O documento discute as perspectivas escatológicas no Antigo Testamento. Apresenta sete temas escatológicos encontrados no AT: (1) o Redentor vindouro, (2) o Reino de Deus, (3) a Nova Aliança, (4) a Restauração de Israel, (5) o Derramamento do Espírito, (6) o Dia do Senhor, e (7) o Novo Céus e Nova Terra. Embora os detalhes destes eventos não fossem claros, a fé dos crentes da antiga al
1. Perspectivas escatológicas no Antigo Testamento
Grosso modo podemos afirmar que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento
possuem aspecto escatológico claro. Anthony Hoekema em seu livro A Bíblia e o
Futuro traz uma análise mais acurada da perspectiva dos dois testamentos, mas
consegue resumi-la em poucas orações:
Por um lado o crente do Novo Testamento está consciente do fato de
que o grande evento escatológico predito no Velho Testamento já
aconteceu, enquanto que, por outro lado, ele percebe que outra
significativa série de eventos escatológicos ainda está por vir.1
A Escatologia no Antigo Testamento
Há na compreensão reformada da escatologia a visão de que a escatologia
no Antigo Testamento passa por um enriquecimento progressivo. Os principais
temas ou títulos escatológicos não nasceram ao mesmo tempo, antes, assumiram
formas variadas em tempos diversos. O que é claro para nós é dizer que em várias
épocas o crente do Antigo Testamento aguardava, no futuro, algumas realidades
escatológicas. Hoekma2 aponta 7 delas, resumiremos cada uma delas para apenar
temos noção básica de sua procedência.
O Redentor vindouro. Esse título é relacionado com a promessa feita para os
primeiros seres humanos em Gn 3.15: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar.” Podemos dizer a partir desta promessa que tudo na revelação do A.T.
olha para frente, e aguarda ansiosamente o redentor prometido
O Reino de Deus. Há no A.T. uma conexão entre o redentor vindouro de Gn
3.15 com a predição que ele se assentará no trono de Davi. Especificamente em
2Sm 7.12-13 é afirma-se o estabelecimento de um reino eterno. Esse rei vindouro é
apresentado progressivamente como “Emanuel” (Is. 7.14), como “Servo Sofredor”
(Is. 53), como “Filho do Homem” (Dn 7.13-14).
1
HOEKMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Cultura Cristã, p. 22.
2
Ibid. Todas os parágrafos foram escritas baseado na análise de Hoekema da pag. 9-20.
2. Apesar de o termo “reino de Deus” não ser encontrado no A.T. o pensamento
de que Deus é rei está presente particularmente nos Salmos e nos Profetas. Deus é
denominado Rei de Israel (Sl 84.3, Is. 43.15), Rei de toda a terra (Sl 29.10, Is. 6.5,
Jr. 46.18).
A descrição mais clara de um reino vindouro está no livro de Daniel, cap. 2
onde ele afirma que Deus levantá um reino que nunca será destruído, que quebrará
todos os outros reinos e que permanecerá para sempre (vs. 44-45). E mesmo em
Daniel este reino é inaugurado na figura do já citado Filho do Homem que é o
protagonista desse reino.
A Nova Aliança. O profeta Jeremias prediz que Deus fará uma nova aliança
com o seu povo (Jr. 31.31-34) na qual Deus afirma: “Na mente, lhes imprimirei as
minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão
o meu povo”. No Novo Testamento em Hb fica claro que a nova aliança de Jeremias
foi instaurada pelo nosso Senhor Jesus Cristo.
A Restauração de Israel. Essa promessa escatológica está relacionada com o
ato futuro de Deus em fazer com que o seu povo volte do cativeiro. Isaías 11,
Jeremias 23 preveem esta restauração na figura do remanescente que se encontra
em Israel.
Derramamento do Espírito. O profeta Joel no capítulo 2 de sua profecia afirma
que em dias específicos o próprio Deus derramaria o seu povo sobre toda a carne
independente (ao que parece) das etnias e diferenças sociais.
Dia do Senhor. Muitas vezes no A.T. a expressão “O Dia do Senhor” é usada
para representar um dia juízo no futuro próximo, quando Deus trará destruição
repentina para os inimigos de Israel, como em Obadias vs.15-16, nos Doze Profetas
e principalmente em Isaías 13 este conceito é utilizado para um futuro não tão
longínquo seguido de uma referência ao dia escatológico do Senhor, no futuro
distante.
Novo Céus e Nova Terra. Em contraste com o aparente aspecto exclusivo da
ira do Senhor no seu “Dia”, o conceito de novo céus e nova terra dá um toque de
positividade na profecia bíblica. Vemos isso na profecia de Isaías 65, que
claramente se cumpre em Apocalipse 21.
O crente do Antigo Testamento não tinha a ideia clara sobre como ou quando
estas expectações seriam cumpridas. Esses eventos poderiam se cumprir de uma
3. só vez, ou nos “últimos dias”, “naqueles dias”, ou no “Dia do Senhor”. A certeza que
possuímos é que a fé do crente da antiga aliança era completamente escatológica.