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Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
I
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
II
DENI LINEU SCHWARTZ FILHO
MARISTELA ZAMONER
Lepidopterologia:
novas perspectivas em pesquisa
e conservação
1ª Edição
Curitiba
COMFAUNA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE FAUNA SILVESTRE LTDA.
2018
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
III
Copyright © 2018 by Deni Lineu Schwartz Filho & Maristela Zamoner
Direitos desta edição: Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
Comfauna Conservação e Manejo de Fauna Silvestre LTDA.
Todos os direitos reservados.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, sempre com a devida referência aos
créditos e sem qualquer fim comercial.
1ª edição – 2018
Elaboração e distribuição
COMFAUNA Conservação e Manejo de Fauna Silvestre LTDA.
Produção editorial
Edição: COMFAUNA Conservação e Manejo de Fauna Silvestre LTDA.
Autores: Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
Capa e Projeto Gráfico: Mário S. Trella (Fotografia: escamas - asa da borboleta Doxocopa
kallina (Staudinger, 1886) fêmea, por Maristela Zamoner.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
IV
Lepidopterologia:
novas perspectivas em pesquisa
e conservação
Lepidopterology: new perspectives in research and conservation
Liberi. Ano 3. Volume V.
ISBN 978-85-66017-13-7
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
V
Sobre os autores
Deni Lineu Schwartz Filho
Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR) no ano de 1986 e mestre em Ciências
Biológicas (Entomologia)/UFPR em 1990. Atualmente é
consultor e empreendedor na área de conservação e manejo de
fauna nativa e exótica. Tem experiência nas áreas de docência
em ensino superior, biogeografia, ecologia, conservação e
manejo das abelhas neotropicais, bem como no manejo e uso
econômico da fauna nativa e exótica.
E-mail: deni.schwartz.filho@gmail.com
Maristela Zamoner
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) no ano de 1997, mestre em Ciências Biológicas
(Zoologia)/UFPR em 2005, especialista em Educação Ambiental/2003,
em Direito Ambiental e em História e Antropologia/2017. Bióloga do
Museu de História Natural Capão da Imbuia. Experiência em
consultoria ambiental com lepidópteros, docência em graduação e pós-
graduação, organização/autoria de livros, destacando-se o livro
Biologia Ambiental, Editora Protexto, 2007.
E-mail: maristela.zamoner@gmail.com
Este livro é dedicado a Maria Sibylla Merian.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
VI
Abertura
A Série Liberi, como iniciativa para disponibilização de textos e frutos de
investigações produzidos pelo desejo puro de participar da elaboração
dos saberes humanos, chega ao seu Volume V trazendo discussões sobre
novas perspectivas para lepidopterologia, destacadamente sob o ponto
de vista de sua evolução histórica em pesquisa e conservação.
Inicialmente são discutidas as cinco gerações da lepidopterologia.
Em seguida é apresentado um estudo de caso de 5ª geração, o
caráter das listas de espécies como contribuição para o
conhecimento em biodiversidade e uma nova armadilha luminosa
para atração e contenção de lepidópteros, que dispensa o
sacrifício dos animais estudados.
Assim a Série Liberi mantém o propósito de oferecer liberdade
autoral sem a perda de propriedade da produção intelectual e
garantindo ainda o acesso gratuito a qualquer leitor.
Nossos caminhos
Desde que nos conhecemos, há dez anos, compartilhamos um encanto
inominável pelos insetos, em especial por abelhas e lepidópteros.
A descoberta e o uso de novas tecnologias sempre pautaram
nossos debates e sua combinação com o mundo natural nos
impulsiona a quebrar paradigmas e arrojar pela
experimentação fundamentada do desconhecido.
A atuação profissional conjunta em estudos ambientais destes grupos nos
incentivou a desenvolver, testar e aplicar profissionalmente uma nova
armadilha luminosa para avaliação ambiental de insetos fototrópicos.
Na esteira desta caminhada desbravamos possibilidades de estudos
sem coletas seguidas de sacrifício de lepidópteros, pelo uso
tecnológico que viabiliza a formação de acervos compostos por
registros fotográficos associados à metadados.
Há ainda um objetivo importante aqui almejado, favorecer uma aproximação
entre os amantes da Natureza e o conhecimento científico. Faz parte desta
missão, portanto, trazer ao público uma linguagem acessível, sem por isto ser
menos técnica, estimulando um autodidatismo sólido e replicável.
Um pouco dos resultados que obtivemos, arriscando fazer
diferente, é o que trazemos neste Volume V da Série Liberi.
Maristela Zamoner - Dezembro de 2018
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
VII
Prefácio
Por Onildo João Marini Filho
Fiquei muito lisonjeado com esse convite, uma vez que é uma
situação muito especial ser considerado para assinar o prefácio
de um livro que não teria prefácio. A maneira que trataram a
evolução deste ramo da entomologia, a Lepidopterologia, traz
uma organização do pensamento antes inexistente. Além da
descrição histórica, Deni e Maristela trazem uma discussão
muito consciente sobre a 5a. Geração dessa ciência.
Considerando as reservas que alguns pesquisadores já
declararam publicamente quanto ao uso de fotografias para a
identificação de organismos, os autores se expõem bravamente
à crítica ao apresentar a contribuição deste método para o
aumento do conhecimento de borboletas e mariposas.
Compartilho com clareza a visão dos autores sobre como as novas
tecnologias podem ajudar tanto na aquisição de dados sobre a
biodiversidade quanto no aprendizado sobre esta pela população
leiga e, especialmente, na reaproximação dos cidadãos da
natureza. O mundo do século XXI é novo, diferente e seus rumos
ainda incertos, porém estamos observando como a história natural
está sendo alçada a novos patamares com a participação da
sociedade. Milhares de informações são adicionadas diariamente às
bases de dados existentes na rede mundial de computadores. Foi
através deste caminho, usando o aplicativo iNaturalist, que conheci
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
VIII
a Maristela e o incrível trabalho que está fazendo no Capão da
Imbuia, área urbana de Curitiba.
Ainda, como contribuição especial desse livro, vem a armadilha
Curityba, que pode ser a solução que muitos buscam para fazer um
monitoramento não-destrutivo de mariposas, sem a necessidade de
grandes coleções entomológicas. As coleções científicas e a coleta
de exemplares são necessárias para se fazer o registro adequado
das espécies. No entanto, as fotografias podem adicionar muitas
informações sobre a ocorrência das espécies e seu uso pela
população leiga deve ser incentivado. Ainda há um longo caminho
pela frente até que os métodos já existentes de inteligência artificial
(aprendizado de máquina) possam suprir as identificações seguras
para a maioria das espécies. Não tenho dúvida de que as máquinas
ainda precisarão muito do auxílio dos taxonomistas para poderem
auxiliar a população a se reapaixonar pela natureza.
Onildo João Marini Filho
Graduado em Ciências Biológicas pela
Universidade de Brasília (1991), mestre em
Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas
(1996) e doutor em Ecologia, Conservação e
Manejo da Vida Silvestre pela Universidade
Federal de Minas Gerais (2002). Atualmente é
analista ambiental do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade. Se dedicou à
elaboração de instrumentos para a conservação de
espécies ameaçadas de extinção e ao inventário de
fauna em unidades de conservação. Líder da Rede
Nacional de Pesquisa e Conservação dos
Lepidópteros - RedeLep, atualmente se dedica à
ciência cidadã e ao monitoramento da
biodiversidade. E-mail: onildo.marini-
filho@icmbio.gov.br
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
IX
Agradecimentos
A todos os apaixonados que dedicaram e dedicam suas vidas ao
estudo dos lepidópteros, ilustrando e descrevendo espécies,
coletando exemplares, organizando e mantendo coleções científicas,
desenvolvendo metodologias, produzindo bancos de registros
fotográficos, aprimorando e disponibilizando o conhecimento sem o
qual não estaríamos aqui.
Agradecemos especialmente a Alessandra Dalia, que conhecemos
pelo iNaturalist e mesmo à distância se tornou uma grande parceira.
Entre incontáveis trocas de ideias, acabamos recebendo sua
importante participação na revisão de todo este livro, que resultou
em correções e sugestões valiosíssimas.
Homenagem
in memoriam
A Haroldo Palo Junior pelo trabalho de valor
inestimável, concluído em 2017, os três volumes
do livro Borboletas do Brasil.
O impacto dos resultados desta obra ainda não
começou a ser medido e um dos seus encantos é
a transparência. Pioneiro desbravador, inovador,
ousou organizando uma coleção hercúlea de
4.150 fotografias de borboletas vivas, cobrindo
um total de 1.727 espécies. Uma obra sem
precedentes e que certamente influenciará a
área do conhecimento das borboletas brasileiras.
Homenageamos também aqui, a todos os
colaboradores da obra Borboletas do Brasil,
fotógrafos, amantes da natureza e
especialistas, que dedicam incansavelmente sua
própria existência ao desenvolvimento desta
área, e sem os quais a obra de Haroldo não
seria tão especial.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
X
Uma caixa cheia de
saturnídeos alfinetados,
seja numa caixa
entomológica ou numa
moldura na parede, não
pode causar nenhuma outra
reação que não seja
admiração. No entanto, ver
estes seres ao vivo, nas
suas formas naturais de
repouso, é um prazer
imensamente maior.
John Cody, Wings of
Paradise, The University of
North Carolina Press, 1996,
página 11.
Fazendo o trabalho de campo, me
questionei sobre a vantagem de
ter animais mortos em museus,
se não for feito nada para
protegê-los na natureza.
Victor Osmar Becker, Brasileiro
possui uma das maiores coleções
de mariposas do mundo. Globo,
09 de março de 2014.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
1
Sumário
Sobre os autores................................................................................................ V
Abertura............................................................................................................ VI
Nossos caminhos .............................................................................................. VI
Prefácio............................................................................................................. VI
Agradecimento.................................................................................................. IX
Homenagem ...................................................................................................... IX
RESUMO..............................................................................................................3
ABSTRACT.........................................................................................................3
I. AS CINCO GERAÇÕES DA LEPIDOPTEROLOGIA .........................................4
1ª Geração: desenhos ................................................................................................ 8
2ª Geração: coleções ............................................................................................... 15
Sistemática ...........................................................................................................................16
Crise.....................................................................................................................................18
3ª Geração: manejo.................................................................................................. 20
Impacto das coletas sobre populações de lepidópteros....................................................22
Manejo, coleta e conservação ............................................................................................23
4ª Geração: sistemática molecular .......................................................................... 25
5ª Geração: digital em nuvem e rede...................................................................... 28
Fotografia/filmagem............................................................................................................29
Museu digital na nuvem, de acesso online ........................................................................30
Biodiversidade digital .........................................................................................................31
Identificação taxonômica automática .................................................................................32
Comparando métodos de campo – 2ª e 5ª Gerações.............................................. 36
Metodologias de campo - 2ª Geração ...............................................................................36
Metodologias de campo - 5ª Geração ...............................................................................39
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
2
II. 5ª GERAÇÃO -ESTUDO DE CASO..............................................................44
Bate-papo de abertura............................................................................................. 44
Como tudo começou ...........................................................................................................44
As propostas de identificação taxonômica.........................................................................46
Dificuldades e decisões ......................................................................................................49
O desafio - registrar qualquer fase do desenvolvimento das borboletas em campo ......54
Desdobramentos I – observações ocasionais e complementares .....................................55
Desdobramentos II – organização de guias........................................................................57
Desdobramentos III – observação de escamas..................................................................57
Borboletas do Capão da Imbuia ............................................................................... 58
Introdução ...........................................................................................................................58
Caracterização histórica, ambiental e legal da Unidade de Conservação do Bosque do Capão da
Imbuia..................................................................................................................................60
Metodologia.........................................................................................................................67
Resultados preliminares .....................................................................................................69
Conclusões preliminares e expectativas futuras.............................................................108
III. LISTAS DE ESPÉCIES X BIODIVERSIDADE............................................109
IV. ARMADILHA CURITYBA PARA LEPIDÓPTEROS NOTURNOS..............113
Fundamentação teórica e aspectos práticos....................................................................114
Armadilha Curityba (Schwartz-Filho e Zamoner, 2018) - descrição.............................116
Conclusões........................................................................................................................120
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................121
REFERENCIAL TEÓRICO ...............................................................................122
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
3
RESUMO
O livro discute aspectos históricos e atuais da lepidopterologia sob o olhar da
pesquisa e da conservação. Em seu primeiro capítulo, são abordadas cinco
diferentes gerações do estudo dos lepidópteros. A 1ª caracterizada por produção de
desenhos, a 2ª definida pela formação das coleções científicas, na qual surge o
Paradigma do Colecionador, a 3ª advinda de preocupações ambientais que
estimularam o desenvolvimento do manejo de lepidópteros, a 4ª moldada pela
sistemática molecular e a 5ª que reúne os saberes das anteriores agregando
tecnologias digitais e internet. O segundo capítulo apresenta um estudo de caso
com resultados preliminares da aplicação experimental da 5ª geração. O terceiro
capítulo sugere que as listas de espécies incluam informações capazes de refletir a
biodiversidade ao longo do tempo e se beneficiem das tecnologias abarcadas na 5ª
geração. O quarto capítulo apresenta a descrição da Armadilha Curytiba, que
permite estudos de 5ª geração para lepidópteros noturnos. Por fim, registra-se que
o contexto ambiental mundial e a crise de manutenção das coleções científicas
impulsionam o emprego das inovações trazidas pela 5ª geração, oportunizando
caminhos que favorecem efetivamente a conservação dos lepidópteros.
Palavras chave: lepidopterologia, pesquisa, conservação, listas de espécies, armadilha
luminosa, Ciência Colaborativa, sistemática, taxonomia, coleções científicas.
ABSTRACT
The book discusses historical and current lepidopterology under the lens of
research and conservation. In its first chapter, five different generations of the
lepidoptera study are addressed. The 1st, characterized by the production of
illustrations, the 2nd defined by the formation of scientific collections, in which
appears the Collector’s Paradigm, the 3rd stemming from environmental
preoccupations that stimulated the development of the lepidoptera handling, the
4th shaped by the molecular systematic, and the 5th which reunites the learning of
the previous ones, aggregating digital technologies and the internet. The second
chapter displays a case study with preliminary results of the experimental
application of the 5th generation. The third chapter suggests that the lists of
species include information able to reflect the biodiversity through time and
benefit from the Technologies covered in the 5th generation. The fourth chapter
presents the description of the Curytiba Trap, which allows the 5th generation
studies for nocturne lepidoptera. Finally, it is registered that the worldwide
environmental context and the scientific collection maintenance crises stimulate
the employment of the innovations brought by the 5th generation, giving
opportunity to ways which effectively favor the Lepidoptera conservation.
Keywords: lepidopterology, research, conservation, species lists, luminous trap,
Collaborative Science, systematic, taxonomy, scientific collections.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
4
I. AS CINCO
GERAÇÕES DA
LEPIDOPTEROLOGIA
THE FIVE GENERATIONS OF
LEPIDOTEROLOGY
Por Deni Lineu Schwartz Filho
Ao longo da história humana o estudo da biodiversidade zoológica
passou por sua evolução. A sequência de mudanças gradativas na
forma de estudar e registrar a fauna, que inclui os lepidópteros, pode
ser analisada sob o olhar da composição de diferentes gerações.
Desta forma, reconhecemos cinco gerações da lepidopterologia,
cada uma delas com características próprias (Quadro 1).
1ª Geração: é marcada pelo uso de ilustrações, desenhos, para
representar as espécies e suas estruturas, vivas ou não. Iniciou-
se antes da escrita, é constatada desde alguns milhares de anos.
Com o tempo os desenhos ganharam o acompanhamento de textos
e nomes para as espécies, com graus de complexidade
crescentes. Até hoje recursos de 1ª Geração têm espaço
importante na lepidopterologia.
2ª Geração: dá-se pela formação das coleções científicas de
animais sacrificados, encorpadas a partir das coletas de
exemplares e aprimoramento científico da Sistemática, que se
consolidam de forma mais definida a partir do século XVIII. As
coleções são importantes para lepidopterologia até hoje, apesar
da crise que enfrentam.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
5
3ª Geração: é caracterizada pelo uso das técnicas de manejo na
lepidopterologia, pelo trabalho com lepidópteros vivos, que depende
do conhecimento sobre seu ciclo de vida e sua ecologia. É resultado
das primeiras preocupações humanas com as questões ambientais.
Estes estudos apresentam importância crescente tanto para a
economia quanto para a conservação.
4ª Geração: a biologia molecular permitiu uma nova forma de
analisar a vida e dela derivaram muitos campos novos de estudos,
um deles é a sistemática molecular, que configura a 4ª Geração
da lepidopterologia. A sistemática molecular permanece em
evolução na atualidade.
5ª Geração: associa técnicas e conhecimentos produzidos nas
quatro gerações anteriores às possibilidades trazidas pela
computação em nuvem (cloud computing). É resultado da
convergência de tecnologias, incluindo o uso de imagens e
metadados digitais disponibilizados e processados em tempo real
pela internet. Desta combinação surgiram os museus e as
coleções científicas digitais na nuvem, com acesso online, as
redes de Ciência Colaborativa e o uso da inteligência artificial,
por exemplo, para o desenvolvimento de recursos destinados à
identificação taxonômica automática a partir de imagens digitais.
Naturalmente, não se objetiva aqui cobrir todas as descobertas
que envolvem os estudos com lepidópteros, mas sim,
apresentar uma proposta para historiar o seu desenvolvimento
em diferentes gerações, definidas pelo surgimento de
tecnologias e as suas consequentes mudanças culturais, que
trouxeram e trazem contribuições importantes para pesquisa e
conservação na atualidade.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
6
Quadro 1. Comparativo entre as diferentes gerações da lepidopterologia
1a Geração
Pré-história
2a Geração
Século XVIII
3ª Geração
Século XX
4ª Geração
Século XX
5a Geração
Século XXI
Registro
de
lepidópteros
Produção de desenhos,
principalmente de
adultos.
Exemplares mortos
conservados,
principalmente
adultos.
Registros de todas as
fases de
desenvolvimento por
desenhos, fotografias
etc., oportunizados pelo
manejo dos espécimes
vivos.
Sequência de
nucleotídeos que
identificam cada
espécie.
Captura de imagens digitais.
Métodos,
materiais
e
tecnologias
Pigmentos e marcas
em rochas, lápis,
pincel, tinta em papel,
eventualmente lupas,
mais recentemente
softwares próprios para
produção de desenhos.
Técnicas de coleta,
redes entomológicas,
armadilhas, métodos
de sacrifício,
montagem e
conservação. Uso de
lupas, microscópios e
produtos químicos
entre outros.
Coleta de exemplares
vivos e uso de técnicas
para controle e
desenvolvimento e/ou
acompanhamento de
seu ciclo completo in situ
e/ou ex situ.
Técnicas próprias da
sistemática molecular,
a exemplo de PCR.
Câmeras digitais, celulares
com tecnologia de agregação
de metadados a fotografias
digitais, aplicativos,
microscópios individuais,
internet, redes sociais,
softwares de identificação
automática de espécies entre
outros.
Sistemática/
nomenclatura/taxonomia
Início da preocupação
em nomear e classificar
especialmente adultos,
sem preocupação com
relações evolutivas.
Ganha importância a
Sistemática,
nomenclatura
científica e
taxonomia, apoiadas
principalmente por
estudos em
morfologia de
adultos, começa a
preocupação com as
relações evolutivas.
Valorizam-se as
pesquisas de morfologia
das diferentes fases,
ovo, lagarta e pupa,
além do adulto. As
relações evolutivas
agregam informações de
fases jovens.
O estabelecimento de
uma nova espécie, seu
reconhecimento e
suas relações
evolutivas são
propostos pelo estudo
de seu material
genético.
Registros digitais de imagens,
nuvem, museus digitais online
e a Ciência Colaborativa
viabilizam consultas a
material tipo e interações
para reconhecimentos
taxonômicos em tempo real.
Novas técnicas de
identificações são
demandadas. Identificações
eletrônicas de fotos começam
a ser propostas, trazendo
perspectivas promissoras.
Relações evolutivas e
ecológicas se integram.
Ecologia
Observações
ecológicas
eventualmente
ilustradas com os
espécimes.
É mais valorizada a
coleção do que
aspectos ecológicos
dos exemplares
coletados.
Estudos de ecologia e,
especialmente
autoecologia, ganham
importância.
Descrições de novas
espécies podem ser
feitas sem o
pesquisador conhecer
a espécie em vida.
Conhecimento
ecológico é
secundário.
Os registros dos lepidópteros
vivos favorecem observações
e constatações de vários
aspectos ecológicos. A
interação pela Ciência
Colaborativa compõe a
ampliação dos registros de
observações ecológicas,
potencializando seus estudos.
Status
atual
Desenhos e ilustrações
ainda são produzidos e
publicados inclusive
cientificamente.
As coleções
científicas
permanecem
importantes, porém,
enfrentam crise de
manutenção e
segurança devido
aos altos valores
demandados para
estes fins. A
legislação ambiental
começa a restringir
coletas e sacrifício
animal.
Manejo in situ e ex situ
de lepidópteros para fins
econômicos e de
conservação são
crescentemente mais
valorizados e oferecem
perspectivas
importantes.
Biologia molecular é
extensamente
demandada e começa
a se perceber a
importância de
associá-la a
morfologia e ecologia.
Uso de fotografias para
registro de fauna é crescente.
Os compartilhamentos de
informações em tempo real
começam a ganhar
relevância, gradativamente se
reduz a resistência nos meios
mais tradicionais, crescem
iniciativas de Ciência
Colaborativa e identificação
automática digital de
espécies.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
7
Figura 1. Representação esquemática do surgimento e continuidade pelo tempo das
cinco gerações da lepidopterologia. 1ª Geração: desenhos; 2ª Geração: coleções
entomológicas; 3ª Geração: manejo; 4ª Geração: sistemática molecular; 5ª Geração:
digital, nuvem, rede.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
8
1ª Geração:
desenhos
Por Maristela Zamoner
A 1ª Geração dos estudos da fauna, passíveis de comunicação
intergeracional, caracterizou-se pelos registros de imagens na
forma de ilustrações e desenhos produzidos por humanos.
Pinturas rupestres, imagens gravadas em rochas com técnicas
específicas, resistiram ao tempo e hoje chegam a ser
consideradas como registros primitivos de fauna1,2
.
Representações de artrópodos são conhecidas em civilizações
que viveram há milhares de anos, nos cinco continentes3
. Entre
os mais representados estão abelhas, escorpiões, lepidópteros e
aranhas3
. Naomi Pierce, lepidopterologista da Universidade de
Harward, sustenta a tese da existência de evidências da
representação de borboletas em pinturas rupestres que podem
ter cerca de 30 mil anos4
.
Outras obras antigas permitem até mesmo a identificação da
espécie biológica representada. É o caso da pintura Fowling in
the marshes encontrada em Tebas, no Egito, na tumba de
Nebamun, datada de cerca de 1.350 a.C. Este é um dos registros
iconográficos conhecidos mais antigos e a espécie Danaus
chrysippus foi identificada na pintura por dois entomólogos,
Naomi Pierce e Vladimir Nabokov4
. Notemos que a pintura
chegou aos nossos tempos em condições de conservação e
replicação que permitiram a identificação da espécie.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
9
Figura 2. Fowling in
the marches, Tebas,
Egito, datada em
torno de 1.350 a.C.
Fonte: Museu
Britânico. Licença de
uso Creative
Commons.
Disponível em:
https://www.britishm
useum.org
Muitos outros registros existem em diferentes continentes,
inclusive de fases jovens, e encerrando significados mitológicos.
Alguns deles merecem atenção, como é o caso das representações
pré-hispânicas de lepidópteros adultos no México. O assunto é tão
vasto que inspirou o entomólogo Carlos Beutelspacher a publicar,
em 1988, um livro ilustrado, dedicado ao tema da relação dos
mexicanos antigos com os lepidópteros. O estudo cultural e
iconográfico do entomólogo permitiu o reconhecimento de diversas
espécies de lepidópteros, entre elas Papilio multicaudata,
Rothschildia orizaba, Eucheria socialis e Ascalapha odorata5
.
Embora estas e diversas outras representações nos diferentes
continentes estivessem relacionadas à mitologia, ou à expressão
artística, em muitos casos não deixam de configurar como registros
iconográficos lepidopterológicos.
As imagens seguiram no tempo ocupando a posição de importante
recurso para lepidopterologia. Desenhos antecederam a escrita, que
mais tarde veio a participar da 1ª Geração da lepidopterologia, com
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
10
descrições e notas quase sempre acompanhando as ilustrações.
Quando discutimos a iconografia sob o olhar da possibilidade da
identificação de espécies ao longo do tempo, notamos claramente
que as representações humanas deste grupo entomológico se
tornaram mais precisas com o passar dos milênios.
Nos últimos séculos atingiu-se um caráter científico, que em muito
se deve ao perfil dos naturalistas. Por isto, neste histórico, é
relevante lembrar o valor dos desenhos feitos por naturalistas
visitantes do Novo Mundo a partir do século XVI, apesar de todas
as justas críticas que recebem6
.
Vandelli (1735-1816), por exemplo, naturalista italiano fundador do
Museu de História Natural em Coimbra, preparou muitos discípulos
naturalistas que vieram ao Brasil nas expedições filosóficas para
realizar estudos científicos ainda no século XVIII. Assim, as terras
brasileiras puderam ser mais conhecidas sob uma ótica além da
exploração. Esta personalidade pouco conhecida, Vandelli, já
considerava os naturalistas como aquelas pessoas capazes de reunir
aptidões raras, pois sabem selecionar, classificar, localizar e fazer
registros ilustrativos sobre o que estudam7
.
Nesta seara dos naturalistas destacamos, como exemplo e
ícone da 1ª Geração da lepidopterologia, a notável estudiosa
alemã Maria Sybilla Merian, cujo trabalho é reconhecido e
merecedor de homenagem8
.
Nascida no ano de 1647, em uma família de impressores, Maria
Sybilla Merian foi uma mulher corajosa e muito avançada para
seu tempo, uma pessoa que combinou com maestria seu fazer
artístico à sua capacidade de observar, interpretar e registrar a
ecologia e a biologia das transformações dos seres vivos, muitos
deles, lepidópteros9
. Ela realizava coleta de insetos em suas
fases imaturas e os mantinha vivos, suprindo suas necessidades
para acompanhar seu desenvolvimento e ilustrá-los com precisão
até a fase adulta, o que exigia tornar-se capaz também de
identificar plantas hospedeiras e aprender a biologia, ganhando
uma visão ecológica única para a época9
.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
11
Ela chegou a levar mais de uma década para ter sucesso no
desenvolvimento de uma única espécie até a fase adulta.
Também descobriu relações de parasitismo e até publicou, no
prefácio de seu Livro das Lagartas, que as fases larvais vinham
de ovos colocados após a cópula de adultos. A surpresa desta
publicação é o fato de ter sido feita num tempo de plena
aceitação das ideias de geração espontânea9
.
Em um mundo masculino, Maria separou-se do marido e buscou
meios científicos e artísticos para se desenvolver. Com
cinquenta anos de idade ultrapassados, financiou a própria
viagem ao Suriname, levando consigo sua filha mais nova, então
com 21 anos de idade. Nesta viagem enfrentou a floresta
tropical, contatou populações indígenas e realizou coletas tanto
de plantas quanto de animais para produção de ilustrações. A
partir deste trabalho publicou a obra Metamorfose dos Insetos
do Suriname, seu terceiro livro, no qual trabalhou como autora,
ilustradora, pintora, editora e impressora, publicando-o em 1705
com sessenta gravuras9
.
Seu primeiro livro tratava de Botânica. O segundo, conhecido
como Livro das Lagartas, publicado em 1679, incluía 50 gravuras
de insetos, em especial lepidópteros representados em suas
fases de ovo, lagarta, pupa, adulto, sem deixar de registrar sua
dieta alimentar. Maria constatou não somente o ciclo de diversos
lepidópteros, distinguindo mariposas de borboletas, como
incluiu, de forma inovadora, a presença de seus ovos e exúvias.
Alguns exemplos de suas ilustrações podem ser contemplados
nas figuras que seguem, revelando registros anteriores à
descrição das espécies.
*Fonte das figuras 3 e 4: Capturas de tela obtidas
diretamente do livro original, Ofte Werandering der
Surinaams, de Maria Sibylla Merian, publicado em
1705, disponível no acervo eletrônico da Universiteite
Utrecht. Disponível em: http://objects.library.uu.nl.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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12
Figura 3. Ilustração da página 33. A espécie, Hamadryas amphinome, foi descrita
por Linnaeus somente em 1767.*
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13
Figura 4. Ilustração da página 69. A espécie, Thysania agrippina, foi descrita
por Cramer somente em 1776.* Até hoje o ciclo da espécie conta somente com
este registro.
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14
Maria viveu muito antes do surgimento de grandes nomes como
os de Humboldt e Darwin, o que nos faz reconhecer um
pioneirismo surpreendente10
.
Alguns dos materiais coletados por ela em sua viagem ao Suriname
foram levados preservados para Europa. Embora ela realizasse
coletas, a essência de seu trabalho é resultado da observação da
fauna em vida9,11
. É relevante ainda o fato de que parte de suas
coletas eram destinadas à venda ou troca com outros naturalistas e
pessoas influentes, como uma das formas de sustentação do seu
trabalho principal, suas publicações, o que reforça um olhar atual
sobre ela também no viés empresarial12
.
A discussão sobre seu legado na literatura é concentrada em suas
ilustrações, sem referências, na mesma proporção, ao destino ou estado
de conservação dos exemplares que coletou e enviou para a Europa11
.
As imagens dos desenhos de Maria Sibylla Merian foram replicadas
desde as impressões físicas promovidas por ela própria até as cópias
digitais que estão hoje à disposição da humanidade, como é a
natureza deste tipo de registro da fauna.
Maria foi uma cientista, sem dúvida, e uma artista que inspirou
ilustradores de gerações posteriores. Muitos outros se seguiram e
deixaram seus legados extraordinários, que podem ser desfrutados
pela humanidade até os dias de hoje.
John Cody (1925-2016), por exemplo, deixou uma obra incrível com
gravuras de lepidópteros em posições naturais13
. O desejo do artista
era ir além do trabalho de Maria Sibylla Merian13
.
Os naturalistas foram essenciais para lepidopterologia. Os
resultados de seus trabalhos permanecem disponíveis nas
ilustrações que registraram características de várias espécies e até
gravuras dos raros fósseis conhecidos.
A 1ª Geração da lepidopterologia passou por sua evolução própria,
obteve importância também na elaboração de chaves ilustradas e
conta, mais recentemente, com recursos computacionais modernos.
Desenhos de lepidópteros estão presentes em artigos científicos até
hoje, incluindo representações de diferentes estruturas
morfológicas, fases de vida e, mais recentemente, em composição
com conhecimentos que vão além da taxonomia14,15
.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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15
2ª Geração:
coleções
Por Maristela Zamoner
A 2ª Geração de estudos dos lepidópteros é marcada pelo início das
formações de coleções zoológicas, compostas por conjuntos de animais,
e/ou suas partes, coletados, sacrificados e preparados para atingirem a
maior durabilidade possível, a fim de subsidiar estudos ao longo do
tempo. Sua organização cumulativa permite que funcionem como
referências de documentação para biodiversidade e sua história16
.
As configurações mais formais de coleções, especialmente em museus
de história natural, remontam principalmente ao século XVIII, e desde
então agregam continuamente resultados de coletas, favorecendo uma
reconstrução histórica que compõe a memória de processos naturais16
.
No Brasil a primeira coleção zoológica oficial partiu da iniciativa de Dom
João VI, data de 1818, foi chamada de Casa dos Pássaros e veio a
compor posteriormente o acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro17
.
A partir de então, outros acervos começaram a se formar, como o Museu
Paraense Emílio Goeldi em 1866 e o Museu de Zoologia da Universidade
de São Paulo em 188617
. Hoje existem importantes coleções
lepidopterológicas no Brasil.
É na 2ª Geração da lepidopterologia que se estabelece o Paradigma do
Colecionador, uma forma de pensar norteada pelo raciocínio
característico da elaboração e alimentação continuada das coleções
científicas. Embora novas áreas de conhecimento na lepidopterologia
tenham surgido, o Paradigma do Colecionador continua influenciando o
fazer científico nesta área.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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16
Sistemática
Com a descoberta do Novo Mundo as coleções zoológicas ganharam
volume rapidamente e os estudos de classificação das espécies
precisaram avançar, passando a Sistemática - dedicada à identificação,
taxonomia e nomenclatura - a ter entre seus objetivos a própria
preservação das coleções de organismos18
. Assim, os estudos de
morfologia proliferaram largamente a partir da 2ª Geração da
lepidopterologia, ligados e diretamente influenciados pela formação e
organização de coleções científicas.
O reconhecimento taxonômico próprio da 2ª Geração da lepidopterologia
é habitualmente procedido após a coleta, sacrifício e montagem dos
espécimes para inclusão em coleções científicas, quando o pesquisador
consegue visualizar por completo a sua morfologia.
Em alguns casos as genitálias dos exemplares são consideradas relevantes
em reconhecimentos taxonômicos, sendo preparadas para visualização
microscópica. As técnicas de identificação são adequadas, portanto, para
aplicação em lepidópteros mortos, geralmente montados em alfinetes
entomológicos para preservação em coleções científicas.
Por longo tempo a identificação taxonômica foi tarefa restrita a
especialistas, muito embora na história não faltem exemplos de
amadores com capacidade extraordinária nesta atividade. Nos estudos
taxonômicos de lepidópteros, a história revela personalidades brilhantes,
que contribuíram absurdamente para formação deste conhecimento,
descrevendo quantidades incríveis de espécies ainda desconhecidas da
humanidade, identificando exemplares para os mais variados fins,
produzindo estudos pormenorizados a respeito de recortes peculiares
na área e doando suas vidas a este universo. Muitos deles construíram
e sustentam, ou sustentaram durante a vida, grandes coleções científicas
de valor inestimável, base para quase todo o conhecimento taxonômico
existente na atualidade. Falamos aqui de pesquisadores que trazem em
seus históricos contribuições inomináveis e de valor inquestionável.
Listá-los seria uma tarefa que certamente produziria injustiças pela
dificuldade de abranger a todos. Ademais, seus currículos, repletos de
contribuições absolutas para área, os identificam.
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17
Até hoje se recorre a métodos de 2ª Geração como a consulta aos
especialistas e uso de lupas, literatura e chaves dicotômicas, em sua
maioria datadas do século XX, para atender à necessidade de realizar
identificações de espécies19
. Entretanto, na prática, o uso das chaves
dicotômicas nem sempre resulta em identificações eficientes, porque
elas não conseguem abranger toda diversidade e os caracteres
morfológicos analisados podem ter interpretações que geram dúvidas.
Na evolução da 2ª Geração da lepidopterologia até a atualidade,
ocorreram vários avanços tanto nas técnicas de preservação dos
espécimes que integram as coleções como nos processos de descrição
e identificação de espécies.
A microscopia eletrônica figura neste breve retrospecto como recurso
importante em estudos de morfologia. Depois de um histórico
envolvendo alguns nomes de pesquisadores, foi em Berlin, no ano de
1930 que Max Knoll e Ernst Ruska trouxeram a público o primeiro
microscópio eletrônico de transmissão20
. Sua produção comercial
viabilizou-se em alguns anos, devido ao trabalho de pesquisadores que
atuaram especialmente na área biológica, passando a ser possível obter
imagens com resolução 100 vezes maior do que a obtida de um
microscópio ótico, e permitindo visualizar o interior das amostras21
. Até
hoje a microscopia eletrônica de transmissão é utilizada na área
biológica, destacadamente para observação de morfologia celular22
. Na
área dos lepidópteros, para exemplificar, o estudo de seus patógenos
intracelulares conta com a eficiência da microscopia eletrônica de
transmissão até a atualidade23
. Com o envolvimento de vários estudiosos
o primeiro microscópio eletrônico de varredura passou a ser
comercializado em 1952, permitindo a observação de estruturas
tridimensionais com resolução cerca de 300 vezes melhor que a de um
microscópio ótico24
. Uma diversidade de estudos em lepidopterologia
continuam embasados em morfologia e fazendo uso da microscopia
eletrônica de varredura, atendendo objetivos variados a partir da
observação das formas nas diferentes estruturas, fases de
desenvolvimento e, mais recentemente, associando tais conhecimentos
a outras áreas além da Sistemática25, 26, 27
.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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18
Crise
As coleções científicas mundiais enfrentam na atualidade crise
crescente de manutenção, tornaram-se muito grandes, as
maiores têm absorvido menores, inclusive particulares, e se
registra nas últimas décadas que as suas sustentações são cada
vez mais difíceis17,28
.
Administradores de grandes coleções hoje, não raro, rejeitam a
inclusão de exemplares repetidos, e há dificuldade na destinação
final de espécimes zoológicos que foram retirados do ambiente e
sacrificados para uma variedade de estudos.
Sobre parte dos exemplares de coleções científicas constata-se
estado de conservação crítico, inclusive de materiais tipo, é
conhecida a realidade de perdas e destruições envolvendo
diversas instituições do mundo29
.
Quanto mais robustos os acervos, maiores suas demandas por
recursos e mais difícil obtê-los, especialmente em países como
o Brasil, cuja biodiversidade é desproporcionalmente mais
elevada e rica do que a consciência política. Muitas destas
coleções são incrementadas e mantidas temporariamente,
enquanto crescem, com recursos particulares dos
pesquisadores que nelas atuam, um ciclo desesperado de
alimentação da sua própria insustentabilidade. O resultado é a
realidade de manutenções cada vez mais caras e precárias,
segurança elementar insuficiente e casos de aniquilamento
irreversível desta memória.
Assim chegou-se a situação factual da ruína de importantíssimas
coleções científicas. Só para exemplificar, foi o que ocorreu em
2010 com o acervo de serpentes e aracnídeos do Butantan e em
2018 com acervos históricos e biológicos do Museu Nacional, que
incluía exemplares de lepidópteros.
Mas independente de diferentes situações das variadas
coleções científicas existentes no Brasil, das questões
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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19
políticas e éticas absolutamente pertinentes a cada caso, e da
conjuntura da nação, queimaram-se acervos valiosos que não
receberam recursos financeiros necessários para garantir a
sua segurança e manutenção básicas. E muitos outros acervos
do país trilham exatamente o mesmo caminho inexorável, até
que se prove o contrário.
Perdas como as do Butantan, do Museu Nacional, e tantas outras,
não fazem sumir apenas os materiais físicos, mas os legados de
homens e mulheres que dedicaram suas vidas para seus pares
contemporâneos e futuros saberem um pouco mais da própria
existência. Perdas como estas nos fazem pensar sobre o que
apagamos de gerações passadas e atuais, sem nem registros
fotográficos, como também nos incitam à reflexão sobre o que
ceifamos do futuro.
É momento propício para pensar sobre as razões pelas quais
existem tesouros históricos e biológicos públicos que não estão
democraticamente acessíveis, pelo menos em fotografias e
planilhas de dados.
É preciso rever o espectro técnico e político da sustentabilidade
de coleções científicas brasileiras, afinal, hoje, o resultado do
trabalho secular característico da 2ª Geração da lepidopterologia
no Brasil permanece valioso e indispensável para o conhecimento
na área. As coleções são fonte indiscutível de conhecimento
biológico e histórico da biodiversidade de lepidópteros, mas
sofrem riscos reais de ruína irreversível.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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20
3ª Geração:
manejo
Por Maristela Zamoner
A 3ª Geração da lepidopterologia vem em consequência dos
desdobramentos das preocupações com a vida no planeta. Mesmo
partindo da base fornecida pela 2ª Geração, configura-se como uma
primeira libertação do Paradigma do Colecionador, uma vez que se
dedica ao conhecimento e manejo dos lepidópteros vivos. É
impulsionada por necessidades, a exemplo das econômicas,
relacionadas ao controle de pragas em culturas de interesse para o
ser humano, e da consciência quanto à urgência do desenvolvimento
de estratégias voltadas para a conservação.
Em 1957 Rachel Carson publica o livro Silent Spring, reeditado em
196230
, relatando casos de extermínio da biodiversidade pelo uso de
agrotóxicos. Existem registros muito mais antigos trazendo à pauta
preocupações de autores, a exemplo de Humboldt, quanto aos efeitos
das ações humanas sobre o planeta. Mas esta obra de Carson, datada
de 1957, é considerada um marco do início dos movimentos
ambientalistas. Em 1959 surge na Califórnia a base mais objetiva do
que hoje é conhecido como Manejo Integrado de Pragas (MIP), uma
estratégia que considera fatores ecológicos nas ações voltadas à
contenção de danos econômicos, abrindo espaço para a compreensão
das dinâmicas populacionais e uso de controle natural31
. O resultado foi
a necessidade de aprofundamento em pesquisas envolvendo o
conhecimento sobre a biologia das espécies consideradas pragas, sua
relação com a planta hospedeira, os seus inimigos naturais e sua
ecologia. Muitas das espécies consideradas pragas pertencem ao grupo
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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21
dos lepidópteros, portanto, a lepidopterologia teve, a partir deste
movimento, estímulos importantes para avançar.
No âmbito da conservação, o primeiro borboletário data de 1976, foi
criado no Canal da Mancha, em Guernsey, por David Lowe32
.
Infelizmente, a iniciativa não se popularizou imediatamente como
mereceria, e até hoje pode ser considerada tímida diante do seu
potencial para conservação. Os borboletários são espaços com as
melhores condições para o desenvolvimento completo do ciclo de vida
das borboletas de forma protegida por cuidados humanos32
. Seu
desenvolvimento exige a apropriação de todos os conhecimentos que
envolvem o ciclo de vida das espécies a serem protegidas32
. A
conservação ex situ, promovida em borboletários, dá condições ao
desenvolvimento protegido para o ciclo completo e sequencial de
lepidópteros, dentre os quais podem estar aqueles expostos a riscos.
Desde o surgimento do primeiro borboletário do mundo, muitos
outros foram criados, ampliando os ainda jovens conhecimentos
sobre o manejo de lepidópteros conforme suas especificidades
locais. As técnicas desenvolvidas em borboletários tem potencial de
aplicação em conservação ainda pouco explorado.
A coleta e manutenção protegida, neste caso de ovos, lagartas e
pupas acompanhados de suas plantas hospedeiras, favorece o
conhecimento biológico e ecológico, o registro das diferentes fases,
seus inimigos naturais, sua dieta e viabiliza outras vantagens como
a revitalização genética de populações ex situ dedicadas à
conservação e educação. Permite ainda o desenvolvimento de
exemplares perfeitos e em todas as fases de vida para inclusão em
coleções científicas sem afetar populações naturais, tem potencial
para alimentar bancos de germoplasma, e permite a recomposição
de adultos durante a fase reprodutiva aos seus ambientes naturais
de origem. Em caso de extinção, é caminho único para reintrodução.
Este tipo de estratégia, ainda pouco valorizada diante de seu
potencial, favorece o conhecimento ecológico das espécies
avançando muito além da formação de coleções científicas, é,
portanto, essencial para ações contemporâneas de conservação.
A partir deste início da prática de manejo ex situ, se fomentaram
também as atividades in situ. Desenvolveram-se conhecimentos
inovadores que se tornam cada dia mais relevantes para conservação
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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22
de lepidópteros. É fato que tais estratégias ainda não recebem a
merecida atenção, talvez por terem incorporado uma forma de estudo
dos lepidópteros que se distanciou da lepidopterologia tradicional, que
impera arraigada ao Paradigma do Colecionador.
Impacto das coletas sobre populações de lepidópteros
A 3ª Geração da lepidopterologia surge, portanto, paralelamente a
um processo humano de sensibilização sobre as perdas mundiais de
biodiversidade. Começa-se a compreensão da existência de uma
pressão da expansão populacional humana, que reduz ambientes
tropicais, comprometendo a sobrevivência de muitas espécies da
fauna, inclusive de lepidópteros33
.
Datam das décadas de 1970, 1980 e, no máximo, início de 1990 os
trabalhos que sustentam, mesmo com certas controvérsias, a ausência
de indícios da existência de impactos das coletas de adultos sobre
populações de lepidópteros34
. Ou seja, a preocupação com as populações
vivas de lepidópteros começa a receber atenção. Hoje, conversas
reservadas entre pesquisadores revelam a convicção de que, em certos
casos, as coletas procedidas especialmente depois da divulgação de uma
nova descoberta, são responsáveis pelo desaparecimento de espécies.
Publicações que admitem discretamente a coleta como possibilidade de
ameaça a lepidópteros são muito recentes e raras35
. Isto nos escancara
a reflexão sobre a importância crescente e atual dos conhecimentos
próprios da 3ª Geração da lepidopterologia.
Pesquisas recentes revelam que justamente nas últimas décadas
ocorreram perdas substanciais da fauna silvestre mundial, devido à ação
humana. Em 2018 o Fundo Mundial para Natureza (WWF) publicou em
seu relatório Planeta Vivo que nas últimas décadas houve um notável
declínio dos ecossistemas. Conforme o relatório, já de conhecimento
geral, houve uma redução de 89% das populações de vertebrados
estudadas desde 1970 nas Américas Central e do Sul36
. O documento
não inclui dados das populações de invertebrados, mas dedicou parte do
seu texto aos polinizadores. Entre eles foram citadas as borboletas, e
abordados fatores de perda desta fauna, como a expansão urbana,
mudança de clima, espécies invasoras, doenças e patógenos, ressaltando
a importância de ações globais para sua proteção37
.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
23
É sabido que a redução de ambientes constitui ameaça para as
espécies35
e da mesma forma é conhecido que continua ocorrendo,
portanto, os ambientes naturais ainda estão em processo de redução
no Brasil. Desde o período de formação desta literatura que sustenta
a insignificância do impacto das coletas de adultos para populações
de lepidópteros, a perda de áreas naturais prosseguiu e as
perspectivas atuais se distanciam da ideia de desmatamento zero no
Brasil, ou seja, os ambientes naturais serão ainda mais reduzidos38
.
Passa a ser necessária uma conscientização urgente dos atores
envolvidos em prol de uma modernização metodológica que vá ao
encontro desta realidade e favoreça a conservação da fauna
lepidopterológica. Esta consciência já é realidade para outros grupos
da fauna que priorizam, por exemplo, metodologias fotográficas para
avaliações de biodiversidade, trazendo uma segunda linha de
libertação do Paradigma do Colecionador.
Manejo, coleta e conservação
A coleta seguida de sacrifício, que termina com o exemplar inserido
em uma coleção científica, pode ser fácil, e de fato foi
importantíssima para construção do conhecimento na área. Mas é
necessário evoluir para métodos que fomentem o conhecimento
ecológico e priorizem a conservação efetiva das espécies. É
relevante discutir estratégias que reduzam o risco de sacrificar
acidentalmente exemplares de espécies ameaçadas. Lembremos que
muitos projetos de pesquisa contam com o trabalho de campo
realizado por estudantes, que nem sempre estão preparados para
reconhecer uma espécie ameaçada.
Há muitas estratégias de manejo viáveis a fim de desenvolver
atividades de pesquisa e conservação em lepidopterologia, mas
basicamente podemos pensar em manejo in situ e ex situ.
O manejo in situ, pela proteção direcionada em campo, é viável40
, por
exemplo, pelo isolamento parcial de plantas hospedeiras nas quais
ocorrem as espécies de lepidópteros de interesse para conservação.
Este isolamento protege as fases jovens contra o acesso de
parasitoides, parasitas, predadores e até algumas doenças. Técnicas
nesta linha podem ser importantes para pesquisa e também ações de
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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24
conservação que visam, por exemplo, favorecer o aumento
populacional de uma espécie que se encontra sob algum risco.
O manejo com o uso das coletas de fases imaturas para
desenvolvimento protegido por gerações com foco em conservação39
é
uma perspectiva ainda nova, que precisa receber mais atenção. A
manutenção ex situ com fim em favorecimento protegido da reprodução
é estratégia de conservação já utilizada consistentemente para outros
grupos da fauna. E chegou a salvar espécies da extinção após a
degradação de seu habitat impedir sua continuidade no ambiente
natural41
. Com a recuperação de ambientes, viabiliza-se a reintrodução
de espécies extintas na natureza e salvas pelas estratégias de
conservação ex situ. Na área de invertebrados estas iniciativas são
insipientes, embora sejam potencialmente decisivas para salvação de
determinadas espécies.
A questão dos entraves legais, burocráticos e proibições envolvendo a
conservação in situ e, especialmente ex situ, são dificultadores que
precisariam ser revistos. Esta forma de conservação merece ser
legalmente facilitada e precisa de estímulo enquanto há tempo. O
arcabouço legal e normativo brasileiro impõe tantas dificuldades que o
resultado é visto em situações como a da ararinha-azul. A espécie está
extinta de seu local de origem no Brasil. E sua possível reintrodução
no que resta de seu ambiente nativo depende de estrangeiros, que não
enfrentaram as mesmas dificuldades dos brasileiros para reproduzi-las
ex situ e, por isto, foram os únicos a fazê-lo.
Outra questão que pressiona por mudanças de metodologias reside
nas regras ambientais, cada vez mais restritivas para coletas. É
preciso considerar que evoluíram da necessidade de controlar a
retirada de recursos biológicos dos ambientes naturais, cada vez
mais reduzidos. Um exemplo recente é a Instrução Normativa Ibama
nº 08, de 14 de julho de 201742
.
A 3ª Geração da lepidopterologia, surgida no século XX, tem
importância considerável na temática atual da conservação de
lepidópteros e, na seara dos métodos, apresenta perspectivas
técnicas fortes o bastante para protagonizar esta discussão.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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25
4ª Geração:
sistemática molecular
Por Maristela Zamoner
Há milhares de anos o homem faz seleção de seres vivos
manipulando a sua genética ao longo de gerações43
. Mas o início
da compreensão sobre os mecanismos envolvidos nestas
práticas foi dado por Gregor Mendel, no século XIX, ao
desvendar a hereditariedade43
. Outro marco na área foi
estabelecido por James Watson e Francis Crick, descritores da
estrutura do ácido desoxirribonucleico, o DNA, em 195343
.
Os estudos seguiram em várias partes do planeta com a
colaboração de muitos pesquisadores até que um avanço
significativo ocorreu em meados da década de 1980, permitindo
a amplificação do DNA, facilitando e agilizando sua leitura.
Nascia a técnica da reação em cadeia da polimerase, conhecida
como PCR43
, popularizada por todo o mundo para os mais
variados fins na atualidade. Kary B. Mullis, propositor da
técnica, oportunizou também a visão inequívoca sobre a crise
mundial que o sistema de publicações científicas enfrenta, pois
seu trabalho foi recusado pelas mais conceituadas revistas
científicas do mundo, a Nature e a Science, e mesmo assim,
devido a contribuições inegáveis que trouxe para muitas áreas,
resultou no Prêmio Nobel de Química em 199344
.
A reunião dos conhecimentos nesta área da genética e da
sistemática é a chamada de sistemática molecular, que recebeu
considerável impulsão em razão da aplicação de técnicas como
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
26
as de PCR45
, que se popularizaram especialmente a partir da
década de 1990.
Hoje, a identificação pelo uso de ferramentas moleculares é
campo prolífico na área de reconhecimento taxonômico, sendo
explorado há algumas décadas e em franco desenvolvimento.
A proposição de que o uso de um segmento curto de nucleotídeos
seria suficiente para a identificação específica de diversos
metazoários em qualquer estágio de vida46,47
vem se fortalecendo
sob a denominação DNA barcoding, no caminho da automatização na
identificação de espécies48
. Chegou-se à proposta de tirar estas
metodologias do âmbito auxiliar nos processos de identificação de
espécies elevando-as a um nível superior de relevância49
, proposta
contra a qual houve reação50,51
.
Existem críticas a questões científicas relevantes que envolvem
as metodologias DNA barcoding, inclusive no âmbito de
lepidópteros52
, e reforça-se a importância da morfologia
associada a métodos moleculares53
. De qualquer forma, os
debates na área da taxonomia, descrição de espécies e ecologia,
estão em franco aquecimento54,55
.
O processo de produzir todo este conhecimento não é fácil e,
naturalmente, ganha ajustes ao longo do tempo. Hoje, até no
Brasil, os pesquisadores começam a reconhecer a importância
de associar fotografias de cada espécie aos seus marcadores
moleculares, por exemplo na tentativa de aprimorar os
processos de reconhecimento taxonômico realizados por
especialistas.
A maior base de dados mundial, o GenBank, consiste
principalmente de dados moleculares de animais do
hemisfério norte, mas inclui também espécies
representativas da fauna brasileira, cuja abrangência da
diversidade existente é quase insignificante. Quando se trata
de comparar espécimes potencialmente novos encontrados
na fauna regional, se torna mais raro ainda encontrar
representantes nos bancos globais. Mas além da dificuldade
de não encontrar espécies referência, há outro problema:
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
27
quando elas estão presentes nas bases mundiais, mas foram
erroneamente identificadas!
Principalmente quando se trata de insetos, muitos erros
decorrem da identificação de espécimes para os quais estão
depositadas as sequências nos bancos de dados públicos. Ou
seja, não é incomum um pesquisador comparar a sequência
de uma espécie identificada por um taxônomo com aquela dita
da mesma espécie depositada em um banco, e descobrir que
existem diferenças significativas entre elas. [...]
A proposta inédita do NaturaeData é, portanto, ter um
marcador molecular para cada espécie associado a uma
fotografia do animal, e imagem em detalhe da principal
estrutura diagnóstica da espécie, o que proporcionará
confiabilidade à base de dados e permitirá a confirmação da
identificação em nível específico por qualquer pessoa.
Gonçalves, s/d. Projeto. NaturaeData56
.
Mais recentemente começam a ganhar espaço os estudos que
somam aspectos morfológicos, ecológicos e de biologia molecular
para propor distinção entre espécies de lepidópteros57
.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
28
5ª Geração:
digital em nuvem
e rede
Por Maristela Zamoner
O mundo digital permitiu uma verdadeira revolução para a
lepidopterologia, desenhando sua distinta 5ª Geração. Além da soma
dos resultados das gerações anteriores, surge a inovação do
compartilhamento do conhecimento em tempo real.
Uma das suas principais consequências é a irreversível
democratização do conhecimento. É resultado direto do domínio das
tecnologias digitais e da internet, permitindo que as informações
deixem de se armazenar de forma restrita em local único, acessível
a poucos, passando a estar ao alcance de todos. O conjunto destas
tecnologias ganha popularidade e traz resultados mais consistentes
para a lepidopterologia a partir, aproximadamente, dos anos 2.000.
É na 5ª Geração que se consolidam os museus digitais online - aos
quais qualquer cidadão pode ter acesso livre, que estudos de
biodiversidade passam a ser reais por uso de fotografias sem
realização de coletas seguidas de sacrifício animal - em uma
terceira libertação do Paradigma do Colecionador, que as primeiras
experiências de identificação digital de espécies começam se
viabilizar, e, por fim, que a Ciência Colaborativa surge para ficar.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
29
Veremos na sequência uma abordagem histórica breve sobre a
evolução da fotografia, seu uso para estudos de biodiversidade, a
importância dos museus digitais online, o início das identificações
taxonômicas eletrônicas e da Ciência Colaborativa.
Fotografia/filmagem
Conta-se que a primeira fotografia do mundo foi feita no verão
de 1826, por Joseph-Nicéphore Niépce, da janela de sua casa.
Este pesquisador trabalhou com Louis-Jacques Mandé Daguerre
a partir de 1829. Já em 1839, estava desenvolvido o processo
denominado daguerreótipo, precursor da fotografia, produzido
sem imagem negativa e que se difundiu rapidamente, apesar de
não permitir cópias58
.
O primeiro daguerreótipo produzido no Brasil, pelo abade Louis Compte
em 1840, foi o do Paço Imperial no Rio de Janeiro. É conhecido como a
primeira fotografia brasileira preservada até a atualidade58
.
É interessante notar que o cinema surgiu como consequência de
muitas experimentações realizadas por diversos pesquisadores, o
que inclui as descobertas relacionadas ao daguerreótipo e à
fotografia. Neste espectro, destaca-se Eadweard Muybridge. Em
1876, a partir de fotografias tiradas sequencialmente por várias
câmeras, ele registrou o trotar de um cavalo num hipódromo. Este
procedimento permitiu a decomposição do movimento do animal em
fotografias por meio do que denominou zoopraxiscópio. O
experimento teria sido feito para provar a afirmação do governador
Leland Stanford: durante o trotar, há um momento em que nenhum
dos cascos do cavalo toca o chão58
.
Desde este início histórico, as tecnologias de câmeras
fotográficas e filmadoras evoluíram em um intervalo de tempo
relativamente curto. Das onerosas fotografias produzidas com
filmes fotográficos reveláveis em papel, chegaram, na atualidade,
a fotografias e vídeos digitais possíveis de se obter por câmeras
de telefones celulares, aparelhos de uso individual popularizados
e muito acessíveis. Hoje, um telefone celular oferece condições
técnicas suficientes para ser escolhido pelo veterano diretor
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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30
cinematográfico Steven Soderbergh, para produção completa de
um longa-metragem59
.
A partir do advento da fotografia e dos resultados de sua evolução,
especialmente nos últimos anos, os registros históricos e científicos
passaram a contar com um recurso valioso, que na área do estudo
da zoologia vem ganhando espaço a cada dia.
Museu digital na nuvem, de acesso online
A 5ª Geração ainda forjou o museu digital online, que reúne coleções
de fotografias e dados, inclusive moleculares, disponibilizados para
consulta livre a qualquer tempo e sem a restrição de um lugar físico
único de armazenamento. O museu digital online coloca à disposição,
de qualquer interessado e a qualquer tempo, imagens e informações
de material tipo e também de exemplares vivos.
Esta é uma realidade, mas sua abrangência sobre acervos brasileiros
ainda é restrita. E uma das contribuições da fotografia está neste
registro dos acervos, que hoje é urgente para todos os itens
incluídos em coleções científicas brasileiras públicas. É fundamental
ainda a disponibilização aberta integral por meio digital, não apenas
para democratizar o acesso ao conhecimento e a materiais de
estudo, mas também por segurança. Afinal, em um incêndio como o
ocorrido no Museu Nacional, no início de setembro de 2018,
computadores com seus bancos de imagens e dados não
disponibilizados na internet estavam expostos ao risco de acabar
juntamente destruídos. A formação de bancos compostos de
registros fotográficos em nuvem, de acesso eletrônico livre,
precisaria ser a prioridade de toda e qualquer coleção científica,
especialmente as brasileiras que são públicas.
Na atualidade, com a disponibilidade de equipamentos fotográficos
de qualidade a custos acessíveis, mesmo em celulares, esta medida
depende, em boa parte dos casos, mais de trabalho e gestão do que
de recursos financeiros.
É possível também a articulação dos gestores para estabelecer
parcerias com foco em um movimento urgente, tendo o propósito de
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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31
tornar pública a integralidade dos acervos brasileiros em imagens e
dados, afinal, são patrimônio da humanidade.
Em âmbito governamental já existem iniciativas para reunir
informações sobre biodiversidade, incluindo os conteúdos das
coleções científicas, e objetivando dar acesso público. Uma delas
é o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira
(SibBr), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), que tem apoio de organizações
internacionais. Entretanto, as normativas ainda deixam
facultativa a participação de conteúdos das coleções científicas
mantidas por instituições públicas.
Participação em iniciativas internacionais de publicação de dados e
fotografias também é caminho para democratização.
Biodiversidade digital
Na senda da geração de informação, a substituição das coletas por
registros fotográficos é um avanço metodológico desejável, sempre
que possível. Duas são as razões principais. A primeira é a
conservação das espécies, uma vez que a redução de seus ambientes
naturais de sobrevivência aumenta as pressões sobre suas
populações, e já se reconhece que coletas podem ser ameaças para
determinadas espécies de lepidópteros. A segunda é para reduzir a
velocidade de ampliação dos acervos de espécies comuns,
aumentando assim o risco da perda de coleções científicas inteiras
pela dificuldade crescente de suas sustentações. Entretanto,
pesquisas sobre uso de fotografias para avaliação da biodiversidade
de invertebrados, incluindo lepidópteros, ganham suas primeiras
publicações timidamente60
.
Mesmo sob a resistência de pesquisadores tradicionais61
, o International
Code of Zoological Nomenclature62
avança na direção de se adaptar às
mudanças na esfera das questões ambientais e tecnológicas, já admitindo
e legitimando até a descrição de novas espécies com base em fotografias
e não somente em exemplares conservados. O debate neste âmbito é
acalorado e emergente63
.
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32
Na seara dos vertebrados o uso de armadilhas fotográficas foi discutido
inicialmente como método complementar de amostragens de
mastofauna, propondo-se seu uso na condição de um coadjuvante de
metodologias mais antigas que envolvem capturas64
. Hoje, constata-se
intenso uso de armadilhas fotográficas nesta área, inclusive de forma
preferível a metodologias que envolvem capturas65
.
Enquanto isto, fora dos ambientes acadêmicos, trabalhos
desbravadores e apaixonados ensinam que é possível ver a
biodiversidade de borboletas por fotografias e sem sacrifício do
animal adulto tirado de seu ambiente. Vários destes trabalhos
despontam e entre eles cito dois brasileiros. O portal Biodiversidade
Teresópolis, mantido por Antonio Carlos Fiorito Junior66
e o Blog
Borboletas e Mariposas de Ivo Kindel67
.
Em algum momento da história, a humanidade tendeu a deixar de
aprender com os resultados dos esforços feitos por paixão. Talvez
seja tempo de rever este caminho.
Todo este quadro das tecnologias em imagens digitais, somado à
circunstância atual da questão ambiental mundial, à crise enfrentada
por coleções científicas e ao surgimento da internet, respaldam o
uso de metodologias de 5ª Geração da lepidopterologia,
especialmente para estudos de biodiversidade.
Um dos desafios entre os métodos de 2ª e 5ª Gerações, está na
identificação taxonômica. As formas de identificação tradicionais não
são plenamente aplicáveis ao reconhecimento taxonômico de
exemplares vivos por meio de suas fotografias. Para este fim, são
necessárias novas técnicas.
Identificação taxonômica automática
Hoje, disponibilizam-se softwares especializados, por exemplo, em
reconhecimento facial humano. A eficiência destas tecnologias
aprimora-se a cada dia fora do ambiente científico e acadêmico, e
os resultados popularizam-se ao ponto de redes sociais oferecerem
o recurso de informar ao usuário quando uma foto sua é acrescida
ao acervo da rede68
. Isto significa que, por meio do estudo
comparativo de parâmetros das imagens - principalmente
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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33
matemáticos/morfométricos, é possível reconhecer um único
espécime em uma população mundial de mais de sete bilhões e meio
deles pertencentes à espécie Homo sapiens.
Estas tecnologias já vêm sendo aplicadas na biologia e identificações
taxonômicas eletrônicas de muitas espécies conhecidas já são uma
realidade. As iniciativas de investigação científica sobre estratégias de
identificação eletrônica de lepidópteros gradativamente avançam em
eficiência e confiabilidade, atingindo índices de acerto que, em alguns
casos, chegam a 98 e 100%69,70
, enquanto os índices de acertos nas
identificações realizadas por especialistas não são estudados.
A velocidade de desenvolvimento das ferramentas computacionais tem
se mostrado muito mais rápida que a viabilidade da publicação de
resultados por meios tradicionais. Em meados de 2016 o iNaturalist71
iniciou experimentações envolvendo conhecimento de redes neurais,
unindo esforços de diferentes origens e avançando rapidamente a
tecnologia que viabiliza a classificação de imagens (fotografias dos
seres vivos) com atribuição de rótulos (identificação de cada espécie)
a elas. Assim, quando o observador acrescenta à plataforma uma
fotografia de uma observação de um ser vivo feita por ele, o software
propõe automaticamente sugestões de identificação em diferentes
níveis taxonômicos, inclusive espécie.
O modelo computacional usado recorre à inteligência artificial:
quanto mais informações você registra, mais ele aprende. As
informações acrescentadas, moderadas por um corpo
considerável de especialistas, aperfeiçoam constantemente o
funcionamento da rede, sua velocidade e qualidade das
identificações. As observações são hierarquizadas conforme sua
verificabilidade: as mais qualificadas trazem consigo informações
passíveis de uso para pesquisa científica, como registro (fotografia),
localidade, data, observador e identificação até chegar à espécie,
corroborada por participantes da rede.
Atualmente as máquinas fotográficas de celulares já agregam metadados
a cada captura de imagem, que são justamente informações como as
citadas, integradas ao registro fotográfico em si.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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O desenvolvimento de mecanismos de identificação automática de
espécies, embora ainda seja inovador, é uma realidade, especialmente
fora do Brasil. Nesta caminhada, em momento algum podemos
esquecer que se hoje pensamos em identificação automática, é porque
pesquisadores trouxeram o conhecimento até onde chegou ao longo
das gerações da lepidopterologia, ao custo de muita garra, dedicação,
sacrifícios e tempo de vida.
E hoje é fato que os recursos computacionais do citado iNaturalist71
já
oferecem a possibilidade de identificação eletrônica de milhares das
espécies descritas, e isto, pela análise digital da fotografia, sem o
envolvimento humano direto.
Como a rede é compartilhada e tem a participação de especialistas, os
registros expostos publicamente podem ser corroborados ou
contestados a qualquer tempo em suas identificações, o que ocorre, na
maioria dos casos, de forma quase imediata. Este mecanismo pode ser
comparado a uma revisão por pares, muito mais rápida e transparente
uma vez que é aberta a todo e qualquer estudioso, ou mesmo amador
que queira participar do processo de identificação.
A plataforma é gerenciada visando a buscar e agregar
constantemente novos recursos e atualizações, sempre com a
participação coletiva. Portanto, a tendência é que estratégias como
estas se aprimorem e se tornem mais disponíveis, levando muito
além a eficiência em reconhecimento taxonômico.
Esta realidade permite concluir que, mesmo com a resistência natural
de pesquisadores tradicionais, é provável que haja uma mudança não só
no papel do taxônomo, como também nos métodos de identificação de
espécies, gerando uma segurança maior dos resultados.
Softwares bem trabalhados são capazes de reconhecer parâmetros
morfométricos muito mais complexos do que aqueles contidos em
chaves dicotômicas ou nos estudos de especialistas, notadamente
quando isolados. Ângulos, intensidades de curvas, proporções e
muitos outros dados podem ser comparados tecnicamente de forma
digital, trazendo resultados baseados em uma quantidade maior de
dados e, portanto, mais precisos e constantemente aprimoráveis.
Até mesmo espécies cuja identificação é mais complexa e hoje
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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35
recorre preferencialmente à biologia molecular, talvez possam ter
seu reconhecimento taxonômico viabilizado pela análise digital, em
virtude da abrangência de uma quantidade considerável de
parâmetros morfométricos.
O avanço tecnológico nestas áreas indica ser apenas uma questão
de tempo para que estas mudanças avancem ao ponto de abarcar,
se não todas, a maioria das espécies conhecidas, por exemplo, de
borboletas, e ainda indicar a detecção de parâmetros novos,
compatíveis com a hipótese de um táxon inédito.
A ciência computacional começa a disponibilizar ferramentas que
oferecem possibilidades de maior transparência, velocidade,
verificabilidade, correção de erros, confiabilidade e ainda ao
alcance de qualquer especialista, parecerista, profissional ou
identificador interessado.
Todo este quadro permite pensar que no futuro as identificações
taxonômicas digitais serão habituais, como também o
reconhecimento de espécies ainda não descritas. Com isso, a análise
de características observadas apenas em lepidópteros vivos, que
hoje permanece ainda um campo inexplorado no âmbito da
identificação taxonômica, poderá ganhar seu espaço.
Esta nova geração ainda favorece um resgate do estudo da biologia
propriamente dita, da ecologia, da autoecologia, quase esquecidas nas
2ª e 4ª Gerações, que foram fortemente pautadas pelo Paradigma do
Colecionador. Isto se dá pelo fato de que a cada registro fotográfico se
associam e compartilham informações ecológicas, que pela Ciência
Colaborativa podem ser abertamente discutidas.
A 5ª Geração diminui a distância entre profissional e amador,
potencializando a produção de conhecimento e abrindo caminho
fértil para o autodidatismo consistente, bem fundamentado e
permanentemente moderado. É uma revolução que, até o momento,
coroa os resultados dos esforços das milhares de pessoas que
construíram cada uma das gerações anteriores.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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36
Comparando métodos de campo – 2ª e 5ª Gerações
Por Maristela Zamoner
Os métodos utilizados para avaliação da biodiversidade de
lepidópteros ainda são pouco estudados de forma comparativa.
Neste sentido, traz-se aqui um elenco breve de vantagens e
desvantagens de metodologias de 2ª e de 5ª Gerações, utilizadas
para levantamentos relacionados à biodiversidade de lepidópteros,
especialmente neste comparativo, de borboletas.
Metodologias de campo - 2ª Geração
Os elencos de vantagens e desvantagens observados a seguir se
referem ao uso de metodologias de 2ª Geração, que incluem coletas
com redes entomológicas e/ou armadilhas, sacrifício de lepidópteros
em campo, acondicionamento para transporte, uso de produtos
químicos, montagem e identificação em laboratório e
armazenamento definitivo em coleção científica.
Vantagens
• O exemplar coletado pode ser consultado por
quem a ele tem acesso, permitindo até a
realização de estudos genéticos.
• O animal sacrificado e montado pode ser fotografado sob
diferentes ângulos. Conforme interesse dos responsáveis,
suas imagens podem ou não ser disponibilizadas
democraticamente na nuvem, para consulta online.
• Não há resistência contra este método por
parte de pesquisadores tradicionais.
• É mais confiável que metodologias de avaliação
baseadas apenas em escrita. Anotações de campo são
apoiadas em observações e identificações do
pesquisador, não sendo checáveis por nenhum
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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37
método76
e se ancoram na crença de que o observador,
muitas vezes não apontado dentre os autores da
publicação, é capaz de realizar identificações precisas
das espécies de lepidópteros vivos em campo sem os
capturar nem fotografar.
Desvantagens
• O exemplar coletado é armazenado em um
único local de acesso restrito.
• Atualmente depende de um processo burocrático prévio que
inclui a obtenção de documentos como licenças ambientais,
anotações de responsabilidade técnica junto ao órgão
profissional, autorizações para localidades específicas, cartas
de aceite para depósito posterior entre outros.
• Há responsabilidade técnica e ética para o coletor perante
órgãos profissionais e ambientais.
• Demanda conservação permanente de espécimes, gerando um
passivo por tempo indeterminado para instituições que já
demonstram dificuldades nestas responsabilidades.
• Dificulta e/ou inibe o desenvolvimento de
importantes pesquisas com análises quantitativas,
que resultam em números elevados de repetidos
exemplares de espécies comuns, mais abundantes e
indesejáveis em coleções científicas.
• O exemplar coletado não é associado direta e
automaticamente aos dados de data, horário,
coordenadas geográficas entre outros.
• Está sujeito a falhas bem relatadas na literatura, como,
por exemplo, mistura de exemplares, erro de
etiquetagem, identificação taxonômica incorreta feita
por um único pesquisador, ou grupo, com acesso
exclusivo e restrito ao exemplar78,79
.
• A conferência das informações de um exemplar
coletado e preservado em uma coleção científica, por
qualquer interessado, é, na prática, limitada a
autorizações controladas, cumprimento de exigências
de requisitos que, não raro, são excludentes. Um
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38
exemplo pode ser lido na Política de Consulta a
Coleção Entomológica do Museu Nacional:
CONSULTAS – As Coleções do Departamento de
Entomologia são de acesso e de consulta estritamente
reservados a pesquisadores (profissionais ou
estudantes) devidamente autorizados pelo Curador
correspondente72
.
Pesquisadores amadores, que contribuíram
inequivocamente com a formação de importantes coleções
científicas em todo mundo ao longo de séculos73,74
,
inclusive a exemplificada, estão excluídos conforme esta
regra. E o problema não se restringe a grandes coleções75
.
Esta forma de limitar o acesso ao material científico obsta
uma essência da ciência que é a refutabilidade76
.
Atualmente, as decorrências desta metodologia acabam por
fazer dela uma estratégia que conta com a fé de que o autor
procedeu corretamente, fez as diversas anotações de campo
e/ou de laboratório sem nenhuma falha, acertou na
identificação e não procedeu com má fé.
• Provoca interferência nas populações estudadas uma vez que
delas são subtraídos os indivíduos coletados e sacrificados.
Os ambientes naturais estão sendo reduzidos e coletas, como
no caso de indivíduos adultos de lepidópteros, representam a
retirada da natureza de exemplares que atingiram a
capacidade reprodutiva, já passaram por um processo natural
de seleção desde a fase de ovo e suas retiradas do ambiente
não podem ser vistas como insignificantes do ponto de vista
ecológico e de conservação.
• O uso de rede entomológica danifica facilmente a
vegetação, por exemplo, de flores nas quais as
borboletas se alimentam, comprometendo os resultados
de coletas subsequentes no mesmo local.
• Há dificuldade considerável em coletar exemplares
que estão em locais de acessibilidade mais limitada,
como árvores altas, por exemplo.
• Coletas imprevistas acontecem, justamente por isto são
contempladas em dispositivos como a Instrução Normativa
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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39
no 154/2007 do IBAMA77
. No uso de redes entomológicas o
coletor nem sempre consegue, antes da coleta, proceder
uma identificação precisa do espécime coletado, o que é
feito em laboratório, após o animal adulto, em fase
reprodutiva, já ter sido sacrificado. Por isto na metodologia
que prevê coleta há o risco de ser retirado da natureza, e
sacrificado, espécime ameaçado.
Metodologias de campo - 5ª Geração
Os elencos de vantagens e desvantagens a seguir se referem ao
uso, para avaliação da biodiversidade de lepidópteros,
especialmente borboletas, das metodologias de 5ª Geração. São
utilizadas câmeras fotográficas de aparelhos celulares, ou outros,
que agregam a cada registro de imagem metadados de
coordenadas geográficas, data, horário e aparelho utilizado
(indicativo de autor da foto, equivalente a coletor). Também é
considerada a Ciência Colaborativa.
Vantagens
• Reduzem falhas de trabalhos desenvolvidos sob
metodologias de 2ª Geração, já documentados na
literatura, como mistura de exemplares coletados em
locais diferentes e erros de etiquetagem78,79
.
• Não necessitam determinadas licenças ambientais, e outras
documentações, o que potencializa a obtenção de dados.
• Comitês de ética podem ser dispensados conforme
o caso, posto que metodologias de 5ª Geração não
demandam necessariamente qualquer manejo
animal para registro em campo.
• Os resultados dos registros podem ser submetidos
diretamente a softwares para identificação de imagens
com a finalidade de reconhecimento taxonômico
eletrônico prévio, de 5ª Geração.
• Eventuais aprimoramentos de identificação taxonômica
podem ser feitos por qualquer pessoa habilitada ao uso
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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40
completo dos ferramentais de 5ª Geração nos moldes da
Ciência Colaborativa, uma vez que as fotos podem ser
disponibilizadas livremente para consulta, identificação
automática e participativa, dando transparência ao
reconhecimento taxonômico e evitando que eventuais
falhas de identificação perdurem.
• O complexo imagem-metadados pode ser utilizado para
diversas finalidades científicas como, por exemplo,
georeferenciamento, relevante para estudos de ecologia e
biogeografia. Metadados adicionais tem potencial de inclusão
em cada registro fotográfico, por exemplo, dados climáticos
e/ou microclimáticos e escalas, ampliando as possibilidades
de estudos e qualidade dos registros.
• Fotografias permitem observação de exemplares com as
características que possuem quando vivos e são perdidas ao
serem sacrificados. Estas características ainda não
começaram a ser exploradas na pesquisa científica como
possibilidade de auxílio em identificações taxonômicas, o que
pode ser favorecido pelas metodologias de 5ª Geração.
• Fotografias de lepidópteros em seu habitat trazem consigo
informações ambientais, como exemplar botânico relacionado
ao espécime entomológico no momento do registro ou evento
em curso: predação, parasitismo, alimentação, ritual de
acasalamento, cópula, oviposição, extensão de asas para
aquecimento sob o sol entre outros.
• Um mesmo exemplar pode ser observado em campo
ao longo do tempo, oportunizando obtenção de dados
ecológicos e biológicos específicos sobre sua vida,
favorecendo estudos de autoecologia.
• Fotografias são registros, desta forma, metodologias nelas
apoiadas configuram-se mais apropriadas do ponto de vista
científico do que aquelas ancoradas em anotações de
visualizações em cadernetas ou similares81
.
• As fotografias e/ou seus endereços de acesso online são
resultados que, no perfil da 5ª Geração, constam na
publicação final, viabilizando de maneira imediata a
refutabilidade, por exemplo, de identificações taxonômicas.
Quando o material biológico é de exemplares coletados e
conservados a refutabilidade de uma identificação
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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41
taxonômica fica restrita, e é excludente, uma vez que resta
subordinada à permissão de acesso, não raro, sob o poder
decisório do próprio autor.
• Contribui em favor da diminuição da velocidade de aumento
dos quantitativos de espécimes que precisam ser mantidos
indefinidamente pelas instituições que os recebem.
• Estudos que envolvam quantidades elevadas de
registros são facilitados por metodologias
fotográficas, posto que se dispensa a posterior
conservação dos exemplares registrados.
• As populações de lepidópteros estudadas por metodologia
fotográfica não sofrem retirada de exemplares adultos
em fase reprodutiva e, portanto, não são
quantitativamente alteradas pela pesquisa.
• Não há risco de engano na coleta e sacrifício de
exemplares ameaçados de extinção.
• Máquinas fotográficas atuais, inclusive de celulares,
disponibilizam recursos como de aproximação de
imagens (zoom), permitindo um alcance maior que o da
rede entomológica em campo, aumentando as
possibilidades de registros.
• São dispensáveis vários produtos químicos tóxicos
utilizados em todo o ciclo do processo de métodos de 2ª
Geração, como aqueles de uso para sacrifício e
conservação de exemplares, reduzindo riscos para a saúde
do profissional e de contaminação ambiental.
• É ambientalmente recomendável na atualidade devido
à redução de habitat dos animais.
• Converge para as tendências atuais como, por exemplo,
aceitação para que até descrições de novas espécies
sejam procedidas por meio de fotografias80
.
• A quantidade de equipamentos a serem carregados pelos
pesquisadores em campo, como redes entomológicas,
frascos mortíferos, seringas de injeção, envelopes
entomológicos e outros, é reduzida a um aparelho celular
ou máquina fotográfica.
• Potencializam-se resultados uma vez que a metodologia
permite agilidade em campo. Não é necessário sacrificar e
armazenar cada exemplar (o que demanda alguns minutos de
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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42
tempo em campo) antes de realizar o registro seguinte. A
figura que segue exemplifica registros fotográficos, cada um
deles com hora e minuto da coleta dos dados, demonstrando
que, conforme o caso, é possível obter mais de um registro
de espécime por minuto.
Figura 5. Exemplo de intervalo de tempo e quantidade de registros na
obtenção de dados em campo com metodologias de 5ª Geração, revelando a
possibilidade da realização do registro de mais de espécime por minuto.
Desvantagens
• O exemplar utilizado no estudo não é armazenado
para avaliação de características não capturadas nas
fotografias, incluindo material para análise de
biologia molecular, como ocorre com exemplares
obtidos por metodologias de 2ª Geração.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
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43
• Na fotografia nem sempre é possível observar o caractere
morfológico necessário para identificação taxonômica por
meio dos métodos de 2ª Geração. As metodologias
tradicionais de identificação taxonômica são insuficientes
e em vários casos, é preciso recorrer a recursos
inovadores para esta finalidade.
• A duração de cada atividade de campo depende das
possibilidades de gerenciamento da duração das baterias de
energia dos equipamentos fotográficos.
• Existem pesquisadores que, com suas razões, resistem ao
uso de tecnologias e novas metodologias. Ainda há a visão
própria do Paradigma do Colecionador, de que as coletas são
insubstituíveis82
. Com a vinda das novas gerações para o
campo de trabalho e pesquisa, a tendência é a ponderação
desta desvantagem.
Reduzir o aumento dos acervos das coleções científicas de
lepidópteros espalhadas por vários pontos do planeta, e
especialmente no Brasil, é caminho para destinar os recursos
disponíveis a uma conservação mais parcimoniosa. É forma de
tratar melhor dos valiosíssimos acervos de 2ª Geração já
formados, trazendo mais segurança e melhores chances para
continuarem existindo e beneficiando gerações futuras.
Optar, quando possível, por metodologias fotográficas para
avaliação da riqueza e da biodiversidade de lepidópteros é
estratégia também para proteção das espécies que vivem nos
reduzidos remanescentes naturais. E é caminho para ampliar
possibilidades no âmbito do conhecimento ecológico.
A definição da metodologia na pesquisa de lepidópteros esteve
restrita a coletas, sacrifícios dos animais, crescimento contínuo e
indeterminado dos acervos das coleções científicas por séculos.
Hoje, novas tecnologias permitem olhares mais racionais e,
sempre que possível, é recomendável optar pela aplicação de
métodos mais compatíveis com as atuais necessidades
legislativas, ambientais e até mesmo de gestão das coleções
científicas já estabelecidas.
Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018
Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
44
II. 5ª GERAÇÃO -
ESTUDO DE
CASO
II. 5th GENERATION –
CASE STUDY
Por Maristela Zamoner
Todas estas discussões aqui trazidas são resultado de
experimentação prática dos autores com as metodologias das
diferentes gerações apresentadas. Por isto é relevante abordar a
motivação do debate central deste livro, ou seja, o início da vivência
técnica prática do uso das metodologias de 5ª Geração.
Bate-papo de abertura
Como tudo começou
O início deste trabalho foi resultado de uma conjuntura
bastante específica. Em fins de fevereiro do ano de 2018
troquei de aparelho celular, adquirindo um equipamento de
segunda mão em excelente estado e com funcionalidades que
ainda eram desconhecidas por mim.
Comecei a utilizar a câmera fotográfica e observar que os
resultados eram muito bons. Poucos dias depois desta aquisição,
precisamente no dia 13 de março, acabei me deparando com um
exemplar vivo de Thysania agrippina em uma das árvores da
passarela do Bosque do Capão da Imbuia em Curitiba, Paraná.
Por considerar a presença de um exemplar desta espécie atípica
para o bosque, achei relevante historiar de alguma forma. Nas
buscas por um meio de registro mais rápido e menos amarrado que
os tradicionais, descobri, entre outros, o portal iNaturalist71
, uma
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  • 1. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner I
  • 2. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner II DENI LINEU SCHWARTZ FILHO MARISTELA ZAMONER Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação 1ª Edição Curitiba COMFAUNA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE FAUNA SILVESTRE LTDA. 2018
  • 3. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner III Copyright © 2018 by Deni Lineu Schwartz Filho & Maristela Zamoner Direitos desta edição: Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner Comfauna Conservação e Manejo de Fauna Silvestre LTDA. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, sempre com a devida referência aos créditos e sem qualquer fim comercial. 1ª edição – 2018 Elaboração e distribuição COMFAUNA Conservação e Manejo de Fauna Silvestre LTDA. Produção editorial Edição: COMFAUNA Conservação e Manejo de Fauna Silvestre LTDA. Autores: Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner Capa e Projeto Gráfico: Mário S. Trella (Fotografia: escamas - asa da borboleta Doxocopa kallina (Staudinger, 1886) fêmea, por Maristela Zamoner.
  • 4. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner IV Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação Lepidopterology: new perspectives in research and conservation Liberi. Ano 3. Volume V. ISBN 978-85-66017-13-7
  • 5. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner V Sobre os autores Deni Lineu Schwartz Filho Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) no ano de 1986 e mestre em Ciências Biológicas (Entomologia)/UFPR em 1990. Atualmente é consultor e empreendedor na área de conservação e manejo de fauna nativa e exótica. Tem experiência nas áreas de docência em ensino superior, biogeografia, ecologia, conservação e manejo das abelhas neotropicais, bem como no manejo e uso econômico da fauna nativa e exótica. E-mail: deni.schwartz.filho@gmail.com Maristela Zamoner Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) no ano de 1997, mestre em Ciências Biológicas (Zoologia)/UFPR em 2005, especialista em Educação Ambiental/2003, em Direito Ambiental e em História e Antropologia/2017. Bióloga do Museu de História Natural Capão da Imbuia. Experiência em consultoria ambiental com lepidópteros, docência em graduação e pós- graduação, organização/autoria de livros, destacando-se o livro Biologia Ambiental, Editora Protexto, 2007. E-mail: maristela.zamoner@gmail.com Este livro é dedicado a Maria Sibylla Merian.
  • 6. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner VI Abertura A Série Liberi, como iniciativa para disponibilização de textos e frutos de investigações produzidos pelo desejo puro de participar da elaboração dos saberes humanos, chega ao seu Volume V trazendo discussões sobre novas perspectivas para lepidopterologia, destacadamente sob o ponto de vista de sua evolução histórica em pesquisa e conservação. Inicialmente são discutidas as cinco gerações da lepidopterologia. Em seguida é apresentado um estudo de caso de 5ª geração, o caráter das listas de espécies como contribuição para o conhecimento em biodiversidade e uma nova armadilha luminosa para atração e contenção de lepidópteros, que dispensa o sacrifício dos animais estudados. Assim a Série Liberi mantém o propósito de oferecer liberdade autoral sem a perda de propriedade da produção intelectual e garantindo ainda o acesso gratuito a qualquer leitor. Nossos caminhos Desde que nos conhecemos, há dez anos, compartilhamos um encanto inominável pelos insetos, em especial por abelhas e lepidópteros. A descoberta e o uso de novas tecnologias sempre pautaram nossos debates e sua combinação com o mundo natural nos impulsiona a quebrar paradigmas e arrojar pela experimentação fundamentada do desconhecido. A atuação profissional conjunta em estudos ambientais destes grupos nos incentivou a desenvolver, testar e aplicar profissionalmente uma nova armadilha luminosa para avaliação ambiental de insetos fototrópicos. Na esteira desta caminhada desbravamos possibilidades de estudos sem coletas seguidas de sacrifício de lepidópteros, pelo uso tecnológico que viabiliza a formação de acervos compostos por registros fotográficos associados à metadados. Há ainda um objetivo importante aqui almejado, favorecer uma aproximação entre os amantes da Natureza e o conhecimento científico. Faz parte desta missão, portanto, trazer ao público uma linguagem acessível, sem por isto ser menos técnica, estimulando um autodidatismo sólido e replicável. Um pouco dos resultados que obtivemos, arriscando fazer diferente, é o que trazemos neste Volume V da Série Liberi. Maristela Zamoner - Dezembro de 2018
  • 7. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner VII Prefácio Por Onildo João Marini Filho Fiquei muito lisonjeado com esse convite, uma vez que é uma situação muito especial ser considerado para assinar o prefácio de um livro que não teria prefácio. A maneira que trataram a evolução deste ramo da entomologia, a Lepidopterologia, traz uma organização do pensamento antes inexistente. Além da descrição histórica, Deni e Maristela trazem uma discussão muito consciente sobre a 5a. Geração dessa ciência. Considerando as reservas que alguns pesquisadores já declararam publicamente quanto ao uso de fotografias para a identificação de organismos, os autores se expõem bravamente à crítica ao apresentar a contribuição deste método para o aumento do conhecimento de borboletas e mariposas. Compartilho com clareza a visão dos autores sobre como as novas tecnologias podem ajudar tanto na aquisição de dados sobre a biodiversidade quanto no aprendizado sobre esta pela população leiga e, especialmente, na reaproximação dos cidadãos da natureza. O mundo do século XXI é novo, diferente e seus rumos ainda incertos, porém estamos observando como a história natural está sendo alçada a novos patamares com a participação da sociedade. Milhares de informações são adicionadas diariamente às bases de dados existentes na rede mundial de computadores. Foi através deste caminho, usando o aplicativo iNaturalist, que conheci
  • 8. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner VIII a Maristela e o incrível trabalho que está fazendo no Capão da Imbuia, área urbana de Curitiba. Ainda, como contribuição especial desse livro, vem a armadilha Curityba, que pode ser a solução que muitos buscam para fazer um monitoramento não-destrutivo de mariposas, sem a necessidade de grandes coleções entomológicas. As coleções científicas e a coleta de exemplares são necessárias para se fazer o registro adequado das espécies. No entanto, as fotografias podem adicionar muitas informações sobre a ocorrência das espécies e seu uso pela população leiga deve ser incentivado. Ainda há um longo caminho pela frente até que os métodos já existentes de inteligência artificial (aprendizado de máquina) possam suprir as identificações seguras para a maioria das espécies. Não tenho dúvida de que as máquinas ainda precisarão muito do auxílio dos taxonomistas para poderem auxiliar a população a se reapaixonar pela natureza. Onildo João Marini Filho Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília (1991), mestre em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (1996) e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002). Atualmente é analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Se dedicou à elaboração de instrumentos para a conservação de espécies ameaçadas de extinção e ao inventário de fauna em unidades de conservação. Líder da Rede Nacional de Pesquisa e Conservação dos Lepidópteros - RedeLep, atualmente se dedica à ciência cidadã e ao monitoramento da biodiversidade. E-mail: onildo.marini- filho@icmbio.gov.br
  • 9. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner IX Agradecimentos A todos os apaixonados que dedicaram e dedicam suas vidas ao estudo dos lepidópteros, ilustrando e descrevendo espécies, coletando exemplares, organizando e mantendo coleções científicas, desenvolvendo metodologias, produzindo bancos de registros fotográficos, aprimorando e disponibilizando o conhecimento sem o qual não estaríamos aqui. Agradecemos especialmente a Alessandra Dalia, que conhecemos pelo iNaturalist e mesmo à distância se tornou uma grande parceira. Entre incontáveis trocas de ideias, acabamos recebendo sua importante participação na revisão de todo este livro, que resultou em correções e sugestões valiosíssimas. Homenagem in memoriam A Haroldo Palo Junior pelo trabalho de valor inestimável, concluído em 2017, os três volumes do livro Borboletas do Brasil. O impacto dos resultados desta obra ainda não começou a ser medido e um dos seus encantos é a transparência. Pioneiro desbravador, inovador, ousou organizando uma coleção hercúlea de 4.150 fotografias de borboletas vivas, cobrindo um total de 1.727 espécies. Uma obra sem precedentes e que certamente influenciará a área do conhecimento das borboletas brasileiras. Homenageamos também aqui, a todos os colaboradores da obra Borboletas do Brasil, fotógrafos, amantes da natureza e especialistas, que dedicam incansavelmente sua própria existência ao desenvolvimento desta área, e sem os quais a obra de Haroldo não seria tão especial.
  • 10. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner X Uma caixa cheia de saturnídeos alfinetados, seja numa caixa entomológica ou numa moldura na parede, não pode causar nenhuma outra reação que não seja admiração. No entanto, ver estes seres ao vivo, nas suas formas naturais de repouso, é um prazer imensamente maior. John Cody, Wings of Paradise, The University of North Carolina Press, 1996, página 11. Fazendo o trabalho de campo, me questionei sobre a vantagem de ter animais mortos em museus, se não for feito nada para protegê-los na natureza. Victor Osmar Becker, Brasileiro possui uma das maiores coleções de mariposas do mundo. Globo, 09 de março de 2014.
  • 11. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 1 Sumário Sobre os autores................................................................................................ V Abertura............................................................................................................ VI Nossos caminhos .............................................................................................. VI Prefácio............................................................................................................. VI Agradecimento.................................................................................................. IX Homenagem ...................................................................................................... IX RESUMO..............................................................................................................3 ABSTRACT.........................................................................................................3 I. AS CINCO GERAÇÕES DA LEPIDOPTEROLOGIA .........................................4 1ª Geração: desenhos ................................................................................................ 8 2ª Geração: coleções ............................................................................................... 15 Sistemática ...........................................................................................................................16 Crise.....................................................................................................................................18 3ª Geração: manejo.................................................................................................. 20 Impacto das coletas sobre populações de lepidópteros....................................................22 Manejo, coleta e conservação ............................................................................................23 4ª Geração: sistemática molecular .......................................................................... 25 5ª Geração: digital em nuvem e rede...................................................................... 28 Fotografia/filmagem............................................................................................................29 Museu digital na nuvem, de acesso online ........................................................................30 Biodiversidade digital .........................................................................................................31 Identificação taxonômica automática .................................................................................32 Comparando métodos de campo – 2ª e 5ª Gerações.............................................. 36 Metodologias de campo - 2ª Geração ...............................................................................36 Metodologias de campo - 5ª Geração ...............................................................................39
  • 12. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 2 II. 5ª GERAÇÃO -ESTUDO DE CASO..............................................................44 Bate-papo de abertura............................................................................................. 44 Como tudo começou ...........................................................................................................44 As propostas de identificação taxonômica.........................................................................46 Dificuldades e decisões ......................................................................................................49 O desafio - registrar qualquer fase do desenvolvimento das borboletas em campo ......54 Desdobramentos I – observações ocasionais e complementares .....................................55 Desdobramentos II – organização de guias........................................................................57 Desdobramentos III – observação de escamas..................................................................57 Borboletas do Capão da Imbuia ............................................................................... 58 Introdução ...........................................................................................................................58 Caracterização histórica, ambiental e legal da Unidade de Conservação do Bosque do Capão da Imbuia..................................................................................................................................60 Metodologia.........................................................................................................................67 Resultados preliminares .....................................................................................................69 Conclusões preliminares e expectativas futuras.............................................................108 III. LISTAS DE ESPÉCIES X BIODIVERSIDADE............................................109 IV. ARMADILHA CURITYBA PARA LEPIDÓPTEROS NOTURNOS..............113 Fundamentação teórica e aspectos práticos....................................................................114 Armadilha Curityba (Schwartz-Filho e Zamoner, 2018) - descrição.............................116 Conclusões........................................................................................................................120 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................121 REFERENCIAL TEÓRICO ...............................................................................122
  • 13. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 3 RESUMO O livro discute aspectos históricos e atuais da lepidopterologia sob o olhar da pesquisa e da conservação. Em seu primeiro capítulo, são abordadas cinco diferentes gerações do estudo dos lepidópteros. A 1ª caracterizada por produção de desenhos, a 2ª definida pela formação das coleções científicas, na qual surge o Paradigma do Colecionador, a 3ª advinda de preocupações ambientais que estimularam o desenvolvimento do manejo de lepidópteros, a 4ª moldada pela sistemática molecular e a 5ª que reúne os saberes das anteriores agregando tecnologias digitais e internet. O segundo capítulo apresenta um estudo de caso com resultados preliminares da aplicação experimental da 5ª geração. O terceiro capítulo sugere que as listas de espécies incluam informações capazes de refletir a biodiversidade ao longo do tempo e se beneficiem das tecnologias abarcadas na 5ª geração. O quarto capítulo apresenta a descrição da Armadilha Curytiba, que permite estudos de 5ª geração para lepidópteros noturnos. Por fim, registra-se que o contexto ambiental mundial e a crise de manutenção das coleções científicas impulsionam o emprego das inovações trazidas pela 5ª geração, oportunizando caminhos que favorecem efetivamente a conservação dos lepidópteros. Palavras chave: lepidopterologia, pesquisa, conservação, listas de espécies, armadilha luminosa, Ciência Colaborativa, sistemática, taxonomia, coleções científicas. ABSTRACT The book discusses historical and current lepidopterology under the lens of research and conservation. In its first chapter, five different generations of the lepidoptera study are addressed. The 1st, characterized by the production of illustrations, the 2nd defined by the formation of scientific collections, in which appears the Collector’s Paradigm, the 3rd stemming from environmental preoccupations that stimulated the development of the lepidoptera handling, the 4th shaped by the molecular systematic, and the 5th which reunites the learning of the previous ones, aggregating digital technologies and the internet. The second chapter displays a case study with preliminary results of the experimental application of the 5th generation. The third chapter suggests that the lists of species include information able to reflect the biodiversity through time and benefit from the Technologies covered in the 5th generation. The fourth chapter presents the description of the Curytiba Trap, which allows the 5th generation studies for nocturne lepidoptera. Finally, it is registered that the worldwide environmental context and the scientific collection maintenance crises stimulate the employment of the innovations brought by the 5th generation, giving opportunity to ways which effectively favor the Lepidoptera conservation. Keywords: lepidopterology, research, conservation, species lists, luminous trap, Collaborative Science, systematic, taxonomy, scientific collections.
  • 14. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 4 I. AS CINCO GERAÇÕES DA LEPIDOPTEROLOGIA THE FIVE GENERATIONS OF LEPIDOTEROLOGY Por Deni Lineu Schwartz Filho Ao longo da história humana o estudo da biodiversidade zoológica passou por sua evolução. A sequência de mudanças gradativas na forma de estudar e registrar a fauna, que inclui os lepidópteros, pode ser analisada sob o olhar da composição de diferentes gerações. Desta forma, reconhecemos cinco gerações da lepidopterologia, cada uma delas com características próprias (Quadro 1). 1ª Geração: é marcada pelo uso de ilustrações, desenhos, para representar as espécies e suas estruturas, vivas ou não. Iniciou- se antes da escrita, é constatada desde alguns milhares de anos. Com o tempo os desenhos ganharam o acompanhamento de textos e nomes para as espécies, com graus de complexidade crescentes. Até hoje recursos de 1ª Geração têm espaço importante na lepidopterologia. 2ª Geração: dá-se pela formação das coleções científicas de animais sacrificados, encorpadas a partir das coletas de exemplares e aprimoramento científico da Sistemática, que se consolidam de forma mais definida a partir do século XVIII. As coleções são importantes para lepidopterologia até hoje, apesar da crise que enfrentam.
  • 15. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 5 3ª Geração: é caracterizada pelo uso das técnicas de manejo na lepidopterologia, pelo trabalho com lepidópteros vivos, que depende do conhecimento sobre seu ciclo de vida e sua ecologia. É resultado das primeiras preocupações humanas com as questões ambientais. Estes estudos apresentam importância crescente tanto para a economia quanto para a conservação. 4ª Geração: a biologia molecular permitiu uma nova forma de analisar a vida e dela derivaram muitos campos novos de estudos, um deles é a sistemática molecular, que configura a 4ª Geração da lepidopterologia. A sistemática molecular permanece em evolução na atualidade. 5ª Geração: associa técnicas e conhecimentos produzidos nas quatro gerações anteriores às possibilidades trazidas pela computação em nuvem (cloud computing). É resultado da convergência de tecnologias, incluindo o uso de imagens e metadados digitais disponibilizados e processados em tempo real pela internet. Desta combinação surgiram os museus e as coleções científicas digitais na nuvem, com acesso online, as redes de Ciência Colaborativa e o uso da inteligência artificial, por exemplo, para o desenvolvimento de recursos destinados à identificação taxonômica automática a partir de imagens digitais. Naturalmente, não se objetiva aqui cobrir todas as descobertas que envolvem os estudos com lepidópteros, mas sim, apresentar uma proposta para historiar o seu desenvolvimento em diferentes gerações, definidas pelo surgimento de tecnologias e as suas consequentes mudanças culturais, que trouxeram e trazem contribuições importantes para pesquisa e conservação na atualidade.
  • 16. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 6 Quadro 1. Comparativo entre as diferentes gerações da lepidopterologia 1a Geração Pré-história 2a Geração Século XVIII 3ª Geração Século XX 4ª Geração Século XX 5a Geração Século XXI Registro de lepidópteros Produção de desenhos, principalmente de adultos. Exemplares mortos conservados, principalmente adultos. Registros de todas as fases de desenvolvimento por desenhos, fotografias etc., oportunizados pelo manejo dos espécimes vivos. Sequência de nucleotídeos que identificam cada espécie. Captura de imagens digitais. Métodos, materiais e tecnologias Pigmentos e marcas em rochas, lápis, pincel, tinta em papel, eventualmente lupas, mais recentemente softwares próprios para produção de desenhos. Técnicas de coleta, redes entomológicas, armadilhas, métodos de sacrifício, montagem e conservação. Uso de lupas, microscópios e produtos químicos entre outros. Coleta de exemplares vivos e uso de técnicas para controle e desenvolvimento e/ou acompanhamento de seu ciclo completo in situ e/ou ex situ. Técnicas próprias da sistemática molecular, a exemplo de PCR. Câmeras digitais, celulares com tecnologia de agregação de metadados a fotografias digitais, aplicativos, microscópios individuais, internet, redes sociais, softwares de identificação automática de espécies entre outros. Sistemática/ nomenclatura/taxonomia Início da preocupação em nomear e classificar especialmente adultos, sem preocupação com relações evolutivas. Ganha importância a Sistemática, nomenclatura científica e taxonomia, apoiadas principalmente por estudos em morfologia de adultos, começa a preocupação com as relações evolutivas. Valorizam-se as pesquisas de morfologia das diferentes fases, ovo, lagarta e pupa, além do adulto. As relações evolutivas agregam informações de fases jovens. O estabelecimento de uma nova espécie, seu reconhecimento e suas relações evolutivas são propostos pelo estudo de seu material genético. Registros digitais de imagens, nuvem, museus digitais online e a Ciência Colaborativa viabilizam consultas a material tipo e interações para reconhecimentos taxonômicos em tempo real. Novas técnicas de identificações são demandadas. Identificações eletrônicas de fotos começam a ser propostas, trazendo perspectivas promissoras. Relações evolutivas e ecológicas se integram. Ecologia Observações ecológicas eventualmente ilustradas com os espécimes. É mais valorizada a coleção do que aspectos ecológicos dos exemplares coletados. Estudos de ecologia e, especialmente autoecologia, ganham importância. Descrições de novas espécies podem ser feitas sem o pesquisador conhecer a espécie em vida. Conhecimento ecológico é secundário. Os registros dos lepidópteros vivos favorecem observações e constatações de vários aspectos ecológicos. A interação pela Ciência Colaborativa compõe a ampliação dos registros de observações ecológicas, potencializando seus estudos. Status atual Desenhos e ilustrações ainda são produzidos e publicados inclusive cientificamente. As coleções científicas permanecem importantes, porém, enfrentam crise de manutenção e segurança devido aos altos valores demandados para estes fins. A legislação ambiental começa a restringir coletas e sacrifício animal. Manejo in situ e ex situ de lepidópteros para fins econômicos e de conservação são crescentemente mais valorizados e oferecem perspectivas importantes. Biologia molecular é extensamente demandada e começa a se perceber a importância de associá-la a morfologia e ecologia. Uso de fotografias para registro de fauna é crescente. Os compartilhamentos de informações em tempo real começam a ganhar relevância, gradativamente se reduz a resistência nos meios mais tradicionais, crescem iniciativas de Ciência Colaborativa e identificação automática digital de espécies.
  • 17. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 7 Figura 1. Representação esquemática do surgimento e continuidade pelo tempo das cinco gerações da lepidopterologia. 1ª Geração: desenhos; 2ª Geração: coleções entomológicas; 3ª Geração: manejo; 4ª Geração: sistemática molecular; 5ª Geração: digital, nuvem, rede.
  • 18. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 8 1ª Geração: desenhos Por Maristela Zamoner A 1ª Geração dos estudos da fauna, passíveis de comunicação intergeracional, caracterizou-se pelos registros de imagens na forma de ilustrações e desenhos produzidos por humanos. Pinturas rupestres, imagens gravadas em rochas com técnicas específicas, resistiram ao tempo e hoje chegam a ser consideradas como registros primitivos de fauna1,2 . Representações de artrópodos são conhecidas em civilizações que viveram há milhares de anos, nos cinco continentes3 . Entre os mais representados estão abelhas, escorpiões, lepidópteros e aranhas3 . Naomi Pierce, lepidopterologista da Universidade de Harward, sustenta a tese da existência de evidências da representação de borboletas em pinturas rupestres que podem ter cerca de 30 mil anos4 . Outras obras antigas permitem até mesmo a identificação da espécie biológica representada. É o caso da pintura Fowling in the marshes encontrada em Tebas, no Egito, na tumba de Nebamun, datada de cerca de 1.350 a.C. Este é um dos registros iconográficos conhecidos mais antigos e a espécie Danaus chrysippus foi identificada na pintura por dois entomólogos, Naomi Pierce e Vladimir Nabokov4 . Notemos que a pintura chegou aos nossos tempos em condições de conservação e replicação que permitiram a identificação da espécie.
  • 19. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 9 Figura 2. Fowling in the marches, Tebas, Egito, datada em torno de 1.350 a.C. Fonte: Museu Britânico. Licença de uso Creative Commons. Disponível em: https://www.britishm useum.org Muitos outros registros existem em diferentes continentes, inclusive de fases jovens, e encerrando significados mitológicos. Alguns deles merecem atenção, como é o caso das representações pré-hispânicas de lepidópteros adultos no México. O assunto é tão vasto que inspirou o entomólogo Carlos Beutelspacher a publicar, em 1988, um livro ilustrado, dedicado ao tema da relação dos mexicanos antigos com os lepidópteros. O estudo cultural e iconográfico do entomólogo permitiu o reconhecimento de diversas espécies de lepidópteros, entre elas Papilio multicaudata, Rothschildia orizaba, Eucheria socialis e Ascalapha odorata5 . Embora estas e diversas outras representações nos diferentes continentes estivessem relacionadas à mitologia, ou à expressão artística, em muitos casos não deixam de configurar como registros iconográficos lepidopterológicos. As imagens seguiram no tempo ocupando a posição de importante recurso para lepidopterologia. Desenhos antecederam a escrita, que mais tarde veio a participar da 1ª Geração da lepidopterologia, com
  • 20. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 10 descrições e notas quase sempre acompanhando as ilustrações. Quando discutimos a iconografia sob o olhar da possibilidade da identificação de espécies ao longo do tempo, notamos claramente que as representações humanas deste grupo entomológico se tornaram mais precisas com o passar dos milênios. Nos últimos séculos atingiu-se um caráter científico, que em muito se deve ao perfil dos naturalistas. Por isto, neste histórico, é relevante lembrar o valor dos desenhos feitos por naturalistas visitantes do Novo Mundo a partir do século XVI, apesar de todas as justas críticas que recebem6 . Vandelli (1735-1816), por exemplo, naturalista italiano fundador do Museu de História Natural em Coimbra, preparou muitos discípulos naturalistas que vieram ao Brasil nas expedições filosóficas para realizar estudos científicos ainda no século XVIII. Assim, as terras brasileiras puderam ser mais conhecidas sob uma ótica além da exploração. Esta personalidade pouco conhecida, Vandelli, já considerava os naturalistas como aquelas pessoas capazes de reunir aptidões raras, pois sabem selecionar, classificar, localizar e fazer registros ilustrativos sobre o que estudam7 . Nesta seara dos naturalistas destacamos, como exemplo e ícone da 1ª Geração da lepidopterologia, a notável estudiosa alemã Maria Sybilla Merian, cujo trabalho é reconhecido e merecedor de homenagem8 . Nascida no ano de 1647, em uma família de impressores, Maria Sybilla Merian foi uma mulher corajosa e muito avançada para seu tempo, uma pessoa que combinou com maestria seu fazer artístico à sua capacidade de observar, interpretar e registrar a ecologia e a biologia das transformações dos seres vivos, muitos deles, lepidópteros9 . Ela realizava coleta de insetos em suas fases imaturas e os mantinha vivos, suprindo suas necessidades para acompanhar seu desenvolvimento e ilustrá-los com precisão até a fase adulta, o que exigia tornar-se capaz também de identificar plantas hospedeiras e aprender a biologia, ganhando uma visão ecológica única para a época9 .
  • 21. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 11 Ela chegou a levar mais de uma década para ter sucesso no desenvolvimento de uma única espécie até a fase adulta. Também descobriu relações de parasitismo e até publicou, no prefácio de seu Livro das Lagartas, que as fases larvais vinham de ovos colocados após a cópula de adultos. A surpresa desta publicação é o fato de ter sido feita num tempo de plena aceitação das ideias de geração espontânea9 . Em um mundo masculino, Maria separou-se do marido e buscou meios científicos e artísticos para se desenvolver. Com cinquenta anos de idade ultrapassados, financiou a própria viagem ao Suriname, levando consigo sua filha mais nova, então com 21 anos de idade. Nesta viagem enfrentou a floresta tropical, contatou populações indígenas e realizou coletas tanto de plantas quanto de animais para produção de ilustrações. A partir deste trabalho publicou a obra Metamorfose dos Insetos do Suriname, seu terceiro livro, no qual trabalhou como autora, ilustradora, pintora, editora e impressora, publicando-o em 1705 com sessenta gravuras9 . Seu primeiro livro tratava de Botânica. O segundo, conhecido como Livro das Lagartas, publicado em 1679, incluía 50 gravuras de insetos, em especial lepidópteros representados em suas fases de ovo, lagarta, pupa, adulto, sem deixar de registrar sua dieta alimentar. Maria constatou não somente o ciclo de diversos lepidópteros, distinguindo mariposas de borboletas, como incluiu, de forma inovadora, a presença de seus ovos e exúvias. Alguns exemplos de suas ilustrações podem ser contemplados nas figuras que seguem, revelando registros anteriores à descrição das espécies. *Fonte das figuras 3 e 4: Capturas de tela obtidas diretamente do livro original, Ofte Werandering der Surinaams, de Maria Sibylla Merian, publicado em 1705, disponível no acervo eletrônico da Universiteite Utrecht. Disponível em: http://objects.library.uu.nl.
  • 22. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 12 Figura 3. Ilustração da página 33. A espécie, Hamadryas amphinome, foi descrita por Linnaeus somente em 1767.*
  • 23. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 13 Figura 4. Ilustração da página 69. A espécie, Thysania agrippina, foi descrita por Cramer somente em 1776.* Até hoje o ciclo da espécie conta somente com este registro.
  • 24. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 14 Maria viveu muito antes do surgimento de grandes nomes como os de Humboldt e Darwin, o que nos faz reconhecer um pioneirismo surpreendente10 . Alguns dos materiais coletados por ela em sua viagem ao Suriname foram levados preservados para Europa. Embora ela realizasse coletas, a essência de seu trabalho é resultado da observação da fauna em vida9,11 . É relevante ainda o fato de que parte de suas coletas eram destinadas à venda ou troca com outros naturalistas e pessoas influentes, como uma das formas de sustentação do seu trabalho principal, suas publicações, o que reforça um olhar atual sobre ela também no viés empresarial12 . A discussão sobre seu legado na literatura é concentrada em suas ilustrações, sem referências, na mesma proporção, ao destino ou estado de conservação dos exemplares que coletou e enviou para a Europa11 . As imagens dos desenhos de Maria Sibylla Merian foram replicadas desde as impressões físicas promovidas por ela própria até as cópias digitais que estão hoje à disposição da humanidade, como é a natureza deste tipo de registro da fauna. Maria foi uma cientista, sem dúvida, e uma artista que inspirou ilustradores de gerações posteriores. Muitos outros se seguiram e deixaram seus legados extraordinários, que podem ser desfrutados pela humanidade até os dias de hoje. John Cody (1925-2016), por exemplo, deixou uma obra incrível com gravuras de lepidópteros em posições naturais13 . O desejo do artista era ir além do trabalho de Maria Sibylla Merian13 . Os naturalistas foram essenciais para lepidopterologia. Os resultados de seus trabalhos permanecem disponíveis nas ilustrações que registraram características de várias espécies e até gravuras dos raros fósseis conhecidos. A 1ª Geração da lepidopterologia passou por sua evolução própria, obteve importância também na elaboração de chaves ilustradas e conta, mais recentemente, com recursos computacionais modernos. Desenhos de lepidópteros estão presentes em artigos científicos até hoje, incluindo representações de diferentes estruturas morfológicas, fases de vida e, mais recentemente, em composição com conhecimentos que vão além da taxonomia14,15 .
  • 25. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 15 2ª Geração: coleções Por Maristela Zamoner A 2ª Geração de estudos dos lepidópteros é marcada pelo início das formações de coleções zoológicas, compostas por conjuntos de animais, e/ou suas partes, coletados, sacrificados e preparados para atingirem a maior durabilidade possível, a fim de subsidiar estudos ao longo do tempo. Sua organização cumulativa permite que funcionem como referências de documentação para biodiversidade e sua história16 . As configurações mais formais de coleções, especialmente em museus de história natural, remontam principalmente ao século XVIII, e desde então agregam continuamente resultados de coletas, favorecendo uma reconstrução histórica que compõe a memória de processos naturais16 . No Brasil a primeira coleção zoológica oficial partiu da iniciativa de Dom João VI, data de 1818, foi chamada de Casa dos Pássaros e veio a compor posteriormente o acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro17 . A partir de então, outros acervos começaram a se formar, como o Museu Paraense Emílio Goeldi em 1866 e o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo em 188617 . Hoje existem importantes coleções lepidopterológicas no Brasil. É na 2ª Geração da lepidopterologia que se estabelece o Paradigma do Colecionador, uma forma de pensar norteada pelo raciocínio característico da elaboração e alimentação continuada das coleções científicas. Embora novas áreas de conhecimento na lepidopterologia tenham surgido, o Paradigma do Colecionador continua influenciando o fazer científico nesta área.
  • 26. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 16 Sistemática Com a descoberta do Novo Mundo as coleções zoológicas ganharam volume rapidamente e os estudos de classificação das espécies precisaram avançar, passando a Sistemática - dedicada à identificação, taxonomia e nomenclatura - a ter entre seus objetivos a própria preservação das coleções de organismos18 . Assim, os estudos de morfologia proliferaram largamente a partir da 2ª Geração da lepidopterologia, ligados e diretamente influenciados pela formação e organização de coleções científicas. O reconhecimento taxonômico próprio da 2ª Geração da lepidopterologia é habitualmente procedido após a coleta, sacrifício e montagem dos espécimes para inclusão em coleções científicas, quando o pesquisador consegue visualizar por completo a sua morfologia. Em alguns casos as genitálias dos exemplares são consideradas relevantes em reconhecimentos taxonômicos, sendo preparadas para visualização microscópica. As técnicas de identificação são adequadas, portanto, para aplicação em lepidópteros mortos, geralmente montados em alfinetes entomológicos para preservação em coleções científicas. Por longo tempo a identificação taxonômica foi tarefa restrita a especialistas, muito embora na história não faltem exemplos de amadores com capacidade extraordinária nesta atividade. Nos estudos taxonômicos de lepidópteros, a história revela personalidades brilhantes, que contribuíram absurdamente para formação deste conhecimento, descrevendo quantidades incríveis de espécies ainda desconhecidas da humanidade, identificando exemplares para os mais variados fins, produzindo estudos pormenorizados a respeito de recortes peculiares na área e doando suas vidas a este universo. Muitos deles construíram e sustentam, ou sustentaram durante a vida, grandes coleções científicas de valor inestimável, base para quase todo o conhecimento taxonômico existente na atualidade. Falamos aqui de pesquisadores que trazem em seus históricos contribuições inomináveis e de valor inquestionável. Listá-los seria uma tarefa que certamente produziria injustiças pela dificuldade de abranger a todos. Ademais, seus currículos, repletos de contribuições absolutas para área, os identificam.
  • 27. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 17 Até hoje se recorre a métodos de 2ª Geração como a consulta aos especialistas e uso de lupas, literatura e chaves dicotômicas, em sua maioria datadas do século XX, para atender à necessidade de realizar identificações de espécies19 . Entretanto, na prática, o uso das chaves dicotômicas nem sempre resulta em identificações eficientes, porque elas não conseguem abranger toda diversidade e os caracteres morfológicos analisados podem ter interpretações que geram dúvidas. Na evolução da 2ª Geração da lepidopterologia até a atualidade, ocorreram vários avanços tanto nas técnicas de preservação dos espécimes que integram as coleções como nos processos de descrição e identificação de espécies. A microscopia eletrônica figura neste breve retrospecto como recurso importante em estudos de morfologia. Depois de um histórico envolvendo alguns nomes de pesquisadores, foi em Berlin, no ano de 1930 que Max Knoll e Ernst Ruska trouxeram a público o primeiro microscópio eletrônico de transmissão20 . Sua produção comercial viabilizou-se em alguns anos, devido ao trabalho de pesquisadores que atuaram especialmente na área biológica, passando a ser possível obter imagens com resolução 100 vezes maior do que a obtida de um microscópio ótico, e permitindo visualizar o interior das amostras21 . Até hoje a microscopia eletrônica de transmissão é utilizada na área biológica, destacadamente para observação de morfologia celular22 . Na área dos lepidópteros, para exemplificar, o estudo de seus patógenos intracelulares conta com a eficiência da microscopia eletrônica de transmissão até a atualidade23 . Com o envolvimento de vários estudiosos o primeiro microscópio eletrônico de varredura passou a ser comercializado em 1952, permitindo a observação de estruturas tridimensionais com resolução cerca de 300 vezes melhor que a de um microscópio ótico24 . Uma diversidade de estudos em lepidopterologia continuam embasados em morfologia e fazendo uso da microscopia eletrônica de varredura, atendendo objetivos variados a partir da observação das formas nas diferentes estruturas, fases de desenvolvimento e, mais recentemente, associando tais conhecimentos a outras áreas além da Sistemática25, 26, 27 .
  • 28. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 18 Crise As coleções científicas mundiais enfrentam na atualidade crise crescente de manutenção, tornaram-se muito grandes, as maiores têm absorvido menores, inclusive particulares, e se registra nas últimas décadas que as suas sustentações são cada vez mais difíceis17,28 . Administradores de grandes coleções hoje, não raro, rejeitam a inclusão de exemplares repetidos, e há dificuldade na destinação final de espécimes zoológicos que foram retirados do ambiente e sacrificados para uma variedade de estudos. Sobre parte dos exemplares de coleções científicas constata-se estado de conservação crítico, inclusive de materiais tipo, é conhecida a realidade de perdas e destruições envolvendo diversas instituições do mundo29 . Quanto mais robustos os acervos, maiores suas demandas por recursos e mais difícil obtê-los, especialmente em países como o Brasil, cuja biodiversidade é desproporcionalmente mais elevada e rica do que a consciência política. Muitas destas coleções são incrementadas e mantidas temporariamente, enquanto crescem, com recursos particulares dos pesquisadores que nelas atuam, um ciclo desesperado de alimentação da sua própria insustentabilidade. O resultado é a realidade de manutenções cada vez mais caras e precárias, segurança elementar insuficiente e casos de aniquilamento irreversível desta memória. Assim chegou-se a situação factual da ruína de importantíssimas coleções científicas. Só para exemplificar, foi o que ocorreu em 2010 com o acervo de serpentes e aracnídeos do Butantan e em 2018 com acervos históricos e biológicos do Museu Nacional, que incluía exemplares de lepidópteros. Mas independente de diferentes situações das variadas coleções científicas existentes no Brasil, das questões
  • 29. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 19 políticas e éticas absolutamente pertinentes a cada caso, e da conjuntura da nação, queimaram-se acervos valiosos que não receberam recursos financeiros necessários para garantir a sua segurança e manutenção básicas. E muitos outros acervos do país trilham exatamente o mesmo caminho inexorável, até que se prove o contrário. Perdas como as do Butantan, do Museu Nacional, e tantas outras, não fazem sumir apenas os materiais físicos, mas os legados de homens e mulheres que dedicaram suas vidas para seus pares contemporâneos e futuros saberem um pouco mais da própria existência. Perdas como estas nos fazem pensar sobre o que apagamos de gerações passadas e atuais, sem nem registros fotográficos, como também nos incitam à reflexão sobre o que ceifamos do futuro. É momento propício para pensar sobre as razões pelas quais existem tesouros históricos e biológicos públicos que não estão democraticamente acessíveis, pelo menos em fotografias e planilhas de dados. É preciso rever o espectro técnico e político da sustentabilidade de coleções científicas brasileiras, afinal, hoje, o resultado do trabalho secular característico da 2ª Geração da lepidopterologia no Brasil permanece valioso e indispensável para o conhecimento na área. As coleções são fonte indiscutível de conhecimento biológico e histórico da biodiversidade de lepidópteros, mas sofrem riscos reais de ruína irreversível.
  • 30. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 20 3ª Geração: manejo Por Maristela Zamoner A 3ª Geração da lepidopterologia vem em consequência dos desdobramentos das preocupações com a vida no planeta. Mesmo partindo da base fornecida pela 2ª Geração, configura-se como uma primeira libertação do Paradigma do Colecionador, uma vez que se dedica ao conhecimento e manejo dos lepidópteros vivos. É impulsionada por necessidades, a exemplo das econômicas, relacionadas ao controle de pragas em culturas de interesse para o ser humano, e da consciência quanto à urgência do desenvolvimento de estratégias voltadas para a conservação. Em 1957 Rachel Carson publica o livro Silent Spring, reeditado em 196230 , relatando casos de extermínio da biodiversidade pelo uso de agrotóxicos. Existem registros muito mais antigos trazendo à pauta preocupações de autores, a exemplo de Humboldt, quanto aos efeitos das ações humanas sobre o planeta. Mas esta obra de Carson, datada de 1957, é considerada um marco do início dos movimentos ambientalistas. Em 1959 surge na Califórnia a base mais objetiva do que hoje é conhecido como Manejo Integrado de Pragas (MIP), uma estratégia que considera fatores ecológicos nas ações voltadas à contenção de danos econômicos, abrindo espaço para a compreensão das dinâmicas populacionais e uso de controle natural31 . O resultado foi a necessidade de aprofundamento em pesquisas envolvendo o conhecimento sobre a biologia das espécies consideradas pragas, sua relação com a planta hospedeira, os seus inimigos naturais e sua ecologia. Muitas das espécies consideradas pragas pertencem ao grupo
  • 31. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 21 dos lepidópteros, portanto, a lepidopterologia teve, a partir deste movimento, estímulos importantes para avançar. No âmbito da conservação, o primeiro borboletário data de 1976, foi criado no Canal da Mancha, em Guernsey, por David Lowe32 . Infelizmente, a iniciativa não se popularizou imediatamente como mereceria, e até hoje pode ser considerada tímida diante do seu potencial para conservação. Os borboletários são espaços com as melhores condições para o desenvolvimento completo do ciclo de vida das borboletas de forma protegida por cuidados humanos32 . Seu desenvolvimento exige a apropriação de todos os conhecimentos que envolvem o ciclo de vida das espécies a serem protegidas32 . A conservação ex situ, promovida em borboletários, dá condições ao desenvolvimento protegido para o ciclo completo e sequencial de lepidópteros, dentre os quais podem estar aqueles expostos a riscos. Desde o surgimento do primeiro borboletário do mundo, muitos outros foram criados, ampliando os ainda jovens conhecimentos sobre o manejo de lepidópteros conforme suas especificidades locais. As técnicas desenvolvidas em borboletários tem potencial de aplicação em conservação ainda pouco explorado. A coleta e manutenção protegida, neste caso de ovos, lagartas e pupas acompanhados de suas plantas hospedeiras, favorece o conhecimento biológico e ecológico, o registro das diferentes fases, seus inimigos naturais, sua dieta e viabiliza outras vantagens como a revitalização genética de populações ex situ dedicadas à conservação e educação. Permite ainda o desenvolvimento de exemplares perfeitos e em todas as fases de vida para inclusão em coleções científicas sem afetar populações naturais, tem potencial para alimentar bancos de germoplasma, e permite a recomposição de adultos durante a fase reprodutiva aos seus ambientes naturais de origem. Em caso de extinção, é caminho único para reintrodução. Este tipo de estratégia, ainda pouco valorizada diante de seu potencial, favorece o conhecimento ecológico das espécies avançando muito além da formação de coleções científicas, é, portanto, essencial para ações contemporâneas de conservação. A partir deste início da prática de manejo ex situ, se fomentaram também as atividades in situ. Desenvolveram-se conhecimentos inovadores que se tornam cada dia mais relevantes para conservação
  • 32. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 22 de lepidópteros. É fato que tais estratégias ainda não recebem a merecida atenção, talvez por terem incorporado uma forma de estudo dos lepidópteros que se distanciou da lepidopterologia tradicional, que impera arraigada ao Paradigma do Colecionador. Impacto das coletas sobre populações de lepidópteros A 3ª Geração da lepidopterologia surge, portanto, paralelamente a um processo humano de sensibilização sobre as perdas mundiais de biodiversidade. Começa-se a compreensão da existência de uma pressão da expansão populacional humana, que reduz ambientes tropicais, comprometendo a sobrevivência de muitas espécies da fauna, inclusive de lepidópteros33 . Datam das décadas de 1970, 1980 e, no máximo, início de 1990 os trabalhos que sustentam, mesmo com certas controvérsias, a ausência de indícios da existência de impactos das coletas de adultos sobre populações de lepidópteros34 . Ou seja, a preocupação com as populações vivas de lepidópteros começa a receber atenção. Hoje, conversas reservadas entre pesquisadores revelam a convicção de que, em certos casos, as coletas procedidas especialmente depois da divulgação de uma nova descoberta, são responsáveis pelo desaparecimento de espécies. Publicações que admitem discretamente a coleta como possibilidade de ameaça a lepidópteros são muito recentes e raras35 . Isto nos escancara a reflexão sobre a importância crescente e atual dos conhecimentos próprios da 3ª Geração da lepidopterologia. Pesquisas recentes revelam que justamente nas últimas décadas ocorreram perdas substanciais da fauna silvestre mundial, devido à ação humana. Em 2018 o Fundo Mundial para Natureza (WWF) publicou em seu relatório Planeta Vivo que nas últimas décadas houve um notável declínio dos ecossistemas. Conforme o relatório, já de conhecimento geral, houve uma redução de 89% das populações de vertebrados estudadas desde 1970 nas Américas Central e do Sul36 . O documento não inclui dados das populações de invertebrados, mas dedicou parte do seu texto aos polinizadores. Entre eles foram citadas as borboletas, e abordados fatores de perda desta fauna, como a expansão urbana, mudança de clima, espécies invasoras, doenças e patógenos, ressaltando a importância de ações globais para sua proteção37 .
  • 33. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 23 É sabido que a redução de ambientes constitui ameaça para as espécies35 e da mesma forma é conhecido que continua ocorrendo, portanto, os ambientes naturais ainda estão em processo de redução no Brasil. Desde o período de formação desta literatura que sustenta a insignificância do impacto das coletas de adultos para populações de lepidópteros, a perda de áreas naturais prosseguiu e as perspectivas atuais se distanciam da ideia de desmatamento zero no Brasil, ou seja, os ambientes naturais serão ainda mais reduzidos38 . Passa a ser necessária uma conscientização urgente dos atores envolvidos em prol de uma modernização metodológica que vá ao encontro desta realidade e favoreça a conservação da fauna lepidopterológica. Esta consciência já é realidade para outros grupos da fauna que priorizam, por exemplo, metodologias fotográficas para avaliações de biodiversidade, trazendo uma segunda linha de libertação do Paradigma do Colecionador. Manejo, coleta e conservação A coleta seguida de sacrifício, que termina com o exemplar inserido em uma coleção científica, pode ser fácil, e de fato foi importantíssima para construção do conhecimento na área. Mas é necessário evoluir para métodos que fomentem o conhecimento ecológico e priorizem a conservação efetiva das espécies. É relevante discutir estratégias que reduzam o risco de sacrificar acidentalmente exemplares de espécies ameaçadas. Lembremos que muitos projetos de pesquisa contam com o trabalho de campo realizado por estudantes, que nem sempre estão preparados para reconhecer uma espécie ameaçada. Há muitas estratégias de manejo viáveis a fim de desenvolver atividades de pesquisa e conservação em lepidopterologia, mas basicamente podemos pensar em manejo in situ e ex situ. O manejo in situ, pela proteção direcionada em campo, é viável40 , por exemplo, pelo isolamento parcial de plantas hospedeiras nas quais ocorrem as espécies de lepidópteros de interesse para conservação. Este isolamento protege as fases jovens contra o acesso de parasitoides, parasitas, predadores e até algumas doenças. Técnicas nesta linha podem ser importantes para pesquisa e também ações de
  • 34. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 24 conservação que visam, por exemplo, favorecer o aumento populacional de uma espécie que se encontra sob algum risco. O manejo com o uso das coletas de fases imaturas para desenvolvimento protegido por gerações com foco em conservação39 é uma perspectiva ainda nova, que precisa receber mais atenção. A manutenção ex situ com fim em favorecimento protegido da reprodução é estratégia de conservação já utilizada consistentemente para outros grupos da fauna. E chegou a salvar espécies da extinção após a degradação de seu habitat impedir sua continuidade no ambiente natural41 . Com a recuperação de ambientes, viabiliza-se a reintrodução de espécies extintas na natureza e salvas pelas estratégias de conservação ex situ. Na área de invertebrados estas iniciativas são insipientes, embora sejam potencialmente decisivas para salvação de determinadas espécies. A questão dos entraves legais, burocráticos e proibições envolvendo a conservação in situ e, especialmente ex situ, são dificultadores que precisariam ser revistos. Esta forma de conservação merece ser legalmente facilitada e precisa de estímulo enquanto há tempo. O arcabouço legal e normativo brasileiro impõe tantas dificuldades que o resultado é visto em situações como a da ararinha-azul. A espécie está extinta de seu local de origem no Brasil. E sua possível reintrodução no que resta de seu ambiente nativo depende de estrangeiros, que não enfrentaram as mesmas dificuldades dos brasileiros para reproduzi-las ex situ e, por isto, foram os únicos a fazê-lo. Outra questão que pressiona por mudanças de metodologias reside nas regras ambientais, cada vez mais restritivas para coletas. É preciso considerar que evoluíram da necessidade de controlar a retirada de recursos biológicos dos ambientes naturais, cada vez mais reduzidos. Um exemplo recente é a Instrução Normativa Ibama nº 08, de 14 de julho de 201742 . A 3ª Geração da lepidopterologia, surgida no século XX, tem importância considerável na temática atual da conservação de lepidópteros e, na seara dos métodos, apresenta perspectivas técnicas fortes o bastante para protagonizar esta discussão.
  • 35. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 25 4ª Geração: sistemática molecular Por Maristela Zamoner Há milhares de anos o homem faz seleção de seres vivos manipulando a sua genética ao longo de gerações43 . Mas o início da compreensão sobre os mecanismos envolvidos nestas práticas foi dado por Gregor Mendel, no século XIX, ao desvendar a hereditariedade43 . Outro marco na área foi estabelecido por James Watson e Francis Crick, descritores da estrutura do ácido desoxirribonucleico, o DNA, em 195343 . Os estudos seguiram em várias partes do planeta com a colaboração de muitos pesquisadores até que um avanço significativo ocorreu em meados da década de 1980, permitindo a amplificação do DNA, facilitando e agilizando sua leitura. Nascia a técnica da reação em cadeia da polimerase, conhecida como PCR43 , popularizada por todo o mundo para os mais variados fins na atualidade. Kary B. Mullis, propositor da técnica, oportunizou também a visão inequívoca sobre a crise mundial que o sistema de publicações científicas enfrenta, pois seu trabalho foi recusado pelas mais conceituadas revistas científicas do mundo, a Nature e a Science, e mesmo assim, devido a contribuições inegáveis que trouxe para muitas áreas, resultou no Prêmio Nobel de Química em 199344 . A reunião dos conhecimentos nesta área da genética e da sistemática é a chamada de sistemática molecular, que recebeu considerável impulsão em razão da aplicação de técnicas como
  • 36. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 26 as de PCR45 , que se popularizaram especialmente a partir da década de 1990. Hoje, a identificação pelo uso de ferramentas moleculares é campo prolífico na área de reconhecimento taxonômico, sendo explorado há algumas décadas e em franco desenvolvimento. A proposição de que o uso de um segmento curto de nucleotídeos seria suficiente para a identificação específica de diversos metazoários em qualquer estágio de vida46,47 vem se fortalecendo sob a denominação DNA barcoding, no caminho da automatização na identificação de espécies48 . Chegou-se à proposta de tirar estas metodologias do âmbito auxiliar nos processos de identificação de espécies elevando-as a um nível superior de relevância49 , proposta contra a qual houve reação50,51 . Existem críticas a questões científicas relevantes que envolvem as metodologias DNA barcoding, inclusive no âmbito de lepidópteros52 , e reforça-se a importância da morfologia associada a métodos moleculares53 . De qualquer forma, os debates na área da taxonomia, descrição de espécies e ecologia, estão em franco aquecimento54,55 . O processo de produzir todo este conhecimento não é fácil e, naturalmente, ganha ajustes ao longo do tempo. Hoje, até no Brasil, os pesquisadores começam a reconhecer a importância de associar fotografias de cada espécie aos seus marcadores moleculares, por exemplo na tentativa de aprimorar os processos de reconhecimento taxonômico realizados por especialistas. A maior base de dados mundial, o GenBank, consiste principalmente de dados moleculares de animais do hemisfério norte, mas inclui também espécies representativas da fauna brasileira, cuja abrangência da diversidade existente é quase insignificante. Quando se trata de comparar espécimes potencialmente novos encontrados na fauna regional, se torna mais raro ainda encontrar representantes nos bancos globais. Mas além da dificuldade de não encontrar espécies referência, há outro problema:
  • 37. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 27 quando elas estão presentes nas bases mundiais, mas foram erroneamente identificadas! Principalmente quando se trata de insetos, muitos erros decorrem da identificação de espécimes para os quais estão depositadas as sequências nos bancos de dados públicos. Ou seja, não é incomum um pesquisador comparar a sequência de uma espécie identificada por um taxônomo com aquela dita da mesma espécie depositada em um banco, e descobrir que existem diferenças significativas entre elas. [...] A proposta inédita do NaturaeData é, portanto, ter um marcador molecular para cada espécie associado a uma fotografia do animal, e imagem em detalhe da principal estrutura diagnóstica da espécie, o que proporcionará confiabilidade à base de dados e permitirá a confirmação da identificação em nível específico por qualquer pessoa. Gonçalves, s/d. Projeto. NaturaeData56 . Mais recentemente começam a ganhar espaço os estudos que somam aspectos morfológicos, ecológicos e de biologia molecular para propor distinção entre espécies de lepidópteros57 .
  • 38. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 28 5ª Geração: digital em nuvem e rede Por Maristela Zamoner O mundo digital permitiu uma verdadeira revolução para a lepidopterologia, desenhando sua distinta 5ª Geração. Além da soma dos resultados das gerações anteriores, surge a inovação do compartilhamento do conhecimento em tempo real. Uma das suas principais consequências é a irreversível democratização do conhecimento. É resultado direto do domínio das tecnologias digitais e da internet, permitindo que as informações deixem de se armazenar de forma restrita em local único, acessível a poucos, passando a estar ao alcance de todos. O conjunto destas tecnologias ganha popularidade e traz resultados mais consistentes para a lepidopterologia a partir, aproximadamente, dos anos 2.000. É na 5ª Geração que se consolidam os museus digitais online - aos quais qualquer cidadão pode ter acesso livre, que estudos de biodiversidade passam a ser reais por uso de fotografias sem realização de coletas seguidas de sacrifício animal - em uma terceira libertação do Paradigma do Colecionador, que as primeiras experiências de identificação digital de espécies começam se viabilizar, e, por fim, que a Ciência Colaborativa surge para ficar.
  • 39. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 29 Veremos na sequência uma abordagem histórica breve sobre a evolução da fotografia, seu uso para estudos de biodiversidade, a importância dos museus digitais online, o início das identificações taxonômicas eletrônicas e da Ciência Colaborativa. Fotografia/filmagem Conta-se que a primeira fotografia do mundo foi feita no verão de 1826, por Joseph-Nicéphore Niépce, da janela de sua casa. Este pesquisador trabalhou com Louis-Jacques Mandé Daguerre a partir de 1829. Já em 1839, estava desenvolvido o processo denominado daguerreótipo, precursor da fotografia, produzido sem imagem negativa e que se difundiu rapidamente, apesar de não permitir cópias58 . O primeiro daguerreótipo produzido no Brasil, pelo abade Louis Compte em 1840, foi o do Paço Imperial no Rio de Janeiro. É conhecido como a primeira fotografia brasileira preservada até a atualidade58 . É interessante notar que o cinema surgiu como consequência de muitas experimentações realizadas por diversos pesquisadores, o que inclui as descobertas relacionadas ao daguerreótipo e à fotografia. Neste espectro, destaca-se Eadweard Muybridge. Em 1876, a partir de fotografias tiradas sequencialmente por várias câmeras, ele registrou o trotar de um cavalo num hipódromo. Este procedimento permitiu a decomposição do movimento do animal em fotografias por meio do que denominou zoopraxiscópio. O experimento teria sido feito para provar a afirmação do governador Leland Stanford: durante o trotar, há um momento em que nenhum dos cascos do cavalo toca o chão58 . Desde este início histórico, as tecnologias de câmeras fotográficas e filmadoras evoluíram em um intervalo de tempo relativamente curto. Das onerosas fotografias produzidas com filmes fotográficos reveláveis em papel, chegaram, na atualidade, a fotografias e vídeos digitais possíveis de se obter por câmeras de telefones celulares, aparelhos de uso individual popularizados e muito acessíveis. Hoje, um telefone celular oferece condições técnicas suficientes para ser escolhido pelo veterano diretor
  • 40. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 30 cinematográfico Steven Soderbergh, para produção completa de um longa-metragem59 . A partir do advento da fotografia e dos resultados de sua evolução, especialmente nos últimos anos, os registros históricos e científicos passaram a contar com um recurso valioso, que na área do estudo da zoologia vem ganhando espaço a cada dia. Museu digital na nuvem, de acesso online A 5ª Geração ainda forjou o museu digital online, que reúne coleções de fotografias e dados, inclusive moleculares, disponibilizados para consulta livre a qualquer tempo e sem a restrição de um lugar físico único de armazenamento. O museu digital online coloca à disposição, de qualquer interessado e a qualquer tempo, imagens e informações de material tipo e também de exemplares vivos. Esta é uma realidade, mas sua abrangência sobre acervos brasileiros ainda é restrita. E uma das contribuições da fotografia está neste registro dos acervos, que hoje é urgente para todos os itens incluídos em coleções científicas brasileiras públicas. É fundamental ainda a disponibilização aberta integral por meio digital, não apenas para democratizar o acesso ao conhecimento e a materiais de estudo, mas também por segurança. Afinal, em um incêndio como o ocorrido no Museu Nacional, no início de setembro de 2018, computadores com seus bancos de imagens e dados não disponibilizados na internet estavam expostos ao risco de acabar juntamente destruídos. A formação de bancos compostos de registros fotográficos em nuvem, de acesso eletrônico livre, precisaria ser a prioridade de toda e qualquer coleção científica, especialmente as brasileiras que são públicas. Na atualidade, com a disponibilidade de equipamentos fotográficos de qualidade a custos acessíveis, mesmo em celulares, esta medida depende, em boa parte dos casos, mais de trabalho e gestão do que de recursos financeiros. É possível também a articulação dos gestores para estabelecer parcerias com foco em um movimento urgente, tendo o propósito de
  • 41. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 31 tornar pública a integralidade dos acervos brasileiros em imagens e dados, afinal, são patrimônio da humanidade. Em âmbito governamental já existem iniciativas para reunir informações sobre biodiversidade, incluindo os conteúdos das coleções científicas, e objetivando dar acesso público. Uma delas é o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SibBr), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que tem apoio de organizações internacionais. Entretanto, as normativas ainda deixam facultativa a participação de conteúdos das coleções científicas mantidas por instituições públicas. Participação em iniciativas internacionais de publicação de dados e fotografias também é caminho para democratização. Biodiversidade digital Na senda da geração de informação, a substituição das coletas por registros fotográficos é um avanço metodológico desejável, sempre que possível. Duas são as razões principais. A primeira é a conservação das espécies, uma vez que a redução de seus ambientes naturais de sobrevivência aumenta as pressões sobre suas populações, e já se reconhece que coletas podem ser ameaças para determinadas espécies de lepidópteros. A segunda é para reduzir a velocidade de ampliação dos acervos de espécies comuns, aumentando assim o risco da perda de coleções científicas inteiras pela dificuldade crescente de suas sustentações. Entretanto, pesquisas sobre uso de fotografias para avaliação da biodiversidade de invertebrados, incluindo lepidópteros, ganham suas primeiras publicações timidamente60 . Mesmo sob a resistência de pesquisadores tradicionais61 , o International Code of Zoological Nomenclature62 avança na direção de se adaptar às mudanças na esfera das questões ambientais e tecnológicas, já admitindo e legitimando até a descrição de novas espécies com base em fotografias e não somente em exemplares conservados. O debate neste âmbito é acalorado e emergente63 .
  • 42. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 32 Na seara dos vertebrados o uso de armadilhas fotográficas foi discutido inicialmente como método complementar de amostragens de mastofauna, propondo-se seu uso na condição de um coadjuvante de metodologias mais antigas que envolvem capturas64 . Hoje, constata-se intenso uso de armadilhas fotográficas nesta área, inclusive de forma preferível a metodologias que envolvem capturas65 . Enquanto isto, fora dos ambientes acadêmicos, trabalhos desbravadores e apaixonados ensinam que é possível ver a biodiversidade de borboletas por fotografias e sem sacrifício do animal adulto tirado de seu ambiente. Vários destes trabalhos despontam e entre eles cito dois brasileiros. O portal Biodiversidade Teresópolis, mantido por Antonio Carlos Fiorito Junior66 e o Blog Borboletas e Mariposas de Ivo Kindel67 . Em algum momento da história, a humanidade tendeu a deixar de aprender com os resultados dos esforços feitos por paixão. Talvez seja tempo de rever este caminho. Todo este quadro das tecnologias em imagens digitais, somado à circunstância atual da questão ambiental mundial, à crise enfrentada por coleções científicas e ao surgimento da internet, respaldam o uso de metodologias de 5ª Geração da lepidopterologia, especialmente para estudos de biodiversidade. Um dos desafios entre os métodos de 2ª e 5ª Gerações, está na identificação taxonômica. As formas de identificação tradicionais não são plenamente aplicáveis ao reconhecimento taxonômico de exemplares vivos por meio de suas fotografias. Para este fim, são necessárias novas técnicas. Identificação taxonômica automática Hoje, disponibilizam-se softwares especializados, por exemplo, em reconhecimento facial humano. A eficiência destas tecnologias aprimora-se a cada dia fora do ambiente científico e acadêmico, e os resultados popularizam-se ao ponto de redes sociais oferecerem o recurso de informar ao usuário quando uma foto sua é acrescida ao acervo da rede68 . Isto significa que, por meio do estudo comparativo de parâmetros das imagens - principalmente
  • 43. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 33 matemáticos/morfométricos, é possível reconhecer um único espécime em uma população mundial de mais de sete bilhões e meio deles pertencentes à espécie Homo sapiens. Estas tecnologias já vêm sendo aplicadas na biologia e identificações taxonômicas eletrônicas de muitas espécies conhecidas já são uma realidade. As iniciativas de investigação científica sobre estratégias de identificação eletrônica de lepidópteros gradativamente avançam em eficiência e confiabilidade, atingindo índices de acerto que, em alguns casos, chegam a 98 e 100%69,70 , enquanto os índices de acertos nas identificações realizadas por especialistas não são estudados. A velocidade de desenvolvimento das ferramentas computacionais tem se mostrado muito mais rápida que a viabilidade da publicação de resultados por meios tradicionais. Em meados de 2016 o iNaturalist71 iniciou experimentações envolvendo conhecimento de redes neurais, unindo esforços de diferentes origens e avançando rapidamente a tecnologia que viabiliza a classificação de imagens (fotografias dos seres vivos) com atribuição de rótulos (identificação de cada espécie) a elas. Assim, quando o observador acrescenta à plataforma uma fotografia de uma observação de um ser vivo feita por ele, o software propõe automaticamente sugestões de identificação em diferentes níveis taxonômicos, inclusive espécie. O modelo computacional usado recorre à inteligência artificial: quanto mais informações você registra, mais ele aprende. As informações acrescentadas, moderadas por um corpo considerável de especialistas, aperfeiçoam constantemente o funcionamento da rede, sua velocidade e qualidade das identificações. As observações são hierarquizadas conforme sua verificabilidade: as mais qualificadas trazem consigo informações passíveis de uso para pesquisa científica, como registro (fotografia), localidade, data, observador e identificação até chegar à espécie, corroborada por participantes da rede. Atualmente as máquinas fotográficas de celulares já agregam metadados a cada captura de imagem, que são justamente informações como as citadas, integradas ao registro fotográfico em si.
  • 44. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 34 O desenvolvimento de mecanismos de identificação automática de espécies, embora ainda seja inovador, é uma realidade, especialmente fora do Brasil. Nesta caminhada, em momento algum podemos esquecer que se hoje pensamos em identificação automática, é porque pesquisadores trouxeram o conhecimento até onde chegou ao longo das gerações da lepidopterologia, ao custo de muita garra, dedicação, sacrifícios e tempo de vida. E hoje é fato que os recursos computacionais do citado iNaturalist71 já oferecem a possibilidade de identificação eletrônica de milhares das espécies descritas, e isto, pela análise digital da fotografia, sem o envolvimento humano direto. Como a rede é compartilhada e tem a participação de especialistas, os registros expostos publicamente podem ser corroborados ou contestados a qualquer tempo em suas identificações, o que ocorre, na maioria dos casos, de forma quase imediata. Este mecanismo pode ser comparado a uma revisão por pares, muito mais rápida e transparente uma vez que é aberta a todo e qualquer estudioso, ou mesmo amador que queira participar do processo de identificação. A plataforma é gerenciada visando a buscar e agregar constantemente novos recursos e atualizações, sempre com a participação coletiva. Portanto, a tendência é que estratégias como estas se aprimorem e se tornem mais disponíveis, levando muito além a eficiência em reconhecimento taxonômico. Esta realidade permite concluir que, mesmo com a resistência natural de pesquisadores tradicionais, é provável que haja uma mudança não só no papel do taxônomo, como também nos métodos de identificação de espécies, gerando uma segurança maior dos resultados. Softwares bem trabalhados são capazes de reconhecer parâmetros morfométricos muito mais complexos do que aqueles contidos em chaves dicotômicas ou nos estudos de especialistas, notadamente quando isolados. Ângulos, intensidades de curvas, proporções e muitos outros dados podem ser comparados tecnicamente de forma digital, trazendo resultados baseados em uma quantidade maior de dados e, portanto, mais precisos e constantemente aprimoráveis. Até mesmo espécies cuja identificação é mais complexa e hoje
  • 45. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 35 recorre preferencialmente à biologia molecular, talvez possam ter seu reconhecimento taxonômico viabilizado pela análise digital, em virtude da abrangência de uma quantidade considerável de parâmetros morfométricos. O avanço tecnológico nestas áreas indica ser apenas uma questão de tempo para que estas mudanças avancem ao ponto de abarcar, se não todas, a maioria das espécies conhecidas, por exemplo, de borboletas, e ainda indicar a detecção de parâmetros novos, compatíveis com a hipótese de um táxon inédito. A ciência computacional começa a disponibilizar ferramentas que oferecem possibilidades de maior transparência, velocidade, verificabilidade, correção de erros, confiabilidade e ainda ao alcance de qualquer especialista, parecerista, profissional ou identificador interessado. Todo este quadro permite pensar que no futuro as identificações taxonômicas digitais serão habituais, como também o reconhecimento de espécies ainda não descritas. Com isso, a análise de características observadas apenas em lepidópteros vivos, que hoje permanece ainda um campo inexplorado no âmbito da identificação taxonômica, poderá ganhar seu espaço. Esta nova geração ainda favorece um resgate do estudo da biologia propriamente dita, da ecologia, da autoecologia, quase esquecidas nas 2ª e 4ª Gerações, que foram fortemente pautadas pelo Paradigma do Colecionador. Isto se dá pelo fato de que a cada registro fotográfico se associam e compartilham informações ecológicas, que pela Ciência Colaborativa podem ser abertamente discutidas. A 5ª Geração diminui a distância entre profissional e amador, potencializando a produção de conhecimento e abrindo caminho fértil para o autodidatismo consistente, bem fundamentado e permanentemente moderado. É uma revolução que, até o momento, coroa os resultados dos esforços das milhares de pessoas que construíram cada uma das gerações anteriores.
  • 46. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 36 Comparando métodos de campo – 2ª e 5ª Gerações Por Maristela Zamoner Os métodos utilizados para avaliação da biodiversidade de lepidópteros ainda são pouco estudados de forma comparativa. Neste sentido, traz-se aqui um elenco breve de vantagens e desvantagens de metodologias de 2ª e de 5ª Gerações, utilizadas para levantamentos relacionados à biodiversidade de lepidópteros, especialmente neste comparativo, de borboletas. Metodologias de campo - 2ª Geração Os elencos de vantagens e desvantagens observados a seguir se referem ao uso de metodologias de 2ª Geração, que incluem coletas com redes entomológicas e/ou armadilhas, sacrifício de lepidópteros em campo, acondicionamento para transporte, uso de produtos químicos, montagem e identificação em laboratório e armazenamento definitivo em coleção científica. Vantagens • O exemplar coletado pode ser consultado por quem a ele tem acesso, permitindo até a realização de estudos genéticos. • O animal sacrificado e montado pode ser fotografado sob diferentes ângulos. Conforme interesse dos responsáveis, suas imagens podem ou não ser disponibilizadas democraticamente na nuvem, para consulta online. • Não há resistência contra este método por parte de pesquisadores tradicionais. • É mais confiável que metodologias de avaliação baseadas apenas em escrita. Anotações de campo são apoiadas em observações e identificações do pesquisador, não sendo checáveis por nenhum
  • 47. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 37 método76 e se ancoram na crença de que o observador, muitas vezes não apontado dentre os autores da publicação, é capaz de realizar identificações precisas das espécies de lepidópteros vivos em campo sem os capturar nem fotografar. Desvantagens • O exemplar coletado é armazenado em um único local de acesso restrito. • Atualmente depende de um processo burocrático prévio que inclui a obtenção de documentos como licenças ambientais, anotações de responsabilidade técnica junto ao órgão profissional, autorizações para localidades específicas, cartas de aceite para depósito posterior entre outros. • Há responsabilidade técnica e ética para o coletor perante órgãos profissionais e ambientais. • Demanda conservação permanente de espécimes, gerando um passivo por tempo indeterminado para instituições que já demonstram dificuldades nestas responsabilidades. • Dificulta e/ou inibe o desenvolvimento de importantes pesquisas com análises quantitativas, que resultam em números elevados de repetidos exemplares de espécies comuns, mais abundantes e indesejáveis em coleções científicas. • O exemplar coletado não é associado direta e automaticamente aos dados de data, horário, coordenadas geográficas entre outros. • Está sujeito a falhas bem relatadas na literatura, como, por exemplo, mistura de exemplares, erro de etiquetagem, identificação taxonômica incorreta feita por um único pesquisador, ou grupo, com acesso exclusivo e restrito ao exemplar78,79 . • A conferência das informações de um exemplar coletado e preservado em uma coleção científica, por qualquer interessado, é, na prática, limitada a autorizações controladas, cumprimento de exigências de requisitos que, não raro, são excludentes. Um
  • 48. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 38 exemplo pode ser lido na Política de Consulta a Coleção Entomológica do Museu Nacional: CONSULTAS – As Coleções do Departamento de Entomologia são de acesso e de consulta estritamente reservados a pesquisadores (profissionais ou estudantes) devidamente autorizados pelo Curador correspondente72 . Pesquisadores amadores, que contribuíram inequivocamente com a formação de importantes coleções científicas em todo mundo ao longo de séculos73,74 , inclusive a exemplificada, estão excluídos conforme esta regra. E o problema não se restringe a grandes coleções75 . Esta forma de limitar o acesso ao material científico obsta uma essência da ciência que é a refutabilidade76 . Atualmente, as decorrências desta metodologia acabam por fazer dela uma estratégia que conta com a fé de que o autor procedeu corretamente, fez as diversas anotações de campo e/ou de laboratório sem nenhuma falha, acertou na identificação e não procedeu com má fé. • Provoca interferência nas populações estudadas uma vez que delas são subtraídos os indivíduos coletados e sacrificados. Os ambientes naturais estão sendo reduzidos e coletas, como no caso de indivíduos adultos de lepidópteros, representam a retirada da natureza de exemplares que atingiram a capacidade reprodutiva, já passaram por um processo natural de seleção desde a fase de ovo e suas retiradas do ambiente não podem ser vistas como insignificantes do ponto de vista ecológico e de conservação. • O uso de rede entomológica danifica facilmente a vegetação, por exemplo, de flores nas quais as borboletas se alimentam, comprometendo os resultados de coletas subsequentes no mesmo local. • Há dificuldade considerável em coletar exemplares que estão em locais de acessibilidade mais limitada, como árvores altas, por exemplo. • Coletas imprevistas acontecem, justamente por isto são contempladas em dispositivos como a Instrução Normativa
  • 49. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 39 no 154/2007 do IBAMA77 . No uso de redes entomológicas o coletor nem sempre consegue, antes da coleta, proceder uma identificação precisa do espécime coletado, o que é feito em laboratório, após o animal adulto, em fase reprodutiva, já ter sido sacrificado. Por isto na metodologia que prevê coleta há o risco de ser retirado da natureza, e sacrificado, espécime ameaçado. Metodologias de campo - 5ª Geração Os elencos de vantagens e desvantagens a seguir se referem ao uso, para avaliação da biodiversidade de lepidópteros, especialmente borboletas, das metodologias de 5ª Geração. São utilizadas câmeras fotográficas de aparelhos celulares, ou outros, que agregam a cada registro de imagem metadados de coordenadas geográficas, data, horário e aparelho utilizado (indicativo de autor da foto, equivalente a coletor). Também é considerada a Ciência Colaborativa. Vantagens • Reduzem falhas de trabalhos desenvolvidos sob metodologias de 2ª Geração, já documentados na literatura, como mistura de exemplares coletados em locais diferentes e erros de etiquetagem78,79 . • Não necessitam determinadas licenças ambientais, e outras documentações, o que potencializa a obtenção de dados. • Comitês de ética podem ser dispensados conforme o caso, posto que metodologias de 5ª Geração não demandam necessariamente qualquer manejo animal para registro em campo. • Os resultados dos registros podem ser submetidos diretamente a softwares para identificação de imagens com a finalidade de reconhecimento taxonômico eletrônico prévio, de 5ª Geração. • Eventuais aprimoramentos de identificação taxonômica podem ser feitos por qualquer pessoa habilitada ao uso
  • 50. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 40 completo dos ferramentais de 5ª Geração nos moldes da Ciência Colaborativa, uma vez que as fotos podem ser disponibilizadas livremente para consulta, identificação automática e participativa, dando transparência ao reconhecimento taxonômico e evitando que eventuais falhas de identificação perdurem. • O complexo imagem-metadados pode ser utilizado para diversas finalidades científicas como, por exemplo, georeferenciamento, relevante para estudos de ecologia e biogeografia. Metadados adicionais tem potencial de inclusão em cada registro fotográfico, por exemplo, dados climáticos e/ou microclimáticos e escalas, ampliando as possibilidades de estudos e qualidade dos registros. • Fotografias permitem observação de exemplares com as características que possuem quando vivos e são perdidas ao serem sacrificados. Estas características ainda não começaram a ser exploradas na pesquisa científica como possibilidade de auxílio em identificações taxonômicas, o que pode ser favorecido pelas metodologias de 5ª Geração. • Fotografias de lepidópteros em seu habitat trazem consigo informações ambientais, como exemplar botânico relacionado ao espécime entomológico no momento do registro ou evento em curso: predação, parasitismo, alimentação, ritual de acasalamento, cópula, oviposição, extensão de asas para aquecimento sob o sol entre outros. • Um mesmo exemplar pode ser observado em campo ao longo do tempo, oportunizando obtenção de dados ecológicos e biológicos específicos sobre sua vida, favorecendo estudos de autoecologia. • Fotografias são registros, desta forma, metodologias nelas apoiadas configuram-se mais apropriadas do ponto de vista científico do que aquelas ancoradas em anotações de visualizações em cadernetas ou similares81 . • As fotografias e/ou seus endereços de acesso online são resultados que, no perfil da 5ª Geração, constam na publicação final, viabilizando de maneira imediata a refutabilidade, por exemplo, de identificações taxonômicas. Quando o material biológico é de exemplares coletados e conservados a refutabilidade de uma identificação
  • 51. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 41 taxonômica fica restrita, e é excludente, uma vez que resta subordinada à permissão de acesso, não raro, sob o poder decisório do próprio autor. • Contribui em favor da diminuição da velocidade de aumento dos quantitativos de espécimes que precisam ser mantidos indefinidamente pelas instituições que os recebem. • Estudos que envolvam quantidades elevadas de registros são facilitados por metodologias fotográficas, posto que se dispensa a posterior conservação dos exemplares registrados. • As populações de lepidópteros estudadas por metodologia fotográfica não sofrem retirada de exemplares adultos em fase reprodutiva e, portanto, não são quantitativamente alteradas pela pesquisa. • Não há risco de engano na coleta e sacrifício de exemplares ameaçados de extinção. • Máquinas fotográficas atuais, inclusive de celulares, disponibilizam recursos como de aproximação de imagens (zoom), permitindo um alcance maior que o da rede entomológica em campo, aumentando as possibilidades de registros. • São dispensáveis vários produtos químicos tóxicos utilizados em todo o ciclo do processo de métodos de 2ª Geração, como aqueles de uso para sacrifício e conservação de exemplares, reduzindo riscos para a saúde do profissional e de contaminação ambiental. • É ambientalmente recomendável na atualidade devido à redução de habitat dos animais. • Converge para as tendências atuais como, por exemplo, aceitação para que até descrições de novas espécies sejam procedidas por meio de fotografias80 . • A quantidade de equipamentos a serem carregados pelos pesquisadores em campo, como redes entomológicas, frascos mortíferos, seringas de injeção, envelopes entomológicos e outros, é reduzida a um aparelho celular ou máquina fotográfica. • Potencializam-se resultados uma vez que a metodologia permite agilidade em campo. Não é necessário sacrificar e armazenar cada exemplar (o que demanda alguns minutos de
  • 52. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 42 tempo em campo) antes de realizar o registro seguinte. A figura que segue exemplifica registros fotográficos, cada um deles com hora e minuto da coleta dos dados, demonstrando que, conforme o caso, é possível obter mais de um registro de espécime por minuto. Figura 5. Exemplo de intervalo de tempo e quantidade de registros na obtenção de dados em campo com metodologias de 5ª Geração, revelando a possibilidade da realização do registro de mais de espécime por minuto. Desvantagens • O exemplar utilizado no estudo não é armazenado para avaliação de características não capturadas nas fotografias, incluindo material para análise de biologia molecular, como ocorre com exemplares obtidos por metodologias de 2ª Geração.
  • 53. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 43 • Na fotografia nem sempre é possível observar o caractere morfológico necessário para identificação taxonômica por meio dos métodos de 2ª Geração. As metodologias tradicionais de identificação taxonômica são insuficientes e em vários casos, é preciso recorrer a recursos inovadores para esta finalidade. • A duração de cada atividade de campo depende das possibilidades de gerenciamento da duração das baterias de energia dos equipamentos fotográficos. • Existem pesquisadores que, com suas razões, resistem ao uso de tecnologias e novas metodologias. Ainda há a visão própria do Paradigma do Colecionador, de que as coletas são insubstituíveis82 . Com a vinda das novas gerações para o campo de trabalho e pesquisa, a tendência é a ponderação desta desvantagem. Reduzir o aumento dos acervos das coleções científicas de lepidópteros espalhadas por vários pontos do planeta, e especialmente no Brasil, é caminho para destinar os recursos disponíveis a uma conservação mais parcimoniosa. É forma de tratar melhor dos valiosíssimos acervos de 2ª Geração já formados, trazendo mais segurança e melhores chances para continuarem existindo e beneficiando gerações futuras. Optar, quando possível, por metodologias fotográficas para avaliação da riqueza e da biodiversidade de lepidópteros é estratégia também para proteção das espécies que vivem nos reduzidos remanescentes naturais. E é caminho para ampliar possibilidades no âmbito do conhecimento ecológico. A definição da metodologia na pesquisa de lepidópteros esteve restrita a coletas, sacrifícios dos animais, crescimento contínuo e indeterminado dos acervos das coleções científicas por séculos. Hoje, novas tecnologias permitem olhares mais racionais e, sempre que possível, é recomendável optar pela aplicação de métodos mais compatíveis com as atuais necessidades legislativas, ambientais e até mesmo de gestão das coleções científicas já estabelecidas.
  • 54. Lepidopterologia: novas perspectivas em pesquisa e conservação. Liberi. Ano 3. Volume V. Comfauna, 2018 Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner 44 II. 5ª GERAÇÃO - ESTUDO DE CASO II. 5th GENERATION – CASE STUDY Por Maristela Zamoner Todas estas discussões aqui trazidas são resultado de experimentação prática dos autores com as metodologias das diferentes gerações apresentadas. Por isto é relevante abordar a motivação do debate central deste livro, ou seja, o início da vivência técnica prática do uso das metodologias de 5ª Geração. Bate-papo de abertura Como tudo começou O início deste trabalho foi resultado de uma conjuntura bastante específica. Em fins de fevereiro do ano de 2018 troquei de aparelho celular, adquirindo um equipamento de segunda mão em excelente estado e com funcionalidades que ainda eram desconhecidas por mim. Comecei a utilizar a câmera fotográfica e observar que os resultados eram muito bons. Poucos dias depois desta aquisição, precisamente no dia 13 de março, acabei me deparando com um exemplar vivo de Thysania agrippina em uma das árvores da passarela do Bosque do Capão da Imbuia em Curitiba, Paraná. Por considerar a presença de um exemplar desta espécie atípica para o bosque, achei relevante historiar de alguma forma. Nas buscas por um meio de registro mais rápido e menos amarrado que os tradicionais, descobri, entre outros, o portal iNaturalist71 , uma