Este documento é uma entrevista com o autor do livro "A Cidade Subterrânea" e uma resenha da nova obra de Adelino Timóteo. A resenha destaca como os temas centrais da obra são a identificação e a nudez, representando uma relação de fusão entre o eu lírico e o outro.
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Literatas
Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona
Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 25 de Outubro de 2011 * Ano 01 * Nº 15 * E-Mail: kuphaluxa@sapo.mz
ENTREVISTA COM AUTOR DO
LIVRO “A Cidade SUBTERRÂNEA”
Pobre
Não
Presta?
HiNos
à Nudez Pág. 2
2. 2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555
Terça-feira, 25 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2
Em primEira
Dos Frutos do Amor e Desamores até à Partida de Adelino Timóteo:
Amor e Utopia
LucíLiO MANjATE* - MAPuTO
Não será esta síntese, portanto, o universo
1. Dos frutos do amor metaforizado na palavra “Tudo” que “eu”
poético diz?
“Tudo que sei dizer-te é que és nua: Se assim for, o “eu” poético do Adelino
E lenta a flor, como o Sol, eis que de múltiplas formas te Timóteo diz o seu universo sensorial ao
desabrochas em mim: as tuas mãos de vidro, lentas, os mesmo tempo que o interpela. “Tudo que
teus lábios húmidos, quentes, à forma como me beijam. sei dizer-te é que és nua… Caída chegas-
Caída chegas-me pelo corpo, pela alma. És lenta, e nua me pelo corpo, pela alma.”. Tudo que sabe
explodes, como uma mina aberta à memória. És alta como dizer, ou seja, tudo o que ouve, vê, sente,
pólen, a doce lentidão como me chegas, vagarosa pela cheira, prova, é nu. A “nudez” há-de ser,
boca, a vocação com que o fazes: lenta no beijo, até ao portanto, o núcleo habitacional da enun-
tutano, lenta às carícias, até às trompas de falópio. Tua a ciação poética desta obra.
lentidão uma fonte de água, sem rumor, incessante. Tua A interpelação que o “eu” poético faz à
a vertigem, repetitiva como me chegas, quente, suave, entidade a quem se dirige inaugura uma
febril.” – p. 11 relação de identificação que o autor dá
Ao apresentar a nova obra de Adelino Timóteo, gostaria o nome de Amor, talvez porque acredita
de destacar dois signos de enunciação poética que me que todos nós sabemos – ou pensamos
parecem representar os fundamentais núcleos semân- saber – o que essa palavra significa. Mas,
ticos da obra. Primeiro, o da identificação irónica do “eu” de facto, o Amor aqui é apenas exemplo
poético em relação à entidade que interpela. Segundo, o dessa relação superior. Não se trata de uma
facto de essa identificação ser co-referencial em relação relação de amor, desse amor que povoa
à “nudez”, palavra-tema que ao longo da obra ora é des- o nosso imaginário, apesar de o “eu” poé-
sacralizada ora sacralizada. tico interpelar uma mulher, fonte desses
As noções de “identidade” e “identificação” são recorrentes sentidos que lhe chegam pelo corpo, pela
nos estudos literários e culturais. A noção de “identidade” alma. É mais uma relação de identificação
é, muitas vezes, entendida em primeiro grau, como aquela que tem no imaginário que construímos
que é cunhada a partir de dados empiricamente veri- sobre o Amor a sua metáfora. É a partir
ficáveis, como a cor da pele, o sexo, atc. Em segundo grau, dessa metáfora do Amor, de um “eu” poé-
a palavra “identidade” remete-nos para uma construção tico que se afirma em função de um Outro
simbólica no próprio processo de sua determinação; trata- concretizado e poetizado, que Adelino nos
se de uma entidade que não se concretiza em função de convida ao entendimento do conceito de
um único referente empírico, mas de vários, num processo identificação como tema superior do seu seu universo. Por isso é que o conceito de identificação
reflexivo que possui uma dimensão de exterioridade. livro, uma espécie de arquétipo de todas as relações. Para em Adelino Timóteo é um espaço sublime e uma vocação
Nessa aceitação do que é exterior, um Eu não nega um tal, o poeta serve-se, estrategicamente, da “nudez”, e de um a ser seguida, a vocação de sermos a totalidade de um
Outro, pelo contrário, aceita que a sua “personalidade” é imaginário que associa a nudez à disposição sexual, como Outro para sermos Nós. Uma vocação que nos coloca na
forjada na tensão entre dois olhares, o seu e o do Outro. confirmam as ilustrações feitas à obra, de Silvério Sitoe: “Tudo eminência de sucumbirmos se o Outro, que faz de Nós o
Há-de ser por causa desta relação dialéctica entre o inte- que sei dizer é que és nua … Caída chegas-me pelo corpo, que somos, deixar de existir, como acontece na segunda
rior e o exterior que Derrida afirma que “Uma identidade pela alma.”. parte do livro – Desamores até à Partida.
nunca é dada, recebida ou atingida: só permanece o
processo interminável, indefinidamente fantasmático “Posso escrever-te a tua húmida flor, a rosa
da identificação”. Hoje sabemos que o sexo já não iden- côncava, carnosa, em seu fundo negro sem fim: A 2. Desamores até à Partida
tifica nem homem nem mulher. Hoje percebemos que tua flor é a língua do fogo, a borda alongada das
somente o diálogo, a abertura para o Outro, permite pétalas, o fio volátil em meus lábios. Chega-me “Eras lenta, amorosa, para lá do limite da paciência. Como
perceber que interagirmos com homens que na verdade lenta pelo pavio, no mar sem fim dos meus lábios, uma sinfonia dos oboés, ritual me acariciavas que não te
são mulheres ou mulheres que na verdade são homens, na água sem fim das palavras, onde cada gesto fartavas, delicada que me alongavas os bornais, firme a
ou ainda homens e mulheres que nem são homens nem teu se repete como um refrão, com graça. Posso saliva pela língua. … Aquele amor cândido. Aquelas amoras
são mulheres. Ora este diálogo não é identidade, mas escrever-te a tua flor: aberta como uma asa és dóceis. Era só uma lembrança, pois então quebraram-se
identificação. lenta, lenta que me fazes vibrar. E tu és feita de as asas e nenhum de nós os dois voa. E o silêncio a si se
O livro que Adelino Timóteo hoje nos apresenta é com- silêncios, de telegramas que se me chegam pelos interpela. Já não é. E sempre era de noite quando volvia
posto por dois momentos. O primeiro momento, Dos teus beijos, cartas e telexes que me chegam pela aos teus prumos. E a pergunta com que o silencio se me
Frutos do Amor; o segundo, Desamores até à Partida. A ponta da língua, às digitais, esmerada no que interpela se cristalizará com o tempo. Eis mais este presente
obra é uma interpelação ao leitor, mas uma interpelação te encarregas pela tua boca. Posso escrever-te dilacerado que nos sobrou. Delicada a chuva sobre a celha
a tua flor: trazes-me aos lábios os fios de uma dos rostos até à partida.” – p. 46
aranha tecedeira, a lentidão da abelha e o mel Obviamente que já não se trata aqui dessa fusão de sen-
num cântico com que transcendes à lua, a Marte tidos a que o “eu” poético recorre para se definir. Mas aqui
venial, divinal.” – p. 12 percebe-se que a tese que Adelino Timóteo formula na
primeira parte do seu livro é a de que a abnegação, pura e
De facto, a nudez é o signo que Adelino Timóteo elegeu para verdadeira, natural e sincera, a que nos votamos quando
celebrar o amor carnal. Com efeito, as imagens eróticas des- amamos carnalmente ou sexualmente é a manifestação
filam, gradativas e lentas, num filão descritivo desse desejo da noção de identificação enquanto arquétipo a ser real-
sexual que se vai celebrando e cujo êxtase encontra na volup- izado, utopia a alcançar, pois agora lembramo-nos de que
tuosidade da palavra, na expressão libidinosa que progride palavra “nudez” denota também os sentidos simplicidade,
sempre lenta pelo corpo nu da mulher, a sua representação singeleza, verdadeiro, sincero, natural. O desamor que se
suprema. regista na segunda parte da obra reforça esta ideia, a iden-
Parece-me que a primeira parte deste livro diz respeito a tificação como processo de construção identitária exige de
esta celebração. A celebração do universo-mulher, da mulher nós essa nudez que teimosamente camuflamos. Tal como
nua, ao qual o sujeito poético irremediavelmente se entrega, quando fazemos amor, nascemos todos nus. E o que há
porque somente assim se define, nu. Mas aqui o perigo, o de de comum entre fazer amor e estar nu é o encontro com o
pensarmos que Adelino Timóteo apresenta-nos poemas eróti- universo. Ou seja, o universo do Homem nunca deixou de
em segundo grau, momento em que deixamos de iden- cos. O erotismo nestes versos não é um fim em si mesmo, mas ser a nudez. Conceber a nudez como ponto de encontro, de
tificar na obra o tema do amor canal – como veremos – e um ponto de chegada que tem no conceito de identificação o naturalidade, de sinceridade, de verdade e pureza, e assim,
passamos a interlocutores de um processo de identifica- ponto de partida, onde ou quando precisamos ser Outro para olharmo-nos sempre nus, ainda que vestidos, seria a mais
ção que tem como mote esse tema do amor sexual. sermos Nós. É o ideal da fusão de todos os sentidos. genuína, a mais sublima expressão de identificação, onde
Na primeira parte do livro, Dos Frutos do Amor, ao inter- Ora Adelino Timóteo confunde-nos exactamente ao apre- e quando somos todos iguais, ainda que diferentes
pelar a entidade a quem se dirige, ironicamente o “eu” sentar essa relação como sexual. Na verdade, o poeta acaba
poético identifica-se: “Tudo que sei dizer-te é que és nua dessacralizando esse amor feito de carne, como quando quer- *LucíLio MAnjAte é docente de Literatura na
… Caída chegas-me pelo corpo, pela alma.” emos “fazer amor”, ou mesmo quando não queremos. Ora o
Não será tudo o que sabemos dizer a soma das experien- acto de dessacralização é também um acto de sacralização. Faculdade de Letras e Ciências Sociais na Univer-
cias sensoriais, a síntese do que ouvimos, do que vemos, E sacralizar é tornar sublime. E sublime é esta entrega do
do que sentimos, do que cheiramos, do que provamos? E “eu” poético à essa imagem da mulher nua que se torna o sidade Eduardo Mondlane (UEM) e é escritor.
3. Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3
Terça-feira, 25 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3
Em primEira
Havia uma dança no meio do caminho
Dançando com chuva: Um bailado escrito por Eduardo White
MARcELO PANguANA* - MAPuTO com tudo aquilo que até um
O bailado começa com algum cenário que se pode con-
determinado momento julgava
siderar sombrio: A luminosidade dos relâmpagos. O
ribmbar dos trovões. A chuva incessante que cai. Uma
perdido.
E por essa razão, pela beleza dessa desco-
tempestade. Depois a imagem de um homem quase
berta, o homem sinistro que nos primeiros
sinistro perdido no meio da intempérie, a chuva mol-
cenários se encontra, chora, chora convulsa-
hando-lhe o corpo de alma. Depois uma rua qualquer
mente, enquanto a dança acontece em seu
vestida de latas de lixo, de pedras atiradas ao acaso. Sem
redor e ele próprio se envolve nela.
dúvida nenhuma com o cenário tendente a evidenciar o
Como toda a manifestação artísticas inter-
enorme desconforto que a alma humana, às vezes, me-
ventiva, “Dança com a chuva”, na sua lingua-
dra. Fica-nos, logo à partida, essa sensação de desola-
gem musical e contemporânea, pretende
ção e de abandono. É uma certa moçambicanidade que
se assumir como expressão de ideias e sen-
se instala e se revela, com alguns dos seus símbolos e
timento, ou se quisermos, uma critica a nós
traços.
mesmos enquanto indivíduos à busca da
Por isso a surge este bailado para atenuar perfeição. E a arte é uma das expressões
maiores dessa busca. Quer dizer: a dança e
essa desolação. Com uma forma de a música acasalada à poesia. É isso que Edu-
ardo White pretende transmitir neste breve e
aprendizagem. Com descoberta. Com mavioso bailado
catarse. Com reencontro do homem *Marcelo Panguana é escritor moçam-
bicano e director da Revista Proler
A modos de dizer qualquer coisa
Quero dizer, eu era, obviamente, um temporal de vibrações magnéticas intensas, de viagens para-
normais a planos irreais de mim...
tar, sempre desprevenidamente, desarruma o outro que para o caos em que se tornou. No entanto, essa desordem é o
EDuARDO whiTE* - MAPuTO sou, os lugares que habita, os amores que ama. Espalha- momento fulgurante para que tudo nele se recomponha, se
os desordenada e positivamente. Muitas vezes me faz redescubra e se interrogue. A chama, há muito apagada do
Quando resolvi escrever o livro “O Homem, a Sombra e a bem, mas em grande maioria delas, desestabiliza-me amor e que é a causa desse estado decomposto das coisas,
Flor”, que sobre o qual se inspira este bailado, todo o acto
criativo foi uma tempestade interior que em mim con-
vocava um bailado mágico, colorido, ritmado de sons e
vozes vibrantes na matéria do corpo e do sangue. O mo-
mento era celebrativo de paisagens anteriores que eu
tinha vivido ou percorrido em algum espaço temporal
da minha vida. Forte, devastador, arrepiante. Eu mesmo,
nessa altura, era palco de muitas coisas que se pergun-
tavam e me enduvidavam. A planura das respostas inex-
istia, o sufoco esgotante da alma se me tempestuava, a
ponto tal, que eu era todo transe, todo matéria relampe-
jante e evolava-me para espaços que desconhecia da
minha própria alma.
Em nenhum momento eu mesmo permiti-me a descan-
sos, a pausas de que pudessem resultar harmoniosas
calmas, a inervosos estados de espírito. Quero dizer, eu
era, obviamente, um temporal de vibrações magnéticas
intensas, de viagens paranormais a planos irreais de mim.
O transe transbordava como um mar que chega nervoso
a uma margem qualquer do planeta. Vi pessoas que era,
planos individuais que se materializavam, mortos que
fora em outros tempos desconhecidos e que agora me positivamente. reacende-se em si próprio, dando lugar a um sentimento de
viviam. descoberta e de renovação, dados mutantes para que perceba
Confesso-vos, e isto é uma confissão que passei a fazer que antes de amar qualquer outra coisa forçoso é que se ame
Escrevi o texto num ápice assustador de tempo. Melhor, nos últimos escritos que vou tornando públicos e que é a si próprio. E essa sombra sua, que se transforma a partir dele
descrevi o que vivia de um espaço territorial delas que mais gritante neste livro que agora lanço em simultâneo no sujeito do seu amor, é a resposta até a uma outra pergunta
eu próprio me tornava. Lembro-me que eu suava e a com o bailado, “A mecânica lunar e a escrita desassoss- que, interiormente, não se cansa de fazer: Mas e onde está o
fome batia-me esgotantemente. Devo ter fumado, du- egada”, que tais momentos de tão intensos que são, de amor e por que esse caos que é a sua solidão?
rante o tempo que isso ocorreu, três maços de cigarros. tão arrebatadores que se me tornam, resultam sempre
E bebido bastante. Sempre fui propenso a esses estados num estado de reversão de que demoro demasiado a A transformação da sombra nessa mulher por quem se vai
de alma. Revelo-vos agora, a propósito deste bailado. recompor-me. Saio quase sempre dolorido, amassado e apaixonar, essa metamorfose toda que ele vive, torna-se, en-
Quando escrevo se me sobrepõe um Eduardo White que descaracterizado. tão, na viagem extasiante que nele adubará o conhecimento
não sou comummente. Aquele que vivo todos os dias. da mulher que tem em si, como ideal, e que vai descobrindo
É sempre assim. Sinto, durante algum tempo anterior à O “Dançando com a Chuva” é a história desse sujeito nascer como realidade.
escrita, que esse indivíduo me vem chegando. Altero-me no plano do amor e que, através deste, é remetido para
por completo, torno-me outras dimensões a que a maio- todos os outros. Porém, como sabem, o amor é um es- Toda esta trama - se mo se me permite dizer- é a tempestade
ria dos meus amigos e não só, as apelidam de loucuras. tado que altera todos os outros, ou quando começa, ou que sobre si desaba e que se torna e que, efusivamente, o
No entanto, é bem real esse personagem que vos estou quando termina. Revoluciona e transforma, combus- leva ao apogeu da descoberta daquele sentimento, primeiro
descrevendo. Tem vida e personalidade próprias, e, con- tiona e mistura. O personagem principal deste bailado nele mesmo, depois, em tudo o que o circunda. Afinal, a com-
trariamente ao nativo indivíduo Eduardo White, mais conta, desta maneira, a história um homem que desapa- provação de que toda e qualquer ordem nascem da própria
temerário, contido, introvertido e tímido, o outro White, ixonado pela vida, que desacreditado do amor, encontra dinâmica do caos
é um tempestuoso sonhador, um inebriado aventureiro, nessa sua desarrumação uma tempestade da qual bebe
um recipiente de alucinações fantásticas, um destemido uma viagem interior a si mesmo. Despido dele, deste
provador de experiências. Quando me chega para habi- modo, torna-se o espaço do caos e evolui, ele próprio, Eduardo White é poeta moçambicano
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Terça-feira, 25 de Outubro de 2011 LiTERATuRA MOÇAMBicANA 4
A Poesia Epigramática do Amin Nordine
ou a Babalaze do Atirador das Verdades
Um poema assim é árduo/ sem cola e na vertical/ pode levar uma eternidade. ‘’ARMÊNIO
VIERA’’
Ao Sangare Okapi e Lúcilio Manjate
AMOSSE MucAvELE - MAPuTO fatalismo que voa em voo rasante sobre as angústias de
um passado melancólico, e um presente envenenado.
AMin nordine nasceu em Maputo aos 17 de fevereiro e do futuro o que se espera? O futuro não será isto!’’…
de 1969 e perdeu a vida aos 5 de fevereiro de 2011,e superlotada receita galgando o vento/com as mãos no
autor de apenas 3 livros, o que não tem importân- coração do destino.’’
cia porque a literatura não se assemelha a uma com- o que é do lado da ala-B? o leitor descobrirá que esta
petição, onde quem publica muitas obras sai vencedor no lado mas vil de um jovem país com os seus prob-
(assim sendo existem escritores que tem sido felizes lemas, e é neste lado onde reside o poeta solitário nas
nesta maratona aliando a quantidade versus qualidade suas abordagens anti-heróicas, mas das multidões na
como o seu cavalo de batalha e tem se notabilizado sua mordacidade social, um verdadeiro maquinista do
como verdadeiros campeões ex: Mia Couto, António comboio dos duros, um autêntico vomito da babalaze
Lobo Antunes, Pepetela, Moacyr Scliar…), bastando de um poeta bêbedo do seu dia-a-dia. Detentor de
lembrar-se do Luís B. Honwana, Noémia de Sousa, uma caligrafia rebelde, com versos quentes como o
Gulamo Khan, e Lilia Momple para sustentar a tese de fogo e cortantes como a espada afiada, onde eclodem
temáticas de afrontamento de um certo tempo
histórico (ex: carta ao meu amigo Xanana, ban-
queiros de banquetes, bandeira galgada aos 25,
(c)anibalizinhos…)
tALvez o outro lado da ala destes poemas, não!
Isto ultrapassa a dimensão poética, ou por outra
destes melancólicos dissabores que desper-
tam os filhos desta pátria que nos pariu deste
manancial de barbaridades versus mentiras, que
transformam o sonho de estar livre da opressão
em um pesadelo, não será esta a voz do povo?
estes MeLAncoLiAs dissabores são a pólvora
contida na’’ bala’’(ala-B) desta poesia que o
custa amar uma bandeira assim?
autor preferiu chamar de’’ arma da vitória’’ que
dispara esta bala certeira onde a cada estrofe
tem o amargo do asilo
vai abatendo o seu alvo. Dai nasceu este livro
embrulhado por uma crítica social.
A títuLo de exemplo o poema ‘’barbearia dos almoço de pão com badjias
cabrões (‘‘queixos barbudos engravatados/
barbearia dos cabrões/ que deixa todo chão sabem bem todos dias.’’
careca/ e ao alto mastro hasteiam bandeira/ para ceLso MAnguAnA pag.14- aos meus pais - Pátria que me pariu-
desfraldarem o corpo nu do povo…’’) 2006.
‘’APesAr dA irrequietude e da impertinência,
algumas vezes virulentas que caracterizam esta
poesia ou das entremeadas doses de apurada ‘’ Se por tanto tivesse ser capaz
ironia ou de compaixão pelos desafortunados,
moça - pátria deste amor que refrega
o que sobressai nesta forma particular da escrita
e um virtuosismo estimulador da sensibilidade
da razão,(…),nessa brevidade desafiadora da seja o meu coração a minha entrega
nossa capacidade leitoral e estética.’’( F.NOA-o
prefaciador). escrever-te a cerca duma paz
segundo zenão a brevidade e um estilo que
contêm o necessário para manifestar a reali- e alto levante-se da vez que nega
dade. Esta brevidade encaixa-se na poesia do
Amin Nordine onde nota-se uma presença mas- não é para o povo o discurso assaz
siva de traços inter-textuais da obra do poeta
Celso Manguana cidadãos da mesma esquina nenhum político, milagroso ás
(ambos eram jornalistas culturais do semanário
Zambeze) guerreiros da poesia epigramática, eé tamanho o sofrimento que chega!
soldados da mesma trincheira. Amin Nordine
exilou-se na morte, Celso Manguana exilou- para o povo aumentem um quinhão
se na loucura, e eu procuro exílio na memória
que qualidade nem sempre rima com a quantidade. destes 2 poemas: venha do vosso governo mais pão
PuBLicou – Vagabundo Desgraçado (1996), Duas Qua-
dras para Rosa Xicuachula (1997), e Do lado da ala-B. burilada a página da história
AMin nordine e um militante de uma escrita sólida ‘’Sonâmbula esta pátria
em todos lados seja o da ala- A ou da ala- B, isenta de apagar a sua triste memória
qualquer submissão política, caracterizada pelo incon- cresce nas estatísticas
formismo da realidade que o circunda e pela revolta fazemos o país livre da escória!!!’’
social, esta poesia epigramática e uma revelação de um e acorda com fome AMin nordine -pag.50-soneto da paz-Do lado da ala-B-2003
FicHA tÉcnicA
Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 *
Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@sapo.mz
Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com)
Coordenação: Amosse Mucavele, Japone Matias e Mauro Brito
Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.
Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*
Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.
Design e páginação: Eduardo Quive
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Terça-feira, 25 de Outubro de 2011 cRóNicA / cONTO 5
FiLosoFonias rapsódicas
A sentença para um prostituto
MARcELO SORiANO - BRASiL
DANy wAMBiRE - BEiRA m.m.soriano@gmail.com
O Maconha era um jovem culto de conhecimentos universais. Mas brincava com as
mulheres, solteiras ou casadas, de qualquer modo, sem a devida circunspecção.
Nota preliminar: Antes de
Um dia, despertou da cama, com um ar diferente. Queixava-se de dores incontornáveis, prosseguir com este artigo,
no abdómen. Tinha a sensação de que algo estivesse esforçadamente a subir por ele.
Como se fosse um elevador a transportar pesos pesados e a descarregá-los no pescoço lembro ao leitor que me dirijo
daquele miserável. à CPLP (Comunidade dos
Assustada, a esposa mandou chamar os dois grandes amigos do infeliz, para que o
ajudassem a serenar a sua intranquilidade. Vieram logo, graças à disponibilidade dos Países de Língua Portuguesa),
seus velocípedes. E inteiraram-se da apoquentação do amigo. Tiveram informações portanto, podemos encontrar
de que, antes do sucedido, a esposa do Maconha tinha travado uma acesa querela
com uma certa Maria, a amante do seu marido. Maconha tinha conseguido o contacto gerúndios, futuros do
telefónico da amante, e tinha-a contactado, só para matar saudades. Maria vivia, agora,
a cento e sessenta quilómetros, da sua antiga moradia.
pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores,
Durante a conversa, o marido da amante de Maconha, soube, erradamente, que a porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja
Maria estava a conversar com um seu irmão. E pediu para conversar com ele. E assim
aconteceu.
pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos
A conversa era excitante e agradável, mas, a dado momento, a toalha foi para o chão. léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS
Aquele coitado descobriu que o homem, com quem dialogava, não era nada o seu
cunhado, mas sim o amante da sua parceira. Afinal, Maria tinha o traído.
- BR. 14/07/2011.
Trocaram impressões abomináveis. Maconha, o amante da Maria, afirmou ao seu
esposo infeliz que a gravidez a pesar no ventre da infiel lhe pertencia. A informação
encolerizou o esposo da adúltera, e levantou-se um clima de altíssima tensão. Já não
havia condições para a paz.
[v e r - s Ó i s]
Então, a grávida fez as malas e foi para a paragem, à espera de um transporte, que a
levasse para a palhota da sua origem. As lágrimas acres humidificavam-lhe o corpo e
o traje. O transporte tomou-a. E a sua raiva coagia implicitamente os pés do motorista
a afundar o acelerador.
introdução
Dias depois, a Maria contou a triste cena aos familiares, que não a levaram a sério. Teve
que aguentar sozinha. Mas aconselharam-na a ir apresentar queixa à polícia. Numa noite acordei para o dia. E outro dia. Outro dia. Sol
Não foi à polícia, apenas discutiu com a esposa do Maconha, o qual, por consequência,
passou momentos dificultosos para a sua saúde, como resultado das ameaças verbais
a sol, fui tecendo o manto da vida, enquanto esperava a
de o liquidar fisicamente. Não se sabia, ao certo, quem seria o concretizador daquela
maldade demoníaca: se seria a adúltera grávida, ou se seriam talvez os que instigavam
morte, que não veio...
a discussão, em satisfação do seu mero sadismo.
Transportaram o Maconha para o centro de saúde próximo, desabitado de enfermeiros,
por algumas horas. Mas teve o apoio duma ajudante, que lhe administrou um
antibiótico. Mas o antibiótico não era a solução e acabou por lhe piorar a doença. A
coisa estava ainda mais agudizada. O comprimido não resolvia o problema.
4º [ver-sÓ]
Tiveram que tentar a medicina tradicional. Pediram a vinda duma curandeira ao
hospital, pois tinham medo de levar o doente de volta a sua casa. A ajudante havia de
receber réplicas fortes dos técnicos da Saúde. Mas a vinda da curandeira teve que ser PoeMA do ver
corajosa, libertando o doente para o kush-kush. o verso do Ler
As operações espirituais da curandeira ganharam dinâmica, e o Maconha não tardou
a melhorar, porque reconheceu e confessou as acusações feitas pela curandeira, sobre A LeiturA do ser
o seu envolvimento em relações sexuais com mulheres alheias, sem as pagar, entre
outras ilicitudes tradicionais. A LetrA do eu
Para ele melhorar definitivamente, teve a curandeira que chamar Maria, a amante do que doeu
Maconha, para ela dizer o que desejava como pagamento.
E foi assim que finalmente o problema ficou ultrapassado
quedo eu
e não dÓi MAis
Porque
MARiA MARchA A RÉ ver-sÓ
vó FiA- BRASiL
O maior sonho de Maria era possuir um carro Chevrolet vermelho, nem (continuA nA PrÓxiMA edição...)
precisava ser novo, podia ser usado, mas mesmo para um modesto
carro velho, as finanças dela eram incompatíveis; Maria era pobre,
...........................................................................
mas tão pobre que esse era um sonho irrealizável, mas ela continuava
sonhando.
os corvos
De suas tarefas de lavadeira, ela mal conseguia tirar o suficiente
para o arroz e feijão de cada dia, as roupas que usava eram doações
feitas por suas patroas, ela não podia nem pensar em adoecer, pois não
Os outros... Os mesmos...
teria dinheiro para médicos e remédios, e o pior era a solidão em que
vivia, pois seus pais morreram durante sua infância, não tinha irmãos e
Os novos... As covas...
nenhum outro parente vivo. Os corvos...
Para completar as desventuras da coitada, ela era bem feia e
desajeitada, por isso nunca conseguiu um namorado, afinal a vida de .....................................................................................
Maria era um completo desastre; mas ela continuava alimentando seu
sonho impossível e de tanto sonhar com aquele Chevrolet vermelho,
ela passou a misturar sonho e realidade, e o tal carro passou a existir de
verdade. esPÓLios
Para ela o carro era tão real, que ela chegava a procurar oficinas
mecânicas, para contratar concertos no imaginário veiculo; no principio Antigamente, os chapéus duravam mais
do desvario de Maria as pessoas achavam graça, esticavam a conversa
para que ela falasse sobre o carro, ai sua imaginação voava longe e ela que as cabeças,
elogiava o desempenho do amado Chevrolet, e como ele era econômico
e rápido. assim como os óculos e os relógios.
De repente a situação mudou para pior, porque ela passou a
beber litros de cachaça e endoidou de vez, brigava com as pessoas
O único pertence que sempre
que esbarrava em seu carro invisível, atirava pedras e dizia dúzias de
palavrões; o povo daquele lugar agüentou a situação ao maximo,
sumiu antes do dono foi
e quando não deu mais pediram providencias as autoridades, que
prometeram resolver o caso.
o guarda-chuva.
Prometer naquele fim de mundo era fácil, mas resolver era difícil
porque lá não havia recursos para nada, e ficou tudo como estava e a ....................................................................
pobre mulher só piorando, até que ela passou a andar de marcha à ré e FrAse cAixA ALtA:
isso resolveu a situação da pior maneira possível, na sua eterna marcha
à ré ela atropelava as pessoas e brigava se reclamassem, até o dia em
que ela atropelou exatamente um Chevrolet vermelho e morreu; estava gritA que o Mundo cALA. cALA que o Mundo gritA
acabado o sonho, as bebedeiras e a loucura da infeliz, Maria Marcha a
Ré
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Terça-feira, 25 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6
- discurso dirEcto
“Cidade de Quelimane está enterrada”
Considera o escritor Élio Martins Mudender, autor da obra “A Cidade Subterrânea” em entrevista exclusiva a Literatas
EDuARDO QuivE - MAPuTO quando a pessoa chega lá, sente Será uma coincidência dos factos ou o autor refere a si
que de facto está mal. ” mesmo?
ÉLio Mudender: Isto é uma obra de arte. Uma ficção. Uma
construção artística. Isto é, não tem necessariamente a ver
“A cidade subterrânea”, título de um livro eduArdo quive: Como é que surge o título “A Cidade comigo. Entretanto, quando um escritor faz uma projecção
publicado há dias em Maputo, tem Subterrânea”? artística, em algum momento, acaba reflectindo parte de
como palco a cidade quelimane. si. Certamente que esta é minha obra, isso faz parte de
Aliás, segundo o autor, Élio Martins ÉLio Mudender: É “A Cidade Subterrânea”, pois, na minha mim como pessoa, e da minha personalidade. Entretanto,
Mudender, quelimane é “A cidade opinião a cidade de Quelimane está a viver uma situação embora eu seja de Quelimane e formado em psicologia,
subeterrânea” retratada nesta que me leva a acreditar que está enterrada, no sentido não quer dizer que refiro-me a mim mesmo. Apenas foi um
obra, que trás revelações sobre em que muitas coisas que por lá acontecem, sujeitam-na exercício literário, e nisso procurei aplicar um exemplo de
vários problemas sociais, pois, “há a uma situação de pôr em causa o desenvolvimento da jovens formados, que depois disso querem empreender,
muitos problemas de desemprego, sociedade e do bem estar do povo zambeziano. Mas não mas muitas vezes, a dinâmica da vida e a conjuntura social,
habitação, muitos quadros naturais só o povo desta região, é uma maneira metafórica de não permitem, quer dizer, dum lado temos o discurso de
de quelimane querem regressar fazer uma apreciação sobre a situação duma cidade que que é preciso sermos empreendedores, inovar e ter o auto-
à cidade, mas não há condições, está num nível de desenvolvimento muito péssimo, o que emprego, mas muitas vezes, a realidade mostra que não é
acabando por regressar à capital, ou pode não ser só Quelimane, podemos encontrar a mesma isso, e o jovem vive um dilema, em que quer empreender,
rumam para outros cantos do País a situação em qualquer outra cidade no mundo. mas não consegue por causa da conjuntura. Daí que, este
procura de melhores condições de PortAnto, É uma metáfora para referir toda aquela cidade, dilema preocupa não só ao jovem de Quelimane mas, os de
vida, que lá não é possível encontrar, todo aquele povo, que pela ironia do destino ou pelas outros cantos do País.
e isto faz com que eu me refira a condições sociopolíticas, culturais e toda essa dinâmica,
uma cidade que está enterrada”. faz com que o seu desenvolvimento esteja parado. eduArdo quive: Portanto, é uma obra em que estabelece
Mudender que é também psicólogo se ForMos para a própria cidade de Quelimane, há muitos uma ponte entre o real e o irreal. Mas as personagens como
e natural de quelimane, alongou a problemas de desemprego, habitação, muitos quadros é que são constituídas? No caso particular de uma prostituta
sua viagem, revelou em exclusivo querem regressar à cidade, mas não há condições, acabam com o nome Maria Consolo – é Consolo porque consola o
nesta entrevista que, não é ele a voltando a capital ou rumam para outros cantos do País jovem recém-chegado à cidade, ou porque é o seu nome
personagem principal do livro, como a procura de melhores condições de vida, que lá não é verdadeiro?
se pensa, mas que na sua literária possível encontrar. Isto faz com que eu me refira a uma
abordagem, despe o que sente cidade que está enterrada. ÉLio MArtins: Eu aprecio muito o truque em que se usa,
pelas terras que lhe viram a nascer. onde procuramos criar personagens que não só entram
“eram pessoas a reclamar por tudo eduArdo quive: Na introdução da obra chega a contar em rede com a história, mas o nome em si transmite uma
e por nada. É a miséria de um povo. que um jovem que acabava de se licenciar em psicologia, mensagem. De facto, para mim, Maria é símbolo de mãe,
isso é verdade. quer dizer, sem decide voltar à sua terra natal (Quelimane) para investir mulher e, por sinal a minha mãe se chama Maria.
comentários, porque é de facto uma em alguma área e desenvolver a sua localidade, facto que MAs estA é Consolo, porque o papel dela vai se assemelhar
verdade: há muita fome, há miséria, não chega a acontecer. O Élio Martins, autor deste livro, ao que consola, protege, ainda que ao longo da história
e isso cria muita dor e nostalgia que é psicólogo e a sua terra natal é Quelimane também. descobrimos outras fazes da personagem: é uma boa
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pessoa, prostituta e espiã. Mas eu quero com isso, reflec- figura moralmente muito forte e que, dá ensinamentos, esse cenário para se ter de novo uma sociedade saudável e
tir sobre vários problemas que significam na sociedade. mas por outro lado, em muitas fases, esses mesmos sac- digna para todos, onde todos sejamos filhos da mesma casa.
Sabe-se que para a construção duma sociedade, há várias erdotes apresentam uma postura aquém daquilo que é AindA que de facto a igualdade de oportunidade seja algo que
necessidades, e é, exactamente isso, que procuro reflectir. o padrão de comportamento que se exige dele. se pareça difícil de se realizar, há uma verdade nisso: é preciso
Não se trata de algo que aconteceu na realidade, mas é um e Há uma luta muito grande sobre o celibato dos reli- que haja a criação de condições para uma satisfação general-
exercício artístico, mas fazendo uma ponte sobre aquilo que giosos. Existem certos religiosos que defendem que o izada, ou melhor, não é possível construirmos uma sociedade
a imprensa fala, aquilo que o povo fala, e nos bastidores celibato deve ser abolido. Do ponto de vista psicológico em que todos sejamos iguais. De facto, somos uma sociedade
também falado, é um exercício artístico. e ideológico, o sexo é muito prático para o estabeleci- marcada por classes sociais diferentes, e com oportunidades e
uM escritor deve fazer esse exercício aquilo que é a reali- mento do equilíbrio do indivíduo, e o sacerdote decide outras coisas, mas o mais importante para mim é que, hajam
dade, no entanto que tal, aquilo que é a realidade artística, abdicar-se do sexo. E isso é um desafio muito grande para condições que permitam que todos os indivíduos satisfaçam
para depois produzir um objecto, por isso que é arte. E eu os que seguem essa vida, por isso que, existem muitos as necessidades básicas, temos que lutar seriamente pela situa-
faço isso entre a realidade e a ficção. Acredito que este exer- problemas como a pedofilia e homossexualidade. Com ção de habitação para os jovens, aumento do emprego, e criar
cício é alma de um povo, e eu tento engrandecer a cultura esta reflexão, estamos perante um apelo, para que se condições sociais sustentáveis para todos os moçambicanos.
através desta obra. tome uma medida no sentido de o padre casar-se. Para nÓs soMos um País com muitas riquezas. Então, que essas
mim é algo necessário, do que obrigar muitos a fingir. riquezas sejam usadas para o bem do povo. Essa é a minha
eduArdo quive: Mas em geral, qual é o seu processo de cria- Eu já estive no seminário e sei que isso acontece. É mais posição. Todos devem se beneficiar, e com isso, acabarmos
ção dos personagens, pois, encontrarmos na obra pessoas uma reflexão que eu faço. Isso é um problema social que com a situação em que uns se beneficiam e outros não. Somos
que se complementam: primeiro a Maria Consolo, depois interessa a todos, e é por isso que eu faço uma viagem todos moçambicanos, pagamos impostos e não nos beneficia-
o Padre Jaime (primo do jovem) e o Guarda da igreja (um metafórica. mos disso. Assim haverá satisfação.
antigo combatente), os quais acompanham a personagem
principal nas suas acções… eduArdo quive: E quanto a aparição nesta obra de eduArdo quive: Em alguns capítulos do seu livro encontra-
uma catorzinha, que chega até a apontar nomes como mos símbolos, cujo significado acaba aparecendo durante o
ÉLio Mudender: É preciso encarnar. Aquilo que em Psicolo- Marcelino, como um dos tais adultos que circula com desenrolar da história, sendo ameaças de morte, chantagens
gia chama-se Empatia – procurar colocar-se no lugar deles, catorzinhas? Também fala-se muito dos acontecimentos e perseguição. Há algo de verídico nisso?
a protagonizar o acto. de 1 e 2 de Setembro?
PArA MiM uma verdadeira obra de arte para ser uma con- ÉLio Mudender: De verídico no entanto que tal, não. Mas
strução artística, deve trazer algo de novo, criar suspence, ÉLio Mudender: Ao citar as catorzinhas, baseio-me procurei mostrar que muitas vezes, os serviços secretos têm
uma situação em que o leitor sinta-se convidado a ler e a naquilo que tem acontecido. Andamos na rua e ouvimos os seus códigos que servem como um modelo de comunica-
viajar na história. Isto faz de um escrevedor um escritor. E muito comentario sobre a questão destas. Temos con- ção entre eles. Devo dizer que aprecio muito, alguns filmes
umas das particularidades na criação literária são as perso- hecimento a partir de alguns bem posicionados na fase com abordagem de cenas policiais, e onde se faz o uso da
nagens. Elas devem ser sujeitos que protagonizam várias adulta, que saem com meninas por troca de alguns bens inteligência. E quis trazer isso na nossa literatura, como forma
acções, e devem o fazer duma maneira muito emblemática, e meios financeiros, isso prejudica a sociedade. Eu penso de contribuir para que haja algo de novo.
de modo a dar um peso acrescido à própria obra. que um homem, maduro e moralmente são, deveria se neste MesMo capítulo, vamos encontrar a abordagem sobre
A FigurA do Guarda: para mim ele é um indivíduo que nesta colocar na situação de ver a sua filha a ser instrumental- as mudanças. Quanto a mim, todos sistemas não se mantêm
obra procura mostrar o dilema dos antigos combatentes, izada sexualmente por um adulto, em troca de alguns eternamente. Uma construção social é algo dinâmica, e se é
que estão insatisfeitos, pois apesar de ter combatido não se bens. Penso que isto retira a sanidade duma sociedade. assim, a qualquer altura pode mudar, porque só a mudança
sente enquadrado, e está frustrado. Por isso, o personagem Se queremos construir uma sociedade sã, que seja um cria o desenvolvimento. Então vou arrolando sob a questão da
diz na obra, que existem na realidade muitos antigos com- espaço que cria segurança, tranquilidade e sossego para Líbia, Egipto, Zimbabwé e de outros países.
batentes nessa situação. Portanto, não é uma invenção, é todos, devíamos acautelar situações como estas, que
umas realidades que vivemos. muita das vezes, é uma manifestação de autêntico abuso eduArdo quive: o psicólogo que é o Élio Martins Mudender,
o PAdre: para mim o padre é uma figura emblemática. Não de poder, não dá para aceitar. não conseguiu dissociar-se do escritor?
ÉLio Mudender: É difícil separar as pessoas
fragmentando-as. Se eu sou psicólogo, escritor
e professor, está claro. Quero dizer que é muito
difícil dividir-me, porque a minha unidade como
personalidade é constituída por esses. Agora, é
verdade que podemos procurar agir de modos
diferentes, de um lado como escritor, como
professor, e doutro como psicólogo. Mas essa
visão é mais didáctica do que necessariamente
táctica.
MAs o que procurei abordar nesta obra, é este
misto de confusões em que as pessoas vivem.
Por exemplo, uma pessoa que chega num sítio
e hospeda-se numa pensão…numa pensão há
prostitutas que estão a procura do pão: são
nossas irmãs, filhas, a procura de pão, prosti-
tuindo-se a preço de banana. Não é ter prazer
de sexo, é fome – não há saco que fica de pé
vazio. Isto é um grito de alerta, pedindo socorro.
Mas não vale a pena olharmos para os outros
como a solução para os nossos problemas. A
teoria de Compló deve desaparecer. Nós temos
que olhar para nós mesmos como a razão dos
nossos problemas, e daí tentarmos melhorar
e inverter o cenário, do que, olharmos para
os outros nomeadamente os políticos, como
a solução dos nossos problemas. E nós? Isto
também serve de apelo à todos, para que nos
engajemos na construção duma cidade boa e
melhor, não só uma cidade, mas o Moçambique
todo.
Pode notAr-se em alguns capítulos do seu livro
que os acontecimentos estão datados. Quanto
tempo levou para escrever este livro?
- nA verdade não sei quanto tempo levei para
escrever o livro. Mas não foi muito tempo. Foi
num período em que estava de férias, e foi
nesse mesmo tempo que escrevi. De facto o
romance não teve muito tempo a escrever. Mas
eu escrevo há já muito tempo, então este é um
exercício que mais faço com prazer. Há pessoas
que já leram, e pensam que levei muito tempo
tenho nenhum primo chamado Jaime, nem um primo padre. MAs Por outro lado, temos a situação dos dias 1 e 2 para escrever este romance, por causa da qualidade, mas foi
É apenas uma criação. de Setembro, que todos nós ouvimos e vivemos o que pouco tempo.
MAs Há uma coisa muito interessante. No livro, com esta aconteceu, e sabemos que aquilo vem de uma insatis- todAs As pessoas que me ligam dizem, “não sabíamos que em
personagem, faço a reflexão sobre o sacerdócio, não só em fação generalizada da população. Não inventei, todos Quelimane temos um escritor a sério” e eu não me considero
Moçambique, mas em qualquer parte do mundo. Nós sabe- sabem disso. Para mim a ideia é que, havendo situações como tal. Mas as pessoas dizem que acaba de nascer um escri-
mos que o padre católico não deve casar, mas conhecemos como estas, é necessário que os que tomam decisões à tor que deve vir para ficar, e mesmo por causa disso, acabei por
muitos padres que tem filhos, e que até namoram. Então dianteira na direcção do País, prestassem atenção a tais ser convidado a lançar o livro em Quelimane. As vendas estão
estamos a viver uma situação delicada, em que de um lado, tipos de sinais, pois havendo estes sinais, é necessário
temos o padre como aquela figura que representa Deus, uma que se tome a medida correcta no sentido de se inverter
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boas em Maputo, as críticas são boas. Depois desse convite, medo de pisar o chão. Mas no fundo foi um exercício que fiz recém-formado. É porque não se sabe se esse indi-
também convidaram-me a traduzir o livro para Francês. para expulsar as personagens. víduo promete ou não. E muitos não estão dispostos
no Livro chega a abordar a questão da apreensão das madei- e MesMo a falar disso, quais foram as dificuldades tidas para dar a arriscar.
ras em contentores, numa altura em que isso está a acontecer. vida a cada personagem do livro? As oBrAs que ainda não publiquei, ganharam prémio
É algo que já era do seu conhecimento e quis denunciar? - certAMente que isto é um exercício muito forte. Mas o grande sim, mas parecendo que não, estão engavetadas. Tenho
- eu estava a prever. Uma das características de um bom desafio de um escritor é produzir algo que tenha interesse para o muitas histórias que escrevi e que estão nas gavetas. Há
escritor – eu aprendi isso – deve saber prever. O prognóstico público e é por causa disso que entramos para o mais profundo, muita coisa boa que se esconde, e é por ser de quali-
é importante como uma sociologia artística. Por outro lado, de modo a criarmos o suspence que motiva o leitor. dade, que ficam nas gavetas, ou melhor, é por sermos
sabemos que a Zambézia está a ser abocanhada, a madeira outrA coisA interessante, há uma frase no livro que diz “ o bons que as portas não se abrem. Sem querer exagerar.
está a ser delapidada. Este romance fiz em Quelimane, onde pobre não presta?”. Isto porque nós vivemos num mundo em Mas agora que as portas abriram-se estou aqui e até
passei as férias: caminhava pela cidade, inclusive fui a Domela, que o pobre é aquele coitadinho, está na miséria, é pisado e outros livros que tenho vão sair.
onde nasci, embora tenha saído de lá muito cedo, e prossegui não interessa a ninguém. Mas aqui, procuro dizer que todos gostAriA de chamar atenção às pessoas que gostam de
até Nicoadala. E eu vi este cenário. As florestas estão a ser nós somos importantes na face da terra. Para mim a vida é um mim, e já agora, apreciam a minha obra, que fiquem a
devastadas. Existem pessoas que estão a delapidar a madeira. teatro, e cada um vai encaixando-se no seu papel. Todos somos espera de mais novidades. Espero abrir o próximo ano
Isso é uma verdade. um manancial de potencialidades, somos um tesouro e, deve- com um livro.
Antes disso, escrevi um ensaio, numa altura em que a imp- mos ser lapidados, devemos nos respeitar. Todos merecemos tenHo MAis um livro que estou a escrever, intitulada “
rensa estava a reportar casos de madeiras apreendidas em dignidade, respeito e consideração, então que nos valorizemos a As cicatrizes do Amor” - é um romance. Vai dar que falar.
Nacala. Mas também, numa situação em que estão a ser todos, e não medir a pessoa por aquilo que tem, mas por aquilo No livro procuro fazer uma abordagem sobre o amor,
apreendidos contentores, supostamente, de brinquedos, que é. Estamos a viver uma época em que muitas vezes as pes- mas não no sentido romântico, mas do ponto de vista
enquanto outras vozes dizem que são armas e drogas. São soas são valorizadas por aquilo que tem, e não efectivamente, psíquico, olhando para a questão social. Nessa obra vou
verdades que muitas vezes não sabemos, e porque talvez, por aquilo que somos. Penso que temos que resgatar um valor falar da questão dos mega - projectos.
não convêm que as pessoas saibam, e por causa disso, nunca nobre da vida, que é valorizar a própria vida. Todos nós somos A PuBLicAção dessa obra mudou em algum aspecto
sabemos qual é a verdade. Mas é uma realidade em que de importantes. a sua vida?
facto, alguma coisa não está bem, e as pessoas sabem disso. quAis são as suas influências literárias? - MuitA coisa mudou. Agora a minha vida está a centrar-
PortAnto, Procuro registar isso, e marcar como facto históri- - PArA ser franco, em Moçambique, aprecio mais o Mia Couto, se neste livro, onde passo, seja na avenida, supermer-
co, porque sendo uma obra, certamente que, será lida por penso que ele é um escritor extraordinário. Por isso aprecio e leio cado, portagem, as pessoas apontam-me e até já me
muita gente e isto poderá passar de geração em geração, muito a sua obra. A nível internacional, o escritor que muito me chamam “A Cidade Subterrânea.” Algo interessante.
e o meu esforço é registar os acontecimentos. Claro que os marca é Dan Brawn. O que me faz admirar este escritor é que, isto MostrA que o livro teve um bom impacto. Não
dou um toque literário, mas vagueando por aquilo que é a ele tem uma abordagem sobre as coisas, muito interessante. vou parar nesta cidade que já é conhecida. Como
realidade. Procura explorar a dimensão real, dando um toque artístico e escritor, penso que as pessoas tem uma expectativa e
AcABA de dizer que chegou a ir a Domela, sua terra natal, e isto que de facto, dá-nos a impressão de que, estamos diante de um não queria frustrar essas expectativas. Vou continuar
está exposto na obra. Aliás, chega até a referir-se das poten- escritor de grande mérito. a escrever, e dar o meu contributo para o desenvolvi-
cialidades que Zambézia perdeu, e ao chegar à terra natal, PArA ALÉM desses, leio muito as obras de Tabor, Tomaz Hinder- mento da literatura moçambicana. Penso que Moçam-
debate-se com vários problemas expostos pelo povoado… bet, José Saramago – muito me impressiona – o Jorge Amado, bique, com a literatura também pode ir longe, como foi
- erAM pessoas a reclamar por tudo e por nada. É a miséria de entre outros. Em mim, o espírito crítico, nasceu da leitura às no atletismo, através da Lurdes Mutola, na política, com
um povo. Isso é verdade. Quer dizer, sem comentários, porque obras de Jorge Amado “Os subterrâneos da verdade”, foi uma Samora Machel e Mondlane, e claro, literariamente,
é de facto uma verdade: há muita fome, há miséria, e isso cria trilogia de romances em que ele provou em mim que, estava com o José Craveirinha e Mia Couto. Também pode ir
muita dor e nostalgia, que quando a pessoa chega lá, sente diante de um escritor de alto nível em cabe o meu espírito. com o Élio. Eu estou a fazer a minha parte.
que de facto está mal. oLHAndo PArA o seu percurso, noto que começa a escrever não eMBorA tenHA começado com um romance, em que
coMo contAdor desta história, que justificação dá às mortes hoje. Já tem a obra “As notícias duma cidade ensaguentada” que género literário se encontra?
de algumas principais personagens do romance, no caso de embora destacado num prémio, não chegou a lançar, e mais um - eu sempre escrevi poesia, contos e romance. Mas
Joel, Maria Consolo e o guarda da igreja, este último que de poesia. Porquê preferiu lançar primeiro a desconhecida obra descobri que a minha grande pátria é o romance, e
ajudava na decifração dos símbolos? “A cidade subterrânea? Será que esta é uma outra versão do queria desenvolver muito isso. Tenho poesia escrita e
- Por falar dessas mortes, devo dizer que foi numa situação título que me referi “As notícias duma cidade ensaguentada”? contos, mas quero trabalhar muito o romance. É preciso
em que me debatia com dificuldades de continuar com as - A maior dificuldade de um jovem escritor é de aparecer. Isso ter pátria artística e a minha é o romance.
personagens. Perguntava para mim mesmo “para onde levo não só acontece com o escritor, mesmo com outros artistas, vou FAzer isso, pesquisando mais, lendo mais e fazendo
estas personagens?” e não achava caminhos para os levar e isso nota-se. Muitas vezes precisamos encontrar gente que nos mais o exercício da escrita. A escrita, exige muita leitura,
então, levei-os à morte. Foi uma maneira que tive de resolver dê um voto de confiança. Podemos registar isso também nas domínio da língua, esforço e acima de tudo criatividade
o conflito interior na construção da história, por um lado, se empresas, os empregadores tem dificuldades em confiar num e imaginação
olharmos a subjectividade.
MAs tAMBÉM foi para referenciar a questão das mortes. Sabe-
se que muitas gente morre e sem sabermos como. Essas
situações levam-nos a insegurança (medo). Ficámos com
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outras margEns
Mil Nomes Negra da Terra
Desfazer DEciO MATEuS - ANgOLA
NiLTOM PAviM-BRASiL Negra de carapinha dura
Não estraga teus cabelos,
Perdeste a oportunidade de falar com o homem Me jura.
O homem que vive onde ninguém vive (Teta Landu*)
O homem que vive onde todos querem viver
O homem vive Minha negra brinca a gingar
PEDRO DO BOiS - BRASiL Onde você vai viver? Magia da kianda
Eu quero viver com o homem que vive lá! Negra anda-que-anda
Todos querem ir pra lá, pois a casa do homem E ginga-que-ginga
Numero acontecimentos Igual não existe e todos a imitam Andar de negra é banga
desordenadamente. Capitulo Imitam a casa do homem que vive só, Andar de negra é cântico do mar!
ao extremo desgosto Porém acompanhado e rodeado por vários seres
das arrumações: a cama Seres que subiram infinitos degraus Minha negra ginga elegante
os objetos Da escada da absolvição e da compreensão Nas curvas duma viola
a comida Pois dizem que o homem é gentil, nobre e a todos conhece Nas ondulações duma mbunda
o banho O homem vive lá, entre nuvens e estrelas Negra ginga e rola
retiro da estante o livro Entre o luar e os raios solares E encanta gente
instantaneamente convertido Todos com ele querem viver, ninguém quer mais sofrer Ginga e rola a negra linda!
em acompanhante: desarrumo os fatos Todos querem no seu quintal azul brincar
e os distribuo pela casa: Eu vou viver com ele, Ginga de negra é cântico do mundo
a história forjada Combinamos encontros Não usa coisas de tissagem
de reis e reinos: Nas noites de solidão Usa tranças de bailundo
a desabilitação das fábulas Nos dias em que o vento uiva A negra jovem
moralizam o animal que teima Nas manhãs frias e coloridas de cinzas E ginga-que-ginga a dançar
sua liberdade. Nas tardes que o sol não brilha Ginga nas ondas do mar!
Nas andanças pelas trilhas da bênção
Continuar a viver quero eu Minha negra mulher cristalina
Tu queres continuar a viver? Não usa coisas de postiços
Ou preferes deitado ficar eternamente Usa carapinha
Eu em pé ficarei e com meus versos com ele falarei E tranças de linha
vivo morrendo Eu já o conheci quando nasci
A seu lado vivia, noite e dia, inverno ou verão, minguante e nova...
E tem magia de feitiços
A preta africana!
Quando soube que viajaria, deu-me uma lição e um perdão
FRANciScO júNiOR - MAPuTO Ele sempre foi assim, de singrar os mares, terras, azuis... Minha negra beleza genuína
E a todos conquistar com seu refulgir Ginga-que-ginga
A morte sussurra silencio no meu ouvido, O meu lugar reservado está. E o seu? Reservaste? Dança-que-dança a preta angolana
E eu invoco vida em palavras que lavro em papel Não vejo a hora da casa retornar Minha negra mulher da terra
virgem. Sonho esse sonho há mais de cinquenta anos Mulher negra
Construo uma nova dimensão da existência em Sonho e sonho e vivo a sonhar... Penteado à africana!
versos, À casa voltar
Me multiplicando em vários eu ‘s Voltarei Minha negra mulher formosa, mulher cheia
a cada estrofe que desenho. Ao meu lar Mbunda farta
Vivo essa imensidão dos eu ‘s Voltarei Não conhece cabeleireira alheia
que vão batalhando contra a ignorância, À casa Usa carapinha de preta
Que vão construindo novas vidas. Espere por mim E traz na voz a tradição negra
Que vão parindo novos edifícios. Em breve acordarei do sonho Traz na voz o pulsar da terra!
Fora dessa poesia fico um vazio, E voltarei
Pois já não sei ser nada fora dos outros que incor- À casa
poro. Do homem de mil nomes in Xé Candongueiro!
É assim que vivo,
*Teta Landu: músico angolano.
Morrendo a cada ponto final do poema
Algures no tempo
LucíLiA guEDES - PORTO
Poesia nas Acácias
iziDiNE jAiME - MAPuTO
Eu e Muitos A morte sussurra silencio no meu ouvido,
Sentada Poema vestido de árvore
no jardim da solidão, Cai em geito de folhas
jAPONE ARijuANE-MAPuTO desatava as fitas de seda Um verso verde sem ramos
Eu e muitos que envolviam as suas memórias. ... Voa nas sílabas do vento
Andamos a deriva por ai…
Como bando Ansiosa estava Poema vestido de árvore
Em busca de oportunidades de beber esperança, Não sabe que raíz
Que só existem na gaiola nos olhos da serra Amadurece o silêncio.
nas suas histórias. Entrega-se num papel
Eu e muitos Beija o caule
Andamos em cardume Mas, o frio Inventa num olhar despido
Em busca de mantimentos mordia-lhe os ossos empedernidos, Segredos da palavra
Subjugados democraticamente avivando-lhe feridas profundas
Ou no anzol ou no estômago dos tubarões do caminho das pedras. Poema vestido de árvore
Tem folha branca
Eu e muitos Estava no ciclo dos últimos, Caule pintado de letras
Rugimos na selva da vida a fome no tempo das vedras. Flor que vence a noite
Cujo banquete esta servido na jaula Projecto sem portas
Do emprego Grito sem eco.
Arte
Eu e muitos andamos, corremos Luz
Em busca de felicidades Amor
Que pagamos com a nossa própria liberdade Tem um sonho de letras
Vendido de graça
Eu e muitos alegramos os nossos rostos No corpo das acácias.
Para felicidade de outros
Espaço para divulgação de poetas dos países LUSÓFONOS. Envie os seus textos para: kuphaluxa@sapo.mz
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Noites d ´Álma Em outras paLavras
https://noitesdalma.blogspot.com
VII Prêmio Literário Valdeck
Almeida de Jesus – CRÔNICAS
edição eM HoMenAgeM A escritores BAiAnos
Lua
1 - O Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus visa estimular novas produções literárias e é dirigido
a candidatos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior, desde que seus trabalhos
sejam escritos em língua portuguesa.
2 – As inscrições acontecem de 01 de janeiro a até 30 de novembro, através do e-mail valdeck2007@
XiguiANA DA Luz gmail.com (CRÔNICAS de até 20 linhas, minibiografia de até cinco, endereço completo, com CEP e fone
de contato, com DDD). Os textos devem vir DENTRO do corpo do e-mail. Inscrições incompletas serão
desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão aceitas inscrições pelos correios.
Nossa herança
3 - A crônica deve ser inédita, versando sobre qualquer tema (exceto apologia ao uso de drogas,
Fortuna perdida nos trópicos conteúdo racista, preconceituoso, propaganda política ou intolerância religiosa ou de culto). Terão
preferências os textos sobre escritores baianos da contemporaneidade. Entende-se como escritores
Unida à África nossa contemporâneos aqueles cuja obra ainda não foi lançada por grandes editoras e que não são con-
hecidos do grande público. Cada autor responderá perante a lei por plágio, cópia indevida ou outro
Espelha-se na vaidade da gente crime relacionado ao direito autoral. A inscrição implica concordância com o regulamento e cessão
dos direitos autorais apenas para a primeira edição do livro.
Dispersa-se nas matas selvagens
4 - Uma equipe de escritores faz a seleção de apenas um texto por autor. A premiação é a publica-
Encarnada nas águas que nos alimentam ção do texto selecionado em livro, em até seis meses do encerramento das inscrições. Os escritores
selecionados devem criar um blog gratuito, após a divulgação do resultado do concurso, para dar
Escorre por esta mãe África rezando visibilidade ao trabalho de todos os participantes. Os casos omissos serão decididos soberanamente
pela equipe promotora.
5 - O autor que desejar adquirir exemplares do livro deverá fazê-lo diretamente com a editora ou
Lua com o organizador do prêmio. Os primeiros dez classificados receberão um exemplar gratuitamente.
Os demais podem receber, a critério da organização do evento e da disponibilidade de recursos
Aos nossos braços financeiros.
Estende a sua mão da liberdade ModeLo de FicHA de inscrição:
Dê nova postura as flores deste jardim Paulo Pereira dos Santos
Rua Santo André, 40 – Edf. Pedra – Apt. 201
Que aos seus olhos não murchem 35985-999 – Portão
Belo Horizonte-MG
Que aos seus olhos, nasçam e floresçam (31) 3366-9988, 8877-8999
ModeLo de MiniBiogrAFiA:
Lua Paulo Pereira dos Santos é natural de Santana-PB. Escritor, poeta e jornalista, tem dois livros
publicados: “Antes de tudo” e “Até amanhã”. Paticipa de cinco antologias de poesias. Graduado em
Serena lua comunicação social. Menção honrosa em diversos concursos de poesia, tem dois livros no prelo e
pretende lançá-los em 2012.
Olhai este berço
Deixe a nossa África Projeto PuBLicAdo no site do PnLL do MinistÉrio dA cuLturA
Mergulhar-se nua de lágrimas no seu leito MAis inForMAçÕes:
De corpo e alma Valdeck Almeida de Jesus
Tel: (71) 8805-4708
Na busca da vida E-mail: valdeck2007@gmail.com
Site do Organizador: www.galinhapulando.com
NOTA: NESTE cONcuRSO PODEM TAMBÉM PARTiciPAR PESSOAS DE OuTROS
PAíSES DE LíNguA PORTuguESA, iNcLuiNDO MOÇAMBiQuE, SENDO QuE NA
iMPOSSíBiLiDADE DESTES EM FALAR DE EScRiTORES BAiANOS, PODEM FALAR
DOS cONTEMPORâNiOS DOS SEuS PAíSES.