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CINZAS DO
  NORTE
 MILTON HATOUN
MILTON HATOUN
Relato sobre a vida de Mundo, nascido
em Manaus, cujo sonho era ser pintor.

Brigas entre Trajano (Jano) Mattoso e eu
filho Mundo.

História de Alícia e seu envolvimento
com a família de Lavo.

Amizade de Lavo e Mundo.
FOCO NARRATIVO
 Tipologia de Friedman , o narrador de
 Cinzas do Norte é um Narrador-
 Testemunha (narração homodiegética, de
  acordo com Gerard Genette).
 Narrador do romance é Lavo, no entanto,
  no cap. 16 e no epílogo, quem narra é
  Mundo, portanto, o narrador passa a ser
  homodiegético, de acorodo com Genette.
 Hatoum parte da testemunha para tentar
  dizer ao leitor que sua narrativa é real, que
  ela de fato ocorreu.
“O que eu lembrava do primeiro encontro: o
 cinturão, grosso, cinza-escuro, quase da cor dos
 olhos.” (HATOUM 2005, p.20, grifos nossos)

“ „Já és um rapaz, Lavo. Nossa conversa vai ser
  entre homens.‟[...] Então me fez jurar que não
  contaria nada aos meus tios” (idem, p.35)

“Falava com entusiasmo de artistas famosos e de
 anônimos, e parecia embriagado pelas imagens. ”
 (idem, p.20, grifos nossos)
“ Mundo repetia que queria dormir; depois
perguntava por um amigo do internato, o Cará.
Na cama, continuou falando dele. Esfaqueava
um porco-do-mato, mordia um pedaço de
fígado cru e estendia as mãos sangrentas para os
oficiais. [...] Mundo começou a rir e tossir, e os
olhos de sua mãe cresceram, me interrogando:
que doideira era aquela? O que tinham feito
com seu filho? Eu não sabia de nada, que fosse
perguntar ao diretor do colégio. (HATOUM,
2005, p.132, grifos nossos)
Paralelamente à narrativa de Lavo, há a carta
de Tio Ran para Mundo, em que há a rememoração
de um passado anterior ao início da história narrada.

    Tal carta é diferenciada, graficamente, dos
capítulos de Lavo. Além disso, não há a numeração
de capítulos.

    A narrativa de tio Ranulfo é intercalada aos
capítulos escritos por Lavo.

   Neste caso, o narrador também é testemunha
“A notícia do casamento de sua mãe atraiu
 jornalistas e fotógrafos para um lugar esquecido:
 o Jardim dos Barés. Eles chegaram de canoa e
 subiram o barranco por uma escadinha de
 madeira;[...]” (HATOUM, 2005, p.111)

“Lembro daquela noite de setembro o céu
 estava apagado, o aguaceiro do dia deixara a
 mata e a terra molhadas, e eu me escondi para
 ver quem ia sair de casa, se algum homem...”
 (idem, p.51)
MUNDO (Raimundo)
“um jovem artista visual que nasce e cresce na Amazônia e dela parte
para Alemanha e Inglaterra, mais para perder o mundo do que para
ganhá-lo”. (CRISTO,2007 p.357)

 “Antes de conviver com Mundo no ginásio Pedro II, eu o vi uma vez
no centro da praça São Sebastião: magricelo, cabeça quase raspada,
sentado nas pedras que desenhavam ondas pretas e
brancas.[...];olhava o barco do monumento e desenhava com uma
cara de espanto, mordendo os lábios e movendo a cabeça com
meneios rápidos como os de uma pássaro.”(HATOUM, 2005, p.12)

“O narrador, de forma discreta, vai criando um clima de empatia,
apresentando a personagem principal de maneira convincente e
levando o leitor a enxergar, por um prisma ao mesmo tempo discreto
e fascinado, a figura do protagonista.” (BRAIT, 1999,p .6 4)
Como podemos observar no trecho acima.
LAVO (Olavo)
Órfão, criado por sua tia Ramira e seu tio Ran, é um
advogado acomodado que sabe que nunca vai deixar sua
cidade.
Amigo de Mundo desde a infância, Lavo o conhece no
colégio Pedro II e passa a freqüentar sua casa.

TIO RAN (Ranulfo)
“Lembro que, em plena tarde, de um dia de semana, Ramira
o encontrou lendo e fazendo anotações a lápis numa tira de
papel de seda branco. Perguntou por que ele lia e escrevi em
vez de ir atrás de trabalho.
„Estou trabalhando, mana‟, disse tio Ran. „Trabalho com a
imaginação dos outros e com a minha.‟”(HATOUM, 2005
p. 24)
TIA RAMIRA
É uma costureira resignada, apaixonada por Jano.
“Alicia falou antes de mim: „Ramira sempre foi cobra na cozinha e na
costura. Cobra em tudo o que faz. Aliás, bem diferente da tua mãe.
Levantou com o copo na mão e continuou: “[...] Ramira sempre foi
esquisita, morria de ciúme da tua mãe, de todos...” (HATOUM, 2005, p.
31)

ALICIA
“... a mulher reapareceu, sozinha, o cabelo ondulado úmido; a blusa de
seda, molhada, provocou assobios dos veteranos. A morena de cerca de
trinta anos desceu com pressa a escadaria; na calçada abriu a sombrinha e
aproximou o rosto das grades de ferro. Viu-me encostado a uma coluna e
me chamou: era um absurdo não ir visitá-la, mas de agora em diante eu
não teria mais desculpas, seu filho ia estudar no Pedro II.
Concordei com um gesto tímido, e ela ainda disse: “Penso na tua mãe
como se estivesse viva”. Era Alicia, a mãe de Mundo.”(idem, p.13)
JANO (Trajano)
“Era a segunda vez que o via de muito perto, os olhos
miúdos acinzentados e a testa enrugada como se estivesse
sempre franzida. Em poucos anos a doença o envelhecera
mas a pose era a mesma. A camisa de linha engomada, azul
com botões de madrepérola; a calça branca, larga. O que
eu lembrava do primeiro encontro: o cinturão, grosso,
cinza-escuro, quase da cor dos olhos.” (HATOUM, 2005,
p. 20)

FOGO: Cachorro de Jano.
“O cachorro tinha na pelagem umas manchas amareladas
que o menino detestava porque um dia o pai dissera:
„Manchas que brilham que nem ouro. Aliás, Fogo é um
dos meus tesouros.‟”( idem, p. 11)
ARANA
Artista e espécie de “guru” de Mundo que faz arte com
“causa social”, objetos lindos como “peças
marajoaras”que vende a preço de ouro aos
estrangeiros. Com quem Mundo também se
decepciona. (CRISTO, 2007, p. 359)

“Um assobio mais nítido, e então surgiu um homem
alto e descabelado, feições arredondadas, olhos
miúdos. Descalço, só de bermuda, mãos amareladas
de serragem. Abriu os braços num gesto exagerado,
me abraçou e disse com voz grave: „Deves ser o amigo
de Mundo, não é? Vamos entrar. Mais um jovem no
ateliê do Arana.‟” (HATOUM, 2005, p. 41)
MACAU
 “Macau, que as vezes aparecia de paletó
branco, também era respeitado. Poucas
clientes da costureira tinham chofer,
...”(HATOUM, 2005, p. 38)
NAIÁ
“Ela (Alícia) riu e me encarou: „Não queres
provar a sobremesa de Naiá? A Naiá faz
tudo. E ainda tem tempo para mimar meu
filho‟.”(idem, p. 31)
Tempo da história ≠ tempo do
 discurso
Início da história: década de 60
Fim da história: começo da
 década de 80
Livro de mémorias, como
 Relato de um certo Oriente
 (1989)
 “[...] mas eu não quis saber a data nem
     a hora: detalhes que não interessam”
     (HATUOM, 2005, p.9)
    Algumas datas:
1.   1961: mudança de Lavo e sua família
     para a Vila Olímpia;
2.   1964: quando Lavo e Mundo
     começam a estudar juntos no colégio
     Pedro II;
3.   1973(8): Morte de Jano;
4.   Agosto de 1980: morte de Mundo.
Narrativa de Lavo: linear,
com alguns momentos de
rememoração (passado
contado por tia Ramira, tio
Ran, Alícia, Jano) e algumas
prolepses.
 “No início de 1961, quando nos
 mudamos para o centro, o Morro da
 Catita ainda era formado de chácaras e
 casinhas esparsas” (HATOUM, 2005,
 p.23)

 “Cresci ouvindo meus tios brigarem por
 causa e Alícia” (idem, p. 24)

 “ „De qualquer forma‟, disse ele anos
 mais tarde” (idem, p.27)
“Foi só um sopro, pois 1973 acabou
com um acúmulo de infortúnios e
uma despedida” (HATOUM, 2005,
p.169)

“Quando o Electra prateado decolou,
fiquei pensando na promessa de
Alícia: depois da morte de Jano, ela
nunca mais viria a Manaus...Mas eu
ainda tinha esperança de rever
Mundo” (idem, p.214)
“Foi só um sopro, pois 1973 acabou
 com um acúmulo de infortúnios e uma
 despedida” (HATOUM, 2005, p.69)

“Quando o Electra prateado decolou,
 fiquei pensano na promessa de Alícia:
 depois da morte de Jano, ela nunca
 mais viria a Manaus...Mas eu ainda
 tinha esperança de rever Mundo”
 (idem, p.214)
A carta de tio Ran não é linear,
 ocorrem analepses nas quais há a
 narração da origem de Alícia, o
 relato de fatos ocorridos na
 infância de Mundo, além da vida
 e do passado do próprio Tio
 Ran.
“No oitavo mês de gravidez, tua mãe
 pediu a Jano que adiasse uma viagem
 à Vila Amazônia” (HATOUM, 2005,
 p. 215)

“Lembro daquela noite de setembro o
 céu estava apagado, o aguaceiro do
 dia deixara a mata e a terra molhadas,
 e eu me escondi para ver quem ia sair
 de casa, se algum homem...” (idem,
 2005, p.51)
 Nos capítulos 16 e 20 (epílogo), em que
 há a narração feita por Mundo, há a
 apresentação de fatos recentes, porém
 todos eles são relacionados a
 momentos e sensações da personagem
 vivida no passado. A última carta
 apresenta, em meio aos devaneios, fatos
 do passado, lembranças esparsas, além
 da narração de Alícia sobre a origem de
 Mundo (passado anterior à narrativa)
“Se soubesse que o herdeiro da Vila
Amazônia virou um biscateiro...
Lembro que Ranulfo me dizia para
recusar trabalhos tediosos e mal
remunerados.” (HATOUM, 2005,
p.245)

“Lembro de meus amigos fazendo
uma encenação maluca perto da
Remnant Street”(idem, p.307)
“O tempo, que se atirava ferozmente
contra mim, dava a ela um ultimato. Eu e
minha mãe, reféns um do outro, nós dois
reféns do tempo” (HATOUM, 2005,
p.308)

“Pensei em reescrever minha vida de trás
para frente, de ponta-cabeça, mas não
posso, mal consigo rabiscar, as palavras
são manchas no papel, e escrever é quase
um milagre...” (idem, p.9 e p.331)
“Ele me mostrou as
 telas...estava empolgado,
 orgulhoso; eu implorei pra ele
 tirar aquele ódio da alma.
 Disse que não ia tirar o que
 sobrara da vida... „Memórias‟,
 ele disse.” (HATOUM, 2005,
 p.293)
“Antes de mais uma viagem a rio Negro, ele
 me entregou o manuscrito, dizendo com
 ansiedade: “Publica logo o relato que
 escrevi. Publica com todas as letras...em
 homenagem à memória de Alícia e de
 Mundo.
     Atendi ao pedido do meu tio, mas não
 com a urgência exigida por ele – esperei
 muito tempo. Como epílogo, acrescentei a
 carta que Mundo me escreveu, antes do fim”
 (HATOUM, 2005, p.303)
Manaus na década de 1960
Região Central de Manaus em 1964
Colégio Pedro II em Manaus
 Temas recorrentes na obra:
 Revolta

 Trabalho versus Sonho

 Afeto versus Sangue

 Loucura

 Medo
BRAIT, Beth. A personagem. 7ª ed. São Paulo: Editora
Ática, 1999.
 CANDIDO, Antonio, et. al. A personagem de ficção. 9ª
ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1998.
CRISTO, Maria da Luz Pinheiro de (Org.). Arquitetura da
Memória: ensaios sobre os romances Dois Irmãos, Relato
de um Certo Oriente e Cinzas do Norte de Milton
Hatoum. Manaus: Editora da Universidade Federal do
Amazonas, 2007, p. 356-360.
HATOUM, Milton. Cinzas do Norte. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco Narrativo. 9ª
edição. São Paulo: Ática, 1999. (Série Princípios, 4)
 RIBEIRO, Milton. Cinzas do Norte, de Milton Hatoum.
2009. Disponível em:
http://miltonribeiro.opsblog.org/2009/03/30/cinzas-do-
norte-de-milton-hatoum/. Acesso em: 16/06/10
 SÉRGIO, Ricardo. A Personagem na Narrativa. Disponível
em:
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/420168.
Acesso em: 16/06/10
TELAROLLI, Sylvia. O Norte da Memória. Revista de
Linguagem, Cultura e Discurso. ano 4, n. 7, julho-dezembro
2007. Disponível em:
http://www.unincor.br/recorte/artigos/edicao7/7_artigo_syl
viatelarolli.htm. Acesso em: 16/06/10.
http://www.youtube.com/watc
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Memorial do convento_[1]
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Cinzas do norte

  • 1. CINZAS DO NORTE MILTON HATOUN
  • 2.
  • 3.
  • 5.
  • 6.
  • 7. Relato sobre a vida de Mundo, nascido em Manaus, cujo sonho era ser pintor. Brigas entre Trajano (Jano) Mattoso e eu filho Mundo. História de Alícia e seu envolvimento com a família de Lavo. Amizade de Lavo e Mundo.
  • 9.  Tipologia de Friedman , o narrador de Cinzas do Norte é um Narrador- Testemunha (narração homodiegética, de acordo com Gerard Genette).  Narrador do romance é Lavo, no entanto, no cap. 16 e no epílogo, quem narra é Mundo, portanto, o narrador passa a ser homodiegético, de acorodo com Genette.  Hatoum parte da testemunha para tentar dizer ao leitor que sua narrativa é real, que ela de fato ocorreu.
  • 10. “O que eu lembrava do primeiro encontro: o cinturão, grosso, cinza-escuro, quase da cor dos olhos.” (HATOUM 2005, p.20, grifos nossos) “ „Já és um rapaz, Lavo. Nossa conversa vai ser entre homens.‟[...] Então me fez jurar que não contaria nada aos meus tios” (idem, p.35) “Falava com entusiasmo de artistas famosos e de anônimos, e parecia embriagado pelas imagens. ” (idem, p.20, grifos nossos)
  • 11. “ Mundo repetia que queria dormir; depois perguntava por um amigo do internato, o Cará. Na cama, continuou falando dele. Esfaqueava um porco-do-mato, mordia um pedaço de fígado cru e estendia as mãos sangrentas para os oficiais. [...] Mundo começou a rir e tossir, e os olhos de sua mãe cresceram, me interrogando: que doideira era aquela? O que tinham feito com seu filho? Eu não sabia de nada, que fosse perguntar ao diretor do colégio. (HATOUM, 2005, p.132, grifos nossos)
  • 12. Paralelamente à narrativa de Lavo, há a carta de Tio Ran para Mundo, em que há a rememoração de um passado anterior ao início da história narrada. Tal carta é diferenciada, graficamente, dos capítulos de Lavo. Além disso, não há a numeração de capítulos. A narrativa de tio Ranulfo é intercalada aos capítulos escritos por Lavo. Neste caso, o narrador também é testemunha
  • 13. “A notícia do casamento de sua mãe atraiu jornalistas e fotógrafos para um lugar esquecido: o Jardim dos Barés. Eles chegaram de canoa e subiram o barranco por uma escadinha de madeira;[...]” (HATOUM, 2005, p.111) “Lembro daquela noite de setembro o céu estava apagado, o aguaceiro do dia deixara a mata e a terra molhadas, e eu me escondi para ver quem ia sair de casa, se algum homem...” (idem, p.51)
  • 14.
  • 15. MUNDO (Raimundo) “um jovem artista visual que nasce e cresce na Amazônia e dela parte para Alemanha e Inglaterra, mais para perder o mundo do que para ganhá-lo”. (CRISTO,2007 p.357) “Antes de conviver com Mundo no ginásio Pedro II, eu o vi uma vez no centro da praça São Sebastião: magricelo, cabeça quase raspada, sentado nas pedras que desenhavam ondas pretas e brancas.[...];olhava o barco do monumento e desenhava com uma cara de espanto, mordendo os lábios e movendo a cabeça com meneios rápidos como os de uma pássaro.”(HATOUM, 2005, p.12) “O narrador, de forma discreta, vai criando um clima de empatia, apresentando a personagem principal de maneira convincente e levando o leitor a enxergar, por um prisma ao mesmo tempo discreto e fascinado, a figura do protagonista.” (BRAIT, 1999,p .6 4) Como podemos observar no trecho acima.
  • 16. LAVO (Olavo) Órfão, criado por sua tia Ramira e seu tio Ran, é um advogado acomodado que sabe que nunca vai deixar sua cidade. Amigo de Mundo desde a infância, Lavo o conhece no colégio Pedro II e passa a freqüentar sua casa. TIO RAN (Ranulfo) “Lembro que, em plena tarde, de um dia de semana, Ramira o encontrou lendo e fazendo anotações a lápis numa tira de papel de seda branco. Perguntou por que ele lia e escrevi em vez de ir atrás de trabalho. „Estou trabalhando, mana‟, disse tio Ran. „Trabalho com a imaginação dos outros e com a minha.‟”(HATOUM, 2005 p. 24)
  • 17. TIA RAMIRA É uma costureira resignada, apaixonada por Jano. “Alicia falou antes de mim: „Ramira sempre foi cobra na cozinha e na costura. Cobra em tudo o que faz. Aliás, bem diferente da tua mãe. Levantou com o copo na mão e continuou: “[...] Ramira sempre foi esquisita, morria de ciúme da tua mãe, de todos...” (HATOUM, 2005, p. 31) ALICIA “... a mulher reapareceu, sozinha, o cabelo ondulado úmido; a blusa de seda, molhada, provocou assobios dos veteranos. A morena de cerca de trinta anos desceu com pressa a escadaria; na calçada abriu a sombrinha e aproximou o rosto das grades de ferro. Viu-me encostado a uma coluna e me chamou: era um absurdo não ir visitá-la, mas de agora em diante eu não teria mais desculpas, seu filho ia estudar no Pedro II. Concordei com um gesto tímido, e ela ainda disse: “Penso na tua mãe como se estivesse viva”. Era Alicia, a mãe de Mundo.”(idem, p.13)
  • 18. JANO (Trajano) “Era a segunda vez que o via de muito perto, os olhos miúdos acinzentados e a testa enrugada como se estivesse sempre franzida. Em poucos anos a doença o envelhecera mas a pose era a mesma. A camisa de linha engomada, azul com botões de madrepérola; a calça branca, larga. O que eu lembrava do primeiro encontro: o cinturão, grosso, cinza-escuro, quase da cor dos olhos.” (HATOUM, 2005, p. 20) FOGO: Cachorro de Jano. “O cachorro tinha na pelagem umas manchas amareladas que o menino detestava porque um dia o pai dissera: „Manchas que brilham que nem ouro. Aliás, Fogo é um dos meus tesouros.‟”( idem, p. 11)
  • 19. ARANA Artista e espécie de “guru” de Mundo que faz arte com “causa social”, objetos lindos como “peças marajoaras”que vende a preço de ouro aos estrangeiros. Com quem Mundo também se decepciona. (CRISTO, 2007, p. 359) “Um assobio mais nítido, e então surgiu um homem alto e descabelado, feições arredondadas, olhos miúdos. Descalço, só de bermuda, mãos amareladas de serragem. Abriu os braços num gesto exagerado, me abraçou e disse com voz grave: „Deves ser o amigo de Mundo, não é? Vamos entrar. Mais um jovem no ateliê do Arana.‟” (HATOUM, 2005, p. 41)
  • 20. MACAU “Macau, que as vezes aparecia de paletó branco, também era respeitado. Poucas clientes da costureira tinham chofer, ...”(HATOUM, 2005, p. 38) NAIÁ “Ela (Alícia) riu e me encarou: „Não queres provar a sobremesa de Naiá? A Naiá faz tudo. E ainda tem tempo para mimar meu filho‟.”(idem, p. 31)
  • 21.
  • 22. Tempo da história ≠ tempo do discurso Início da história: década de 60 Fim da história: começo da década de 80 Livro de mémorias, como Relato de um certo Oriente (1989)
  • 23.  “[...] mas eu não quis saber a data nem a hora: detalhes que não interessam” (HATUOM, 2005, p.9)  Algumas datas: 1. 1961: mudança de Lavo e sua família para a Vila Olímpia; 2. 1964: quando Lavo e Mundo começam a estudar juntos no colégio Pedro II; 3. 1973(8): Morte de Jano; 4. Agosto de 1980: morte de Mundo.
  • 24. Narrativa de Lavo: linear, com alguns momentos de rememoração (passado contado por tia Ramira, tio Ran, Alícia, Jano) e algumas prolepses.
  • 25.  “No início de 1961, quando nos mudamos para o centro, o Morro da Catita ainda era formado de chácaras e casinhas esparsas” (HATOUM, 2005, p.23)  “Cresci ouvindo meus tios brigarem por causa e Alícia” (idem, p. 24)  “ „De qualquer forma‟, disse ele anos mais tarde” (idem, p.27)
  • 26. “Foi só um sopro, pois 1973 acabou com um acúmulo de infortúnios e uma despedida” (HATOUM, 2005, p.169) “Quando o Electra prateado decolou, fiquei pensando na promessa de Alícia: depois da morte de Jano, ela nunca mais viria a Manaus...Mas eu ainda tinha esperança de rever Mundo” (idem, p.214)
  • 27. “Foi só um sopro, pois 1973 acabou com um acúmulo de infortúnios e uma despedida” (HATOUM, 2005, p.69) “Quando o Electra prateado decolou, fiquei pensano na promessa de Alícia: depois da morte de Jano, ela nunca mais viria a Manaus...Mas eu ainda tinha esperança de rever Mundo” (idem, p.214)
  • 28. A carta de tio Ran não é linear, ocorrem analepses nas quais há a narração da origem de Alícia, o relato de fatos ocorridos na infância de Mundo, além da vida e do passado do próprio Tio Ran.
  • 29. “No oitavo mês de gravidez, tua mãe pediu a Jano que adiasse uma viagem à Vila Amazônia” (HATOUM, 2005, p. 215) “Lembro daquela noite de setembro o céu estava apagado, o aguaceiro do dia deixara a mata e a terra molhadas, e eu me escondi para ver quem ia sair de casa, se algum homem...” (idem, 2005, p.51)
  • 30.  Nos capítulos 16 e 20 (epílogo), em que há a narração feita por Mundo, há a apresentação de fatos recentes, porém todos eles são relacionados a momentos e sensações da personagem vivida no passado. A última carta apresenta, em meio aos devaneios, fatos do passado, lembranças esparsas, além da narração de Alícia sobre a origem de Mundo (passado anterior à narrativa)
  • 31. “Se soubesse que o herdeiro da Vila Amazônia virou um biscateiro... Lembro que Ranulfo me dizia para recusar trabalhos tediosos e mal remunerados.” (HATOUM, 2005, p.245) “Lembro de meus amigos fazendo uma encenação maluca perto da Remnant Street”(idem, p.307)
  • 32. “O tempo, que se atirava ferozmente contra mim, dava a ela um ultimato. Eu e minha mãe, reféns um do outro, nós dois reféns do tempo” (HATOUM, 2005, p.308) “Pensei em reescrever minha vida de trás para frente, de ponta-cabeça, mas não posso, mal consigo rabiscar, as palavras são manchas no papel, e escrever é quase um milagre...” (idem, p.9 e p.331)
  • 33. “Ele me mostrou as telas...estava empolgado, orgulhoso; eu implorei pra ele tirar aquele ódio da alma. Disse que não ia tirar o que sobrara da vida... „Memórias‟, ele disse.” (HATOUM, 2005, p.293)
  • 34. “Antes de mais uma viagem a rio Negro, ele me entregou o manuscrito, dizendo com ansiedade: “Publica logo o relato que escrevi. Publica com todas as letras...em homenagem à memória de Alícia e de Mundo. Atendi ao pedido do meu tio, mas não com a urgência exigida por ele – esperei muito tempo. Como epílogo, acrescentei a carta que Mundo me escreveu, antes do fim” (HATOUM, 2005, p.303)
  • 35.
  • 36.
  • 37. Manaus na década de 1960
  • 38. Região Central de Manaus em 1964
  • 39. Colégio Pedro II em Manaus
  • 40.  Temas recorrentes na obra:  Revolta  Trabalho versus Sonho  Afeto versus Sangue  Loucura  Medo
  • 41. BRAIT, Beth. A personagem. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1999. CANDIDO, Antonio, et. al. A personagem de ficção. 9ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1998. CRISTO, Maria da Luz Pinheiro de (Org.). Arquitetura da Memória: ensaios sobre os romances Dois Irmãos, Relato de um Certo Oriente e Cinzas do Norte de Milton Hatoum. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007, p. 356-360. HATOUM, Milton. Cinzas do Norte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
  • 42. LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco Narrativo. 9ª edição. São Paulo: Ática, 1999. (Série Princípios, 4) RIBEIRO, Milton. Cinzas do Norte, de Milton Hatoum. 2009. Disponível em: http://miltonribeiro.opsblog.org/2009/03/30/cinzas-do- norte-de-milton-hatoum/. Acesso em: 16/06/10 SÉRGIO, Ricardo. A Personagem na Narrativa. Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/420168. Acesso em: 16/06/10 TELAROLLI, Sylvia. O Norte da Memória. Revista de Linguagem, Cultura e Discurso. ano 4, n. 7, julho-dezembro 2007. Disponível em: http://www.unincor.br/recorte/artigos/edicao7/7_artigo_syl viatelarolli.htm. Acesso em: 16/06/10.