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A DIFÍCIL TAREFA
DE SER ATEU NO BRASIL
“O Brasil é um dos países mais religiosos do mundo, e iniciar uma revista
sobre o ateísmo lá, não é tarefa fácil” (Richard Dawkins Foundation)
A final o que é Entrevista com:
Liberdade religiosa
vs proteção a criança
O por quê
declarar-se ateu
PSEUDO
CIÊNCIA?
RICHARD
DAWKINS
CURA
PELA FÉ
O PRIMEIRO
PASSO
Está nas suas mãos
A Primeira revista Ateista do Brasil!
“A PRIMEIRISSIMA!”
1
a
Set/Out2014
Edição005
Pág. 22
Pág. 28
Pág. 11
Pág. 14
Pág. 16
R$ 22
4
18
16
O “Deus” de
Albert Einstein
A Fé como fruto da
Inércia cultural
“O primeiro Passo”
Acaba de nascer mais uma “Livre
pensadora” no mundo, e como
tudo que nasce ela nasce pequena,
frágil e longe de ser perfeita. Mas
aos poucos, e com a necessida-
de do ambiente, passaremos por
adaptações e iremos evoluir.
Com essa frase eu comecei a primeira Revista Ateísta
no formato digital em setembro de 2013. Quando
iniciei o projeto não imaginava a complexidade de
tal tema: não existem mandamentos, não temos lí-
deres, não temos um pensamento linear e nem po-
demos ter, porque somos “livres pensadores”. Que
responsabilidade é ser livre né? Ser o único ser res-
ponsável pelo que você pensa, fala e escreve, mas
como tudo na vida, a liberdade tem um preço, e as
vezes pagamos a liberdade com a própria liberdade.
Outros antes de nós pagaram até com a própria vida.
Em vista disso até aqui, já existem duas grandes difi-
culdades, para fazer um projeto como esse: Primeiro,
a pressão externa de uma sociedade religiosa, e segun-
do, a dificuldade por falta de uma filosofia homogê-
nea. Nossas opiniões muitas vezes são contraditórias,
mas isso não é de forma alguma algo negativo, e será
através dessa pluralidade de pensamento que vamos
conseguir evoluir nossa capacidade cognitiva.
Alguns de nós carregam um pensamento um pouco
tímido, outros exaltados, alguns histéricos, radicais,
mansos, alguns embasados em contextos filosóficos,
científicos, históricos, outros sem nenhum embasa-
mento apenas pelo fato de ser e querer ser livre, ou
seria esse o maior de todos os argumentos. “Ser e que-
rer ser livre.” Mas por que estou falando essas coisas?
Quando terminar de ler a revista você entenderá.
Nessa edição temos uma enxurrada de pensamentos
a respeito do ateísmo. Em alguns textos você vai falar:
Que grande besteira! Eu não concordo com esse tipo
de ateísmo, Isso nem deveria estar aqui. Outros ao
lerem o mesmo texto dirão: É isso que eu sempre falo.
Mas o fato é que todos somos aprendizes e devemos
estar abertos a outros olhares, mesmo que não seja
para absolvição total, mas sim para um questiona-
mento íntimo, para melhorarmos nossos argumentos.
Obrigado, e uma boa leitura.
Editorial
Durante muito tempo, alguém declarar-se ateu
era, para dizer o mínimo, um tanto arriscado. Mas
este silêncio vêm sendo quebrado, felizmente. o
ateísmo moderno tem aos poucos deixado de ser
simplesmente uma condição de descrença para se
tornar um ativismo! O que está acontecendo?
Uma carta, escrita pouco
antes de sua morte,
serve para acabar, de
uma vez por todas, com
o mito de que Einstein
acreditava em Deus.Gabriel Filipe
Fundador da Revista Ateísta
Qual o valor da liberdade?
ÍNDICE
10
22
14
8
9
26 28 20
12
A complexidade, a perfeição
e a Predição em Biologia Evolutiva
Entendendo o Preconceito contra Ateus
à luz da Psicicologia Evolucionista
A difícil tarefa de
ser Ateu no Brasil
Afinal, O que é
Pseudociencia?
Sociedade e Religião:
Estado Laico não
é Estado Ateu:
Muito se ouviu falar sobre o
termo “Estado Laico” e, conse-
quentemente, muitas dúvidas
surgem em relação ao tema.
Veja o que diz nossa Lei.
Liberdade Religiosa
VS Proteção a Criança
A cura pela fé é amplamente prati-
cada por “cientistas” cristãos, pen-
tecostais, e em algumas Igrejas e
seitas. Muitos desses crentes rejeitam
todos os tratamentos médicos em
favor de oração, unção com óleos,
e, às vezes, exorcismos. Alguns che-
gam a negar a realidade da doença.
Pastor Adélio
Jesus Bêbado
Entrevista com
Richard Dawkins
Por que fazer
bem ao próximo?
HUMOR
O Brasil é uma potência religiosa, o terreno não é
nada favorável para aqueles que buscam respostas
além da religião. Aqui muitos ateus vivem escondidos,
por temerem que a intolerância religiosa [...]
Professor Richard Dawkins
fala sobre Darwin
6
Os apologistas religiosos não podem ser total-
mente culpados por considerar Einstein como
um deles. Ele adorava citar a palavra “Deus” como
uma metáfora poética. Einstein, não poderia pre-
ver como isso repercutiria hoje, nas citações equi-
vocadas em seu nome. Então, é bom ver essa carta,
escrita pouco antes de sua morte, que serve para
acabar, de uma vez por todas, com o mito de que
Einstein acreditava em Deus. Junto com muitas
outras fontes, essa carta finalmente confirma que
Einstein era, no sentido mais realístico da pala-
vra, um ateu. Poucas pessoas tiveram acesso aos
pensamentos e opiniões dessa mente brilhante,
tal como as suas visões pessoais sobre Deus e reli-
gião. A natureza confessional da carta e o período
da vida de Einstein em que foi escrita implicam
sua certeza ao escrevê-la. A certeza do seu roteiro, e
a natureza metódica com a qual ele escolheu as pa-
lavras, são ingredientes que dão peso ao conteúdo
do documento. As ideias expressadas são a culmi-
nância de uma vida inteira de trabalho explorando
a questões mais importantes da existência. Se hou-
vesse um guia para pessoas ávidas por respostas,
essa carta poderia ser uma ótima introdução. A car-
ta escrita de punho, em Alemão foi a leilão junto
com o envelope. Enviada à Universidade de Prin-
ceton, a Eric B. Gutking, em 3 de Janeiro de 1954.
Um ano antes da morte de Einstein. Enviada em
resposta ao livro de Gutkind, intitulado: “Choose
Life: The Biblical Call to Revolt”. (Versão em Por-
tuguês: “Escolha a vida: O chamado bíblico
para a revolta”)
Eu tenho lido bastante o
seu livro nos últimos dias.
Obrigado por
tê-lo me enviado.
E isso foi o que
mais me chocou:
A respeito da atitude
factual à vida e à
comunidade humana, nós
concordamos bastante.
O “Deus” de
Albert Einstein.
6 CURIOSIDADES
A palavra Deus, para mim, é nada
mais que a expressão e produto da
fraqueza humana. A Bíblia é uma
coleção de lendas honradas; mas,
ainda assim, primitivas, que são
nada mais que infantis. Nenhuma
interpretação, independente de
quão sutil seja, mudaria isso para
mim. Essas interpretações sutis são
altamente influenciadas de acordo
com sua natureza e quase nada tem
a ver com o texto original. Para mim,
a religião judaica, como todas as
outras religiões, é uma encarnação das
superstições mais infantis. E o povo
judeu, ao qual eu felizmente pertenço
e com cuja mentalidade tenho uma
profunda afinidade, não tem, para mim,
qualquer qualidade diferente dos outros
povos, e eu não consigo ver nada de
“escolhido” a seu respeito. No geral,
eu acho doloroso que você clame uma
posição privilegiada e tente defender
essa ideia através de dois muros de
orgulho: um externo como um homem;
e um interno como um judeu. Como
um homem, você alega de certa
forma, uma dispensa da causalidade,
contrariamente aceita; e como um
judeu, o privilégio do monoteísmo.
Agora, que eu abertamente expus nossas
diferenças em relação às convicções
intelectuais, é ainda claro para mim
que nós somos bem próximos no que
se refere às coisas essenciais, ou seja,
na nossa avaliação do comportamento
humano. O que nos separa são
somente proposições intelectuais e
racionalizações na linguagem de Freud.
Dessa forma, eu acho que iríamos nos
entender muito bem se falássemos de
coisas concretas. Com agradecimentos
amigáveis e os melhores desejos.
	 A tradução acima
é um resumo da carta de
Einstein a Eric Gutking,
em Janeiro de 1954.
D
esde a sua aquisição, a car-
ta foi armazenada em uma
instituição acadêmica, que
está especializada em cui-
dar de coleções de herança cultural. A
carta está armazenada em um ambien-
te com temperatura, umidade e luz
controlados. A autenticidade da carta
nunca foi questionada, já que é bem
conhecida pela comunidade científica
há mais de 50 anos. Isso ainda é re-
forçado pelo envelope, carimbo e selo.
Em 1940, Einstein escreveu um traba-
lho famoso justificando sua declara-
ção “Eu não acredito num Deus pes-
soal”. Junto com outras semelhantes,
essa declaração provocou uma enxur-
rada de cartas de religiosos ortodo-
xos, muitas delas aludindo à origem
judaica de Einstein. Os trechos que se
seguem são tirados do livro Einstein e
a religião, de Max Jammer.
Carta do fundador da Associação do
Tabernáculo do Calvário, em Oklaho-
ma: Professor Einstein, acredito que
todo cristão nos Estados Unidos vai lhe
responder: “Não vamos abrir mão de
nossa crença em nosso Deus e em seu
filho Jesus Cristo, mas o convidamos,
se o senhor não acredita no Deus do
povo desta nação, a voltar ao local de
onde veio”. Fiz tudo o que podia para
ser uma bênção para Israel, e vem o se-
nhor com uma declaração de sua lín-
gua blasfema e faz mais para prejudicar
a causa de seu povo que todos os esfor-
ços dos cristãos que amam Israel são
capazes de fazer para acabar com o an-
tissemitismo em nossa terra. Professor
Einstein, todo cristão dos Estados Uni-
dos vai imediatamente lhe responder:
“Pegue sua teoria maluca e mentirosa
da evolução e volte para a Alemanha,
de onde veio, ou pare de tentar des-
troçar a fé de um povo que o recebeu
de braços abertos quando o senhor foi
obrigado a fugir de sua terra natal”.
Não tento imaginar
um Deus pessoal;
basta admirar
assombrado
a estrautura do
mundo,
pelo menos na
proporção
em que ela se
permite
apreciar por nossos
sentidos
inadequados.
Um advogado católico americano, em
nome de uma coalizão ecumênica,
escreveu para Einstein: Lamentamos
profundamente que o senhor tenha
feito a declaração [...] em que ridicu-
lariza a ideia de um Deus pessoal. Nos
últimos dez anos, nada foi tão bem cal-
culado para fazer as pessoas acharem
que Hitler tinha alguma razão ao ex-
pulsar os judeus da Alemanha quanto
sua declaração. Admitindo seu direito
à liberdade de expressão, digo ainda
assim que sua declaração o constitui
em uma das maiores fontes de discór-
dia dos Estados Unidos.
A única coisa
que todos esses
críticos entenderam
foi que Einstein
não era um
teísta como eles..
Trechos da
Carta:
Set/Out 2014
7 Matéria: Revista Ateísta
É
de conhecimento da grande maio-
ria dos que usam a internet como
fonte de informação sobre ciências
que a Evolução de Darwin é um
alvo rotineiro de diferentes grupos
que são contra a mesma, dentre os quais cria-
cionistas e adeptos do Design Inteligente. À
parte essas críticas, como chamamos por puro
preciosismo do termo, há um problema que,
embora relacionado em algum nível, merece
ser discutido por si só: as muitas concepções
erradas sobre a Teoria da Evolução darwiniana
e seus processos. É certo acreditar num “pro-
gresso evolutivo”, ou que quão “mais evoluí-
do” um ser mais complexo será o mesmo, ou
ainda que é possível prever os caminhos da
evolução, como não raramente vemos sendo
divulgado mídia afora? De maneira geral, pre-
domina no imaginário popular que evoluir sig-
nifica melhorar e assim progredir para, vamos
chamar, perfeição. A própria palavra “evoluir”
carrega em seu sentido coloquial alguma co-
notação de progresso e melhoramento.
Evoluir em biologia, no entanto, não significa
melhorar, e sim apenas mudar. Não existem
espécies piores ou melhores, sequer perfeitas.
Existem espécies mais ou menos adaptadas a
uma situação ambiental específica. Caso as de-
mandas ambientais sejam alteradas, por um
processo de natureza climática, por exemplo, o
quadro pode mudar de feição completamente.
É certo, portanto, dizer que somos melhores e/
ou mais evoluídos que, por exemplo, vermes
que vivem enterrados no sedimento marinho?
Para ambos casos a resposta é certamente um
não. A clássica imagem anedótica de um be-
souro que morre por não conseguir se virar
quando cai de cabeça para baixo nos demons-
tra um caso de design imperfeito da evolução.
O processo evolutivo biológico, tampouco,
tem de gerar necessariamente formas mais e
mais complexas.
Do ponto de vista evolutivo, a complexidade
não recebe nenhum tipo de “recompensa” es-
pecial. Isto fica mais claro quando descobrimos
que a esmagadora maior parte das formas de
vida em nosso planeta é constituída por orga-
nismos simples. Uma verdadeira maioria invi-
sível. Se a complexidade fosse determinante, tal
cifra deveria ser oposta. É inegável, contudo, que
existem formas vivas altamente complexas em
sua estrutura, fisiologia ou ainda em seu com-
portamento. E também que tais criaturas sur-
giram depois das simples na escala de tempo.
A errônea
ideia de
que os
organismos
se tornam
cada vez
melhores.
8 BIOLOGIA
Pode parecer um beco sem saída, algo parado-
xal, mas na verdade não é. A evolução biológi-
ca é um processo histórico e, como tal, o que
vem antes restringe ou limita o que vem após,
mas não determina. Dessa forma, a complexi-
dade surgiu no processo evolutivo de maneira
fortuita. Processos inversos, de simplificação, in-
clusive são relativamente comuns na natureza.
Circulando por sites diversos, ou mesmo em re-
vistas, que se propõem a divulgar assuntos cien-
tíficos, títulos curiosos do tipo “Darwin Explica
Como Seremos no Futuro”, ou qualquer coisa
do tipo. Certas vezes associando mudanças fí-
sicas inusitadas e um tanto chocantes ao uso de
tecnologias novas como o celular e o compu-
tador. Como prever, no entanto, quais mudan-
ças ocorrerão sendo que nem mesmo é possível
prever quando ocorrerá e qual será a extensão
dos efeitos de uma mutação? Os eventos de mu-
tação constituem o principal motor da mudança
nos seres vivos, e são conhecidas por sua aleato-
riedade. Não há meios de prever quando uma
mutação ocorrerá, ou em que região do DNA
acontecerá. Outros processos evolutivos, como
a oscilação genética também não são passíveis
de previsão. Sendo assim, não há como prever o
rumo da evolução.
(1900-1975) traduziu com
maestria a relevância da Evolução
ao dizer “Nada faz sentido em
biologia exceto à luz da evolução”.
Sendo o cerne da biologia, é algo
que deve se tornar cada vez mais
familiar aos leigos, de modo que
a existente resistência ao conjunto
de ideias que a Evolução abriga
seja gradualmente desmontada.
Uma correta divulgação científica
tem um papel fundamental nesse
caminho, que ainda infelizmente
parece árduo e longo. Parte desse
trabalho, muito embora, pode ser
feito apenas valendo-se de um olhar
cético mediante notícias fantásticas
sem quaisquer fontes reconhecíveis,
que, por vezes, chegam até mesmo a
usar falácias de apelo à autoridade.
É, certamente, um caminho que deve
ser percorrido com firmeza para
que afirmações do tipo “é só uma
teoria” e outros erros conceituais
tendam ao desaparecimento.
“Estamos cercados por infindáveis
formas belíssimas e fascinantes, e não é
por acidente, e sim uma consequência
direta da evolução pela seleção natural
não-aleatória - única na vida, o maior
espetáculo da Terra.”
Richard dawkins: O Maior
Espetáculo da Terra - As
Evidências da Evolução
2009, 440 págs,
Companhia de Bolso
Dica de
Livros:Theodosius
Dobzhansky
Set/Out 2014
9 Opinião de: Eric Miguel
Biologo
A peça conta a estória de um malandro que se
fingia de doente para morar e comer de graça na
casa de uma viúva, porém os filhos descobrem
se tratar de um farsante e planejam desmasca-
rá-lo. Pedem para a mãe esconder-se atrás de
uma cortina e chamam o malandro, este, sem
saber que a viúva está ali, fala abertamente de
como tem enrolado a mulher, se aproveitado
de sua bondade, roubado seus pertences, de
como vem rindo pelas costas. Neste momento
a mulher sai de trás da cortina e, pasmem, dá
um esporro nos filhos! Sim, os filhos estavam
expondo o malandro, que, aliás, já havia con-
quistado a viúva. Sim, meus irmãos, a viúva que
tinha uma vida de merda, passou a ter um mo-
tivo pra viver, sua vida era cuidar do malandro
e ela não queria perder isto.
Com a religião acontece o mesmo. Algumas pes-
soas, a maioria graças a deus, não deixariam sua
igreja mesmo que fosse comprovado que esta
não passa de uma malandragem.
As iMagens de Edir Macedo dizendo “Ou dá ou
desce” não foram fortes o suficiente para afastar
seus fiéis. A imagem da Renascer continua a mes-
ma, mesmo depois de seus líderes terem sido pe-
gos com dinheiro ilegal. A romaria à antiga casa
de Chico Xavier continua firme e forte, embora
existam provas de que ele tenha forjado uma “vi-
são” e de inúmeros relatos de fraude. Poderia dar
centenas de exemplos, mas pra quê?
Não sei de onde vem isto, se em algum estágio
da evolução humana nós dependemos de uma
espécie de gene da crença pra sobreviver ou se a
falta de conhecimento, de um córtex mais avan-
tajado foi que nos obrigou a viver pelo instinto,
a confiar nele, a temer a sombra, a luz, o fogo, o
desconhecido. Talvez este gene ainda esteja pre-
sente hoje, mesmo que tenhamos evoluído e ele
não seja mais necessário, talvez seja um gene re-
nitente, que se apegou ao ser humano e não quer
lagar, como o Lula em relação ao poder. O fato é
que o ser humano tem a capacidade de ser enga-
nado com facilidade. Basta uma pessoa com um
mínimo de autoridade para convencer milhares,
milhões de pessoas das mais absurdas teorias.
Mas, o que mais impressiona, é a capacidade que
o ser humano tem de enganar a si mesmo. 
Cair num 171, todo mundo cai, mas permane-
cer nele já merece um estudo psicológico. Parece
que as pessoas que veem que foram enganadas
não conseguem abandonar o caminho que es-
colheram. É como se estivessem cortando uma
parte do corpo. É como se tivessem que assumir
perante a sociedade que foram otários em algum
momento de sua vida. Então, diante da possibi-
lidade de assumir que foi feito de otários, ou per-
manecer otários, as pessoas ficarão sempre com
a segunda opção, afinal, ser otário, na cabecinha
delas, é melhor, já que ser otário depende de um
julgamento, de uma visão subjetiva e “ser feito
de otário” é pior, pois não depende de julgamen-
to. Acho que é isso.
Mas, de qualquer forma, fico feliz que seja assim.
Graças a esta especificidade, você pode dizer e até
provar que sou ladrão, canalha, mau caráter, 171.
Pode dizer que a bíblia é um amontoado de len-
das, pode provar até que Deus não existe. Não
adianta. Algumas pessoas seguirão em sua trilha
de escuridão até se deparar com a morte.
Era isto por hoje, meus irmãos, e saibam que falo
estas coisas não é para chocar, eu digo isto porque
vocês sabem: com o pastor Adélio, só a verdade!
Olá meus irmãos!
O pastor Adélio
está de volta e
hoje quero falar
com você sobre
uma peça de teatro.
Não vou aqui dar
o nome da peça,
nem do autor
porque corro
o risco de você
irmão cheio de
dúvidas correr
lá pra ler o texto..
DEIXA QUE
EU CONTO...
PASTOR ADELIO
Pastor Adélio é um personagem criado pelo humorista Márcio Américo.
Fazer rir é sempre bom!
E, sem riso, nada de bom veríamos no mundo, aliás, não
veríamos coisa alguma, afinal o humor flerta com os limites
de uma sociedade desde o tempo dos gregos! A comédia, em
todas as suas facetas, revela o que pensamos, como pensa-
mos e o que tentamos esconder!
Talvez por conta do politicamente correto e da onda de cen-
sura que temos vivido, a comédia até se dividiu em “humor”
e “humor negro”. Absurdo, não? Tem gente que acha graça
de muita coisa, pois senso de humor é que nem braço... “Cê”
entendeu, né? E, brincando com os limites do que pode ser-
vir de brincadeira, muitos humoristas foram castrados: Ra-
finha Bastos, Fabio Porchat, Danilo Gentili e tantos outros.
Se o tema for religião então, nem se fala!
Gustavo Mendes, que interpreta uma versão cômica da Pre-
sidente Dilma, foi agredido em pleno palco por dizer: “foi
Jesus quem transformou água em vinho” para concluir uma
piada sobre a venda de bebida alcoólica durante o jogo do
Brasil x Croácia. O que fez com que o chefe de gabinete do
prefeito da cidade de Búzios (RJ) se irritasse e subisse ao pal-
co para “justificar” uma piada que cita Jesus! Religião é mes-
mo uma piada pronta e muita gente ignora isso! O que tem
demais uma pessoa beber? Se beber fosse proibido, a Bíblia
não citaria mais de 200 vezes a palavra vinho... Ou é proibi-
do ou é bom demais! Feliz seria eu em ser religioso e “pé de
cana”. Já pensou ter um deus que transforma água em bebida
alcoólica? Eu veneraria ele todos os dias da minha vida!
O riso não só desperta em nós a graça, mas nos desperta o
senso crítico e a reflexão. E tudo o que desperta senso crítico
é perigoso. Por isso houveram tantas censuras, por exemplo,
na época da Ditadura Militar no Brasil. E se tudo o que é po-
pular é um tema em potencial, religião não ficaria de fora!
Aquilo que é sagrado para uns, não é para outros, aquilo que
é engraçado para uns, nem sempre será para todos. Então,
não há um limite claro sobre o que dizer e o que não pode
virar piada. Ainda mais no Brasil, onde você ser descendente
de português é motivo de piada, se for gay, se for negro e se
for nordestino! Gaúchos brincam com cariocas, paulistas
com mineiros e por aí vai! Existem piadas que tem no fundo
uma realidade encrustada, outros um preconceito que jaz
muito antes das pessoas que contam tais piadas. Aí vai do
nível intelectual da pessoa em rir com piadas do Zorra Total
ao invés do Monty Python. Você elege o melhor!
Se não existe ateu em avião caindo, então não existe crente
em hospital para fazer cirurgia no joelho, não é mesmo Val-
domiro? Vamos ver se vocês são bons de adivinhação:
O que é, o que é: tem gente que entra em transe e vê o futu-
ro, mas não é macumba; quando você diz que viu um anjo
ninguém lhe interna; tem gente que não morre?
São os X-Men, abestado! Pensava que eu “tava” falando de
que? Do cristianismo? =P
12 PSICOLOGIA
S
e você está lendo esta revista, já
deve ter reparado que quando al-
guém se revela como “ateu” passa
– imediatamente – a ser criticado
e discriminado pelos seus pares, os
mesmos que, segundos antes de ouvirem a
declaração, o abraçavam como um irmão.
Percebendo essa estranha reação, alguns de
vocês devem ter se perguntado: “Afinal, por
que o simples fato de fulano não acreditar
em um deus, o torna um pária?”.
Para responder a essa questão é preciso pri-
meiro compreender que este mecanismo
que promove a discriminação dos outros
com base na mera ausência de crença numa
divindade não é muito antigo, tendo sido
instalado há pelo menos 100 mil anos atrás
em nosso cérebro, através da seleção natural,
numa época em que “crer em Deus” fazia
mesmo muita diferença.
Hoje sabemos, por exemplo, que a crença
religiosa desempenhou um papel muito im-
portante para o controle social, principalmen-
te na hora de incentivar a cooperação e frear
comportamentos antissociais. Por exemplo,
a maioria das religiões não apoia o roubo ou
o assassinato, aceitando essas práticas apenas
quando elas são voltadas a outros grupos (que
geralmente têm convicções religiosas dife-
rentes). Na maioria das vezes: roubar, matar
ou mesmo deixar de oferecer ajuda a um ir-
mão de fé são pecados punidos não apenas
pelos pares, como também por Deus.
Porém, se alguém for habilidoso, silencioso
e até um pouco sortudo, pode roubar a casa
do vizinho à noite e ninguém vai perceber.
Isso demonstra que a fiscalização dos ho-
mens é falha, pois não é possível monitorar
o outro durante 24 horas por dia, para evitar
que ele cometa crimes. Mas, e se, por acaso,
existisse uma “coisa” que fosse onipresente,
onisciente e onipotente, capaz assim de fis-
calizar cada passo de cada pessoa, em cada
hora do dia, e julgar todas as atitudes dela?
Nesse caso, mesmo na calada da noite, en-
quanto o vizinho dormia, Deus estaria ob-
servando o pecado em tempo real, e aquilo
traria consequências negativas ao pecador.
Logo, era melhor se manter na linha, e pro-
curar pecar o menos possível!
Foi basicamente essa a contribuição da re-
ligião ao longo da nossa evolução: criou a
ilusão de que estamos constantemente sendo
monitorados e avaliados por um tipo de “Gran-
de Irmão” todo poderoso, que controla uma câ-
mera celestial de alta resolução e bateria infinita.
Não importa a cultura (salvaguardadas raras
exceções) todas as religiões incluem o eterno
monitoramento dos passos das pessoas e a rele-
vância das ações delas em vida para a definição
da sentença recebida na pós-vida.
Nesse sentido, e naquele ambiente ancestral, a
religiosidade conseguia sim desestimular mui-
tos indivíduos prestes a cometer crimes. Não é
por acaso que até hoje os religiosos consideram
que “temer a Deus” é uma virtude!
DSSDDSADDaí deriva
o preconceito
contra
descrentes.
Pelo menos, foi isso que descobriu o psicólogo
evolucionista Will Gervais, que conduziu uma
série de estudos nos últimost anos e concluiu que
ateus são discriminados por serem considerados
pouco confiáveis. O raciocínio é basicamente o
seguinte: “se um ateu não reconhece que está
sendo constantemente monitorado e avaliado
por Deus, quais seriam as razões para ele ser ho-
nesto? Em suma, por que alguém deveria confiar
em quem não tem deus no coração?” (você já
deve ter ouvido isso muitas vezes por ai).
A resposta é: porque a religiosidade, ou ausência
dela, não define o caráter de ninguém. Na realida-
de, os melhores princípios religiosos não exigem
nenhuma crença divina subjacente, pois se tratam
de ideais que visam o bem comum. Geralmente, as
pessoas não apreciam a violência, nem incentivam
a desavença social com seus semelhantes, logo,
não é preciso reconhecer a existência de Deus
para apoiar os últimos cinco mandamentos bí-
blicos, por exemplo.
Isso significa que, nas sociedades com um sis-
tema social evoluído, a religiosidade deixou de
ter seu papel acima descrito, porque já existe um
organizado conjunto de leis que permite fazer
justiça, e de tecnologias (como câmeras) que
permitem monitorar de verdade as atitudes cri-
minosas, e servem como prova objetiva para a
condenação do infrator.
Se o preconceito é uma
“doença social”, que mata
aos poucos as relações,
é fundamental identificar
qual a causa dela, para
que a intervenção no
sentido de melhorar a
situação possa se focar
no combate dessa causa
específica. Nesse caso,
sabemos que a base do
preconceito contra ateus
é a “desconfiança”. Logo, o
caminho mais racional para
minimizar esse problema
é investir os esforços em
campanhas que visem
esclarecer à sociedade
geral que religiosidade não
é sinônimo de honestidade
(como, aliás, já vem sendo
feito). Afinal, há exemplos
de pessoas boas e más
tanto entre religiosos
quanto entre ateus.
Esclarecendo esse ponto,
demonstrando que “é
possível confiar em quem
não crê”, o prognóstico
tende a ser positivo.
Agora, a reprodução de
frases do tipo: “ateus
são mais inteligentes
que religiosos”, além de
não ajudar em nada, só
fortalece outro mecanismo
natural bem típico, o “Nós X
Eles”, e isso aumenta ainda
mais a animosidade entre
os grupos. A pergunta
que devemos nos fazer
é: “Queremos mesmo
vencer o “câncer do
preconceito”, ou provocar
uma metástase?”.
CON
CLu
indo
Set/Out 2014
13 Opinião de: Thales Vianna Coutinho
TVCChannelNews
Muito se ouviu falar sobre o termo “Estado Lai-
co” e, consequentemente, muitas dúvidas sur-
gem em relação ao tema. No artigo 19 da Cons-
tituição Federal temos estabelecido o seguinte:
Essa disposição caracteriza o estado Brasileiro
como Laico, ou seja, aquele que não possui uma
religião oficial, pois é um estado secular que se
mantém neutro e imparcial nos temas religiosos.
É função do estado laico, estabelecer ações que
prezem a boa convivência entre credos e religi-
ões, combatendo o preconceito e a discrimina-
ção religiosa.
Algo muito importante é não confundirmos um
estado laico com um estado ateu, sendo que
o ateísmo e seus assemelhados também se in-
cluem no direito à liberdade religiosa. De acor-
do com o Jurista Pontes de Miranda a “liberdade
de crença compreende a liberdade de ter uma
crença e a de não ter uma crença” (Comentários
à Constituição de 1967). Portanto o direito de
não ter uma religião é também defendido pela
nossa constituição.
O Brasil, em sua laicidade tem como fator predo-
minante a inexistência de uma religião oficial, o
que não caracteriza o país como um estado ateu
ou partidário da não crença. Em teoria, ao menos
no Brasil prepondera o princípio da liberdade re-
Sociedade
e Religião
Estado Laico não é
Estado Ateu.
ligiosa tornando, portanto, o estado neutro em
questões religiosas. Não podemos permitir que
o estado tome qualquer posicionamento religio-
so da mesma maneira que este mesmo estado
não pode insurgir na “não crença”.
Observemos por exemplo várias Câmaras de
Vereadores em todo o Brasil onde se ostentam
enormes “cruzes” em seus plenários. Podemos
sim considerar este ato como tendencioso e
uma afronta à laicidade estabelecida pela nossa
Constituição assim como nos casos de quando
vereadores instituem os seus “momentos bíbli-
cos” em seções destas câmaras. Você deve estar
perguntando, mas que mal há afinal em “rezar” an-
tes da sessão? Se você é cristão certamente não vê
este ato como algo tendencioso, porém pense da
seguinte maneira, imagine o vereador X rezando um
pai nosso no início da sessão, em seguida o vereador
Y discorrendo sobre o ateísmo, em seguida o verea-
dor Z dando um “passe” para os presentes o verea-
dor H rezando um trecho do talmude e finalmente,
o vereador U lendo o alcorão.
Isso seria bizarro e cômico ao mesmo tempo.
Logicamente isso não ocorre, mas serve como
exemplo para o fato de que toda pessoa tem
sua liberdade de credo garantida pela consti-
tuição federal. Cabe, porém o bom senso ao
estado para que não permita que seus prédios
e sessões sirvam de palanques para propagan-
da religiosa, pois a “fé” de um não pode ferir
ou desrespeitar a “fé” ou a “ausência de fé” de
“É vedado à União,
aos Estados, ao
Distrito Federal e
aos Municípios:
I - estabelecer cultos
religiosos ou igrejas,
subvencioná-los,
embaraçar-lhes o
funcionamento ou
manter com eles ou
seu representantes
relações de
dependência ou
aliança, ressalvada,
na forma da lei,
a colaboração de
interesse público.”
14 SOCIEDADE
outro. Além do mais, cabe aos vereadores “le-
gislar”, e não instaurar seus credos em plena
sessão, ferindo assim a nossa Constituição no
que tange à laicidade. Não discorro “contra”
o cristianismo, judaísmo, paganismo, umban-
dismo, espiritismo ou qualquer que seja o
“ismo” religioso, porém discorro contra qual-
quer posição religiosamente tendenciosa vinda
de quem faz parte do poder público.
O movimento tão criticado por muitos que
foi o de tirar o termo “Deus seja louvado”
das nossas notas de Reais é na verdade um
movimento em favor da preservação da neu-
tralidade do nosso Estado e da diversidade re-
ligiosa, mesmo que pareça pueril em primeira
instância. Imagine outros termos semelhantes
em nossas notas de real, afinal, se pode haver
um “Deus seja louvado” pode haver também ,
“Alá seja louvado”, “Lula seja louvado”, “Salve
Oxossi”, “Salve Lord Ganesha” ou “Deus não
existe”, pois afinal de contas se uma religião
ou expressão religiosa pode constar na cédula
de real, que todas possam ou, de maneira mais
neutra e de forma a respeitar nossa Constitui-
ção, que nenhuma delas possa.
Repito, estado laico não é um estado ateu, é
sim um estado neutro, oposto os estados teo-
cráticos nos quais a religião tem papel ativo na
política e até mesmo na constituição, como é o
caso de Israel, Irã e do Vaticano, entre outros.
Quanto mais partidos “cristãos” intrometem-se
em nossa política propondo leis tendenciosas e
de cunho religiosos, mais me preocupo com a
manutenção da nossa liberdade, pois leis como
a da “cura gay” entre outras ferem o princípio
básico da isonomia e da preservação do indiví-
duo e de sua liberdade.
Podemos de fato estar caminhando para uma
teocracia velada que surge com políticos per-
tencentes às igrejas evangélicas ou pentecostais
que têm uma visão quase que medieval das re-
lações humanas Passamos em nossa história
por períodos tenebrosos gerados justamente
pela imposição de religiões sobre os estado
com foi o caso da Inquisição e atualmente dos
estados islâmicos.
É um retrocesso para a raça humana qualquer
forma de estado teocrático os quais acabam cer-
ceando as conquistas obtidas com tantos anos
de luta contra à ignorância gerada pelo temor
infundado que muitas religiões usam como
método de dominação. Imagine você mulher,
novamente sendo reduzida a um objeto, a um
mero “animal” tendo como únicos propósitos
a procriação e o trabalho doméstico. Não há
nada de errado com ambos, ser mãe e cuidar de
casa deve, porém, ser uma escolha individual e
não uma imposição.
Sabemos que manter a
neutralidade e a laicidade
em nosso país garante
uma liberdade de crença
plena e verdadeira a
todos os cidadãos
brasileiros e
que qualquer ação de
cunho religioso em
nossa política
pode ameaçar esta
neutralidade. Nosso país
deve ser justo,
deve ser inclusivo,
deve ser igualitário no
tratar ao povo e aos seus,
nosso país deve ser laico
e, portanto,
um país justo.
Set/Out 2014
15 Opinião de: Fabiano Uesler
Todo dia Blumenau
Cura pela Fé:
Liberdade Religiosa
vs Proteção à Criança
Crença religiosa sendo usada como justificativa
para negar atendimento médico a crianças.
O que dizer de pessoas que rejeitam a ideia
de tratamento médico?
A Igreja Assembleia da Fé foi responsável
por mais de 100 mortes de crianças
e por uma taxa de mortalidade materna de
870 vezes maior que a taxa normal. A causa
mais comum de morte foi de mortalidade
infantil em partos domiciliares, algo que
hoje é raro na “Ciência Cristã”, porque eles
agora permitem o pré-natal e partos hospita-
lares atendidos por médicos.
Josef Smith, oito anos de idade, foi espancado até a
morte durante um exorcismo no Tennessee. Seus pais, os
membros da Remnant Fellowship, foram considerados
culpados de assassinato e condenado à prisão perpétua.
Nos Estados Unidos Um casal de Oregon City, foi condenado por assassinato
e negligência criminosa, depois de deixar o filho de 16 anos morrer sem
procurar ajuda médica. Jeff e Marci Beagley são membros da igreja Seguidores de
Cristo, que prega a cura pela fé e rejeita cuidados médicos.O filho do casal, Neil
Beagley, morreu em junho de 2008 por causa de um entupimento congênito nos
órgãos que cuidam da excreção urinária – uma condição tratável. Ele tinha a doença
desde que nasceu. O julgamento durou duas semanas e o júri chegou ao veredito, de-
pois de dois dias de deliberação. Dez dos 12 jurados consideraram o casal culpado.
Na Austrália, a justiça ordenou um rapaz testemunha de jeová, com câncer a receber
transfusão sangue, apesar do rapaz e de seus pais delimitarem a vontade de não rece-
ber sangue por conta de convicções religiosas.
Exemplos de processos:
Uma mãe que espancou e sufocou o
filho foi condenada à prisão perpétua por
assassinato em primeiro grau. Ela aceitou
de bom grado a sua punição como parte do
plano de Deus.
A cura pela fé é amplamente praticada por “cientistas”
cristãos, pentecostais, e em algumas Igrejas e seitas. Muitos
desses crentes rejeitam todos os tratamentos médicos em
favor de oração, unção com óleos, e, às vezes, exorcismos.
Alguns chegam a negar a realidade da doença. Quando
eles rejeitam tratamento médico para seus filhos, eles
podem ser culpados de negligência e homicídio?
Até recentemente, as leis religiosas tinha um escudo
que as protegia da acusação, mas as leis estão
mudando, assim como as atitudes públicas.
A liberdade de religião entrou em conflito com o dever
da sociedade de proteger as crianças. O direito de
acreditar não se estende ao direito de pôr em perigo a
vida das crianças. Um novo livro de Cameron Stauth,
Em Nome de Deus: A Verdadeira História da Luta para
Salvar Crianças da Fé, fornece os detalhes de sua luta.
Ele é um mestre contador de histórias, o livro chama a atenção
do leitor como um thriller de ficção e é difícil de largar.
Uma das primeiras mortes aconteceu em Indiana.
Com quatro anos de idade, Natali Alegria Mudd
foi encontrada morta por detetives em sua própria
casa, com um tumor no olho que era quase
tão grande quanto o resto de sua cabeça.
Na cena horrível, um sargento da polícia encontrou trilhas
horizontais de sangue ao longo das paredes da casa. As
trilhas correspondiam à altura da cabeça da menina. Natali
aparentemente estava encostada na parede enquanto ela
arrastou-se de sala em sala, cega, tentando encontrar um
caminho para a liberdade, antes que o tumor a matasse.
Os pais de Natali pertenciam à Igreja Assembleia da
Fé, um ramo pentecostal. Eles não acreditam nos
cuidados médicos, e eles não foram processados
porque Indiana tinha leis religiosas que serviam
como escudo. Dois anos mais tarde, a irmã de
cinco anos, de Natali morreu de um tumor, em seu
estômago do tamanho de uma bola de basquete.
1 3
2
4
16 SOCIEDADE
Agora não pense que isso é um fato que só acontece lá fora. No Brasil,
as convicções religiosas também chegam a esse ponto.
Em 2013, o juiz Elleston Lissandro Canali, autorizou
o corpo clínico do Hospital Nossa Senhora da
Conceição (HNSC), de Tubarão, a realizar o
procedimento de transfusão de sangue em um
recém-nascido com problemas de saúde. Os pais
não concordavam com o tratamento por serem
testemunhas de jeová. O bebê, que nasceu com
aproximadamente 900 gramas, necessitava, com
urgência, da transfusão de sangue. Os pais foram
contra, devido à crença religiosa, sendo necessária
a determinação judicial para garantir que todos
os direitos previstos no Estatuto da Criança e do
Adolescente, como o direito à vida e à assistência à
saúde fossem cumpridos.
Em março de 2011, outro caso reper-
cutiu na região depois que a família
de um homem baleado rejeitou a
transfusão sanguínea e teve assegura-
do na Justiça o direito à crença. AMS,
de 46 anos, era testemunha de jeová e
morreu uma semana depois da deci-
são judicial. AMS havia sido baleado
durante uma negociação de programa
sexual com menores. Com o dispa-
ro, os criminosos fugiram, sem nem
sequer roubar a quantia em dinheiro
que estava com ele.
Mas esses não são casos isolados.
Em 2004, também no Brasil, em uma
decisão emergencial, a Justiça de Pernam-
buco determinou que uma menina de 8
anos recebesse uma transfusão de san-
gue. Portadora de uma doença hereditária
que leva a uma anemia crônica, a criança
chegou ao hospital com infecção urinária e
um quadro grave de anemia. Foram feitos
vários exames e os médicos só encontraram
uma saída: a transfusão de sangue. “Ela
apresentava um quadro grave e alto risco de
morrer”, disse a chefe do setor de pediatria
Márcia Wanderley.
O Conselho Tutelar recorreu à Justiça.
“O artigo 98 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, parágrafo 2º, diz que nós
podemos acionar a Justiça por omissão dos
pais ou abuso do poder familiar”, explicou
a conselheira Conceição Pimentel.
No dia 23 de dezembro de 2013 também ouve um caso que chocou o
país. Um bebê recém-nascido morreu no setor de Neonatal do Hospital Geral
de Fortaleza (HGF) após a avó recusar que fosse realizada uma transfusão de
sangue que poderia salvar a criança. Segundo Antônia Lima, promotora de Jus-
tiça de Defesa da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual (MPE),
a avó da criança, que seria testemunha de jeová, não autorizou a transfusão
porque o procedimento médico vai de encontro à sua religião. Assistentes
sociais do HGF entraram em contato com o MPE pedindo intervenção no caso.
Entretanto, não houve tempo hábil para autorizar a transfusão de sangue. A
mãe, por ser uma adolescente de 15 anos, não poderia responder pela criança e
tentava, desde sexta-feira (20), convencer a avó sobre necessidade da transfusão
de sangue, segundo informou a promotora Antônia Lima.
7
8
Sob o domínio Romano, a cidade de Alenxadria é palco de
uma das mais violentas rebeliões religiosas de toda história
antiga. Judeus e cristãos disputam a soberania política, econô-
mica e religiosa da cidade. Entre o conflito, a bela e brilhan-
te astrônoma Hypatia (Rachel Weisz) lidera um grupo de
discípulos que luta para preservar a biblioteca de Alexandria.
Alexandria (ORIGINAL: “ÁGORA”)
2011, 126 Minutos.
5 6
Dicade
FILME:
Set/Out 2014
17 Matéria: Revista Ateísta
E
ncontram-se perdidos nas brumas do
passado inúmeros casos de pessoas
que foram obrigadas a fingir uma
vida de credulidade e aceitação de
dogmas que consideravam absurdos,
por medo de serem hostilizados, discriminados
ou coisa pior. Nomes que jamais conheceremos,
de indivíduos obrigados a se ajoelharem, levan-
tarem as mãos para o céu ou cantarem hinos
de louvor a criaturas mitológicas nos quais não
acreditavam, tentando se manterem incógnitos
em meio à multidão de fiéis que não hesitariam
em castigá-los por sua heresia.
Ser ateu em uma sociedade preponderantemen-
te teísta nunca foi muito fácil. Revelar-se como
descrente, então, sempre foi um ato corajoso de
honestidade e afirmação de liberdade, muitas
vezes punido severamente. Por este motivo, a
maioria dos ateus sempre optou por manter-se
em silêncio sobre a sua descrença. Questiona-
mentos sobre a religiosidade predominante,
quando feitos, restringiam-se a círculos filosó-
ficos e científicos.
Mas este silêncio vem sendo quebrado, felizmen-
te. E os ateus, que durante muito tempo man-
tiveram-se ocultos, têm se mostrado bastante
dispostos a mostrar publicamente seu ceticismo
à existência de deuses. Mais do que isso: O ate-
ísmo moderno tem, aos poucos, deixado de ser
simplesmente uma condição de descrença para
se tornar um ativismo! O que está acontecendo?
Neo-ateus. Ateus modinha. Ateus toddynho. Não
são poucos os adjetivos pejorativos que os
ateus têm recebido por anunciarem sem medo
sua descrença. E o motivo é a nossa necessidade
natural de entender o mundo classificando as
coisas. Para uma sociedade acostumada a ter
como o estereótipo de ateu alguém “que não
acredita em deus”, mas que não tem voz na co-
munidade (e que aceita sua insignificância por
entender que faz parte de uma minoria), esse fe-
nômeno de pessoas declarando publicamente
seu ateísmo e ainda militando pelo ceticismo
precisa ser nomeado – e de forma distinta dos
“ateus clássicos”.
Estamos diante de um evento completamente
novo: embora ateus sempre tenham existido,
e muitos deles tenham influenciado bastante a
cultura ocidental, seus números não eram tão
significativos e eles não faziam tanto barulho.
As instituições religiosas sempre coibiram ener-
gicamente qualquer crescimento do secularis-
mo, com a ajuda de milhões de fiéis dispostos a
defender o sagrado com unhas e dentes. Atual-
mente, no entanto, em sociedades cada vez mais
livres do obscurantismo religioso, que contam
com comunicação global e informação acessível
a todos os níveis sociais, estas instituições têm
falhado em inibir o avanço do racionalismo.
Durante muito
tempo, alguém
declarar-se ateu
era, para dizer o
mínimo, um tanto
arriscado. Não
foram poucos
aqueles que,
no decorrer
da história da
humanidade,
precisaram
ocultar que não
acreditavam na
fantasia que as
autoridades relig
iosas impunham à
sociedade.
Um fenômeno
completamente
novo
18 SOCIEDADE
É natural, então, que os religiosos se ressintam deste
crescimento do número de ateus, sobretudo nos
meios de comunicação. Até porque há uma relação –
não absoluta, mas existente – entre a educação (que
produz muitos formadores de opinião) e o pensamento
crítico (terreno fértil para o ceticismo e, em sua esteira, o
ateísmo). E, claro, farão o que sempre fizeram: tentar
deter o crescimento da descrença. Sua principal arma:
a discriminação!
Para muitos ateus criados em famílias ou comuni-
dades religiosas, declarar sua descrença não é uma
opção. Temem o esperado preconceito que sofrerão
em suas casas, trabalhos e relações sociais. Este medo
é totalmente compreensível. Como podem ser aju-
dados, então? A resposta é fácil, e ela se baseia na
experiência passada por outras parcelas da sociedade
que sofreram (e ainda sofrem) discriminação. Grupos
quem combatem o racismo, associações que apoiam
pessoas com deficiências físicas e mentais e entidades
de defesa dos direitos homossexuais adotam a estra-
tégia eficaz de incentivar aqueles que sofrem discrimi-
nação a aceitarem sua natureza, condição ou opção,
e a se declararem publicamente como tais. Nos casos
como os dos negros e dos homossexuais, a estratégia
vai além, ao esclarecer a estas vítimas de preconceito
que elas têm todo o direito de afirmarem sua satisfa-
ção por pertencerem a estes grupos!
E é esta a melhor forma de combater o preconceito também con-
tra ateus, de forma pacífica e nem por isto menos contundente.
Devemos nos anunciar como descrentes, céticos e racionalistas, e
mostrar não só como o ateísmo é transformador, mas a sua acei-
tação também.
A eficácia desta mensagem é dupla. Em primeiro lugar, ela aju-
da aqueles ateus que se mantêm ocultos por serem solitários em
sua descrença, a saberem que não estão sozinhos. Isto os incentiva
a “saírem dos seus armários”, confiantes de que há muitos que
coadunam de seu posicionamento racionalista. É uma tendência
de feedback positivo: quanto mais ateus se assumirem como tais,
mais ateus serão encorajados a também adotar a mesma postura.
E conforme estes descrentes vão se unido, as comunidades ateístas
vão crescendo, fortalecendo-se a ponto de se tornar entidades que
atuam inclusive juridicamente para lutar contra a discriminação.
O segundo ponto em que a estratégia é eficiente é a visibilidade
“externa”, ou seja, como a sociedade como um todo enxerga os
ateus. Neste sentido, o volume é diretamente proporcional à sig-
nificância. Quantos mais cidadãos declararem-se como descren-
tes, maior será a visibilidade das demandas deste público, como
o combate à intolerância e o fomento à laicidade. Além disto, é
preciso mostrar que ateus não são bichos-de-sete-cabeças e que o
ateísmo não é sinal de imoralidade. E isso só será possível quando
o cidadão mediano descobrir que o seu vizinho, o seu colega de
futebol, o professor do seu filho ou mesmo o seu primo é ateu, e
mesmo assim não deixa de ser uma pessoa digna e honesta.
Declarar-se publicamente como ateu e não admitir - de forma al-
guma - sofrer discriminação é o primeiro passo para exigir que
os descrentes não sejam tratados como uma subcategoria de cida-
dãos, sem voz e sem representatividade!
Ateus,
“saiam do
armário”!
Pela primeira vez na história da humanidade,
temos ateus e agnósticos compondo
parcelas significativas da sociedade.
Set/Out 2014
19 Opinião de:
David Ayrolla
Papo de Primata
Como a fé se internaliza no
pensamento das pessoas?
A questão do motivo da humanidade ter de-
senvolvido a fé em algo inescrutável e fora de
explicação já foi objeto de textos anteriores. Em
resumo basicamente, tais motivos seriam:
1: O medo da morte,2: O medo do desconhe-
cido, 3: A necessidade de achar “explicações”
para tudo (uma entidade criadora de tudo
aparentemente contenta muitas mentes
como sendo uma explicação razoável, o que
não deixa de ser curioso, pois tal afirmação a
rigor nada explica), e... 4: A necessidade do ser
humano querer que sua “essência” seja eterna.
Mas isso é uma explicação “macro”, digamos
assim. A pergunta agora é como que individu-
almente as pessoas adquirem fé? Bem, uma res-
posta que logo nos salta aos olhos é que isso se
passaria pela influência cultural e pela educação
que a pessoa recebe desde o nascimento, de seus
familiares e demais pessoas próximas. E como se
dá esse processo? Veremos.
Uma criança em terna idade não possui a ca-
pacidade de questionamentos amplos sobre a
existência do universo, origem de tudo ao seu re-
dor, e demais questões filosóficas sobre a realida-
de ao seu redor. Dessa forma, antes mesmo que
ela possua qualquer capacidade para tais ques-
tionamentos, ela já é influenciada fortemente
por pessoas que embutem em sua mente a ideia
de que a fé que elas professam é a verdade por
si só. Posso estar enganado, mas o que a minha
observação mostra é que não é costume de famí-
lias religiosas ensinar aos filhos que a fé deles é
apenas a verdade “em que eles acreditam”, e que
existem outras versões para os mesmos fatos. Não,
de forma alguma. O que os pais costumam fazer
é simplesmente explicar o mundo de acordo com
a sua fé como sendo a única explicação passível
de aceitação. Quando citam outras vertentes da fé
já é logo para criticar e deixar bem claro que tudo
aquilo é mentira e enganação.
E a criança diante de tudo isso? Ora, ela, em
primeiro lugar, verifica que a enorme maioria das
pessoas também possuem fé em algo sobrenatural.
Pessoas que ela identifica como sendo praticantes
de outra fé já são logo vistas com desconfiança,
devido ao discurso dos pais. Esse preconceito cos-
tuma ser reforçado na criança, e, dessa forma, ela
vai tendendo a enraizar a visão de que a sua fé é a
única verdadeira.
A criança vai crescendo, e vai percebendo que
adultos em geral possuem fé. E essa fé, mesmo que
seja de uma natureza senão exata, mas é sim pa-
recida com a sua (afinal, católicos, evangélicos
e espíritas, a despeito de diferenças teológicas,
acreditam na mesma natureza de deus, ou seja,
basicamente que ele é um só, é onipotente, é
onisciente, é onipresente, é consciente, é jus-
to, é amoroso, é pessoal, é interventor, ouve as
preces, etc.).
Essa maioria de adultos com fé vai servindo
de reforço para a criança. Afinal, adultos em ge-
ral passam a ideia de verdade para as crianças. Se
seus pais acreditam em tal coisa, se muitos adul-
tos acreditam em algo igual ou parecido, se afinal
existem até inúmeras construções feitas com ex-
clusividade para quem acredita naquilo se reunir
semanalmente, ora, então isso é sério e só pode
ser verdade e pronto.
A Fé
como fruto
da inércia
cultural
20 SOCIEDADE
E assim a criança vai vivendo. E tudo
em sua vida passa a ser um sinal de que
sua fé é real. Tudo, tudo mesmo. Mesmo
as totais contradições. Vejamos.
Se a criança passa de ano, é por que deus
ajudou e recompensou seu esforço. Mas
se ela repete de ano, então também é a
vontade de deus, afinal ele é justo.
Se a criança se cura de um sarampo ou ca-
tapora, é por que deus interviu e a curou.
(o fato do mesmo deus ter feito ela ficar
doente nunca é citado obviamente)
Se começa a chover apenas depois da
criança chegar em casa, é por que deus
estava esperando que ela chegasse pra
deixar chover. Mas se a criança então
pega chuva na rua, deus quis que ela se
molhasse e, não havendo uma explica-
ção direta, soltam a famosa frase que ele
trabalha de forma misteriosa.
E por ai vai. Os pais costumam fazer
isso. Tudo que acontece passa a ser um
sinal de deus. Os fatos mais corriqueiros
e cotidianos passam todos a serem vistos
como claros e evidentes sinais divinos.
Quando chega a idade adulta, a pes-
soa em geral, com as atribulações da
vida, ou seja, o trabalho, as pressões e
cobranças do patrão, as contas pra pa-
gar, etc, impedem que ela pare e pense
em tudo aquilo que foi ensinado em ter-
mos de fé. Afinal, para que pensar nisso
se tudo na vida corrobora essa visão não
é mesmo? Os sinais continuam presen-
tes não é mesmo ?
Afinal, vejam só. Se chegou a tempo
no trabalho mesmo devido ao trânsito é
“graças a deus”. Se conseguiu entregar o
relatório a tempo é “graças a deus”. Se o
ônibus veio finalmente vazio é “graças a
deus” (as várias vezes em que ele vem
lotado não contam).
E mesmo as decepções também se en-
caixam na fé. Afinal, se os pais morrem
é por que “deus assim quis”. Se perde
o emprego é “por que deus está prepa-
rando algo melhor”. E assim a vida vai
seguindo. Sem tempo para contestação.
As contas de luz, água e telefone estão aí
e não há tempo a perder questionando a
“verdade” do que lhe foi ensinado. Isso
nem passa mais pela cabeça da pessoa.
E assim, dessa forma, as pessoas vão
tendo a sua fé, por pura e unicamente
inércia cultural. Nada mais do que ape-
nas a inércia cultural e o condiciona-
mento social. É o que chamo de fé no
piloto automático.
E o mais interessante é como as
pessoas religiosas tendem a querer de-
monstrar o quanto suas vidas são dife-
rentes (para melhor), em relação a vida
das pessoas que não professam da mes-
ma fé, ou principalmente, das que não
possuem fé. Tais pessoas tentam passar
a impressão que suas vidas são constan-
temente abençoadas e que tudo sempre
dá certo para elas. O problema é que
esse tipo de pessoa fica tão cega pela fé
que não percebe que, por mais “abenço-
ada” que seja, ela possui a mesma vida
que os não “abençoados”. Ora, vejamos.
Essas pessoas “abençoadas” também
acordam cedo pra trabalhar. Também
enfrentam condução lotada na ida e na
volta pro trabalho. Também adoecem.
Também sentem dor. Também são de-
mitidas. O pneu do carro delas também
fura. Os seus parentes também morrem, e
muitas vezes de forma dolorosa e sofrida.
Enfim, vivem a vida, conforme todo
mundo. Absolutamente nada indica
que a qualidade de vida e a rotina de-
las seja diferente para melhor do que
da grande maioria da população em
geral. Afinal, se fosse assim, católicos,
por exemplo, não sofreriam nenhuma
decepção na vida. Ou os evangélicos.
Ou os espíritas.
Os religiosos dizem que “a verdade
liberta”. O problema é que a religião
em geral aprisiona e não permite que
as pessoas percebam que a religião,
que elas tanto prezam e defendem,
não passa de uma muleta psicológica.
Um mero efeito placebo para tudo em
suas vidas.
Raras são as pessoas que, mesmo
vivendo em um ambiente religioso,
“despertam” e conseguem questionar
a realidade à sua volta. Raros são os
que questionam a versão que des-
de criança receberam para explicar o
mundo. Poucos conseguem, digamos
assim, sair da “matrix” em que vivem.
Mas os que conseguem não voltam
nunca mais ao estágio em que esti-
veram. Uma mente libertada nunca
mais se permitirá voltar a ser aprisio-
nada novamente.
Set/Out 2014
21 Opinião de:
Rafael MMPP
Livre Pensamento
bem máximo”, não está dizendo de prazeres
voltados à satisfação de instintos, mas de pra-
zeres satisfativos, como, por exemplo, aqueles
advindos das relações sociais supracitadas. O
erro em entender o prazer epicurista com corri-
da frenética por sentimentos que facilmente se
corrompem em vício é algo muito corriqueiro,
diga-se de passagem, e muitas vezes avaliados
com má fé, uma vez que é evidente que não é
disso que trata o filósofo grego. Não há qual-
quer prazer em se entregar a um vício destrutivo
e todos sabemos disso, quando, por outro lado,
há notório prazer em ser reconhecido como
útil e agradável pelos demais de seu grupo.
Durkheim, em “O Suicídio”, faz o aponta-
mento do quanto o isolamento social acentua a
possibilidade do Ser Humano encerrar sua pró-
pria vida. Está em pauta aqui algo que deveria
ser fácil de compreender a todos.
Os impulsos que o Ser Humano sente (fome,
frio, vontade de fazer sexo, dor) fazem parte da
tendência natural para que o complexo perma-
neça existindo, se replique e a complexidade
avance, mas não é o único guia do comporta-
mento do indivíduo e fazer o bem para o pró-
ximo pode ser um comportamento completa-
mente calcado na perspectiva hedonista, uma
vez que é prazeroso ser agradável.
Sim, além de esperança de recompensa social
ouretribuição,hámotivospsicológicosparafazer
o bem ao próximo, já que interpretarmos nosso
próximo como sujeito Interpretativo também.
Agir bem com o próximo dá valor e razão
para nossa própria existência, do mesmo modo
que alguém que nos faz bem se torna importan-
te para nós e damos valor a isso. Agir bem nos
dá valor frente ao outro, nos torna importan-
POR QUE
fazer bem
ao próximo?
O
Homem é um animal e, como seus
semelhantes (outros animais), é
impulsionado por reações quí-
micas no sistema nervoso para
tomar certas atitudes que o mantenham vivo e
que o façam replicar seus genes. A complexida-
de da comunicação humana, porém, é notoria-
mente especial. Registrou-se em “A Política”, de
Aristóteles, que o Homem, graças a essa capaci-
dade comunicativa, é um animal Político (um
animal que vive em Pólis) e acertadamente isso
é enunciado como uma característica principal
do ser humano.
A comunicação
humana é a ponte
que liga universos
Subjetivos
(pessoas) separados, estabelecendo um re-
lacionamento de troca de informação, o que
propicia a troca racional de interesses mútu-
os e, também, faz surgir a esperança que uma
Pessoa nutre de que ela seja importante para
outros sujeitos, do modo que esses outros su-
jeitos também são importantes para ela.
Em síntese, a vida se justifica não só na me-
cânica de existência biológica e nos prazeres
que essa mecânica impõe, mas também no
prazer do reconhecimento perante outros su-
jeitos semelhantes. Algo tão evidente é relatado
por grandes nomes da humanidade, dos quais
exemplificamos alguns.
Lucrécio, em “Da Natureza das Coisas”, deixa
claro que Epicuro, ao falar que “o prazer é um
22 FILOSOFIA
tes ao outro, nos torna significativos. E
como a religião pode jogar um pouco
de fumaça sobre algo que deveria ser tão
simples? Em termos práticos, Religião é
utilizada como a crença de que certas
atitudes atendem à vontade de Sujeitos
(ou um Sujeito, no caso monoteísta) Su-
pra-Humanos, satisfazendo-os e dando
sentido a nossa existência. O pode ser
grave, pois pode entorpecer e desviar
os olhos de sujeitos semelhantes, o que
deveria ser nosso foco, para interpreta-
dores de textos antigos.
Religiões normalmente afirmam a
comunhão e o respeito, pelo menos
entre pessoas do mesmo grupo, entre-
tanto, por vezes, religiosos passam a
agir de modo a agredir o próximo, pen-
sando que assim atendem a vontade do
Supra-Humano, bastando para tal que
algum autointitulado interpretador das
forças Supra-Humanas assim ordene. E
esses interpretadores não raro promo-
vem conflitos, pois a justificação de seu
“cargo sagrado” se acentua se forjarem
uma guerra onde quem tem contatos
mágicos com o Supra-Humano vencerá
a busca pela felicidade. Perceba, portan-
to, que a doutrinação religiosa pode não
ser humanista, em um sentido estrito.
Faço-me entender: ensinar crianças
que elas têm que fazer o bem para agra-
dar um Deus é terceirizar algo que não
devia ser terceirizado. Faz jovens poste-
riormente perguntarem “por que você
faria o bem para alguém se Deus não
existisse?” e faz outros concluírem
“eu mataria meu filho
se Deus me pedisse,
caso eu tivesse
certeza de que era
Deus pedindo”.
O bem deve ser feito pela satisfa-
ção causada por se entender útil a ou-
tro sujeito e também pela expectativa
utilitária de que uma cultura nesse
sentido é melhor para os sujeitos em
um grupo. Nós devemos fazer o bem,
numa vida em sociedade, não só por-
que obtemos benefícios em uma socie-
dade que coopera, se em comparação
a uma sociedade em que os indivídu-
os tentam passar por cima do outro a
qualquer custo, mas também porque
causar o bem nos torna importantes
a outros sujeitos, causando satisfação
própria, o que é completamente com-
preensível racionalmente. Talvez você
não seja importante para o Universo
e o mecanismo de ordem, talvez não
seja importante para seres metafísicos
afirmados por antigos governadores
para regrar o comportamento. Não é
algo verificável.
Só que você pode ser importante
para o Sujeito que você beneficiou e,
por conclusão, a própria existência do
Sujeito que você beneficiou é impor-
tante para você, pois a existência dele
é que permite que você seja relevante
para alguém, o que cria uma ligação
forte entre as pessoas.Muitos chamam
essa ligação de amor, mas o nome é
o que menos importa. Todos nós sa-
bemos que a importância de outros
Sujeitos que estão no nosso dia-a-dia
é suficiente para justificar nossa felici-
dade e muitas vezes o distanciamento
de uma Pessoa assim pode ser sinôni-
mo de depressão.
Diante do exposto, eu suspeito que,
talvez, se tirarmos o entorpecente de
baixo dos narizes de um usuário por
alguns instantes e o convidarmos à re-
flexão, eventualmente ele consiga ver
que a Vida se justifica na própria Vida.
Set/Out 2014
23 Opinião de:
Pedro Ivo S. de Alcântara
Ateu Informa
No dia 28 de janeiro, a fundação do DR. Richard Dawkins publicou uma
nota em seu site fazendo um reconhecimento internacional da Revista
Ateísta. Na nota, a fundação citou :“O Brasil é um dos países mais
religiosos do mundo, e iniciar uma revista sobre o ateísmo
lá, não é tarefa fácil” (Richard Dawkins Foundation). Apesar deles
não morarem aqui, temos que reconhecer que eles sabem o que falam.
O Brasil é uma potência religiosa, com a maior população católica mundial,
onde até a presidente diz ao Papa que ‘Deus é brasileiro’. Aqui, ocorre leitura
da Bíblia nas escolas; crucifixos em repartições publicas, citações como
“Deus seja louvado”, em nosso dinheiro, entre outros abusos à laicidade.
O terreno não é nada favorável para aqueles que buscam respostas além
da religião. Por isso, muitos ateus vivem escondidos, por temerem que a
intolerância religiosa, repercuta em suas vidas, nos âmbitos social e econômico. 
A religião, no Brasil, transpôs a barreira do Estado laico há
muito tempo. Isso é rotineiro em partidos, que adotam rótulos
religiosos, para as campanhas de aderir fiéis/eleitores. 
A religião, quando ultrapassa a crença e entra no recinto político, começa
a dominar o meio.  Em um país, onde a religião domina todas as faces
dos poderes, fica difícil andar na contra mão da sociedade “cristã”.
A DIFÍCIL TAREFA
DE SER ATEU
NO BRASIL
24
25
Separamos quatro
estudos que mostram,
em dados, o que
muitos ateus têm
sentido na pele.
Em um estudo distinto, Gervais examinou,
como o ateísmo influencia na contratação de
funcionários. Durante a pesquisa, alguns vo-
luntários precisavam “empregar” dois funcio-
nários; um ateu e um religioso, em duas vagas
distintas: uma para um cargo que exigia alto
grau de confiança, e outra, baixo. Para o posto
de alta confiança, em uma creche, os partici-
pantes preferiram o candidato religioso. Para
a vaga de garçonete, no entanto, os ateus se
saíram muito melhor.
Estudo 1
Estudo 2 e 3
Gente que não acredita em deus
Usuários de drogas
Garotos de programa
Transexuais, que mudam de sexo
Travestis
Prostitutas
Lésbicas
Bissexuais
Gays
Gente muito religiosa
Ex-presidiários
Gente muito rica
Ciganos
Gente com Aids
Ódio
17
17
10
10
9
8
8
8
8
5
5
4
4
3
Segundo o Instituto norte-americano Pew Research Center, 86%
dos brasileiros dizem que, acreditar em Deus, é necessário para
ser uma boa pessoa. Em países ricos, a população tende a dis-
cordar desta relação. Na Espanha, por exemplo, apenas 19%
da população pensa que acreditar em Deus é essencial para ser
uma boa pessoa. Já em Gana e na Indonésia, países conside-
rados muito pobres, o número chega a 99%, quase o total da
população. Esse pré-conceito é tão latente, que transcende as
questões étnicas.
Até médicos, como Dr. Drauzio Varella, sofrem pré-conceito. Em
sua coluna ao Jornal Folha de São Paulo, Drauzio Varella escre-
ve: Os religiosos, que têm dificuldade para entender como al-
guém pode discordar de sua cosmovisão, devem pensar que eles,
também, são ateus, quando confrontados com crenças alheias.
(...) Ajudamos um estranho caído na rua; damos gorjetas em res-
taurantes, nos quais, nunca voltaremos, e fazemos doações para
crianças desconhecidas, não para agradar a Deus; mas, porque,
cooperação mútua e altruísmo recíproco, fazem parte do repertó-
rio comportamental, não apenas do homem, mas de gorilas, hie-
nas, leoas, formigas, e muitos outros.(...) Para o crente, os ateus
são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas,
incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica
por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Em uma de suas palestras, o Dr. Drauzio Varella, ao ser pergun-
tado sobre o ateísmo, acabou falando sobre o preconceito que
sofrem os ateus: Quando você diz que não é religioso, as pessoas
olham, como se você fosse imoral, não tendo respeito pela vida,
fazendo mal para os outros (...). Eu recebo e-mails, dizendo, eu
tinha o senhor em boa conta, achava que o senhor ajudava as pes-
soas, e agora, descobri, que o senhor não acredita em Deus(...)
No Brasil, esse preconceito, também, é alimentado pela grande
imprensa. Em julho de 2010, durante o Programa “Brasil Urgen-
te”, o apresentador José Luiz Datena e o repórter Márcio Campos,
estavam noticiando um crime, e insistiram em relacionar ateísmo
com a barbárie dos criminosos. Durante 50 minutos, foram ditas
frases, como “um sujeito que é ateu, não tem limites, e é por isso,
que a gente vê esses tipos de crimes aí”.
O pesquisador Will Gervais, da University of British Columbia,
também publicou alguns estudos, que revelam essa falta de con-
fiança, para com os ateus. Durante os experimentos, Will Gervais
e seus colegas, apresentaram a voluntários, uma história sobre um
motorista que, acidentalmente, bate em um carro, estacionado, e
não deixa informações, para que o outro motorista possa acionar
o seguro. Em seguida, os participantes foram convidados, a esco-
lher a probabilidade de que o personagem, em questão, fosse cris-
tão, muçulmano, estuprador ou ateu. Os voluntários julgaram,
igualmente, provável que o culpado fosse ateu, ou estuprador; e
improvável que fosse muçulmano ou cristão.
26
Ateus e drogados
são os mais odiados
pelos brasileiros
(Fonte: Paulo Lopes/ Fundação Perseu Abramo)
Estudo 4
Embora minoria, entre outros grupos
minoritários, os ateus estão empatados,
com os usuários de drogas, no topo de
uma lista das pessoas, pelas quais, os
brasileiros, têm repulsa.
Pesquisa feita pela Fundação Perseu
Abramo constatou que, das pessoas
consultadas, 17% afirmaram ter repul-
sa/ódio aos descrentes em Deus; 25%
declararam antipatia e, 29%, indiferen-
ça. No item antipatia, os usuários de
drogas aparecem com um ponto per-
centual a menos, (24%). À pergunta
sobre quais as pessoas que menos gos-
tam de encontrar, 35% responderam
que são os usuários de drogas, seguidos
pelos descrentes, (26%), e ex-presidiá-
rios, (21%). O elevado grau de repulsa,
Esse resultado foi obtido, com a seguinte solicitação, do pesquisador:‘Vou falar de alguns grupos de pessoas, e gostaria,
que você, dissesse, o que sente, normalmente, quando vê ou encontra, desconhecidos, do tipo deles’
Antipatia Indiferença Satisfação Outras
25
24
16
14
13
14
12
11
11
17
16
16
14
6
39
37
61
64
66
63
67
68
67
38
56
67
69
57
3
3
3
5
7
5
6
6
8
35
6
10
7
7
15
19
10
8
6
9
7
8
6
14
17
3
6
26
aos dependentes químicos, na pesqui-
sa, não surpreende. São considerados,
pelo senso comum, como geradores
de problemas sociais e, por isso, estão
na pauta da imprensa. A repulsa, aos
ateus, surpreende porque, em contrapo-
sição aos usuários de drogas, eles não
causam problemas, são discretos, e sem
destaque noticioso. Apenas 5% dos
entrevistados, declararam ter repulsa/
ódio, às pessoas muito religiosas. Mas,
curiosamente, o percentual de antipatia
é alto, (17%).
A Fundação Perseu Abramo realizou a
pesquisa, em parceria com a Ong alemã
Rosa Luxemburg Stiftung.
A Associação Brasileira de Ateus e Ag-
nósticos (ATEA), disse, em nota, para
Revista Ateísta, que o número de de-
núncias, aumenta mensalmente. Rece-
bemos denúncias diariamente, mas não
temos estrutura, para atender a todas.
Denúncias envolvendo crianças força-
das a orar, e de programas de televisão,
colocando os ateus, como pessoas más.
Entre outras denúncias que a associação
recebe, estão lobby religioso com prefei-
turas, bulliyng, proselitismo na escola, e
descriminação.
Resta-nos, apenas, ter ânimo e conti-
nuar nossa luta, para que as próximas
gerações, não sejam tão discriminadas,
porque, hoje, ser ateu, no Brasil, é como
ser um estrangeiro, em seu próprio país.
27
Por que Darwin é
tão importante?
Richard Dawkins: Darwin nos disse por que
existimos e essa não é uma pergunta fácil de res-
ponder. Não se trata apenas de nós, ateus, mas
de todos os seres vivos. O mundo dos seres vivos
é incrivelmente complexo e incrivelmente im-
provável - a menos que você entenda de onde
veio; parece que foi projetado; todos pensavam
que foi projetado; mas Darwin mostrou que
não. Essa é a importância de Darwin.
Quão convincente é a
prova de que Darwin
estava certo?
Richard Dawkins: A evidência é convincente
de que Darwin estava certo. Nós somos descen-
dentes de animais mais simples; somos descen-
dentes de bactérias em última análise, e somos
primos de chimpanzés. Darwin não estava certo
sobre tudo - ele errou em relação a genética, por-
que não se sabia o suficiente sobre genética na
época, mas o ponto essencial de que nós somos
primos diretos de macacos e cangurus, polvos e
bactérias é incontestável.
Quão foi importante a
influência de Darwin
em perceber nosso
lugar no mundo?
Richard Dawkins: A raça humana tem tido
uma série de retrocessos. Aprendemos com Gali-
leu que a Terra não era o centro do Universo; Da-
rwin fez a mesma coisa em relação às criaturas
vivas. Já pensamos que fôssemos o ápice da cria-
ção, feitos à imagem e semelhança de Deus, mas
agora sabemos que somos primos de 10 milhões
de outras espécies - um pequeno galho em uma
grande arbusto com ramificações enterradas em
algum lugar nas profundezas deste arbusto e não
há nada de especial na posição dos seres huma-
nos na criação. Há coisas especiais sobre nós,
como o fato de que somos mais espertos do que
outros animais e possuímos a linguagem, mas,
no entanto, somos apenas primos de todos os
outros seres vivos.
Clinton
Richard Dawkins
(Nairóbi, 26 de
março de 1941)
é um etólogo,
biólogo evolutivo
e escritor
britânico.
É fellow emérito
do New College,
da Universidade
de Oxford, e foi
Professor
para a
Compreensão
Pública da
Ciência em Oxford,
entre 1995 e 2008.
Professor
RICHARD DAWKINS
fala sobre Darwin
28
Via: National Geographic Channel
Entrevista
O que você acha das
pessoas que aderem
à ideia bíblica de
que a Terra tem
menos de 10.000
anos de idade e que
todos nós somos
criação de Deus?
Richard Dawkins: Qualquer pessoa
que ainda acredite que o mundo tem me-
nos de 10.000 anos de idade, como mui-
tos criacionistas acreditam, a melhor des-
culpa para eles é a ignorância lamentável.
Qualquer um que não seja ignorante e
que lhe foi mostrado as provas e ainda
acredita nisso, então deve haver algo de
errado com essa pessoa. Para lhe dar um
exemplo da magnitude do erro, acredi-
tar que o mundo tem menos de 10.000
anos, quando na verdade sabemos que
o mundo tem 4,6 bilhões de anos, é
equivalente a acreditar que a largura da
América do Norte de Nova York até São
Francisco é de menos de 10 metros. En-
tão, para acreditar nisso você tem que ser
incrivelmente ignorante ou louco.
O movimento
criacionista é
prejudicial para
a sociedade?
Richard Dawkins: Eu acho que é um
privilégio compreender de onde vie-
mos, um privilégio para todos nós que
nascemos após 1859, e que, negar às
crianças esse privilégio é perverso, é
uma privação que não deve ser dada a
nenhuma criança, quando a verdade é
tão incrivelmente emocionante. Quan-
do tivemos ancestrais relacionados
com todos os seres vivos, uma história
de quatro bilhões de anos de evolução
lenta e gradual, isso não é algo que se
possa facilmente levar em conta, mas o
esforço de fazer isso vale a pena. É um
belo pensamento que somos os herdei-
ros de quatro bilhões de anos de evo-
lução. Quando você coloca isso contra
as ideias míseras e insignificantes em
Gênesis, não há comparação, e é uma
privação triste a diminuição da opor-
tunidade de uma criança de ser negado
esse conhecimento.
Você ainda pode ter fé
em Deus e evolução?
Richard Dawkins: Há vários teólogos
que acreditam em deus e na evolução,
por isso, sim, é possível. Acho que é um
pouco difícil de fazer isso porque a prin-
cipal razão para acreditar em deus é a ex-
plicação para o mundo dos vivos. Uma
vez que isso acabou, o argumento mais
importante para deus foi deixado de
lado, e tudo o que resta são coisas como
a bíblia, o que é patético: qualquer tolo
pode ver que não foi escrita por deus, e
que ela não tem nenhuma autoridade
especial. Ou, o que sobra para você são
as experiências pessoais, tais como ‘deus
fala comigo’: se você estiver convencido
por isso, você está convencido por isso,
mas é muito fraco.
Por que devemos
nos alegrar pelo
nascimento de Char-
les Darwin?
Richard Dawkins: Porque Darwin é
sem dúvida o maior pensador que a
humanidade já produziu. Deve-se co-
locá-lo no topo junto com Galileu,
Einstein e Newton. Em relação aos
problemas que ele resolveu, talvez não
fosse tão difícil resolver como foi para
Einstein ou Newton, mas foi talvez tão
revolucionário no tocante a ideias pre-
concebidas. Darwin talvez tenha causa-
do, possivelmente, a maior revolução
no pensamento humano da própria
natureza do homem.
Por que você está
tão convencido de
que Deus não existe?
Richard Dawkins: Bem, eu realmente
não estou convencido de que Deus não
exista. Estou simplesmente invertendo
a questão ao dizer que não há razão
positiva para dizer que Deus exista e
que ele é, portanto, mais provável de
existir assim como a fada do dente ou
unicórnios cor-de-rosa. Então, por que
se preocupar de acreditar em algo onde
não há nenhuma evidência, quando há
tanta coisa para a qual há evidência e
você poderia passar a vida inteira apren-
dendo sobre isso?
Set/Out 2014
29 Tradução:
Luc Anderssen
Vlogger
C
ompreendemos que a ciência, por
exemplo, não sabe tudo, e por este mo-
tivo devemos estar com a mente aberta
para estudar determinados fenômenos.
Mas há alguns problemas. Algumas hipóteses ou
ideias, às vezes, não podem ser testadas através
do método científico, seja por falta de tecnologia
ou simplesmente por violar alguma lei natural
(mundo natural), e isso é um dos critérios que
podem definir o status de científico.
Nos últimos 100 anos, a ciência fez grandes
progressos num ritmo acelerado, mostrando-se
eficaz naquilo que se pretende buscar, tanto no
campo da Física com Einstein, como no campo
da Biologia. Por este motivo, para algumas pes-
soas, a ciência virou sinônimo de “verdade ab-
soluta”, mesmo que ela assuma que essa posição
não coincide com os seus princípios teóricos.
Este conforto em acolher a ciência do mesmo
modo que uma mãe acolhe um filho, levou a
alguns problemas no século XX, por exemplo,
com o positivo lógico de um lado e de outro,
movimentos irracionalistas “pós-modernos”.
Mas a ideia deste texto não é entrar em discus-
sões sobre tais correntes, mas sim em demons-
trar o que esta segurança absoluta e dogmática
nos trouxe de tão prejudicial.
Ultimamente, os pseudocientistas – Aqueles que
distorcem a ciência para fundamentar dogmas e
crenças pessoais – se passam por entendedores
da ciência argumentando que a mesma possui
todas as ferramentas necessárias para entender
um mundo alternativo – o mundo espiritual –
do qual, “cientistas céticos se recusam a aceitar
por medo de alguma represália de seus superio-
res”. Basicamente, a ideia é criticar a ciência ao
mesmo tempo que a usam para fundamentar
suas crenças de maneira desonesta, isto é, fun-
damentando suas ideias não por evidências, não
por experimentos, não por resultados replicáveis
por outros cientistas, mas sim através de falsos
jargões científicos e matemática para dar uma
falsa aparência de que tal ideia possui consis-
tência lógica e matemática. Claro que existem
outros meios para dar falsas consistências a estas
ideias, mas este é apenas um dos vários modos
existentes para se criar uma pseudociência.
É importante ressaltar que foi o Filósofo da Ci-
ência, Karl Popper, que se preocupou em criar
uma teoria para separar a ciência da não-ciên-
cia (onde está inclusa a pseudociência). Popper
deu grandes colaborações para a Filosofia da
Ciência, além de ser um dos primeiros a defi-
nir “o que é uma teoria científica”, a partir daí
vem à ideia de falseabilidade, que basicamente
é o conceito que afirma que para uma teoria
ser científica, ela deve ter a capacidade de ser
falseada, isto é, de uma teoria ser provada fal-
sa, além da capacidade de fazer mudanças para
adequá-la às evidências. Antes de Popper, não
havia delimitação, por exemplo, entre Astrolo-
gia e Astronomia, e nem Alquimia e Química,
ambas eram tratadas com o mesmo valor de
verdade – apesar da Astrologia e da Alquimia
nunca terem dado contribuições significativas
para às suas ciências (Astronomia e Química).
É importante ressaltar que algumas pseudociên-
cias já foram testadas através do método científi-
co. Algumas se mostraram ineficazes, falhas, e às
Afinal,
o que é
pseudociência?
Um dos grandes
problemas
na atualidade
são as ditas
pseudociências.
Mas afinal, o que
é pseudociência?
Como podemos
diferenciá-la
da ciência? Nós
devemos nos
preocupar com a
pseudociência?
30 CIÊNCIA
vezes, com resultados inconclusivos. En-
tretanto, os pseudocientistas defendem
a ideia de que algumas pseudociências
podem vir a se tornar ciências no futuro,
mesmo não demonstrando quaisquer
indícios de que elas tenham um futuro
promissor, e ignorando que são as novas
áreas do conhecimento, isto é, as proto-
ciências, que podem vir a se tornar ciên-
cias algum dia.
Muitas pessoas acham que a pseudo-
ciência é inofensiva, porém estas mes-
mas pessoas esquecem que algumas
pseudociências, são respectivamente
das áreas da saúde.
Vamos usar como exemplo a “medici-
na alternativa”, como o próprio nome
já diz, “alternativa”, significa que não é
baseada em evidência.
A grande preocupação dos cientistas e
médicos é para que estes métodos “al-
ternativos” não substituam os tratamen-
tos convencionais, pois dependendo da
gravidade do problema de um paciente,
tais métodos não seriam eficazes ou po-
deriam fazer com que um determinado
problema se agrave.
Um caso famoso que representa bem as
consequências negativas da pseudociên-
cia, por exemplo, é o caso de Steve Jobs.
Quando ele foi diagnosticado com câncer
no pâncreas, ele recusou-se ao tratamento
médico convencional (da quimioterapia
à intervenção cirúrgica). Por quase nove
meses, o cofundador da Apple, adotou
um método de “recuperação” alternativo,
que consistia numa dieta à base de ervas,
raízes, sucos, além de aplicações práticas
de acupuntura. O doutor Ramzi Amri, da
Universidade de Harvard, afirmou que
seu tipo de câncer era “tratável” se tivesse
sido iniciado o tratamento desde sua fase
inicial. Jobs não concordava com a ideia
de cirurgia, segundo ele, isso seria “uma
violação a seu corpo”. Quando ele deci-
diu procurar à ciência, seu câncer já havia
se agravado. Seu biógrafo afirma que no-
tava um arrependimento nas palavras de
Jobs, que faleceu em outros de 2011 com
56 anos. Com base neste trágico aconte-
cimento, fica a lição de não confiar jama-
tis em métodos alternativos, entre outras
pseudociências, e lembre-se:
“Alegações
extraordinárias,
exigem evidências
extraordinárias.”
— Carl Sagan.
“Nesta obra, Carl Sagan,
preocupado com as explicações
pseudocientíficas e místicas
que ocupam os espaços
dos meios de comunicação,
reafirma o poder positivo
e benéfico da ciência e
da tecnologia para tentar
iluminar os dias e recuperar
os valores da racionalidade. O
autor aborda à falsa ciência,
às concepções excêntricas
e os irracionalismos que
são acompanhados por
lembranças de sua infância.”
Carl Sagan: O
mundo assombrado
pelos demônios
2006, 512 págs,
Companhia de Bolso
Dica de
Livros:
Set/Out 2014
31 Opinião de:
Douglas Rodrigues Aguiar
Universo Racionalista
APOIADOR OURO:
Enio Chaves dos Reis
Bruno Herllen
Cesar Santos
Carlos Augusto TMacedo
Roni Alves
Matheus Lozano
Paulo Augusto Franke
William Martani
Marcão Piorandomais Nunes
Raimundo Martins Sales Neto
Caleb Baltazar da Motta Sales
Gilson Grochovski
Flavia Muñoz
Guilherme Simões
Pedro Augusto Cardoso de Arrochela Lobo
Vladimir Morgado
Wellton Enishi
Paulo Roberto Costa Camargo
Raphael Pantaleão
Alexandre Forte
Diego F. Montes
Édipo Gonçalves
Jean Carlos Brandenburg
Heclair Rodrigues Pimentel Filho
Chakim Al Saheli
Tyler Durden
APOIADOR PRATA:
Valeska Oliveira Silveira
Caio César Nogueira
Silvio Silva
Vinicius Quirino
Rummenigge Silva Do Nascimento
Roberto Carneiro Baptista
Gabriel Pimenta
João Alves de Carvalho Neto
Ricardo gama
Daniel Oro
Marcos Malagosini Machado
Alisson Emanuel silva
Savio Mota Alberto Kuroski
Jenésio Costa
Thiago Julião Paiva
Jonathan João Paulo Silva Lourenço
Lucas Belarmino Sant Ana
Vicente Maia
José Roberto Barros Filho
Bruno Moschetta
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Danilo Pereira
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É com muito prazer que expressamos nossos
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A difícil tarefa de ser ateu no Brasil

  • 1. A DIFÍCIL TAREFA DE SER ATEU NO BRASIL “O Brasil é um dos países mais religiosos do mundo, e iniciar uma revista sobre o ateísmo lá, não é tarefa fácil” (Richard Dawkins Foundation) A final o que é Entrevista com: Liberdade religiosa vs proteção a criança O por quê declarar-se ateu PSEUDO CIÊNCIA? RICHARD DAWKINS CURA PELA FÉ O PRIMEIRO PASSO Está nas suas mãos A Primeira revista Ateista do Brasil! “A PRIMEIRISSIMA!” 1 a Set/Out2014 Edição005 Pág. 22 Pág. 28 Pág. 11 Pág. 14 Pág. 16 R$ 22
  • 2. 4 18 16 O “Deus” de Albert Einstein A Fé como fruto da Inércia cultural “O primeiro Passo” Acaba de nascer mais uma “Livre pensadora” no mundo, e como tudo que nasce ela nasce pequena, frágil e longe de ser perfeita. Mas aos poucos, e com a necessida- de do ambiente, passaremos por adaptações e iremos evoluir. Com essa frase eu comecei a primeira Revista Ateísta no formato digital em setembro de 2013. Quando iniciei o projeto não imaginava a complexidade de tal tema: não existem mandamentos, não temos lí- deres, não temos um pensamento linear e nem po- demos ter, porque somos “livres pensadores”. Que responsabilidade é ser livre né? Ser o único ser res- ponsável pelo que você pensa, fala e escreve, mas como tudo na vida, a liberdade tem um preço, e as vezes pagamos a liberdade com a própria liberdade. Outros antes de nós pagaram até com a própria vida. Em vista disso até aqui, já existem duas grandes difi- culdades, para fazer um projeto como esse: Primeiro, a pressão externa de uma sociedade religiosa, e segun- do, a dificuldade por falta de uma filosofia homogê- nea. Nossas opiniões muitas vezes são contraditórias, mas isso não é de forma alguma algo negativo, e será através dessa pluralidade de pensamento que vamos conseguir evoluir nossa capacidade cognitiva. Alguns de nós carregam um pensamento um pouco tímido, outros exaltados, alguns histéricos, radicais, mansos, alguns embasados em contextos filosóficos, científicos, históricos, outros sem nenhum embasa- mento apenas pelo fato de ser e querer ser livre, ou seria esse o maior de todos os argumentos. “Ser e que- rer ser livre.” Mas por que estou falando essas coisas? Quando terminar de ler a revista você entenderá. Nessa edição temos uma enxurrada de pensamentos a respeito do ateísmo. Em alguns textos você vai falar: Que grande besteira! Eu não concordo com esse tipo de ateísmo, Isso nem deveria estar aqui. Outros ao lerem o mesmo texto dirão: É isso que eu sempre falo. Mas o fato é que todos somos aprendizes e devemos estar abertos a outros olhares, mesmo que não seja para absolvição total, mas sim para um questiona- mento íntimo, para melhorarmos nossos argumentos. Obrigado, e uma boa leitura. Editorial Durante muito tempo, alguém declarar-se ateu era, para dizer o mínimo, um tanto arriscado. Mas este silêncio vêm sendo quebrado, felizmente. o ateísmo moderno tem aos poucos deixado de ser simplesmente uma condição de descrença para se tornar um ativismo! O que está acontecendo? Uma carta, escrita pouco antes de sua morte, serve para acabar, de uma vez por todas, com o mito de que Einstein acreditava em Deus.Gabriel Filipe Fundador da Revista Ateísta Qual o valor da liberdade? ÍNDICE
  • 3. 10 22 14 8 9 26 28 20 12 A complexidade, a perfeição e a Predição em Biologia Evolutiva Entendendo o Preconceito contra Ateus à luz da Psicicologia Evolucionista A difícil tarefa de ser Ateu no Brasil Afinal, O que é Pseudociencia? Sociedade e Religião: Estado Laico não é Estado Ateu: Muito se ouviu falar sobre o termo “Estado Laico” e, conse- quentemente, muitas dúvidas surgem em relação ao tema. Veja o que diz nossa Lei. Liberdade Religiosa VS Proteção a Criança A cura pela fé é amplamente prati- cada por “cientistas” cristãos, pen- tecostais, e em algumas Igrejas e seitas. Muitos desses crentes rejeitam todos os tratamentos médicos em favor de oração, unção com óleos, e, às vezes, exorcismos. Alguns che- gam a negar a realidade da doença. Pastor Adélio Jesus Bêbado Entrevista com Richard Dawkins Por que fazer bem ao próximo? HUMOR O Brasil é uma potência religiosa, o terreno não é nada favorável para aqueles que buscam respostas além da religião. Aqui muitos ateus vivem escondidos, por temerem que a intolerância religiosa [...] Professor Richard Dawkins fala sobre Darwin 6
  • 4. Os apologistas religiosos não podem ser total- mente culpados por considerar Einstein como um deles. Ele adorava citar a palavra “Deus” como uma metáfora poética. Einstein, não poderia pre- ver como isso repercutiria hoje, nas citações equi- vocadas em seu nome. Então, é bom ver essa carta, escrita pouco antes de sua morte, que serve para acabar, de uma vez por todas, com o mito de que Einstein acreditava em Deus. Junto com muitas outras fontes, essa carta finalmente confirma que Einstein era, no sentido mais realístico da pala- vra, um ateu. Poucas pessoas tiveram acesso aos pensamentos e opiniões dessa mente brilhante, tal como as suas visões pessoais sobre Deus e reli- gião. A natureza confessional da carta e o período da vida de Einstein em que foi escrita implicam sua certeza ao escrevê-la. A certeza do seu roteiro, e a natureza metódica com a qual ele escolheu as pa- lavras, são ingredientes que dão peso ao conteúdo do documento. As ideias expressadas são a culmi- nância de uma vida inteira de trabalho explorando a questões mais importantes da existência. Se hou- vesse um guia para pessoas ávidas por respostas, essa carta poderia ser uma ótima introdução. A car- ta escrita de punho, em Alemão foi a leilão junto com o envelope. Enviada à Universidade de Prin- ceton, a Eric B. Gutking, em 3 de Janeiro de 1954. Um ano antes da morte de Einstein. Enviada em resposta ao livro de Gutkind, intitulado: “Choose Life: The Biblical Call to Revolt”. (Versão em Por- tuguês: “Escolha a vida: O chamado bíblico para a revolta”) Eu tenho lido bastante o seu livro nos últimos dias. Obrigado por tê-lo me enviado. E isso foi o que mais me chocou: A respeito da atitude factual à vida e à comunidade humana, nós concordamos bastante. O “Deus” de Albert Einstein. 6 CURIOSIDADES
  • 5. A palavra Deus, para mim, é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana. A Bíblia é uma coleção de lendas honradas; mas, ainda assim, primitivas, que são nada mais que infantis. Nenhuma interpretação, independente de quão sutil seja, mudaria isso para mim. Essas interpretações sutis são altamente influenciadas de acordo com sua natureza e quase nada tem a ver com o texto original. Para mim, a religião judaica, como todas as outras religiões, é uma encarnação das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual eu felizmente pertenço e com cuja mentalidade tenho uma profunda afinidade, não tem, para mim, qualquer qualidade diferente dos outros povos, e eu não consigo ver nada de “escolhido” a seu respeito. No geral, eu acho doloroso que você clame uma posição privilegiada e tente defender essa ideia através de dois muros de orgulho: um externo como um homem; e um interno como um judeu. Como um homem, você alega de certa forma, uma dispensa da causalidade, contrariamente aceita; e como um judeu, o privilégio do monoteísmo. Agora, que eu abertamente expus nossas diferenças em relação às convicções intelectuais, é ainda claro para mim que nós somos bem próximos no que se refere às coisas essenciais, ou seja, na nossa avaliação do comportamento humano. O que nos separa são somente proposições intelectuais e racionalizações na linguagem de Freud. Dessa forma, eu acho que iríamos nos entender muito bem se falássemos de coisas concretas. Com agradecimentos amigáveis e os melhores desejos. A tradução acima é um resumo da carta de Einstein a Eric Gutking, em Janeiro de 1954. D esde a sua aquisição, a car- ta foi armazenada em uma instituição acadêmica, que está especializada em cui- dar de coleções de herança cultural. A carta está armazenada em um ambien- te com temperatura, umidade e luz controlados. A autenticidade da carta nunca foi questionada, já que é bem conhecida pela comunidade científica há mais de 50 anos. Isso ainda é re- forçado pelo envelope, carimbo e selo. Em 1940, Einstein escreveu um traba- lho famoso justificando sua declara- ção “Eu não acredito num Deus pes- soal”. Junto com outras semelhantes, essa declaração provocou uma enxur- rada de cartas de religiosos ortodo- xos, muitas delas aludindo à origem judaica de Einstein. Os trechos que se seguem são tirados do livro Einstein e a religião, de Max Jammer. Carta do fundador da Associação do Tabernáculo do Calvário, em Oklaho- ma: Professor Einstein, acredito que todo cristão nos Estados Unidos vai lhe responder: “Não vamos abrir mão de nossa crença em nosso Deus e em seu filho Jesus Cristo, mas o convidamos, se o senhor não acredita no Deus do povo desta nação, a voltar ao local de onde veio”. Fiz tudo o que podia para ser uma bênção para Israel, e vem o se- nhor com uma declaração de sua lín- gua blasfema e faz mais para prejudicar a causa de seu povo que todos os esfor- ços dos cristãos que amam Israel são capazes de fazer para acabar com o an- tissemitismo em nossa terra. Professor Einstein, todo cristão dos Estados Uni- dos vai imediatamente lhe responder: “Pegue sua teoria maluca e mentirosa da evolução e volte para a Alemanha, de onde veio, ou pare de tentar des- troçar a fé de um povo que o recebeu de braços abertos quando o senhor foi obrigado a fugir de sua terra natal”. Não tento imaginar um Deus pessoal; basta admirar assombrado a estrautura do mundo, pelo menos na proporção em que ela se permite apreciar por nossos sentidos inadequados. Um advogado católico americano, em nome de uma coalizão ecumênica, escreveu para Einstein: Lamentamos profundamente que o senhor tenha feito a declaração [...] em que ridicu- lariza a ideia de um Deus pessoal. Nos últimos dez anos, nada foi tão bem cal- culado para fazer as pessoas acharem que Hitler tinha alguma razão ao ex- pulsar os judeus da Alemanha quanto sua declaração. Admitindo seu direito à liberdade de expressão, digo ainda assim que sua declaração o constitui em uma das maiores fontes de discór- dia dos Estados Unidos. A única coisa que todos esses críticos entenderam foi que Einstein não era um teísta como eles.. Trechos da Carta: Set/Out 2014 7 Matéria: Revista Ateísta
  • 6. É de conhecimento da grande maio- ria dos que usam a internet como fonte de informação sobre ciências que a Evolução de Darwin é um alvo rotineiro de diferentes grupos que são contra a mesma, dentre os quais cria- cionistas e adeptos do Design Inteligente. À parte essas críticas, como chamamos por puro preciosismo do termo, há um problema que, embora relacionado em algum nível, merece ser discutido por si só: as muitas concepções erradas sobre a Teoria da Evolução darwiniana e seus processos. É certo acreditar num “pro- gresso evolutivo”, ou que quão “mais evoluí- do” um ser mais complexo será o mesmo, ou ainda que é possível prever os caminhos da evolução, como não raramente vemos sendo divulgado mídia afora? De maneira geral, pre- domina no imaginário popular que evoluir sig- nifica melhorar e assim progredir para, vamos chamar, perfeição. A própria palavra “evoluir” carrega em seu sentido coloquial alguma co- notação de progresso e melhoramento. Evoluir em biologia, no entanto, não significa melhorar, e sim apenas mudar. Não existem espécies piores ou melhores, sequer perfeitas. Existem espécies mais ou menos adaptadas a uma situação ambiental específica. Caso as de- mandas ambientais sejam alteradas, por um processo de natureza climática, por exemplo, o quadro pode mudar de feição completamente. É certo, portanto, dizer que somos melhores e/ ou mais evoluídos que, por exemplo, vermes que vivem enterrados no sedimento marinho? Para ambos casos a resposta é certamente um não. A clássica imagem anedótica de um be- souro que morre por não conseguir se virar quando cai de cabeça para baixo nos demons- tra um caso de design imperfeito da evolução. O processo evolutivo biológico, tampouco, tem de gerar necessariamente formas mais e mais complexas. Do ponto de vista evolutivo, a complexidade não recebe nenhum tipo de “recompensa” es- pecial. Isto fica mais claro quando descobrimos que a esmagadora maior parte das formas de vida em nosso planeta é constituída por orga- nismos simples. Uma verdadeira maioria invi- sível. Se a complexidade fosse determinante, tal cifra deveria ser oposta. É inegável, contudo, que existem formas vivas altamente complexas em sua estrutura, fisiologia ou ainda em seu com- portamento. E também que tais criaturas sur- giram depois das simples na escala de tempo. A errônea ideia de que os organismos se tornam cada vez melhores. 8 BIOLOGIA
  • 7. Pode parecer um beco sem saída, algo parado- xal, mas na verdade não é. A evolução biológi- ca é um processo histórico e, como tal, o que vem antes restringe ou limita o que vem após, mas não determina. Dessa forma, a complexi- dade surgiu no processo evolutivo de maneira fortuita. Processos inversos, de simplificação, in- clusive são relativamente comuns na natureza. Circulando por sites diversos, ou mesmo em re- vistas, que se propõem a divulgar assuntos cien- tíficos, títulos curiosos do tipo “Darwin Explica Como Seremos no Futuro”, ou qualquer coisa do tipo. Certas vezes associando mudanças fí- sicas inusitadas e um tanto chocantes ao uso de tecnologias novas como o celular e o compu- tador. Como prever, no entanto, quais mudan- ças ocorrerão sendo que nem mesmo é possível prever quando ocorrerá e qual será a extensão dos efeitos de uma mutação? Os eventos de mu- tação constituem o principal motor da mudança nos seres vivos, e são conhecidas por sua aleato- riedade. Não há meios de prever quando uma mutação ocorrerá, ou em que região do DNA acontecerá. Outros processos evolutivos, como a oscilação genética também não são passíveis de previsão. Sendo assim, não há como prever o rumo da evolução. (1900-1975) traduziu com maestria a relevância da Evolução ao dizer “Nada faz sentido em biologia exceto à luz da evolução”. Sendo o cerne da biologia, é algo que deve se tornar cada vez mais familiar aos leigos, de modo que a existente resistência ao conjunto de ideias que a Evolução abriga seja gradualmente desmontada. Uma correta divulgação científica tem um papel fundamental nesse caminho, que ainda infelizmente parece árduo e longo. Parte desse trabalho, muito embora, pode ser feito apenas valendo-se de um olhar cético mediante notícias fantásticas sem quaisquer fontes reconhecíveis, que, por vezes, chegam até mesmo a usar falácias de apelo à autoridade. É, certamente, um caminho que deve ser percorrido com firmeza para que afirmações do tipo “é só uma teoria” e outros erros conceituais tendam ao desaparecimento. “Estamos cercados por infindáveis formas belíssimas e fascinantes, e não é por acidente, e sim uma consequência direta da evolução pela seleção natural não-aleatória - única na vida, o maior espetáculo da Terra.” Richard dawkins: O Maior Espetáculo da Terra - As Evidências da Evolução 2009, 440 págs, Companhia de Bolso Dica de Livros:Theodosius Dobzhansky Set/Out 2014 9 Opinião de: Eric Miguel Biologo
  • 8. A peça conta a estória de um malandro que se fingia de doente para morar e comer de graça na casa de uma viúva, porém os filhos descobrem se tratar de um farsante e planejam desmasca- rá-lo. Pedem para a mãe esconder-se atrás de uma cortina e chamam o malandro, este, sem saber que a viúva está ali, fala abertamente de como tem enrolado a mulher, se aproveitado de sua bondade, roubado seus pertences, de como vem rindo pelas costas. Neste momento a mulher sai de trás da cortina e, pasmem, dá um esporro nos filhos! Sim, os filhos estavam expondo o malandro, que, aliás, já havia con- quistado a viúva. Sim, meus irmãos, a viúva que tinha uma vida de merda, passou a ter um mo- tivo pra viver, sua vida era cuidar do malandro e ela não queria perder isto. Com a religião acontece o mesmo. Algumas pes- soas, a maioria graças a deus, não deixariam sua igreja mesmo que fosse comprovado que esta não passa de uma malandragem. As iMagens de Edir Macedo dizendo “Ou dá ou desce” não foram fortes o suficiente para afastar seus fiéis. A imagem da Renascer continua a mes- ma, mesmo depois de seus líderes terem sido pe- gos com dinheiro ilegal. A romaria à antiga casa de Chico Xavier continua firme e forte, embora existam provas de que ele tenha forjado uma “vi- são” e de inúmeros relatos de fraude. Poderia dar centenas de exemplos, mas pra quê? Não sei de onde vem isto, se em algum estágio da evolução humana nós dependemos de uma espécie de gene da crença pra sobreviver ou se a falta de conhecimento, de um córtex mais avan- tajado foi que nos obrigou a viver pelo instinto, a confiar nele, a temer a sombra, a luz, o fogo, o desconhecido. Talvez este gene ainda esteja pre- sente hoje, mesmo que tenhamos evoluído e ele não seja mais necessário, talvez seja um gene re- nitente, que se apegou ao ser humano e não quer lagar, como o Lula em relação ao poder. O fato é que o ser humano tem a capacidade de ser enga- nado com facilidade. Basta uma pessoa com um mínimo de autoridade para convencer milhares, milhões de pessoas das mais absurdas teorias. Mas, o que mais impressiona, é a capacidade que o ser humano tem de enganar a si mesmo.  Cair num 171, todo mundo cai, mas permane- cer nele já merece um estudo psicológico. Parece que as pessoas que veem que foram enganadas não conseguem abandonar o caminho que es- colheram. É como se estivessem cortando uma parte do corpo. É como se tivessem que assumir perante a sociedade que foram otários em algum momento de sua vida. Então, diante da possibi- lidade de assumir que foi feito de otários, ou per- manecer otários, as pessoas ficarão sempre com a segunda opção, afinal, ser otário, na cabecinha delas, é melhor, já que ser otário depende de um julgamento, de uma visão subjetiva e “ser feito de otário” é pior, pois não depende de julgamen- to. Acho que é isso. Mas, de qualquer forma, fico feliz que seja assim. Graças a esta especificidade, você pode dizer e até provar que sou ladrão, canalha, mau caráter, 171. Pode dizer que a bíblia é um amontoado de len- das, pode provar até que Deus não existe. Não adianta. Algumas pessoas seguirão em sua trilha de escuridão até se deparar com a morte. Era isto por hoje, meus irmãos, e saibam que falo estas coisas não é para chocar, eu digo isto porque vocês sabem: com o pastor Adélio, só a verdade! Olá meus irmãos! O pastor Adélio está de volta e hoje quero falar com você sobre uma peça de teatro. Não vou aqui dar o nome da peça, nem do autor porque corro o risco de você irmão cheio de dúvidas correr lá pra ler o texto.. DEIXA QUE EU CONTO... PASTOR ADELIO Pastor Adélio é um personagem criado pelo humorista Márcio Américo.
  • 9. Fazer rir é sempre bom! E, sem riso, nada de bom veríamos no mundo, aliás, não veríamos coisa alguma, afinal o humor flerta com os limites de uma sociedade desde o tempo dos gregos! A comédia, em todas as suas facetas, revela o que pensamos, como pensa- mos e o que tentamos esconder! Talvez por conta do politicamente correto e da onda de cen- sura que temos vivido, a comédia até se dividiu em “humor” e “humor negro”. Absurdo, não? Tem gente que acha graça de muita coisa, pois senso de humor é que nem braço... “Cê” entendeu, né? E, brincando com os limites do que pode ser- vir de brincadeira, muitos humoristas foram castrados: Ra- finha Bastos, Fabio Porchat, Danilo Gentili e tantos outros. Se o tema for religião então, nem se fala! Gustavo Mendes, que interpreta uma versão cômica da Pre- sidente Dilma, foi agredido em pleno palco por dizer: “foi Jesus quem transformou água em vinho” para concluir uma piada sobre a venda de bebida alcoólica durante o jogo do Brasil x Croácia. O que fez com que o chefe de gabinete do prefeito da cidade de Búzios (RJ) se irritasse e subisse ao pal- co para “justificar” uma piada que cita Jesus! Religião é mes- mo uma piada pronta e muita gente ignora isso! O que tem demais uma pessoa beber? Se beber fosse proibido, a Bíblia não citaria mais de 200 vezes a palavra vinho... Ou é proibi- do ou é bom demais! Feliz seria eu em ser religioso e “pé de cana”. Já pensou ter um deus que transforma água em bebida alcoólica? Eu veneraria ele todos os dias da minha vida! O riso não só desperta em nós a graça, mas nos desperta o senso crítico e a reflexão. E tudo o que desperta senso crítico é perigoso. Por isso houveram tantas censuras, por exemplo, na época da Ditadura Militar no Brasil. E se tudo o que é po- pular é um tema em potencial, religião não ficaria de fora! Aquilo que é sagrado para uns, não é para outros, aquilo que é engraçado para uns, nem sempre será para todos. Então, não há um limite claro sobre o que dizer e o que não pode virar piada. Ainda mais no Brasil, onde você ser descendente de português é motivo de piada, se for gay, se for negro e se for nordestino! Gaúchos brincam com cariocas, paulistas com mineiros e por aí vai! Existem piadas que tem no fundo uma realidade encrustada, outros um preconceito que jaz muito antes das pessoas que contam tais piadas. Aí vai do nível intelectual da pessoa em rir com piadas do Zorra Total ao invés do Monty Python. Você elege o melhor! Se não existe ateu em avião caindo, então não existe crente em hospital para fazer cirurgia no joelho, não é mesmo Val- domiro? Vamos ver se vocês são bons de adivinhação: O que é, o que é: tem gente que entra em transe e vê o futu- ro, mas não é macumba; quando você diz que viu um anjo ninguém lhe interna; tem gente que não morre? São os X-Men, abestado! Pensava que eu “tava” falando de que? Do cristianismo? =P
  • 11. S e você está lendo esta revista, já deve ter reparado que quando al- guém se revela como “ateu” passa – imediatamente – a ser criticado e discriminado pelos seus pares, os mesmos que, segundos antes de ouvirem a declaração, o abraçavam como um irmão. Percebendo essa estranha reação, alguns de vocês devem ter se perguntado: “Afinal, por que o simples fato de fulano não acreditar em um deus, o torna um pária?”. Para responder a essa questão é preciso pri- meiro compreender que este mecanismo que promove a discriminação dos outros com base na mera ausência de crença numa divindade não é muito antigo, tendo sido instalado há pelo menos 100 mil anos atrás em nosso cérebro, através da seleção natural, numa época em que “crer em Deus” fazia mesmo muita diferença. Hoje sabemos, por exemplo, que a crença religiosa desempenhou um papel muito im- portante para o controle social, principalmen- te na hora de incentivar a cooperação e frear comportamentos antissociais. Por exemplo, a maioria das religiões não apoia o roubo ou o assassinato, aceitando essas práticas apenas quando elas são voltadas a outros grupos (que geralmente têm convicções religiosas dife- rentes). Na maioria das vezes: roubar, matar ou mesmo deixar de oferecer ajuda a um ir- mão de fé são pecados punidos não apenas pelos pares, como também por Deus. Porém, se alguém for habilidoso, silencioso e até um pouco sortudo, pode roubar a casa do vizinho à noite e ninguém vai perceber. Isso demonstra que a fiscalização dos ho- mens é falha, pois não é possível monitorar o outro durante 24 horas por dia, para evitar que ele cometa crimes. Mas, e se, por acaso, existisse uma “coisa” que fosse onipresente, onisciente e onipotente, capaz assim de fis- calizar cada passo de cada pessoa, em cada hora do dia, e julgar todas as atitudes dela? Nesse caso, mesmo na calada da noite, en- quanto o vizinho dormia, Deus estaria ob- servando o pecado em tempo real, e aquilo traria consequências negativas ao pecador. Logo, era melhor se manter na linha, e pro- curar pecar o menos possível! Foi basicamente essa a contribuição da re- ligião ao longo da nossa evolução: criou a ilusão de que estamos constantemente sendo monitorados e avaliados por um tipo de “Gran- de Irmão” todo poderoso, que controla uma câ- mera celestial de alta resolução e bateria infinita. Não importa a cultura (salvaguardadas raras exceções) todas as religiões incluem o eterno monitoramento dos passos das pessoas e a rele- vância das ações delas em vida para a definição da sentença recebida na pós-vida. Nesse sentido, e naquele ambiente ancestral, a religiosidade conseguia sim desestimular mui- tos indivíduos prestes a cometer crimes. Não é por acaso que até hoje os religiosos consideram que “temer a Deus” é uma virtude! DSSDDSADDaí deriva o preconceito contra descrentes. Pelo menos, foi isso que descobriu o psicólogo evolucionista Will Gervais, que conduziu uma série de estudos nos últimost anos e concluiu que ateus são discriminados por serem considerados pouco confiáveis. O raciocínio é basicamente o seguinte: “se um ateu não reconhece que está sendo constantemente monitorado e avaliado por Deus, quais seriam as razões para ele ser ho- nesto? Em suma, por que alguém deveria confiar em quem não tem deus no coração?” (você já deve ter ouvido isso muitas vezes por ai). A resposta é: porque a religiosidade, ou ausência dela, não define o caráter de ninguém. Na realida- de, os melhores princípios religiosos não exigem nenhuma crença divina subjacente, pois se tratam de ideais que visam o bem comum. Geralmente, as pessoas não apreciam a violência, nem incentivam a desavença social com seus semelhantes, logo, não é preciso reconhecer a existência de Deus para apoiar os últimos cinco mandamentos bí- blicos, por exemplo. Isso significa que, nas sociedades com um sis- tema social evoluído, a religiosidade deixou de ter seu papel acima descrito, porque já existe um organizado conjunto de leis que permite fazer justiça, e de tecnologias (como câmeras) que permitem monitorar de verdade as atitudes cri- minosas, e servem como prova objetiva para a condenação do infrator. Se o preconceito é uma “doença social”, que mata aos poucos as relações, é fundamental identificar qual a causa dela, para que a intervenção no sentido de melhorar a situação possa se focar no combate dessa causa específica. Nesse caso, sabemos que a base do preconceito contra ateus é a “desconfiança”. Logo, o caminho mais racional para minimizar esse problema é investir os esforços em campanhas que visem esclarecer à sociedade geral que religiosidade não é sinônimo de honestidade (como, aliás, já vem sendo feito). Afinal, há exemplos de pessoas boas e más tanto entre religiosos quanto entre ateus. Esclarecendo esse ponto, demonstrando que “é possível confiar em quem não crê”, o prognóstico tende a ser positivo. Agora, a reprodução de frases do tipo: “ateus são mais inteligentes que religiosos”, além de não ajudar em nada, só fortalece outro mecanismo natural bem típico, o “Nós X Eles”, e isso aumenta ainda mais a animosidade entre os grupos. A pergunta que devemos nos fazer é: “Queremos mesmo vencer o “câncer do preconceito”, ou provocar uma metástase?”. CON CLu indo Set/Out 2014 13 Opinião de: Thales Vianna Coutinho TVCChannelNews
  • 12. Muito se ouviu falar sobre o termo “Estado Lai- co” e, consequentemente, muitas dúvidas sur- gem em relação ao tema. No artigo 19 da Cons- tituição Federal temos estabelecido o seguinte: Essa disposição caracteriza o estado Brasileiro como Laico, ou seja, aquele que não possui uma religião oficial, pois é um estado secular que se mantém neutro e imparcial nos temas religiosos. É função do estado laico, estabelecer ações que prezem a boa convivência entre credos e religi- ões, combatendo o preconceito e a discrimina- ção religiosa. Algo muito importante é não confundirmos um estado laico com um estado ateu, sendo que o ateísmo e seus assemelhados também se in- cluem no direito à liberdade religiosa. De acor- do com o Jurista Pontes de Miranda a “liberdade de crença compreende a liberdade de ter uma crença e a de não ter uma crença” (Comentários à Constituição de 1967). Portanto o direito de não ter uma religião é também defendido pela nossa constituição. O Brasil, em sua laicidade tem como fator predo- minante a inexistência de uma religião oficial, o que não caracteriza o país como um estado ateu ou partidário da não crença. Em teoria, ao menos no Brasil prepondera o princípio da liberdade re- Sociedade e Religião Estado Laico não é Estado Ateu. ligiosa tornando, portanto, o estado neutro em questões religiosas. Não podemos permitir que o estado tome qualquer posicionamento religio- so da mesma maneira que este mesmo estado não pode insurgir na “não crença”. Observemos por exemplo várias Câmaras de Vereadores em todo o Brasil onde se ostentam enormes “cruzes” em seus plenários. Podemos sim considerar este ato como tendencioso e uma afronta à laicidade estabelecida pela nossa Constituição assim como nos casos de quando vereadores instituem os seus “momentos bíbli- cos” em seções destas câmaras. Você deve estar perguntando, mas que mal há afinal em “rezar” an- tes da sessão? Se você é cristão certamente não vê este ato como algo tendencioso, porém pense da seguinte maneira, imagine o vereador X rezando um pai nosso no início da sessão, em seguida o vereador Y discorrendo sobre o ateísmo, em seguida o verea- dor Z dando um “passe” para os presentes o verea- dor H rezando um trecho do talmude e finalmente, o vereador U lendo o alcorão. Isso seria bizarro e cômico ao mesmo tempo. Logicamente isso não ocorre, mas serve como exemplo para o fato de que toda pessoa tem sua liberdade de credo garantida pela consti- tuição federal. Cabe, porém o bom senso ao estado para que não permita que seus prédios e sessões sirvam de palanques para propagan- da religiosa, pois a “fé” de um não pode ferir ou desrespeitar a “fé” ou a “ausência de fé” de “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seu representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.” 14 SOCIEDADE
  • 13. outro. Além do mais, cabe aos vereadores “le- gislar”, e não instaurar seus credos em plena sessão, ferindo assim a nossa Constituição no que tange à laicidade. Não discorro “contra” o cristianismo, judaísmo, paganismo, umban- dismo, espiritismo ou qualquer que seja o “ismo” religioso, porém discorro contra qual- quer posição religiosamente tendenciosa vinda de quem faz parte do poder público. O movimento tão criticado por muitos que foi o de tirar o termo “Deus seja louvado” das nossas notas de Reais é na verdade um movimento em favor da preservação da neu- tralidade do nosso Estado e da diversidade re- ligiosa, mesmo que pareça pueril em primeira instância. Imagine outros termos semelhantes em nossas notas de real, afinal, se pode haver um “Deus seja louvado” pode haver também , “Alá seja louvado”, “Lula seja louvado”, “Salve Oxossi”, “Salve Lord Ganesha” ou “Deus não existe”, pois afinal de contas se uma religião ou expressão religiosa pode constar na cédula de real, que todas possam ou, de maneira mais neutra e de forma a respeitar nossa Constitui- ção, que nenhuma delas possa. Repito, estado laico não é um estado ateu, é sim um estado neutro, oposto os estados teo- cráticos nos quais a religião tem papel ativo na política e até mesmo na constituição, como é o caso de Israel, Irã e do Vaticano, entre outros. Quanto mais partidos “cristãos” intrometem-se em nossa política propondo leis tendenciosas e de cunho religiosos, mais me preocupo com a manutenção da nossa liberdade, pois leis como a da “cura gay” entre outras ferem o princípio básico da isonomia e da preservação do indiví- duo e de sua liberdade. Podemos de fato estar caminhando para uma teocracia velada que surge com políticos per- tencentes às igrejas evangélicas ou pentecostais que têm uma visão quase que medieval das re- lações humanas Passamos em nossa história por períodos tenebrosos gerados justamente pela imposição de religiões sobre os estado com foi o caso da Inquisição e atualmente dos estados islâmicos. É um retrocesso para a raça humana qualquer forma de estado teocrático os quais acabam cer- ceando as conquistas obtidas com tantos anos de luta contra à ignorância gerada pelo temor infundado que muitas religiões usam como método de dominação. Imagine você mulher, novamente sendo reduzida a um objeto, a um mero “animal” tendo como únicos propósitos a procriação e o trabalho doméstico. Não há nada de errado com ambos, ser mãe e cuidar de casa deve, porém, ser uma escolha individual e não uma imposição. Sabemos que manter a neutralidade e a laicidade em nosso país garante uma liberdade de crença plena e verdadeira a todos os cidadãos brasileiros e que qualquer ação de cunho religioso em nossa política pode ameaçar esta neutralidade. Nosso país deve ser justo, deve ser inclusivo, deve ser igualitário no tratar ao povo e aos seus, nosso país deve ser laico e, portanto, um país justo. Set/Out 2014 15 Opinião de: Fabiano Uesler Todo dia Blumenau
  • 14. Cura pela Fé: Liberdade Religiosa vs Proteção à Criança Crença religiosa sendo usada como justificativa para negar atendimento médico a crianças. O que dizer de pessoas que rejeitam a ideia de tratamento médico? A Igreja Assembleia da Fé foi responsável por mais de 100 mortes de crianças e por uma taxa de mortalidade materna de 870 vezes maior que a taxa normal. A causa mais comum de morte foi de mortalidade infantil em partos domiciliares, algo que hoje é raro na “Ciência Cristã”, porque eles agora permitem o pré-natal e partos hospita- lares atendidos por médicos. Josef Smith, oito anos de idade, foi espancado até a morte durante um exorcismo no Tennessee. Seus pais, os membros da Remnant Fellowship, foram considerados culpados de assassinato e condenado à prisão perpétua. Nos Estados Unidos Um casal de Oregon City, foi condenado por assassinato e negligência criminosa, depois de deixar o filho de 16 anos morrer sem procurar ajuda médica. Jeff e Marci Beagley são membros da igreja Seguidores de Cristo, que prega a cura pela fé e rejeita cuidados médicos.O filho do casal, Neil Beagley, morreu em junho de 2008 por causa de um entupimento congênito nos órgãos que cuidam da excreção urinária – uma condição tratável. Ele tinha a doença desde que nasceu. O julgamento durou duas semanas e o júri chegou ao veredito, de- pois de dois dias de deliberação. Dez dos 12 jurados consideraram o casal culpado. Na Austrália, a justiça ordenou um rapaz testemunha de jeová, com câncer a receber transfusão sangue, apesar do rapaz e de seus pais delimitarem a vontade de não rece- ber sangue por conta de convicções religiosas. Exemplos de processos: Uma mãe que espancou e sufocou o filho foi condenada à prisão perpétua por assassinato em primeiro grau. Ela aceitou de bom grado a sua punição como parte do plano de Deus. A cura pela fé é amplamente praticada por “cientistas” cristãos, pentecostais, e em algumas Igrejas e seitas. Muitos desses crentes rejeitam todos os tratamentos médicos em favor de oração, unção com óleos, e, às vezes, exorcismos. Alguns chegam a negar a realidade da doença. Quando eles rejeitam tratamento médico para seus filhos, eles podem ser culpados de negligência e homicídio? Até recentemente, as leis religiosas tinha um escudo que as protegia da acusação, mas as leis estão mudando, assim como as atitudes públicas. A liberdade de religião entrou em conflito com o dever da sociedade de proteger as crianças. O direito de acreditar não se estende ao direito de pôr em perigo a vida das crianças. Um novo livro de Cameron Stauth, Em Nome de Deus: A Verdadeira História da Luta para Salvar Crianças da Fé, fornece os detalhes de sua luta. Ele é um mestre contador de histórias, o livro chama a atenção do leitor como um thriller de ficção e é difícil de largar. Uma das primeiras mortes aconteceu em Indiana. Com quatro anos de idade, Natali Alegria Mudd foi encontrada morta por detetives em sua própria casa, com um tumor no olho que era quase tão grande quanto o resto de sua cabeça. Na cena horrível, um sargento da polícia encontrou trilhas horizontais de sangue ao longo das paredes da casa. As trilhas correspondiam à altura da cabeça da menina. Natali aparentemente estava encostada na parede enquanto ela arrastou-se de sala em sala, cega, tentando encontrar um caminho para a liberdade, antes que o tumor a matasse. Os pais de Natali pertenciam à Igreja Assembleia da Fé, um ramo pentecostal. Eles não acreditam nos cuidados médicos, e eles não foram processados porque Indiana tinha leis religiosas que serviam como escudo. Dois anos mais tarde, a irmã de cinco anos, de Natali morreu de um tumor, em seu estômago do tamanho de uma bola de basquete. 1 3 2 4 16 SOCIEDADE
  • 15. Agora não pense que isso é um fato que só acontece lá fora. No Brasil, as convicções religiosas também chegam a esse ponto. Em 2013, o juiz Elleston Lissandro Canali, autorizou o corpo clínico do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), de Tubarão, a realizar o procedimento de transfusão de sangue em um recém-nascido com problemas de saúde. Os pais não concordavam com o tratamento por serem testemunhas de jeová. O bebê, que nasceu com aproximadamente 900 gramas, necessitava, com urgência, da transfusão de sangue. Os pais foram contra, devido à crença religiosa, sendo necessária a determinação judicial para garantir que todos os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, como o direito à vida e à assistência à saúde fossem cumpridos. Em março de 2011, outro caso reper- cutiu na região depois que a família de um homem baleado rejeitou a transfusão sanguínea e teve assegura- do na Justiça o direito à crença. AMS, de 46 anos, era testemunha de jeová e morreu uma semana depois da deci- são judicial. AMS havia sido baleado durante uma negociação de programa sexual com menores. Com o dispa- ro, os criminosos fugiram, sem nem sequer roubar a quantia em dinheiro que estava com ele. Mas esses não são casos isolados. Em 2004, também no Brasil, em uma decisão emergencial, a Justiça de Pernam- buco determinou que uma menina de 8 anos recebesse uma transfusão de san- gue. Portadora de uma doença hereditária que leva a uma anemia crônica, a criança chegou ao hospital com infecção urinária e um quadro grave de anemia. Foram feitos vários exames e os médicos só encontraram uma saída: a transfusão de sangue. “Ela apresentava um quadro grave e alto risco de morrer”, disse a chefe do setor de pediatria Márcia Wanderley. O Conselho Tutelar recorreu à Justiça. “O artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, parágrafo 2º, diz que nós podemos acionar a Justiça por omissão dos pais ou abuso do poder familiar”, explicou a conselheira Conceição Pimentel. No dia 23 de dezembro de 2013 também ouve um caso que chocou o país. Um bebê recém-nascido morreu no setor de Neonatal do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) após a avó recusar que fosse realizada uma transfusão de sangue que poderia salvar a criança. Segundo Antônia Lima, promotora de Jus- tiça de Defesa da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual (MPE), a avó da criança, que seria testemunha de jeová, não autorizou a transfusão porque o procedimento médico vai de encontro à sua religião. Assistentes sociais do HGF entraram em contato com o MPE pedindo intervenção no caso. Entretanto, não houve tempo hábil para autorizar a transfusão de sangue. A mãe, por ser uma adolescente de 15 anos, não poderia responder pela criança e tentava, desde sexta-feira (20), convencer a avó sobre necessidade da transfusão de sangue, segundo informou a promotora Antônia Lima. 7 8 Sob o domínio Romano, a cidade de Alenxadria é palco de uma das mais violentas rebeliões religiosas de toda história antiga. Judeus e cristãos disputam a soberania política, econô- mica e religiosa da cidade. Entre o conflito, a bela e brilhan- te astrônoma Hypatia (Rachel Weisz) lidera um grupo de discípulos que luta para preservar a biblioteca de Alexandria. Alexandria (ORIGINAL: “ÁGORA”) 2011, 126 Minutos. 5 6 Dicade FILME: Set/Out 2014 17 Matéria: Revista Ateísta
  • 16. E ncontram-se perdidos nas brumas do passado inúmeros casos de pessoas que foram obrigadas a fingir uma vida de credulidade e aceitação de dogmas que consideravam absurdos, por medo de serem hostilizados, discriminados ou coisa pior. Nomes que jamais conheceremos, de indivíduos obrigados a se ajoelharem, levan- tarem as mãos para o céu ou cantarem hinos de louvor a criaturas mitológicas nos quais não acreditavam, tentando se manterem incógnitos em meio à multidão de fiéis que não hesitariam em castigá-los por sua heresia. Ser ateu em uma sociedade preponderantemen- te teísta nunca foi muito fácil. Revelar-se como descrente, então, sempre foi um ato corajoso de honestidade e afirmação de liberdade, muitas vezes punido severamente. Por este motivo, a maioria dos ateus sempre optou por manter-se em silêncio sobre a sua descrença. Questiona- mentos sobre a religiosidade predominante, quando feitos, restringiam-se a círculos filosó- ficos e científicos. Mas este silêncio vem sendo quebrado, felizmen- te. E os ateus, que durante muito tempo man- tiveram-se ocultos, têm se mostrado bastante dispostos a mostrar publicamente seu ceticismo à existência de deuses. Mais do que isso: O ate- ísmo moderno tem, aos poucos, deixado de ser simplesmente uma condição de descrença para se tornar um ativismo! O que está acontecendo? Neo-ateus. Ateus modinha. Ateus toddynho. Não são poucos os adjetivos pejorativos que os ateus têm recebido por anunciarem sem medo sua descrença. E o motivo é a nossa necessidade natural de entender o mundo classificando as coisas. Para uma sociedade acostumada a ter como o estereótipo de ateu alguém “que não acredita em deus”, mas que não tem voz na co- munidade (e que aceita sua insignificância por entender que faz parte de uma minoria), esse fe- nômeno de pessoas declarando publicamente seu ateísmo e ainda militando pelo ceticismo precisa ser nomeado – e de forma distinta dos “ateus clássicos”. Estamos diante de um evento completamente novo: embora ateus sempre tenham existido, e muitos deles tenham influenciado bastante a cultura ocidental, seus números não eram tão significativos e eles não faziam tanto barulho. As instituições religiosas sempre coibiram ener- gicamente qualquer crescimento do secularis- mo, com a ajuda de milhões de fiéis dispostos a defender o sagrado com unhas e dentes. Atual- mente, no entanto, em sociedades cada vez mais livres do obscurantismo religioso, que contam com comunicação global e informação acessível a todos os níveis sociais, estas instituições têm falhado em inibir o avanço do racionalismo. Durante muito tempo, alguém declarar-se ateu era, para dizer o mínimo, um tanto arriscado. Não foram poucos aqueles que, no decorrer da história da humanidade, precisaram ocultar que não acreditavam na fantasia que as autoridades relig iosas impunham à sociedade. Um fenômeno completamente novo 18 SOCIEDADE
  • 17. É natural, então, que os religiosos se ressintam deste crescimento do número de ateus, sobretudo nos meios de comunicação. Até porque há uma relação – não absoluta, mas existente – entre a educação (que produz muitos formadores de opinião) e o pensamento crítico (terreno fértil para o ceticismo e, em sua esteira, o ateísmo). E, claro, farão o que sempre fizeram: tentar deter o crescimento da descrença. Sua principal arma: a discriminação! Para muitos ateus criados em famílias ou comuni- dades religiosas, declarar sua descrença não é uma opção. Temem o esperado preconceito que sofrerão em suas casas, trabalhos e relações sociais. Este medo é totalmente compreensível. Como podem ser aju- dados, então? A resposta é fácil, e ela se baseia na experiência passada por outras parcelas da sociedade que sofreram (e ainda sofrem) discriminação. Grupos quem combatem o racismo, associações que apoiam pessoas com deficiências físicas e mentais e entidades de defesa dos direitos homossexuais adotam a estra- tégia eficaz de incentivar aqueles que sofrem discrimi- nação a aceitarem sua natureza, condição ou opção, e a se declararem publicamente como tais. Nos casos como os dos negros e dos homossexuais, a estratégia vai além, ao esclarecer a estas vítimas de preconceito que elas têm todo o direito de afirmarem sua satisfa- ção por pertencerem a estes grupos! E é esta a melhor forma de combater o preconceito também con- tra ateus, de forma pacífica e nem por isto menos contundente. Devemos nos anunciar como descrentes, céticos e racionalistas, e mostrar não só como o ateísmo é transformador, mas a sua acei- tação também. A eficácia desta mensagem é dupla. Em primeiro lugar, ela aju- da aqueles ateus que se mantêm ocultos por serem solitários em sua descrença, a saberem que não estão sozinhos. Isto os incentiva a “saírem dos seus armários”, confiantes de que há muitos que coadunam de seu posicionamento racionalista. É uma tendência de feedback positivo: quanto mais ateus se assumirem como tais, mais ateus serão encorajados a também adotar a mesma postura. E conforme estes descrentes vão se unido, as comunidades ateístas vão crescendo, fortalecendo-se a ponto de se tornar entidades que atuam inclusive juridicamente para lutar contra a discriminação. O segundo ponto em que a estratégia é eficiente é a visibilidade “externa”, ou seja, como a sociedade como um todo enxerga os ateus. Neste sentido, o volume é diretamente proporcional à sig- nificância. Quantos mais cidadãos declararem-se como descren- tes, maior será a visibilidade das demandas deste público, como o combate à intolerância e o fomento à laicidade. Além disto, é preciso mostrar que ateus não são bichos-de-sete-cabeças e que o ateísmo não é sinal de imoralidade. E isso só será possível quando o cidadão mediano descobrir que o seu vizinho, o seu colega de futebol, o professor do seu filho ou mesmo o seu primo é ateu, e mesmo assim não deixa de ser uma pessoa digna e honesta. Declarar-se publicamente como ateu e não admitir - de forma al- guma - sofrer discriminação é o primeiro passo para exigir que os descrentes não sejam tratados como uma subcategoria de cida- dãos, sem voz e sem representatividade! Ateus, “saiam do armário”! Pela primeira vez na história da humanidade, temos ateus e agnósticos compondo parcelas significativas da sociedade. Set/Out 2014 19 Opinião de: David Ayrolla Papo de Primata
  • 18. Como a fé se internaliza no pensamento das pessoas? A questão do motivo da humanidade ter de- senvolvido a fé em algo inescrutável e fora de explicação já foi objeto de textos anteriores. Em resumo basicamente, tais motivos seriam: 1: O medo da morte,2: O medo do desconhe- cido, 3: A necessidade de achar “explicações” para tudo (uma entidade criadora de tudo aparentemente contenta muitas mentes como sendo uma explicação razoável, o que não deixa de ser curioso, pois tal afirmação a rigor nada explica), e... 4: A necessidade do ser humano querer que sua “essência” seja eterna. Mas isso é uma explicação “macro”, digamos assim. A pergunta agora é como que individu- almente as pessoas adquirem fé? Bem, uma res- posta que logo nos salta aos olhos é que isso se passaria pela influência cultural e pela educação que a pessoa recebe desde o nascimento, de seus familiares e demais pessoas próximas. E como se dá esse processo? Veremos. Uma criança em terna idade não possui a ca- pacidade de questionamentos amplos sobre a existência do universo, origem de tudo ao seu re- dor, e demais questões filosóficas sobre a realida- de ao seu redor. Dessa forma, antes mesmo que ela possua qualquer capacidade para tais ques- tionamentos, ela já é influenciada fortemente por pessoas que embutem em sua mente a ideia de que a fé que elas professam é a verdade por si só. Posso estar enganado, mas o que a minha observação mostra é que não é costume de famí- lias religiosas ensinar aos filhos que a fé deles é apenas a verdade “em que eles acreditam”, e que existem outras versões para os mesmos fatos. Não, de forma alguma. O que os pais costumam fazer é simplesmente explicar o mundo de acordo com a sua fé como sendo a única explicação passível de aceitação. Quando citam outras vertentes da fé já é logo para criticar e deixar bem claro que tudo aquilo é mentira e enganação. E a criança diante de tudo isso? Ora, ela, em primeiro lugar, verifica que a enorme maioria das pessoas também possuem fé em algo sobrenatural. Pessoas que ela identifica como sendo praticantes de outra fé já são logo vistas com desconfiança, devido ao discurso dos pais. Esse preconceito cos- tuma ser reforçado na criança, e, dessa forma, ela vai tendendo a enraizar a visão de que a sua fé é a única verdadeira. A criança vai crescendo, e vai percebendo que adultos em geral possuem fé. E essa fé, mesmo que seja de uma natureza senão exata, mas é sim pa- recida com a sua (afinal, católicos, evangélicos e espíritas, a despeito de diferenças teológicas, acreditam na mesma natureza de deus, ou seja, basicamente que ele é um só, é onipotente, é onisciente, é onipresente, é consciente, é jus- to, é amoroso, é pessoal, é interventor, ouve as preces, etc.). Essa maioria de adultos com fé vai servindo de reforço para a criança. Afinal, adultos em ge- ral passam a ideia de verdade para as crianças. Se seus pais acreditam em tal coisa, se muitos adul- tos acreditam em algo igual ou parecido, se afinal existem até inúmeras construções feitas com ex- clusividade para quem acredita naquilo se reunir semanalmente, ora, então isso é sério e só pode ser verdade e pronto. A Fé como fruto da inércia cultural 20 SOCIEDADE
  • 19. E assim a criança vai vivendo. E tudo em sua vida passa a ser um sinal de que sua fé é real. Tudo, tudo mesmo. Mesmo as totais contradições. Vejamos. Se a criança passa de ano, é por que deus ajudou e recompensou seu esforço. Mas se ela repete de ano, então também é a vontade de deus, afinal ele é justo. Se a criança se cura de um sarampo ou ca- tapora, é por que deus interviu e a curou. (o fato do mesmo deus ter feito ela ficar doente nunca é citado obviamente) Se começa a chover apenas depois da criança chegar em casa, é por que deus estava esperando que ela chegasse pra deixar chover. Mas se a criança então pega chuva na rua, deus quis que ela se molhasse e, não havendo uma explica- ção direta, soltam a famosa frase que ele trabalha de forma misteriosa. E por ai vai. Os pais costumam fazer isso. Tudo que acontece passa a ser um sinal de deus. Os fatos mais corriqueiros e cotidianos passam todos a serem vistos como claros e evidentes sinais divinos. Quando chega a idade adulta, a pes- soa em geral, com as atribulações da vida, ou seja, o trabalho, as pressões e cobranças do patrão, as contas pra pa- gar, etc, impedem que ela pare e pense em tudo aquilo que foi ensinado em ter- mos de fé. Afinal, para que pensar nisso se tudo na vida corrobora essa visão não é mesmo? Os sinais continuam presen- tes não é mesmo ? Afinal, vejam só. Se chegou a tempo no trabalho mesmo devido ao trânsito é “graças a deus”. Se conseguiu entregar o relatório a tempo é “graças a deus”. Se o ônibus veio finalmente vazio é “graças a deus” (as várias vezes em que ele vem lotado não contam). E mesmo as decepções também se en- caixam na fé. Afinal, se os pais morrem é por que “deus assim quis”. Se perde o emprego é “por que deus está prepa- rando algo melhor”. E assim a vida vai seguindo. Sem tempo para contestação. As contas de luz, água e telefone estão aí e não há tempo a perder questionando a “verdade” do que lhe foi ensinado. Isso nem passa mais pela cabeça da pessoa. E assim, dessa forma, as pessoas vão tendo a sua fé, por pura e unicamente inércia cultural. Nada mais do que ape- nas a inércia cultural e o condiciona- mento social. É o que chamo de fé no piloto automático. E o mais interessante é como as pessoas religiosas tendem a querer de- monstrar o quanto suas vidas são dife- rentes (para melhor), em relação a vida das pessoas que não professam da mes- ma fé, ou principalmente, das que não possuem fé. Tais pessoas tentam passar a impressão que suas vidas são constan- temente abençoadas e que tudo sempre dá certo para elas. O problema é que esse tipo de pessoa fica tão cega pela fé que não percebe que, por mais “abenço- ada” que seja, ela possui a mesma vida que os não “abençoados”. Ora, vejamos. Essas pessoas “abençoadas” também acordam cedo pra trabalhar. Também enfrentam condução lotada na ida e na volta pro trabalho. Também adoecem. Também sentem dor. Também são de- mitidas. O pneu do carro delas também fura. Os seus parentes também morrem, e muitas vezes de forma dolorosa e sofrida. Enfim, vivem a vida, conforme todo mundo. Absolutamente nada indica que a qualidade de vida e a rotina de- las seja diferente para melhor do que da grande maioria da população em geral. Afinal, se fosse assim, católicos, por exemplo, não sofreriam nenhuma decepção na vida. Ou os evangélicos. Ou os espíritas. Os religiosos dizem que “a verdade liberta”. O problema é que a religião em geral aprisiona e não permite que as pessoas percebam que a religião, que elas tanto prezam e defendem, não passa de uma muleta psicológica. Um mero efeito placebo para tudo em suas vidas. Raras são as pessoas que, mesmo vivendo em um ambiente religioso, “despertam” e conseguem questionar a realidade à sua volta. Raros são os que questionam a versão que des- de criança receberam para explicar o mundo. Poucos conseguem, digamos assim, sair da “matrix” em que vivem. Mas os que conseguem não voltam nunca mais ao estágio em que esti- veram. Uma mente libertada nunca mais se permitirá voltar a ser aprisio- nada novamente. Set/Out 2014 21 Opinião de: Rafael MMPP Livre Pensamento
  • 20. bem máximo”, não está dizendo de prazeres voltados à satisfação de instintos, mas de pra- zeres satisfativos, como, por exemplo, aqueles advindos das relações sociais supracitadas. O erro em entender o prazer epicurista com corri- da frenética por sentimentos que facilmente se corrompem em vício é algo muito corriqueiro, diga-se de passagem, e muitas vezes avaliados com má fé, uma vez que é evidente que não é disso que trata o filósofo grego. Não há qual- quer prazer em se entregar a um vício destrutivo e todos sabemos disso, quando, por outro lado, há notório prazer em ser reconhecido como útil e agradável pelos demais de seu grupo. Durkheim, em “O Suicídio”, faz o aponta- mento do quanto o isolamento social acentua a possibilidade do Ser Humano encerrar sua pró- pria vida. Está em pauta aqui algo que deveria ser fácil de compreender a todos. Os impulsos que o Ser Humano sente (fome, frio, vontade de fazer sexo, dor) fazem parte da tendência natural para que o complexo perma- neça existindo, se replique e a complexidade avance, mas não é o único guia do comporta- mento do indivíduo e fazer o bem para o pró- ximo pode ser um comportamento completa- mente calcado na perspectiva hedonista, uma vez que é prazeroso ser agradável. Sim, além de esperança de recompensa social ouretribuição,hámotivospsicológicosparafazer o bem ao próximo, já que interpretarmos nosso próximo como sujeito Interpretativo também. Agir bem com o próximo dá valor e razão para nossa própria existência, do mesmo modo que alguém que nos faz bem se torna importan- te para nós e damos valor a isso. Agir bem nos dá valor frente ao outro, nos torna importan- POR QUE fazer bem ao próximo? O Homem é um animal e, como seus semelhantes (outros animais), é impulsionado por reações quí- micas no sistema nervoso para tomar certas atitudes que o mantenham vivo e que o façam replicar seus genes. A complexida- de da comunicação humana, porém, é notoria- mente especial. Registrou-se em “A Política”, de Aristóteles, que o Homem, graças a essa capaci- dade comunicativa, é um animal Político (um animal que vive em Pólis) e acertadamente isso é enunciado como uma característica principal do ser humano. A comunicação humana é a ponte que liga universos Subjetivos (pessoas) separados, estabelecendo um re- lacionamento de troca de informação, o que propicia a troca racional de interesses mútu- os e, também, faz surgir a esperança que uma Pessoa nutre de que ela seja importante para outros sujeitos, do modo que esses outros su- jeitos também são importantes para ela. Em síntese, a vida se justifica não só na me- cânica de existência biológica e nos prazeres que essa mecânica impõe, mas também no prazer do reconhecimento perante outros su- jeitos semelhantes. Algo tão evidente é relatado por grandes nomes da humanidade, dos quais exemplificamos alguns. Lucrécio, em “Da Natureza das Coisas”, deixa claro que Epicuro, ao falar que “o prazer é um 22 FILOSOFIA
  • 21. tes ao outro, nos torna significativos. E como a religião pode jogar um pouco de fumaça sobre algo que deveria ser tão simples? Em termos práticos, Religião é utilizada como a crença de que certas atitudes atendem à vontade de Sujeitos (ou um Sujeito, no caso monoteísta) Su- pra-Humanos, satisfazendo-os e dando sentido a nossa existência. O pode ser grave, pois pode entorpecer e desviar os olhos de sujeitos semelhantes, o que deveria ser nosso foco, para interpreta- dores de textos antigos. Religiões normalmente afirmam a comunhão e o respeito, pelo menos entre pessoas do mesmo grupo, entre- tanto, por vezes, religiosos passam a agir de modo a agredir o próximo, pen- sando que assim atendem a vontade do Supra-Humano, bastando para tal que algum autointitulado interpretador das forças Supra-Humanas assim ordene. E esses interpretadores não raro promo- vem conflitos, pois a justificação de seu “cargo sagrado” se acentua se forjarem uma guerra onde quem tem contatos mágicos com o Supra-Humano vencerá a busca pela felicidade. Perceba, portan- to, que a doutrinação religiosa pode não ser humanista, em um sentido estrito. Faço-me entender: ensinar crianças que elas têm que fazer o bem para agra- dar um Deus é terceirizar algo que não devia ser terceirizado. Faz jovens poste- riormente perguntarem “por que você faria o bem para alguém se Deus não existisse?” e faz outros concluírem “eu mataria meu filho se Deus me pedisse, caso eu tivesse certeza de que era Deus pedindo”. O bem deve ser feito pela satisfa- ção causada por se entender útil a ou- tro sujeito e também pela expectativa utilitária de que uma cultura nesse sentido é melhor para os sujeitos em um grupo. Nós devemos fazer o bem, numa vida em sociedade, não só por- que obtemos benefícios em uma socie- dade que coopera, se em comparação a uma sociedade em que os indivídu- os tentam passar por cima do outro a qualquer custo, mas também porque causar o bem nos torna importantes a outros sujeitos, causando satisfação própria, o que é completamente com- preensível racionalmente. Talvez você não seja importante para o Universo e o mecanismo de ordem, talvez não seja importante para seres metafísicos afirmados por antigos governadores para regrar o comportamento. Não é algo verificável. Só que você pode ser importante para o Sujeito que você beneficiou e, por conclusão, a própria existência do Sujeito que você beneficiou é impor- tante para você, pois a existência dele é que permite que você seja relevante para alguém, o que cria uma ligação forte entre as pessoas.Muitos chamam essa ligação de amor, mas o nome é o que menos importa. Todos nós sa- bemos que a importância de outros Sujeitos que estão no nosso dia-a-dia é suficiente para justificar nossa felici- dade e muitas vezes o distanciamento de uma Pessoa assim pode ser sinôni- mo de depressão. Diante do exposto, eu suspeito que, talvez, se tirarmos o entorpecente de baixo dos narizes de um usuário por alguns instantes e o convidarmos à re- flexão, eventualmente ele consiga ver que a Vida se justifica na própria Vida. Set/Out 2014 23 Opinião de: Pedro Ivo S. de Alcântara Ateu Informa
  • 22. No dia 28 de janeiro, a fundação do DR. Richard Dawkins publicou uma nota em seu site fazendo um reconhecimento internacional da Revista Ateísta. Na nota, a fundação citou :“O Brasil é um dos países mais religiosos do mundo, e iniciar uma revista sobre o ateísmo lá, não é tarefa fácil” (Richard Dawkins Foundation). Apesar deles não morarem aqui, temos que reconhecer que eles sabem o que falam. O Brasil é uma potência religiosa, com a maior população católica mundial, onde até a presidente diz ao Papa que ‘Deus é brasileiro’. Aqui, ocorre leitura da Bíblia nas escolas; crucifixos em repartições publicas, citações como “Deus seja louvado”, em nosso dinheiro, entre outros abusos à laicidade. O terreno não é nada favorável para aqueles que buscam respostas além da religião. Por isso, muitos ateus vivem escondidos, por temerem que a intolerância religiosa, repercuta em suas vidas, nos âmbitos social e econômico.  A religião, no Brasil, transpôs a barreira do Estado laico há muito tempo. Isso é rotineiro em partidos, que adotam rótulos religiosos, para as campanhas de aderir fiéis/eleitores.  A religião, quando ultrapassa a crença e entra no recinto político, começa a dominar o meio.  Em um país, onde a religião domina todas as faces dos poderes, fica difícil andar na contra mão da sociedade “cristã”. A DIFÍCIL TAREFA DE SER ATEU NO BRASIL 24
  • 23. 25
  • 24. Separamos quatro estudos que mostram, em dados, o que muitos ateus têm sentido na pele. Em um estudo distinto, Gervais examinou, como o ateísmo influencia na contratação de funcionários. Durante a pesquisa, alguns vo- luntários precisavam “empregar” dois funcio- nários; um ateu e um religioso, em duas vagas distintas: uma para um cargo que exigia alto grau de confiança, e outra, baixo. Para o posto de alta confiança, em uma creche, os partici- pantes preferiram o candidato religioso. Para a vaga de garçonete, no entanto, os ateus se saíram muito melhor. Estudo 1 Estudo 2 e 3 Gente que não acredita em deus Usuários de drogas Garotos de programa Transexuais, que mudam de sexo Travestis Prostitutas Lésbicas Bissexuais Gays Gente muito religiosa Ex-presidiários Gente muito rica Ciganos Gente com Aids Ódio 17 17 10 10 9 8 8 8 8 5 5 4 4 3 Segundo o Instituto norte-americano Pew Research Center, 86% dos brasileiros dizem que, acreditar em Deus, é necessário para ser uma boa pessoa. Em países ricos, a população tende a dis- cordar desta relação. Na Espanha, por exemplo, apenas 19% da população pensa que acreditar em Deus é essencial para ser uma boa pessoa. Já em Gana e na Indonésia, países conside- rados muito pobres, o número chega a 99%, quase o total da população. Esse pré-conceito é tão latente, que transcende as questões étnicas. Até médicos, como Dr. Drauzio Varella, sofrem pré-conceito. Em sua coluna ao Jornal Folha de São Paulo, Drauzio Varella escre- ve: Os religiosos, que têm dificuldade para entender como al- guém pode discordar de sua cosmovisão, devem pensar que eles, também, são ateus, quando confrontados com crenças alheias. (...) Ajudamos um estranho caído na rua; damos gorjetas em res- taurantes, nos quais, nunca voltaremos, e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus; mas, porque, cooperação mútua e altruísmo recíproco, fazem parte do repertó- rio comportamental, não apenas do homem, mas de gorilas, hie- nas, leoas, formigas, e muitos outros.(...) Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo. Em uma de suas palestras, o Dr. Drauzio Varella, ao ser pergun- tado sobre o ateísmo, acabou falando sobre o preconceito que sofrem os ateus: Quando você diz que não é religioso, as pessoas olham, como se você fosse imoral, não tendo respeito pela vida, fazendo mal para os outros (...). Eu recebo e-mails, dizendo, eu tinha o senhor em boa conta, achava que o senhor ajudava as pes- soas, e agora, descobri, que o senhor não acredita em Deus(...) No Brasil, esse preconceito, também, é alimentado pela grande imprensa. Em julho de 2010, durante o Programa “Brasil Urgen- te”, o apresentador José Luiz Datena e o repórter Márcio Campos, estavam noticiando um crime, e insistiram em relacionar ateísmo com a barbárie dos criminosos. Durante 50 minutos, foram ditas frases, como “um sujeito que é ateu, não tem limites, e é por isso, que a gente vê esses tipos de crimes aí”. O pesquisador Will Gervais, da University of British Columbia, também publicou alguns estudos, que revelam essa falta de con- fiança, para com os ateus. Durante os experimentos, Will Gervais e seus colegas, apresentaram a voluntários, uma história sobre um motorista que, acidentalmente, bate em um carro, estacionado, e não deixa informações, para que o outro motorista possa acionar o seguro. Em seguida, os participantes foram convidados, a esco- lher a probabilidade de que o personagem, em questão, fosse cris- tão, muçulmano, estuprador ou ateu. Os voluntários julgaram, igualmente, provável que o culpado fosse ateu, ou estuprador; e improvável que fosse muçulmano ou cristão. 26
  • 25. Ateus e drogados são os mais odiados pelos brasileiros (Fonte: Paulo Lopes/ Fundação Perseu Abramo) Estudo 4 Embora minoria, entre outros grupos minoritários, os ateus estão empatados, com os usuários de drogas, no topo de uma lista das pessoas, pelas quais, os brasileiros, têm repulsa. Pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo constatou que, das pessoas consultadas, 17% afirmaram ter repul- sa/ódio aos descrentes em Deus; 25% declararam antipatia e, 29%, indiferen- ça. No item antipatia, os usuários de drogas aparecem com um ponto per- centual a menos, (24%). À pergunta sobre quais as pessoas que menos gos- tam de encontrar, 35% responderam que são os usuários de drogas, seguidos pelos descrentes, (26%), e ex-presidiá- rios, (21%). O elevado grau de repulsa, Esse resultado foi obtido, com a seguinte solicitação, do pesquisador:‘Vou falar de alguns grupos de pessoas, e gostaria, que você, dissesse, o que sente, normalmente, quando vê ou encontra, desconhecidos, do tipo deles’ Antipatia Indiferença Satisfação Outras 25 24 16 14 13 14 12 11 11 17 16 16 14 6 39 37 61 64 66 63 67 68 67 38 56 67 69 57 3 3 3 5 7 5 6 6 8 35 6 10 7 7 15 19 10 8 6 9 7 8 6 14 17 3 6 26 aos dependentes químicos, na pesqui- sa, não surpreende. São considerados, pelo senso comum, como geradores de problemas sociais e, por isso, estão na pauta da imprensa. A repulsa, aos ateus, surpreende porque, em contrapo- sição aos usuários de drogas, eles não causam problemas, são discretos, e sem destaque noticioso. Apenas 5% dos entrevistados, declararam ter repulsa/ ódio, às pessoas muito religiosas. Mas, curiosamente, o percentual de antipatia é alto, (17%). A Fundação Perseu Abramo realizou a pesquisa, em parceria com a Ong alemã Rosa Luxemburg Stiftung. A Associação Brasileira de Ateus e Ag- nósticos (ATEA), disse, em nota, para Revista Ateísta, que o número de de- núncias, aumenta mensalmente. Rece- bemos denúncias diariamente, mas não temos estrutura, para atender a todas. Denúncias envolvendo crianças força- das a orar, e de programas de televisão, colocando os ateus, como pessoas más. Entre outras denúncias que a associação recebe, estão lobby religioso com prefei- turas, bulliyng, proselitismo na escola, e descriminação. Resta-nos, apenas, ter ânimo e conti- nuar nossa luta, para que as próximas gerações, não sejam tão discriminadas, porque, hoje, ser ateu, no Brasil, é como ser um estrangeiro, em seu próprio país. 27
  • 26. Por que Darwin é tão importante? Richard Dawkins: Darwin nos disse por que existimos e essa não é uma pergunta fácil de res- ponder. Não se trata apenas de nós, ateus, mas de todos os seres vivos. O mundo dos seres vivos é incrivelmente complexo e incrivelmente im- provável - a menos que você entenda de onde veio; parece que foi projetado; todos pensavam que foi projetado; mas Darwin mostrou que não. Essa é a importância de Darwin. Quão convincente é a prova de que Darwin estava certo? Richard Dawkins: A evidência é convincente de que Darwin estava certo. Nós somos descen- dentes de animais mais simples; somos descen- dentes de bactérias em última análise, e somos primos de chimpanzés. Darwin não estava certo sobre tudo - ele errou em relação a genética, por- que não se sabia o suficiente sobre genética na época, mas o ponto essencial de que nós somos primos diretos de macacos e cangurus, polvos e bactérias é incontestável. Quão foi importante a influência de Darwin em perceber nosso lugar no mundo? Richard Dawkins: A raça humana tem tido uma série de retrocessos. Aprendemos com Gali- leu que a Terra não era o centro do Universo; Da- rwin fez a mesma coisa em relação às criaturas vivas. Já pensamos que fôssemos o ápice da cria- ção, feitos à imagem e semelhança de Deus, mas agora sabemos que somos primos de 10 milhões de outras espécies - um pequeno galho em uma grande arbusto com ramificações enterradas em algum lugar nas profundezas deste arbusto e não há nada de especial na posição dos seres huma- nos na criação. Há coisas especiais sobre nós, como o fato de que somos mais espertos do que outros animais e possuímos a linguagem, mas, no entanto, somos apenas primos de todos os outros seres vivos. Clinton Richard Dawkins (Nairóbi, 26 de março de 1941) é um etólogo, biólogo evolutivo e escritor britânico. É fellow emérito do New College, da Universidade de Oxford, e foi Professor para a Compreensão Pública da Ciência em Oxford, entre 1995 e 2008. Professor RICHARD DAWKINS fala sobre Darwin 28 Via: National Geographic Channel Entrevista
  • 27. O que você acha das pessoas que aderem à ideia bíblica de que a Terra tem menos de 10.000 anos de idade e que todos nós somos criação de Deus? Richard Dawkins: Qualquer pessoa que ainda acredite que o mundo tem me- nos de 10.000 anos de idade, como mui- tos criacionistas acreditam, a melhor des- culpa para eles é a ignorância lamentável. Qualquer um que não seja ignorante e que lhe foi mostrado as provas e ainda acredita nisso, então deve haver algo de errado com essa pessoa. Para lhe dar um exemplo da magnitude do erro, acredi- tar que o mundo tem menos de 10.000 anos, quando na verdade sabemos que o mundo tem 4,6 bilhões de anos, é equivalente a acreditar que a largura da América do Norte de Nova York até São Francisco é de menos de 10 metros. En- tão, para acreditar nisso você tem que ser incrivelmente ignorante ou louco. O movimento criacionista é prejudicial para a sociedade? Richard Dawkins: Eu acho que é um privilégio compreender de onde vie- mos, um privilégio para todos nós que nascemos após 1859, e que, negar às crianças esse privilégio é perverso, é uma privação que não deve ser dada a nenhuma criança, quando a verdade é tão incrivelmente emocionante. Quan- do tivemos ancestrais relacionados com todos os seres vivos, uma história de quatro bilhões de anos de evolução lenta e gradual, isso não é algo que se possa facilmente levar em conta, mas o esforço de fazer isso vale a pena. É um belo pensamento que somos os herdei- ros de quatro bilhões de anos de evo- lução. Quando você coloca isso contra as ideias míseras e insignificantes em Gênesis, não há comparação, e é uma privação triste a diminuição da opor- tunidade de uma criança de ser negado esse conhecimento. Você ainda pode ter fé em Deus e evolução? Richard Dawkins: Há vários teólogos que acreditam em deus e na evolução, por isso, sim, é possível. Acho que é um pouco difícil de fazer isso porque a prin- cipal razão para acreditar em deus é a ex- plicação para o mundo dos vivos. Uma vez que isso acabou, o argumento mais importante para deus foi deixado de lado, e tudo o que resta são coisas como a bíblia, o que é patético: qualquer tolo pode ver que não foi escrita por deus, e que ela não tem nenhuma autoridade especial. Ou, o que sobra para você são as experiências pessoais, tais como ‘deus fala comigo’: se você estiver convencido por isso, você está convencido por isso, mas é muito fraco. Por que devemos nos alegrar pelo nascimento de Char- les Darwin? Richard Dawkins: Porque Darwin é sem dúvida o maior pensador que a humanidade já produziu. Deve-se co- locá-lo no topo junto com Galileu, Einstein e Newton. Em relação aos problemas que ele resolveu, talvez não fosse tão difícil resolver como foi para Einstein ou Newton, mas foi talvez tão revolucionário no tocante a ideias pre- concebidas. Darwin talvez tenha causa- do, possivelmente, a maior revolução no pensamento humano da própria natureza do homem. Por que você está tão convencido de que Deus não existe? Richard Dawkins: Bem, eu realmente não estou convencido de que Deus não exista. Estou simplesmente invertendo a questão ao dizer que não há razão positiva para dizer que Deus exista e que ele é, portanto, mais provável de existir assim como a fada do dente ou unicórnios cor-de-rosa. Então, por que se preocupar de acreditar em algo onde não há nenhuma evidência, quando há tanta coisa para a qual há evidência e você poderia passar a vida inteira apren- dendo sobre isso? Set/Out 2014 29 Tradução: Luc Anderssen Vlogger
  • 28. C ompreendemos que a ciência, por exemplo, não sabe tudo, e por este mo- tivo devemos estar com a mente aberta para estudar determinados fenômenos. Mas há alguns problemas. Algumas hipóteses ou ideias, às vezes, não podem ser testadas através do método científico, seja por falta de tecnologia ou simplesmente por violar alguma lei natural (mundo natural), e isso é um dos critérios que podem definir o status de científico. Nos últimos 100 anos, a ciência fez grandes progressos num ritmo acelerado, mostrando-se eficaz naquilo que se pretende buscar, tanto no campo da Física com Einstein, como no campo da Biologia. Por este motivo, para algumas pes- soas, a ciência virou sinônimo de “verdade ab- soluta”, mesmo que ela assuma que essa posição não coincide com os seus princípios teóricos. Este conforto em acolher a ciência do mesmo modo que uma mãe acolhe um filho, levou a alguns problemas no século XX, por exemplo, com o positivo lógico de um lado e de outro, movimentos irracionalistas “pós-modernos”. Mas a ideia deste texto não é entrar em discus- sões sobre tais correntes, mas sim em demons- trar o que esta segurança absoluta e dogmática nos trouxe de tão prejudicial. Ultimamente, os pseudocientistas – Aqueles que distorcem a ciência para fundamentar dogmas e crenças pessoais – se passam por entendedores da ciência argumentando que a mesma possui todas as ferramentas necessárias para entender um mundo alternativo – o mundo espiritual – do qual, “cientistas céticos se recusam a aceitar por medo de alguma represália de seus superio- res”. Basicamente, a ideia é criticar a ciência ao mesmo tempo que a usam para fundamentar suas crenças de maneira desonesta, isto é, fun- damentando suas ideias não por evidências, não por experimentos, não por resultados replicáveis por outros cientistas, mas sim através de falsos jargões científicos e matemática para dar uma falsa aparência de que tal ideia possui consis- tência lógica e matemática. Claro que existem outros meios para dar falsas consistências a estas ideias, mas este é apenas um dos vários modos existentes para se criar uma pseudociência. É importante ressaltar que foi o Filósofo da Ci- ência, Karl Popper, que se preocupou em criar uma teoria para separar a ciência da não-ciên- cia (onde está inclusa a pseudociência). Popper deu grandes colaborações para a Filosofia da Ciência, além de ser um dos primeiros a defi- nir “o que é uma teoria científica”, a partir daí vem à ideia de falseabilidade, que basicamente é o conceito que afirma que para uma teoria ser científica, ela deve ter a capacidade de ser falseada, isto é, de uma teoria ser provada fal- sa, além da capacidade de fazer mudanças para adequá-la às evidências. Antes de Popper, não havia delimitação, por exemplo, entre Astrolo- gia e Astronomia, e nem Alquimia e Química, ambas eram tratadas com o mesmo valor de verdade – apesar da Astrologia e da Alquimia nunca terem dado contribuições significativas para às suas ciências (Astronomia e Química). É importante ressaltar que algumas pseudociên- cias já foram testadas através do método científi- co. Algumas se mostraram ineficazes, falhas, e às Afinal, o que é pseudociência? Um dos grandes problemas na atualidade são as ditas pseudociências. Mas afinal, o que é pseudociência? Como podemos diferenciá-la da ciência? Nós devemos nos preocupar com a pseudociência? 30 CIÊNCIA
  • 29. vezes, com resultados inconclusivos. En- tretanto, os pseudocientistas defendem a ideia de que algumas pseudociências podem vir a se tornar ciências no futuro, mesmo não demonstrando quaisquer indícios de que elas tenham um futuro promissor, e ignorando que são as novas áreas do conhecimento, isto é, as proto- ciências, que podem vir a se tornar ciên- cias algum dia. Muitas pessoas acham que a pseudo- ciência é inofensiva, porém estas mes- mas pessoas esquecem que algumas pseudociências, são respectivamente das áreas da saúde. Vamos usar como exemplo a “medici- na alternativa”, como o próprio nome já diz, “alternativa”, significa que não é baseada em evidência. A grande preocupação dos cientistas e médicos é para que estes métodos “al- ternativos” não substituam os tratamen- tos convencionais, pois dependendo da gravidade do problema de um paciente, tais métodos não seriam eficazes ou po- deriam fazer com que um determinado problema se agrave. Um caso famoso que representa bem as consequências negativas da pseudociên- cia, por exemplo, é o caso de Steve Jobs. Quando ele foi diagnosticado com câncer no pâncreas, ele recusou-se ao tratamento médico convencional (da quimioterapia à intervenção cirúrgica). Por quase nove meses, o cofundador da Apple, adotou um método de “recuperação” alternativo, que consistia numa dieta à base de ervas, raízes, sucos, além de aplicações práticas de acupuntura. O doutor Ramzi Amri, da Universidade de Harvard, afirmou que seu tipo de câncer era “tratável” se tivesse sido iniciado o tratamento desde sua fase inicial. Jobs não concordava com a ideia de cirurgia, segundo ele, isso seria “uma violação a seu corpo”. Quando ele deci- diu procurar à ciência, seu câncer já havia se agravado. Seu biógrafo afirma que no- tava um arrependimento nas palavras de Jobs, que faleceu em outros de 2011 com 56 anos. Com base neste trágico aconte- cimento, fica a lição de não confiar jama- tis em métodos alternativos, entre outras pseudociências, e lembre-se: “Alegações extraordinárias, exigem evidências extraordinárias.” — Carl Sagan. “Nesta obra, Carl Sagan, preocupado com as explicações pseudocientíficas e místicas que ocupam os espaços dos meios de comunicação, reafirma o poder positivo e benéfico da ciência e da tecnologia para tentar iluminar os dias e recuperar os valores da racionalidade. O autor aborda à falsa ciência, às concepções excêntricas e os irracionalismos que são acompanhados por lembranças de sua infância.” Carl Sagan: O mundo assombrado pelos demônios 2006, 512 págs, Companhia de Bolso Dica de Livros: Set/Out 2014 31 Opinião de: Douglas Rodrigues Aguiar Universo Racionalista
  • 30. APOIADOR OURO: Enio Chaves dos Reis Bruno Herllen Cesar Santos Carlos Augusto TMacedo Roni Alves Matheus Lozano Paulo Augusto Franke William Martani Marcão Piorandomais Nunes Raimundo Martins Sales Neto Caleb Baltazar da Motta Sales Gilson Grochovski Flavia Muñoz Guilherme Simões Pedro Augusto Cardoso de Arrochela Lobo Vladimir Morgado Wellton Enishi Paulo Roberto Costa Camargo Raphael Pantaleão Alexandre Forte Diego F. Montes Édipo Gonçalves Jean Carlos Brandenburg Heclair Rodrigues Pimentel Filho Chakim Al Saheli Tyler Durden APOIADOR PRATA: Valeska Oliveira Silveira Caio César Nogueira Silvio Silva Vinicius Quirino Rummenigge Silva Do Nascimento Roberto Carneiro Baptista Gabriel Pimenta João Alves de Carvalho Neto Ricardo gama Daniel Oro Marcos Malagosini Machado Alisson Emanuel silva Savio Mota Alberto Kuroski Jenésio Costa Thiago Julião Paiva Jonathan João Paulo Silva Lourenço Lucas Belarmino Sant Ana Vicente Maia José Roberto Barros Filho Bruno Moschetta Adair Dias da Silva Filho Danilo Pereira Marcos Outsider Stefano Gonçalves Jorge William Ferreira de Assis COLUNISTAS: Fabiano Uesler Eric Miguel Marcio Americo Thales Vianna Hugo Jardel David Ayrolla Douglas Rodrigues Pedro Ivo Souza de Alcântara TRADUTORES: Luc Anderssen Tom Melo ILUSTRADOR: Pleaseano Santos EQUIPE REVISTA ATEÍSTA: Design Gráfico: Saul Hudson Alcantara SAULALCANTARA@LIVE.COM Editor: Gabriel Filipe Revisor: Flávio Almeida Michel Michelon Luiz Carlos Citko Alisson Orlando Teixeira de Souza Leon Balloni Gomes Henrique Gracietti Diogo B. Castro Meire Finelon Falconieer Rodrigues Barbosa Ramon Silva Rodrigo Barbosa Rafael Lledo Ramos Márcio Silva Sergio Pinto Marcus Vinícius Osvaldo Humberto Bertolini Claiton pereira ramos Will Mauer Diego Deicke Philipe Maory Renato Andre Batu Dos Santos Daniel de Paula Ferreira e Medeiros É com muito prazer que expressamos nossos agradecimentos a sua contribuição. Sua participação, fez toda diferença na realização do projeto, em nome de toda equipe da Revista Ateísta, agradecemos por sua colaboração espontânea e de bom grado. Contato: www.revistaateista.com contato@revistaateista.com Facebook: /revistaateista