio, acima citado, associa Literatura e Ficção como a definição de Coelho também o faz: Literatura é Arte, é um ato criador que por meio da palavra cria um universo autônomo, onde seres, as coisas, os fatos, o tempo e o espaço, assemelham-se ao que podemos reconhecer no mundo real que nos cerca, mas que ali – transformados em linguagem – assumem uma dimensão diferente: pertencem ao universo da ficção. (1976, p. 23). Observa-se que ambos os conceitos fazem referência a Literatura como criadora de um ambiente ficcional, porém não consideram a Literatura distante da realidade, ela “assemelha-se ao mundo real”. A Literatura, então, não é apenas o fruto da imaginação criadora do homem, mas uma forma de conhecimento, e até de problematização do real. Ao retomar a discussão inicial desse capítulo, percebe-se a existência de inúmeras definições de Literatura que surgem e desaparecem. Em sua maior parte generalizadoras, essas definições confirmam a ideia de Coelho (1976) que considera a Literatura enigmática e indefinível, porque o espírito humano também o é. Sendo criada pelo homem, a Literatura tende a refletir aspectos mutáveis da sociedade em que ele está inserido. Sendo assim, quais os principais aspectos da sociedade atual? Certamente, inúmeras seriam as reflexões afloradas por essa pergunta. Mas, nesse momento, quer-se apenas ressaltar alguns poucos aspectos da complexa sociedade do século XXI:
  • 15. 14 O sujeito moderno usa o tempo como um valor ou como uma mercadoria, é um sujeito que não pode perder tempo, que tem sempre de aproveitar o tempo [...] que tem de seguir o passo veloz do que se passa, que não pode ficar para trás, e por essa obsessão por seguir o curso acelerado do tempo, este sujeito já não tem tempo. (LAROSSA, 2002, p. 23). Essa é a situação vivenciada diariamente pela maioria dos indivíduos, numa sociedade que vive em ritmo acelerado: cidades, metrôs, ônibus superlotados, surgem os fast food e os arranha-céus. O cidadão passa mais tempo no trabalho, no elevador, nas filas, nos meios de transporte do que na própria casa. Enfim, o sujeito não tem mais o próprio tempo. Em meio a esse tumulto surge, como aliada à rapidez do relógio moderno, a internet. “A rede digital tem crescido em uma velocidade espantosa; basta comparar seu crescimento com o de outros veículos de comunicação: o rádio levou 38 anos para atingir 50 milhões de pessoas; a TV aberta, 16 anos; a Web apenas 5 anos.” ( XAVIER; SANTOS, 2005, p. 30). É de conhecimento de todos que a rede digital já penetrou em todas as esferas da atividade humana, desde o interior de nossos lares até os mais variados setores, como bancos, supermercados, lojas... A Internet se destaca pela dinamicidade interativa, facilita o acesso às mais variadas informações e a cada dia adquire novas utilidades. Nesse contexto de “era digital” Pinheiro (2005, p. 131) ressalta: A inserção de Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) nas sociedades modernas tem acarretado muitas transformações nos seus diversos setores. Novas formas de pensar, de comunicar, de acessar informações e de perceber o conhecimento estão se impondo. Assim, a internet incentiva novas ações que permitem profundas mudanças no modo de vida do homem moderno, transformando as formas de pensar, de adquirir conhecimento e inclusive as formas de ler e escrever. E que concepção de Literatura reflete a sociedade acima descrita? A respeito disso Calazans (2001, p. 6-7) escreve: [...] é nesta vida veloz [...] que as artes se adaptam-se ao novo homem urbano, na esperança de acompanhá-lo em sua corrida contra o tempo cotidiano e alcançar, tocar sua sensibilidade empedernida, petrificada,[...] surgem o Cinema de curta- metragem, o Teatro de esquetes e anedotas, e a Literatura que ocupa pouco espaço impresso e que é lida em alta velocidade.
  • 16. 15 A tal Literatura que ocupa pouco espaço impresso é uma literatura curta, rápida e sucinta, capaz de prender o leitor em poucas palavras. Essa Literatura é extremamente adequada ao leitor do século XXI: a velocidade e a condensação, a possibilidade de publicação em diversas mídias como celulares, e-mails, painéis eletrônicos, blogs, microblogs, entre outras ferramentas da internet. Drummond já previa que “escrever é cortar palavras”, Hemingway recomendava “corte todo o resto e fique no essencial” e João Cabral proclamou “enxugar até a morte” (SEABRA, 2010). Então, talvez essa Literatura não seja emergente. 2.2 AS VANGUARDAS EUROPEIAS E O MODERNISMO BRASILEIRO Antes mesmo de internet e televisão existirem, a Literatura sofreu modificações que influenciariam fortemente a literatura contemporânea, no seu estilo, forma, tamanho. No final do século XIX e início do século XX, o mundo ocidental passou por grandes mudanças. A revolução industrial, as duas guerras mundiais e suas consequências mudaram o mundo, e, obviamente, o homem, seus valores e seus anseios. Na Europa, várias tendências artísticas surgiram, tais como o Cubismo, o Futurismo, o Expressionismo, o Dadaísmo e o Surrealismo. Todos esses movimentos, chamados de correntes de vanguarda, buscavam uma ruptura com os valores artísticos tradicionais e um novo estilo para traduzir a nova realidade do século XX. Paulo Prado, em 1924, na apresentação do livro Pau-Brasil de Oswald de Andrade, registrou que: Encaixar na rigidez de um soneto todo o baralhamento da vida moderna é absurdo e ridículo. Descrever com palavras laboriosamente extraídas dos clássicos portugueses e desentranhadas dos velhos dicionários, o pluralismo cinemático de nossa época é um anacronismo chocante [...]. Outros tempos, outros poetas, outros versos. (ANDRADE, 1971, p. 68-69). Teles (2000, p. 82) acrescenta: “mais do que simples tendência, a vanguarda representa a mudança de crenças experimentais no pensamento e na arte do mundo ocidental.” O Modernismo brasileiro foi influenciado pelas vanguardas europeias, contudo os modernistas brasileiros:
  • 17. 16 Nunca se consideraram componentes de uma escola, nem afirmaram ter postulados rigorosos em comum. O que os unificava era um grande desejo de expressão livre e a tendência para transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do academismo, a emoção pessoal e a realidade do país. (CÂNDIDO, 1967, p. 9). E foi por meio dessa união que os modernistas realizaram a Semana de Arte Moderna em 1922. A Semana teve a participação de vários jovens artistas. Constou de exposição de quadros e esculturas, concertos, recitais e conferências, provocando da parte da opinião dominante uma reação violenta, que foi à vaia e ao tumulto. Os jovens capitalizaram bem este aspecto combativo, que serviu, senão para estruturá-los, certamente para os demarcar no panorama literário como representantes de uma nova estética. (Ibid., p. 12). Nesse contexto, alguns autores se destacaram. Oswald de Andrade, um jovem de família rica, destacou-se por seu espírito revolucionário, inovador, radical, polêmico e, o que mais interessa neste trabalho, por sua habilidade e técnica de síntese. 2.2.1 A concisão de Oswald de Andrade O paulistano Oswald de Andrade (1890-1954) foi o primeiro brasileiro a escrever na literatura curta, rápida, sintética. Essa característica da maioria de seus poemas permitiria que os textos oswaldianos fossem publicados no Twitter, se a rede social existisse na época. Mário da Silva Brito chama esses textos do autor de poemas-minuto, micropoemas e minipoemas (ANDRADE, 1971). Embora o foco desse texto seja a habilidade de concisão de Oswald de Andrade, não se pode deixar de mencionar outras características de seu texto, que o colocam como precursor da literatura contemporânea. Na apresentação do livro Poesias Reunidas de Oswald de Andrade, Haroldo de Campos (1971, p. 9) diz que “se quisermos caracterizar de um modo significativo a poesia de Oswald de Andrade no panorama de nosso Modernismo, diremos que esta poesia responde a uma poética de radicalidade. É uma poesia radical.” O autor faz essa afirmação, pois a linguagem literária em uso e aceita pela crítica, na época de Oswald, era a parnasiana, que “funcionava como um jargão de casta, um diploma de nobiliarquia intelectual” (Ibid., p. 10), ou seja, entre a linguagem dos livros aceitos pela crítica e a linguagem falada, existia um abismo que parecia ser intransponível.
  • 18. 17 Oswald de Andrade mudou esse cenário, mas não com pequenas modificações, ele radicalizou: utilizou-se do verso sem métrica e sem rima, da linguagem coloquial: “A contribuição milionária de todos os erros” (ANDRADE, 1971, p.77). Fez poemas nacionalistas sem qualquer traço de ufanismo, pelo contrário, sempre apresentando uma visão crítica. Tudo isso com uma gigantesca dose de humor e ironia, como se pode observar no poema abaixo (Ibid., p. 95): senhor feudal Se Pedro Segundo Vier aqui Com história Eu boto ele na cadeia As características citadas anteriormente podem ser justificadas, nesse poema, pelo título em letras minúsculas, a ausência de rima e métrica, a linguagem coloquial no último verso (o correto pela norma padrão da língua seria “Eu o boto” ou “Eu boto-o”) e o tom humorístico, tudo isso em quatro pequenos versos. Outros poetas modernistas apresentam muitas dessas características, no entanto somente Oswald apresenta uma técnica de síntese tão sofisticada. Vejamos o “mais sintético poema da língua”, e a análise de Haroldo de Campos: amor humor [...] Eis aí o mais sintético poema da língua, tensão do músculo-linguagem, elementarismo contundente, ginástica para a mente entorpecida no vago, obra-prima do óbvio e do imediato atirado à face rotunda da retórica. Por este poema se mede [...] até onde foi Oswald na sua radicalidade e como se distanciam dele, por este aspecto, mesmo as mais ousadas investidas de seu companheiro Mário de Andrade. (1971, p. 46). Nesse poema, Oswald utiliza duas palavras com alta carga semântica, que se diferem apenas por duas letras, um som. E o principal da obra fica a cargo do leitor, que tem de imaginar as possíveis relações entre esses dois dissílabos, isso significa que a obra oswaldiana, segundo Haroldo de Campos: Ao invés de embalar o leitor na cadeia de soluções previstas e de inebriá-lo nos estereótipos de uma sensibilidade de reações já codificadas, esta poesia, em tomadas e cortes rápidos, quebra a morosa expectativa desse leitor, força-o a participar do processo criativo. (Ibid. p. 46).
  • 19. 18 “Esta poesia, em tomadas e cortes rápidos” não se refere exclusivamente ao poema acima. E quando o autor menciona “tomadas e cortes rápidos”, ele se refere a uma característica da obra de Oswald, influenciada por outra arte, o cinema. Os “flashes cinematográficos” são facilmente identificados e compreendidos no poema abaixo (ANDRADE, 1971, p. 94): o capoeira - Qué apanhá sordado? . - O quê? . - Qué apanhá? . Pernas e cabeças na calçada. Além das características já citadas, o poema apresentado pode suscitar uma dúvida: essa obra é ou não um poema? Esse texto se assemelha com uma narrativa, como os microcontos que serão explicados posteriormente neste trabalho. Esse estilo é um exemplo de como Oswald “quebrou as barreiras entre poesia e prosa, para atingir a uma espécie de fonte comum da linguagem artística.” (CÂNDIDO, 1967, p. 65). Haroldo de Campos ressalta que o essencial não é chamar a obra oswaldiana de poesia ou não, e acrescenta que ela evoluiu “para uma ideia mais válida e mais atual de texto [...], ideia para a qual marcham também toda uma série de manifestações contemporâneas, da nova poesia ao novo romance.” (1971, p. 58). Em virtude de sua radicalidade, Oswald de Andrade foi muito criticado e até ridicularizado por seus contemporâneos. Em vida, não teve sua obra devidamente valorizada. Contudo, pelos mesmos motivos que o ridicularizaram, sem nenhuma ressalva, “pode-se dizer que a sua importância histórica de renovador e agitador (no mais alto sentido) foi decisiva para a formação de nossa literatura.” (CÂNDIDO, 1967, p. 65). Torna-se fácil justificar essa afirmação, tendo em vista que esse trabalho tratará de uma modalidade de escrita de cinco anos de existência (o Twitter foi criado em 2006) que demonstra um estilo muito semelhante à obra de Oswald, sendo imprescindível a citação do valor de sua luta e de sua obra. 2.2.2 Manuel Bandeira, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade Oswald de Andrade foi o primeiro e o maior destaque da literatura rápida brasileira, entretanto outros autores se utilizaram desse estilo em seus poemas. Nenhum deles
  • 20. 19 escreveu tantos textos curtos quanto Oswald, no entanto eles devem ser mencionados, ilustrando que a síntese oswaldiana não morreu junto com o autor. Manuel Bandeira (1886 – 1968) foi um poeta modernista da primeira fase, assim como Oswald de Andrade, contudo por ter vivido 82 anos, seu estilo foi se modificando, misturando todas as tendências artísticas que vivenciou. A poesia de Manuel Bandeira “vem do parnasianismo crepuscular até as experiências concretistas, do sonêto às formas mais audazes de expressão.” (CÂNDIDO, 1967, p. 34). A obra bandeiriana se destaca pelo lirismo com que trata os temas vida, morte, amor, erotismo, solidão, infância, saudade. Além disso, Bandeira foi um mestre no uso do verso livre, sem métrica. “A êle se deve a prática regular do verso livre, com superação do verso polimétrico e do verso libertado, praticados pelos seus antecessores e coevos.” (CÂNDIDO, loc. cit.) Para ilustrar as afirmações citadas, vejamos um poema no qual o tamanho do verso se relaciona com o conteúdo da obra (BANDEIRA, 1993, p. 150): Poema do Beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco.2 Pode-se observar que o lirismo do primeiro verso, mencionando “paisagem”, “Glória”, é representado por um verso longo que se assemelha à “linha do horizonte”. Em seguida, o segundo verso nos remete a uma paisagem fechada, pelo relato do eu-lírico que afirma ver apenas “o beco” e pelo tamanho do verso: curto, rápido, sem adjetivos ou advérbios. Bandeira harmoniza perfeitamente forma e conteúdo. Em relação ao conteúdo desses versos, pode-se pensar em dois significados: o primeiro seria o significado literal, pois o poeta morou no Beco das Carmelitas, no Rio de Janeiro, na década de 1950. O segundo seria metafórico, pois desde os 18 anos, manifestara- se no autor a tuberculose. Como na época não existia cura, o tratamento primordial era o isolamento. Soma-se a isso o fato de que Bandeira perdeu os pais na infância, ou seja, a solidão pode ser “o beco”, e todas as coisas boas citadas no primeiro verso são o mundo que ele não pôde aproveitar na sua juventude. Deve ressaltar-se que os dois significados não se excluem, pelo contrário, eles se unem na significação desse belo poema bandeiriano, de apenas dois versos. 2 Apesar de não ser recomendado pelas normas da ABNT, optamos por utilizar recuo de página quando reproduzimos os textos literários, ainda que não ultrapassem três linhas.
  • 21. 20 Outro poeta da primeira metade do século passado que se destaca é o gaúcho Mário Quintana (1906 - 1944). O autor não participou do movimento modernista brasileiro, no entanto algumas de suas obras apresentam influências dos artistas da Semana de Arte Moderna. Quintana escreveu a maioria de seus poemas num estilo tradicional, em forma (publicou muitos sonetos), métrica e rima. Bosi (2001, p. 463) afirma que ele “encontrou fórmulas felizes de humor sem sair do clima neo-simbolista que condicionara sua formação.” Mesmo tendo esse estilo tradicional, Quintana escreveu alguns poemas, sem rima ou métrica, revelando uma semelhança com a obra de Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, como no poema a seguir (QUINTANA, 1997, p. 441): VERÃO Quando os sapatos ringem - quem diria? São os teus pés que estão cantando! Outro poema que pode enriquecer esse trabalho é (Ibid., p. 121): QUEM DISSE QUE EU ME MUDEI? Não importa que a tenham demolido: A gente continua morando na velha casa [em que nasceu. Nos dois poemas, Quintana mistura lirismo e humor, isto é, ele escreveu, em seu próprio estilo, poemas rápidos, curtos, semelhantes aos que são publicados hoje no Twitter. O terceiro e último poeta a ser discutido neste subtítulo é Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987). O autor mineiro não foi um adepto da literatura curta. Drummond fez poemas de todos os tamanhos, usava quantas palavras fosse necessário. Todavia ele escreveu alguns poemas curtos e, entre eles, destaca-se nesse trabalho a obra a seguir (ANDRADE, Drummond, 1985, p. 28): COTA ZERO Stop. a vida parou ou foi o automóvel?
  • 22. 21 Esse poema se assemelha muito à obra oswaldiana em sua síntese e ironia. O primeiro verso, em inglês, registra a influência estadunidense em ascensão, principalmente no que diz respeito aos produtos industrializados. Pode fazer-se tal afirmação, tendo em vista que o texto menciona o “automóvel”, produto que o Brasil sempre importou. Em três versos, Drummond faz uma reflexão sobre a dependência do homem moderno às tecnologias, afinal o eu-lírico fica em dúvida se foi a vida que parou, ou foi apenas o automóvel. É impressionante a contemporaneidade dessa obra se pensarmos, por exemplo, em nossa reação quando o celular, o computador, ou mesmo o carro não funciona. Fica-se a sensação de impotência, como se a vida acabasse (ou parasse como traz o poema) quando esses artefatos não funcionam. E para essa crítica, observação e/ou aviso, o autor mineiro se utiliza da ironia, do humor, “traço constante na poesia de Drummond.” (BOSI, 2001, p. 441). Com esse breve poema de Drummond, encerra-se a relação de autores modernistas que poderiam ter obras publicadas no Twitter, se a rede social existisse no século XX. Não houve a preocupação de se fazer uma lista impecável de autores que publicaram algum texto em até 140 caracteres. Discorreu-se apenas sobre alguns dos autores e obras mais relevantes da nossa literatura modernista. 2.3 PÓS-MODERNISMO Atualmente, vive-se no período chamado de Pós-Modernismo, porém não existiu nenhum movimento, obra ou acontecimento que marque essa transição do Modernismo para outra escola literária. Proença Filho afirma que teóricos discordam quanto à data dessa transição, para uns “desde o fim da Segunda Guerra Mundial, teríamos ingressado na pós- modernidade. Para outros, entretanto, a grande mudança ainda está para acontecer: o Ocidente não deixou de ser moderno.” (1995, p. 8). Não se pretende nesse trabalho discutir o fim ou começo de escolas literárias, o próprio Proença Filho (Ibid. p. 8) acrescenta que “vive-se, no mínimo, uma fase de transição, onde o fato pós-modernista, em termos estéticos, é uma realidade.” E são esses termos estéticos que queremos discutir. Contudo, antes pensaremos sobre o que mudou no homem para que mudasse sua arte. A principal mudança no pensamento do homem ocidental na pós-modernidade é a não predominância de uma corrente, seja ela filosófica, científica, artística.
  • 23. 22 “Podemos considerar o espírito pós-moderno como sendo um conjunto de atitudes abertas e indeterminadas que foi moldado por uma grande diversidade de correntes intelectuais e culturais.” (TARNAS, 2008, p. 422). O homem pós-moderno não sabe o que pensar, não sabe em que acreditar. As verdades não são mais verdades. Todo o conhecimento científico, histórico, religioso é posto a prova e não pode ser tido como absoluto. “Implicitamente, o único absoluto pós-moderno é a consciência crítica que, desconstruindo tudo, parece forçado por sua própria lógica a desconstruir também a si mesmo.” (Ibid., p. 429). Com essa visão crítica, nenhuma corrente ou pensamento se torna absoluto. No entanto, repensa-se e considera-se todas as ideias e visões do passado, também de maneira crítica. Sendo assim: Não apenas o próprio pensamento pós-moderno é um turbilhão de diversidades não resolvidas, mas virtualmente todos os elementos importantes do passado intelectual do Ocidente agora estão presentes sob uma ou outra forma, contribuindo para a vitalidade e confusão do Zeitgeist 3 contemporâneo. (TARNAS, 2008, p. 429). Além da diversidade de pensamentos em torno do homem pós-moderno, na segunda metade do século XX e início do século XXI, a sociedade ficou marcada pela desigualdade social e econômica: por um lado pessoas desfrutando da industrialização e consumo exagerado; por outro, pessoas sem ter o que comer e sem acesso à escola e outros serviços. “Nesse contexto múltiplo, em que computadores sofisticados convivem com alta dose de miséria e analfabetismo, o Pós-Modernismo como expressão literária e artística, só pode ser visto de modo também múltiplo.” (COUTINHO, 2004, p. 243). É essa multiplicidade de visões e valores que refletiu e refletem na Literatura. Esta, no Pós-Modernismo, não se concentrou num estilo ou num objetivo. Na verdade, na literatura, surgem vários Pós-Modernismos que integram a mesma escola literária basicamente por ocorrerem no mesmo período. A liberdade na criação predominou e há somente algumas características em comum entre os textos literários pós-modernos. O ludismo, como uma dessas características, intensifica-se na literatura pós- moderna. O autor “brinca” com as palavras, com suas formas e sons. Uma das ferramentas utilizadas pelos autores é a paródia, que se torna uma característica marcante com base nas teorias do diálogo entre os textos, do russo Bakhtin. Oswald de Andrade também foi pioneiro nesse âmbito: num capítulo do seu livro Pau-Brasil, todos os textos estabeleciam diálogos 3 Zeitgeist – Termo alemão que significa espírito de época.
  • 24. 23 com textos históricos brasileiros. “Na literatura contemporânea isso se dá sobretudo com o aproveitamento intencional de obras do passado. Insere-se nesse procedimento a mistura de estilos presente também na arte literária dos últimos decênios.” (PROENÇA FILHO, 1995, p. 39). Dentro de toda a diversidade descrita nos parágrafos anteriores, destacar-se-á nesse trabalho uma modalidade originada no Japão, o haicai, principalmente nas obras do autor Paulo Leminski. Depois também se tratará do microconto, uma forma curta de narrativa surgida na literatura pós-moderna. As duas modalidades serão apresentadas nesse trabalho por fazerem parte da literatura rápida e curta, que poderia ser publicada no Twitter. Na verdade, atualmente haicais e microcontos são publicados na rede social, mas não são frutos dela, como veremos nos capítulos seguintes. 2.3.1 Paulo Leminski e o haicai Paulo Leminski (1944 – 1989) foi um poeta pós-modernista. O autor curitibano destacou-se por sua poesia irreverente, no entanto, não é graças a essa característica que o bandido que sabia latim4 foi incluído nesse trabalho. A concisão é uma forte característica dos poemas leminskianos. Além disso, ele foi pioneiro no Brasil na arte do haicai, juntamente com Guilherme de Almeida. Angélica Soares nos explica a forma tradicional do haicai (1993, p.33): “poema japonês caracterizado pela brevidade, composto de três versos, somando dezessete sílabas, o primeiro e o terceiro com cinco e o segundo com sete”. Em seu conteúdo, o haicai apresenta um tema do presente, geralmente relacionado a algo da natureza, e teria de mencionar uma estação do ano (MAURER; ALVES, 2009). No Brasil, principalmente o haicai leminskiano, essas características se alteraram muito, tendo em vista o grande número de influências da pós-modernidade, como visto anteriormente. Mesmo com várias modificações, o haicai não deixou de ser um poema curto, quase sempre conservando os três versos. No Twitter, o haicai é uma das formas de manifestação literária, considerando que esse estilo se encaixa perfeitamente como publicação no microblog. 4 Título da biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz, Editora Record, 2001.
  • 25. 24 Observemos um dos mais famosos haicais de Leminski, publicado no livro La vie en close: Figura 1- Poema vazio agudo. Fonte: Leminski (2000, p. 123). Esse poema não tem título, assim como a maioria dos haicais. O ludismo desse poema se dá na antítese “vazio/cheio” e ainda “meio”, três “estados de espírito” diferentes, sendo que cada um ocupa um verso, começando “vazio” e terminando “cheio”. O poema tem duas rimas: uma no final do primeiro e do terceiro versos (agudo/tudo); outra no final do segundo verso com a primeira palavra do último verso (meio/cheio). A volta da rima – lembrando que ela foi praticamente extinta no Modernismo – ilustra o que foi dito anteriormente: no Pós-Modernismo as produções literárias anteriores não são desconsideradas, qualquer técnica está à disposição do escritor. O “vazio agudo” do primeiro verso do poema é reforçado pelo espaço entrelinhas entre um verso e outro (GERALDES JÚNIOR, 2007). No segundo verso, ele dá um passo adiante “ando meio”, ou seja, o poeta chega ao meio que, semanticamente, tem duas potencialidades: a primeira faz uma clara referência à posição da palavra no corpo do poema, exatamente no verso do meio – aparecendo após três palavras [vazio / agudo / ando] e deixa outras três palavras apenas até o final do poema [cheio / de / tudo]. A outra potencialidade desta palavra
  • 26. 25 no poema é no que diz respeito ao “estado de espírito” do Eu-lírico, do sujeito do poema. “Estado de espírito” este que vem culminar no último verso do poema, Cheio de tudo. (Ibid., p. 93). É magnífico como o autor diz tanta coisa com apenas sete palavras. Leminski não escreveu apenas haicais, também escreveu poemas concretos e em outros estilos. Em todos eles, a concisão é característica presente. Com esse autor, encerra-se a parte referente à poesia curta no Brasil antes da Twitteratura, o próximo subtítulo diz respeito às narrativas curtas. 2.3.2 A narrativa curta: miniconto, microconto e nanoconto Até este subtítulo, relacionamos os pioneirismos na literatura curta no Brasil. Em todos os casos, tratava-se de poemas. No caso de Oswald de Andrade, alguns poemas apresentavam elementos narrativos, como o diálogo em “o capoeira”, no entanto o próprio autor os considerava poemas. Abordaremos agora as narrativas curtas, mais especificamente o conto. Este sempre foi considerado uma narrativa curta, como se pode observar nesta afirmação de Machado de Assis: “O tamanho não é o que faz mal a êste gênero de histórias, é naturalmente a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos.” (ASSIS, 1955, p. 5). Observamos que o conto é considerado curto por Assis, comparado ao romance, logo até os mais longos contos do próprio escritor, como O Alienista de 36 páginas, são entendidos como curtos. E quando essa narrativa curta diminui, ficando mais sintética? Surgem então alguns termos como miniconto, microconto e nanoconto. É difícil definir esses termos, assim como é difícil definir o conto. Edgar Allan Poe nos oferece uma explicação de como se deve ler o conto: em apenas uma assentada, pois se alguma obra literária é longa demais para ser lida de uma assentada, devemos resignar-nos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade de impressão, pois, se requerem duas assentadas, os negócios do mundo interferem e tudo o que se pareça com totalidade é imediatamente destruído. (POE 1997 apud SPALDING, 2008, p. 21). Tendo essa ideia de Poe em mente, é fácil entender por que os minicontos, microcontos e nanocontos surgiram: o homem contemporâneo tem menos tempo, inclusive
  • 27. 26 para uma assentada, logo ele necessita de contos menores, para que “os negócios do mundo” não interfiram na sua leitura. De acordo com Spalding (2008), não se pode afirmar quais foram os primeiros autores e textos de minicontos no Brasil, pois faltam estudos e antologias no nosso país sobre o assunto. Contudo o autor destaca Dalton Trevisan como pioneiro em minicontos, mas o autor considera miniconto contos de uma página e meia, que não são relevantes para nosso estudo. Porém, o 166º texto do livro Ah, é? de Trevisan, contém apenas 21 palavras e se encaixa no limite de 140 caracteres do Twitter: O velho em agonia, no último gemido para a filha: - Lá no caixão... - Sim, paizinho. -... não deixe essa aí me beijar. (TREVISAN 1994 apud SPALDING, 2008, p. 39). Segundo Spalding, a partir de Ah, é?, várias antologias de minicontos foram publicadas, inclusive do próprio Trevisan, todavia o autor considera miniconto contos de uma página ou duas. Porém em 2004 é publicada uma antologia com cem textos, de cem autores diferentes e com número máximo de letras pré-determinado, estamos falando de Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século5, antologia organizada por Marcelino Freire. “A obra traz cem histórias inéditas com até cinqüenta letras, sem contar o título e a pontuação”. (SPALDING, 2008, p. 49). Todos os textos da antologia são independentes, não estabelecem relação com os demais, e contém sentido completo. Vejamos o texto da autora Cíntia Moscovich: Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás. (FREIRE, 2004, p. 16). Spalding faz uma análise dos elementos narrativos desse texto (2008, p.62): Não temos na narrativa a primeira ação de forma explícita, mas implícita nas entrelinhas: a personagem, se tem uma vida inteira pela frente, nasceu. E a segunda ação, essa sim, está expressa através de um motivo, o tiro: a personagem morreu. O ludismo desse texto, assim como no haicai de Leminski, acontece por meio da antítese, explicitamente em “frente / trás” e implicitamente em “vida / morte”. Nesse conto, o ludismo é essencial para o entendimento do texto e seu efeito no leitor. Se trocássemos a 5 O título é uma paródia do livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. Antologia organizada por Ítalo Moriconi, editora Objetiva, 2001.
  • 28. 27 primeira frase para algo como “teria sido um ótimo escritor”, não haveria uma ligação entre as frases, e a sequência dos fatos ficaria comprometida (SPALDING, 2008). As informações que não constam no conto, como espaço e tempo, serão preenchidas pelo leitor, e certamente ele preencherá a partir de suas experiências: se for um leitor urbano, o tiro remeterá para a violência crescente de nossas grandes cidades; se for um leitor jovem, a vida inteira pela frente representa toda a expectativa de um grande futuro. [...] A narração, de toda forma, é a de uma morte, uma morte prematura de alguém com a vida inteira pela frente; o efeito, porém, pode variar de acordo com o leitor porque caberá a ele criar o clima necessário. (SPALDING, 2008, p. 63) Spalding ressaltou, nesse trecho, o que muitos teóricos abordam: a importância do leitor na construção do texto. Já foi mencionado nessa pesquisa que Haroldo de Campos diz que a obra de Oswald de Andrade força o leitor a participar do processo criativo (1971). Nesse âmbito de discussões sobre a participação do leitor, a teoria de Ernest Hemingway se destaca, por sua comparação com o iceberg: O leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente, terá uma sensação mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A dignidade do movimento do iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu volume estar acima da água. (HEMINGWAY, 1996 apud SPALDING, 2008, p. 19). Hemingway, na sua teoria do iceberg, fala da importância do não dito, da participação do leitor que vê todo o “iceberg” a partir de um oitavo dele. Essa teoria se refere aos contos, não necessariamente minicontos, microcontos ou nanocontos. Spalding completa a teoria do autor norteamericano (2008, p.62): “ocorre que o miniconto [...] intensifica a importância do não dito na narrativa, diminui o volume do iceberg acima da superfície de um oitavo para, digamos, vinte avos, sem impedir, se o texto estiver bem realizado, que ele suscite certo efeito”. Neste trecho: “se o texto estiver bem realizado”, Spalding se refere a alguns textos da antologia Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século que, de acordo com sua pesquisa, não constituem uma narrativa, por não terem uma sequência de fatos e elementos narrativos suficientes para que o texto cause efeito no leitor. O que não encontramos no estudo de Spalding e de nenhum outro teórico é a diferença entre miniconto, microconto e nanoconto. Para o nosso trabalho, trataremos o miniconto como um conto de até uma página, pois é o termo que foi dado aos textos de Trevisan, por exemplo. Consideraremos que microconto e nanoconto são sinônimos e que
  • 29. 28 tratam de textos menores que os minicontos. Talvez haja diferença entre os dois termos, mas no Twitter, ambos são utilizados para os contos que variam de duas palavras até o limite máximo da rede social: 140 caracteres. Entretanto, também levaremos em consideração um dizer de Mário de Andrade sobre o conto: “Em verdade, sempre será conto aquilo que seu autor batizou com o nome de conto”. (2002, p.9). Apliquemos a fala do poeta modernista aos textos contemporâneos: sempre será miniconto, microconto ou nanoconto aquilo que seu autor batizou com o nome de miniconto, microconto ou nanoconto, respectivamente. Deste modo, encerra-se o primeiro capítulo deste trabalho. O próximo capítulo abordará o Twitter, quando ele surgiu e como ele funciona. Como se pode observar, abordamos nos dois primeiros capítulos Literatura e Twitter separadamente. No terceiro capítulo discutiremos, finalmente, a Twitteratura.
  • 30. 29 3 TWITTER 3.1 O PRIMEIRO TWEET Antes de abordar o surgimento do Twitter, é necessário destacar um breve contexto da época em que isso ocorreu. Já foi mencionado que o advento da internet transformou a sociedade, dita pós-moderna, modificando seu conceito social, racional e cultural. Além disso, esse último conceito associado à crescente utilização das tecnologias digitais passou a ser denominado cibercultura. Atualmente, qualquer indivíduo pode produzir e publicar seu conteúdo na internet. Entretanto, a rede nem sempre foi aberta dessa forma. Quando surgiu, na década de 1990, a World Wide Web (rede de alcance mundial) era editada por um pequeno número de pessoas e seu conteúdo era raramente renovado (ZAGO, 2010). Esse quadro começou a mudar nos últimos dez anos, ao invés de serem apenas receptores dos conteúdos da rede, os internautas passaram a produzi-los. Tal cultura de colaboração da internet foi chamada de web 2.0: Em 2004, para caracterizar o novo paradigma de interatividade que os dispositivos técnicos haviam disponibilizado na internet, foi cunhado o termo web 2.0 em uma conferência da O’ Reilly Media. Em linhas gerais, trata-se de uma segunda geração de ferramentas que aprofunda a noção de web como plataforma de interação, uma tendência que reforça a sociabilidade a partir da troca de informações e colaboração dos internautas. (O’ Reilly, 2005 apud SPECK, 2009, p. 14). É nesse âmbito que surgem os microblogs, sendo o mais popular entre eles o Twitter6. Os microblogs podem ser entendidos como “multiplataformas de atualizações curtas, que combinam características de blog e rede social.” (RODRIGUES, 2009, p. 149). Como microblog, o Twitter parte da ideia de um blog - sistema de postagens, atualizações e possibilidade de comentários - mas difere desse pela postagem reduzida, essa característica facilita a interação com outras ferramentas digitais (ZAGO, 2010). Assim, o Twitter permite a postagem de tweets, mensagens instantâneas de até 140 caracteres (considera-se caractere qualquer letra, símbolo, espaço, número ou ponto), pela web ou por dispositivos móveis, como celulares. O Twitter também é percebido como site de rede social, pois seu usuário cria um perfil público e interage com sua rede de contatos (RECUERO, 6 www.twitter.com
  • 31. 30 2009). É importante ressaltar que a rede só existe em função dos usuários que estabelecem conexões de troca, no caso os twitteiros7. Lançado em 2006 pela empresa estadunidense Obvious, o projeto inicialmente chamado de Twttr - sem letras vogais - foi criado por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Willians. Em 21 de março de 2006, Jack Dorsey8 enviou o primeiro tweet (PENNER, 2011). “Convidando os colegas de trabalho”, dizia em português a mensagem: Figura 2 – O primeiro Tweet. Fonte:<http://twitter.com/#!/jack/status/29> . Acesso em: 27 abr. 2011. O nome do serviço está relacionado ao termo tweet que em português significa “pio” (MICHAELIS, 2009, p. 339). Convém lembrar que o serviço limita as postagens em 140 caracteres, como a velocidade de um pio, e que o símbolo do Twitter é um passarinho azul, observado no canto superior esquerdo da Figura 2. 7 Também chamado de tuiteiros. 8 www.twitter.com/jack
  • 32. 31 3.2 O TWITER NO BRASIL Os desenvolvedores do Twitter não anunciavam números e não faziam comentários a respeito até o ano de 2010, mas uma pesquisa externa feita pela Com Score as revelou que o Twitter passou de 5 milhões de usuários no mundo em 2008, para 44,5 milhões em 2009 (SCHONFELD, 2009) Contudo, em setembro de 2010, o presidente SCHONFELD, 2009). presidente-executivo do Twitter, Evan Williams, anunciou no blog oficial do Twitter que o microblog havia ultrapassado 145 milhões de usuários usuários. O Twitter conquista cada vez mais usuários em todo mundo, no Brasil a situação não é diferente. “O Ibope registrou que 326 mil brasileiros se conectaram ao ser serviço em abril de 2009, um crescimento de 28% em relação a março e de 456% em relação ao mesmo período do ano anterior.” (SPYER et al, 2009, p. 88). SPYER Nos primeiros anos, o Twitter só estava disponível nos idiomas Inglês e Japonês, todavia em função do seu alcance mundial o serviço passou a disponibilizar out mundial, outros idiomas. Em junho de 2011 lançou a versão em Língua Portuguesa, terceira língua mais falada no serviço. De acordo com uma pesquisa divulgada pela consultoria francesa Semiocast (2010) o Inglês é a língua mais popular no Twitter (40%), seguido do Japonês (18%) e do Português nglês ), (11%). Outro estudo da Semiocast com base em 2,9 milhões de tweets gerados em 22 de Semiocast, junho de 2010, mostra o Brasil como quarta maior fonte de mensagens no Twitter: Gráfico 1 - A divisão de tweets por país em junho de 2010. Fonte: SEMIOCAST. Disponível em: <http://semiocast.com/pr/20100701/Asia_first_Twitter_region>. Acesso: 26 abr. 2011
  • 33. 32 Observando os dados citados sobre a abrangência do Twitter não só no Brasil, mas no mundo todo, pode-se perceber o grande salto de popularidade que essa ferramenta deu nos últimos anos. E isso de certa forma desmistifica o boato do Twitter ser apenas um modismo passageiro. Confirmada a relevância do Twitter, posteriormente serão abordados alguns termos técnicos referentes a essa ferramenta, bem como suas formas de utilização. 3.3 BREVE DESCRIÇÃO DO TWITTER Ao criar uma conta no Twitter, pode-se adicionar uma foto, um endereço eletrônico e uma breve biografia que juntamente ao nome de usuário e ao nome completo formam o perfil, como a imagem abaixo: Figura 3 – Perfil de um dos autores deste trabalho. Fonte: < http://twitter.com/#!/Daniele_SF/> . Acesso em: 23 jun. 2011. A esse respeito, Recuero explica que devido à ausência de informações da comunicação face a face no ciberespaço, é necessário que o usuário possua um perfil: “É preciso colocar rostos, informações que gerem individualidade e empatia, na informação anônima do ciberespaço. Este requisito é fundamental para que a comunicação possa ser estruturada.” (2009, p.27). Entretanto, há quem prefira não ver suas postagens publicadas livremente na web, portanto, alguns usuários bloqueiam seus perfis, restringindo seus tweets apenas aos seguidores autorizados. No Twitter, os usuários são convidados a responderem a pergunta “O que está acontecendo?”, em até 140 caracteres. As postagens são publicadas em tempo real formando uma lista de tweets denominada histórico.
  • 34. 33 A lógica do Twitter é baseada no ato de seguir outros perfis. Para ler o que cada usuário tweetar9, é necessário segui-los. Assim, quando um usuário está seguindo outro, ele recebe em seu histórico os tweets do usuário seguido. Da mesma forma o usuário pode ter pessoas que o seguem, os chamados seguidores. Vale ressaltar que a qualquer momento um usuário pode deixar de seguir outro. Diferente de muitos sites de rede social, no Twitter não é preciso que o usuário aceite um seguidor (exceto alguns usuários que optam por bloquear seus perfis, como explicado anteriormente), por isso, as conexões estabelecidas no serviço não são necessariamente recíprocas. Um usuário pode seguir outro sem que este o siga. Para exemplificar melhor o funcionamento do Twitter, observemos a seguir um recorte da página inicial de um dos autores desse trabalho: Figura 4 – Página inicial do Twitter de um dos autores deste trabalho. Fonte: < http://twitter.com/#!/> . Acesso em: 23 jun. 2011. 9 Também chamado de tuitar.
  • 35. 34 É possível ver na figura 4 o espaço destinado à escrita dos tweets, após a pergunta “O que está acontecendo?”. O histórico, logo abaixo, é a parte onde aparecem os tweets dos perfis seguidos e do próprio usuário. Observa-se no canto direito dessa Figura, a quantidade de mensagens publicadas pelo titular da conta até o momento (1.019 tweets), abaixo, o trecho do último tweet postado, a quantidade de perfis que o usuário está seguindo (430) e o número de seguidores (316). Em seguida, percebem-se mais duas ferramentas do Twitter: “Quem seguir”, que são sugestões do próprio serviço de usuários a serem seguidos e “Assuntos do Momento”, que funciona como uma lista dos assuntos mais tweetados naquele momento. O usuário pode selecionar os Assuntos do Momento do mundo, de um país, ou de algumas cidades (na Figura 4, está selecionado Brasil). Assim, percebe-se através dessa Figura que o assunto mais comentado no Twitter, no Brasil, naquele instante, era a conquista de um título do Santos Futebol Clube: #santoscampeao (#ClaussenPickles é um tema promovido pelo próprio Twitter, com fins lucrativos, não sendo necessariamente o mais comentado naquele momento). Além disso, há duas formas de comunicação entre os usuários do Twitter: mensagens diretas, respostas ou menções. As mensagens diretas (MD) são mensagens privadas apenas aos usuários envolvidos. Para enviá-las, é necessário que o destinatário siga o remetente. Entretanto, respostas ou menções são mensagens públicas, caracterizadas pelo uso da @ (arroba) seguida pelo nome de um usuário na postagem, como no segundo tweet da Figura a seguir: Figura 5 – Uso de algumas ferramentas. Fonte: < http://twitter.com/>. Acesso em: 29 abr. 2011. Na Figura 5 também percebemos um Retweet, outra ferramenta comum que segundo a Central de ajuda do Twitter “É um Tweet enviado por um terceiro e encaminhado
  • 36. 35 para você, por um usuário que você segue” (2011b). Assim, ao retweetar10, o usuário compartilha com os seus seguidores o tweet postado por outro usuário. Nessa Figura, pode-se observar um símbolo verde no canto esquerdo do tweet que foi retweetado (o de renanrop por Daniele_SF). Outra ferramenta do Twitter é a hashtag ou marcador, isto é, a união do símbolo # (sustenido) a uma expressão qualquer, como em “#Rumos”, no terceiro tweet da Figura 5. Sabe-se que “o símbolo # é usado para marcar palavras-chave ou um tópico em um Tweet. O marcador ou hashtag foi criado pelos usuários do Twitter” (TWITTER, 2011). Além dos usuários saberem de maneira mais fácil do que se trata o tweet, a utilização do marcador também faz com que o termo em questão transforme-se em um link, tornando-se uma forma de busca. Assim, se um usuário clicar em “#Rumos”, aparecerão todos os tweets escritos com esse mesmo termo. Nesse subtítulo, nem todos os termos e ferramentas relacionadas ao Twitter foram descritos. Preocupamo-nos em mencionar apenas as mais relevantes para esse estudo. 3.3.1 Twitter: uma praça pública Inicialmente a pergunta que motivava os twitteiros a escreverem em 140 caracteres era “O que você está fazendo?”. Mas, em novembro de 2009, a pergunta inicial passou a ser “O que está acontecendo?”. A respeito dessa mudança, Biz Stone11, co-fundador do microblog, escreveu no blog oficial do Twitter que: Pessoas, organizações e empresas começaram rapidamente a alavancar a natureza aberta da rede para compartilhar qualquer coisa que eles queriam, ignorando completamente a pergunta original [...]. O modelo fundamentalmente aberto do Twitter criou um novo tipo de rede de informação que há muito tempo já ultrapassou o conceito de atualizações de status pessoal. O Twitter ajuda você a compartilhar e descobrir o que está acontecendo agora entre todas as coisas, pessoas e eventos que lhe interessam. “O que você está fazendo?” não é mais a pergunta certa, a partir de hoje o Twitter pergunta: “O que está acontecendo?”. Nós não esperamos que isso mude como alguém usa o Twitter [...]. (STONE, 2009, tradução nossa). Esse fato confirma a ideia de Recuero (2009) de que as redes sociais não são estáticas, elas são dinâmicas e sofrem constantes transformações pelos desenvolvedores da 10 Também chamado de retuitar. 11 www.twitter.com/biz
  • 37. 36 rede e, até mesmo, pelas adaptações dos usuários. Observa-se que a pergunta do Twitter não estava mais adequada às necessidades dos usuários do microblog, por isso houve a mudança. Além dos próprios desenvolvedores confirmarem, estudos de Mischaud (apud ZAGO, 2010) constataram que a maior parte dos twitteiros não responde à pergunta proposta pelo Twitter, eles utilizam o serviço para fins diversificados e à medida que a base de usuários aumenta, surgem novos usos. A seguir, observa-se na página inicial do Twitter seu slogan: “siga o que mais lhe interessa”: Figura 6 – Página inicial, slogan do Twitter. Fonte: < http://twitter.com/>>. Acesso em: 24 jun. 2011. Assim, o Twitter além de ser utilizado como ferramenta de comunicação entre os “amigos”, também vem sendo amplamente usado na difusão de informações de “interesses” diversos, como políticos, publicitários, jornalísticos. Silva completa essa ideia ao mencionar que (2009, p. 80): O Twitter se apresenta também como espaço para as celebridades afirmarem sua fama; para as empresas manterem contato com seus clientes e fornecedores; para os políticos conversarem com seus eleitores; para os órgãos públicos publicarem informações aos cidadãos e para as pessoas comuns se manterem em contato com todo esse universo de informação.
  • 38. 37 Portanto, a utilização do Twitter não se restringe a registros pessoais ou a interação entre amigos, vai além disso. O serviço possibilita a publicação de textos livres (não direcionados a alguém), e a publicação de tweets direcionados a um público específico. As redes sociais tradicionais têm propósitos bem definidos estabelecidos pelo serviço, como o Orkut para relacionamentos. O Twitter, porém, não. Como já citado por Stone anteriormente, o modelo do Twitter é “fundamentalmente aberto”, isto é, a falta de limitações de como utilizá-lo acaba “abrindo um leque” de novas possibilidades. Dessa forma, acredita-se que o sucesso do Twitter decorre da liberdade que os usuários têm para descobrir novas utilidades para o serviço que não foram previstas originalmente (SPYER et al, 2009). A maior parte das ideias expostas até o momento é englobada por esta metáfora: “O Twitter lembra uma praça onde ambulantes, artistas, pastores e transeuntes se encontram e se misturam.” (Ibid., p.80). E nessa praça pública, queremos dar destaque aos artistas, especificamente aos escritores. Dentre as várias utilizações do Twitter, a mais relevante para o nosso estudo é a possibilidade de publicação literária por meio desse serviço. A seguir uma criativa definição do Twitter: Figura 7 – Definição do Twitter de Marcelo Tas. Fonte: <http://twitter.com/#!/VideosdoTas/statuses/25454018546 /> . Acesso em: 24 jun. 2011.
  • 39. 38 O "Jornalista, comunicador e extra-terrestre" Marcelo Tas12 tweetou essa inusitada definição do Twitter (o tweet da Figura 7 foi publicado por fãs do autor13) que nos faz refletir sobre os artistas, podemos supor os escritores, que “cutucam as mentes e corações” dos leitores twitteiros. Tendo em mente os aspectos de Literatura e Twitter abordados até o momento, entraremos no mundo da Twitteratura, no qual - aproveitando a fala de Marcelo Tas - “Em 140 toques ou menos, a imaginação é o limite”. 12 www.twitter.com/MarceloTas 13 www.twitter.com/VideosdoTas
  • 40. 39 4 TWITTERATURA 4.1 CONCEITUAÇÃO Até o momento abordamos alguns aspectos da Literatura e do Twitter isoladamente. Neste capítulo, far-se-á uma aproximação de ambos para conceituar o que chamamos de Twitteratura14. Esse termo foi usado pela primeira vez pelos estudantes Alexander Aciman e Emmett Rensin, que publicaram no Twitter adaptações de obras clássicas da literatura mundial em 140 caracteres. Posteriormente, os tweets dos norteamericanos foram reunidos no livro Twitterature: The World's Greatest Books Retold Through Twitter, em português “Twitteratura: os melhores livros do mundo recontados pelo Twitter”, lançado em 2009. Os autores fazem paródias de grandes clássicos, como Jane Austen, Shakespeare, Homero, Ernest Hemingway, em tweets inusitados. Como este de Hamlet: “Por que, Cláudio, está me dizendo o que fazer, de novo? Você não é meu verdadeiro pai! Na verdade você matou meu verdadeiro pai...” (ACIMAN; RENSIN, tradução nossa). A seguir a capa estadunidense do livro: Figura 8 – Capa do livro Twitterature Fonte: < http://www.twitterature.us/us/index.htm/> . Acesso em: 14 maio 2011. 14 Também chamada de Tuiteratura.
  • 41. 40 Observando a Figura 8, percebe-se que para Aciman e Rensin Twitteratura seria a “aglutinação de ‘twitter’ e ‘literatura’, releituras bem humoradas de clássicos da literatura para o pensamento do século XXI, em porções digestíveis de 20 tweets ou menos.” (tradução nossa). Ainda que conceituemos a Twitteratura como a união dos termos Twitter e Literatura conforme Aciman e Rensin, o conceito de Twitteratura proposto nesse trabalho é distinto, por ser mais abrangente. Consideramos Twitteratura todos os textos literários publicados no Twitter. Ou seja, não apenas adaptações ou recriações de obras clássicas, mas toda e qualquer arte literária que ocorra na twittosfera15. Como ressaltamos no capítulo anterior, o Twitter registrou um grande aumento de usuários no Brasil nos últimos anos, expandindo as potencialidades da ferramenta. Segundo Cordeiro e Campos (2010, p. 9-10), o Twitter é: um verdadeiro fenômeno digital, que virou mania, compulsão mesmo, de muitos internautas, que, além de divulgação de links e frases, iniciaram, no resumido espaço de 140 dígitos (ou toques) a divulgação de frases e versos que revelavam visível valor literário [...] Constitui um verdadeiro desafio, pois é necessário amalgamar concisão, originalidade e beleza, a exemplo de consagradas formas literárias como a milenar Haikai. Mesmo sendo uma ótima ferramenta para publicação dessas obras concisas, o Twitter não é um bom suporte para registro de textos. Não é possível, por exemplo, organizá- los por categorias: a ordem é sempre do mais recente ao mais antigo. E pior, é difícil encontrar tweets antigos, durante a busca só são exibidas as mensagens das últimas semanas ou meses, e o microblog apaga as mensagens muito antigas. Além disso, qualquer usuário pode deletar seus próprios tweets. Sendo assim, a Twitteratura não se constitui de um acervo de textos, ela é um fluxo de obras literárias para serem lidas no momento da publicação. É possível lê-las depois, porém a falta de possibilidade de organização e de uma busca simples e eficiente desestimula essa prática. Por isso, algumas antologias de tweets são formuladas no bom e velho formato de livro, para que nada seja perdido. Alguns autores também usam os blogs para registrarem seus textos. Deste modo, nos próximos subtítulos, nós trataremos dos autores, leitores, obras e gêneros presentes na Twitteratura. No entanto, deve-se levar em consideração que esse 15 Também chamada de tuitosfera.
  • 42. 41 trabalho não almeja abordar toda a Twitteratura brasileira. Essa tarefa, aliás, seria impossível, pois lidamos com uma rede social que está em constante transformação: a cada momento há um novo tweet literário, surgem novas iniciativas, novos gêneros, autores. Em contrapartida tweets são apagados, ou não vistos, escritores esquecidos ou nunca conhecidos. 4.2 ASPECTOS DA TWITTERATURA Pode-se equivocadamente pensar que, por não ser uma boa plataforma para registro de textos, a Twitteratura não é digna de um estudo acadêmico. Entretanto, a efemeridade também é característica de um gênero consolidado na Literatura: a crônica. A Twitteratura e a crônica são escritas para serem lidas no momento de sua publicação: a crônica tende a ser lida no mesmo dia, pois o jornal é geralmente publicado diariamente; no caso da Twitteratura, para ser lida naquele momento, pois em pouco tempo novos tweets ocuparão aquele espaço. Por isso, muitas antologias de tweets são organizadas, assim como acontece com a crônica. Deste modo, segundo Sá (2001, p.10), a crônica quando publicada em um jornal, dirige-se “inicialmente a leitores apressados, quem lêem nos pequenos intervalos da luta diária, no transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite.” O leitor da Twitteratura não é apressado, é apressadíssimo, ele pode ler os tweets literários em qualquer lugar em seu computador portátil ou em seu celular, em meio à imensidão de notícias que são publicadas na rede social, assim como a crônica vem em meio às notícias do jornal. O espaço limitado imposto pelo Twitter também não é uma novidade, os folhetins e as crônicas também têm seu espaço delimitado no jornal: uma vez que a página comporta várias matérias, o que impõe a cada uma delas um número restrito de laudas, obrigando o redator a explorar da maneira mais econômica possível o pequeno espaço de que dispõe. É dessa economia que nasce sua riqueza estrutural. (SÁ, 2001, p. 8). “O pequeno espaço” que dispõe um cronista tradicional é de geralmente uma página, espaço que é muito menor no Twitter, ou seja, a “maneira mais econômica possível” que um cronista tem de explorar, há de ser muito mais econômica no microblog. A habilidade de concisão deixa de ser um diferencial e passa ser obrigação. E essa opção por textos curtos
  • 43. 42 não é apenas do leitor e sua pressa, cada vez mais escritores aderem à literatura curta. Vejamos como Henry Alfred Bugalho16 trata esse tema dentro de um de seus microcontos: Poder de síntese Antes, escrevia 200 páginas sem pestanejar; hoje, se chega a 200 caracteres já começa a ter dores-de-cabeça. (BUGALHO, 2009a, p.25). Pode-se ter duas interpretações do seguinte trecho desse microconto: “se chega a 200 caracteres já começa a ter dores-de-cabeça.” Na primeira, a personagem começa a ter dores-de-cabeça por estar escrevendo muito, chegar a 200 caracteres seria cansativo. Na segunda interpretação possível, a personagem estaria com dores-de-cabeça por chegar a 200 caracteres, ultrapassando o limite do Twitter, tendo que reformular a ideia para que caiba nos 140 caracteres máximos da rede social. O autor tem de lidar com essa limitação de espaço, precisando às vezes mudar uma palavra ou descartar uma ideia por não caber em 140 caracteres. Há um escritor que levou a limitação ao extremo. Edson Rossatto17 publica todos os dias em seu Twitter um nanoconto de 100 caracteres. Não se tratam de histórias de até 100 caracteres, mas com exatos cem caracteres: “Cem Toques Cravados”, como o próprio autor intitula seu trabalho. Mas como o autor sintetiza uma ideia em cem toques exatos? Vejamos um nanoconto do autor, que não está com 100 caracteres: Micro-ondas “Queimou, e minhas meias continuam molhadas.” (ROSSATTO, 2010). O nanoconto tem 56 caracteres. Observa-se que Rossatto sintetizou a ideia o máximo possível, deixando o leitor completar os sentidos da história, como Hemingway explica em sua teoria do iceberg. Contudo, o autor aproveitou a ideia para seu Twitter @cemtoques18. Comparemos as versões: 16 www.twitter.com/henrybugalho 17 www.twitter.com/edsonrossatto e www.twitter.com/cemtoques 18 www.twitter.com/cemtoques
  • 44. 43 Figura 9 – Nanoconto “Micro-ondas” em cem toques cravados. Fonte:< http://twitter.com/#!/cemtoques/status/63217888189882368> . Acesso em: 30 mai. 2011. Nota-se que na segunda versão, em cem toques cravados, o autor dá mais informações sobre a história, diminuindo o trabalho do leitor em completar os significados. Rossatto incluiu várias palavras “desnecessárias” para que o texto ficasse em 100 caracteres; o texto deixou de ser em primeira pessoa e se tornou um diálogo; o autor trocou uma palavra- chave do texto (molhadas) por outra semelhante (úmidas), por ter dois caracteres a menos. Quando a qualidade deixa de ser prioridade para que o texto se encaixe em suas limitações, é a forma se sobrepondo ao conteúdo. Essa é uma característica de todos os textos da Twitteratura, embora no caso de Rossatto aconteça de uma maneira mais extrema. Porém, a forma sobre o conteúdo não é uma característica exclusiva da Twitteratura, pois quantos autores canônicos não tiveram de alterar suas ideias para que seu texto se encaixasse na métrica, na rima, no ritmo, na quantidade de versos do soneto ou ainda no tamanho da página do folhetim? No entanto, essa característica não representa uma má qualidade dos textos, como podemos observar na afirmação de Sá sobre o curto espaço da crônica: “É dessa economia que nasce sua riqueza estrutural.” (2001, p. 8). Mesmo com essa quantidade limitada de espaço para os autores da Twitteratura, observamos que estes não utilizam abreviações em suas obras, ainda que na internet essa seja uma prática comum. Há alguns casos isolados em que o escritor opta pelas abreviações do internetês e em outros casos até ocorrem abreviações, mas que se tratam de uma representação da linguagem informal, como neste trecho do livro @re_vira_volta, um romance publicado primeiramente no Twitter:
  • 45. 44 Tá perdido? Ei, parece que tá dormindo um sono profundo. E esses espasmos, o que eles significam? (LEMOS, 2010, p. 33). O uso do “tá” já é comum no âmbito literário fora do Twitter em textos mais informais. Além disso, podemos verificar que a palavra “que” não é abreviada pelo autor (“q”), forma muito frequente na internet. A esse respeito: Seabra vê na limitação de espaço um incentivo à criatividade, embora desaprove o uso de abreviações. Para ele, usar "vc” em vez de "você” pode ser válido no processo de comunicação, mas condenável na tuiteratura. (MURANO,2010, p.43). Além do internetês, também é comum na Web e nas redes sociais a presença de imagens, músicas e vídeos, juntamente com os textos. Todavia a Twitteratura é composta exclusivamente pela linguagem verbal, o que, segundo Camila Franco Monteiro, explica a adesão de escritores ao Twitter: Diferentemente de outras redes sociais, como o YouTube, de blogs e da televisão, que estimulam uma linguagem menos verbal e mais imagética, o twitter é essencialmente uma linguagem escrita que abre espaço para a criação literária propriamente dita. (SPATUZZA, 2011, p. 26-7). Mesmo sendo unicamente verbal, o Twitter não dispõe de algumas ferramentas de edição de texto, como mudar fonte, cor e tamanho da letra, ou até mesmo pular uma linha. Vejamos o poema de Sérgio Bernardo19: CICLO - O menino come terra / depois / a fome de sempre / e a terra come o menino (CORDEIRO; CAMPOS, 2010, p. 197). Pode-se observar que o autor usa a barra para indicar que o trecho seguinte seria uma linha abaixo, se publicado em outra plataforma. O título “CICLO” está em caixa alta, pois não há como centralizar palavras, nem como as colocar em negrito ou itálico. Esses são alguns recursos que os autores utilizam para vencer essas limitações, no entanto alguns escritores não colocam título. Para demonstrar que se trata de um verso novo utilizam letra maiúscula (mesmo quando não há ponto final) ou apenas usam a pontuação para marcar o ritmo, como neste poema de Fernando José Ribeiro Júnior20: 19 www.twitter.com/Sempoesianaoda 20 www.twitter.com/FernandoPlan
  • 46. 45 O corpo descansa apodrecendo, O mundo girando ainda se move. As flores em volta vão crescendo, Deixando que a vida se renove. (Ibid., p. 105) A ausência de título em algumas obras da Twitteratura não indica necessariamente um recurso para que o texto caiba em 140 caracteres. Para comprovar, vejamos o haicai abaixo de Carlos Seabra21, que assim como muitos haicais de Leminski, não tem título: No despenhadeiro / a sombra da pedra / cai primeiro. (CORDEIRO; CAMPOS, 2010, p. 21). Esse texto contém apenas 52 caracteres, ou seja, sobraram 88 caracteres para que o autor incluísse um título, o que ele optou por não fazer. Sendo assim, como características do próprio Twitter, as opções para a construção do texto são democráticas e variadas, ficando a cargo do escritor escolher as mais eficientes para que o leitor melhor entenda seu texto. Essa relação entre leitores e escritores será discutida detalhadamente na seção seguinte. 4.3 ESCRITORES E LEITORES Como mencionado no terceiro capítulo, o Twitter só existe em função dos usuários que estabelecem conexões de troca, consequentemente, só há Twitteratura em função da interação de escritores e leitores. Portanto, neste subtítulo tentaremos descrever um perfil geral de escritores e leitores brasileiros de Twitteratura. Pesquisas demonstram que a maior parte dos usuários brasileiros do Twitter são jovens que vivem no mundo da internet, eles conhecem e utilizam as ferramentas da web: As pessoas que aderiram ao Twitter são predominantemente usuários avançados da web, 59% possui blogs, passa em média 46 horas por semana acessando a rede. É um público jovem, 65% entre 21 e 30 anos, e qualificado: 80% está estudando, tem diploma universitário ou pós. (SPYER et al, 2009, p. 90). Se o público do Twitter é predominantemente jovem, podemos considerar que os leitores e escritores da Twitteratura também o são. “Marcelino Freire acredita no potencial do 21 www.twitter.com/cseabra
  • 47. 46 Twitter para difundir a literatura e estimular a escrita literária entre os usuários, principalmente entre os mais jovens.” (SPATUZZA, 2011, p. 26). Percebe-se também que os leitores do século XXI vivem em ritmo acelerado: “O sujeito moderno não pode perder tempo, que tem sempre de aproveitar o tempo [...] que tem de seguir o passo veloz do que se passa, [...] e por essa obsessão por seguir o curso acelerado do tempo, este sujeito já não tem tempo.” (LAROSSA, 2002, p. 23). E por ser curta, ser lida em alta velocidade e ocupar pouco tempo, a Twitteratura se adapta perfeitamente a vida cotidiana desses leitores. A esse respeito, Rossatto (2010, p.10) brinca com seus leitores no prefácio de um de seus livros: “Divirta-se! E nunca mais diga que não tem tempo para ler. Com textos tão curtos, isso já é desculpa do passado...” Além de terem uma rotina acelerada, os leitores modernos convivem com várias informações. O próprio Twitter é utilizado para diversos fins, como fonte de notícias, entretenimento, relacionamento, e não apenas literário. Semelhante ao jornal, o Twitter oferece muitas informações, trata de vários assuntos e a literatura ocupa uma parcela do que é publicado no microblog. Mas como os leitores encontram a Twitteratura nesse fluxo de informações variadas? Comparemos novamente com a crônica que se encontra no jornal. O leitor interessado em lê-la pode ir direto a sua página, pulando as outras seções (política, economia, entretenimento etc.) ou ler todo o jornal, inclusive a crônica, assim como o leitor da Twitteratura pode optar por seguir apenas perfis literários ou mesclá-los com outros interesses. Observamos que muitos usuários leitores não só seguem escritores e perfis que abordam aspectos literários, como também se utilizam de hashtags. Encontramos as hashtags literárias: #microconto, #miniconto, #curtaconto, #poesia, #poema, #poeminuto, #haikai, #haicai, #haiku, #literatura, #letras365. Dentre essas, a hashtags #letras365, criada por Giselle Zamboni22 em 2011, ganhou destaque na twittosfera: cerca de 200 tweets por dia são publicados com ela. Observamos que essa hashtag promove a interação de escritores, leitores e colaboradores, sendo utilizada para citar criações próprias ou não (poemas, microcontos, trecho de obras), compartilhar notícias importantes do mundo das letras, tais como concursos, festas literárias, feiras, artigos e até dar dicas de livros, blogs, sites. 22 www.twitter.com/gisellezamboni
  • 48. 47 Além disso, ocorreu no dia 11 de junho de 2011, o I Sarau Literário via Twitter, organizado por Renan Osvaldo Pacheco23, Daniele Souza Freitas24 (ambos autores desse trabalho) em parceria com Giselle Zamboni. O evento foi criado para reunir escritores e leitores da Twitteratura, um momento com hora marcada, das 19h às 21h, para divulgar e apreciar criações literárias de 140 caracteres. Para participar do sarau, bastava publicar um tweet com a hashtag #sarauletras365, retweetar ou comentar outro durante o horário estabelecido. Tendo o sarau como base, podemos ter uma ideia de quantas pessoas utilizam o Twitter para a Literatura, pois foi registrada a participação de 324 perfis de Twitter, distribuídos entre 24 estados brasileiros e o Distrito Federal, mais dois participantes que tweetaram do exterior. Durante o sarau, foram postados 2316 tweets literários, excluindo os comentários e os retweets. O evento ficou nos Assuntos do Momento (também chamado de Tópicos de Tendência, no canto direito da Figura 10) do Brasil praticamente do começo ao fim. Na imagem a seguir, observamos a hashtag #sarauletras365 em terceiro25 lugar: Figura 10- I Sarau Literário via Twitter nos Assuntos do Momento. Disponível em: < http://bit.ly/iuvGML > Acesso em : 11 jun. 2011. Contudo a interatividade não ocorre somente com o uso de hashtags e em saraus literários via Twitter, ela é uma das principais marcas do microblog. Foi-se o tempo em que 23 www.twitter.com/renanrop 24 www.twitter.com/Daniele_SF 25 O tópico “#PinkisFreedom” é promovido pelo Twitter, ou seja, não significa que ele é o assunto mais comentado naquele momento.