3. Diz a Bíblia: o homem nasceu do barro. Aqui, há bebês nascendo da farinha. Pílula
an?concepcional falsificada. Num país onde falta alimento e há crianças demais, o uso da
farinha em cápsulas é sem dúvida um contrassenso. Gilka estava grávida. O namorado se
chamava Nunes e era padeiro. Gilka não queria o aborto. Nunes ?nha um plano. “Quando
nascer, jogo no forno da padaria.” O bebê veio ao mundo. Parecia uma mistura de Bebeto com
Ronaldinho. Nunes desis?u do infan?cídio: "Dou um voto de confiança no moleque”. É preciso
confiar menos na pílula e mais no ser humano.
SOUZA, Voltaire de. Filho da farinha. Folha de S. Paulo, São Paulo, 3 jul.1998. Folha Ilustrada, p. 2.
FILHO DA FARINHA
Língua Portuguesa, UFMG-1999
4. A par?r dessa leitura, REDIJA um texto, jus?ficando o atulo do conto, com base no jogo de
ideias em torno do qual se estrutura a narra?va.
QUESTÃO 01
Língua Portuguesa, UFMG-1999
5. lendo o título
SOLUÇÃO COMENTADA
Língua Portuguesa, UFMG-1999
01) farinha/barro – pó [nascer do barro/nascer da farinha = nascer do pó]: Bíblia: “Tu és pó…”;
02) farinha/pílula an?concepcional falsificada: nascer da farinha X pílula de não-nascer;
03) farinha/alimento X fome;
04) farinha/pão – padeiro: nascer da farinha = nascer do padeiro;
05) nascer X não ser abortado;
06) nascer do padeiro e da farinha, feito o pão X morrer assado, como o pão;
07) ser como o pão, mistura de farinha/ser mistura de Bebeto com Ronaldinho.
6. estruturando a paragrafação
SOLUÇÃO COMENTADA
Língua Portuguesa, UFMG-1999
O texto deveria jus?ficar o atulo do conto em função das relações entre: a) farinha e barro [pó];
b) farinha/pílula an?concepcional falsificada; c) farinha e alimento [sem o qual não se sobrevive];
d) farinha e pão/padeiro, que acarretam a equivalência entre nascer do barro,
e) ser filho d farinha é ser resultado da farinha da pílula e, ao mesmo tempo, é ser filho d padeiro.
nascer da farinha e nascer do padeiro; nasce-se porque a pílula an?concepcional é falsificada;
10. a coesão lexical
SOLUÇÃO COMENTADA
Língua Portuguesa, UFMG-1999
O trecho em destaque foi construído a par?r da seleção de palavras que apresentam
proximidade semân?ca [coesão lexical], ou seja, ao invés de usar ar?culadores e explicitar as
relações de sen?do entre as orações, o locutor escolheu palavras seman?camente próximas
[campo semân?co] para ar?cular seu texto, como se pode ver em: “grávida”, “namorado”,
“aborto”, “plano” e “nascer” e ainda em: “padeiro”, “forno” e “padaria”.
11. possíveis reescritas
SOLUÇÃO COMENTADA
Língua Portuguesa, UFMG-1999
Gilka estava grávida de um namorado que se chamava Nunes e era padeiro. como ele queria
que ela provocasse um aborto, mas ela não aceitou essa ideia, ele planejou matar a criança,
jogando-a no formo da padaria.
Gilka estava grávida de padeiro chamado Nunes, que não desejava o filho e pretendia que ela
abortasse. Como ela se recusou a fazer isso, ela planejou jogar a criança no forno da padaria,
para matá-la, assim que nascesse.
Gilka engravidou de seu namorado, um padeiro chamado Nunes. Ela queria ter a criança, mas
ele, não. Por isso, ele planejou matar o filho logo que nascesse, jogando-o no forno da padaria.
15. A par?r dessa leitura, REDIJA um texto
QUESTÃO 03
Língua Portuguesa, UFMG-1999
a) explicando as acepções em que a palavra cole?vo é empregada na ?rinha;
b) relacionando os pontos que aproximam e os que dis?nguem essas acepções, nos dois textos;
c) analisando o efeito de sen?do ob?do pelo emprego dessa palavra na ?rinha.
16. comentando a letra “a”
SOLUÇÃO COMENTADA
Língua Portuguesa, UFMG-1999
A palavra “cole?vo” aparece u?lizada, na ?rinha, nas acepções 3 e 5;
comentando a letra “b”
Nos dois primeiros quadrinhos, prevaleceu a acepção 3: a palavra alude à classificação grama?cal
para a linguagem coloquial do Brasil; trata-se de um brasileirismo.
dos substan?vos e se refere ao universo escolar, ao discurso pedagógico e à gramá?ca norma?va.
No terceiro quadrinho, prevaleceu a acepção 5: não se aponta para o discurso pedagógico, mas
comentando a letra “c”
A contraposição gera um efeito de surpresa, de desvio, que produz humor; a percepção do
sen?do 3, na ?rinha, se apoia na ilustração – ônibus cheio de gente –, que remete às acepções
1 e 2; tal crí?ca intenta a sa?rizar o fato de os cole?vos andarem sempre lotados.
20. discutindo a gramática tradicional
SOLUÇÃO COMENTADA
Língua Portuguesa, UFMG-1999
Veja que a concepção de língua como um objeto estanque, expressa em servem para ligar
simplesmente, é insuficiente para que se possam compreender os fenômenos linguís?cos com
que lidamos no dia-a-dia.
Nas frases anteriores, percebe-se que o “e” pode assumir outros valores que não os
“canonizados” pela gramá?ca tradicional.
Na primeira frase, a conjunção funciona como um sequenciador [temporal], indicando que
primeiro ele pegou o copo, depois tomou um gole de água.
Já no segundo enunciado, a mesma conjunção acaba por assumir um valor consecu?vo,
sugerindo que alguém deixou a janela aberta, por isso o ladrão entrou em casa.
No terceiro contexto frasal, percebe-se que o conec?vo “e” tem valor adversa?vo: ou seja, ele é
competente, mas está desempregado.