SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 25
Baixar para ler offline
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
TRATADO SOBRE AS COISAS SAGRADAS
Eduardo Banks
Resumo: O presente trabalho é um escrito da juventude do Filósofo Eduardo Banks,
concluído em 1996, quando o autor contava 17 anos de idade (Registrado na
Biblioteca Nacional em 09.09.1999 sob o nº. 182.036, Lv. 309, Fl. 190) e somente
agora publicado. O Tratado principia narrando como o autor se tornou ateu
(introdução) e depois de definir o alcance do conceito de religião (capítulo I) discorre
sobre a origem do sentimento religioso, denunciando-o como reação de medo primitivo
diante da mortalidade (capítulo II); apresenta o que se deve entender por Deus
(capítulo III) e como se comportar em relação à idéia de que Deus exista,
demonstrando que é mais provável que Deus não exista, mas ainda que Ele seja real,
a crença é perniciosa à busca de uma vida plena (capítulo IV); a seguir discorre sobre
a improbabilidade da sobrevivência da alma (capítulo V) e das falsificações praticadas
pelos autores dos livros sagrados (capítulo VI), concluindo pela superioridade moral do
ateísmo, porque valoriza a existência corporal enquanto o homem religioso sacrifica a
sua felicidade presente visando atingir um futuro hipotético (capítulo VII). O Tratado
perora com um apelo ao agnosticismo, ao ateísmo e ao ceticismo, contra qualquer
sacralidade (conclusão).
Palavras-chave: Religião. Ateísmo. Materialismo. Moral. Revolta Metafísica.
Abstract: This work is a written from a youth of the Philosopher Edward Banks,
completed in 1996, when the author was 17 years old (Listed on the National Library
on 09.09.1999 under no. 182.036, Lv. 309, Fl. 190) and only now published. The
Treatise begins recounting how the author became an atheist (introduction) and then
defining the scope of the concept of religion (Chapter I) discusses the origin of religious
feeling, denouncing it as a reaction of fear in the face of early mortality (Chapter II) ,
presents what is meant by God (chapter III) and how to behave in relation to the idea
that God exists, demonstrating that it is more likely that God does not exist, but that He
is real, the belief is pernicious to search a full life (Chapter IV), then discusses the
unlikelihood of survival of the soul (Chapter V) and forgery committed by the authors of
the sacred books (Chapter VI), concluding the moral superiority of atheism, because it
values the bodily existence while religious man sacrifices his present happiness in
order to reach a hypothetical future (Chapter VII). The Treatise concludes with an
appeal to agnosticism, atheism and skepticism, against any sacredness (conclusion).
Keywords: Religion. Atheism. Materialism. Moral. Metaphysics Revolt.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
Introdução — Apresentação
Começo este livro pedindo ao leitor que não julgues apressadamente as idéias
nele contidas. Para ser compreendido, preciso que o leias todo, ainda que algumas
passagens sejam chocantes aos hábitos de religião; e depois, que medites a respeito
do que leste por um grande espaço de tempo, até assimilar bem as minhas opiniões, e
poder julgá-las imparcialmente. Não será um processo rápido, pois eu mesmo, que
tenho uma inteligência superior às dos homens normais, e uma grande docilidade em
passar por metanóias, precisei de mais de dois anos para assegurar-me do que venho
defender aqui.
Eu, realmente, não tive nenhum motivo pessoal para apostatar de minha
religião, que não a certeza de que ela era falsa1
, assim como todas as outras. Jamais,
em minha vida, sofri alguma desgraça que justificasse a revolta contra a divindade,
tampouco tive qualquer decepção com os líderes de minha antiga religião, ou com os
seus fundamentos; deveria, portanto, ser um homem de fé inabalável2
, o que não sou
pela minha própria vontade, porque decidi questionar a minha fé.
Seguindo o conselho de René Descartes de que devemos ser tão firmes e
resolutos quanto possível em nossas ações, e em seguir as opiniões mais duvidosas,
desde que nos tivéssemos decidido por elas, com não menos constância que se
fossem elas exatíssimas3
, segui meus raciocínios até onde eles puderam levar-me, e
decidi firmemente viver a partir daí conforme o que eu descobrisse ser verdade, por
mais desesperador que fosse, simplesmente porque não faz sentido negar uma
1
O autor, embora tivesse sido batizado segundo os preceitos da Igreja Católica, é filho de espíritas, e foi
educado na religião de seus pais até abjurá-la aos dezesseis anos de idade.
2
Segundo Allan Kardec (1804-1869), “fé inabalável somente o é a que pode encarar frente a frente a
razão, em todas as épocas da Humanidade”. Estava o autor a retorquir à máxima que o professor Rivail
inscreveu no frontispício de O Evangelho Segundo o Espiritismo (1866).
3
Cf. o Discurso do Método, Terceira Parte (1637).
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
afirmação apenas porque ela é avessa às nossas vontades. Fosse o que fosse que eu
descobrisse, haveria que me conformar com o achado, e viver o melhor possível com
ele.
Tudo começou em uma noite de fevereiro, do ano de 1993, enquanto eu
meditava sobre o sentido da frase marxista de que “a religião é o ópio do povo”. Já
havia escutado e lido essa máxima centenas de vezes, sem havê-la compreendido em
momento algum. Naquela noite, porém, dispus-me a pensar no que Karl Marx queria
dizer com ela. Súbito, dei-me conta da tese defendida no segundo capítulo deste livro.
Escrevi um ensaio a respeito dela, mas, tomado pelo horror à blasfêmia, destruí-o
naquela mesma noite. Nos dias seguintes, porém, convencia-me cada vez mais dela
e, sentindo que era verdadeira, aceitei-a, finalmente. Hoje em dia, eu nem sequer me
dou ao trabalho de blasfemar; não acreditando na verossimilhança de Deus, considero
amaldiçoá-Lo a mesma coisa que zurzir uma estátua.
Prosseguindo, no decorrer dos meses, as meditações a respeito do assunto
que escolhera, foram-me expulsando cada vez mais os meus sentimentos religiosos.
Aliado a isto, foi precisamente nessa época que comecei a estudar mais a fundo as
ciências, principalmente a física e a cosmologia, o que me forneceu, aos poucos, as
provas científicas e materiais de que eu precisava para concluir meu sistema. A esse
tempo, já execrava a todas as práticas religiosas e, continuo execrando-as até hoje.
Quando vejo pessoas em oração, ouço falar de coisas como o “amor de Deus” ou,
ainda quando assisto a discursos pudicos de moralistas que atacam a livre
sexualidade, sinto a mesma “cólera justa” de que falavam os pais da Igreja Católica;
um ódio forte, que me enche da vontade de ceifar todas essas práticas com um só
golpe; por razão disto, decidi não guardar minhas conclusões apenas para mim;
decidi-me pelo método investigativo4
, passando pelo agnosticismo, até chegar à
4
No manuscrito segue este trecho riscado: ...dispus-me pelo agnosticismo, que é um estado de dúvida
acerca do que há depois da morte, mas que, para ser franco, é antes um estado de descrença, pois eu
considero muito mais viável que não exista nada do que falam as religiões, como quase todos os
agnósticos.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
escolha pelo materialismo ateu: e tomado por tais sentimentos, dediquei-me a
escrever um livro onde eu poderia relatar minhas conclusões e atrair maior número de
pessoas para elas, esperando, principalmente, estar iniciando um processo pelo qual
se realizará o meu sonho de ver todos os templos do mundo fechados e destruídos, e
sempre lotados os observatórios e faculdades em toda a Terra.
Rio de Janeiro, 22 de junho de 19965
.
Capítulo I — Definição de Religião
Antes de expor qualquer argumento, julgo necessário definir o que é religião,
nos termos deste livro, a fim de evitar gastos inúteis de tempo discutindo o significado
das palavras; portanto, ao menos para este livro, religião é a crença na existência de
Deus, ou de algum ser ou conjunto de seres, de natureza imaterial ou incorpórea que
valham o mesmo que o primeiro, o qual ou os quais são criadores e/ou governantes do
Universo; na existência do espírito ou alma, ou de qualquer forma de preservação da
individualidade e consciência de si mesmo após a morte do corpo humano6
; e na
conseqüente adoração e submissão a Deus ou quejando, não necessariamente com a
prática de culto exterior, organizado para fins dessa adoração e submissão.
Tomando por princípio a definição acima apresentada, quando, neste livro se
fala em religião, com esta palavra se está a referir a todas as religiões, sem distinção
entre elas, posto que, embora difiram entre si, quanto à forma e organização dos
cultos, templos, instruções dos sacerdotes e ideologias7
, todas têm como denominador
comum os elementos acima apresentados, elementos esses que as fazem ser
religiões, e que servem para julgar-lhes o valor.
5
Todo o Tratado Sobre as Coisas Sagradas foi escrito em apenas dez dias, entre 12 e 22 de junho de
1996; o estímulo para o autor foi o filme “Die, Die, My Darling”, produção americana da Hammer (—
“martelo”, em inglês —), famosa produtora de películas de terror. O enredo mostrava uma velha fanática
que mantinha pessoas em cárcere privado em sua mansão, obrigando-as a participar de cultos religiosos
bizarros.
6
Ou, vale mencionar, na absorção da individualidade em um todo universal.
7
Mais adequado seria dizer doutrinas.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
Capítulo II — Da Origem e Natureza das Religiões
Foi definido, linhas acima, o que é religião; baseado nisso, a etapa seguinte é
julgá-la, apurando qual a sua origem, quais os seus propósitos, natureza e finalmente,
quais as suas conseqüências.
Tomo, como ponto de partida, o fato de que jamais houve povos ateus: “lançai
um olhar por toda a superfície da Terra, e podereis achar cidades sem trincheiras, sem
letras, sem magistrados, povos sem habitações, sem uso de dinheiro, mas um povo
sem Deus, sem orações, sem rito religioso, sem sacrifícios, nunca se viu”; tal foi o que
disse Plutarco8
.
Primeiramente, devo advertir que universalidade da religião não é prova de que
ela seja boa coisa, pois, as que hão de ser de mais inefáveis e nefandas são comuns
a toda a humanidade. O amor, o crime, o vício e a virtude, são universais, e também
jamais se viu povo que não tivesse tais instituições no seu seio.
Tais coisas devem a sua universalidade à natureza humana, que é a mesma
em todas as partes. São todos os homens sujeitos às mesmas paixões, tendências e
instintos, em todos os tempos e lugares e, é por isso que semelhantes instituições os
acompanham em todos os lugares e tempos.
No caso da religião, ela deve a sua existência à natureza mortal do Homem,
como ser vivo que é.
Para fazer-se um julgamento coerente e definitivo da religião, deve-se analisar
como ela começou a existir, ainda na Pré-História, entre os trogloditas, e depois, como
ela pôde evoluir para o que hoje é, e ainda, como foi transmitida de uma geração para
outra.
8
Apud Malba Tahan (1895-1974), “Lendas do Céu e da Terra”, página 60, editora Record, 19ª edição, Rio
de Janeiro, 1987.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
Ora, o propósito maior da religião é ensinar o método da redenção espiritual;
entretanto, essa redenção somente é desejável porque os homens, assim como todos
os demais viventes, estão sujeitos a morrer um dia, conforme ordena a Natureza,
determinadora de que tudo o que pode ser criado também pode ser destruído. Os
animais inferiores, e também os vegetais, como são desprovidos de inteligência, não
podem ter consciência disso, e não sentem necessidade da preservação de uma coisa
que eles não têm — a individualidade — e por isso, não fomentam esperanças de uma
redenção.
Os homens, todavia, têm algo a perder com a morte, e ainda antes de tal coisa
tão extrema, a dor, a pobreza e a doença já são o bastante para desesperá-los; os
seus egos não se conformam com a desgraça, e iniciam um processo de resistência.
Louis Pasteur disse que “a maior perturbação mental é acreditar em uma coisa
simplesmente porque a pessoa deseja que seja assim”, e Karl Marx tudo resumiu, ao
dizer que “a religião é o ópio do povo”. Esta última verdade foi a que me converteu
definitivamente para o agnosticismo e, se fosse corretamente analisada pelos homens
como o foi por mim, já teria eliminado de cima do mundo todo e qualquer vestígio
dessa doença.
É aqui, enfim, que entram a minha análise, e o meu julgamento da religião.
O Homem, por covardia, não é capaz de aceitar a realidade de um perigo
iminente, e, quando não pode combatê-lo, aliena sua consciência, com o uso dos
diversos entorpecentes que existem, como o álcool, a maconha e a heroína;
entretanto, o mais vulgar, e geral desses vícios é a religião, livremente praticado pelo
povo e protegido pela Constituição da maioria dos países, para esquecer os seus
problemas, imitando a atitude estereotipada do avestruz escondendo sua cabeça num
buraco; aliás, somente um alienado pode abençoar seus percalços e perseguidores,
em lugar de pôr-se a lutar contra eles; se os homens passassem mais tempo
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
enfrentando os seus problemas, e lutando pela realização de seus desejos, do que
rezando para que um Deus os socorra, mais problemas no mundo seriam resolvidos, e
a humanidade estaria mais feliz, especialmente se ela, pela opinião, pressionasse os
governantes para que fossem mais competentes, em vez de fazer petições a Deus.
Diga-se de passagem, inclusive, que a religião sempre foi usada pelos governantes no
passado, para desviar a atenção da opinião pública e evitar revoluções justas,
estimulando frenesis religiosos para que o povo implorasse ajuda a Deus contra a
peste, a fome e a miséria, em vez de exigir vontade política dos nobres, que eram
aqueles que poderiam verazmente erradicar todos os males, exceto a morte.
Os homens primitivos, os pais da raça humana, apavorados pelos raios,
ciclones, maremotos e demais flagelos da Natureza, dentre os quais a morte,
decidiram reverenciar essas mesmas forças da Natureza, causas de todos os
fenômenos meteorológicos, esperando que as bajulando, poderiam conseguir delas
piedade e clemência (ignorando que eram e são tão cegas e irracionais quanto os
animais que caçavam). A seguir, veio a preocupação com a salvação da alma, a qual
deu origem a mais religiões ainda.
Essa é a fonte única de todas as religiões, antigas e modernas, e vendo-se
como ela é ridícula, podemos afirmar que a religião é uma coisa bem desmoralizada.
Essa natureza covarde ainda subsiste nos homens, porque sempre que ocorre alguma
desgraça, poucos são os que não se entregam às orações e súplicas. Essas práticas
são completamente desnecessárias, parte porque se não existe nenhuma divindade,
as preces não serão ouvidas; e parte porque se existe algum Deus, esse Deus, sendo
o criador do Universo, sabe de antemão o que suas criaturas precisam — já que Ele
as criou — e, caso elas mereçam socorro, serão atendidas sem que precisem pedir.
Os teólogos podem criar justificativas para as práticas de religião, mas estarão
sempre embasadas nos recursos da teologia moderna, pertinentes às religiões
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
modernas9
, que não têm nenhuma relação com as causas que criaram as religiões dos
homens das cavernas, a saber, a pusilanimidade e o medo.
Creio firmemente que a religião é o mais perigoso do vícios, porque ela é o
último estágio da carreira de degradação de qualquer viciado. Todo viciado começa a
destruir-se com substâncias entorpecentes mais suaves, e à medida em que seu
corpo vai-se dessensibilizando, a substância não mais surte o efeito pretendido, e o
infeliz passa para o estágio seguinte de um entorpecente mais ativo. No fim, se ele
não morre vitimado pelo vício, ou é desintoxicado, ou abandona seus prazeres tóxicos
pela fé, que é seu novo vício. Depois, ele dirá: “a fé salvou-me dos entorpecentes”. Em
verdade, a maconha salvou-o do vinho, as anfetaminas da maconha, e a heroína das
anfetaminas.
Não importa o que se diga contra isto. Aqueles que negam esta verdade não
sabem do que falam. A religião é apenas o primeiro vício que a humanidade cultivou, e
ao longo dos séculos, foi transmitido às gerações pela educação. A maior parte das
pessoas, hoje, não crê na religião por medo, mas sim, por hábito. Os pais viciados em
religião iniciam seus filhos, os quais, recebendo desde a infância tal instrução dada
pelas pessoas em que mais confiam, habituam-se a acreditar sem questionar. São os
de maior número, e se experimentassem aplicar a máxima cartesiana de que “para
alcançar a verdade é preciso, uma vez na vida, desfazermo-nos de todas as opiniões
que recebemos e reconstruir de novo e desde os fundamentos, todos os sistemas dos
nossos conhecimentos”10
, muito maior seria a quantidade de pessoas mudando de
opinião.
Além daquelas duas espécies de fiéis, existe um terceiro tipo, o mais raro de
todos, que é o daqueles que chegaram à crença pela razão, avaliando os diversos
9
Por “teologia moderna” e “religiões modernas” o autor designa as que se referem às crenças
monoteístas, aparecidas nos tempos históricos, sucedendo à “teologia antiga” e às “religiões antigas”, que
são as crenças anímicas dos homens da Pré-História.
10
V. nota nº. 3.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
lados do problema, e concluíram pela veracidade da fé. Estes fizeram um esforço
louvável, e podem dar-se ao direito de exigir que seus sentimentos religiosos sejam
respeitados; entretanto, essas pessoas ainda assim são erradas, porque foram más
lógicas. Se conhecessem todas as premissas, não acreditariam em nenhuma religião,
mas, como somente têm ao seu alcance a crítica das religiões modernas, sem o
conhecimento das causas dessas mesmas religiões11
, terminam por seguir uma
prática viciosa, a qual, mesmo sem causar danos físicos, como os entorpecentes
concretos (sim, eis aí uma boa palavra para religião: entorpecente abstrato) usada em
excesso leva ao fanatismo, que cega e embrutece, e aplicada com moderação, conduz
a uma esperança vã, e que, apenas por ser falsa, deve ser evitada.
Agora, entretanto, devo abrir um curto adendo a este capítulo, antes que eu
continue o livro. Faço questão de declarar que eu não sou e nem fui um desses
subvertedores da Natureza, um desses socialistas, marxistas ou comunistas (porque
quem nega o direito à propriedade privada e à natural desigualdade econômica gerada
pelas disparidades de inteligência, talento e vontade de trabalhar entre os homens não
é mais do que um anormal e um insano), e se algum crítico aventar que eu minta
quando nego ser um socialista, digo que não tenho que temer polêmicas ou ódios,
porque com essas poucas páginas já escritas, levantei grita e rancor suficientes para
perseguirem-me pelo resto de minha vida, e não preciso fazer mais nada para ser
detestado; por isso, quando eu digo que sou ou não sou determinada coisa, é porque
é verdade. Já disse o diabo; minha expectativa é de que sejam malvados comigo e,
realmente, muito estranharei se não sofrer perseguições; quero apenas não ser
acusado de ser e professar aquilo que não sou, nem professo.
11
O autor sustenta que as religiões modernas, como v.g. o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo são o
resultado final de uma evolução iniciada nas crenças pagãs arcaicas. Assim, ao remontar às “causas” das
religiões dos povos antigos — ou seja, os fatores sociais, ambientais e humanos que determinaram o
aparecimento das primeiras manifestações de culto religioso — constataríamos que as religiões
modernas derivam a sua existência de causas que não mais se justificam, como o temor aos fenômenos
naturais. A conclusão é no sentido de que, perdendo as causas primárias a sua razão de ser, as religiões
modernas de que são efeitos necessariamente deveriam deixar de existir.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
Capítulo III — Da Natureza de Deus
Havendo eu analisado essas coisas, pude concluir e convencer-me de que não
existe justificativa para a religião e o culto religioso; contudo, meu trabalho não
terminava neste ponto: mesmo sabendo que ainda que Deus exista, não há motivo
para a adoração, porque ela é uma conduta perniciosa, restava-me debruçar sobre a
própria natureza de Deus, para que, desse estudo, pudesse eu saber se Ele é
verossímil ou não, e depois disso, decidir que atitude tomar para comigo e para com a
sociedade de que faço parte12
.
Prosseguindo, se Deus existe, pude inferir que Ele não pode ter sentimentos e
emoções humanas, os quais ser-lhe-iam eterna causa de imperfeições; aliás, para
fazer uma comparação que permita melhor entendimento do que digo, Ele é igual,
intelecto e emocionalmente, a um robô ou computador. Desta afirmação é possível
definir exatamente o que é pecar, o que é de ordem divina, e finalmente, o que fazer
para tornar-se mais parecido com a divindade; todavia, não me demorarei neste
assunto, porque ele é suficientemente extenso para ocupar um tratado tão ou mais
longo do que todos os capítulos deste livro. Ainda trabalhando sobre aquela certeza,
contudo, pude entender o propósito de Deus em criar o Universo.
Sendo Ele um robô de fato, Deus tem uma forte noção de propósito, e por
causa disso, criou o Universo para dar um sentido à sua existência perfeita, que não
teria nenhum motivo para ser, se não fosse empregada em alguma ocupação.
Em verdade, essas famosas questões do “propósito de existir” não fazem
sentido, porque coisa alguma, nem mesmo o Universo, tem um propósito direto para
existir. Uma pessoa, por exemplo, pode ou não ser importante para a sociedade, mas
12
No manuscrito segue este trecho riscado: ...contudo, ainda antes de expor a minha análise, devo
ressaltar que meu estudo compreende como Deus o putativo Criador e Senhor do Universo, não o Deus
bíblico, Jeová, porque Ele é vilão e insolente, e não pode ser visto como o verdadeiro Deus, sendo odioso
e sórdido como Ele é, e digno de todo o meu desprezo e rancor.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
a sociedade não tem importância para o planeta em que habita, e o planeta, para o
Cosmo. O Deus em pessoa sente-se uma inteligência sem propósito, de outro modo,
pois, não haveria criado o Universo, o qual, ainda que Deus não existisse, e fosse a
instância mais elevada, continuaria sem justificativa de existir13
.
Semelhante ensinamento, visto superficialmente, leva à conclusão de que tudo
o que há no Universo é louco e despropositado; no entanto, aprofundando o exame
descubro que em tudo existe uma consolação, ainda que sem justificativa direta de
ser. É uma proposição bem simples, que consiste no seguinte: a alternativa para o
Universo é o nada, e para o ser, o não ser, porque não se podem existir as duas
coisas simultaneamente. No Universo, nada há que justifique sua existência, mas no
nada, não há coisa alguma para se justificar, porque o nada é o vazio, e não há nele
nem o propósito, nem o despropósito; é o que se concebe de mais louco.
Até mesmo uma vida gasta em ócios e prazeres adquire razão de ser, porque a
única alternativa é o aniquilamento, que é todo cego, todo ignorante e todo
incompreensível, e nele nada existe que possa ser compreendido, conhecido ou visto.
Também o ser é muito menos louco do que o não ser.
Dentre essas duas escolhas, o ser e o Universo são os melhores, ou menos
piores, em oposição ao não ser e ao nada, que são a completa negação, despropósito
e loucura. Cada mínima coisa no Universo é inevitável e, por conseguinte, necessária
e indispensável.
Quanto à natureza física de Deus14
, é possível estabelecer a seguinte
afirmação: para que Deus seja o Criador de todo o Universo, Ele precisa não ter sido
criado por nenhum ser anterior, senão este é que seria o verdadeiro Deus e causa
13
No manuscrito segue este trecho riscado: Isto parece obscuro, mas faz muito sentido, depois de
meditado pelo tempo necessário, principalmente depois de compreender este silogismo-parábola: Para
que serve uma abelha? Ora, para fazer mel; mas para que serve o mel? Ora, para alimentar as abelhas.
14
Melhor colocado seria se dissesse “natureza íntima de Deus”.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
primeira de tudo; enfim, o Criador precisa ser o “movente imóvel”, como ensinou Santo
Tomás de Aquino. Isto, no entanto, conduz à seguintes proposições: 1ª. Como Deus
poderia ser causa de si mesmo? Se antes Ele não existia, como poderia sair do nada,
e criar a si próprio? Ele teria que ser um efeito sem causa, e isso é inconcebível.
Digamos que Deus seja um ente perfeito, nascido em um futuro de trilhões de anos a
contar de agora, e que tivesse conseguido viajar no tempo, para o passado, e criar,
não se sabe como, o Universo. Isto é um absurdo, porque o Universo seria um círculo
vicioso, que somente existiria porque um ser, que surgiu trilhões de anos após o seu
começo, viajou para o princípio do tempo, com o fim de criar a si próprio; ser esse que
precisaria ter existido antes da viagem no tempo, para que pudesse empreendê-la,
mas, que seria sua própria causa. Essa é a única resposta concebível para o
problema, contudo, devemos descartá-la, porque é uma enorme loucura.
2ª. Se Deus pode criar a si próprio, porque o Universo não poderia haver feito a
si mesmo, sendo sua própria causa, todavia causa cega e ignorante de sua
condição15
?
Admitindo-se a existência de Deus, admite-se também que Ele poderia ser o
seu próprio Criador; logo, absurdo por absurdo, é preferível acreditar que o Universo
exista por causa de si mesmo, pelo seguinte motivo: Deus é um ser inteligente, logo,
superior à sua criação, que é menos organizada16
. Ora, tudo o que existe evolui dos
seres menos complexos para os mais complexos, do quantum para o quark, do quark
para as sub-partículas atômicas, das sub-partículas para o átomo, até chegarmos às
macromoléculas e ao DNA. Se Deus existisse, violaria o princípio básico de que todo
ser inferior prepara a vinda do superior. Deus, sendo perfeito, é negado pela sua
perfeição, que faz supor que a obra seja inferior àquele que a criou. O Universo, enfim,
não sendo perfeito, não poderia ser criado por uma entidade imutável, onisciente,
onipotente e onipresente, ou seja, perfeita, pois falta ao primeiro o maior dos atributos
15
E também inconsciente do fim.
16
No manuscrito segue este trecho riscado: ...que a divindade.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
da segunda: a inteligência, que somente pode desenvolver-se após o meio-ambiente
atingir um estado mínimo necessário de organização, que não existia no começo do
tempo.
Para que o Universo exista, contudo, ele precisa não ter nem começo nem fim,
desde toda a eternidade, sob pena de violar o enunciado por Lucrécio, há mais de dois
mil anos, de que “do nada não pode sair nada”; no entanto, parece um grande absurdo
esse, porque é impossível admitir que um ente possa ser sua própria causa, sendo
que deveria existir uma época em que ele não era17
; entretanto, a hipótese de Deus
acha-se diante do mesmo problema, que ainda permaneceria insolúvel, equiparado às
doutrinas deísta e ateísta: se não fosse pelos conceitos por mim estabelecidos hoje,
conceitos esses que podem resolver definitivamente a questão. Antes, a conduta mais
isenta era a de não ser nem pelos azuis, nem pelos verdes, pois, se os cientistas, que
são aqueles que deixam vazar para os leigos o pouco saber que estes detêm, não
vieram a público desmentir ou confirmar a existência de Deus, foi porque as provas
para tanto não foram descobertas; agora, porém, fiz ver o quão a doutrina ateísta é a
mais verossímil, simplesmente porque é mais coerente que um ser irracional como o
Universo exista por si desde toda a eternidade passada, do que supor que, do nada,
surgiria primeiro a inteligência excelente, para somente depois, aparecer o Cosmo
irracional e imperfeito.
Capítulo IV — Da Conduta para com a Divindade
O Universo, conforme demonstrei, não poderia deixar de existir, porque
qualquer outra realidade seria impossível18
; todavia, parece restar uma possibilidade
de que Deus exista, como ser criado após o início do Universo, ente esse que pode
17
O argumento segue a lógica de que se Deus sempre existiu, não poderia ser causa de si mesmo; se
começou a existir dentro do tempo, causando-se a si mesmo, então não é eterno e, por conseguinte, não
é Deus.
18
No manuscrito segue este trecho riscado: … .a alternativa para sua existência é o nada, mas, como do
nada não sai nada, o Universo não foi precedido por uma era de não-existência, ele simplesmente existe
porque qualquer outra realidade seria impossível.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
ser inteligente e perfeito, mas que lhe falta o atributo de ser o Criador, porquanto o seu
princípio ocorreu dentro do espaço e do tempo19
. Tal não é, verazmente, muito
importante para a humanidade, porque Deus teria poderes suficientes para ser o
governante do Universo, o que não muda muito a situação dos seres que estiverem
sob o seu poder; assim sendo, neste capítulo explicarei qual deve ser o
comportamento da humanidade para com esse Deus, caso ele exista, já que é muito
pouco verossímil que o Universo haja criado um ser como esse, que sendo infinito e
onipresente, não poderia sobreviver às extremas condições do espaço sideral, a
menos que seu “corpo” fosse constituído de uma variedade especial de matéria ou
energia imune às radiações cósmicas, ao calor dos núcleos estelares e ao frio do
vazio interestelar e intergaláctico, com os quais Ele haveria que conviver.
Tal corpo, contudo, que fosse insensível à matéria e à energia, não poderia
nelas interferir, tamanha a diferença de sua substância e, não sendo perturbado pelo
Universo material, nele não haveria como causar perturbações. Essa situação é a de
um homem preso num quarto lacrado, no qual não se pode entrar nem sair. Um Deus
como esse, então, não tem importância nenhuma, porque não interferindo na matéria,
sob pena de sofrer igual interferência dela, é como se não existisse; e assim sendo,
Ele não pode ser governante ou senhor de Universo algum, e nem é para ser temido.
Admitindo-se, porém, que Deus é tal como pintado pelas religiões, concluo que
Ele não é para ser adorado, a bem da independência e futura felicidade da espécie
humana como senhora do Universo. Chamem os críticos a isto “luciferianismo”, e a
mim “Lúcifer na Terra”, se lhes parecer bem, mas essa é a verdade, e tal é o que
demonstrarei.
Deus (admitido por hipótese) tudo criou para ter um propósito de existir; essa é
a razão de seu trabalho criador de justificar sua existência. Ora, quando uma pessoa
19
Um “Deus” como esse somente poderia ser o “demiurgo” de que falavam os gnósticos do Século II da
Era Cristã.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
se submete a Deus, adorando-a, cria um círculo vicioso20
, em que a causa e o efeito
se justificam um ao outro; sendo Deus um ser que não se justifica por si, dedicar-se a
Ele é um ato sem propósito, e por conseguinte, tira até mesmo a Ele próprio a sua
justificativa, porque a sua criatura também perde a razão de ser, voltando-se para a
sua fonte. Eis porque a adoração, além de ser um vício, é uma ação perniciosa o
bastante para retirar os poucos propósitos que um homem pode ter, principalmente
quando ele dedica a própria vida à religião, sem assumir nenhuma outra atividade
importante.
Outra questão vital é a de que os homens nada têm a lucrar com a submissão.
Primeiro, naturalmente, porque ela destrói a razão de ser dos fiéis, e segundo, porque
os homens perdem a sua liberdade ao entregar seus destinos. A humanidade pode ser
muito mais feliz e gloriosa tomando conta de si mesma, embora neguem-no certos
líderes religiosos que pregam que os homens deveriam ser guiados pela divindade
como se fossem bestas irracionais. A mesma inteligência e consciência de si que
Deus tem, existe nos homens, que embora imperfeitos, sabem usar a razão, e devem
usá-la para erigir uma era de glória, riqueza e prosperidade por seus próprios meios,
da qual terão todo o mérito porque a fizeram por si mesmos.
Por melhor que um Deus possa fazer aos homens, a submissão é indesejável
porque todos aqueles que se entregam a Ele, entregam na mesma mão a sua
dignidade. Isto não pode acontecer, e o que venho defendendo, aqui, é que os
homens devem ignorar Deus, comportando-se como se Ele não existisse.
A relação que os homens devem ter com Deus é a de um desconhecimento
absoluto, para o bem dos primeiros, que precisam ser completamente livres e
independentes. Se os homens têm uma individualidade, uma consciência, ela deve ser
mantida e utilizada, porque a submissão é uma gaiola de ouro21
.
20
No manuscrito segue este trecho riscado: ...como o do silogismo-parábola do Capítulo III. V. nota nº. 13.
21
No manuscrito segue este trecho riscado: ...que embora seja de ouro, é, antes de tudo, uma gaiola.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
É isto, enfim, que venho ensinar e justificar neste livro, que é que a religião é
uma conduta viciosa, que Deus certamente não existe, e se existe, é como se não o
fosse, pois Ele é perigoso para o futuro da humanidade, que seria apenas gado
irracional se confiasse seus destinos a Ele, que ainda que seja o Criador, não tem o
direito de possuir suas criaturas, que são inteligentes como Ele e seus iguais22
, como
escravos, pois, embora o jugo dessa escravidão possa ser leve, é sempre um jugo, e
uma escravidão, ainda que leve. É nisso que sobrevive o meu agnosticismo e meus
sistemas, porque ainda que se prove a existência de Deus, não muda a situação; e se
isso romper alguma aliança que haja sido feita entre Deus e os homens, que implique
em algumas garantias para a humanidade, como a de não ser atingida por um dia da
ira ou do Juízo, em troca dela prestar obediência à outra parte, proponho que se faça
nova aliança, a qual, assinada após o rompimento bilateral das anteriores, obrigue as
duas partes igualmente, determinando que Deus abdique de seu poder e ausente-se
de suas atividades no Universo, e que os homens deverão assumir as atribuições às
quais Deus renunciará, exercendo em seu lugar o controle do Universo com sabedoria
e justiça. Naturalmente, essas providências jamais deverão ser tomadas, porque Deus
simplesmente não existe23
.
Capítulo V — Acerca da Alma Humana24
A princípio, tem-se como certo que não existindo a divindade, a alma humana
também não deveria existir; entretanto, pelo que pude averiguar, a negação de Deus
não exclui de per si a existência da alma ou espírito, que se for quimérica, sê-lo-á por
22
Quem seriam “os iguais” a Deus? O autor parece estar aludindo ao momento em que Deus fala na
segunda pessoa do plural, dizendo “façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança”
(Gênesis, Capítulo 1, versículo 26). Com quem falaria Deus Pai — com as outras pessoas da Santíssima
Trindade ou com os anjos — é coisa a que nem mesmo os teólogos atingiram um consenso.
23
No manuscrito segue este trecho riscado: Mas, se não, que seja como se não fosse.
24
Muito se ressentiu o autor por não conseguir um exemplar do livro “L’ Esprit”, de Helvetius (1715-1771);
todas as suas buscas, inclusive em bibliotecas públicas, restaram baldadas: nunca se traduziu para o
português a obra em que o enciclopedista refuta a alma imortal, o que deixou este capítulo sem maior
base teórica. Muito mais longe teria chegado, se pudesse cotejar suas teses com as do célebre
materialista francês.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
outro motivo, sem nenhuma relação com o primeiro, porque se o Universo pode existir
sem Deus, também a alma humana pode existir sem Ele, assim como o corpo material
que anima25
; contudo, pode-se imaginar que, não existindo Deus, não há nenhuma
redenção ou punição depois da morte, o que embora pareça injusto, seria apenas
mais uma das muitas injustiças que nos são feitas pela Natureza aos nossos
escrúpulos e sentimentos.
Existem, mesmo, as mais diversas questões a respeito da alma, dentre elas, a
da reencarnação — talvez a mais importante — mas, por serem elas muito bizantinas,
não tratarei de nenhuma delas neste livro para não desviar o rumo dos assuntos.
Permanecerei, pois, analisando apenas o espírito em si, que é o de maior valor.
Do espírito, infiro que se lhe pode dizer o mesmo que a respeito de Deus no
tocante à sua natureza física, pois, se a alma é imortal e indestrutível, deve ser imune
a qualquer ação da matéria, e portanto, não haveria como interagir com esta, e logo, a
alma não poderia ligar-se ao corpo, e ainda, controlá-lo ao seu talante; se, no entanto,
ela pode impressionar a matéria, a começar pelo corpo que anima, ela não é tão
indestrutível e imortal como se supõe.
Outra objeção que apresento é que hoje, mais do que em qualquer época, a
ciência pôde provar que o pensamento e a memória — atributos básicos da alma —
são produtos de um órgão físico da inteligência que, destruído, levaria ao nada o que
nela subsistia. Aristóteles, no IV Século A.C., dizia que os homens pensavam sem
órgão, pois, de outro modo, o raciocínio seria produto da matéria, e
consequentemente, mortal e destrutível. Assim deveria ser, realmente, se a ciência
não houvesse provado que o Estagirita cometera um erro (como quase sempre), e que
o cérebro, suposto por Aristóteles como um radiador para esfriar o sangue, é o órgão
25
No manuscrito segue este trecho riscado: Sendo a alma a individualidade, a consciência, de fato ela
pode existir livre do corpo como existia dentro dele; mas, naturalmente, não é direito especular sobre o
que ela faz em liberdade, já que até hoje, não foi possível estudar o comportamento do espírito.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
do pensamento, responsável por todos os processos intelectuais. Prova-se isto porque
se o cérebro for lesado em alguma de suas áreas, a função intelectual correspondente
cessa de existir, seja ela a memória, ou os sentimentos, ou a inteligência26
, e além
disso, ajunte-se que os tecidos nervosos, dos quais o cérebro faz parte, não têm
capacidade de regeneração27
, de modo que ferimentos nesses tecidos não cicatrizam.
Quando uma pessoa nasce, já vem ao mundo com todas as células de seu cérebro
prontas (cerca de 100 bilhões) assim como as dos nervos. Durante o processo de
crescimento, elas apenas desenvolvem-se, sem a substituição cíclica que ocorre em
todo o corpo (a cada sete anos, aproximadamente, todas as células do corpo são
trocadas por novas, exceto as do sistema nervoso) permanecendo sempre as mesmas
células que já existiam no cérebro quando do nascimento. Estas células morrem, com
o passar do tempo, numa quantidade que chega a ser de duas a quatro mil por dia, a
começar do momento em que se completa quarenta anos, até a morte do corpo, sem
que haja substituição, pois, do contrário, a cada nova alteração nas células, a memória
e a personalidade alterar-se-iam, assim como todas as funções do intelecto. As
pessoas continuamente esqueceriam tudo o que aprendessem e acontecesse-lhes,
precisando estar em contínuo trabalho de aprendizagem e reaprendizagem; seus
sentimentos e personalidades mudariam em pouco tempo, a cada vez criando novas
pessoas em um só homem. Nessas condições, não seria possível aprender coisa
alguma, e os homens nunca passariam do estado de crianças tenras, até a velhice, o
que é o motivo pelo qual a alma não deve existir.
Este capítulo poderia ser encerrado aqui, se não fosse por um detalhe: o fato
de centenas de milhares de pessoas virem aparições de fantasmas, desde a
26
Na verdade, as seqüelas cerebrais são capazes de provocar alterações de memória e comportamento,
e mesmo determinar ou curar doenças mentais. As funções psíquicas não “deixam de existir” quando o
cérebro é lesado, o que só acontece com a morte.
27
A não regeneração dos neurônios, aceita como verdade absoluta por mais de dois séculos, desde
quando Gall (1758-1828) a enunciou, vem hodiernamente (2008) sendo questionada, não somente por
recentes descobertas, que indicam que o cérebro produz novas células nervosas até o fim da vida, como
também pelas pesquisas com células-tronco (adultas e embrionárias), capazes de regenerar tecidos
nervosos, inclusive do encéfalo e do raque, e que o autor não poderia prever, já que escrevia em 1996.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
antiguidade até a época presente. Descartadas as histórias dos mentirosos, e as
criadas por imaginações loucas e mórbidas, resta uma grande quantidade de casos de
difícil refutação, quer porque deixaram provas como a revelação de fatos
desconhecidos, como porque são narrados por pessoas que não são nem loucas, nem
mentirosas. Semelhante coisa pode ser explicada supondo que a alma é um alter ego
formado pelo cérebro, o qual sobrevive à morte deste. Ao mesmo tempo em que
sentimos e pensamos, um ser formado por energia desenvolve-se em nossos
cérebros, e depois de nossa morte, ele, que tem as mesmas memórias e
conhecimentos que nós, é libertado e passa a vaguear pela Terra, existindo por um
tempo não determinado. Em verdade, ele não é a mesma individualidade que uma vez
foi homem, e sim, uma cópia exata dele, um outro eu, que embora igual em memória e
personalidade, é outro ser; e como essa “alma” se desenvolve junto ao cérebro, desde
a infância, ela não tem noção da existência da individualidade corpórea, que é a
verdadeira (pois é a que controla o corpo) assim como esta não percebe a existência
da primeira28
; por isso, quando ela se manifesta aos vivos, diz que é tal ou tal pessoa
— que foi aquela em cujo cérebro se desenvolveu — e como acredita nisso, mente
sem sabê-lo, até mesmo porque ela carece de meios para provar a sua origem.
Quando acorda, após a destruição do cérebro, crê ser a alma da pessoa em que vivia,
e não tem porque duvidar disso; se a vida for assim, contudo, para os homens isto é o
mesmo que o nada, porque eles são aniquilados com a morte, e muito pouco lhes
importa o que aconteça à alma, que é, na verdade, outra pessoa e, caso ela se dane
ou salve, é como se outrem fosse recompensado ou punido. Esta doutrina é com
efeito desesperadora, porque não guarda o menor alento para depois da morte; mas, e
se nada houver após o desenlace? Suponhamos que tal seja a verdade, o que deve
ser de fato, o que se pode fazer? Chorar? Recusar-se a aceitá-la? Não! Os protestos
lançados contra o materialismo não são teologia ou filosofia; são gemidos e lamúrias,
porque se o materialismo estiver correto, nada haverá que possa mudar a situação,
28
Seria esta cópia do nosso ego aquilo que chamam de inconsciente, e que depois da morte apareceria
aos vivos como sinistros fantasmas?
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
nem mesmo o clamor de “injustiça”, pois se esta é a realidade, em nada importa se é
justa ou não. Apesar disso, porém, a negação da alma serve para aumentar o valor da
vida; agora, milhões de pessoas sacrificariam suas existências sem importar-se,
confiando em uma vida melhor além-túmulo; a perspectiva, contudo, de um
aniquilamento faz ver como é importante esta vida, que é única, e pelo temor da
morte, obriga aos homens a trabalharem mais pela melhora das condições de vida de
si próprios e do restante da humanidade.
Eu poderia encerrar este capítulo com estas belas palavras, percebo, porém,
ser necessário deixar uma advertência final: após ler e meditar sobre tudo isso, o
primeiro e mais intenso desejo que vem à mente é o de suicidar-se para descobrir a
verdade; ora, isto é uma das piores loucuras, porque se há Deus e alma, o suicida
certamente será punido com rigor pela divindade por haver destruído a vida que
somente a Ele pertence; contudo, se não existe qualquer coisa além da matéria,
perde-se a vida, que é única, por causa de nada, somente para ser aniquilado. Em
qualquer uma das opções, não há esperança de lucro, mas sim, ou de um castigo
terrível, ou do aniquilamento da individualidade, e eis porque é preferível viver com a
dúvida a ser destruído por ela.
Capítulo VI — Das Escrituras Sagradas
Neste livro já analisei as religiões, a existência de Deus e da alma humana, e a
conduta para com o suposto criador do Universo; agora, prestes a encerrar meu
estudo, quero demonstrar o valor que têm os livros sagrados de todas as religiões.
Primeiramente, começarei lembrando a frase de Sêneca segundo a qual
“quando uma parte do todo cai, o restante não está seguro”. Quando em um sistema
se se descobre que uma de suas partes é equivocada, deve-se esperar que os outras
também possam sê-las, já que, afinal, se uma não é verdadeira, as demais, que
procedem da mesma fonte, não mais estão acima de qualquer suspeita. Isto,
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
verificado em todos os livros santos, que já tiveram partes contestadas ou refutadas
pela ciência e até pelos outros livros sagrados, que sempre estão em desacordo,
exceto no que respeita à base das religiões que fundamentam, conforme expliquei no
primeiro capítulo29
.
Em todos eles verifica-se a tendência de provar a existência de Deus pelo que
está escrito, mas, somente é possível provar a excelência do que está escrito pela
existência de Deus; assim, temos outro círculo vicioso, em que cada argumento
sustém o anterior. Ora, duas colunas não podem amparar-se mutuamente, senão
ambas saem de suas fundações, e caem.
Ainda que os livros sagrados não sejam falsos em tudo, o fato de serem
duvidosos é o bastante para não merecerem fé cega, e justifica um estudo minucioso
de todos os seus ensinamentos, a fim de separar as verdades das mentiras. É isto
uma tarefa extremamente difícil para qualquer pessoa acostumada a acreditar no que
lhes foi imposto pela família e pelos costumes de seu povo desde a infância; a maior
parte dos fiéis nem sequer aventa de questionar os fundamentos de suas religiões, o
que é um proceder errado e pusilânime, pois, se a verdade estiver fora e acima da
religião e seus livros sagrados, ainda assim, deve ser aceita, mesmo que a preço de
renegar a fé e até mesmo a Deus.
Eu gostaria muito de refutar aqui todos os livros sagrados de todas as religiões;
porém, declino de fazer semelhante esforço, para não dilatar indefinidamente este
livro, o que não seria bom, pois inviabilizaria sua intenção de ser um tratado curto, mas
incisivo e profundo a respeito da natureza da fé e do que se refere a ela.
29
No manuscrito segue este trecho riscado: É inquestionável, por exemplo, que a Terra se formou há
quatro bilhões e meio de anos, que o Universo existe há mais de oito bilhões de anos, e que não foi
criado instantaneamente do nada por um ser divino, dentre outras afirmações que a ciência já
comprovou; semelhantes coisas não devem ser deliberadas ou julgadas, porque já foram confirmadas
como verdadeiras.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
Outro fator importante de meu estudo é o de que os livros sagrados têm uma
origem bem duvidosa, porque, escritos há milhares de anos, estão ultrapassados, pois
a humanidade e as condições humanas mudaram, ou porque foram escritos por
pessoas desautorizadas e ignorantes, sem exceção. Não existe distinção entre os
líderes religiosos do passado e os seus contemporâneos, ainda que sábios. Quero
dizer que a mesma ignorância dos homens antigos era compartilhada pelos
fundadores das religiões e escritores dos livros santos; ignorância essa de uma triste
época em que as doenças não podiam ser curadas, em que não existiam automóveis,
foguetes, radiodifusão ou radar; em que a física e as matemáticas mal começavam a
desenvolver-se, e que as leis físicas hoje conhecidas eram totalmente ignoradas;
época triste e miserável, em que a gravitação, a força eletromagnética, a
radioatividade e as forças nucleares não haviam sido descobertas. Assim como os
maiores sábios da antiguidade, como Aristóteles, do qual já falei mais Galeno e
Hipócrates, dentre outros, foram desmentidos e ultrapassados em quase tudo, de igual
modo, os líderes das religiões, que tiravam seu pouco saber dos erros desses
cientistas fracassados, não poderiam ter nenhuma cultura ou sabedoria que prestasse,
o que desautoriza seus escritos, que são as palavras dos homens ignorantes e
incultos que eram.
O chauvinismo religioso, bem vi, levantar-se-á contra isso, afirmando que
esses homens eram intérpretes de Deus, que tudo sabe, e pode transmitir com
perfeição a verdade, contanto que ela não seja distorcida por mãos inescrupulosas.
Pergunto, então, se é possível provar que Deus alguma vez se encontrou com
homens, ou sequer deixou algum sinal de Sua presença na Terra. Não! Não existe
prova nenhuma disso, e, não havendo como provar, não é justo, nem inteligente,
aceitar cegamente esses fatos; aliás, se tais fatos se deram alguma vez, por que eles
não acontecem mais? Deus, segundo os livros sagrados, fazia chover fogo do céu
sobre os que desagradavam seus desígnios, suscitava profetas, arrasava cidades com
fogo e enxofre, enviava pestes aos povos por causa do delito de um indivíduo, por
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
que, pois, estes prodígios não mais acontecem? Os homens continuam pecando e
fazendo-se merecedores da ira de Deus, onde, pois, está esse Deus que não vem
para vingar-se das ofensas dos mortais?
Esses fenômenos e prodígios descritos pela história sagrada são meras
lendas, indignas de crédito, pois, senão, os famosos milagres de Deus ainda estariam
sendo operados, o que não ocorre, nem ocorrerá jamais, porque, como disse, não
passam de lendas.
Os verdadeiros autores dos livros sagrados eram homens, apenas homens,
ignorantes e fanáticos, que escreviam o que suas mentes insanas queriam acreditar, e
se nesses livros existem relatos históricos que puderam ser comprovados, foi porque
os autores estavam apenas falando a respeito do que realmente viram, ou souberam
de outras pessoas que falavam a verdade, se bem que a interpretação dos fatos, por
eles apontada peque pelo absurdo, pois explicavam os processos conforme lhes
convinha ás suas imaginações fanáticas, pondo, então, seus trabalhos muito abaixo
das Histórias de Plutarco, Heródoto, Tito Lívio, e outros do mesmo jaez30
.
Capítulo VII — Da Construção de um Sistema de Moral sem Deus
Jamais se reconheceu o ateísmo como outro senão o fomentador da
mesquinharia, do egoísmo e do crime. A moral do ateu é criticada como sendo antes
falta de moral do que qualquer outra imputação mais digna, enquanto a religião pode
gozar do prestígio de freio para as torpezas humanas.
Sem a perspectiva de um castigo terrível, diz-se, não é possível deter os
criminosos que confiam no sigilo em que permanecerão suas ações ocultas.
30
No manuscrito segue este trecho riscado: Concluindo, enfim, não se pode esperar conseguir encontrar
verdade alguma nos textos sagrados, exceto as datas de batalhas, conquistas, nascimentos e
falecimentos de reis; dentre outras de somenos importância, que não teriam motivo para serem
inventadas.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
A certeza do aniquilamento no nada, a descrença em Deus, paradoxalmente,
conduzirão ao bem a humanidade inteira, quando ela se compenetrar de que sendo
esta vida única, encerra tudo o que pode ser precioso, durante os curtos momentos
que medeiam entre sua criação e sua dispersão. Importante somente o é aquilo que
servir para que ela seja plenamente aproveitada e, com tal disposição de idéias,
esforçar-se-ão os homens pelo bem na Terra como pela salvação de suas almas.
Com redobrado horror a sociedade perseguirá os criminosos, pois a ameaça ao
bem comum é muito maior quando não tem o consolo da sobrevivência da alma das
vítimas, e mesmo os perversos temerão a maldade, porque ela, como também o
crime, sempre envolve no risco àqueles que a seguem; ora, o medo ao aniquilamento
causa o horror a todos os riscos; a possibilidade de tudo perder, inclusive a si próprio,
desestimula a qualquer empreitada, cujo lucro, se bem sucedida, é muito menor que o
valor do que se arrisca à perda.
Se é de freios que a humanidade precisa, dá o nada um muito melhor do que o
da religião, que, sempre disposta a tudo perdoar, absolve maior número de crimes que
os de que o materialismo é acusado de instigar, e que deve ser afastada, não pela
memória de suas atrocidades do passado, de que, mais das vezes, foi objeto, e não
agente, mas, porque é falsa, o que já é bastante para legitimar o ateísmo.
Se um ateu isolado pode, em seu ateísmo, encontrar escusa para o egoísmo e
o crime, a humanidade, conversa à descrença, entenderá a necessidade de seu
progresso, livrando-se de todo opróbrio, como de tudo o que lhe entrave o bem-estar,
pois, se o indivíduo somente enriquece à custa da exploração do semelhante, a
sociedade prospera pelo banimento do mal.
Trabalhando apenas para esta vida, todas as fadigas humanas serão usadas
em fazê-la melhor, não tardando em que se declare que o Homem do Homem fez
Deus à sua imagem e semelhança.
Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90
ISSN: 1808-6462
Conclusão
Termino aqui a minha análise da religião.
Nunca me retratarei do meu agnosticismo31
. Sou um materialista ateu. Reputo
meu cepticismo como a primeira grande verdade que descobri em minha existência.
Peço, apenas, que aqueles que não houverem como refutar as idéias deste
livro, permaneçam calados, sem protestar contra o que não podem negar, ou que as
aceitem, juntando-se a mim, para atirar-mos mais uma pedra no lugar sagrado.
31
O termo “agnosticismo” aqui parece estar mal-empregado, mormente porque a frase seguinte é “sou um
materialista ateu”. O agnosticismo tem como premissa básica a impossibilidade de se ter certeza sobre
fatos que transcendam a matéria, sendo chamado pelo Papa João Paulo II de “ateísmo cômodo”. O
“ceticismo” mencionado logo a seguir, é uma postura de dúvida, capaz de atingir até mesmo certos fatos
do mundo sensível; o que o autor pretendia, ao intitular-se ao mesmo tempo “agnóstico”, “materialista
ateu” e “cético” era firmar, de modo irônico, a sua posição de negação e repulsa contra toda e qualquer
forma de religião, avocando para si a plenitude de todas as formas pelas quais a crença religiosa é
rechaçada.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013
Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013
Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013michelechristine
 
Jesus e a lei da atração uma nova visão cristã sobre o universo quântico
Jesus e a lei da atração   uma nova visão cristã sobre o universo quânticoJesus e a lei da atração   uma nova visão cristã sobre o universo quântico
Jesus e a lei da atração uma nova visão cristã sobre o universo quânticoMautama
 
Definição e características das seitas
Definição e características das seitasDefinição e características das seitas
Definição e características das seitasAlberto Simonton
 
Espiritismo x evangelho
Espiritismo x evangelhoEspiritismo x evangelho
Espiritismo x evangelhoJoão Eduardo
 
A vontade de crer, William james
 A vontade de crer, William james A vontade de crer, William james
A vontade de crer, William jamesValber Teixeira
 
Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560
Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560
Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560fabio bezerra lima
 
Trabalho de filosofia religiões
Trabalho de filosofia religiõesTrabalho de filosofia religiões
Trabalho de filosofia religiõesLiliane Ennes
 
A Linguagem de Deus - Francis Collins
A Linguagem de Deus - Francis CollinsA Linguagem de Deus - Francis Collins
A Linguagem de Deus - Francis CollinsMartian Bold
 
Religiosa e freudiana
Religiosa e freudianaReligiosa e freudiana
Religiosa e freudianafebri samar
 
Considerações acerca da lei do carma
Considerações acerca da lei do carmaConsiderações acerca da lei do carma
Considerações acerca da lei do carmajb1955
 
A linguagem de deus - Francis Collins
A linguagem de deus - Francis CollinsA linguagem de deus - Francis Collins
A linguagem de deus - Francis CollinsJunior Fernandes
 
RELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTES
RELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTESRELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTES
RELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTESFatima Carvalho
 
A comunhão com deus (sef)
A comunhão com deus (sef)A comunhão com deus (sef)
A comunhão com deus (sef)Ricardo Akerman
 

Mais procurados (18)

Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013
Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013
Textos do pe. lauro sérgio 07-02-2013
 
Jesus e a lei da atração uma nova visão cristã sobre o universo quântico
Jesus e a lei da atração   uma nova visão cristã sobre o universo quânticoJesus e a lei da atração   uma nova visão cristã sobre o universo quântico
Jesus e a lei da atração uma nova visão cristã sobre o universo quântico
 
Definição e características das seitas
Definição e características das seitasDefinição e características das seitas
Definição e características das seitas
 
Espiritismo x evangelho
Espiritismo x evangelhoEspiritismo x evangelho
Espiritismo x evangelho
 
A vontade de crer, William james
 A vontade de crer, William james A vontade de crer, William james
A vontade de crer, William james
 
Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560
Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560
Dialnet a basicalidade-dacrencaemdeussegundoalvinplantinga-4740560
 
Trabalho de filosofia religiões
Trabalho de filosofia religiõesTrabalho de filosofia religiões
Trabalho de filosofia religiões
 
Salvação
SalvaçãoSalvação
Salvação
 
Fe e caridade gec 05 12-2015
Fe e caridade  gec 05 12-2015Fe e caridade  gec 05 12-2015
Fe e caridade gec 05 12-2015
 
A Linguagem de Deus - Francis Collins
A Linguagem de Deus - Francis CollinsA Linguagem de Deus - Francis Collins
A Linguagem de Deus - Francis Collins
 
Homo religiosus
Homo religiosusHomo religiosus
Homo religiosus
 
Religiosa e freudiana
Religiosa e freudianaReligiosa e freudiana
Religiosa e freudiana
 
Considerações acerca da lei do carma
Considerações acerca da lei do carmaConsiderações acerca da lei do carma
Considerações acerca da lei do carma
 
Seitas & heresias
Seitas & heresiasSeitas & heresias
Seitas & heresias
 
A linguagem de deus - Francis Collins
A linguagem de deus - Francis CollinsA linguagem de deus - Francis Collins
A linguagem de deus - Francis Collins
 
RELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTES
RELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTESRELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTES
RELIGIÃO ESPÍRITA ASPECTOS INTERESSANTES
 
O interior em guerra
O interior em guerraO interior em guerra
O interior em guerra
 
A comunhão com deus (sef)
A comunhão com deus (sef)A comunhão com deus (sef)
A comunhão com deus (sef)
 

Semelhante a TRATADO SOBRE AS COISAS SAGRADA (EDUARDO BANKS)

Alma sobrevivente - Philip yancey
Alma sobrevivente - Philip yanceyAlma sobrevivente - Philip yancey
Alma sobrevivente - Philip yanceyAlex Martins
 
Alma sobrevivente philip yancey
Alma sobrevivente   philip yanceyAlma sobrevivente   philip yancey
Alma sobrevivente philip yanceyGenilza Ferreira
 
Philip Yancey: Alma Sobrevivente
Philip Yancey: Alma SobreviventePhilip Yancey: Alma Sobrevivente
Philip Yancey: Alma SobreviventeGabriela Lucena
 
REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)
REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)
REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)Jerbialdo
 
O Ateísmo e a Escolha do Ser Ateu
O Ateísmo e a Escolha do Ser AteuO Ateísmo e a Escolha do Ser Ateu
O Ateísmo e a Escolha do Ser AteuGustavo Hjort
 
Carta pela compaixão
Carta pela compaixãoCarta pela compaixão
Carta pela compaixãoMarcelo Silva
 
Fé e razão, uma conversa entre a ciência e a religião
Fé e razão, uma conversa entre a ciência e a religiãoFé e razão, uma conversa entre a ciência e a religião
Fé e razão, uma conversa entre a ciência e a religiãoLeandro Nazareth Souto
 
Vida depois da vida dr. raymond moody, jr
Vida depois da vida   dr. raymond moody, jrVida depois da vida   dr. raymond moody, jr
Vida depois da vida dr. raymond moody, jrMarcos Florentino Alves
 
O espiritísmo e as igrejas reformadas jayme andrade
O espiritísmo e as igrejas reformadas   jayme andradeO espiritísmo e as igrejas reformadas   jayme andrade
O espiritísmo e as igrejas reformadas jayme andradeHelio Cruz
 
Entendendo a vida evo consolador
Entendendo a vida evo consoladorEntendendo a vida evo consolador
Entendendo a vida evo consoladormarciot
 
Santíssima trindade john wesley
Santíssima trindade   john wesleySantíssima trindade   john wesley
Santíssima trindade john wesleyFrancisco Deuzilene
 
Espiritismo e catolicismo
Espiritismo e catolicismoEspiritismo e catolicismo
Espiritismo e catolicismoCandice Gunther
 
Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24Candice Gunther
 
Os 10 mais importantes livros espíritas
Os 10 mais importantes livros espíritasOs 10 mais importantes livros espíritas
Os 10 mais importantes livros espíritasAlfredo Lopes
 

Semelhante a TRATADO SOBRE AS COISAS SAGRADA (EDUARDO BANKS) (20)

Alma sobrevivente - Philip yancey
Alma sobrevivente - Philip yanceyAlma sobrevivente - Philip yancey
Alma sobrevivente - Philip yancey
 
Alma sobrevivente philip yancey
Alma sobrevivente   philip yanceyAlma sobrevivente   philip yancey
Alma sobrevivente philip yancey
 
Philip Yancey: Alma Sobrevivente
Philip Yancey: Alma SobreviventePhilip Yancey: Alma Sobrevivente
Philip Yancey: Alma Sobrevivente
 
REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)
REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)
REVISTA ATEÍSTA - 1ª Edição (versão impressa)
 
V dfilo cap5p_formas_crenca
V dfilo cap5p_formas_crencaV dfilo cap5p_formas_crenca
V dfilo cap5p_formas_crenca
 
O Ateísmo e a Escolha do Ser Ateu
O Ateísmo e a Escolha do Ser AteuO Ateísmo e a Escolha do Ser Ateu
O Ateísmo e a Escolha do Ser Ateu
 
Carta pela compaixão
Carta pela compaixãoCarta pela compaixão
Carta pela compaixão
 
Filosofia medieval
Filosofia medievalFilosofia medieval
Filosofia medieval
 
Temperamentos
TemperamentosTemperamentos
Temperamentos
 
Fé e razão, uma conversa entre a ciência e a religião
Fé e razão, uma conversa entre a ciência e a religiãoFé e razão, uma conversa entre a ciência e a religião
Fé e razão, uma conversa entre a ciência e a religião
 
Vida depois da vida dr. raymond moody, jr
Vida depois da vida   dr. raymond moody, jrVida depois da vida   dr. raymond moody, jr
Vida depois da vida dr. raymond moody, jr
 
O espiritísmo e as igrejas reformadas jayme andrade
O espiritísmo e as igrejas reformadas   jayme andradeO espiritísmo e as igrejas reformadas   jayme andrade
O espiritísmo e as igrejas reformadas jayme andrade
 
Entendendo a vida evo consolador
Entendendo a vida evo consoladorEntendendo a vida evo consolador
Entendendo a vida evo consolador
 
Natureza de Jesus.pptx
Natureza de Jesus.pptxNatureza de Jesus.pptx
Natureza de Jesus.pptx
 
Santíssima trindade john wesley
Santíssima trindade   john wesleySantíssima trindade   john wesley
Santíssima trindade john wesley
 
Espiritismo e catolicismo
Espiritismo e catolicismoEspiritismo e catolicismo
Espiritismo e catolicismo
 
Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24
 
Na Próxima Dimensão
Na Próxima DimensãoNa Próxima Dimensão
Na Próxima Dimensão
 
Instituição religiosa
Instituição religiosaInstituição religiosa
Instituição religiosa
 
Os 10 mais importantes livros espíritas
Os 10 mais importantes livros espíritasOs 10 mais importantes livros espíritas
Os 10 mais importantes livros espíritas
 

Mais de Jerbialdo

INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
  INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO  INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃOJerbialdo
 
PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023Jerbialdo
 
PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023Jerbialdo
 
PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023Jerbialdo
 
BOLETIM DE OCORRÊNCIA
BOLETIM DE OCORRÊNCIA BOLETIM DE OCORRÊNCIA
BOLETIM DE OCORRÊNCIA Jerbialdo
 
RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...
RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...
RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...Jerbialdo
 
OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...
OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...
OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...Jerbialdo
 
AAI - ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...
AAI -  ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...AAI -  ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...
AAI - ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...Jerbialdo
 
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...Jerbialdo
 
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...Jerbialdo
 
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...Jerbialdo
 
ANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIA
ANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIAANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIA
ANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIAJerbialdo
 
O EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃ
O EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃO EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃ
O EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃJerbialdo
 
CIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SUL
CIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SULCIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SUL
CIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SULJerbialdo
 
CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)
CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)
CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)Jerbialdo
 
PROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOS
PROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOSPROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOS
PROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOSJerbialdo
 
CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES: SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...
CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES:  SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES:  SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...
CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES: SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...Jerbialdo
 
LEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃO
LEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃOLEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃO
LEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃOJerbialdo
 
ANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ
ANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ
ANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃJerbialdo
 
PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 - (Página 3)
PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 -  (Página 3)PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 -  (Página 3)
PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 - (Página 3)Jerbialdo
 

Mais de Jerbialdo (20)

INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
  INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO  INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
 
PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL N° 003 DE 18 DE JANEIRO DE 2023
 
PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 015, DE 17 DE MAIO DE 2023
 
PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023
PORTARIA MUNICIPAL Nº 001 DE 05 DE JANEIRO DE 2023
 
BOLETIM DE OCORRÊNCIA
BOLETIM DE OCORRÊNCIA BOLETIM DE OCORRÊNCIA
BOLETIM DE OCORRÊNCIA
 
RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...
RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...
RELATÓRIO ANUAL SOBRE FENÔMENOS AÉREOS NÃO IDENTIFICADOS: 2022 EUA (Versão Po...
 
OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...
OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...
OFFICE OF THE DIRECTOR OF NATIONAL INTELLIGENCE: Annual Report on Unidentifie...
 
AAI - ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...
AAI -  ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...AAI -  ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...
AAI - ALIANÇA ATEÍSTA INTERNACIONAL/ AGE (ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA): ...
 
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
 
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...AAI -  ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL:  EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
AAI - ALLIANCE ATHEIST INTERNATIONAL: EGM (EXTRAORDINARY GENERAL MEETING): ...
 
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...
INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA CIDADÃ NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (LAURA...
 
ANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIA
ANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIAANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIA
ANÁLISE DE COMPORTMENTO NÃO COOPERATIVO EM COMPUTAÇÃO VOLUNTÁRIA
 
O EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃ
O EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃO EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃ
O EMPREGO DO APLICATIVO SCIHUB EM PROJETOS DE CIÊNCIA CIDADÃ
 
CIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SUL
CIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SULCIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SUL
CIÊNCIA CIDADÃ E POLINIZADORES DA AMÉRICA DO SUL
 
CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)
CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)
CARTA ABERTA DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ (RBCC)
 
PROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOS
PROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOSPROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOS
PROTOCOLO DE CAPTURA DE IMAGENS DE MACROFUNGOS
 
CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES: SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...
CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES:  SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES:  SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...
CONFERÊNCIAS & DEBATES INTERDISCIPLINARES: SOB A LENTE DA CIÊNCIA ABERTA OLH...
 
LEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃO
LEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃOLEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃO
LEPIDOPTEROLOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS EM PESQUISA E CONSERVAÇÃO
 
ANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ
ANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ
ANAIS DO II WORKSHOP DA REDE BRASILEIRA DE CIÊNCIA CIDADÃ
 
PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 - (Página 3)
PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 -  (Página 3)PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 -  (Página 3)
PROCESSO Nº: 8000314-60.2022.8.05 - (Página 3)
 

Último

A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassAugusto Costa
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfJonathasAureliano1
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxSamiraMiresVieiradeM
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Vitor Mineiro
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Transformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx GeometriaTransformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx Geometriajucelio7
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 

Último (20)

A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e Característicass
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Transformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx GeometriaTransformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx Geometria
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 

TRATADO SOBRE AS COISAS SAGRADA (EDUARDO BANKS)

  • 1. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 TRATADO SOBRE AS COISAS SAGRADAS Eduardo Banks Resumo: O presente trabalho é um escrito da juventude do Filósofo Eduardo Banks, concluído em 1996, quando o autor contava 17 anos de idade (Registrado na Biblioteca Nacional em 09.09.1999 sob o nº. 182.036, Lv. 309, Fl. 190) e somente agora publicado. O Tratado principia narrando como o autor se tornou ateu (introdução) e depois de definir o alcance do conceito de religião (capítulo I) discorre sobre a origem do sentimento religioso, denunciando-o como reação de medo primitivo diante da mortalidade (capítulo II); apresenta o que se deve entender por Deus (capítulo III) e como se comportar em relação à idéia de que Deus exista, demonstrando que é mais provável que Deus não exista, mas ainda que Ele seja real, a crença é perniciosa à busca de uma vida plena (capítulo IV); a seguir discorre sobre a improbabilidade da sobrevivência da alma (capítulo V) e das falsificações praticadas pelos autores dos livros sagrados (capítulo VI), concluindo pela superioridade moral do ateísmo, porque valoriza a existência corporal enquanto o homem religioso sacrifica a sua felicidade presente visando atingir um futuro hipotético (capítulo VII). O Tratado perora com um apelo ao agnosticismo, ao ateísmo e ao ceticismo, contra qualquer sacralidade (conclusão). Palavras-chave: Religião. Ateísmo. Materialismo. Moral. Revolta Metafísica. Abstract: This work is a written from a youth of the Philosopher Edward Banks, completed in 1996, when the author was 17 years old (Listed on the National Library on 09.09.1999 under no. 182.036, Lv. 309, Fl. 190) and only now published. The Treatise begins recounting how the author became an atheist (introduction) and then defining the scope of the concept of religion (Chapter I) discusses the origin of religious feeling, denouncing it as a reaction of fear in the face of early mortality (Chapter II) , presents what is meant by God (chapter III) and how to behave in relation to the idea that God exists, demonstrating that it is more likely that God does not exist, but that He is real, the belief is pernicious to search a full life (Chapter IV), then discusses the unlikelihood of survival of the soul (Chapter V) and forgery committed by the authors of the sacred books (Chapter VI), concluding the moral superiority of atheism, because it values the bodily existence while religious man sacrifices his present happiness in order to reach a hypothetical future (Chapter VII). The Treatise concludes with an appeal to agnosticism, atheism and skepticism, against any sacredness (conclusion). Keywords: Religion. Atheism. Materialism. Moral. Metaphysics Revolt.
  • 2. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 Introdução — Apresentação Começo este livro pedindo ao leitor que não julgues apressadamente as idéias nele contidas. Para ser compreendido, preciso que o leias todo, ainda que algumas passagens sejam chocantes aos hábitos de religião; e depois, que medites a respeito do que leste por um grande espaço de tempo, até assimilar bem as minhas opiniões, e poder julgá-las imparcialmente. Não será um processo rápido, pois eu mesmo, que tenho uma inteligência superior às dos homens normais, e uma grande docilidade em passar por metanóias, precisei de mais de dois anos para assegurar-me do que venho defender aqui. Eu, realmente, não tive nenhum motivo pessoal para apostatar de minha religião, que não a certeza de que ela era falsa1 , assim como todas as outras. Jamais, em minha vida, sofri alguma desgraça que justificasse a revolta contra a divindade, tampouco tive qualquer decepção com os líderes de minha antiga religião, ou com os seus fundamentos; deveria, portanto, ser um homem de fé inabalável2 , o que não sou pela minha própria vontade, porque decidi questionar a minha fé. Seguindo o conselho de René Descartes de que devemos ser tão firmes e resolutos quanto possível em nossas ações, e em seguir as opiniões mais duvidosas, desde que nos tivéssemos decidido por elas, com não menos constância que se fossem elas exatíssimas3 , segui meus raciocínios até onde eles puderam levar-me, e decidi firmemente viver a partir daí conforme o que eu descobrisse ser verdade, por mais desesperador que fosse, simplesmente porque não faz sentido negar uma 1 O autor, embora tivesse sido batizado segundo os preceitos da Igreja Católica, é filho de espíritas, e foi educado na religião de seus pais até abjurá-la aos dezesseis anos de idade. 2 Segundo Allan Kardec (1804-1869), “fé inabalável somente o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”. Estava o autor a retorquir à máxima que o professor Rivail inscreveu no frontispício de O Evangelho Segundo o Espiritismo (1866). 3 Cf. o Discurso do Método, Terceira Parte (1637).
  • 3. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 afirmação apenas porque ela é avessa às nossas vontades. Fosse o que fosse que eu descobrisse, haveria que me conformar com o achado, e viver o melhor possível com ele. Tudo começou em uma noite de fevereiro, do ano de 1993, enquanto eu meditava sobre o sentido da frase marxista de que “a religião é o ópio do povo”. Já havia escutado e lido essa máxima centenas de vezes, sem havê-la compreendido em momento algum. Naquela noite, porém, dispus-me a pensar no que Karl Marx queria dizer com ela. Súbito, dei-me conta da tese defendida no segundo capítulo deste livro. Escrevi um ensaio a respeito dela, mas, tomado pelo horror à blasfêmia, destruí-o naquela mesma noite. Nos dias seguintes, porém, convencia-me cada vez mais dela e, sentindo que era verdadeira, aceitei-a, finalmente. Hoje em dia, eu nem sequer me dou ao trabalho de blasfemar; não acreditando na verossimilhança de Deus, considero amaldiçoá-Lo a mesma coisa que zurzir uma estátua. Prosseguindo, no decorrer dos meses, as meditações a respeito do assunto que escolhera, foram-me expulsando cada vez mais os meus sentimentos religiosos. Aliado a isto, foi precisamente nessa época que comecei a estudar mais a fundo as ciências, principalmente a física e a cosmologia, o que me forneceu, aos poucos, as provas científicas e materiais de que eu precisava para concluir meu sistema. A esse tempo, já execrava a todas as práticas religiosas e, continuo execrando-as até hoje. Quando vejo pessoas em oração, ouço falar de coisas como o “amor de Deus” ou, ainda quando assisto a discursos pudicos de moralistas que atacam a livre sexualidade, sinto a mesma “cólera justa” de que falavam os pais da Igreja Católica; um ódio forte, que me enche da vontade de ceifar todas essas práticas com um só golpe; por razão disto, decidi não guardar minhas conclusões apenas para mim; decidi-me pelo método investigativo4 , passando pelo agnosticismo, até chegar à 4 No manuscrito segue este trecho riscado: ...dispus-me pelo agnosticismo, que é um estado de dúvida acerca do que há depois da morte, mas que, para ser franco, é antes um estado de descrença, pois eu considero muito mais viável que não exista nada do que falam as religiões, como quase todos os agnósticos.
  • 4. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 escolha pelo materialismo ateu: e tomado por tais sentimentos, dediquei-me a escrever um livro onde eu poderia relatar minhas conclusões e atrair maior número de pessoas para elas, esperando, principalmente, estar iniciando um processo pelo qual se realizará o meu sonho de ver todos os templos do mundo fechados e destruídos, e sempre lotados os observatórios e faculdades em toda a Terra. Rio de Janeiro, 22 de junho de 19965 . Capítulo I — Definição de Religião Antes de expor qualquer argumento, julgo necessário definir o que é religião, nos termos deste livro, a fim de evitar gastos inúteis de tempo discutindo o significado das palavras; portanto, ao menos para este livro, religião é a crença na existência de Deus, ou de algum ser ou conjunto de seres, de natureza imaterial ou incorpórea que valham o mesmo que o primeiro, o qual ou os quais são criadores e/ou governantes do Universo; na existência do espírito ou alma, ou de qualquer forma de preservação da individualidade e consciência de si mesmo após a morte do corpo humano6 ; e na conseqüente adoração e submissão a Deus ou quejando, não necessariamente com a prática de culto exterior, organizado para fins dessa adoração e submissão. Tomando por princípio a definição acima apresentada, quando, neste livro se fala em religião, com esta palavra se está a referir a todas as religiões, sem distinção entre elas, posto que, embora difiram entre si, quanto à forma e organização dos cultos, templos, instruções dos sacerdotes e ideologias7 , todas têm como denominador comum os elementos acima apresentados, elementos esses que as fazem ser religiões, e que servem para julgar-lhes o valor. 5 Todo o Tratado Sobre as Coisas Sagradas foi escrito em apenas dez dias, entre 12 e 22 de junho de 1996; o estímulo para o autor foi o filme “Die, Die, My Darling”, produção americana da Hammer (— “martelo”, em inglês —), famosa produtora de películas de terror. O enredo mostrava uma velha fanática que mantinha pessoas em cárcere privado em sua mansão, obrigando-as a participar de cultos religiosos bizarros. 6 Ou, vale mencionar, na absorção da individualidade em um todo universal. 7 Mais adequado seria dizer doutrinas.
  • 5. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 Capítulo II — Da Origem e Natureza das Religiões Foi definido, linhas acima, o que é religião; baseado nisso, a etapa seguinte é julgá-la, apurando qual a sua origem, quais os seus propósitos, natureza e finalmente, quais as suas conseqüências. Tomo, como ponto de partida, o fato de que jamais houve povos ateus: “lançai um olhar por toda a superfície da Terra, e podereis achar cidades sem trincheiras, sem letras, sem magistrados, povos sem habitações, sem uso de dinheiro, mas um povo sem Deus, sem orações, sem rito religioso, sem sacrifícios, nunca se viu”; tal foi o que disse Plutarco8 . Primeiramente, devo advertir que universalidade da religião não é prova de que ela seja boa coisa, pois, as que hão de ser de mais inefáveis e nefandas são comuns a toda a humanidade. O amor, o crime, o vício e a virtude, são universais, e também jamais se viu povo que não tivesse tais instituições no seu seio. Tais coisas devem a sua universalidade à natureza humana, que é a mesma em todas as partes. São todos os homens sujeitos às mesmas paixões, tendências e instintos, em todos os tempos e lugares e, é por isso que semelhantes instituições os acompanham em todos os lugares e tempos. No caso da religião, ela deve a sua existência à natureza mortal do Homem, como ser vivo que é. Para fazer-se um julgamento coerente e definitivo da religião, deve-se analisar como ela começou a existir, ainda na Pré-História, entre os trogloditas, e depois, como ela pôde evoluir para o que hoje é, e ainda, como foi transmitida de uma geração para outra. 8 Apud Malba Tahan (1895-1974), “Lendas do Céu e da Terra”, página 60, editora Record, 19ª edição, Rio de Janeiro, 1987.
  • 6. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 Ora, o propósito maior da religião é ensinar o método da redenção espiritual; entretanto, essa redenção somente é desejável porque os homens, assim como todos os demais viventes, estão sujeitos a morrer um dia, conforme ordena a Natureza, determinadora de que tudo o que pode ser criado também pode ser destruído. Os animais inferiores, e também os vegetais, como são desprovidos de inteligência, não podem ter consciência disso, e não sentem necessidade da preservação de uma coisa que eles não têm — a individualidade — e por isso, não fomentam esperanças de uma redenção. Os homens, todavia, têm algo a perder com a morte, e ainda antes de tal coisa tão extrema, a dor, a pobreza e a doença já são o bastante para desesperá-los; os seus egos não se conformam com a desgraça, e iniciam um processo de resistência. Louis Pasteur disse que “a maior perturbação mental é acreditar em uma coisa simplesmente porque a pessoa deseja que seja assim”, e Karl Marx tudo resumiu, ao dizer que “a religião é o ópio do povo”. Esta última verdade foi a que me converteu definitivamente para o agnosticismo e, se fosse corretamente analisada pelos homens como o foi por mim, já teria eliminado de cima do mundo todo e qualquer vestígio dessa doença. É aqui, enfim, que entram a minha análise, e o meu julgamento da religião. O Homem, por covardia, não é capaz de aceitar a realidade de um perigo iminente, e, quando não pode combatê-lo, aliena sua consciência, com o uso dos diversos entorpecentes que existem, como o álcool, a maconha e a heroína; entretanto, o mais vulgar, e geral desses vícios é a religião, livremente praticado pelo povo e protegido pela Constituição da maioria dos países, para esquecer os seus problemas, imitando a atitude estereotipada do avestruz escondendo sua cabeça num buraco; aliás, somente um alienado pode abençoar seus percalços e perseguidores, em lugar de pôr-se a lutar contra eles; se os homens passassem mais tempo
  • 7. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 enfrentando os seus problemas, e lutando pela realização de seus desejos, do que rezando para que um Deus os socorra, mais problemas no mundo seriam resolvidos, e a humanidade estaria mais feliz, especialmente se ela, pela opinião, pressionasse os governantes para que fossem mais competentes, em vez de fazer petições a Deus. Diga-se de passagem, inclusive, que a religião sempre foi usada pelos governantes no passado, para desviar a atenção da opinião pública e evitar revoluções justas, estimulando frenesis religiosos para que o povo implorasse ajuda a Deus contra a peste, a fome e a miséria, em vez de exigir vontade política dos nobres, que eram aqueles que poderiam verazmente erradicar todos os males, exceto a morte. Os homens primitivos, os pais da raça humana, apavorados pelos raios, ciclones, maremotos e demais flagelos da Natureza, dentre os quais a morte, decidiram reverenciar essas mesmas forças da Natureza, causas de todos os fenômenos meteorológicos, esperando que as bajulando, poderiam conseguir delas piedade e clemência (ignorando que eram e são tão cegas e irracionais quanto os animais que caçavam). A seguir, veio a preocupação com a salvação da alma, a qual deu origem a mais religiões ainda. Essa é a fonte única de todas as religiões, antigas e modernas, e vendo-se como ela é ridícula, podemos afirmar que a religião é uma coisa bem desmoralizada. Essa natureza covarde ainda subsiste nos homens, porque sempre que ocorre alguma desgraça, poucos são os que não se entregam às orações e súplicas. Essas práticas são completamente desnecessárias, parte porque se não existe nenhuma divindade, as preces não serão ouvidas; e parte porque se existe algum Deus, esse Deus, sendo o criador do Universo, sabe de antemão o que suas criaturas precisam — já que Ele as criou — e, caso elas mereçam socorro, serão atendidas sem que precisem pedir. Os teólogos podem criar justificativas para as práticas de religião, mas estarão sempre embasadas nos recursos da teologia moderna, pertinentes às religiões
  • 8. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 modernas9 , que não têm nenhuma relação com as causas que criaram as religiões dos homens das cavernas, a saber, a pusilanimidade e o medo. Creio firmemente que a religião é o mais perigoso do vícios, porque ela é o último estágio da carreira de degradação de qualquer viciado. Todo viciado começa a destruir-se com substâncias entorpecentes mais suaves, e à medida em que seu corpo vai-se dessensibilizando, a substância não mais surte o efeito pretendido, e o infeliz passa para o estágio seguinte de um entorpecente mais ativo. No fim, se ele não morre vitimado pelo vício, ou é desintoxicado, ou abandona seus prazeres tóxicos pela fé, que é seu novo vício. Depois, ele dirá: “a fé salvou-me dos entorpecentes”. Em verdade, a maconha salvou-o do vinho, as anfetaminas da maconha, e a heroína das anfetaminas. Não importa o que se diga contra isto. Aqueles que negam esta verdade não sabem do que falam. A religião é apenas o primeiro vício que a humanidade cultivou, e ao longo dos séculos, foi transmitido às gerações pela educação. A maior parte das pessoas, hoje, não crê na religião por medo, mas sim, por hábito. Os pais viciados em religião iniciam seus filhos, os quais, recebendo desde a infância tal instrução dada pelas pessoas em que mais confiam, habituam-se a acreditar sem questionar. São os de maior número, e se experimentassem aplicar a máxima cartesiana de que “para alcançar a verdade é preciso, uma vez na vida, desfazermo-nos de todas as opiniões que recebemos e reconstruir de novo e desde os fundamentos, todos os sistemas dos nossos conhecimentos”10 , muito maior seria a quantidade de pessoas mudando de opinião. Além daquelas duas espécies de fiéis, existe um terceiro tipo, o mais raro de todos, que é o daqueles que chegaram à crença pela razão, avaliando os diversos 9 Por “teologia moderna” e “religiões modernas” o autor designa as que se referem às crenças monoteístas, aparecidas nos tempos históricos, sucedendo à “teologia antiga” e às “religiões antigas”, que são as crenças anímicas dos homens da Pré-História. 10 V. nota nº. 3.
  • 9. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 lados do problema, e concluíram pela veracidade da fé. Estes fizeram um esforço louvável, e podem dar-se ao direito de exigir que seus sentimentos religiosos sejam respeitados; entretanto, essas pessoas ainda assim são erradas, porque foram más lógicas. Se conhecessem todas as premissas, não acreditariam em nenhuma religião, mas, como somente têm ao seu alcance a crítica das religiões modernas, sem o conhecimento das causas dessas mesmas religiões11 , terminam por seguir uma prática viciosa, a qual, mesmo sem causar danos físicos, como os entorpecentes concretos (sim, eis aí uma boa palavra para religião: entorpecente abstrato) usada em excesso leva ao fanatismo, que cega e embrutece, e aplicada com moderação, conduz a uma esperança vã, e que, apenas por ser falsa, deve ser evitada. Agora, entretanto, devo abrir um curto adendo a este capítulo, antes que eu continue o livro. Faço questão de declarar que eu não sou e nem fui um desses subvertedores da Natureza, um desses socialistas, marxistas ou comunistas (porque quem nega o direito à propriedade privada e à natural desigualdade econômica gerada pelas disparidades de inteligência, talento e vontade de trabalhar entre os homens não é mais do que um anormal e um insano), e se algum crítico aventar que eu minta quando nego ser um socialista, digo que não tenho que temer polêmicas ou ódios, porque com essas poucas páginas já escritas, levantei grita e rancor suficientes para perseguirem-me pelo resto de minha vida, e não preciso fazer mais nada para ser detestado; por isso, quando eu digo que sou ou não sou determinada coisa, é porque é verdade. Já disse o diabo; minha expectativa é de que sejam malvados comigo e, realmente, muito estranharei se não sofrer perseguições; quero apenas não ser acusado de ser e professar aquilo que não sou, nem professo. 11 O autor sustenta que as religiões modernas, como v.g. o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo são o resultado final de uma evolução iniciada nas crenças pagãs arcaicas. Assim, ao remontar às “causas” das religiões dos povos antigos — ou seja, os fatores sociais, ambientais e humanos que determinaram o aparecimento das primeiras manifestações de culto religioso — constataríamos que as religiões modernas derivam a sua existência de causas que não mais se justificam, como o temor aos fenômenos naturais. A conclusão é no sentido de que, perdendo as causas primárias a sua razão de ser, as religiões modernas de que são efeitos necessariamente deveriam deixar de existir.
  • 10. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 Capítulo III — Da Natureza de Deus Havendo eu analisado essas coisas, pude concluir e convencer-me de que não existe justificativa para a religião e o culto religioso; contudo, meu trabalho não terminava neste ponto: mesmo sabendo que ainda que Deus exista, não há motivo para a adoração, porque ela é uma conduta perniciosa, restava-me debruçar sobre a própria natureza de Deus, para que, desse estudo, pudesse eu saber se Ele é verossímil ou não, e depois disso, decidir que atitude tomar para comigo e para com a sociedade de que faço parte12 . Prosseguindo, se Deus existe, pude inferir que Ele não pode ter sentimentos e emoções humanas, os quais ser-lhe-iam eterna causa de imperfeições; aliás, para fazer uma comparação que permita melhor entendimento do que digo, Ele é igual, intelecto e emocionalmente, a um robô ou computador. Desta afirmação é possível definir exatamente o que é pecar, o que é de ordem divina, e finalmente, o que fazer para tornar-se mais parecido com a divindade; todavia, não me demorarei neste assunto, porque ele é suficientemente extenso para ocupar um tratado tão ou mais longo do que todos os capítulos deste livro. Ainda trabalhando sobre aquela certeza, contudo, pude entender o propósito de Deus em criar o Universo. Sendo Ele um robô de fato, Deus tem uma forte noção de propósito, e por causa disso, criou o Universo para dar um sentido à sua existência perfeita, que não teria nenhum motivo para ser, se não fosse empregada em alguma ocupação. Em verdade, essas famosas questões do “propósito de existir” não fazem sentido, porque coisa alguma, nem mesmo o Universo, tem um propósito direto para existir. Uma pessoa, por exemplo, pode ou não ser importante para a sociedade, mas 12 No manuscrito segue este trecho riscado: ...contudo, ainda antes de expor a minha análise, devo ressaltar que meu estudo compreende como Deus o putativo Criador e Senhor do Universo, não o Deus bíblico, Jeová, porque Ele é vilão e insolente, e não pode ser visto como o verdadeiro Deus, sendo odioso e sórdido como Ele é, e digno de todo o meu desprezo e rancor.
  • 11. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 a sociedade não tem importância para o planeta em que habita, e o planeta, para o Cosmo. O Deus em pessoa sente-se uma inteligência sem propósito, de outro modo, pois, não haveria criado o Universo, o qual, ainda que Deus não existisse, e fosse a instância mais elevada, continuaria sem justificativa de existir13 . Semelhante ensinamento, visto superficialmente, leva à conclusão de que tudo o que há no Universo é louco e despropositado; no entanto, aprofundando o exame descubro que em tudo existe uma consolação, ainda que sem justificativa direta de ser. É uma proposição bem simples, que consiste no seguinte: a alternativa para o Universo é o nada, e para o ser, o não ser, porque não se podem existir as duas coisas simultaneamente. No Universo, nada há que justifique sua existência, mas no nada, não há coisa alguma para se justificar, porque o nada é o vazio, e não há nele nem o propósito, nem o despropósito; é o que se concebe de mais louco. Até mesmo uma vida gasta em ócios e prazeres adquire razão de ser, porque a única alternativa é o aniquilamento, que é todo cego, todo ignorante e todo incompreensível, e nele nada existe que possa ser compreendido, conhecido ou visto. Também o ser é muito menos louco do que o não ser. Dentre essas duas escolhas, o ser e o Universo são os melhores, ou menos piores, em oposição ao não ser e ao nada, que são a completa negação, despropósito e loucura. Cada mínima coisa no Universo é inevitável e, por conseguinte, necessária e indispensável. Quanto à natureza física de Deus14 , é possível estabelecer a seguinte afirmação: para que Deus seja o Criador de todo o Universo, Ele precisa não ter sido criado por nenhum ser anterior, senão este é que seria o verdadeiro Deus e causa 13 No manuscrito segue este trecho riscado: Isto parece obscuro, mas faz muito sentido, depois de meditado pelo tempo necessário, principalmente depois de compreender este silogismo-parábola: Para que serve uma abelha? Ora, para fazer mel; mas para que serve o mel? Ora, para alimentar as abelhas. 14 Melhor colocado seria se dissesse “natureza íntima de Deus”.
  • 12. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 primeira de tudo; enfim, o Criador precisa ser o “movente imóvel”, como ensinou Santo Tomás de Aquino. Isto, no entanto, conduz à seguintes proposições: 1ª. Como Deus poderia ser causa de si mesmo? Se antes Ele não existia, como poderia sair do nada, e criar a si próprio? Ele teria que ser um efeito sem causa, e isso é inconcebível. Digamos que Deus seja um ente perfeito, nascido em um futuro de trilhões de anos a contar de agora, e que tivesse conseguido viajar no tempo, para o passado, e criar, não se sabe como, o Universo. Isto é um absurdo, porque o Universo seria um círculo vicioso, que somente existiria porque um ser, que surgiu trilhões de anos após o seu começo, viajou para o princípio do tempo, com o fim de criar a si próprio; ser esse que precisaria ter existido antes da viagem no tempo, para que pudesse empreendê-la, mas, que seria sua própria causa. Essa é a única resposta concebível para o problema, contudo, devemos descartá-la, porque é uma enorme loucura. 2ª. Se Deus pode criar a si próprio, porque o Universo não poderia haver feito a si mesmo, sendo sua própria causa, todavia causa cega e ignorante de sua condição15 ? Admitindo-se a existência de Deus, admite-se também que Ele poderia ser o seu próprio Criador; logo, absurdo por absurdo, é preferível acreditar que o Universo exista por causa de si mesmo, pelo seguinte motivo: Deus é um ser inteligente, logo, superior à sua criação, que é menos organizada16 . Ora, tudo o que existe evolui dos seres menos complexos para os mais complexos, do quantum para o quark, do quark para as sub-partículas atômicas, das sub-partículas para o átomo, até chegarmos às macromoléculas e ao DNA. Se Deus existisse, violaria o princípio básico de que todo ser inferior prepara a vinda do superior. Deus, sendo perfeito, é negado pela sua perfeição, que faz supor que a obra seja inferior àquele que a criou. O Universo, enfim, não sendo perfeito, não poderia ser criado por uma entidade imutável, onisciente, onipotente e onipresente, ou seja, perfeita, pois falta ao primeiro o maior dos atributos 15 E também inconsciente do fim. 16 No manuscrito segue este trecho riscado: ...que a divindade.
  • 13. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 da segunda: a inteligência, que somente pode desenvolver-se após o meio-ambiente atingir um estado mínimo necessário de organização, que não existia no começo do tempo. Para que o Universo exista, contudo, ele precisa não ter nem começo nem fim, desde toda a eternidade, sob pena de violar o enunciado por Lucrécio, há mais de dois mil anos, de que “do nada não pode sair nada”; no entanto, parece um grande absurdo esse, porque é impossível admitir que um ente possa ser sua própria causa, sendo que deveria existir uma época em que ele não era17 ; entretanto, a hipótese de Deus acha-se diante do mesmo problema, que ainda permaneceria insolúvel, equiparado às doutrinas deísta e ateísta: se não fosse pelos conceitos por mim estabelecidos hoje, conceitos esses que podem resolver definitivamente a questão. Antes, a conduta mais isenta era a de não ser nem pelos azuis, nem pelos verdes, pois, se os cientistas, que são aqueles que deixam vazar para os leigos o pouco saber que estes detêm, não vieram a público desmentir ou confirmar a existência de Deus, foi porque as provas para tanto não foram descobertas; agora, porém, fiz ver o quão a doutrina ateísta é a mais verossímil, simplesmente porque é mais coerente que um ser irracional como o Universo exista por si desde toda a eternidade passada, do que supor que, do nada, surgiria primeiro a inteligência excelente, para somente depois, aparecer o Cosmo irracional e imperfeito. Capítulo IV — Da Conduta para com a Divindade O Universo, conforme demonstrei, não poderia deixar de existir, porque qualquer outra realidade seria impossível18 ; todavia, parece restar uma possibilidade de que Deus exista, como ser criado após o início do Universo, ente esse que pode 17 O argumento segue a lógica de que se Deus sempre existiu, não poderia ser causa de si mesmo; se começou a existir dentro do tempo, causando-se a si mesmo, então não é eterno e, por conseguinte, não é Deus. 18 No manuscrito segue este trecho riscado: … .a alternativa para sua existência é o nada, mas, como do nada não sai nada, o Universo não foi precedido por uma era de não-existência, ele simplesmente existe porque qualquer outra realidade seria impossível.
  • 14. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 ser inteligente e perfeito, mas que lhe falta o atributo de ser o Criador, porquanto o seu princípio ocorreu dentro do espaço e do tempo19 . Tal não é, verazmente, muito importante para a humanidade, porque Deus teria poderes suficientes para ser o governante do Universo, o que não muda muito a situação dos seres que estiverem sob o seu poder; assim sendo, neste capítulo explicarei qual deve ser o comportamento da humanidade para com esse Deus, caso ele exista, já que é muito pouco verossímil que o Universo haja criado um ser como esse, que sendo infinito e onipresente, não poderia sobreviver às extremas condições do espaço sideral, a menos que seu “corpo” fosse constituído de uma variedade especial de matéria ou energia imune às radiações cósmicas, ao calor dos núcleos estelares e ao frio do vazio interestelar e intergaláctico, com os quais Ele haveria que conviver. Tal corpo, contudo, que fosse insensível à matéria e à energia, não poderia nelas interferir, tamanha a diferença de sua substância e, não sendo perturbado pelo Universo material, nele não haveria como causar perturbações. Essa situação é a de um homem preso num quarto lacrado, no qual não se pode entrar nem sair. Um Deus como esse, então, não tem importância nenhuma, porque não interferindo na matéria, sob pena de sofrer igual interferência dela, é como se não existisse; e assim sendo, Ele não pode ser governante ou senhor de Universo algum, e nem é para ser temido. Admitindo-se, porém, que Deus é tal como pintado pelas religiões, concluo que Ele não é para ser adorado, a bem da independência e futura felicidade da espécie humana como senhora do Universo. Chamem os críticos a isto “luciferianismo”, e a mim “Lúcifer na Terra”, se lhes parecer bem, mas essa é a verdade, e tal é o que demonstrarei. Deus (admitido por hipótese) tudo criou para ter um propósito de existir; essa é a razão de seu trabalho criador de justificar sua existência. Ora, quando uma pessoa 19 Um “Deus” como esse somente poderia ser o “demiurgo” de que falavam os gnósticos do Século II da Era Cristã.
  • 15. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 se submete a Deus, adorando-a, cria um círculo vicioso20 , em que a causa e o efeito se justificam um ao outro; sendo Deus um ser que não se justifica por si, dedicar-se a Ele é um ato sem propósito, e por conseguinte, tira até mesmo a Ele próprio a sua justificativa, porque a sua criatura também perde a razão de ser, voltando-se para a sua fonte. Eis porque a adoração, além de ser um vício, é uma ação perniciosa o bastante para retirar os poucos propósitos que um homem pode ter, principalmente quando ele dedica a própria vida à religião, sem assumir nenhuma outra atividade importante. Outra questão vital é a de que os homens nada têm a lucrar com a submissão. Primeiro, naturalmente, porque ela destrói a razão de ser dos fiéis, e segundo, porque os homens perdem a sua liberdade ao entregar seus destinos. A humanidade pode ser muito mais feliz e gloriosa tomando conta de si mesma, embora neguem-no certos líderes religiosos que pregam que os homens deveriam ser guiados pela divindade como se fossem bestas irracionais. A mesma inteligência e consciência de si que Deus tem, existe nos homens, que embora imperfeitos, sabem usar a razão, e devem usá-la para erigir uma era de glória, riqueza e prosperidade por seus próprios meios, da qual terão todo o mérito porque a fizeram por si mesmos. Por melhor que um Deus possa fazer aos homens, a submissão é indesejável porque todos aqueles que se entregam a Ele, entregam na mesma mão a sua dignidade. Isto não pode acontecer, e o que venho defendendo, aqui, é que os homens devem ignorar Deus, comportando-se como se Ele não existisse. A relação que os homens devem ter com Deus é a de um desconhecimento absoluto, para o bem dos primeiros, que precisam ser completamente livres e independentes. Se os homens têm uma individualidade, uma consciência, ela deve ser mantida e utilizada, porque a submissão é uma gaiola de ouro21 . 20 No manuscrito segue este trecho riscado: ...como o do silogismo-parábola do Capítulo III. V. nota nº. 13. 21 No manuscrito segue este trecho riscado: ...que embora seja de ouro, é, antes de tudo, uma gaiola.
  • 16. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 É isto, enfim, que venho ensinar e justificar neste livro, que é que a religião é uma conduta viciosa, que Deus certamente não existe, e se existe, é como se não o fosse, pois Ele é perigoso para o futuro da humanidade, que seria apenas gado irracional se confiasse seus destinos a Ele, que ainda que seja o Criador, não tem o direito de possuir suas criaturas, que são inteligentes como Ele e seus iguais22 , como escravos, pois, embora o jugo dessa escravidão possa ser leve, é sempre um jugo, e uma escravidão, ainda que leve. É nisso que sobrevive o meu agnosticismo e meus sistemas, porque ainda que se prove a existência de Deus, não muda a situação; e se isso romper alguma aliança que haja sido feita entre Deus e os homens, que implique em algumas garantias para a humanidade, como a de não ser atingida por um dia da ira ou do Juízo, em troca dela prestar obediência à outra parte, proponho que se faça nova aliança, a qual, assinada após o rompimento bilateral das anteriores, obrigue as duas partes igualmente, determinando que Deus abdique de seu poder e ausente-se de suas atividades no Universo, e que os homens deverão assumir as atribuições às quais Deus renunciará, exercendo em seu lugar o controle do Universo com sabedoria e justiça. Naturalmente, essas providências jamais deverão ser tomadas, porque Deus simplesmente não existe23 . Capítulo V — Acerca da Alma Humana24 A princípio, tem-se como certo que não existindo a divindade, a alma humana também não deveria existir; entretanto, pelo que pude averiguar, a negação de Deus não exclui de per si a existência da alma ou espírito, que se for quimérica, sê-lo-á por 22 Quem seriam “os iguais” a Deus? O autor parece estar aludindo ao momento em que Deus fala na segunda pessoa do plural, dizendo “façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis, Capítulo 1, versículo 26). Com quem falaria Deus Pai — com as outras pessoas da Santíssima Trindade ou com os anjos — é coisa a que nem mesmo os teólogos atingiram um consenso. 23 No manuscrito segue este trecho riscado: Mas, se não, que seja como se não fosse. 24 Muito se ressentiu o autor por não conseguir um exemplar do livro “L’ Esprit”, de Helvetius (1715-1771); todas as suas buscas, inclusive em bibliotecas públicas, restaram baldadas: nunca se traduziu para o português a obra em que o enciclopedista refuta a alma imortal, o que deixou este capítulo sem maior base teórica. Muito mais longe teria chegado, se pudesse cotejar suas teses com as do célebre materialista francês.
  • 17. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 outro motivo, sem nenhuma relação com o primeiro, porque se o Universo pode existir sem Deus, também a alma humana pode existir sem Ele, assim como o corpo material que anima25 ; contudo, pode-se imaginar que, não existindo Deus, não há nenhuma redenção ou punição depois da morte, o que embora pareça injusto, seria apenas mais uma das muitas injustiças que nos são feitas pela Natureza aos nossos escrúpulos e sentimentos. Existem, mesmo, as mais diversas questões a respeito da alma, dentre elas, a da reencarnação — talvez a mais importante — mas, por serem elas muito bizantinas, não tratarei de nenhuma delas neste livro para não desviar o rumo dos assuntos. Permanecerei, pois, analisando apenas o espírito em si, que é o de maior valor. Do espírito, infiro que se lhe pode dizer o mesmo que a respeito de Deus no tocante à sua natureza física, pois, se a alma é imortal e indestrutível, deve ser imune a qualquer ação da matéria, e portanto, não haveria como interagir com esta, e logo, a alma não poderia ligar-se ao corpo, e ainda, controlá-lo ao seu talante; se, no entanto, ela pode impressionar a matéria, a começar pelo corpo que anima, ela não é tão indestrutível e imortal como se supõe. Outra objeção que apresento é que hoje, mais do que em qualquer época, a ciência pôde provar que o pensamento e a memória — atributos básicos da alma — são produtos de um órgão físico da inteligência que, destruído, levaria ao nada o que nela subsistia. Aristóteles, no IV Século A.C., dizia que os homens pensavam sem órgão, pois, de outro modo, o raciocínio seria produto da matéria, e consequentemente, mortal e destrutível. Assim deveria ser, realmente, se a ciência não houvesse provado que o Estagirita cometera um erro (como quase sempre), e que o cérebro, suposto por Aristóteles como um radiador para esfriar o sangue, é o órgão 25 No manuscrito segue este trecho riscado: Sendo a alma a individualidade, a consciência, de fato ela pode existir livre do corpo como existia dentro dele; mas, naturalmente, não é direito especular sobre o que ela faz em liberdade, já que até hoje, não foi possível estudar o comportamento do espírito.
  • 18. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 do pensamento, responsável por todos os processos intelectuais. Prova-se isto porque se o cérebro for lesado em alguma de suas áreas, a função intelectual correspondente cessa de existir, seja ela a memória, ou os sentimentos, ou a inteligência26 , e além disso, ajunte-se que os tecidos nervosos, dos quais o cérebro faz parte, não têm capacidade de regeneração27 , de modo que ferimentos nesses tecidos não cicatrizam. Quando uma pessoa nasce, já vem ao mundo com todas as células de seu cérebro prontas (cerca de 100 bilhões) assim como as dos nervos. Durante o processo de crescimento, elas apenas desenvolvem-se, sem a substituição cíclica que ocorre em todo o corpo (a cada sete anos, aproximadamente, todas as células do corpo são trocadas por novas, exceto as do sistema nervoso) permanecendo sempre as mesmas células que já existiam no cérebro quando do nascimento. Estas células morrem, com o passar do tempo, numa quantidade que chega a ser de duas a quatro mil por dia, a começar do momento em que se completa quarenta anos, até a morte do corpo, sem que haja substituição, pois, do contrário, a cada nova alteração nas células, a memória e a personalidade alterar-se-iam, assim como todas as funções do intelecto. As pessoas continuamente esqueceriam tudo o que aprendessem e acontecesse-lhes, precisando estar em contínuo trabalho de aprendizagem e reaprendizagem; seus sentimentos e personalidades mudariam em pouco tempo, a cada vez criando novas pessoas em um só homem. Nessas condições, não seria possível aprender coisa alguma, e os homens nunca passariam do estado de crianças tenras, até a velhice, o que é o motivo pelo qual a alma não deve existir. Este capítulo poderia ser encerrado aqui, se não fosse por um detalhe: o fato de centenas de milhares de pessoas virem aparições de fantasmas, desde a 26 Na verdade, as seqüelas cerebrais são capazes de provocar alterações de memória e comportamento, e mesmo determinar ou curar doenças mentais. As funções psíquicas não “deixam de existir” quando o cérebro é lesado, o que só acontece com a morte. 27 A não regeneração dos neurônios, aceita como verdade absoluta por mais de dois séculos, desde quando Gall (1758-1828) a enunciou, vem hodiernamente (2008) sendo questionada, não somente por recentes descobertas, que indicam que o cérebro produz novas células nervosas até o fim da vida, como também pelas pesquisas com células-tronco (adultas e embrionárias), capazes de regenerar tecidos nervosos, inclusive do encéfalo e do raque, e que o autor não poderia prever, já que escrevia em 1996.
  • 19. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 antiguidade até a época presente. Descartadas as histórias dos mentirosos, e as criadas por imaginações loucas e mórbidas, resta uma grande quantidade de casos de difícil refutação, quer porque deixaram provas como a revelação de fatos desconhecidos, como porque são narrados por pessoas que não são nem loucas, nem mentirosas. Semelhante coisa pode ser explicada supondo que a alma é um alter ego formado pelo cérebro, o qual sobrevive à morte deste. Ao mesmo tempo em que sentimos e pensamos, um ser formado por energia desenvolve-se em nossos cérebros, e depois de nossa morte, ele, que tem as mesmas memórias e conhecimentos que nós, é libertado e passa a vaguear pela Terra, existindo por um tempo não determinado. Em verdade, ele não é a mesma individualidade que uma vez foi homem, e sim, uma cópia exata dele, um outro eu, que embora igual em memória e personalidade, é outro ser; e como essa “alma” se desenvolve junto ao cérebro, desde a infância, ela não tem noção da existência da individualidade corpórea, que é a verdadeira (pois é a que controla o corpo) assim como esta não percebe a existência da primeira28 ; por isso, quando ela se manifesta aos vivos, diz que é tal ou tal pessoa — que foi aquela em cujo cérebro se desenvolveu — e como acredita nisso, mente sem sabê-lo, até mesmo porque ela carece de meios para provar a sua origem. Quando acorda, após a destruição do cérebro, crê ser a alma da pessoa em que vivia, e não tem porque duvidar disso; se a vida for assim, contudo, para os homens isto é o mesmo que o nada, porque eles são aniquilados com a morte, e muito pouco lhes importa o que aconteça à alma, que é, na verdade, outra pessoa e, caso ela se dane ou salve, é como se outrem fosse recompensado ou punido. Esta doutrina é com efeito desesperadora, porque não guarda o menor alento para depois da morte; mas, e se nada houver após o desenlace? Suponhamos que tal seja a verdade, o que deve ser de fato, o que se pode fazer? Chorar? Recusar-se a aceitá-la? Não! Os protestos lançados contra o materialismo não são teologia ou filosofia; são gemidos e lamúrias, porque se o materialismo estiver correto, nada haverá que possa mudar a situação, 28 Seria esta cópia do nosso ego aquilo que chamam de inconsciente, e que depois da morte apareceria aos vivos como sinistros fantasmas?
  • 20. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 nem mesmo o clamor de “injustiça”, pois se esta é a realidade, em nada importa se é justa ou não. Apesar disso, porém, a negação da alma serve para aumentar o valor da vida; agora, milhões de pessoas sacrificariam suas existências sem importar-se, confiando em uma vida melhor além-túmulo; a perspectiva, contudo, de um aniquilamento faz ver como é importante esta vida, que é única, e pelo temor da morte, obriga aos homens a trabalharem mais pela melhora das condições de vida de si próprios e do restante da humanidade. Eu poderia encerrar este capítulo com estas belas palavras, percebo, porém, ser necessário deixar uma advertência final: após ler e meditar sobre tudo isso, o primeiro e mais intenso desejo que vem à mente é o de suicidar-se para descobrir a verdade; ora, isto é uma das piores loucuras, porque se há Deus e alma, o suicida certamente será punido com rigor pela divindade por haver destruído a vida que somente a Ele pertence; contudo, se não existe qualquer coisa além da matéria, perde-se a vida, que é única, por causa de nada, somente para ser aniquilado. Em qualquer uma das opções, não há esperança de lucro, mas sim, ou de um castigo terrível, ou do aniquilamento da individualidade, e eis porque é preferível viver com a dúvida a ser destruído por ela. Capítulo VI — Das Escrituras Sagradas Neste livro já analisei as religiões, a existência de Deus e da alma humana, e a conduta para com o suposto criador do Universo; agora, prestes a encerrar meu estudo, quero demonstrar o valor que têm os livros sagrados de todas as religiões. Primeiramente, começarei lembrando a frase de Sêneca segundo a qual “quando uma parte do todo cai, o restante não está seguro”. Quando em um sistema se se descobre que uma de suas partes é equivocada, deve-se esperar que os outras também possam sê-las, já que, afinal, se uma não é verdadeira, as demais, que procedem da mesma fonte, não mais estão acima de qualquer suspeita. Isto,
  • 21. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 verificado em todos os livros santos, que já tiveram partes contestadas ou refutadas pela ciência e até pelos outros livros sagrados, que sempre estão em desacordo, exceto no que respeita à base das religiões que fundamentam, conforme expliquei no primeiro capítulo29 . Em todos eles verifica-se a tendência de provar a existência de Deus pelo que está escrito, mas, somente é possível provar a excelência do que está escrito pela existência de Deus; assim, temos outro círculo vicioso, em que cada argumento sustém o anterior. Ora, duas colunas não podem amparar-se mutuamente, senão ambas saem de suas fundações, e caem. Ainda que os livros sagrados não sejam falsos em tudo, o fato de serem duvidosos é o bastante para não merecerem fé cega, e justifica um estudo minucioso de todos os seus ensinamentos, a fim de separar as verdades das mentiras. É isto uma tarefa extremamente difícil para qualquer pessoa acostumada a acreditar no que lhes foi imposto pela família e pelos costumes de seu povo desde a infância; a maior parte dos fiéis nem sequer aventa de questionar os fundamentos de suas religiões, o que é um proceder errado e pusilânime, pois, se a verdade estiver fora e acima da religião e seus livros sagrados, ainda assim, deve ser aceita, mesmo que a preço de renegar a fé e até mesmo a Deus. Eu gostaria muito de refutar aqui todos os livros sagrados de todas as religiões; porém, declino de fazer semelhante esforço, para não dilatar indefinidamente este livro, o que não seria bom, pois inviabilizaria sua intenção de ser um tratado curto, mas incisivo e profundo a respeito da natureza da fé e do que se refere a ela. 29 No manuscrito segue este trecho riscado: É inquestionável, por exemplo, que a Terra se formou há quatro bilhões e meio de anos, que o Universo existe há mais de oito bilhões de anos, e que não foi criado instantaneamente do nada por um ser divino, dentre outras afirmações que a ciência já comprovou; semelhantes coisas não devem ser deliberadas ou julgadas, porque já foram confirmadas como verdadeiras.
  • 22. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 Outro fator importante de meu estudo é o de que os livros sagrados têm uma origem bem duvidosa, porque, escritos há milhares de anos, estão ultrapassados, pois a humanidade e as condições humanas mudaram, ou porque foram escritos por pessoas desautorizadas e ignorantes, sem exceção. Não existe distinção entre os líderes religiosos do passado e os seus contemporâneos, ainda que sábios. Quero dizer que a mesma ignorância dos homens antigos era compartilhada pelos fundadores das religiões e escritores dos livros santos; ignorância essa de uma triste época em que as doenças não podiam ser curadas, em que não existiam automóveis, foguetes, radiodifusão ou radar; em que a física e as matemáticas mal começavam a desenvolver-se, e que as leis físicas hoje conhecidas eram totalmente ignoradas; época triste e miserável, em que a gravitação, a força eletromagnética, a radioatividade e as forças nucleares não haviam sido descobertas. Assim como os maiores sábios da antiguidade, como Aristóteles, do qual já falei mais Galeno e Hipócrates, dentre outros, foram desmentidos e ultrapassados em quase tudo, de igual modo, os líderes das religiões, que tiravam seu pouco saber dos erros desses cientistas fracassados, não poderiam ter nenhuma cultura ou sabedoria que prestasse, o que desautoriza seus escritos, que são as palavras dos homens ignorantes e incultos que eram. O chauvinismo religioso, bem vi, levantar-se-á contra isso, afirmando que esses homens eram intérpretes de Deus, que tudo sabe, e pode transmitir com perfeição a verdade, contanto que ela não seja distorcida por mãos inescrupulosas. Pergunto, então, se é possível provar que Deus alguma vez se encontrou com homens, ou sequer deixou algum sinal de Sua presença na Terra. Não! Não existe prova nenhuma disso, e, não havendo como provar, não é justo, nem inteligente, aceitar cegamente esses fatos; aliás, se tais fatos se deram alguma vez, por que eles não acontecem mais? Deus, segundo os livros sagrados, fazia chover fogo do céu sobre os que desagradavam seus desígnios, suscitava profetas, arrasava cidades com fogo e enxofre, enviava pestes aos povos por causa do delito de um indivíduo, por
  • 23. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 que, pois, estes prodígios não mais acontecem? Os homens continuam pecando e fazendo-se merecedores da ira de Deus, onde, pois, está esse Deus que não vem para vingar-se das ofensas dos mortais? Esses fenômenos e prodígios descritos pela história sagrada são meras lendas, indignas de crédito, pois, senão, os famosos milagres de Deus ainda estariam sendo operados, o que não ocorre, nem ocorrerá jamais, porque, como disse, não passam de lendas. Os verdadeiros autores dos livros sagrados eram homens, apenas homens, ignorantes e fanáticos, que escreviam o que suas mentes insanas queriam acreditar, e se nesses livros existem relatos históricos que puderam ser comprovados, foi porque os autores estavam apenas falando a respeito do que realmente viram, ou souberam de outras pessoas que falavam a verdade, se bem que a interpretação dos fatos, por eles apontada peque pelo absurdo, pois explicavam os processos conforme lhes convinha ás suas imaginações fanáticas, pondo, então, seus trabalhos muito abaixo das Histórias de Plutarco, Heródoto, Tito Lívio, e outros do mesmo jaez30 . Capítulo VII — Da Construção de um Sistema de Moral sem Deus Jamais se reconheceu o ateísmo como outro senão o fomentador da mesquinharia, do egoísmo e do crime. A moral do ateu é criticada como sendo antes falta de moral do que qualquer outra imputação mais digna, enquanto a religião pode gozar do prestígio de freio para as torpezas humanas. Sem a perspectiva de um castigo terrível, diz-se, não é possível deter os criminosos que confiam no sigilo em que permanecerão suas ações ocultas. 30 No manuscrito segue este trecho riscado: Concluindo, enfim, não se pode esperar conseguir encontrar verdade alguma nos textos sagrados, exceto as datas de batalhas, conquistas, nascimentos e falecimentos de reis; dentre outras de somenos importância, que não teriam motivo para serem inventadas.
  • 24. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 A certeza do aniquilamento no nada, a descrença em Deus, paradoxalmente, conduzirão ao bem a humanidade inteira, quando ela se compenetrar de que sendo esta vida única, encerra tudo o que pode ser precioso, durante os curtos momentos que medeiam entre sua criação e sua dispersão. Importante somente o é aquilo que servir para que ela seja plenamente aproveitada e, com tal disposição de idéias, esforçar-se-ão os homens pelo bem na Terra como pela salvação de suas almas. Com redobrado horror a sociedade perseguirá os criminosos, pois a ameaça ao bem comum é muito maior quando não tem o consolo da sobrevivência da alma das vítimas, e mesmo os perversos temerão a maldade, porque ela, como também o crime, sempre envolve no risco àqueles que a seguem; ora, o medo ao aniquilamento causa o horror a todos os riscos; a possibilidade de tudo perder, inclusive a si próprio, desestimula a qualquer empreitada, cujo lucro, se bem sucedida, é muito menor que o valor do que se arrisca à perda. Se é de freios que a humanidade precisa, dá o nada um muito melhor do que o da religião, que, sempre disposta a tudo perdoar, absolve maior número de crimes que os de que o materialismo é acusado de instigar, e que deve ser afastada, não pela memória de suas atrocidades do passado, de que, mais das vezes, foi objeto, e não agente, mas, porque é falsa, o que já é bastante para legitimar o ateísmo. Se um ateu isolado pode, em seu ateísmo, encontrar escusa para o egoísmo e o crime, a humanidade, conversa à descrença, entenderá a necessidade de seu progresso, livrando-se de todo opróbrio, como de tudo o que lhe entrave o bem-estar, pois, se o indivíduo somente enriquece à custa da exploração do semelhante, a sociedade prospera pelo banimento do mal. Trabalhando apenas para esta vida, todas as fadigas humanas serão usadas em fazê-la melhor, não tardando em que se declare que o Homem do Homem fez Deus à sua imagem e semelhança.
  • 25. Revista Pontes – 2012 – nº 33 – pp. 67-90 ISSN: 1808-6462 Conclusão Termino aqui a minha análise da religião. Nunca me retratarei do meu agnosticismo31 . Sou um materialista ateu. Reputo meu cepticismo como a primeira grande verdade que descobri em minha existência. Peço, apenas, que aqueles que não houverem como refutar as idéias deste livro, permaneçam calados, sem protestar contra o que não podem negar, ou que as aceitem, juntando-se a mim, para atirar-mos mais uma pedra no lugar sagrado. 31 O termo “agnosticismo” aqui parece estar mal-empregado, mormente porque a frase seguinte é “sou um materialista ateu”. O agnosticismo tem como premissa básica a impossibilidade de se ter certeza sobre fatos que transcendam a matéria, sendo chamado pelo Papa João Paulo II de “ateísmo cômodo”. O “ceticismo” mencionado logo a seguir, é uma postura de dúvida, capaz de atingir até mesmo certos fatos do mundo sensível; o que o autor pretendia, ao intitular-se ao mesmo tempo “agnóstico”, “materialista ateu” e “cético” era firmar, de modo irônico, a sua posição de negação e repulsa contra toda e qualquer forma de religião, avocando para si a plenitude de todas as formas pelas quais a crença religiosa é rechaçada.