O documento apresenta um poema de Eucanaã Ferraz intitulado "Passe" e questões sobre o texto poético relacionadas à análise sintática e semântica de termos e expressões nele contidos. As questões abordam conceitos como concordância verbal, transitividade de verbos, classes gramaticais de palavras e função sintática dentro do contexto do poema.
Prova de língua e literatura analisa poema e texto de Macedo
1. prova aberta de língua portuguesa e literatura
UFMG-2013
Manoel Neves
2. TEXTO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
PASSE
O
verbo
cisnir,
intransi/vo,
assinale
o
modo
como,
entre
rodas
e
transeuntes,
no
trânsito
(repen/namente
transmutado
em
águas,
lama
e
restos
que
se
desviam
num
aluvião
sem
nexo
a
fim
de
que
o
rapaz
passe)
o
rapaz
cisne.
FERRAZ,
Eucanaã.
Rua
do
mundo.
São
Paulo:
Companhia
das
Letras,
2004,
p.
61.
3. 01
prova aberta de língua portuguesa e literatura
A
forma
verbal
“cisnir”
é
um
neologismo.
EXPLIQUE
a
concordância
grama/cal
em
relação
à
forma
cisne
no
úl/mo
verso
do
poema.
4. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
A
forma
verbal
“cisne”
equivale
à
terceira
pessoa
do
singular
do
presente
do
indica/vo
e
concorda
com
o
sujeito
simples
“rapaz”.
Indica,
é
claro,
a
ação
pra/cada
pela
personagem
referida
anteriormente.
5. 02
prova aberta de língua portuguesa e literatura
O
verbo
“cisnir”
é
considerado
“intransi/vo”
pelo
poeta.
INDIQUE
a
transi/vidade
assumida
pela
forma
verbal
“assinale”,
JUSTIFICANDO-‐a,
no
contexto
do
poema,
com
um
argumento
especificamente
sintá/co.
6. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
A
forma
verbal
“assinale”,
conjugada
na
terceira
pessoa
do
singular
do
impera/vo
afirma/vo,
tem
por
complemento
não
preposicionado
o
sintagma
“o
modo”
e
por
sujeito
o
pronome
[de
tratamento]
“você”,
elíp/co,
na
frase.
Trata-‐se,
portanto,
de
um
verbo
transi/vo
direto.
7. 03
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Na
1a
estrofe
do
poema
“Passe”,
IDENTIFIQUE
a
classe
grama/cal
da
palavra
“entre”
e
EXPLIQUE
a
função
desse
termo
no
texto.
8. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
A
classe
grama/cal
da
palavra
“entre”
é
preposição.
Tal
vocábulo
introduz
um
adjunto
adverbial
de
lugar
e
indica
[por]
onde
se
passa
["entre
rodas
e
transeuntes"].
9. TEXTO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
A
LUNETA
MÁGICA
Um
juiz
de
direito
não
pode
julgar
de
modo
torto:
ao
menos
tem
a
seu
favor
a
presunção
de
direito,
que
em
falta
de
todos
os
outros
fundamentos
é
fundamento
que
supre
todos
os
outros;
para
mim
que
não
sei
aprofundar
as
coisas,
um
juiz
de
direito
é
sempre
tão
infalível
na
ciência
do
direito,
como
um
padre
na
ciência
do
la/m.
Por
consequência
fiquei
convencido
de
que
/nha
senso
comum.
Ninguém
faz
ideia
do
profundo
contentamento
que
me
deu
esta
convicção.
E
não
era
para
menos.
O
nosso
código
é
necessariamente
muito
sábio
e
muito
previdente:
exige
que
para
ser
jurado
o
cidadão
brasileiro
tenha
apenas
senso
comum,
se
exigisse
bom
senso
haveria
desordem
geral,
porque
segundo
tenho
ouvido
dizer,
muitos
dos
que
têm
feito
e
dos
que
fazem
leis,
muitos
dos
que
as
deviam
mandar
e
mandam
executar,
e
muitos
dos
que
têm
por
dever
aplicar
as
leis,
não
poderiam
ser
jurados
por
falta
do
bom
senso!
Dizem-‐me
isso,
e
asseguram-‐me
que
o
bom
senso
é
senso
raro.
Eu
não
entendo
estas
coisas;
mas
atendendo
ao
que
me
dizem,
chego
a
crer
que
foi
por
essa
razão
que
a
lei
não
impôs
a
condição
do
bom
senso
nem
para
que
o
cidadão
fosse
jurado,
nem
para
que
fosse
magistrado,
deputado,
senador,
ministro,
e
conselheiro
de
estado.
10. TEXTO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Asseveram-‐me
ainda
que
se
assim
não
fosse,
que,
se
se
exigisse
a
condição
do
bom
senso
para
o
exercício
daquelas
altas
delegações
e
cargos
do
Estado,
haveria
quatro
quintas
partes
do
mundo
oficial
inteiramente
fora
da
lei.
Já
confessei
que
não
entendo
destes
graves
assuntos;
como,
porém,
acredito
piamente
em
tudo
quanto
me
dizem,
sinto-‐me
cheio
de
orgulho
pela
convicção
legalmente
autorizada
de
que
tenho
senso
comum,
e
apoderado
de
irresiskvel
vaidade
com
a
presunção
de
que
sou
igual
a
muitos
magistrados,
deputados,
senadores,
ministros
e
conselheiros
de
estado,
pela
falta
de
bom
senso
ou
senso
raro.
MACEDO,
Joaquim
Manuel
de.
A
luneta
mágica.
6
ed.
São
Paulo:
Á/ca,
1990.
(fragmento)
11. 04
prova aberta de língua portuguesa e literatura
APRESENTE
as
diferenças
de
sen/do
atribuídas
às
expressões
“senso
comum”
e
“bom
senso”
presentes
no
seguinte
trecho
da
narra/va
de
Joaquim
Manoel
de
Macedo.
O
nosso
código
é
necessariamente
muito
sábio
e
muito
previdente:
exige
que
para
ser
jurado
o
cidadão
brasileiro
tenha
apenas
senso
comum;
se
exigisse
bom
senso,
haveria
desordem
geral.
12. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
senso comum
“Senso
comum”
é
o
consenso,
aquilo
que
pensa
a
maioria
da
população.
Logicamente,
não
se
trata
de
um
pensamento
elaborado.
bom senso
“Bom
senso”,
por
outro
lado,
é
um
raciocínio
lógico,
baseado
na
observação
do
real,
na
análise
e
na
reflexão.
13. TEXTO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Disponível
em:
<hrp://benerblog.zip.net/arch2012-‐06-‐01_2012-‐06-‐15.html>.
acesso
em:
21
ago.
2012.
14. 06
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Com
base
no
texto
1,
explique
a
noção
de
“senso
comum”
representada
no
texto
2.
15. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
O
enunciador
responsável
pela
construção
do
texto
analisado
possui
uma
visão
bastante
nega/va
a
respeito
do
senso
comum,
na
medida
em
que
o
apresenta
como
um
monstro.
Na
charge
em
análise,
o
“senso
comum”
dá
segurança
e
comodidade
às
pessoas.
A
sensação
de
conforto
a
ele
atribuída
advém
do
fato
de
que,
se
se
apoiar
nele,
não
será
necessário
pensar.
Ele
desobriga
o
indivíduo
de
enfrentar
a
solidão
[a
personagem
que
está
fora
do
senso
comum
está
isolada,
sozinha],
os
perigos
da
realidade
e
o
embate
de
ideias
com
outras
pessoas.
Tais
argumentos
são
reforçados
pela
fala
da
personagem
que
está
no
interior
do
“monstro”:
“aqui
dentro
é
tão
mais
quen/nho”.
16. TEXTO 01
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Antes,
minha
mãe,
com
muito
afago,
fa/ava
o
tomate
em
cruz,
adivinhando
os
gomos
que
os
olhos
não
desvendavam,
mas
a
imaginação
alcançava.
Isso,
depois
de
banhá-‐los
em
água
pura
e
enxugá-‐los
em
pano
de
prato
alvejado,
puxando
seu
brilho
para
o
lado
do
sol.
Cortados
em
cruzes
eles
se
transfiguravam
em
pequenas
embarcações
ancoradas
na
baía
da
travessa.
E
barqueiros
eram
as
sementes,
ves/das
em
resina
de
limo
e
brilho.
Pousado
sobre
a
língua,
o
pequeno
barco
suscitava
um
gosto
de
palavra
por
dizer-‐se.
Há,
sim,
outras
palavras
mais
doces
que
o
açúcar.
QUEIRÓS,
Bartolomeu
Campos
de.
Vermelho
amargo.
São
Paulo:
Cosac
Naify,
2011.
p.
14-‐15.
17. TEXTO 02
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Três.
Um
tomate
se
fazia
suficiente,
agora,
para
duas
refeições.
Uma
metade
ela
cortava
–
com
seu
resto
de
fúria
–
para
compor
os
três
impérios
do
almoço:
um
prato
do
pai,
um
prato
do
filho
e
mais
um
para
seu
espírito
san/ficado
pelo
ciúme.
A
outra
metade
do
bendito
fruto
ela
preservava
para
repe/r
o
mesmo
ritual
no
jantar.
Dividido
por
três,
um
terço
do
tomate
era
des/nado
ao
meu
rosário
de
pesares.
QUEIRÓS,
Bartolomeu
Campos
de.
Vermelho
amargo.
São
Paulo:
Cosac
Naify,
2011.
p.
64.
18. 07
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Considerando
o
enredo
da
obra
Vermelho
amargo,
DISCUTA
como
se
confrontam
as
imagens
da
mãe
e
da
madrasta
na
perspec/va
do
narrador.
19. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
No
livro
de
Bartolomeu
Campos
de
Queirós,
o
locutor
apresenta
as
imagens
da
mãe
e
da
madrasta
de
modo
bastante
diverso.
A
mão
é
associada
à
bondade
e
ao
carinho.
Ela
é
a
fada
madrinha
que
coroou
a
vida
do
menino
de
amor
e
de
poesia.
A
madrasta
está
associada
à
parcimônia,
à
economia,
à
contenção
[de
amor,
de
lirismo,
de
despesas]
e
à
incapacidade
de
amar.
O
tomate
é
a
figura
que
medeia
a
relação
entre
o
menino
e
as
mulheres.
Posto
isso,
é
possível
afirmar
que
o
modo
como
elas
se
relacionam
com
o
fruto
acaba
por
metaforizar
a
relação
que
estabelecem
com
as
crianças.
Nos
fragmentos
dados,
percebe-‐se
que
enquanto
a
mãe
afaga
o
tomate
o
lava
em
água
pura,
a
madrasta
age
de
forma
mecânica
e
parcimoniosa,
o
que
intensifica
o
sofrimento
do
narrador.
20. 07
prova aberta de língua portuguesa e literatura
IDENTIFIQUE
elementos
do
texto
2
por
meio
dos
quais
o
autor
aproxima
sua
prosa
da
poesia.
21. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
a prosa poética
A
linguagem
de
Vermelho
amargo
apresenta
alto
grau
de
elaboração,
que
se
manifesta,
principalmente,
por
intermédio
de
recursos
mais
comumente
encontrados
no
texto
poé/co,
tais
como
aliteração
e
metáfora.
Por
isso,
pode-‐se
afirmar
que
se
trata
de
uma
prosa
poé/ca.
os recursos literários
a)
frases
nominais:
“Três”;
b)
metáforas:
“impérios
do
almoço”;
c)
anáfora:
“um
prato
do
pai,
um
prato
do
filho”;
d)
intertextualidade
com
a
oração
“Pai
Nosso”;
e)
aliteração
presente
na
repe/ção
da
consoante
“t”,
na
úl/ma
frase.
22. TEXTO 01
prova aberta de língua portuguesa e literatura
O
MARTÍRIO
DO
ARTISTA
Arte
ingrata!
E
conquanto,
em
desalento,
A
órbita
elipsoidal
dos
olhos
lhe
arda,
Busca
exteriorizar
o
pensamento
Que
em
suas
fronetais
células
guarda!
Tarda-‐lhe
a
Ideia!
A
inspiração
lhe
tarda!
E
ei-‐lo
a
tremer,
rasga
o
papel,
violento,
Como
o
soldado
que
rasgou
a
farda
No
desespero
do
úl/mo
momento!
Tenta
chorar
e
os
olhos
sente
enxutos!...
É
como
o
paralí/co
que,
à
míngua
Da
própria
voz
e
na
que
ardente
o
lavra
Febre
de
em
vão
falar,
com
os
dedos
brutos,
Para
falar,
puxa
e
repuxa
a
língua,
E
não
lhe
vem
à
boca
uma
palavra!
ANJOS,
Augusto
dos.
Eu.
Outras
poesias.
Poesias
esquecidas.
30
ed.
Rio
de
Janeiro:
Livraria
São
José,
1965.
p.
116.
23. TEXTO 02
prova aberta de língua portuguesa e literatura
OFICINA
I
Escrever,
mas
não
por
ter
vontade:
escrever
por
determinação.
Não
que
ainda
haja
necessidade
(se
é
que
já
houve)
de
autoexpressão,
ou
sei
lá
qual
carência
faminta:
toda
veleidade
dessa
espécie
estando
de
longa
data
ex/nta,
resta
o
desejo
(que
se
não
cresce
por
outro
lado
também
não
míngua)
de
estender
frágeis
teias
de
aranha
tecidas
com
os
detritos
da
língua.
Uma
ocupação
inofensiva:
quem
cai
na
teia
sequer
se
arranha.
(E
a
maioria
dela
se
esquiva.)
BRITTO,
Paulo
Henriques.
Formas
do
nada.
São
Paulo:
Companhia
das
Letras,
2012.
p.
13.
24. 08
prova aberta de língua portuguesa e literatura
EXPLIQUE
o
significado
da
palavra
“língua”
em
cada
um
dos
poemas.
25. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
No
poema
“Markrio
do
ar/sta”,
de
Augusto
dos
Anjos,
a
palavra
“língua”
foi
empregada
tanto
de
modo
denota/vo,
para
se
referir
ao
órgão
responsável
pela
fala,
quanto
de
forma
conota/va,
para
se
referir
à
linguagem.
A
referência
ao
ato
de
puxar
e
repuxar
a
língua
metaforiza
o
fazer
poé/co,
visto
aqui
como
a/vidade
di~cil,
engenhosa,
não
natural.
Em
“Oficina
I”,
por
outro
lado,
empregou-‐se
o
vocábulo
“língua”
exclusivamente
de
modo
conota/vo,
com
o
intuito
de
se
falar
da
linguagem,
de
um
sistema
de
comunicação
verbal.
Os
“detritos
da
língua”,
metaforicamente,
remetem
à
linguagem
co/diana,
prosaica,
que
seria
capaz,
de
acordo
com
o
sujeito
poé/co
de
dar
novos
sen/dos
à
palavra
e
à
poesia.
26. 09
prova aberta de língua portuguesa e literatura
COMPARE
as
concepções
de
escrita
que
os
dois
poemas
apresentam
a
par/r
dos
termos
“inspiração”
e
“determinação”.
27. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
As
concepções
acerca
do
fazer
poé/co
expressas
nos
dois
poemas
são
totalmente
diversas.
Enquanto
nos
versos
de
Augusto
dos
Anjos
entrevê-‐se
uma
dificuldade
de
composição
do
poema
causada
pelo
fato
de
o
“ar/sta”
não
estar
inspirado
–
mo/vo
maior
do
seu
markrio
–,
no
texto
de
Paulo
Henriques
Briro,
defende-‐se
a
tese
segundo
a
qual,
para
escrever,
é
preciso
ter
“determinação”.
A
concepção
poé/ca
de
Anjos
associa
o
trabalho
poé/co
à
inspiração,
a
uma
força
que
está
fora
do
poeta
e
que
o
toca
no
momento
da
composição
literária.
Para
Briro,
entretanto,
a
criação
literária
é
um
trabalho
de
linguagem
que
é
executado
de
forma
consciente
pelo
poeta.