1. Timóteo Carriker, Proclamando Boas Novas. 1
Proclamando Boas Novas é um livro peculiar sobre missão escrito por um
“brasileiro”. Embora Carriker seja americano, está no Brasil já há muito tempo, por
isso, já o consideramos brasileiro! Seu livro nos esclarece a missão da igreja a partir
da teologia reformada, estudos culturais, relações inter-religiosas, questões
metodológicas, e a meu ver o mais relevante: um livro apaixonadamente brasileiro.
Segundo o autor há uma crise entre duas teologias de missão: uma que
“reduz a missão da igreja a transformação de injustiças sociais, e outra que
reduzem-na à salvação de indivíduos pecaminosos e desencarnados” (Pg. 32).
Timóteo pretende no livro ilustrar uma missiologia bíblica que relaciona estas duas
esferas em vez de separá-las (conflitos espirituais e conflitos entre estruturas
sociais). Os latino-americanos precisam de uma espiritualidade que invada toda
dimensão de relações humanas. Ser e fazer no evangelismo são indispensáveis.
Para a realização de tal empreendimento Timóteo propõe que um programa
evangelístico duma igreja dependerá da reeducação da igreja toda:
“Evangelismo é uma categoria que pertence a Deus. O evangelismo antes
de ter uma conotação humana que fala da tarefa da igreja, antes de ser
igreja é de Deus. Esta perspectiva nos guarda de toda auto-suficiência e
independência no evangelismo. Se o evangelismo é de Deus, é dele que a
igreja deve depender na sua participação na tarefa”. Pag. 70.
Porém, podemos nos enganar quanto as nossas motivações enquanto
evangelizamos. Evangelismo existe porque o culto pleno a Deus ainda não existe. O
culto é o alvo último da igreja. “O culto a Deus deve ter prioridade na igreja, não a
obra do evangelismo, porque Deus é último, e não o ser humano” (pag. 81). Quando
a paixão por Deus está fraca, o zelo pelo evangelismo certamente será fraco
também. O culto é o verdadeiro comburente para o evangelismo.
Timóteo ainda dedica um capítulo para afirmar nosso desconhecimento das
outras religiões que crescem em terras brasileiras. Ele vem salientar o porquê outras
religiões têm crescido no Brasil, segundo ele: “a burocracia das denominações
impedem o surgimento de igrejas [...] O espiritismo cresce no Brasil porque se tornou
brasileiro” (pag. 119). O culto afro-brasileiro é um culto participativo, e etc. Ele afirma
isso para percebermos a nossa falta de identidade e não para reproduzirmos a fé de
outras religiões.
2. Timóteo Carriker, Proclamando Boas Novas. 2
Muitos livros tem sido publicados em língua portuguesa a respeito da missão
da igreja. Livros que falam sobre a tarefa única de proclamação, outros que enfocam
a teologia da libertação e mais recentemente sobre uma missão integral da mesma.
Proclamando Boas Novas é um livro teológico preocupado com os fundamentos da
missão e não de modismos que poderão surgir. Muita coisa já tem sido publicada no
Brasil, tem sido lida e posta em prática sem uma reflexão séria das implicações de
uma dada corrente missiológica.
Timóteo oferece em minha opinião um dos livros mais bem articulados do
Brasil a respeito do fundamento teológico para a missão. Por alguns motivos: 1. Ele
considera a história da teologia e das missões; 2. É altamente bíblico em todo o seu
escopo, principalmente lidando com a carta aos Efésios; 3. Faz uma abordagem as
religiões afro-brasileiras e o que elas podem nos ensinar; 4. Tem uma proposta
urbana e contextualizada para a nossa realidade; 5. Propõe treinamento integral
para os missionários, ou seja, o sacerdócio universal no cumprimento da missão
integral de Deus. Neste sentido percebemos os pressupostos claros do autor: a
teologia da Reforma, o pensamento acerca da missão integral e o espírito de uma
reflexão em diálogo com a cultura e o mundo.
Como o livro versa sobre fundamentos sólidos para a missão, creio que seu
alvo principal são os teólogos, seminaristas, pastores e líderes em geral. Neste
sentido o livro seria mal compreendido ou não indicado para um leitor leigo em
teologia. No entanto, embora o livro tenha abrangência específica é muito atual. É
um dos primeiros livros que leio que se preocupa e escreve refletidamente sobre o
diálogo inter-religioso de uma forma esclarecida. Podemos aprender bastante o
porque certas religiões tem avançado no Brasil em detrimento de nós protestantes.
Este livro pode ser aplicado como uma das bases de evangelismo para os
novos rumos que a igreja brasileira está indo, seja em rodas de estudo bíblico,
capacitação missionária, seminários, palestras e até mesmo como um comentário ou
uma releitura de textos que não nos dávamos conta de sua significância. E como o
autor menciona, missão é nada mais nada menos que o ato de adoração, um dia
evangelismo não será mais necessário, no entanto, nascemos para adorá-lo e nos
satisfazermos nele. A Ele, pois, seja toda a glória, eternamente!